segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

El Negro Matapacos - Animais & Instinto Revolucionário.


Matapacos é o cão símbolo do afã revolucionário deste Chile”. Victor Farinelli


            Chile, oficialmente República do Chile ocupa uma longa e estreita faixa costeira encravada entre a cordilheira dos Andes e o Oceano Pacífico. Faz fronteira ao Norte com o Peru, a Nordeste com a Bolívia, a Leste com a Argentina e a Passagem de Drake, a ponta mais meridional do país. A passagem de Drake, chamada por algumas referências mais antigas de estreito de Drake, é a parte do oceano Antártico situada entre a extremidade sul da América do  Sul e a Antártica. É uma das zonas que conhecem as piores condições meteorológicas marítimas do mundo. A passagem deve seu nome ao explorador britânico do século XVI, Francis Drake, apesar de ele, ironicamente, jamais ter passado por essa rota, optando pelas águas menos turbulentas do estreito de Magalhães. A primeira menção da passagem de um navio pela Passagem de Drake foi a do navio Eendracht do capitão Willem Schouten, em 1616. A passagem, cuja largura é de cerca de 650 km, constitui a distância mais curta entre a Antártica e as outras terras do mundo. Considera-se às vezes que este local, situado no oceano Atlântico e a alguns km da fronteira com o Pacífico, seja a distância marítima mais curta entre o cabo Horn e Snow Island a 260 km ao norte da parte continental da Antártica. Antigamente, a fronteira era situada sobre o meridiano que passa no cabo Horn. As duas fronteiras situam-se inteiramente na passagem de Drake. A passagem de Drake comporta somente as pequenas ilhas Diego Ramirez como terra, situadas a cerca de 50 km ao sul do cabo Horn. Não existem outras terras na mesma latitude que a da passagem de Drake, o que permite à corrente que dá a volta na Antártica circular livremente seu fluxo é estatisticamente de cerca de 600 vezes compoarativamente a do rio Amazonas. 
          A fauna da passagem de Drake é constituída principalmente de baleias, golfinhos e de numerosas aves marinhas. O Pacífico forma toda a fronteira oeste do país, com um litoral que se estende por 6 435 quilômetros. Com quase 20 milhões de habitantes, compreende alguns territórios ultramarinos, como o Arquipélago Juan Fernández, as Ilhas Desventuradas, a ilha Sala y Gómez e a ilha de Páscoa, sendo que as duas últimas estão localizadas na Polinésia. O Chile reclama a soberania de 1 250 000 km² de território na Antártida. É um dos dois únicos países da América do Sul que não têm uma fronteira com o Brasil, junto com o Equador. O Chile possui um território incomum, com 4 300 quilômetros de comprimento e, em média, 175 quilômetros de largura, o que dá ao país um clima muito variado, indo do deserto mais seco do mundo, o Atacama, no norte do país, a um clima mediterrâneo no centro, até um clima alpino propenso à neve ao Sul, com geleiras, fiordes e lagos. O deserto do Norte chileno contém uma grande riqueza mineral, principalmente de cobre. Uma área relativamente pequena no centro chileno domina o país em termos de população e de recursos agrícolas. É o centro cultural, político e financeiro do Chile que se expandiu no final do século XIX, quando integrou as regiões norte e sul em uma só nação. A cordilheira dos Andes está localizada por toda a fronteira oriental chilena.
            A palavra emoção data de 1650 quando foram descritas como respostas a eventos internos ou externos que têm um significado particular para o organismo. Além disso, que são breves e consistem em um conjunto coordenado de respostas, que podem incluir seus mecanismos fisiológicos, comportamentais e neurais. Do ponto de vista funcionalista é feita distinção entre emoções básicas e complexas. Seis emoções são classificadas como básicas através da raiva, o desgosto, o medo, a felicidade, a tristeza e a surpresa. As emoções complexas que podem ser incluídas na reflexão sociológica são os ciúmes, o desprezo e a simpatia. De qualquer forma, essa distinção é aparentemente difícil de ser utilizada em relação aos animais, pela própria distinção entre seres humanos, pois se acredita que eles expressam emoções mais complexas. O argumento de que os animais possam experimentar emoções por muitas vezes é rejeitado, já que muitos não acreditam na existência de uma consciência animal. Argumentam que o antropomorfismo influência na perspectiva do individuo, pois deliberadamente tenta justificar atitudes animais e explica-los de acordo com seus próprios conhecimentos.
            Estudos atuais, segundo Carvalho e Waizbort (2008) demonstram que o cão (canis familiaris) foi o primeiro animal a ser domesticado, e essa espécie têm sido desde há muitos séculos objeto de observações e considerações filosóficas e científicas sobre o comportamento animal. Inteligente, cordial, fiel, feroz, dissimulado, triste, o número de atributos mentais reconhecidos nos cães pode se multiplicar quase como os do homem. Mas, nesse contexto, a comparação do comportamento humano com o comportamento canino adquiriu marcas próprias com o advento do programa de pesquisa darwinista, nascido em meados do século XIX, e  considerado por muitos pensadores um dos mais revolucionários sistemas conceituais da ciência, pelo impacto que causou no universo de valores epistemológicos, científicos e socioculturais vigentes em seu tempo, e que ainda repercute. Para efetuar tal investigação, os autores utilizam o método espécime-tipo, descritos por David Hull, elegendo como unidade de análise o “cão de Darwin”, isto é, o cão como percebido e descrito no discurso de Darwin, no papel de protótipo do animal darwiniano. Darwin serviu-se dessa espécie para estabelecer sua tese da continuidade mental entre animais e homem – estratégia decisiva para afirmar de maneira definitiva a teoria da origem comum no domínio da mente.


       Contudo, como experiência revolucionária, o cão de Pavlov sintetizou como funciona o condicionamento clássico. Realizado por um médico Russo nos anos 1920 com diversos cachorros, os estimulando a ficarem com água na boca sem que se houvesse comida por perto. Essa experiência consistia em que toda vez que os animais eram alimentados o médico tocava uma sineta, com o passar do tempo os mesmo começaram a associar as badaladas com a comida e começavam a babar apenas de ouvir o sino, mesmo que o prato estivesse vazio, comprovando assim que os chamados seres vivos nascem com certos reflexos sintomáticos repetitivos, que em sua natureza podem ser programados para determinadas reações em resposta a um determinado estimulo. Nos últimos anos, a comunidade científica tornou-se cada vez mais favorável à ideia de emoção em animais. A pesquisa científica forneceu informações sobre as semelhanças das mudanças fisiológicas entre humanos e animais quando experimentam emoção. O ramo da ciência mais próximo de ser responsável pelo estudo das emoções em animais é a etologia, que analisa o comportamento animal. Porém o mesmo só busca explicações causais para o comportamento dos animais, e não emocionais, recorrendo quase sempre aos instintos como mera justificativa, já que se acredita ser mais recomendável estudar o comportamento do que tentar chegar a alguma compreensão da emoção subentendida. O dualismo cartesiano tem influenciado o pensamento filosófico e a pesquisa científica.
        Nas perspectivas de alguns etnólogos evolucionistas as emoções ocidentais não poderiam ser equiparadas, ou possivelmente de se existir nas culturas consideradas “inferiores”. Parecia então não ser necessário se compreender a respeito das emoções em certas tribos montanhesas, quando se quer catalogar os sentimentos em animais. Donald Olding Hebb (1904-1985) está ligado às pesquisas psicológicas que determinaram os efeitos do uso de privação sensorial. Além disso, outros métodos que mais tarde vieram a fazer parte das técnicas de tortura desenvolvidas pela Central Intelligence Agency (CIA). Ele constatou que os tratadores de animais que atribuem termos psicológicos para descrever comportamentos animais, eram mais eficientes em prognosticar suas condutas reais do que os cientistas que se valiam de terminologias sobre práticas objetivas, mais descritivas e menos antropomórficas. Em contrapartida, os primeiros trabalhos de Jane Goodall receberam inúmeras críticas analíticas por adotar termos humanos e associar em sua apresentação de dados sobre os chimpanzés de Gombe.  
Em janeiro de 1974, um chimpanzé chamado Godi alimentava-se sozinho, nos galhos de uma árvore no Parque Nacional de Gombe, na Tanzânia. Mas Godi não reparou que, enquanto comia, oito macacos o rodearam. – “Ele pulou da árvore e correu, mas eles o agarraram”, disse o primatologista Richard Wrangham ao documentário The Demonic Ape: A Critique of the BBC 2 Documentary  (2005). À mesma conjuntura, Desmond Morris demonstrou os riscos da humanização do comportamento, que teria sido provocado pela grande proximidade evolutiva desses grandes primatas com os humanos. O episódio é reconhecido na literatura especializada, como o início do que a primatologista Jane Goodall chamou de “A Guerra dos 4 Anos”, a representação do conflito que dividiu uma comunidade de chimpanzés em Gombe e desatou uma onda de assassinatos e violência que, desde então, nunca mais foi registrada pela etnologia. Entre os anos de 1974-78, Jane pode constatar o crescimento da violência entre os grupos que habitavam o parque. Tudo teve início quando um novo líder assumiu o poder, e dois outros pretendentes mais jovens quiseram tomar seu lugar. O que resultou em estratégias e táricas de ataques, armadilhas, sequestros e muitos assassinatos originados nos confrontos de rua. O conflito social foi reconhecido como a Guerra dos Quatro Anos de Gombe. Do ponto de vista sociológico e comunicativo, vale lembrar  que é a única guerra entre chimpanzés totalmente documentada.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que só no Brasil existam mais de 30 milhões de animais abandonados, entre 10 milhões de gatos e 20 milhões de cães. Em cidades urbanizadas de grande porte, para cada cinco habitantes há um cachorro. Destes, 10% estão abandonados. No interior, em cidades menores, comparativamente, a situação não é muito diferente. Em muitos casos o numero chega a 1/4 da população humana. O poder público de modo geral carece ações para resolver o problema. Os abrigos de médio porte, que conseguem abrigar de 101 a 500 animais e que são 48% das entidades mapeadas, se destacam por tutelar mais de 89 mil bichos. Por isso, eles são responsáveis por mais de 52% da população de pets disponíveis para adoção. Apenas 19% das instituições conseguem abrigar mais de 500 animais, e 33% são de pequeno porte, abrigando entre 1 e 100 cães e gatos. O Pet Brasil fez uma estimativa do número de animais em condição de vulnerabilidade. Melhor dizendo, aqueles que vivem sob tutela de famílias classificadas abaixo da linha de pobreza ou que vivem nas ruas, mas recebem cuidados de forma espontânea de pessoas. São 3,9 milhões, ou 5% da população total de pets no Brasil, que é de cerca de 140 milhões. O Senado aprovou um projeto de Lei que proíbe que animais sejam juridicamente tratados como coisas.
            De acordo com a pesquisa etnográfica de Segata (2012) no Brasil estudos antropológicos sobre animais de estimação ainda são incomuns e isolados em um ou outro departamento de pesquisa social. De modo geral, quando até pouco tempo, e especialmente até um momento anterior às produções de Tim Ingold, Eduardo Viveiros de Castro, Philippe Descola, a relação social comparada entre humanos e animais nos debates antropológicos lembra aquela de protagonista/coadjuvante, ou ator/cenário, onde o animal não participava da composição de âmbito social, mas tão apenas servia de apoio ou contexto psico-afetivo, para a discussão de relações entre os humanos (cf. Waizbort, 2008; Segata, 2012; Froehlich, 2016). Em grande medida também se estende aos demais entes que compõem o mundo das relações entre coisas e incluindo o sobrenatural. Assim, um dos desafios do trabalho de pesquisa foi o de pensar alguma coisa diferente daquela ideia trivial de que os animais de estimação poderiam falar dos nossos problemas. Algumas antropologias anteriores aos anos de 1980 tinham interesses nesses seres, e do modo como estes constituíam o social. 
O instinto animal corresponde às ações que os animais têm ao sentirem que precisam preservar sua vida. A relação social do ambiente e comportamento e como eles  progridem durante o processo de evolução, criando todos os ecossistemas e a cadeia alimentar, que esse instinto reproduz para sua manutenção. A territorialidade dos animais é um resquício do instinto primitivo. Ela serve como meio de sobrevivência, reprodução e disputa de área quando os ancestrais desses animais estavam na natureza. Vários estudos já foram realizados sobre a relação entre animal e dono, inclusive em se tratando do reconhecimento e dos efeitos da relação psicológica entre ambos. É possível compreender várias histórias que tratam de cães que sentiram que alguma catástrofe iria acontecer, ou que reagiram quando o dono estava em perigo, mesmo não estando ao lado deles. Os pesquisadores ainda divergem sobre essa previsibilidade do animal, mas a explicação sociotécnica que pareceu mais plausível é de que eles carregam uma sensibilidade a alterações no ambiente e de nível sensorial que nós humanos perdemos.  
As pressões a que fomos expostos durante milênios deixaram um legado mental e emocional. Alguns ainda afirmam que ele está presente em nós de alguma forma, o que explicaria momentos de sensações que acabaram se confirmando. A questão é que esse instinto animal mais sensorial dos animais domésticos provavelmente também está ligado ao instinto de sobrevivência primitivo, onde esse tipo de mecanismo era usado para alertar de algum perigo iminente. Os animais ainda são muito ligados ao seu instinto primitivo e natural, que é algo geral e inato ao ser vivo, representando um tipo de inteligência no seu grau mais primitivo. Ele guia o homem e os animais que possuem um grau mais elevado em sua trajetória pela vida, nas suas ações, visando justamente a preservação do ser, que acaba acarretando em comportamentos especiais, como andar em bando ou sozinho, e na alimentação e convivência com seu habitat. E nos animais domésticos, o instinto animal é um rastro que a evolução existente ainda não apagou.
O descobrimento da primitiva gens do direito materno, como etapa anterior à gens de direito paterno dos povos civilizados, tem, para a história primitiva, a mesma importância que a teoria da evolução de Charles Darwin para a biologia e a teoria da mais-valia, enunciada por Karl Marx, para a economia política. Essa descoberta permitiu a Lewis Morgan esboçar, pela primeira vez, uma história da família, onde pelo menos as fases clássicas da sua evolução são provisoriamente estabelecidas, tanto quanto permitem o resgate dos dados estatísticos. Em torno da gens de direito materno, por exemplo, gravita, toda essa reveladora concepção de ciência. Desde seu descobrimento, sabe-se em que a direção encaminhar as pesquisas e o que precisamente estudar. Como e de que modo devem ser classificados os seus principais resultados. Fazem-se nesse terreno, progressos rápidos anteriores ao ensaio clássico de Lewis Morgan, “Ancient Society”. Reconstituindo retrospectivamente a história da família, chega, de acordo com a maioria de seus colegas, à conclusão de que existiu uma época primitiva em que imperava, no seio da tribo, o comércio sexual promíscuo, de modo que cada mulher pertencia igualmente a todos os homens e cada homem a todas as mulheres.
         No século XIX havia feito menção a esse estado, evolutivo primitivo, mas apenas de modo geral; Johann Jakob Bachofen foi o primeiro - este é um dos seus maiores méritos – que o levou a sério e procurou seus vestígios nas tradições históricas e religiosas. Por ser fruto de misturas e raças diversas, o cão vira-lata não tem evidentemente uma origem definida – sendo que a descendência de cada um dos animais considerados no grupo sem raça definida (SRD) varia de acordo com a sua própria história, pois é muito difícil, ou mesmo impossível utilizar-se destas características para estabelecer um comportamento padrão. No entanto, os termos usados para descrever estes animais têm se modificado ao longo das últimas décadas, deixando um pouco de lado a ideia de que o nome vira-lata é sinônimo de algo comumente usado de forma pejorativa. Historicamente, o vira-lata era considerado um “cachorro de rua” – que tinha esse nome para explicar que, virando latas pelos lugares mais estranhos e em meio ao lixo, esse animal buscava seus alimentos – os cachorros considerados “mestiços” eram chamados pela sigla de SRD. Essas duas siglas já podem ser consideradas como sinônimos; deixando de lado a ideia de que os vira-latas são cães menos especiais que quaisquer outros, e demonstrando que o uso desse termo para se referir a um animal ou qualquer outra noção ou pessoa de forma negativa.

A teoria genética que aborda o chamado “vigor híbrido” sugere como um grupo existente composto de ancestralidade variada que serão mais saudáveis do que seus ancestrais de pedigree. Em animais de raça definida, o cruzamento de cães com aparência muito similar através de várias gerações produzem animais que podem carregar os mesmos alelos, alguns dos quais são indesejáveis. Isto é ainda mais verdadeiro quando se consideram animais de parentesco próximo. Este cruzamento próximo tem exposto muitos problemas de saúde de natureza genética não tão aparentes em populações menos uniformes. Espécimes sem raça definida são mais diversificados geneticamente devido à natureza casual do encontro entre os pais. A descendência desses encontros tende a expressar menos algumas deficiências genéticas, do que em virtude da diferença genética natural entre os pais. Algumas doenças recessivas ocorrem entre muitas raças não relacionadas, e deste modo meramente a mistura de raças não é garantia de saúde genética.
        Ipso facto a definição de híbrido em biologia pode referir-se à genética ou à taxonomia. No contexto da genética, o termo híbrido tem vários significados, todos referentes à descendência geracional por reprodução sexual Em geral, o híbrido é sinônimo de heterozigoto, constituindo o indivíduo no qual os alelos de um ou mais genes são diferentes qualquer prole resultante do cruzamento de dois indivíduos homozigotos, indivíduo no qual os alelos de um ou mais genes são idênticos diferentes.  Já na taxonomia, híbrido refere-se à descendência resultante do cruzamento de dois animais ou plantas de espécies diferentes. Existem quatro categorias de híbridos definidos pelo contexto taxonômico, porém apenas três reconhecidas e identificadas. A hibridação de animais é um acontecimento de certa forma raro. Devido à existência de grandes empecilhos, a formação de híbridos, considerando que estes são inférteis, já é uma enorme dificuldade, aumentando muito a criação de híbridos férteis na natureza.  
            A hibridação representa a junção de patrimônios genéticos diferentes a partir do cruzamento de indivíduos de populações diferentes. Esse fato pode ocorrer devido à existência de uma zona híbrida, através da migração ou dispersão de indivíduos ou pela inserção de espécies exóticas. A zona híbrida indica na natureza uma sobreposição de populações diferentes com uma ou mais características herdáveis diferentes que possuem capacidade de produzir proles viáveis e pelo menos parcialmente férteis. Este contato social reprodutivo proporciona aproximação genética entres as espécies como causa da diminuição do isolamento. E devido à heterose explicada anteriormente muito desses contatos podem resultar em uma criação de indivíduos superiores em muitas características. Porém isso só ocorre quando existe uma certa proximidade evolutiva entre os indivíduos, pois, quando há uma diferença genética muito grande, pode ocorrer a esterilidade ou inviabilidade da prole podendo até prejudicar as populações.
                           Vira-lata é a denominação atribuída “aos cães ou gatos sem raça definida”. Em algumas regiões do Brasil também são reconhecidos como pé-duro, guaipeca, bajariva e cusco. O termo vira-lata deriva do fato social de que muitos desses animais, se abandonados, serem comumente vistos “andando famintos pelas ruas revirando latas de resíduos em procura de algum tipo de alimento”. Pedigree é um certificado de registro de animais de raça pura. Os pedigrees revelam informação detalhada sobre a linha ancestral do animal, identificando entre três a cinco gerações do animal. Para obter um pedigree, o animal tem que ter igualmente o mesmo certificado da raça. Entidades certificadoras exigem verificação clínica de ninhada e mais recentemente a aplicação de microchips por veterinários. O animal pode ter a aparência de um cão de raça. Mas só o DNA, atesta, pois contêm as instruções genéticas e funcionamento dos seres vivos que transmitem as características hereditárias. Através do exame há possibilidade de se definir, cientificamente, se um cão segue o padrão evolutivo de uma determinada raça verificada em experiências comprovadamente científicas de laboratório.
           Um dos aspectos mais interessantes do típico vira-lata é a sua variedade. Ainda existem algumas características, como o fato de que costumam ser muito inteligentes e afetuosos, variando de acordo com as características herdadas. Em termos de aparência, como estes animais se cruzam livremente, a prole resultante tende a ser variada em termo de tamanho, forma e marca, tendo-se cães de portes diversificados, aptos a viver em residência, como animais de sítio ou vigilância. Embora o cruzamento não obedeça a uma ordem, necessariamente, observa-se que após várias gerações os cães mestiços exibam características grosseiramente similares. Eles tendem a ser cor caramelo ou preto, e pesar em torno de 18 kg, tipicamente tendo de 38 a 57 cm de altura. Acredita-se que a aparência de um cão mestiço seja muito parecida com a de seus ancestrais Canis lupus familiaris, no Brasil  chamado de cachorro, é um mamífero carnívoro da família dos canídeos, de onde as raças puras foram selecionadas pelo processo de evolução da espécie. As origens do cão doméstico baseiam-se em suposições, cujos crescentes estudos mudam em ambiente social e datação dos fósseis.
       O termo híbrido designa um cruzamento genético entre duas espécies vegetais ou animais distintos, que geralmente não podem ter descendência devido aos seus genes incompatíveis. Este fenômeno foi estudado pela primeira vez em plantas por Joseph Gottlieb Kölreuter durante o século XVIII, embora existam citações mais antigas sobre esse assunto, comparativamente tanto em plantas como em animais. Algumas dessas novas espécies ainda são produzidas até hoje através do cruzamento entre espécies, essencialmente para serem usadas como atrações de apresentações e locais turísticos. Cientistas estão tentando recriar o mamute através do ADN destes animais que foram encontrados congelados em região da Sibéria. Esses cientistas usarão técnicas de clonagem para fertilizar óvulos de fêmeas de elefante compreendidos como seus parentes modernos. Se conseguirem, este animal será um híbrido de elefante com mamute, e provavelmente também será estéril, de acordo com a nomenclatura como ocorre na maioria dos indivíduos híbridos.
          Em 2009, foi adotado por Maria Campos, na vida em que procura o bairro universitário. Como o documentário dos Matapacos de 2013, realizado por estudiosos da Universidade Santo Tomás de Aquino, mostra-o entre o Bairro República, a Universidade Central, a Metropolitana Tecnológica (UTEM) e a Universidad de Santiago de Chile (Usach). É uma das mais antigas universidades públicas do Chile. A instituição nasceu como Escuela de Artes y Oficios em 1849, sob o governo de Manuel Bulnes. Tornou-se a Universidade Técnica do Estado em 1947, com vários campi em todo o país.  Enfim, na manifestação da última sexta-feira (15/11/2019), em Santiago, um dos momentos de maior êxtase ocorreu quando um grupo trouxe um inflável gigante de um cachorro negro com um lenço vermelho amarrado no pescoço. “Matapacos! Matapacos! Matapacos!”, grita a multidão, em verdadeira adoração a este ícone moderno da rebeldia chilena. Matapacos é o cão símbolo do afã revolucionário deste Chile de 2019, mas hoje ele é só uma lenda. Uma lenda com uma interessante história real por trás, que começa no ano de 2011 quando o presidente, Miguel Juan Sebastián Piñera, estava em seu primeiro mandato, e sentia pela primeira vez a sensação de perder o controle político do país. Quando os estudantes universitários lotaram as ruas pedindo o fim do lucro e do controle empresarial na educação comparativamente entre 1989 e 2015, se manteve vigente no Chile uma legislação que considerava a educação um negócio; eram raríssimas as escolas gratuitas, mesmo as públicas, cuja maioria era concessionada aos interesses de grupos privados de hegemonia.

           Aquelas marchas politizadas do começo da década foram fortemente reprimidas. As juventudes dos estudantes os faziam reagir com o mesmo vigor, mas em meio a esses confrontos surgiu, segundo Farinelli (2019) “um herói inesperado”. Um cachorro de rua todo negro que quando a polícia chegava se colocava na primeira fila da batalha, driblando os escudos e mordendo os policiais formados dos batalhões de choque. Não demorou muito para a juventude adotar aquele vira-lata aguerrido como símbolo da luta pelo direito à educação. Passaram a vesti-lo com um lenço vermelho que era trocado a cada manifestação, ganhava comida e alguns até o levavam a tomar banho, e depois o devolviam às ruas, onde ele vivia. São muitas as formas de atar um lenço, mas o lenço vermelho tem como representação processos de luta revolucionária. A valentia do cão nas batalhas contra os policiais nas representações  do aparelho de Estado o fez ganhar o nome que tem como marca: El Negro Matapacos – “paco” é o termo com que os estudantes lembram a música da inesquecível Violeta Parra, composta em 1962, demonstra que no Chile não mudou a repressão, para se referirem pejorativamente aos militares. Mas a história também tem o seu final triste.  
O cão faleceu em agosto de 2017, vítima de uma doença da qual padeceu durante o último ano de sua vida. Também se pode dizer que morreu de velhice, apesar de que ninguém nunca soube exatamente quantos anos tinha. Após a sua morte, passaram a ser comuns as homenagens à sua memória, especialmente nas federações estudantis, onde ele é considerado quase como um santo protetor dos estudantes que se manifestam. Durante aqueles dias de rebelião diária no país, sua figura voltou a ser reivindicada, e não só nesta última marcha. Nas paredes, murais, estatuetas, cartazes, bandeiras, camisetas e até mesmo em uma história em quadrinhos, a figura do Negro Matapacos está presente, seja com sua imagem mais amigável, que ele reservava aos estudantes, ou os latidos e as mordidas, que eram dedicados à polícia. Definitivamente, o Negro Matapacos colocou em prática a máxima revolucionária de que há que endurecer, mas sem perder a ternura jamais, e por isso os chilenos, pós-Pinochet, o eternizaram como símbolo de luta contra a opressão de um Estado de exceção,  tendo em vista uma situação oposta ao Estado democrático de direito, decretada pelas autoridades em situações de emergência nacional, como agressão efetiva por forças estrangeiras, grave ameaça à ordem constitucional democrática ou calamidade pública.
Bibliografia geral consultada.

DARWIN, Charles, La Expresión de las Emociones en los Animales y en el Hombre. Madrid: Editorial Alianza, 1984; COSTA, Edilson da, A Impossibilidade de uma Ética Ambiental: O Antropocentrismo Moral como Obstáculo ao Desenvolvimento de um Vínculo Ético entre o Ser Humano e Natureza. Tese Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente e Desenvolvimento. Curitiba:  Universidade Federal do Paraná, 2007; CARVALHO, André Luís de Lima; WAIZBORT, Ricardo, “O Cão aos Olhos (da Mente) de Darwin: A Mente Animal na Inglaterra Vitoriana e no Discurso Darwiniano”. In: Revista Brasileira de História da Ciência. Rio de Janeiro. Volume 1, n° 1, pp. 36-56, jan./jun., 2008; CUNHA, Luciano Carlos, O Consequencialismo e a Deontologia na Ética Animal: Uma Análise Crítica Comparativa das Perspectivas de Peter Singer, Steve Sapontzis, Tom Regan e Gary Francioni. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-graduação em Filosofia. Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2010; VELOSO, Maria Cristina Brugnara, A Condição Animal: Uma Aporia Moderna. Dissertação de Mestrado. Programa de Estudos Pós-Graduados em Direito. Belo Horizonte: Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, 2011; SEGATA, Jean, Nós e Os Outros Humanos, Os Animais de Estimação. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2012; FAUTH, Juliana de Andrade, Sujeitos de Direitos não Personalizados e o Status Jurídico Civil dos Animais não Humanos. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Direito. Faculdade de Direito. Salvador: Universidade Federal da Bahia, 2016; HAMMERSCHMIDT, Janaina, Diagnóstico de Maus-tratos contra Animais e Estudo dos Fatores Relacionados. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias. Setor de Ciências Agrárias. Curitiba: Universidade Federal do Paraná, 2017; VILELA, Diego Breno Leal, Transformações das Sensibilidades na Relação Humanos-animais: Proteção Animal, Mediação e Institucionalização na Cidade do Recife-PE.  Tese de Doutorado em Antropologia Social. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Natal: Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2019; BEGNAMI, João Batista, Formação por Alternância na Licenciatura em Educação do Campo: Possibilidades e Limites do Diálogo com a Pedagogia da Alternância. Tese de Doutorado. Faculdade de Educação. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2019; entre outros. 

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