“Os andinos não eram simplesmente cuidadores de lhamas”. Emily Wakild (2021)
A
lhama, do quíchua llama (cf. Arguedas, 1976), representa um mamífero ruminante da
América do Sul, da família dos camelídeos, gênero Lama. É um animal de pelagem
longa e lanosa, domesticado para a utilidade de uso no transporte de carga e na
produção de lã, carne e couro. O lhama tem pelagem longa, a coloração varia
bastante indo desde o branco, marrom e chegando a tons mais escuros,
alimenta-se de capim e mato. Estes animais medem de 1,40 metros a 2,40 metros
contando com a cauda de 25 centímetros e chegam a pesar 150 Kg. A gestação dura
11 meses e nasce normalmente 1 filhote chegando a pesar 11 kg. Os adultos
chegam a viver até 24 anos. É relacionada com o guanaco, a vicunha e a alpaca.
Foram domesticadas pelo povo inca, tendo sido importantes para seu
desenvolvimento. O uso têxtil das fibras retiradas desses animais é cultural e
acredita-se iniciado há 2.500 anos. As lhamas vivem na cordilheira dos Andes em
temperaturas são baixas. A Bolívia é o país de concentração de lhamas, com mais de 2 milhões de indivíduos. As pelagens servem para
protegê-las do frio, além de arranhões e ferimentos.
Não por acaso, alguns leitores podem argumentar que os animais evocam fantasias, se não a heresia, naqueles que lhes atribuem significado moral. Ainda assim, segundo Scully (2018: 18 e ss.), em geral temos que o mais violento entre nós é aquele que vive na fantasia, numa ilusão de que as coisas da natureza não significam nada e de que tudo é permitido. Entretanto, o sentimentalismo em relação aos animais pode ser excessivo, assim como o realismo cruel, que vê apenas o que quer nos seres vivos, sem ver os seres em si. Apenas pelo fato de nos inspirarem humildade e deslumbramento, essas criaturas já nos são de grande significado. Nenhum pardal cai sem que Deus o perceba, mas nós não damos a isso a devida importância para o que temos. Talvez seja esse o motivo de muitas crianças serem tão ligadas a animais; elas veem tudo com frescor, sem serem refratários às imagens milagrosas que surgem deles, esses seres animados que correm, latem, arfam ou trinam. Animais também dividem com as crianças o laço da extrema vulnerabilidade. Os dois são os primeiros a sentir o âmago da aspereza humana. Minhas memórias mais antigas são as de perseguir o rastro deixado por um coelho na neve do quintal nos fundos de minha casa.
Eu
devia ter uns 3 anos e nunca tinha visto um coelho, mas ainda lembro bem o
sentimento de completa fascinação com o rastro: alguém estivera lá. E deixara aquelas marcas, estava vivo, morava
ali perto e talvez até me olhando naquele exato momento de pura simbiose. -
Quarenta anos depois, ninguém precisa me lembrar que coelhos são uma dor de
cabeça para fazendeiros e jardineiros. Mas ao se olhar um coelho e ver apenas
uma peste, um animal daninho ou um alimento, mercadoria ou objeto de
laboratório, não se está mais vendo um coelho, mas apenas a si mesmo, as
estruturas e os desejos que o ser humano traz ao mundo. Ao enxergar desse modo,
pense nisso, você tem a perspectiva de um animal, e não a de um ser moral, com
visão moral – a mesma perspectiva de um ser daninho, entre bilhões deles que se
agitam, pula, ou escavam buracos pelo planeta. Coelhos são capturados por seus
inimigos, como a raposa e o lobo, num bote sangrento. E é isso. São criados em
gaiolas aos milhões para servirem de comida e para a pesquisa médica, por
pessoas com questões maiores e mais urgentes na cabeça do que o lugar desses
animais na criação. Nada demais, se visto de cima. E ainda assim, dizem-nos que
Deus tudo sabe e tudo vê – e eu acredito nisso. Em seu O Macaco Nu: Um Estudo
do Animal Humano, de 1967, Desmond Morris descreve sete estágios de nossa
visão dos animais, cada uma a refletir uma fase de nosso desenvolvimento
psicológico.
Uma delas, por exemplo, representa a infância, “quando somos completamente dependentes de nossos pais e reagirmos fortemente a animais muitos grandes, usando-os como símbolos de país”. Em seguida vem a fase infantil-parental, quando percebemos animais menores como substitutos simbólicos de crianças, mecanismo similar ao de uma das últimas fases, o estágio pós-parental. Há ainda a fase senil, quando se tem uma grande preocupação com animais em extinção. A popularidade da proteção entre os jovens surgiu, ele teoriza, do crescimento do medo da explosão nuclear, “de modo que agora temos necessidade emocional de animais que sirvam como símbolos de raridade”. Há, sem dúvida, alguma verdade na visão puramente evolutiva e psicanalítica de Morris de que animais são símbolos para nós – e eu odeio pensar em qual seria sua opinião sobre minha história co coelho. Os animais têm aparecido na nossa arte e literatura ao longo do tempo, representando de tudo, de tentação a virilidade, temor e inocência injustiçada. Acredito se poderia colocar, como fonte de interesse sobre “símbolos de raridade”, no lugar de ameaça iminente de aniquilação (como proposta por Morris), uma sensação bem difundida de alienação, para o jovem Marx, e desligamento ao mundo natural. Falta à visão do “macaco nu” o ser humano ser consciente, o símio que pode em vários momentos captar algo além das próprias necessidades físicas e fisiológicas.
Morris encontra apenas razões científicas ou estéticas para proteger qualquer criatura ou espécie, como o “corte controlado” de animais ou outros meios semelhantes – em qualquer caso a proteção é para nós mesmos. Em minha opinião, afirma Scully, ele dá pouca atenção a uma das fases: o estágio da empatia, quando se começa a perceber até o mais comum dos animais em seus próprios termos, criaturas do mesmo tipo que nós, com suas próprias necessidades e dificuldades, e que estão lado a lado conosco diante do mistério da vida e da morte – e, por maiores que sejam nossos dotes, essas criaturas não são menos esclarecidas que o mais sábio dos macacos nus no que diz respeito ao significado da existência. Essa afinidade é, razão suficiente, para começar a demonstrar o máximo de cortesia possível, evitando qualquer mal desnecessário. Todos os animais já parecem correr bastante perigo. Quando os homens, com seus nobres dons e grandiosas ocupações, forem capazes de parar de pensar apenas no próprio bem-estar, simplesmente permitindo que esses animais vivam, não será necessário um reconhecimento de “direitos”. Trata-se de uma graça, um ato de clemência pelo qual teremos ainda mais crédito, uma vez que os animais não podem pedir por ele ou nos censurar caso não os atendamos, não podem sequer retribuir a gentileza. Um dia, precisaremos dessa bondade. E não se pode esperar por compaixão se esteja disposto a tê-la por outros em sociedade.
Da
família dos Camelidae artiodactyl, é um mamífero criado pelos povos
andinos nativos com seleção artificial de guanaco selvagem que foram
domesticados, o qual, por conseguinte, o derivou do nome existente hoje.
Estudos recentes de ácido desoxirribonucleico (DNA), confirmam que isso
aconteceu, em princípio, de forma independente no tempo e no espaço, em áreas
do Sul do Peru, Norte do Chile, Norte da Argentina e da Bolívia ocidental. Além
disso, foi maximizada originalmente pelo império Inca que foi usado como um
animal para o sacrifício, carne e lã, e foi aproveitado como um animal de carga
antes da colonização dos espanhóis na América, quando na verdade os animais
utilizados eram os cães inuit. A lhama pela taxonomia também é reconhecida
como uma subespécie do guanaco. No mesmo sentido, é um híbrido entre uma lhama
e um camelo, demonstrando a proximidade genética entre as duas tribos na subfamília
dos camelinae. A importância econômica da lhama é vista desde os tempos das
ruínas de Quilmes, em Tucumán. Antes da presença espanhola, as lhamas estavam
representadas na cerâmica moche. Ademais, foram os únicos animais domésticos
com cascos do Império Inca. Eles foram apreciados não apenas como animais de
carga, mas também para a carne e lã. Até a invasão dos espanhóis no âmbito do processo civilizatório, as lhamas
foram usadas no lugar do cavalo, boi, cabra e ovelha, com origem no chamado Velho Mundo, mas a pouca eficiência fez tornar mais rapidamente deslocada
para o fundo para não comprá-lo.
Allincapac é uma montanha nos Andes do Peru. É o pico mais alto da cordilheira de
Carabaya, chegando a 5.805 metros. Allincapac está localizado na região de
Puno, Província de Carabaya, distrito de Macusani, ao Sul de Huaynaccapac, a
Nordeste de Chichicapac e ao Norte do Lago Chaupicocha. A província de Carabaya
é uma das treze que conformam o Departamento de Puno no Sul do Peru. Limita
pelo Norte com o Departamento de Madre de Dios; por Leste com a província de
Sandia; pelo Sul com a província de Azángaro e a província de Melgar; e, pelo
Oeste com o Departamento de Cusco. Desde o ponto de vista hierárquico da Igreja
católica forma parte da prelatura de Ayaviri, que é poder pessoal e parte da
Igreja Católica, composta por determinados fiéis e está estruturada de modo
hierárquico, de sufrágio da Arquidiocese de Arequipa. Dada sua localização,
durante o período do Vice-Reino do Peru o território foi alvo de várias
expedições destinadas a localizar a lendária cidade perdida de Paititi, as
mesmas que deixaram a sua marca na instalação de cidades e postos de
missionários. Reconhecidas são as
expedições de Pedro de Candia, Anzúrez, Ñuflo de Chávez, Álvarez Maldonado,
Recio de León e Diego de Zecenarro, as mesmas que lançaram as bases para incorporar
esses territórios ao Peru, durante as questões do conflito social e político de
fronteira com a Bolívia nos primeiros anos do século XX. Este território
de origem pré-inca está
atribuída à jurisdição do Puno na sua criação (1776), embora nunca deixasse de
pertencer ao domínio histórico do bispado de Cuzco.
A lhama, do quíchua llama, é um mamífero ruminante da América do Sul, da família dos camelídeos, gênero Lama. É um animal de pelagem longa e lanosa, domesticado para a utilização no transporte de carga e na produção de lã, carne e couro. A lhama é relacionada com o guanaco, a vicunha e a alpaca. Foram domesticadas pelo povo inca, tendo sido muito importantes para o desenvolvimento desse povo. As lhamas vivem na cordilheira dos Andes, onde as temperaturas são baixas. Assim, as pelagens servem para protegê-las do frio, além de arranhões e outros ferimentos. A Bolívia é o país em que se concentra o maior número de lhamas, com mais de 2 milhões de indivíduos. Estes animais conseguem sobreviver em locais onde não são encontrados outros animais. Muitas vezes os lhamas são associados a ovelhas e com elas são colocados para pastar em locais onde não é possível haver agricultura. Além disso, os lhamas são usados para transporte de mercadorias, e também são utilizadas a sua carne, o couro, as fibras e o estrume para cozinhar alimentos e como fertilizante natural. O uso têxtil das fibras retiradas desses animais é cultural e acredita-se que se iniciou há 2.500 anos. Os produtos deste mamífero doméstico constituem o principal meio de apoio para produtores e com a escassez de recursos nos países centrais da América do Sul incluindo Equador, Peru, Bolívia, Argentina e Chile, tornou-se uma fonte de sobrevivência. O uso de fibras produzidas pelos espécimes selvagens ainda é naturalmente limitado, mas é potencial e importante para a sobrevivência de algumas populações. Estima-se que a produção de lhamas beneficia 37.000-50.000 famílias de produtores em locais escassos de recursos. No entanto, esta produção ainda não representa uma forma direta de reduzir a pobreza e marginalização dos seus produtores. O lhama tem pelagem longa e lanosa, a coloração varia bastante indo desde o branco, marrom e chegando a tons mais escuros, alimenta-se de capim e mato. Estes animais medem de 1,40 m a 2,40 m contando com a cauda de 25 cm e chegam a 150 Kg. A gestação dura 11 meses e nasce normalmente 1 filhote chegando a 11 kg. Os adultos chegam a viver até 24 anos de idade.
É definitivamente parte da atual Região de Puno desde 1912. Antes, a Bolívia disputava parte de Carabaya com base no uti possidetis da Audiência de Charcas em 1810; e o Peru finalmente afirmou o direito de filiação clerical ao bispado de Cuzco e integração de fato com 70% das comunicações anteriores ao século XX eram com Sicuani; 20% com Azángaro e 10% com Larecaja (Bolívia), relatado sobre Manuel Pando, na viagem para Carabaya (1902). As diferenças de critérios são esclarecidas com a arbitragem argentina, primeiro em 1902, e dez anos depois é reconfirmada com a aceitação do protocolo binacional pelos congressos das Repúblicas. Isso acabaria com parte da precária condição de delimitação de territórios trinacionais do Brasil, Bolívia e Peru, com a qual as três Repúblicas haviam se formado no início do glorioso século XIX. Os primeiros autores latino-americanos designam esta antiga cidade-território como a cidade dos grupos Callahuayas, Carwayas, Calabayas, Carabayas, Kallawayas, todos topônimos do mesmo espaço e lugar, para diferenciá-lo dos igualmente antigos Canchis, Chunchos, Canas, Omasuyos, Collas, Muxus, ou outras cidades que existiram e cujos vestígios arqueológicos ainda sobrevivem entre Cuzco, Madre de Dios, Larecaja, La Paz, Beni, Pando e a atual Puno Por ser uma província, este território dá provas de ter sido habitado por uma população que se desenvolveu longe e diferente da influência dos Canchis de Sicuani (hoje), dos Canas ou dos Chunchos de Madre de Dios e Larecaja (Bolívia), e quase sem contato com as remotas Collas de Puno e Omasuyos. As lhamas eram e ainda são comumente usadas nos Andes peruanos “para carregar produtos e prover carne e lã”. O lago Marcaccocha se localiza próximo a uma rota de comércio, e lhamas que transportavam bens de consumo entre a selva e as montanhas.
À medida que os incas adotaram o milho em sua alimentação, sua sociedade se desenvolveu na região de Cuzco. Cerca de 1,8 mil anos desde o início da transição para a agricultura, uma onda prolongada de clima cálido permitiu que os incas realmente prosperassem e construíssem grandes assentamentos de pedra, como Machu Picchu e Ollaytaytambo. Faz tempo que a civilização acabou, destruída por conquistadores espanhóis nos anos 1500. Mas seus descendentes, os quéchuas, ainda usam os dejetos de lhama como fertilizantes e como combustível para aquecimento. - “O vale está repleto de indígenas que seguem esse estilo de vida de 2 mil anos”, relata Chepstow-Lusty. Quando os convidados chegarem a Machu Picchu para celebrar o que explorador Hiram Bingham (1875-1956) mostrou ao mundo o local, talvez possam agradecer à humilde lhama ao vislumbrar as construções. Ele tornou pública a existência da cidadela Inca de Machu Picchu em 1911, com a orientação de criadores indígenas locais, entretanto, não era um arqueólogo treinado. No entanto, foi durante o tempo trabalhando como conferencista e professor de história da América do Sul em Yale que ele redescobriu a cidade inca amplamente esquecida de Machu Picchu.
Durante
os séculos que se seguiram, sua existência era considerada um segredo conhecido
apenas pelos camponeses que viviam naquela zona. Tudo mudou no verão de 1911,
quando o explorador lá chegou acompanhado de uma pequena equipe em busca das
cidades perdidas dos incas. Caminhando a pé e no lombo de mulas, Bingham e seu
grupo abriram caminho em direção a Cuzco através do Vale de Urubamba, onde um
fazendeiro do lugar contou-lhes a respeito de ruínas localizadas no topo de uma
montanha próxima. Em 24 de julho de 1911, Melchor Arteaga levou Bingham a Machu
Picchu, mas os exploradores de Cuzco Enrique Palma, Gabino Sanchez e Agustín
Lizarraga teriam chegado ao local em 1901. Bingham retornou ao Peru em 1912,
1914 e 1915 com o apoio de Yale e da National Geographic Society. Em A
Cidade Perdida dos Incas (1948), Bingham relatou como Machu Picchu abrigava
um grande santuário religioso e servia como centro de treinamento para líderes
religiosos. Um elemento chave do legado das expedições são as coleções de
animais, antiguidades e restos de esqueletos humanos. Esses objetos expuseram a nova visão do antigo Peru e permitiram que os analistas do
século XX interpretassem Machu Picchu como uma “cidade perdida” que Bingham
combinou sua confiança na prospecção de huaqueros locais.
Além disso, com a noção de que a ciência tinha uma reivindicação soberana sobre os artefatos que pudessem contribuir para o acúmulo de conhecimento. A Universidade de Yale em 2012 começou a devolver ao Peru milhares de objetos que Bingham levou para Yale, de Macchu Picchu, com a permissão de um decreto do governo peruano. Mas o Peru argumentou que os objetos não foram dados, apenas emprestados a Yale. O Caribe e a América Latina trazem marcado em fogo e em sua carne, como animais, os muitos vendavais colonizadores que, passando como tempestades, deixaram cicatrizes em sua identidade cultural, étnica e linguística. A presença de população negra na América Latina configura um fato histórico e social: o homem é a propriedade e a história da humanidade é a história dos regimes de propriedade. A transferência forçada de milhões de africanos para a América, sob o regime de trabalho escravo, impôs às formações sociais, em diversas áreas o caráter colonial-escravista. Os índios também conheceram o trabalho forçado e a escravidão, mas não da maneira como as sociedades inteiras no Caribe, no Sul dos Estados Unidos e no Brasil, que estiveram organizados a partir da escravidão africana e em vista de sua manutenção e de sua reprodução como sociedades escravistas.
E para compreender e interpretar o curso da história colonial, é preciso acentuar que a produção de gêneros tropicais fez parte desse movimento em que se generalizavam as relações de troca. A grande propriedade colonial sintetizou dois princípios reguladores da vida social: produção direta dos meios de vida e produção do lucro, que são essencialmente contraditórios. O desenvolvimento de ambos e o crescimento dos mercados, na Europa e na colônia, formaram uma rede unitária de condicionamentos sociais. Também entrelaçado nesta rede está o destino do homem livre e pobre, com uma existência quase dispensável, mas que por longo tempo o colocou a salvo de transformar-se num assalariado. O trabalho livre na Europa e na colônia se negam e se condicionam através da escravidão, mas com o latifúndio e a escravaria se instala um modo de produção presidido pelo capital, vale dizer, um sistema particular de dominação social. Claro está que não pode mais ser considerada a persistência de uma América ameríndia como a Bolívia aimará, o Peru quéchua ou quíchua ou a Guatemala borbulhante de renascimento indígena.
E, no entanto, estão ali os nomes a lembrar, com força o passado como
“Caribe” dos povos “Karib” ou então os velhos nomes das ilhas, como “Borinquen”
para Porto Rico. Finalmente Porto Rico converte-se em “Puelto” e o R de Rico é pronunciado
de maneira branda. Nos países de colonização francesa, a língua de Racine
falada por uma minúscula elite dirigente ante uma massa de escravos negros no Haiti,
na Martinica, em Guadalupe, foi recebida, triturada, adaptada para ressurgir um
novo idioma, mais mavioso e adocicado, o “creole”, o único falado pela massa da
população de todas as origens. Ipso facto, o Caribe não pode ser mais
considerado América Latina, pelas vastas porções decolonização inglesa, pelas
áreas de ocupação norte-americana, compradas aos dinamarqueses em 1971, e de
colonização holandesa. Em Curaçao as sucessivas colonizações, espanhola,
inglesa, francesa, holandesa, produziram uma língua singular, o papeamento: mistura de inglês, espanhol e português, síntese viva do difícil processo
de comunicação em áreas que cruzaram tradições indígenas com tradições
africanas, tradições latinas com tradições saxônicas e germânicas. São traços
comuns entre Caribe e América Latina: o prolongamento do colonialismo, que não
se interrompeu com as lutas de independência entre 1810-1824, maciça escravidão
negra, pesado neocolonialismo, mosaico de religiões e culturas.
A
lhama é reconhecida pelo seu “estilo calmo”, andando devagar, porém pode se
irritar facilmente: por este motivo, foi considerada o oitavo animal mais
irritável do mundo segundo o canal de televisão por assinatura Animal Planet,
com sede nos Estados Unidos da América e transmitido também para a América
latina. Estabelecido pela primeira vez em 1° de outubro de 1996, a rede é
dedicada principalmente as séries e documentários sobre “animais selvagens e
animais domésticos”. Quando irritada ou para chamar a atenção, espirra seu muco
no objeto da irritação. Médicos e pesquisadores determinaram que os lhamas
possuem anticorpos que seriam adequados para o tratamento de certas
doenças. Estes animais conseguem sobreviver em locais de regiões onde não são
encontrados animais. Os lhamas são associados a ovelhas e com elas
são colocados para pastar em locais onde não é possível haver agricultura. Além
disso, os lhamas são usados para transporte de mercadorias, e também são
utilizadas a sua carne, o couro, as fibras e o estrume para cozinhar alimentos
e como fertilizante natural.
Os produtos deste mamífero
doméstico constituem o principal meio de apoio para produtores e com a escassez
de recursos nos países centrais da América do Sul incluindo Equador, Peru,
Bolívia, Argentina e Chile, tornou-se uma fonte de sobrevivência. O uso de
fibras produzidas pelos espécimes selvagens ainda é limitado, mas é
potencialmente importante para a sobrevivência de algumas populações. Estima-se
que a produção de lhamas beneficia de 37.000 a 50.000 famílias de produtores em
locais escassos de recursos. No entanto, do ponto de vista econômico esta
produção “ainda não representa uma forma direta de reduzir a pobreza e
marginalização dos seus produtores”. As lhamas estabelecem grupos de 20
indivíduos, constituídos por várias fêmeas, suas crias, jovens e um macho
dominante que estabelece a hierarquia do grupo. E, também são habituadas a se
aproximarem de pessoas, pois são animais domesticados que estão acostumadas a
conviver com humanos. As lhamas são animais, comparativamente ao homem contemporâneo, que se relacionam bem com as
pessoas, mas elas cospem para dissuadir ou advertir, por isso que realmente não
são perigosas. Na verdade, em alguns centros de saúde são usadas como animais
de companhia para pessoas com patologias de ansiedade, depressão porque geram uma sensação de bem-estar, o que indica que são
bons animais para estar com os seres humanos e não o contrário.
A tese ambiental que Emily Wakild (2021) sustenta no artigo: “Aprendendo com a Lhama” é que ela não pode ser entendida em separado desse contexto, não importa onde uma lhama individualmente viva. Uma lhama não pode ser retirada de contexto, como um unicórnio ou um dragão imaginário, sem que isso cause danos aos animais ou humanos envolvidos. O dano ocorre ao ser negada aos andinos a ação social e a autenticidade na criação do mundo moderno e ao se falsificarem as experiências reais e vividas dos animais. Ao marginalizar, ignorar e apagar as contribuições dos povos andinos e das lhamas, para o tempo presente, negam-se a ambos a capacidade de moldar seus próprios mundos de vivência e o poder de contribuir para as tendências globais compartilhadas. Colocar as lhamas na esfera abstrata da ficção, em vez de as situar no dramático âmbito cotidiano da produção de conhecimento, reduz as possibilidades de desenvolvimento das interações entre multiespécies. Os andinos não eram simplesmente cuidadores de lhamas, tanto quanto você é cuidador(a) da sua mãe; eles são “de” e “para” as lhamas, em um contexto rico e abrangente que expande as compreensões sobre o passado. Uma lhama não existe em isolamento; o que a lhama é presentemente se deve aos processos de domesticação, colonialismo (cf. Oliveira, 1968), libertação e expansão vivenciados pelos povos andinos. A lhama tem como representação uma entre quatro espécies de camelídeos, ou seja: lhama, alpaca, guanaco e vicunha, nativas dos países Equador, Peru, Bolívia, Argentina e Chile.
A lhama e a alpaca foram domesticados de espécies. Geneticamente, as quatro espécies de camelídeos sul-americanos têm o mesmo pareamento e ordenamento de cromossomos, indicando que não divergiram tanto quanto felinos e caninos, por exemplo. Após décadas de debates, testes de DNA indicaram que a lhama é descendente do guanaco selvagem e a alpaca descende da vicunha selvagem. Mas a hibridização tem sido a regra entre as duas espécies domesticadas, lhama e alpaca; isso nem sempre pode ser identificado ao olhar, e normalmente produzem prole fértil. A natureza profunda molda o panorama humano, porque a ausência ou presença de grandes animais apropriados para a domesticação permite diferentes adaptações e especializações entre os humanos. A questão de Wakild é: o que podemos aprender com as lhamas? Pensar sobre a lhama é interessante porque ela não simboliza fortemente à ubiquidade e o excesso do Antropoceno, como as galinhas, cujos ossos podem formar uma camada geológica, nem é como o pangolim, tão raro e próximo da extinção que seu exotismo é considerado culpado pela tóxica fetichização dos animais, não necessário, mas suficientemente especial para fazer com que os demais ingredientes pareçam harmonizados. A lhama é invariavelmente descrita em tempos como alcançável, acessível, flexível, fácil e até comum. Logo, a lhama parece ser compreendida, mas não é inteiramente compreensível.
Três abordagens analíticas oferecem uma compreensão sobre a utilidade da lhama. Na primeira abordagem, o conceito de biopolítica nos permite situar o animal nos regimes de poder e conhecimento sistemático da vida e, também, em importantes subjetividades. A biopolítica oferece uma alternativa à bioética, que busca questões mais amplas e se move para além de respostas arbitrárias. Parece-nos que um dos fenômenos fundamentais do século XIX foi, é o que se poderia denominar a assunção da vida pelo poder: se vocês preferirem, uma tomada de poder sobre o homem enquanto ser vivo, uma espécie de estatização do biológico ou, pelo menos, uma certa inclinação que conduz ao que se poderia chamar de “estatização do biológico”. Para compreender o que se passou, podemos nos referir ao que a teoria clássica da soberania que, em última análise, serviu-nos de pano de fundo, do quadro paras todas as análises sobre a guerra, as raças etc. Na teoria clássica da soberania, o direito de vida e morte era um de seus atributos fundamentais. Em certo sentido, dizer que o soberano tem direito de vida e de morte, significa no fundo, que el pode fazer morrer e deixar viver; em todo caso, que a vida e a morte desses fenômenos naturais, imediatos, de certo modo originais ou radicais, que se localizariam fora do campo do poder político.
Ao
que essa nova técnica de poder não disciplinar se aplica é – diferentemente da
disciplina, que se dirige ao corpo – a vida dos homens, ou ainda, ela se dirige
não ao homem-corpo, mas ao homem vivo, ao home ser vivo; no limite, se vocês
quiserem, ao homem-espécie. A disciplina tenta reger a multiplicidade dos
homens na medida em que essa multiplicidade pode e deve redundar em corpos
individuais que devem ser vigiados, treinados, utilizados, eventualmente
punidos. E, depois, a nova tecnologia que se instala se dirige à multiplicidade
dos homens, não na medida em que ela forma, ao contrário, uma massa global,
afetada por processos de conjunto que são próprios da vida, que são processos
como o nascimento, a morte, a produção, a doença, etc. Logo, depois de uma
primeira tomada de poder sobre o corpo que se fez consoante o modo de
individualização, temos uma segunda tomada de poder que, por sua vez, não é individualizante,
mas que é massificante, que se faz em direção não do homem-corpo, mas do homem
espécie. Depois da anatomopolítica do corpo humano,
instaurada no decorrer do século XVIII, vemos algo que já não é uma anatomopolítica do corpo humano, mas o que Foucault
chamaria de “biopolítica” da espécie humana. De que se trata nessa nova
tecnologia do poder, nessa biopolítica, nesse biopoder se instalando?
Trata-se
de um conjunto de processos como a proporção dos nascimentos e dos óbitos, a taxa de reprodução, a fecundidade de
uma população, etc. São esses processos de natalidade, de mortalidade, de
longevidade que, juntamente com uma porção de problemas econômicos e políticos,
constituiriam os primeiros objetos de saber e os primeiros alvos de controle
dessa biopolítica. É nesse momento, em todo o caso, que se lança mão da medição
estatística desses fenômenos como as primeiras demografias. É a observação dos
procedimentos, mais ou menos espontâneos, mais ou menos combinados, que eram
efetivamente postos em execução na população no tocante à natalidade; em suma,
o mapeamento dos fenômenos de controle dos nascimentos tais como eram
praticados. Isso foi também o esboço de uma política de natalidade ou, em todo
caso, de esquemas de intervenção nesses fenômenos globais da natalidade. Nessa biopolítica,
não se trata simplesmente do problema da fecundidade. Trata-se também do
problema da morbidade, não mais simplesmente, como justamente fora o caso até
então, no nível daquelas famosas epidemias cujo perigo havia atormentado tanto
os poderes políticos desde as profundezas da Idade Média. Não é de epidemias
que se trata, mas de algo, grosso modo, ou aquilo que se poderia chamar de
endemias, ou seja, a forma, a natureza, a extensão, a duração, a intensidade
das doenças reinantes nessa população. A civilização Inca surgiu das terras
altas do Peru em algum momento no início do século XIII. De 1438 a 1533, os
incas usaram uma variedade de métodos, da conquista à assimilação pacífica,
para incorporar uma grande porção do Oeste da América do Sul, centrado nas
Cordilheira dos Andes, incluindo grandes partes dos países modernos do Equador,
Peru, Bolívia, Argentina, Chile e Colômbia em um Estado comparável aos impérios
históricos do Velho Mundo.
Bibliografia
geral consultada.
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