domingo, 10 de janeiro de 2021

Desafios do Amor – Efeitos Sociais do Tempo, Espaço & Relacionamento.

                               A distância entre a visão elevada e o frenesi pecaminoso é muito curta”. Umberto Eco

         A história cinematográfica trata de um jovem casal que se apaixona e luta para manter seu relacionamento vivo através de afetos e brigas, mentiras e emoções, segredos e enganos, colocando uma pergunta simples, mas profunda: quais superpoderes você precisa ter para se amar para sempre na vida social? O filme Desafios do Amor (2021) tem como representação a relação social entre um cartunista impulsivo e uma professora de física que devem encontrar uma maneira de manter seu relacionamento vivo, apesar da inevitável passagem do tempo social.  Essa diferença da essência e o exemplo, entre a imediatez e a mediação, quem faz não somos nós apenas, mas a encontramos na própria certeza sensível; e deve ser tomada na forma em que nela se encontra, e não como nós acabamos de determina-la. Na certeza sensível, um momento é oposto como o essente simples e imediato, ou como a essência: o objeto na sua humanidade. O outro momento, porém, é posto como o inessencial e o mediatizado, momento que nisso não é “em-si”, mas por meio do Outro: o Eu, um saber, que sabe o objeto só porque ele é; saber que pode ser ou não. Mas o objeto é o verdadeiro e a essência: ele é, tanto faz que seja conhecido ou não. Permanece mesmo não sendo conhecido - enquanto o saber não é, se o objeto não souber que pode ser, assim da singularidade de apreensão do objeto. O outro momento, é posto como o inessencial e o mediatizado, momento que nisso não é “em-si”, na démarche da consciência, mas por meio de Outro: o Eu, um saber, que sabe o objeto só porque ele é; saber que pode ser ou não. 

         Mas o objeto é o verdadeiro e a essência: ele é, tanto que seja conhecido ou não. Permanece mesmo não sendo conhecido - enquanto o saber não é, se o objeto não é. O objeto, portanto, deve ser examinado, para vermos se é de fato, na certeza sensível mesma, aquela essência que ela lhe atribui; e se esse seu conceito - de ser uma essência - corresponde ao modo imediato como se encontra na certeza sensível. Quer dizer, não temos de refletir sobre o objeto, nem indagar o que possa ser em verdade; mas apenas através da ideia de formação em “considerá-lo como a certeza sensível o tem nela”. O tempo, como a unidade negativa do ser-fora-de-si, é igualmente um, sem mais nem menos, abstrato, ideal. O tempo é como o espaço uma pura forma de sensibilidade ou do intuir, é o sensível, mas, assim como a este espaço, também ao tempo não diz respeito a diferença de objetividade e de uma consciência subjetiva contra ela. Quando se aplicam estas determinações de espaço e tempo, então seria aquele a objetividade abstrata, do tempo, porém a subjetividade abstrata. O tempo é o mesmo princípio que o Eu=Eu da autoconsciência pura; mas é o mesmo princípio ou o simples conceito ainda em sua total exterioridade e abstração – como o mero vir-a-ser intuído, o puro ser-em-si como simplesmente um vir-fora-de-si. O tempo é contínuo como o espaço, pois ele é a negatividade abstrata e nela ainda não há nenhuma diferença real. No tempo tudo surge e tudo passa e perece, se se abstrai de tudo, do recheio do tempo e do espaço, fica de resto o tempo vazio comparativamente como o espaço vazio – isto é, são então postas e representadas estas abstrações de exterioridade, como se elas fossem existentes por si.

Mas não é o que no tempo surja e pereça tudo, porém o próprio tempo é este vir-a-ser, surgir e perecer, o abstrair essente. O real de análise é bem diverso do tempo, mas também essencialmente idêntico a ele. O real é limitado, e o outro para esta negação está fora dele, a determinidade é assim nele exterior a si, e daí a contradição de seu ser; a abstração opera nessa exterioridade de sua contradição e a inquietação da mesma é o próprio tempo. O finito é transitório e temporário, porque ele não é, como ocorre na representação do conceito nele mesmo, a negatividade total, mas em si, como sua essência universal, entretanto, diferentemente da mesma essência, é unilateral, e se relaciona à mesma essência como à sua potência. Mas tais conceitos na sua identidade conseguem livremente existente para si, Eu=Eu, é “em si” e “para si” a absoluta negatividade e liberdade. Por isso o tempo não é potência dele, nem ele está no tempo nem é algo temporal. Mas ele é muito mais a potência do tempo, como sendo este apenas esta negatividade como exterioridade. Só o natural, é, enquanto é finito, sujeito ao tempo; na constituição da ideia, o espírito que é eterno.  A “intuição trabalhada”, tal como a entendera Gaston Bachelard, depois de Hegel, na esfera da filosofia, significa assumir com essa ideia a existência de dois polos necessariamente presentes no universo cultural humano. O polo da objetividade e subjetividade, todavia, entrelaçados e mediados nos duros e doces caminhos da constituição da mediação científica assim como dos demais caminhos existentes, esta ideia cara à concepção de ciência nestes tempos.

                                    


O pensamento de Bachelard se faz contemporâneo na atualidade potente de sua reflexão. Felizmente fora da dinâmica consensual entre pesquisadores, pois é conhecido por sua filosofia não cartesiana, não bergsoniana, não aristotélica e não kantiana, visto que sua obra excede a epistemologia e a estética e comunicação com diferentes áreas de saber. Representou o novo “espírito científico” que, ao refletir sobre a questão da episteme, o conhecimento, problematiza o erro em sua positividade e a importância real da retificação. Seu novo racionalismo aberto e dinâmico, histórico e factual, inova a concepção de imaginação social, porque explora os devaneios e desconfia das metáforas progressivas. A formação das expectativas não leva em consideração os fatores comparativos previstos na sociedade como muito incertos. Embora, em determinadas situações, fatos muito incertos possam se tornar decisivos, tornando-se um guia razoável para as decisões correntes e os eventos a que se atribui um grau elevado de confiança. Foi um “filósofo da solidão feliz” que a procura de instantes poéticos nos desestabiliza nas incertezas do mundo contemporâneo objetivo. A intuição como forma do conhecimento consiste na capacidade de conhecer algo sem de fato ainda entender seu funcionamento. Está fundamentada na noção inicial que temos sobre algo, noção esta que nasce da experiência sensorial e/ou da análise superficial das características que compõe determinado elemento.

Tomando como base esta noção inicial, conseguimos entender de forma pouco esclarecida do que se trata determinado elemento e já nos dispomos a emitir juízos acerca do mesmo. Todas estas concepções do homem, que se expressam de diversas formas, nasceram a partir da análise que seus sentidos o proporcionaram fazer. Mas há algo a mais nisto. Não bastariam ele olhar para a pedra e sentir seu peso para concluir estas coisas. Teria o homem que pensar sempre por associação, por comparação. Entre habilidades ou competências importa destacar a relação contígua entre o ser capaz de pensar e o ser capaz de aprender. Teria o homem que se basear em outras experiências. Têm-se nas reflexões anteriores, um exemplo desta forma básica de entender o mundo que nos cerca. O pensamento por associação. O conhecimento que se constrói através de memórias de experiências passadas e logo comparações com experiências presentes. O raciocínio intuitivo da forma como foi apresentado, revela-nos uma superficialidade na forma de compreender o mundo. Retomando ao exemplo do homem: ele não saberia explicar o porquê de nenhuma de suas conclusões, visto que ele se baseou só em suas antigas experiências. Os fatos usados para formar a conclusão, não são compreendidos pelo homem, ele apenas sabe que são tal como são e aceita isso como natural.

Além dessas substâncias e de outras, que estão em menor quantidade, o ar, por exemplo, também apresenta gotículas de água, poeira, e sobretudo partículas de vírus, bactérias e outro micro-organismos. Não entende ele, no plano abstrato da teoria “como” e nem o “por que” daqueles fatos sociais do dia a dia se apresentarem daquela maneira. Tudo que ele sabe, foi captado pelos sentidos, guardado em sua memória. Utilizado em seu dia-a-dia para entender o mundo que lhe é anterior e está ao seu redor.  De origem humilde, o filósofo Gaston Bachelard (1884-1962), em sua poética do espaço trabalhou enquanto estudava. Pretendia formar-se engenheiro até que a 1ª grande guerra (1914-18) eclodiu e impossibilitou-lhe, felizmente, a conclusão deste projeto. Em 1903, após o término do curso secundário, ingressou na administração dos Correios trabalhando sessenta horas semanais. Nos momentos de lazer estudava, vindo a licenciar-se em 1912, aos 28 anos em Ciências Matemáticas. No ano seguinte, a administração dos correios lhe concede uma bolsa de estudos, a fim de que se preparasse para o concurso de engenheiro de telégrafo no Liceu Saint-Louis. Com a eclosão a 1ª grande guerra (1914-1918), sua carreira foi interrompida, sendo obrigado a desistir de seu intento. Em 8 de julho de 1914 casou-se, e em 1920 sua esposa faleceu, deixando com ele a pequena Suzane.

De 1917 a 1930 foi professor no magistério secundário em Bar-Sur-Aube, dedicando-se ao ensino das ciências Física e Química e posteriormente de Filosofia, na qual se licenciou em 1920 e tornou-se logo Mestre em 1922. Doutorou-se em Letras com menção honrosa na extraordinária Sorbonne, com a apresentação da tese: “Ensaio Sobre o Conhecimento Aproximado”, em 1927, publicada um ano depois. Nesse ensaio, encontram-se as bases de uma nova epistemologia. O nome Sorbonne alude ao teólogo do século XIII Roberto de Sorbon, fundador do Colégio de Sorbonne em 1257, que à época era dedicado ao ensino de teologia. Na língua corrente, o nome Sorbonne passou a identificar toda a Universidade de Paris. O colégio foi fundado em 1253 por Robert de Sorbon (1201-1274). Luís IX da França confirmou a fundação em 1257. Foi uma das primeiras faculdades significativas da Universidade medieval de Paris. A biblioteca foi uma das primeiras a organizar os itens em ordem alfabética de acordo com o título. A universidade antecede a faculdade em cerca de um século, e faculdades menores já haviam sido fundadas durante o final do século XII. Durante o século XVI, a Sorbonne envolveu-se com a luta intelectual entre católicos e protestantes. Curiosamente a Universidade serviu como um importante reduto das atitudes conservadoras católicas e, como tal, conduziu uma luta contra o rei Francisco I de “tolerância relativa” aos protestantes franceses, exceto por um breve período em 1533, quando a Universidade foi posta sob controle protestante.                              

A existência de Bar-sur-Aube remonta à Antiguidade. Há vestígios de um ópido da Idade do Ferro. Uma moeda com a imagem de um cavalo em nome de Togirix (Chefe dos Lingones) foi descoberta na colina de Sainte Germaine. Na época romana, a cidade aparecia na Tabula Peutingeriana com o nome de Segessera. Alguns vestígios do século I ao IV, incluindo vilas, foram descobertos na cidade e arredores. Segessera parece ter existido desde o período romano até os primeiros lioneses no território dos lingones. A cidade foi devastada por Átila. Após a divisão do reino de Clóvis por seu filho, a cidade passou a fazer parte da Austrásia. Sob o reinado de Carlos, o Calvo, foram cunhadas diversas moedas com o nome da cidade no reverso. Durante o período dos Condes de Champagne, a cidade teve grande importância devido às feiras de Champagne, onde mercadores da Flandres e da Itália negociavam especiarias orientais e seda por tecidos e matérias-primas do Norte da Europa, em meados de fevereiro e meados de abril. A cidade foi então incorporada à coroa da França. Em 1318, Filipe V, o Alto, vendeu a cidade a Jacques de Croÿ, mas os moradores a compraram para garantir que o rei não pudesse mais vender ou alienar as terras. Quando Carlos V sitiou Saint-Dizier, os habitantes das aldeias vizinhas ficaram sob sua proteção. A cidade sofreu uma longa epidemia de peste em 1636, que levou ao fim da feira. Em 1862, as fortificações foram demolidas e o Boulevard du Tour foi construído em seu lugar. A Revolução Francesa foi bem recebida na comuna e os conventos desapareceram. Tornou-se a principal cidade do distrito de 1790 a 1800. 

A cidade e seus arredores foram palco da Batalha de Bar-sur-Aube, no final da era napoleônica, em 27 de fevereiro de 1814. Em 1911, ocorreram os tumultos de Champagne entre os viticultores de Aube e os comerciantes de Marnais, com o objetivo de manter os vinhedos na Denominação de Origem Controlada (AOC) de Champagne. A Universidade Sorbonne em conjunto com a Igreja Católica, condenou 500 obras impressas como heréticas entre 1544 e 1556. O Collège de Sorbonne foi suprimido durante a Revolução Francesa, reaberto por Napoleão em 1808 e fechado em 1882. Este foi apenas um dos muitos colégios da Universidade de Paris que existiram até a Revolução clássica Francesa. Hastings Rashdall, em As Universidades da Europa na Idade Média (1895), que ainda é uma referência padrão extraordinária sobre o assunto, lista cerca de 70 faculdades da universidade apenas no âmbito da Idade Média; alguns deles tiveram vida curta e desapareceram antes do final do período medieval, mas outros foram fundados no início do período moderno, como ocorre com o Collège des Quatre-Nations, antigo colégio da Universidade de Paris localizado no Quai de Conti e abriga a sede do Institut de France. Com o tempo, passou a ser a principal instituição francesa representante de estudos teológicos e “Sorbonne” foi frequentemente usada como sinônimo da Faculdade de Teologia de Paris, apesar de ser apenas uma das muitas faculdades da universidade. No panorama filosófico do século XX, a obra de Bachelard é uma reflexão referencial sobre a ciência e os saberes objetivos em que se revela outra direção fundamental do seu pensamento – a poética. A psicanálise vem em auxílio de uma ideia implícita na obra de Bachelard: “o homem é um ser que se percebe na sua relação de habitação e familiaridade inquietante com as coisas do mundo”. Essa é a condição histórica e social do ser que vive num mundo constituído por saberes e verdades que ele próprio com sabedoria inventa com a experiência.           

O termo “confiança” aflora com muita frequência na linguagem cotidiana. A questão para Anthony Giddens é: como estas mudanças afetaram as relações de intimidade pessoal e sexual? Pois estas não são apenas simples extensões da organização da comunidade ou do parentesco. A amizade, por exemplo, desde Georg Simmel ou Friedrich Nietzsche, foi pouco estudada pelos sociólogos, mesmo se considerarmos a intuição de Alain Touraine a respeito, mas ela proporciona uma pista importante para fatores de amplo alcance que influenciam a vida pessoal. Temos de compreender o caráter da amizade em contextos pré-modernos precisamente em associação com a comunidade local e o parentesco. A confiança nos amigos era frequentemente de importância central. Nas culturas tradicionais, com a exceção parcial de algumas vizinhanças citadinas em Estados agrários, havia uma divisão bem clara entre membros reconhecidos como “os de dentro e os de fora ou estranhos”. As amplas arenas de interação não hostil com outros anônimos, característica da atividade social moderna, não existia. Nestas circunstâncias sociais, a amizade era institucionalizada e vista como meio de criar alianças mais ou menos duradouras com outros contragrupos potencialmente hostis. Amizades institucionalizadas eram formas de camaradagem, assim como mormente ocorrem nas reconhecidas “fraternidades de sangue”, social ou dentre “companheiros de armas”. Institucionalizada ou não, a amizade era baseada em valores de sinceridade e honra.

A sinceridade é uma virtude valorizada em circunstâncias onde as divisórias entre “amigo” e “inimigo” eram geralmente distintas e tensas. A vasta extensão de sistemas sociais abstratos associada à modernidade transforma a natureza da amizade. Não por acaso o sociólogo inglês percebe que a amizade é com frequência um modo de reencaixe, mas ela não está diretamente envolvida nos próprios sistemas abstratos, que superam explicitamente a dependência ligada a laços pessoais. O oposto de “amigo”, discursivamente, já não é mais “inimigo”, nem mesmo “estranho”; ao invés disto é “conhecido”, “colega”, ou “alguém que não conheço”. Acompanhando esta transição, a honra é substituída pela lealdade que não tem outro apoio a não ser o afeto pessoal, e a sinceridade substituída pelo que podemos chamar de autenticidade: a exigência de que o outro seja aberto e bem intencionado. Embora estas conexões sociais possam envolver “intimidade emocional”, isto não é uma condição da manutenção da confiança pessoal. Laços pessoais institucionalizados e códigos de sinceridade e honra informais ou informalizados fornecem estruturas de confiança. É bastante errôneo, contudo, realçar a impessoalidade dos sistemas abstratos contra as intimidades da vida pessoal como a maior parte das explicações sociológicas correntes tendem a fazer. A vida pessoalmente e os laços sociais que ela envolve estão profundamente entrelaçados com os sistemas abstratos de mais longo alcance como ocorre com o partido político. Alguns sentidos do termo, embora partilhem amplas afinidades eletivas com outras utilidades de usos, são de implicação relativamente desimportante. Quer dizer, alguém que diz: “confio que você esteja bem”, normalmente quer dizer algo mais com esta fórmula de polidez do que “espero que você esteja com boa saúde” – embora mesmo aqui “confio” tenha uma conotação algo mais forte que “espero”, implicando algo mais próximo a “espero não ter motivos para duvidar”. 

A atitude de crença ou crédito que entra em confiança em alguns contextos mais significativos já se encontra aqui. Quando alguém diz: “confio em que X se comportará desta maneira”, esta implicação social é mais evidente, e não além do nível do “conhecimento indutivo fraco”. É reconhecido que se conta com X para produzir o comportamento em questão, dadas as circunstâncias normais. Eles não se relacionam aos sistemas perpetuadores de confiança, são designações referentes aos comportamentos; o indivíduo envolvido não é requisitado aquela “fé” religiosa que a confiança envolve em seus significados. A principal definição de “confiança” no Oxford English Dictionary é descrita como “crença ou crédito em alguma qualidade ou atributo de uma pessoa ou coisa, ou a verdade de uma afirmação”, e esta definição proporciona um ponto de partida útil. “Crença” e “crédito” estão claramente ligados de alguma forma à “fé”, da qual, seguindo Simmel, mas embora reconhecendo que a fé e confiança são intimamente aliadas, Niklas Luhmann faz uma distinção entre as duas que é a base de sua obra sobre o tema. A confiança, diz ele, deve ser compreendida especificamente em relação ao risco, um termo que passa a existir apenas no período moderno. A noção se originou com a compreensão de que resultados inesperados podem ser uma consequência de nossas próprias atividades ou decisões, ao invés de exprimirem significados ocultos de natureza ou intenções inefáveis da Deidade. Mas “risco”, substitui em grande parte o que antes era pensado como fortuna (fortuna ou destino) e torna-se separado das cosmologias. A confiança pressupõe, segundo Giddens, consciência das circunstâncias de risco, o que não ocorre com a crença. Tanto a confiança como a crença se referem a expectativas que podem ser frustradas ou desencorajadas. A crença, como Niklas Luhmann a emprega, se refere a atitude mais ou menos certa de que as coisas similares permanecerão estáveis.

A poesia e a ciência é uma forma de compreender a relação do homem com o seu saber. O nascimento de tal categoria decorre do desdobramento de questões relativas ao tempo incluídas em obras anteriores como: “L´intuition de l`instant” (1932), e “La Dialectique de la Durée”, (1936), nas quais Bachelard desenvolve as teses da instantaneidade e da descontinuidade temporais. Neste sentido da durée bergsoniana, Bachelard contrapõe à noção de “descontinuidade temporal”. O tempo e a instantaneidade correspondem, para ele a questão problemática presente no livro: “L´intuition de l`instant”, a saber, que o tempo é uma realidade fechada sobre o instante e interrompida entre dois nadas. O tempo poderá renascer, mas é necessário primeiramente que ele morra. Ele não poderá transportar o seu ser de um instante para outro instante para daí fazer uma duração. Os registros mais antigos sugerem que a astrologia surgiu no terceiro milênio a.C. Ela teve um importante papel na formação das culturas, e sua influência é encontrada na astronomia antiga, nos Vedas, e em várias disciplinas através da história. De fato, historicamente até a Idade Moderna, astrologia e astronomia eram indistinguíveis. A astronomia começou a divergir gradualmente da astrologia desde o tempo de formação de Cláudio Ptolomeu, e essa separação culminou no século XVIII com a remoção oficial da astrologia do meio universitário. Os astrólogos afirmam que o movimento e as posições dos corpos celestes podem influenciar diretamente ou representar eventos na Terra e em escala humana. Alguns astrólogos definem a Astrologia como uma linguagem simbólica, uma forma de arte, ou uma forma de vidência, enquanto outros definem como ciência social e humana. Quer dizer, nenhum estudo científico realizado até hoje mostrou a eficiência da astrologia para descrever personalidades ou fazer previsões abstratas e, por isto, ela é considerada pela comunidade científica uma pseudociência ou superstição, não compatível com o método científico. No paradigma da física moderna, não existe nenhuma forma de interação que poderia ser responsável pela transmissão da suposta influência entre uma pessoa e a posição de planetas e estrelas no céu no momento do nascimento. Além disso, todos os testes feitos até agora, mantendo métodos rigorosos para incluir um grupo de controle e mascaramento adequado entre experimentadores e sujeitos, não resultaram em qualquer efeito além do puro acaso.

Por outro lado, alguns testes psicológicos demonstram que é possível elaborar descrições de personalidade e previsões suficientemente genéricas para satisfazer a maioria dos membros de um grande público ao mesmo tempo. Este é o efeito reconhecido como o Efeito Forer, melhor dizendo, que em 1948 o psicólogo Bertram R. Forer deu a cada um de seus alunos um “teste de personalidade”.  Depois, ele disse que cada aluno receberia uma análise única e individual baseada nos resultados dos testes, e que eles deveriam avaliar a precisão da análise em uma escala de 0 (muito ruim) a 5 (muito boa). Na verdade, todos os alunos receberam o mesmo texto: “Você tem uma necessidade de ser querido e admirado por outros, e mesmo assim você faz críticas a si mesmo. Você possui certas fraquezas de personalidade, mas, no geral, consegue compensá-las. Você tem uma capacidade não utilizada que ainda não a tomou em seu favor. Disciplinado e com autocontrole, você tende a se preocupar e ser inseguro por dentro. Às vezes tem dúvidas se tomou a decisão certa ou se fez a coisa certa. Você prefere certas mudanças e variedade, e fica insatisfeito com restrições e limitações. Você tem orgulho por ser um pensador independente, e não aceita as opiniões dos outros sem uma comprovação satisfatória. Mas você descobriu que é melhor não ser tão franco ao falar de si para os outros. Você é extrovertido e sociável, mas há momentos em que você é introvertido e reservado. Algumas de suas aspirações tendem a fugir da realidade.

Em média as avaliações receberam nota 4,26, mas depois de receber essas notas Forer revelou que cada aluno tinha recebido o mesmo texto, com frases de diversos horóscopos. Como pode ser observado no texto, algumas frases se aplicam igualmente a qualquer pessoa. A eternidade não será, nem foi, mas ela é hegeliana. A duração é também diferente da eternidade nisto, que ela é apenas um relativo suprassumir do tempo; mas a eternidade é duração infinita, isto é, não relativa, porém em si refletida. O que não está no tempo é o sem-processo; o péssimo e o mais perfeito não estão no tempo, mas duram. O péssimo, o da pior qualidade, porque ele é uma universalidade abstrata, assim espaço, assim tempo mesmo, o Sol, os elementos concretos, rochas, montanhas, a natureza inorgânica em geral, também obras dos homens, pirâmides; sua duração não é vantagem. O duradouro é mais altamente cotado do que o breve transitório; mas toda florescência, toda bela vitalidade tem morte cedo. Mas também o mais perfeito dura, não só o universal sem-vida, inorgânico, mas também o outro universal, ao qual se refere o concreto em si, o gênero, a lei, a ideia, o espírito. Pois devemos decidir se algo tem como representação o processo total ou apenas um momento de apropriação do processo. O universal como lei é processo em sim mesmo e somente como processo; mas não é parte do processo, nem está no processo, mas contêm seus dois lados e é ele próprio sem-processo.

Pelo fenômeno a Lei entra no tempo enquanto os momentos do conceito têm a aparência da independência; mas as diferenças portam-se como reconciliadas e retomadas à paz. A noção de desenvolvimento passa a ser central depois dessa concepção e, para o bem ou para o mal até os dias de hoje. Mesmo a ideia de progresso, que implicava que o depois pudesse ser explicado em função do antes, encalhou, de certo modo nos recifes do século XX, ao sair das esperanças ou das ilusões que acompanharam a travessia do mar aberto pelo fabuloso séc. XIX. Esse questionamento refere-se a várias ocorrências distintas entre si que não atestam um progresso moral da humanidade, e sim, uma dúvida sobre a história como portadora de sentido, dúvida renovada, essencialmente no que se refere ao seu método, objeto e fundamentalmente nas grandes dificuldades não só em fazer do tempo um princípio de inteligibilidade, como ainda em inserir aí um princípio de identidade. A história, essencialmente, isto é, “compreensão da série de acontecimentos reconhecidos como acontecimentos por muitos. Acontecimentos que podemos pensar que importarão sempre aos olhos dos historiadores de amanhã”. E por mais consciente tal problematização, de nada pode nesse caso vincular a algumas circunstâncias. Algumas imagens, como se fosse menos verdadeiro, comparativamente, dizem que os homens fazem a história, mas não sabem, talvez sob condições sociais determinadas.

 Desde Friedrich Hegel sabemos que a diferença dos sexos passou a fundamentar a diferença de gêneros masculino e feminino que, de fato, historicamente a antecedera. O sexo autonomizou-se e ganhou o estatuto de fato social originário. Revolucionários, burgueses, filósofos, moralistas, socialistas, sufragistas e feministas, todos estavam de acordo em especificar as qualidades morais, intelectuais e sociais dos humanos, partindo-se da diferença de gênero entre homens e mulheres. A ideia, ou o espírito está “acima do tempo”, tal é o próprio conceito do tempo que importa; é eterno, em e para si, não é rompível no tempo porque ele não perde o lado reconhecendo um lado do processo. No indivíduo, como tal, é de outro modo, neste sentido que está de um lado o gênero; a vida mais bela é a que une perfeitamente o universal e sua individualidade em uma figura, por exemplo na psicologia a Gestalt. Mas também então o indivíduo está separado do universal, e assim é um lado do processo, a alterabilidade; após este momento mortal ele cai no tempo. É nisto que a interpretação hegeliana compreende que “o [que é] medíocre dura e, afinal, governa o mundo; mas também pensamentos tem esta mediocridade, com eles a doutrina o mundo existente, apaga a vitalidade espiritual, transforma-o em hábito, e assim dura. A duração consiste em que ela permanece na falsidade, não consegue seu direito, não dá a sua honra ao conceito, não se representa como processo a verdade”.

A busca das mulheres por igualdade e independência moral, especialmente forte na Inglaterra, representou o desafio mais efetivo à oposição social dos homens. Esse desafio incluía uma crítica efetiva da sexualidade masculina, centrada no duplo padrão de comportamento moral que se esperava de homens e mulheres. Com a saída das mulheres do espaço privado para o público, como decorrente das duas guerras mundiais, da industrialização e do movimento feminista que ora tentava se firmar, o resultado foi uma verdadeira avalanche de pesquisas, discussões e redefinições de papéis sociais cujo gênero foi tomado como ponto de partida para a discussão, e herdeiro dos genders studies. Na medida em que o movimento feminista propunha uma rediscussão acerca dos novos papéis sociais estabelecidos pela norma sexual e moral burguesa, tanto para homens quanto para mulheres, e na medida em que esta discussão passou a ser tomada sob o ponto de vista feminino, passou-se a ficar mais delimitada e fortalecida a representação da mulher enquanto ser social. Inaugurava-se, portanto os estudos sobre gênero, onde os estudos sobre homens representou um impulso diretamente decorrido do avanço dado pelas mulheres na conquista de cidadania e de direitos civis, na ordem pública e privada, na ordem moral e sexual, e que passaram a propor, nova forma de ver o homem, distinto daquele ordenamento em que os vitorianos duramente apregoavam.

 Um bom exemplo desse tempo social está na origem etimológica da família letrada Brontë que pode ser delineada até ao clã irlandês Ó Pronntaigh, que se traduz literalmente para filho de Pronntach, de tradição de escribas e homens da literatura em Fermanagh, o que é relacionado com a palavra bronnadh. O pai das irmãs, Patrick Brontë, nascido Brunty, decidiu mudar o seu sobrenome. Não se sabe ao certo o motivo para fazê-lo existindo várias teorias a respeito. Ele pode tê-lo feito para esconder as suas origens humildes. Como homem de letras, ele estaria familiarizado com o grego clássico e é possível que se tenha baseado na palavra grega βροντή (“trovão”) para escolher o seu nome. Um ponto de vista, apresentado pelo biógrafo Clement King Shorter (1857-1926), em 1896, é que ele adaptou o seu nome para se associar com o Almirante Horátio Nelson, também Duque de Brontë. É difícil separar a carreira de Shorter como autor e crítico de seu passatempo como colecionador de manuscritos, livros e outros materiais relacionados com seus escritores preferidos. Era um ávido colecionador, em especial sobre os trabalhos das irmãs Brontë. Essa coleção e investigação levou aos seus mais reconhecidos trabalhos, incluindo dois livros sobre Charlotte e família. Prova dramática desta influência é a imitação do Duque de Wellington na forma como se vestia.

Os Brontës foram uma família literária do século XIX associada à aldeia de Thorton, localizada no West Riding of Yorkshire, Inglaterra. As irmãs, Charlotte (1816-1855), Emily (1818-1848) e Anne (1820-1849) são escritoras e poetisas bem conhecidas do público no processo de massificação da literatura. À semelhança sobre o preconceito de muitas escritoras de seu tempo, inicialmente elas publicaram os seus poemas e romances sob os pseudônimos masculinos: Currer, Ellis e Acton Bell. Seus livros tiveram bastante sucesso assim que foram publicados. Jane Eyre, de Charlotte foi o primeiro romance a ser publicado, seguido de Wuthering Heights, de Emily e The Tenant of Wildfell Hall, de Anne. As três irmãs /irmão Branwell eram próximos e na infância desenvolveram suas imaginações férteis através das histórias que ouviam da empregada e da criação de reconhecidos “mundos imaginários” que desenvolveram através do domínio literário na escrita. O que em certo sentido remete-nos ao termo utopia que vem do grego e tem como significado οὐ (“não”) e τόπος (“lugar”), ou seja, “não lugar”. A palavra foi criada por Sir Thomas More, em 1516, no livro Utopia. A obra descreve uma sociedade fictícia numa ilha do Oceano Atlântico. A Utopia representava um lugar com um sistema político, social e jurídico perfeitos. Todo o conceito de Utopia tornou-se um termo usado tanto na literatura, como na política internacional oriunda da formação do império inglês, para descrever um ideal de vida perfeito, mas pouco realista, impossível de ser atingido. Pois Charlotte ocupava o seu “tempo livre” com realismo em seu “imaginário” de Angria, que tinha criado de forma familial, através de correspondência fática com seu irmão.

Bibliografia Geral Consultada.

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