“Paz e harmonia: eis a verdadeira riqueza de uma família”. Benjamin Franklin
Em certos casos a diversidade biográfica inclui aspectos da obra dos biografados, numa abordagem muitas vezes de um ponto de vista crítico e não apenas alienante e meramente historiográfico. Em francês, o termo biographie é documentado em 1721; em inglês, a palavra biography foi documentada em 1791 e na forma biografia em 1683; em espanhol, biografia, e, em português, na segunda metade do século XIX. A literatura norte-americana assinala sua contribuição para o gênero através da Autobiography (1766), de Benjamin Franklin. Na Itália, as autobiografias de Carlo Goldoni, Mémoires (1787), escritas originalmente em francês, e a de Carlo Gozzi, Memorie Inutili (1797) são dignas de menção. A obra-prima do gênero autobiográfico Les Conféssions (1781-1788), de Jean-Jacques Rousseau, se insurge contra a raison classicista e antecipa a mentalidade romântica do século XIX. No Brasil, no plano autobiográfico, sua progênie é de Joaquim Nabuco com Minha Formação. No século passado, Graciliano Ramos com Infância (1945), Oswald de Andrade, Sob as Ordens de Mamãe (1954), Helena Morley, Minha Vida de Menina (1952), Afonso Arinos de Melo Franco, A Alma do Tempo, Formação e Mocidade (1961) e o antropólogo Darcy Ribeiro, Confissões (2012), entre outros. Considerado um dos Pais Fundadores dos Estados Unidos da América, foi um dos líderes da extraordinária Revolução Americana, de 1776, reconhecido por suas citações e experiências com a eletricidade.
Foi ainda o primeiro embaixador dos Estados Unidos na França. Deísta, e uma figura do Iluminismo, correspondeu-se com membros da sociedade lunar, eleito membro da Royal Society. Benjamin Franklin nasceu em Milk Street, Boston. O seu pai, Josiah Franklin (1657-1745), era comerciante de velas de cera, e casou duas vezes. Benjamin foi o 17º filho de 20 crianças nascidas dos dois casamentos. Deixou os estudos aos dez anos de idade e aos doze começou a trabalhar como aprendiz do seu irmão, James, um impressor que publicava um jornal chamado The New-England Courant. Tornou-se colaborador da publicação e foi seu editor nominal, escrevendo as cartas, sob o pseudônimo de Mrs. Silence Dogood, uma viúva de meia idade. Depois de uma discussão com o irmão, Benjamin fugiu, causa que o transformou em um fugitivo da lei, indo primeiro a Nova Iorque e depois a Filadélfia, onde chegou em outubro de 1723. Em breve encontrou trabalho como impressor, mas após alguns meses, foi convencido pelo governador Keith a ir para Londres, onde, desiludido das promessas de Keith, voltou a trabalhar como compositor tipográfico, até que um mercador chamado Thomas Denham o fizesse regressar a Filadélfia, dando-lhe uma posição na sua empresa. Em 1732 começou a publicar o famoso Poor Richard`s Almanac, no qual baseia parte da sua popularidade nos Estados Unidos da América. Provérbios como “um tostão poupado é um tostão ganhado”, tornaram-se reconhecidos no mundo globalizado.
Franklin e outros maçons juntaram os seus recursos em 1731 e iniciaram a primeira biblioteca pública de Filadélfia. Fundaram para esse fim uma empresa, que encomendou os seus primeiros livros em 1732, na sua maioria livros de teologia e educacionais, mas em 1741 a biblioteca também incluía obras de história, de geografia, de poesia e de ciência. Os sucessos dessa empreitada encorajaram a abertura de bibliotecas em outras cidades americanas e Franklin percebeu que tal iniciativa fazia parte da luta das colônias na defesa dos seus interesses. Não queremos perder de vista que a expressão sociológica Tigres Asiáticos e mormente Quatro Tigres Asiáticos referem-se às economias desenvolvidas dos países Hong Kong, Coreia do Sul, Singapura e República da China. Esses territórios e países localizados no Sudeste da Ásia apresentaram grandes taxas de crescimento econômico e social e rápida industrialização entre as décadas chave de 1960 e 1990. A sua indústria de tecnologia desempenha ipso facto um papel-chave na economia política global desenvolvimentista. A República da China é classificada como desenvolvida em termos de liberdade de imprensa, saúde, educação pública, liberdade econômica, entre outros indicadores socioeconômicos. A partir da década de 1980, alguns territórios do Pacífico malaio-asiáticos começaram a apresentar os “chamados altos índices de crescimento econômico” e importante influência no mercado mundial globalizado, sendo por isso designados metaforicamente tigres asiáticos. Lembram agressividade e essa a característica fundamental das quatro economias, ainda que Hong Kong não possa ser considerado um Estado Nacional, na esfera política, ainda que sua estrutura forme esse grupo. Eles se utilizaram de estratégias arrojadas para atrair capital, apoiada exploração da mão-de-obra disciplinada, na isenção de impostos e nos baixos custos de instalação de empresas.
O país asiático que
iniciou esse “ciclo” de crescimento econômico foi o Japão, “com uma bem
sucedida reforma agrária, seguida de um aumento rápido da renda dos
fazendeiros, que criou um mercado local para novas fábricas”. A Primeira Crise
do Estreito de Taiwan (1954-1955) representou um eminente conflito armado de
curta duração que ocorreu entre os governos da República Popular da China e a
República da China (Taiwan). A China continental tomou para si as Ilhas
Yijiangshan, forçando Taiwan a abandonar as Ilhas Tachen. As Marinhas dos
Estados Unidos e de Taiwan uniram estratégias políticas para esvaziar o pessoal
militar e civil da República da China das Ilhas Tachen para Taiwan. Embora as
Ilhas Tachen mudassem de mãos na crise, os noticiários estadunidenses
centraram-se quase exclusivamente nas Ilhas Quemoy e Matsu, os quais
tornaram-se palcos de frequentes duelos de artilharia. A distância de tais
ilhas pra Taiwan é de 150 Km, enquanto que poucos quilômetros de mar separam
Quemoy de territórios controlados pela China na cidade de Xiamen, enquanto
Matsu é situada a distância similar de Fuzhou, que as torna visíveis do
continente e alvos fáceis para peças de artilharia.
A Segunda Crise do Estreito de Taiwan (1958) representou um conflito ocorrido entre os governos da República Popular da China (China comunista) e a República da China (Taiwan) em que a República Popular da China bombardeia as ilhas de Quemoy e Matsu no Estreito de Taiwan, na tentativa de tomá-las da República da China. Esta situação, continuou por 44 dias e custou cerca de 1.000 vidas. Foi uma continuação da Primeira Crise do Estreito de Taiwan, guardas as proporções belicistas, que teve início após a Guerra da Coreia (1950-1953). De novembro de 1954 a maio de 1955, a Primeira Crise do Estreito de Taiwan ocorre entre a China comunista e a República da China Nacionalista refugiada em Taiwan em decorrência da guerra civil chinesa. Pequim conseguiu capturar duas das ilhas próximas à costa que ainda estavam sob controle nacionalista, mas foi impedida pela ameaça de intervenção militar por parte dos Estados Unidos da América. A segunda crise começou em 23 de agosto de 1958, quando a artilharia do Exército de Libertação Popular passou a bombardear as ilhas de Quemoy e Matsu no Estreito de Taiwan e ameaçar invasão. O líder político chinês Mao Tsé-Tung (1893-1976) não queria que a questão de Taiwan permanecesse nas sombras, pretendendo protestar contra o apoio dos Estados Unidos à República da China e Independência da União Soviética. Taiwan é uma ilha com 23 milhões de habitantes semipresidencialista. A ilha luta para que permaneça independente e não seja reconhecida como parte do território chinês.
Para garantir sua
soberania territorial e nacional contra um dos maiores impérios do mundo,
Taiwan apostou investimento na tecnologia e desenvolveu o Escudo de Silício,
uma estratégia que politicamente evita o ataque dos vizinhos chineses. O termo
foi criado por Craig Addison, um jornalista que escreve para o The South
China Morning Post. E lançou o livro: Silicon Shield: Taiwan`s
Protection Against Chinese Attack (2001) e entrevista à BBC falando sobre o
tema. A British Broadcasting Corporation é uma corporação pública de
rádio e televisão do Reino Unido fundada em 1922. Possui uma boa reputação
nacional e internacional. Por vezes, é chamada afetuosamente pelos britânicos
como Beeb, The Corporation ou Auntie. O primeiro
esclarecimento que o jornalista fez é que Taiwan não possui um escudo de
verdade, como os antimísseis que Israel utiliza para evitar ataques aéreos da
Palestina. As fabricantes do produto vêm tentando aumentar sua capacidade de
produção e alterar os seus processos de fabricação. É uma estratégia da ilha,
já que ela é líder mundial na fabricação de chips semicondutores. Os produtos,
que são essenciais na fabricação de celulares, computadores, videogames e
carros, são geralmente feitos de silício e acabam sustentando parte da economia
moderna. Um ataque chinês ao país poderia, portanto, afetar a produção dos
chips e causar um estrago não só na economia chinesa, mas mundial. O “escudo
de silício” é semelhante ao conceito de Destruição Mútua Assegurada durante a Guerra Fria, de ação militar no
estreito de Taiwan tão prejudicial à China quanto para as relações
internacionais entre Taiwan e os Estados Unidos da América.
Seja por necessidade
econômica, necessidade de proteção ambiental ou de retorno financeiro.
Simultaneamente, a natureza da efemeridade dos programas computacionais e a
lógica pragmática da indústria de softwares induziram também o ideário do
conceito como é visto amplamente nos mass mídia de descarte e atualização de
mercadorias. De forma complementar, o desenvolvimento da indústria
automobilística entrou no patamar de configuração social dos veículos, também
por questões de reciclagem e descarte que alimentariam a cadeia produtiva desde
a fonte, em termos de reduzir a espessura das latarias e materiais em função da
absorção de impactos em colisões. Este elemento, de origem investigativa com
base em pesquisas de colisão, com modelos e bonecos, por si só inseriu também
em parte a necessidade de redução da resistência mecânica e, portanto,
durabilidade material das latarias, fato perceptível no senso comum da
população. Estas diferenças produziram uma geração familiarizada com a baixa
durabilidade e efemeridade dos produtos. Neste ambiente volátil, por vezes
hostil, onde assistimos à queda das profissões e a relativização de outras, a
lógica do trabalho então reconhecida das profissões e novas carreiras
adquiriram novo significado e grau de comprometimento.
Podemos perceber que seguindo este modo de compreensão, sobretudo com o advento da modernidade, o corpo foi facilmente associado a uma máquina. O corpo foi pensado como um mecanismo elaborado por determinados princípios que alimentam as engrenagens desta máquina promovendo o seu bom funcionamento. Através dos exercícios de abstinência e domínio que constituem a ascese necessária, o lugar atribuído ao conhecimento de si torna-se mais importante: a tarefa de se pôr à prova, de se examinar, de controlar-se numa série de exercícios bem definidos, coloca a questão da verdade – da verdade do que se é, do que se faz e do que é capaz de fazer na constituição do sujeito moral. O ponto de chegada dessa elaboração é na e pela soberania do indivíduo sobre si mesmo. O momento histórico das disciplinas é o que nasce uma arte do corpo humano, que visa não unicamente o aumento técnico de suas habilidades, nem tampouco aprofundar sua sujeição, mas a formação de uma relação que no mesmo mecanismo o torna tanto uma prática política das coerções que são um trabalho sobre o corpo, uma manipulação calculada em torno de seus elementos, como de seus gestos, e sobretudo de vigilância de seus comportamentos. Nas pegadas de Michel Foucault, sabemos que o corpo humano entra numa maquinaria de poder que o esquadrinha, o desarticula e o recompõe. Uma “anatomia política”, que é também uma “mecânica do poder”, está nascendo; ela define como se pode ter o domínio sobre o corpo dos outros, não simplesmente para que façam o que se quer, mas para que operem como se quer, com as técnicas segundo a rapidez e a eficácia que se determina.
Minari tem como representação social um
filme estadunidense de 2020 escrito e dirigido por Lee
Isaac Chung, nascido em 19 de outubro de 1978 é um diretor de cinema e
roteirista estadunidense. Seu longa-metragem de estreia Munyurangabo
(2007) foi incluído na Seleção Oficial do Festival de Cannes de 2007. Foi o
primeiro filme narrativo da história social em língua quiniaruanda, também reconhecido
como Ruanda ou Rwanda, é uma língua banta falada principalmente em
Ruanda, onde é uma das línguas oficiais junto ao inglês e o francês. O
quiniaruanda é um idioma inteligível com o kirundi e semelhante ao giha.
O kinyarwanda é um idioma tonal, como outras línguas bantas. Também é falado no
Sul de Uganda e no Leste da República Democrática do Congo. O filme foi representado
na Seleção Oficial no Festival de Cannes, no Festival de Cinema de Berlim, no
Festival de Cinema de Toronto, no Festival de Cinema de Busan, uma cidade portuária da Coreia do Sul, conhecida pelas praias, montanhas e templos. Em sua démarche Lee Isaac Chung dirigiu os
longas-metragens Lucky Life (2010), Abigail Harm (2012), o
aclamado Minari (2020), onde Chung venceu os dois prêmios em que foi
indicado no Festival Sundance de Cinema e Twisters.
Minari é estrelado por Steven Yeun, Han Ye-ri, Alan Kim, Noel Kate Cho, Youn
Yuh-jung, e Will Patton. Estreou
no Festival Sundance de Cinema em 26 de janeiro de 2020 e venceu o Grande
Prêmio do Júri. Minari narra a história social de uma família coreana
que se muda para uma pequena fazenda no estado do Arkansas em busca do “sonho
americano”. O lar da família muda com a chegada da avó astuta e desbocada, mas
incrivelmente amorosa. Em julho de 2019 foi anunciado que Steven Yeun, Han
Ye-ri, Youn Yuh-Jung, Will Patton e Scott Haze integrariam o elenco do filme,
produzido pela Plan B Entertainment e distribuído pela A24. O estúdio A24 foi
fundado em 20 de agosto de 2012 pelos veteranos do cinema Daniel Katz, David
Fenkel e John Hodges. Katz anteriormente liderava o grupo de financiamento de
filmes em Guggenheim Partners. Fenkel era presidente, co-fundador e sócio em
Oscilloscope. Hodges atuava como Chefe de Produção e Desenvolvimento em Big
Beach. O nome “A24” foi inspirado pela Autoestrada A24, localizada na
Itália, pela qual Katz estava passando quando decidiu fundar a empresa. Guggenheim
Partners providenciou o capital inicial para A24. Em outubro de 2012, Nicolette
Aizenberg associou-se como Chefe de Publicidade.
A empresa começou os
trabalhos em 2013. O primeiro lançamento foi A Glimpse Inside the Mind of
Charles Swan III de Roman Coppola. Outros lançamentos de 2013 foram: Ginger
& Rosa de Sally Potter, Spring Breakers de Harmony Korine, The
Bling Ring de Sofia Coppola, e The Spectacular Now de James
Ponsoldt. Em maio de 2015, A24 anunciou que iria iniciar uma divisão de
trabalho para televisão e começou a produzir a série Playing House para
USA Network, e desenvolvendo uma série para televisão que mais tarde viria a se
tornar Comrade Detective (2017), produzida por Channing Tatum. A empresa
também anunciou que começaria a financiar e desenvolver episódios pilotos.
Em janeiro de 2016, Sasha Lloyd se associa à empresa para lidar com toda a
distribuição de filmes e séries e desenvolvimento de negócios no mercado
internacional. A empresa, com a cooperação do Bank of America, J.P. Morgan
& Co. e SunTrust Banks, aumentou sua linha de crédito passando de U$50
milhões para U$125 milhões por mês para custear suas operações. Em abril, a
empresa adquiriu todos os direitos para Swiss Army Man (2016), distribuindo o
filme em todos os territórios e formando parcerias com distribuidores que
haviam previamente adquirido os direitos do filme, algo inédito para a A24. Em
janeiro de 2017, a empresa adquiriu os diretos de distribuição nos Estados
Unidos e China para o seu primeiro filme em língua estrangeira, Menashe
(2017). No dia 20 de fevereiro de 2018, A24 lançou o seu programa de podcast
chamado The A24 Podcast.
Os episódios são baseados em torno de uma discussão entre membros da indústria cinematográfica. Convidados notáveis do programa incluem Bo Burnham, Paul Schrader, Sofia Coppola, e Alia Shawkat. Apesar de não contar com uma estrutura pré-definida, os episódios geralmente contêm discussões sobre os trabalhos mais recentes dos convidados. Até julho de 2019, o programa conta com quinze episódios lançados. Em 26 de março de 2018, co-fundador John Hodges anuncia sua saída da empresa. Em 15 de novembro de 2018, A24 e Apple anunciam uma parceria onde A24 produzirá diversos filmes originais para Apple, uma empresa multinacional norte-americana que tem o objetivo de projetar e comercializar produtos eletrônicos de consumo, software de computador e computadores pessoais. Ainda não se sabe se os filmes serão lançados em cinemas ou se serão exclusivos para o Apple TV+. As filmagens principais de Minari começaram em julho de 2019. O filme estreou no Festival Sundance de Cinema em 26 de janeiro de 2020. Minari recebeu resenhas favoráveis de diversos críticos de cinema. O filme possui uma aprovação de 100% no agregador de críticas Rotten Tomatoes, baseada em 26 críticas analíticas e com uma média ponderada de 9,08/10. No Metacritic o filme possui uma avaliação de 88/100 baseada em 9 críticas, indicando “aclamação universal”.
Durante as experiências
do “sonho acordado” aparecem frequentemente imagens de auréola. As personagens
imaginadas, segundo Durand (1997: 151 e ss.), quando da sua ascensão
imaginária, têm uma face que se transforma, se transfigura em “halo de
luz imensa”, e, ao mesmo tempo, a impressão constantemente experimentada pelo
paciente é a do olhar. Olhar que, segundo Robert Desoille, é justamente
representativo dessa transcendência psicológica a que Freud chama superego:
“olhar inquiridor da consciência moral”. Esta deslocação da luz do halo
luminoso para o olhar surge-nos natural: é normal que o olho, órgão da visão,
seja associado ao objeto dela, ou seja, à luz. Não nos parece útil separar,
como faz Desoille, a imagem do olho do simbolismo do olhar. Segundo este autor,
o olhar seria o símbolo do julgamento moral, da censura do superego, enquanto o
olho não passaria de um símbolo enfraquecido, significativo de uma vulgar
vigilância. Mas parece-nos que um olhar se imagina sempre mais ou menos sob a
forma de olho, mesmo que fechado. Seja como for, olho e olhar estão sempre
ligados à transcendência, como constatam a mitologia universal e a psicanálise.
Um filósofo como Ferdinand Alquié (1906-1985) percebeu essa essência de
transcendência que subentende a seguinte visão: “Tudo é visão, e quem não
compreende que a visão só é possível à distância? A própria essência do olhar
humano introduz no conhecimento visual alguma separação”. O superego, o olho do
Pai e, mais tarde, o olho do rei, o olho de Deus, em virtude da ligação que a
psicanálise estabelece como seu fundamento a relação entre o Pai, a autoridade
política e o imperativo moral. A imaginação hugoliana, apesar de polarizações
maternas e panteístas poderosas, volta sem cessar a concepção teológica
paternalmente do Deus “testemunha”, simbolizado pelo olho que persegue o
criminoso Caim.
Reciprocamente, o
embusteiro, o mau o perjuro deve ser cego ou cegado, como testemunham os versos
célebres de L`aigle du casque ou dos Châtimentes. Mas sabemos que não há necessidade de fazer
apelo ao arsenal edipiano para associar o olho e a visão ao esquema da elevação
e aos ideais de transcendência: lembremos que é de modo completamente
fisiológico que os reflexos de gravitação e o sentido da verticalidade associam
os fatores quinésicos e cenestésicos aos fatores visuais da comunicação. Uma
vez que a orientação é estabelecida em relação à gravitação, os signos visuais,
por vicariância condicionalmente, podem ao mesmo tempo servir para determinar a
posição no espaço e o equilíbrio normal. Neste ponto, como em tantos outros, as
motivações edipianas vêm constelar com os engramas psicofisiológicos. Quer
dizer, a mitologia confirma igualmente o isomorfismo do olho, da visão e da
transcendência divina. Varuna, deus uraniano, é o sashasrâka, o que significa
“com mil olhos”, e, tal como o deus hugoliano, é ao mesmo tempo aquele que “vê
tudo” e o que é “cego”. Também Odin, o clarividente – que é igualmente zarolho,
é o deus espião. O Javé dos Salmos é aquele a quem nada pode ser escondido: “Se
eu subo aos céus, tu estás lá, se me deito no Schéol, lá estás. Os fueguinos,
bushimanes, samoiedo e outros o sol é considerado o olho de deus. O sol Surya é
o olho de Mitra e Varuna; nos persas é o olho de Ahura-Mazda; para os gregos e
os hélios é o olho de Zeus, noutros lugares é o olho de Rá, o olho de Alá. Na
Babilônia, Shamash é o grande juiz, para os Koriak e os japoneses céu é tanto o
grande “vigilante” como a testemunha dos crimes mais secretos.
As várias teorias do
sonho se distinguirão por elevarem, como num voo de avião, uma ou outra
característica onírica à categoria essencial, por tomarem-na como ponto de
partida para explicações e relações. Uma teoria não precisará permitir a
inferência de alguma função, isto é, de alguma utilidade ou algum resultado do
sonho, mas nossa expectativa de “hábito teleológico”, dizia Freud (2017),
acolherá melhor aquelas teorias que considerarem que ele tem uma função. A crença dos antigos de que o sonho era enviado
pelos deuses para guiar as ações humanas tinha como representação uma teoria do
sonho completa, que dava informações sobre tudo o que é digno de se saber.
Desde que o sonho se tornou um objeto abstrato da pesquisa biológica,
conhecemos um número maior de teorias, embora haja entre elas também algumas
teorias incompletas. Se renunciarmos a
uma enumeração exaustiva, como consta nos manuais positivistas de história e
sociologia sobre qualquer coisa, poderemos tentar o seguinte modo de
agrupamento de teorias conforme a hipótese básica sobre a proporção e o ideal
típico de atividade psíquica no sonho. Teorias segundo as quais a totalidade da
atividade psíquica da vigília prossegue no sonho, comparado de Joseph Delbœuf
(1831-1896), psicólogo experimental belga que estudou ilusões visuais,
inclusive sobre a ilusão de Delboeuf.
Ele estudou na
universidade e ensinou filosofia, matemática e psicofísica. Ele também publicou
inúmeros trabalhos diversificados de assuntos, incluindo os efeitos do
hipnotismo. Para essas teorias, a psique não dorme, seu aparelho permanece
intacto, mas ao ser submetida às condições do estado de sono, distintas da
vigília, e sob funcionamento normal, ela deve produzir resultados diferentes
daqueles da vigília. A ilusão de Delboeuf é uma ilusão de percepção de tamanho
relativo: na versão mais reconhecida da ilusão, dois discos de tamanho idêntico
foram colocados próximos um do outro e um deles é rodeado por um anel; o disco
circundado então parece maior do que o disco não circundado se o anel estiver
próximo, enquanto parece menor do que o disco não circundado se o anel estiver
distante. Um estudo de 2005 sugere que é causada pelos mesmos processos visuais
imaginários que correm a ilusão de Ebbinghaus. A pergunta que se faz quanto a
essas teorias é se são capazes de derivar as diferenças entre o sonho e o pensamento
de vigília integralmente das condições do estado de sono. Além disso, ao que
parece elas não oferecem um acesso possível a uma função psíquica do sonho. Não
compreendemos para que sonhamos ou porque o complexo mecanismo do aparelho
psíquico continua funcionando mesmo quando deslocado em circunstâncias para as
quais aparentemente não parece ter sido planejado. Dormir sem sonhos ou acordar quando
ocorrem estímulos perturbadores seriam as únicas reações adequadas em vez da
terceira, a questão de sonhar propriamente dita.
Para Freud (2017), o inventor
da psicanálise, se for lícito recorrer a uma comparação com o material
psiquiátrico, ele diria que as primeiras teorias constroem o sonho como
paranoia e as segundas o transformam em modelo de debilidade mental ou de uma
amência. Fora de dúvida, a teoria social de que na vida onírica ganha expressão
apenas uma parcela da atividade psíquica, paralisada pelo sono, é de longe a
preferida pelos autores médicos e pelo mundo científico em geral. Tanto quanto
se pode pressupor um interesse mais geral pela expressão dos sonhos, podemos
designá-la como a teoria dominante. Cabe destacar a desenvoltura com que
precisamente essa teoria evita o mais terrível escolho a qualquer explicação
dos sonhos, a saber, o “perigo de naufrágio” ao se chocar contra uma das
exposições corporificadas pelo sonho. Visto que para ela o sonho tem como
representação social o resultado de uma vigília parcial, ou “uma vigília
gradativa, parcial e ao mesmo tempo muito anômala”, como nos diz sobre o sonho
a Psicologia de Herbart (1776-1841), essa teoria é capaz, por meio de uma série
de estados que vão de um despertar crescente ao estado de vigília plena, do
desempenho reduzido do sonho, que se revela pelo absurdo ao desempenho
intelectual plenamente concentrado. Nas obras dos fisiólogos e filósofos
encontraremos a concepção do sonhar como “uma vigília incompleta,
parcial, ou traços da influência certamente desta concepção”.
Arkansas é um dos 50 Estados dos Estados Unidos da América, localizado na região Sudeste do país. Limita-se ao Norte com o Missuri, ao Sul com a Luisiana, a Leste com o Tennessee, a Oeste com Oklahoma, a Sudeste com o Mississipi e a Sudoeste com o Texas. Com quase 138 mil km², é o 29º maior estado americano em área do país. O censo de 2000 estimou a população do Arkansas em 2 673 400 habitantes, um crescimento de 13,7% em relação à população do estado em 1990, de 2 350 725 habitantes. Uma estimativa realizada em 2005 estima a população do Arkansas em 2 779 154 habitantes, um crescimento de 18,2% em relação à população em 1990; de 4% em relação à população em 2000; e de 1,1% em relação à população estimada em 2004. O crescimento populacional natural do Arkansas entre 2000 e 2005 foi de 52 214 habitantes - 198 800 nascimentos menos 146 586 óbitos - o crescimento populacional causado pela imigração foi de 21 947 habitantes, enquanto que a migração interestadual resultou no ganho de 35 664 habitantes. Entre 2000 e 2005, a população do Arkansas cresceu em 35 664 habitantes, e entre 2004 e 2005, em 20 320 habitantes. Estima-se que 48,8% da população sejam pessoas do sexo masculino, e 51,2% do sexo feminino. O governo do Território do Arkansas, cedeu terras em cada um dos condados para a construção de escolas, embora não fornecesse verbas, mas deixando a questão da construção das escolas para terceiros.
A
primeira escola pública do Arkansas foi fundada em 1820, em Russellville. O
território passou a fornecer verbas para a construção de escolas a partir de
1829. Em 1843, já como estado, o governo aprovou a criação de um sistema
estadual de escolas públicas, e tornou mandatória a tendência escolar a partir
de 1909. Em 1948, o Arkansas decidiu fundir diversos distritos escolares entre
si, diminuindo o número de distritos escolares de cerca de 1,6 mil para
aproximadamente 300. A primeira biblioteca do Arkansas, uma biblioteca privada,
foi fundada em 1844, em Little Rock. A primeira biblioteca pública do Arkansas
foi fundada em 1853, em Helena. Atualmente, o Arkansas possui 43 sistemas de
bibliotecas públicas, que movimentam anualmente cerca de 4,1 livros por
habitante. A primeira instituição de educação superior do Arkansas foi a
Universidade do Arkansas, fundada em 1871, em Fayetteville, a segunda cidade
mais populosa no estado americano do Arkansas, localizada no Condado de
Washington, do qual é sede. Foi incorporada em 1836. A Universidade do Arkansas
faz parte do Sistema de Universidades do Arkansas, o sistema estadual de
educação superior do Arkansas, e a maior do estado. Arkansas possui 46
instituições de educação superior, dos quais 33 são públicas e 13 são escolas privadas.
O principal centro de transportes do Arkansas é Little Rock. Em 2002, o
Arkansas possuía 2 665 km de ferrovias. Em 2003 o estado possuía 158 586 km de
vias públicas, 1 056 km eram rodovias interestaduais, parte do sistema
rodoviário federal dos Estados Unidos.
O primeiro jornal do
Arkansas foi o Arkansas Gazette, que foi publicado pela primeira vez em
1819, em Arkansas Post. Atualmente, 125 jornais são publicados no estado;
deles, 29 são diários. A primeira estação de rádio do Arkansas foi fundada em
1920, em Pine Bluff. A primeira estação de televisão foi fundada em 1953, em
Little Rock. Atualmente, o Arkansas possui 153 estações de rádio dos quais 62
são AM e 91 são FM e 16 estações de televisão. O estado não possui nenhum time
profissional nas quatro grandes ligas do país, mas especificamente no beisebol
dois times do estado disputam a liga menor Texas League o Arkansas Travelers e
o Northwest Arkansas Naturals, no futebol americano universitário se destaca o
time do Arkansas Razorbacks football da Universidade do Arkansas, muitas vezes
abreviado simplificadamente como U de A, UARK, ou simplesmente UA, é uma
universidade pública do Arkansas. É classificada pela Fundação Carnegie uma das
melhores universidades públicas do país. É o principal campus do sistema da
universidade do Arkansas, e está situada em Fayetteville. Fundada com o nome
Universidade Industrial do Arkansas, em 1871, seu nome atual foi adotado em
1899 e as aulas foram realizadas pela primeira vez em fevereiro de 1872.
É conhecido pela sua
forte arquitetura, agricultura, e a escrita criativa, a história do Oriente
Médio e negócios. A Universidade do Arkansas completou recentemente a sua “Campanha
para o Século 21”, no qual a universidade quer gastar mais de 1 bilhão,
utilizado em parte para criar um novo Colégio de Honra e aumentar
significativamente o tamanho da universidade. As doações disponibilizadas para as universidades
bateram recordes, uma foi em torno de 50 milhões e a outra de 300 milhões. O
total de matrículas para o segundo semestre de 2010 foi de 21.406, que
representa a primeira vez que a Universidade do Arkansas tem mais de 20.000
alunos, e seu maior aumento no número de matrículas desde 1946. Dos 21.406
estudantes, 3.771 (17,6%) são estudantes de graduação e 398 são alunos de
direito. 67%, ou 13.282, dos alunos eram moradores de Arkansas, 27%, ou 5.389,
eram residentes de outros estados como o Texas, o Oklahoma e o Missouri, e 6%,
ou 1.164, vieram de outros países. O campus da Universidade compreende mais de
130 prédios em 345 acres (1,40 km²), incluindo The Inn at Carnall Hall,
que funciona como um no campus hotel e restaurante. Programas acadêmicos são
mais de 200. Existe 1 professor para 17 alunos. Mensalidades não subiram
durante o ano letivo de 2009 a 2010 na Universidade de Arkansas, em parte
graças a uma doação de 1 bilhão do Departamento de Atletismo. A taxa de
matrícula média nacional subiu 6,6%.
O pensamento objetivo ignora o sujeito da percepção. Isso ocorre por que ele se dá o mundo inteiramente pronto, como meio de todo o conhecimento possível, e trata a percepção como um desses acontecimentos. O sujeito perceptivo é o lugar dessas coisas. Pois, vista do interior, a percepção não deve nada àquilo que nós sabemos de outro modo sobre o mundo, sobre os estímulos tais como a física os descreve e sobre os órgãos dos sentidos tais como a biologia os descreve. Em primeiro lugar, ela não se apresenta como um acontecimento no mundo ao qual se possa aplicar, por exemplo, a categoria de causalidade, mas a cada momento como uma re-criação ou uma re-constituição do mundo. Se acreditamos em um passado do mundo, no mundo físico, nos “estímulos”, no organismo tal como nossos livros o representam, é primariamente porque temos um campo perceptivo presente e atualmente, uma superfície de contato com o mundo ou perpetuamente enraizada nele, é porque sem cessar ele vem assaltar e investir a subjetividade, assim como as ondas envolvem um destroço na praia. Todo saber se instala nos horizontes abertos pela percepção. Não se trata de descrever a própria percepção como um dos fatos que se produzem no mundo, já que a percepção é a representação da “falha” deste “grande diamante”. Certamente, não queremos perder de vista que o intelectualismo essencialmente representa um progresso na tomada de consciência: aquele lugar fora do mundo que o filósofo empirista Francis Bacon subentendia e onde ele situava para descrever o acontecimento da percepção recebe agora um nome, figura na descrição.
É o Ego transcendental.
Através disso, todas as teses do empirismo encontram-se reviradas, o estado de
consciência torna-se consciência de um estado, a passividade torna-se a
posição de uma passividade, o mundo trona-se o correlativo de um pensamento do
mundo e só existe para um constituinte. E, todavia, permanece verdadeiro que o
próprio intelectualismo se dá o mundo inteiramente pronto. Ipso facto, o sujeito da percepção
permanecerá ignorado enquanto não soubermos evitar a alternativa entre o “naturante”
e o “naturado”, entre a sensação enquanto estado de consciência e enquanto
consciência de um estado, entre a existência em si e a existência para si. Se o
corpo próprio e o eu empírico são apenas elementos no sistema de experiência,
objetos entre outros objetos sob o olhar do verdadeiro Eu, como pudemos algum
dia confundir-nos com nosso corpo, como pudemos acreditar que víamos com nossos
próprios olhos aquilo que na verdade apreendíamos por uma inspeção do espírito,
como o mundo não é perfeitamente explícito diante de nós, por que ele só se
desdobra pouco a pouco e nunca “inteiramente”, enfim como ocorre que nós
percebamos? Nós só o compreenderemos se o eu empírico e o corpo não forem
imediatamente objetos, nunca se tornarem totalmente objetos, se houver um dizer que vejo o pedaço de cera com meus
olhos e se, correlativamente, esta possibilidade de ausência, esta dimensão de
fuga e de liberdade que a reflexão abre no fundo de nós e que chamamos de Eu
transcendental em primeiro lugar não forem dadas e nunca puder dizer “Eu”
absolutamente, es e todo ato de reflexão, toda tomada de posição voluntária se
estabelecerem sobre o fundo e sobre a posição de uma vida de consciência
pré-pessoal.
O sujeito da percepção
permanecerá ignorado enquanto não soubermos evitar a alternativa entre
naturante e o naturado, entre a sensação enquanto estado de consciência e
enquanto consciência de um estado, entre a existência em si e a existência para
si. A psicologia indutiva, segundo Merleau-Ponty (2006), nos auxiliará a
procurar para ela um novo estatuto, demonstrando que a sensação não é um estado
ou uma qualidade, nem a consciência de um estado ou de uma qualidade. De fato,
cada uma das pretensas qualidades – o vermelho, o azul, a cor, o som – está
inserida em uma certa conduta. No normal, uma excitação sensorial, sobretudo as
do laboratório que para ele quase não têm significação vital, mal modifica a
motricidade geral. Mas as doenças do cérebro ou do córtex frontal evidenciam
aquilo que poderia ser a influência das excitações sensoriais no tônus muscular
se elas não estiverem integradas a uma situação de conjunto e se no normal não
estivesse regulado em vista de certas tarefas privilegiadas. O gesto de
levantar o braço, que se pode tomar como indicador da perturbação motora, é
modificado em sua amplitude e em sua direção por um campo visual vermelho,
amarelo, azul ou verde. O vermelho e o amarelo favorecem os
movimentos escorregadios, o azul e o verde os movimentos bruscos, o vermelho
aplicado ao olho direito, favorece um movimento de extensão para o
exterior do braço, o verde favorece um movimento de flexão e de
recuo em direção ao próprio corpo.
A posição privilegiada
do braço – aquela em que o sujeito sente seu braço em equilíbrio ou em repouso
-, que no doente é mais distanciada do corpo que no normal, é modificada pela
apresentação das cores: o verde leva para a vizinhança do corpo. A cor do campo
visual torna as reações do sujeito mais ou menos exatas, quer se trate de
executar um movimento de uma amplitude dada ou de mostrar com o dedo um
comprimento determinado. Com um campo visual verde, a apreciação é exata; com
um campo visual vermelho, ela é inexata por excesso. Os movimentos para o
exterior são acelerados pelo verde e atrasados pelo vermelho. A localização dos
estímulos na pele é modificada pelo vermelho no sentido da abdução. O amarelo e
o vermelho acentuam os erros na estimativa do peso e do tempo; nos cerebelosos,
eles são compensados pelo azul e sobretudo pelo verde. Nessas diferentes
experiências, cada cor age sempre no mesmo sentido, de forma que se pode
atribuir a elas um valor motor definido. O vermelho e o amarelo
são favoráveis à abdução, o azul e o verde à adução. Adução significa que o organismo se volta para o estímulo e é atraído pelo
mundo; a abdução, que ele se desvia do estímulo e retira-se para seu centro.
Portanto, as sensações, as “qualidades sensíveis”, estão longe de se reduzir à experiência de um certo estado ou de um certo quale indizíveis, elas se oferecem com uma fisionomia motora, estão envolvidas por uma significação vital. Sabe-se há muito tempo que existe um “acompanhamento motor” das sensações, que os estímulos desencadeiam “movimentos nascentes” que se associam à sensação ou à qualidade e forma um halo em torno do “lado perceptivo” e o “lado motor” do comportamento se comunicam. Assim, um sensível que vai ser sentido apresenta ao meu corpo uma espécie de problema confuso. É preciso que eu encontre a atitude quer vai lhe dar o meio de determinar-se e de tornar-se azul, é preciso que eu encontre a resposta a uma questão mal formulada. E, todavia, eu só faço à sua solicitação, minha atitude nunca é suficiente para fazer-me ver verdadeiramente o azul ou tocar verdadeiramente uma superfície dura. O sensível me restitui aquilo que lhe emprestei, mas é dele mesmo que eu o obtivera. Eu, que contemplo o azul do céu, não sou diante dele um sujeito acósmico, não o possuo em pensamento, não desdobro diante dele uma ideia azul que me daria seu segredo, abandono-me a ele, enveredo-me nesse mistério, ele “se pensa em mim”, sou o próprio céu que se reúne, recolhe-se e põe-se a existir para si, minha consciência é obstruída por esse azul ilimitado. – Mas o céu não é o espírito e não tem sentido algum dizer que ele existe para si? – Seguramente, o céu do geógrafo ou do astrônomo não existe para si.
Mas do céu percebido ou sentido, subentendido por meu olhar que o percorre e o habita, meio de uma certa vibração vital que meu corpo adota, pode-se dizer que ele existe para si no sentido em que não é feito de partes exteriores, em que cada parte do conjunto é “sensível” àquilo que se passa em todas as outras e as “conhece dinamicamente”. E, quanto ao sujeito da sensação, ele não precisa ser um puro nada sem nenhum peso terrestre. Isso só seria necessário se ele devesse, assim como a consciência constituinte, estar presente em todas as partes ao mesmo tempo, coextensivo ao ser, e pensar a verdade do universo. Mas o espetáculo percebido não é puro. Tomado exatamente como o vejo, afirma Merleau-Ponty, ele é um momento de minha história individual e, como sensação é uma reconstituição, ela supõe em mim os sedimentos de uma constituição prévia, eu sou, enquanto sujeito que sente, inteiramente pleno de podres naturais dos quais sou o primeiro a me espantar. Não sou, segundo a expressão de Hegel, um “buraco no ser”, mas um vazio, uma prega que se fez e pode desfazer-se. Insistamos nesse ponto. Como podemos escapar da alternativa entre o para si e o em si, como a consciência perceptiva pode ser obstruída por seu objeto, e distinguir a consciência sensível da consciência intelectual?
É que: 1°) Toda percepção acontece em uma atmosfera de generalidade e se dá anos como anônima. Não posso dizer que eu vejo o azul do céu no sentido em que digo que compreendo um livro ou, ainda, que decido consagrar minha vida às matemáticas. Minha percepção, mesmo vista do interior, exprime uma situação dada: vejo o azul por que sou sensível às cores – ao contrário, os atos pessoais criam uma situação: sou matemático porque decidi sê-lo. De forma que, se eu quisesse traduzir exatamente a experiência perceptiva, deveria dizer que se percebe em mim e não que eu percebo. Toda sensação comporta um germe de sonho ou de despersonalização, como nós o experimentamos por essa espécie de estupor em que ela nos coloca quando vivemos verdadeiramente em seu plano. Sem dúvida, o conhecimento me ensina que a sensação não aconteceria sem uma adaptação de meu corpo, por exemplo que não haveria contato determinado sem um movimento de minha mão. Mas essa atividade se desenrola na periferia de meu ser, não tenho mais consciência de ser o verdadeiro sujeito de minha sensação do que de meu nascimento ou de minha morte. Nem meu nascimento nem minha morte podem aparecer-me como experiências minhas, já que, se eu os pensasse assim, eu me suporia preexistente ou sobrevivente a mim mesmo para poder experimentá-los, e, portanto, não pensaria seriamente meu nascimento ou minha morte. Quer dizer, cada sensação, sendo rigorosamente a primeira, a última e a única de sua espécie, é um nascimento e uma morte.
O sujeito que tem a sua experiência começa e termina com ela, e, como ele não pode preceder-se nem sobreviver a si, a sensação necessariamente se manifesta a si mesma em um meio de generalidade, ela provém de quem de mim mesmo, ela depende de uma sensibilidade que a precedeu e que sobreviverá a ela, assim como meu nascimento e minha morte pertencem a uma natalidade e a uma mortalidade anônimas. Pela sensação, eu apreendo, à margem de minha vida pessoal e de meus atos próprios, uma vida de consciência dada da qual eles emergem, a vida de meus olhos, de minhas mãos, de meus ouvidos, que são tantos Eus naturais. Enfim, toda vez que experimento uma sensação, sinto que ela diz respeito não ao meu ser próprio, evidentemente, aquele do qual sou responsável e do qual decido, mas a um outro eu que já tomou partido pelo mundo, que já se abriu a alguns de seus aspectos e sincronizou-se a eles. Entre minha sensação e mim há sempre a espessura de um saber originário que impede minha experiência de ser clara para si mesma. Experimento a sensação como modalidade de uma experiência geral, e isso é fundamentalmente humano, já consagrada a um mundo físico, e que crepita através de que seja seu autor. 2°) A sensação só pode ser anônima porque é parcial. Aquele que vê e aquele que toca não sou exatamente eu mesmo, porque o mundo visível e o mundo tangível não são o mundo por inteiro. Quando vejo um objeto, sinto sempre que ainda existe ser para além daquilo que vejo, não apenas ser visível, mas ser tangível ou apreensível pela audição, e não apenas ser sensível, mas inda uma profundidade do objeto que nenhuma antecipação sensorial esgotará. Correlativamente não estou por inteiro nessas operações, elas permanecem marginais, produzem-se adiante de mim, o eu que vê ou o eu que ouve são de alguma maneira um eu especializado, familiares a um único setor do ser, e é justamente a esse preço que o olhar e a mão são capazes de adivinhar o movimento que vai tornar a percepção precisa e pode dar provas desta presciência que lhes dá a aparência do automatismo.
Podemos resumir essas duas ideias dizendo que toda sensação pertence a um certo campo. Dizer que tenho um campo visual é dizer que, por posição, tenho acesso e abertura a um sistema de seres, os seres visuais, que eles estão à disposição de meu olhar em virtude de uma espécie de contrato primordial e por um dom da natureza, sem nenhum esforço; é dizer, portanto, que a visão é pré-pessoal; e é dizer ao mesmo tempo que ela é sempre limitada, que existe em torno de minha visão atual a um horizonte de coisas não-vistas ou não visíveis. A visão é um pensamento sujeito a um certo campo e é isso que chamamos de um sentido. Quando digo que tenho sentidos e que eles me fazem ter acesso ao mundo, não sou vítima de uma confusão, não misturo o causal e a reflexão, não apenas exprimo esta verdade que se impõe a uma reflexão integral: que sou capaz, por conaturalidade, de encontrar um sentido para certos aspectos do ser, sem que eu mesmo o tenha dado receptivamente a eles uma operação constituinte. Com a distinção entre os sentidos e a intelecção, em Merleau-Ponty, encontra-se justificada a distinção entre os diferentes sentidos. O intelectualismo não fala dos sentidos porque, para ele, sensação e sentidos só aparecem quando eu retorno ao ato concreto de conhecimento para analisá-lo. Então distingo nele uma matéria contingente e uma forma necessária, mas a matéria é apenas um momento ideal e não um elemento separável do ato total. Portanto, os sentidos não existem, mas apenas a consciência. Por exemplo, o intelectualismo recusa-se a colocar o famoso problema da contribuição dos sentidos na experiência do espaço, porque as qualidades sensíveis e os sentidos, enquanto materiais do conhecimento, não podem possuir como propriedade o espaço que é a forma da objetividade em geral e, em particular, o meio pelo qual uma consciência de qualidade se torna possível.
Se uma sensação não
fosse uma sensação de algo, ela seria um nada de sensação, e “coisas” no
sentido mais geral da palavra, por exemplo qualidades definidas, só se esboçam
na massa confusa das impressões se esta é posta em perspectiva e coordenada
pelo espaço. Assim, todos os sentidos devem ser espaciais se eles devem
fazer-nos ter acesso a uma forma qualquer do ser, quer dizer, se eles são
sentidos. E, pela mesma necessidade, é preciso que todos eles se abram ao mesmo
espaço, sem o que os seres sensoriais com os quais eles nos fazem comunicar só
existiriam para os sentidos dos quais eles dependem – assim como os fantasmas
só se manifestam à noite -, faltar-lhes-ia a plenitude do ser e não poderíamos
verdadeiramente ter consciência deles, quer dizer, pô-los como seres
verdadeiros. A essa dedução, o empirismo tentaria em vão opor fatos. Se quer
mostrar que o tato não é por si mesmo espacial, se se tenta encontrar nos cegos
ou nos casos exemplares de cegueira psíquica uma experiência tátil pura e
mostrar que ela não é articulada segundo o espaço, essas provas experimentais
pressupõem aquilo que a elas caberia estabelecer. Com efeito, como saber se a
cegueira e a cegueira psíquica se limitaram a subtrair, da experiência do
doente, os dados visuais, e se elas também não atingiram a estrutura de sua
experiência tátil? Não se tata, bem
entendido, de uma relação de continente e conteúdo, já que esta relação só
existe entre objetos, nem mesmo de uma relação de inclusão lógica, como a que
existe entre o indivíduo e a classe, já que o espaço é anterior às suas
pretensas partes, que sempre são recortadas nele. O espaço não é o ambiente
(real ou lógico) em que as coisas se dispõem, mas o meio pelo qual a posição
das coisas se torna possível. Quer dizer, em lugar de imaginá-lo como uma
espécie de éter no qual todas as coisas mergulham, ou de concebê-lo abstratamente
com um caráter que lhes seja comum, devemos pensá-lo como a potência universal
de suas conexões.
Bibliografia Geral Consultada.
HALBWACS,
Maurice, La Mémoire Collective. 2ª
Éditions. Paris: Presses Universitaires de France, 1968; THOMPSON, Edward
Palmer, Tradición, Revuelta y Consciencia de Clase: Estudios sobre la
Crisis de la Sociedad Preindustrial. Barcelona: Editorial Crítica, 1979; WIEVIORKA,
Michel, La Démocratie à l’épreuve - Nationalisme, Populisme, Ethnicité. Paris:
Éditions La Découverte, 1993; MAFFESOLI, Michel, Éloge de la Raison Sensible.
Paris: Éditions Grasset & Fasquelle, 1996; DURAND, Gilbert, As
Estruturas Antropológicas do Imaginário: Introdução à Arquetipologia Geral.
São Paulo: Editora Martins Fontes, 1997; ELIAS, Norbert; SCOTSON, John, Os
Estabelecidos e os Outsiders: Sociologia das Relações de Poder a Partir de Uma
Pequena Comunidade. Rio de Janeiro: Editor Jorge Zahar, 2000; ABRÊU, João
Azevêdo, A Questão Mente-corpo em “A Interpretação dos Sonhos” de Freud.
Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Filosofia. Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Departamento de Filosofia. São Paulo:
Universidade de São Paulo, 2003; MERLEAU-PONTY, Maurice, Fenomenologia da
Percepção. 3ª edição. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2006; LUHMANN,
Niklas, Risk: A Sociological Theory. New Brunswick; New Jersey:
Translation Publishers, 2009; CORDEIRO, Ivana Oliveira, Accountability e seu
Impacto na Qualidade da Atividade Policial na Segurança Pública.
Dissertação de Mestrado. Programa de Estudos, Pesquisas e Formação em Políticas
e Gestão de Segurança Pública. Faculdade de Direito. Salvador: Universidade
Federal da Bahia, 2014; FREUD, Sigmund, A Interpretação dos Sonhos.
Porto Alegre: L&PM Editor, 2017; ROMANETTO, Matheus Capovilla, Clínica e
Política: Bases Subjetivas da Transformação Social em Eric Fromm.
Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Sociologia. Departamento
de Sociologia. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo:
Universidade de São Paulo, 2021; SETH, Sanjay, Humanidades, Universalismo e
Diferença Histórica. Vitória: Editor Milfontes, 2021; entre outros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário