quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

Judas e o Messias Negro - Fred Hampton & Vida dos Panteras Negras.

                                                 Se você for me honrar, lembre-se de mim e trabalhe pelo povo”. Fred Hampton                          

Fred Hampton nasceu em Summit, em 30 de agosto de 1948 e faleceu na cidade de Chicago, em 4 de dezembro de 1969. Foi um ativista e revolucionário afro-americano marxista-leninista, presidente da filial de Illinois do Partido dos Panteras Negras (BPP) e vice-presidente do BPP nacional. Hampton e o também Pantera Negra Mark Clark foram assassinados durante uma batida realizada por uma unidade tática da Procuradoria do Estado do Condado de Cook, em conjunto com o Departamento de Polícia de Chicago e o Gabinete Federal de Investigação em dezembro de 1969. A operação política que resultou nas mortes de Fred Hampton e Mark Clark (1947-1969) fazia parte das ações coordenadas pelo Counter Intelligence Program, um programa conduzido pelo Federal Bureau of Investigation (FBI) dos Estados Unidos com o objetivo de “vigiar, infiltrar, desacreditar e perturbar ativistas e críticos do governo”. Os registros demonstram que os recursos da Counter Intelligence Program tiveram como alvo grupos e indivíduos que o FBI considerou subversivos, incluindo organizações feministas, o Partido Comunista, opositores da Guerra do Vietnã, ativistas dos direitos civis e dos negros, por exemplo Martin Luther King Jr. (1929-1968) e o Partido dos Panteras Negras, ambientalistas e protetores dos direitos dos animais, movimentos sociais de Independência, incluindo Independência de Porto Rico, uma ilha caribenha e um território não incorporado dos Estados Unidos, uma variedade de organizações que faziam parte da chamada Nova Esquerda que surgiram nos Estados Unidos à partir da década de 1960, marcando uma evolução em relação à esquerda tradicional, que era concentrada no ativismo trabalhista. Ela abrange protestos contra a Guerra do Vietnã (1955-1975), o movimento pelos direitos civis e luta por justiça social envolvendo questões de classe, gênero, raça e sexualidade.

O termo também se refere a um movimento mais contemporâneo, associado a figuras como Alexandria Ocasio-Cortez, que defende políticas progressistas como o combate às mudanças climáticas e a desigualdade através da tributação financeira de ricos e da universalização da saúde. Especificamente a grupos de supremacia branca como a Ku Klux Klan, uma organização que tem por base a formação de grupo de ódio de base protestante, de extrema-direita, supremacista branco e extremista cristão, que defende correntes reacionárias de nacionalismo branco, anti-imigração e, especialmente em iterações posteriores, o nordicismo, uma ideologia racialista que afirma a superioridade da chamada “raça nórdica” e considera-a em perigo de extinção, o anticatolicismo, a discriminação, hostilidade ou preconceito contra o catolicismo, a Igreja Católica, seus padres ou seus adeptos. Esse fenômeno pode se manifestar através de diversas formas de intolerância, como discursos de ódio, perseguições e oposição a dogmas e práticas, sendo historicamente ligado a debates políticos e sociais e o antissemitismo, o ódio, preconceito e discriminação contra os judeus, sendo uma forma de racismo que pode se manifestar individualmente ou de forma organizada, desde expressões de ódio até violência e políticas de perseguição, historicamente expressos através do terrorismo voltado a grupos ou indivíduos aos quais eles politicamente se opõem. Todos as três encarnações do grupo haviam clamado notadamente pela “purificação” da sociedade estadunidense e todos são considerados organizações de extrema-direita e o grupo de extrema-direita Partido dos Direitos dos Estados Nacionais.  

A análise marxista tem sido aplicada a diversos temas e tem sido mal interpretada e modificada durante o curso de seu desenvolvimento interno, resultando em numerosas e às vezes contraditórias teorias que caem sob a rubrica de “marxismo” ou “análise marxista”, mais próximo da ideologia do que da concepção de método de interpretação da realidade social. O marxismo baseia-se na explicação materialista do desenvolvimento da sociedade, tendo como ponto de partida as atividades econômicas necessárias para satisfazer as necessidades materiais da sociedade humana. A forma de organização econômica ou modo de produção é compreendida como a origem, ou pelo menos uma influência direta, da maioria dos outros fenômenos sociais - incluindo as relações sociais, sistemas políticos e jurídicos, moralidade e ideologia. Assim, o sistema econômico e as relações sociais são chamadas de infraestrutura e superestrutura. À medida que as forças sociais e produtivas, principalmente a tecnologia melhoraram, as formas existentes de organização social tornam-se ineficientes e asfixiam o progresso. Estas ineficiências se manifestam como contradições sociais na forma da luta de classes. Na análise marxista, conflitos de classe dentro do capitalismo surgem devido à intensificação das contradições entre produção mecanizada e produtiva e a socialização realizada pelo proletariado, além da propriedade privada e da apropriação do produto excedente na forma de mais-valia por uma minoria de proprietários privados chamados de burguesia. Como a contradição torna-se aparente para o proletariado, a agitação social entre as duas classes antagônicas se intensifica, culminando em uma revolução social.

                            


O eventual resultado a longo prazo dessa revolução seria o estabelecimento do socialismo - um sistema socioeconômico baseado na propriedade cooperativa dos meios de produção, na distribuição baseada na contribuição e produção organizada diretamente para o uso. Marx formulou a hipótese de que, como as forças produtivas e a tecnologia continuam a avançar, o socialismo acabaria por dar lugar a uma fase comunista de desenvolvimento social em uma sociedade sem classes, erigida na propriedade comum e no princípio “de cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual, segundo suas necessidades”. O marxismo desenvolveu-se em diferentes ramos e escolas de pensamento. Algumas vertentes colocam uma maior ênfase em determinados aspectos do marxismo clássico, enquanto rejeitam ou tiram a ênfase de outros aspectos do marxismo, às vezes combinando a análise marxista com conceitos não marxistas. Outras variantes do marxismo veem algumas de suas características como uma força determinante no desenvolvimento social - como o modo de produção, de classe, relações de poder ou propriedade - enquanto discutem outros aspectos como menos importantes ou irrelevantes. Apesar de compartilhar premissas semelhantes, as diferentes escolas de pensamento do marxismo podem chegar a conclusões contraditórias entre si. Por exemplo, diferentes economistas marxistas têm explicações contraditórias de crise econômica e previsões diferentes para o resultado de tais crises. Além disso, diferentes variantes teóricas e práticas do marxismo aplicam a análise marxista para estudar diferentes aspectos da sociedade, por exemplo, crises econômicas ou feminismo.

Estas diferenças teóricas levaram vários partidos socialistas e comunistas e movimentos políticos a adotar diferentes estratégias políticas para alcançar o socialismo e defender diferentes programas e políticas entre si. Um exemplo disso é a divisão entre socialistas revolucionários e reformistas que surgiram no Partido Social-Democrata Alemão (SPD) durante o início do século XX. Da mesma forma, embora os bolcheviques da Rússia terem declarado o leninismo e, posteriormente, o marxismo-leninismo como o único desenvolvimento legítimo do marxismo, os mencheviques e muitos outros sociais-democratas em todo o mundo considerou-os desvios totalitários. Depois do marxismo-leninismo, surgiria o marxismo-leninismo-maoismo, formalizado pelo Partido Comunista do Peru-Sendero Luminoso, e do marxismo-leninismo-maoismo, o marxismo-leninismo-maoísmo-Pensamento Gonzalo se desenvolveria. As diversas compreensões marxistas da história social e política têm sido adotadas por acadêmicos nas disciplinas de arqueologia e antropologia, estudos midiáticos, ciência política e filosofia. Em janeiro de 1970, um júri realizou um inquérito e determinou a morte de Hampton e Clark como “homicídio justificável”. Porém, uma ação civil foi posteriormente movida em nome dos sobreviventes e dos parentes de Hampton e Clark, sendo “resolvida” em 1982 em um Acordo de U$ 1,85 milhão compartilhado pela Cidade de Chicago, o Condado de Cook e o governo federal cada um pagando um terço do montante a um grupo de nove autores.

Hampton nasceu em 30 de agosto de 1948, na atual Summit, Illinois, e cresceu em Maywood, dois subúrbios de Chicago. Seus pais haviam se mudado para o norte da Louisiana, como parte da Grande Migração de Afro-Americanos no início do século XX para o sul. Os dois trabalharam na Argo Starch Company. Quando jovem, Hampton era talentoso tanto na sala de aula quanto no campo de atletismo, e desejava muito jogar no campo central do New York Yankees. Ele se formou com honra na Proviso East High School em 1966. Após sua graduação, Hampton se matriculou no Triton Junior College, nas proximidades de River Grove, Illinois, onde se formou em direito. Ele planejava se familiarizar com o sistema legal, usá-lo como defesa contra a polícia. Mais tarde, quando ele e seus colegas Panteras Negras seguiram a polícia em seu programa de supervisão comunitária, atentos à brutalidade policial, eles usaram seu conhecimento da lei como defesa. No dia 3 de dezembro de 1969, William O`Neal, um informante do FBI infiltrado no partido, drogou secretamente Hampton, colocando uma pílula para dormir em sua bebida. Pouco depois, os agentes da lei iniciaram uma batida matinal no apartamento de Hampton. Mesmo não possuindo mandado de prisão por porte de armas, eles entraram no apartamento com armas de fogo e logo iniciaram os disparos. Mark Clark, que estava guardando Hampton, foi morto no local. Hampton e sua noiva, Deborah Johnson (também chamada de Akua Njeri), estavam dormindo em seu quarto. Eles ficaram feridos, mas sobreviveram ao tiroteio. Quando um oficial percebeu que Hampton não havia sido morto, ele atirou duas vezes na cabeça do ativista. Johnson, que esperava um filho com Hampton, não foi morta. Os outros sete Panteras Negras presentes foram acusados ​​de vários crimes graves, incluindo tentativa de assassinato, violência armada e várias acusações de armas. Uma investigação do Departamento de Justiça revelou que a polícia de Chicago havia disparado até 99 tiros e os Panthers dispararam apenas uma vez, as acusações foram retiradas.      

Judas e o Messias Negro tem como representação social um filme norte-americano de drama histórico biográfico de 2021, dirigido e produzido por Shaka King, nascido em 7 de março de 1980, é um diretor, roteirista e produtor de cinema americano. Ele é mais reconhecido por dirigir e ser coautor do filme biográfico de 2021, que escreveu o roteiro com Will Berson, baseado em uma história da dupla e de Kenny e Keith Lucas. Uma cinebiografia de Fred Hampton estava em desenvolvimento há vários anos, com os irmãos Lucas e Will Berson escrevendo e apresentando roteiros desde 2014. A versão de Berson quase foi produzida com F. Gary Gray na direção, mas Stephen King foi contratado para dirigir quando o projeto não se concretizou. O elenco se juntou ao projeto em 2019, com a aprovação da família de Hampton, e as filmagens começaram naquele outono em Ohio. O filme narra a traição de Fred Hampton (interpretado por Daniel Kaluuya), presidente da seção de Illinois do Partido dos Panteras Negras no final da década de 1960 em Chicago, por William O`Neal (interpretado por LaKeith Stanfield), um informante do FBI. Jesse Plemons, Dominique Fishback, Ashton Sanders, Darrell Britt-Gibson, Lil Rel Howery, Algee Smith, Dominique Thorne e Martin Sheen também fazem parte do elenco. O Federal Bureau of Investigation (FBI), é o principal órgão federal de aplicação da lei e serviço de inteligência doméstica dos Estados Unidos.

Sua missão é proteger o país de ameaças à segurança nacional, como terrorismo, cibercrime e espionagem, além de investigar violações de leis federais. Opera sob a jurisdição do Departamento de Justiça dos Estados Unidos e é uma agência com foco principal dentro do país.  Suas funções políticas principais são: Ações de inteligência e investigação de crimes. Prioridade: Proteger os Estados Unidos de ataques terroristas. Outras investigações: Incluem cibercrime, crime organizado transnacional, corrupção pública, violações de direitos civis e outros crimes de grande porte. Jurisdição: Principalmente doméstica, mas também investiga crimes contra americanos no exterior. Possui 56 escritórios de campo nos Estados Unidos da América e mais de 400 agências residentes em cidades menores. Foi originalmente estabelecido em 1908 como o Bureau of Investigation (BOI) e renomeado para Federal Bureau of Investigation (FBI) em 1935. Filho único, Shaka King nasceu em 7 de março de 1980 em Crown Heights e cresceu em Bedford-Stuyvesant, ambos no Brooklyn, Nova York. A família da mãe era de Barbados uma ilha do Caribe Oriental e uma nação independente da British Commonwealth e Panamá, enquanto a família de seu pai era do Panamá. Ambos trabalhavam como professores da rede pública e eram “muito afrocentrados”. A educação inicial de King ocorreu nos bairros de East Harlem e Fort Greene. Ele frequentou uma escola preparatória predominante frequentada por brancos em Bay Ridge durante o Ensino Fundamental e Médio. Mas foi no Ensino Médio que ele descobriu sua paixão pela escrita criativa.

King estudou Ciência Política e fez seu primeiro curso de produção cinematográfica no Vassar College. Depois de se formar, praticou roteiro enquanto trabalhava como conselheiro e tutor de jovens. Em 2007, ingressou em um programa de pós-graduação em cinema na Tisch School of the Arts da Universidade de Nova York, onde foi aluno do extraordinário cineasta Spike Lee. A tese de King para seu mestrado em Belas Artes resultou no longa-metragem Newlyweeds. O primeiro longa-metragem de King, Newlyweeds, é sobre um jovem casal de “espírito livre” que vive em Bedford-Stuyvesant e prefere consumir maconha e haxixe. O filme estreou no Festival de Cinema de Sundance de 2013. Ele apresentou seu próximo filme, Mulignans, no programa de Curtas-Metragens Narrativos dos EUA no Festival de Cinema de Sundance de 2015. Seu curta-metragem de 2017, LaZercism, estrelado por Lakeith Stanfield, narra a história social de um mundo em que pessoas brancas sofrem de “glaucoma racial”. Stanfield também aparece no segundo longa-metragem de King, Judas and the Black Messiah, no qual Daniel Kaluuya interpreta o papel de Fred Hampton. O longa-metragem foi indicado a seis premiações, incluindo indicações específicas para King nas categorias de Melhor Roteiro Original e Melhor Filme. Mais recentemente, ele fechou um contrato de exclusividade com a FX Productions para desenvolver programas de televisão. Angelique Jackson da conceituada revista Variety observou que King é um daqueles “cineastas negros [que] estão oferecendo um olhar sem retoques sobre o legado da era dos direitos civis dos anos 1960, examinando a história torturada do racismo na América...”.

            Em 1968, William O`Neal, um jovem de 19 anos com “pequenos delitos, é preso em Chicago após tentar roubar um carro fingindo ser um agente federal”. Ele é abordado pelo agente especial do FBI, Roy Mitchell, foi reconhecido no FBI por sua habilidade em desenvolver informantes no “campo racial”. Agora sabemos a extensão das atividades de Mitchell — incluindo como elas ajudaram no assassinato de Fred Hampton, do Partido dos Panteras Negras, que oferece a O`Neal a possibilidade de suas acusações serem retiradas se ele trabalhar disfarçado para o FBI. O'Neal é designado para se infiltrar na seção de Illinois do Partido dos Panteras Negras (BPP) e obter informações sobre seu líder, Fred Hampton. O`Neal começa a se aproximar de Hampton, que trabalha para formar “alianças com gangues rivais e milícias”, ao mesmo tempo que expande seu trabalho comunitário através do Programa de Café da Manhã Gratuito para Crianças do Partido dos Panteras Negras. A oratória persuasiva de Hampton acaba ajudando a formar a Coalizão Arco-Íris multirracial, juntamente com os Young Lords e a Young Patriots Organization. Hampton também se apaixona por Deborah Johnson, uma companheira do Partido dos Panteras Negras. O'Neal começa a repassar informações para Mitchell, que o paga em troca. Após Hampton ser preso por supostamente roubar US$ 71 em sorvetes, O'Neal começa a subir na hierarquia e é promovido a capitão de segurança.

Quando um tiroteio entre a Polícia de Chicago e o Partido dos Panteras Negras ocorre no escritório da filial, O`Neal escapa enquanto a polícia bombardeia o prédio com bombas incendiárias. Indignado por ter quase sido morto, O'Neal tenta deixar de ser informante, mas Mitchell se recusa, ameaçando-o com as acusações originais. Três meses depois, Hampton é libertado da prisão enquanto recorre das acusações e se reencontra com Deborah, que agora está grávida de seu filho. Jimmy Palmer, membro do Partido dos Panteras Negras, que foi hospitalizado com ferimentos leves após ser baleado por um policial, morre inesperadamente durante a transferência para outro hospital. Presumindo que a polícia tenha assassinado Jimmy, Jake Winters, também membro do partido, entra em confronto armado com os policiais, matando vários agentes antes de ser morto a tiros. Após o recurso de Hampton ser rejeitado, o diretor do FBI, J. Edgar Hoover (1895-1972), ordena que ele seja “neutralizado” em vez de permitir que retorne à prisão. Mitchell coage O`Neal a ajudar no plano político, avisando-o de que os Panteras Negras se voltarão contra ele se descobrirem que ele é um informante, e O`Neal relutantemente concorda em ajudar. Mais tarde, O`Neal recebe um frasco de sedativos e é instruído a drogar a bebida de Hampton por outro colaborador infiltrado do FBI, que lhe entrega seu antigo distintivo falso do FBI para comprovar suas credenciais. Na noite seguinte, membros dos Panteras Negras se reúnem no apartamento de Hampton antes de ele ser levado para a prisão.

Um líder de gangue aliado oferece dinheiro a Hampton para fugir do país, mas ele recusa e, em vez disso, ordena que uma clínica seja estabelecida com o dinheiro em memória de Jake. Durante a noite, O`Neal droga a bebida de Hampton a contragosto e sai logo depois. Horas mais tarde, policiais e agentes invadem o apartamento e assassinam Hampton após atirarem ou ferirem os outros Panteras Negras, enquanto Deborah é presa. Mais tarde, O`Neal encontra-se com Mitchell, que lhe dá dinheiro e um par de chaves de um posto de gasolina que lhe foi cedido. O`Neal tenta demitir-se novamente, mas, relutantemente, aceita o dinheiro e as chaves e guarda-os no bolso. São exibidas imagens de arquivo dos discursos de Hampton, incluindo seu cortejo fúnebre, e uma entrevista que O`Neal concedeu em 1989. Os letreiros indicam que O`Neal continuou a trabalhar como informante dentro do Partido dos Panteras Negras antes de tirar a própria vida em 1990. Um processo foi aberto contra o FBI em 1970 e, 12 anos depois, foi resolvido por US$ 1,85 milhão. Na época do lançamento do filme, Fred Hampton Jr. e sua mãe atuavam como presidente e membro do conselho do grupo Black Panther Party Cubs. 

Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), dezenas de milhares de negros deixaram os estados do Sul durante a Segunda Grande Migração, mudando-se para Oakland e outras cidades da Área da Baía para encontrar trabalho nas indústrias bélicas, como os estaleiros Kaiser. Essa migração em massa transformou a Área da Baía, bem como cidades em todo o Oeste e Norte, alterando a demografia antes dominada por brancos. Uma nova geração de jovens negros crescendo nessas cidades enfrentou novas formas de pobreza e racismo desconhecidas para seus pais e buscou desenvolver novas formas de política para combatê-las. A filiação ao Partido dos Panteras Negras “consistia em migrantes recentes cujas famílias viajaram para o norte e oeste para escapar do regime racial do Sul, apenas para se depararem com novas formas de segregação e repressão”. No início da década de 1960, o movimento pelos direitos civis desmantelou o sistema Jim Crow de subordinação racial no Sul com táticas de desobediência civil não violenta e exigindo plenos direitos de cidadania para os negros.  No entanto, pouca coisa mudou nas cidades do Norte e do Oeste. À medida que os empregos da época da guerra e do pós-guerra, que atraíram grande parte da migração negra, “fugiram para os subúrbios juntamente com os residentes brancos”, a população negra concentrou-se em “guetos urbanos” pobres, com alto desemprego e habitações precárias, e foi em grande parte excluída da representação política, das principais universidades e da classe média. Os departamentos de polícia do Norte e do Oeste eram quase todos brancos. Em 1966, apenas 16 dos 661 policiais de Oakland eram afro-americanos, isto é, menos de 2,5%.

As táticas dos direitos civis mostraram-se incapazes de remediar essas condições, e as organizações que “lideraram grande parte da desobediência civil não violenta”, como o Student Nonviolent Coordinating Committee (SNCC) e o Congress of Racial Equality (CORE), entraram em declínio. Em 1966, surgiu um “fermento do Poder Negro”, composto principalmente por jovens negros urbanos, levantando uma questão que o Movimento dos Direitos Civis não conseguia responder: “Como os negros na América conquistariam não apenas direitos formais de cidadania, mas também poder econômico e político real?”. Jovens negros em Oakland e outras cidades desenvolveram grupos de estudo e organizações políticas, e desse fermento surgiu o Partido dos Panteras Negras. No final de outubro de 1966, Huey P. Newton e Bobby Seale fundaram o Partido dos Panteras Negras, originalmente o Partido dos Panteras Negras para Autodefesa. Ao formularem uma nova política, eles se basearam em seu trabalho com diversas organizações do Poder Negro. Newton e Seale se conheceram em 1962, quando ambos eram estudantes do Merritt College. Eles se juntaram à Associação Afro-Americana de Donald Warden, onde leram muito, debateram e se organizaram em uma tradição nacionalista negra emergente inspirada por Malcolm X (1925-1965) e outros. O Partido dos Panteras Negras foi revolucionário, tanto em seus objetivos quanto em suas táticas. Surgiu em 1966, em resposta ao assassinato de Malcolm X, um dos principais defensores do separatismo negro, e à morte de Matthew Johnson, um jovem negro desarmado de 16 anos, durante uma abordagem policial em São Francisco. Os fundadores Bobby Seale e Huey Newton eram estudantes universitários. Eventualmente insatisfeitos com o “acomodacionismo” de Warden, eles desenvolveram uma perspectiva anti-imperialista revolucionária, trabalhando com grupos mais ativos e militantes, como o Conselho Consultivo de Estudantes Soul e o Movimento de Ação Revolucionária.

Seus empregos remunerados pelos programas de serviço juvenil no Centro de Combate à Pobreza do Bairro Norte de Oakland permitiram que eles desenvolvessem uma abordagem nacionalista revolucionária para o serviço comunitário, um elemento chave nos “programas de sobrevivência comunitária” dos Panteras Negras. Insatisfeitos com a incapacidade dessas organizações de desafiar diretamente a brutalidade policial e apelar aos “irmãos do bairro”, Huey e Bobby decidiram agir por conta própria. Depois que a polícia matou Matthew Johnson, um jovem negro desarmado em São Francisco, Newton observou a violenta insurreição que se seguiu. Ele teve uma epifania que diferenciaria o Partido dos Panteras Negras da multidão de organizações do Poder Negro. Newton viu a explosiva raiva rebelde do gueto como uma força social e acreditou que, se conseguisse enfrentar a polícia, poderia organizar essa força social para alcançar o poder. Inspirado pela resistência armada de Robert F. Williams (1925-1996) à Ku Klux Klan e pelo livro de Williams, Negros com Armas (1962), Newton estudou as leis de armas na Califórnia. Assim como a Patrulha de Alerta Comunitário em Los Angeles após a Rebelião de Watts (1965), ele decidiu organizar patrulhas para seguir a polícia e monitorar incidentes de brutalidade. Mas com uma diferença crucial: suas patrulhas portariam armas carregadas. Huey e Bobby arrecadaram dinheiro para comprar duas espingardas comprando grandes quantidades do recém-publicado Pequeno Livro Vermelho de Mao Tsé-Tung (1893-1976) e revendendo-os a esquerdistas e liberais radicais no campus de Berkeley por três vezes o preço. De acordo com Bobby Seale, eles iriam “vender os livros, ganhar o dinheiro, comprar as armas e ir para as ruas com as armas. Vamos proteger uma mãe, proteger um irmão e proteger a comunidade dos policiais racistas”.     

Robert Williams foi um líder do movimento por direitos civis e autor estadunidense mais conhecido por ter sido presidente do comitê da NAACP em Monroe, Carolina do Norte, entre os anos 1950 e 1961. Ele conseguiu integrar a biblioteca e a piscina pública locais em Monroe. Em um momento de alta tensão racial e abusos oficiais, Williams promoveu a autodefesa negra armada nos Estados Unidos. Além disso, ajudou a obter apoio para perdão governamental em 1959 para dois jovens garotos afro-americanos que haviam recebido longas sentenças reformatórias no que ficou reconhecido como o Caso do Beijo de 1958 quando os garotos foram condenados por estupro por terem sido beijados na bochecha por uma menina branca, o que gerou atenção nacional e internacional e críticas ao Estado. Williams obteve um comitê da Associação Nacional de Rifles e montou um clube de tiro para defender os negros em Jonesboro da Ku Klux Klan ou outros agressores. O comitê local da NAACP apoiou os Viajantes da Liberdade que viajaram para Monroe no verão de 1961 em um teste de integração de ônibus interestaduais. Em agosto de 1961, ele e sua esposa deixaram os Estados Unidos da América para evitar acusações estaduais de sequestro relacionadas a ações durante a violência que se seguiu após os Viajantes chegarem em Monroe. Essas acusações foram retiradas pelo estado quando seu julgamento foi aberto em 1975, após seu retorno.

Williams se identificava como nacionalista negro e morou tanto em Cuba quanto na República Popular da China durante seu exílio entre 1961 e 1969. O livro de Williams, Negroes with Guns (1962) foi reimpresso várias vezes, mais recentemente em 2013. Ele detalha sua experiência com o racismo violento e seu desentendimento com a ala não violenta do Movimento pelos Direitos Civis. O texto foi muito influente; o fundador do Partido dos Panteras Negras, Huey Newton citou-o como uma grande inspiração. Robert Franklin Williams nasceu em Monroe, Carolina do Norte, em 26 de fevereiro de 1925, filho de Emma Carter e John L. Williams, que trabalhava como lavador de caldeiras ferroviárias. Ele tinha duas irmãs, Lorraine Garlington e Jessie Link; e dois irmãos, John H. Williams e Edward S. Williams. Williams ganhou o fuzil de seu avô, dado por sua vó, uma ex-escrava. Seu avô fora apoiador do Partido Republicano e editor do jornal The People`s Voice durante os anos difíceis após a Reconstrução na Carolina do Norte. Aos 11 anos, Williams testemunhou uma mulher negra ser espancada e arrastada por um policial, Jesse Helms, Sr., mais tarde o chefe da polícia, era o pai do futuro senador Jesse Helms. Quando jovem Williams foi parte da Grande Migração, viajando para o norte para trabalhar nas indústrias durante a II Guerra. Ele testemunhou revoltas raciais em Detroit em 1943 motivadas por concorrência no mercado de trabalho entre brancos e negros. Alistado em 1944, serviu durante um ano e meio como soldado raso na então segregada Marinha antes de retornar para casa em Monroe. Em 1947, Williams se casou com Mabel Ola Robinson, ativista dos direitos civis, então com 16 anos. Eles tiveram três filhos chamados John C. Williams, Robert F. Williams, Jr., and Franklin H. Williams. Após voltar para Monroe em 1945 após servir na Marinha, Williams entrou para o comitê local da Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor, querendo mudar a cidade segregada para proteger os direitos civis do estrato social dos negros. O comitê não tinha sido muito ativo e estava perdendo membros. Williams foi eleito presidente e Dr. Albert E. Perry vice-presidente; os dois geraram nova energia no grupo durante a década de 1950.

Primeiro eles trabalharam para integrar a biblioteca pública. Após obterem sucesso, em 1957, Williams também liderou os esforços para integrar as piscinas públicas, que eram financiadas e operadas com o dinheiro do contribuinte. Ele fez os seguidores formarem linhas de piquete ao redor da piscina. Os membros da NAACP organizaram manifestações pacíficas, mas os opositores atiraram em sua direção. Ninguém foi preso ou punido, apesar de policiais estarem presentes. Naquela época, Monroe tinha um grande comitê da Ku Klux Klan. A imprensa estimou que ele tinha 7.500 membros, quando a cidade tinha um total de 12.000 habitantes. Em 29 de outubro de 1966, Stokely Carmichael – um líder do SNCC – defendeu o apelo ao “Poder Negro” e veio a Berkeley para discursar em uma conferência sobre o Poder Negro. Na época, ele estava promovendo os esforços de organização armada da Organização pela Liberdade do Condado de Lowndes (LCFO) no Alabama e o uso do símbolo dos Panteras Negras. Newton e Seale decidiram adotar o logotipo dos Panteras Negras e formar sua própria organização, chamada Partido dos Panteras Negras para Autodefesa. Newton e Seale escolheram um uniforme composto por camisas azuis, calças pretas, jaquetas de couro pretas e boinas pretas, estas últimas adotadas como uma homenagem a Ernesto Che Guevara. Em janeiro de 1967, o BPP abriu sua primeira sede oficial em uma loja em Oakland e publicou a primeira edição de The Black Panther: Black Community News Service. O jornal circularia continuamente, embora variando em tamanho, formato, título e frequência, até a dissolução do partido. Em seu auge, vendia cem mil exemplares por semana.

A tática inicial do partido utilizava leis contemporâneas de porte aberto de armas para proteger os membros do partido quando estes fiscalizavam a polícia. Essa prática visava registrar incidentes de brutalidade policial, seguindo à distância viaturas policiais pelos bairros. Quando confrontados por um policial, os membros do partido citavam leis que comprovavam sua inocência e ameaçavam processar qualquer policial que violasse seus direitos constitucionais. Entre o final de 1966 e o ​​início de 1967, as patrulhas policiais armadas do Partido dos Panteras Negras para Autodefesa nas comunidades negras de Oakland atraíram um pequeno grupo de membros. O número de membros cresceu ligeiramente a partir de fevereiro de 1967, quando o partido forneceu escolta armada no aeroporto de São Francisco para Betty Shabazz, viúva de Malcolm X e palestrante principal de uma conferência realizada em sua homenagem. O alvo de luta do Partido dos Panteras Negras na militância era frequentemente interpretado como hostilidade aberta, alimentando uma reputação de violência, embora os esforços iniciais dos Panteras se concentrassem principalmente na promoção de causas sociais e no exercício de seu direito legal de portar armas. Os Panteras utilizavam uma lei da Califórnia que permitia o porte de um rifle ou espingarda carregados, desde que fossem exibidos publicamente e não apontados para ninguém. Geralmente, isso era feito enquanto monitoravam e observavam o comportamento da polícia em seus bairros, com os Panteras argumentando que essa ênfase na militância ativa e no porte ostensivo de armas era necessária para proteger os indivíduos da violência policial. Por exemplo, cânticos como “A revolução chegou, é hora de pegar em armas. Fora com os porcos!”, ajudaram a criar a reputação dos Panteras como uma organização violenta. A comunidade negra de Richmond, Califórnia, Estados Unidos, queria proteção contra a brutalidade policial. Com apenas três ruas principais para entrar e sair do bairro, era fácil para a polícia controlar, conter e reprimir a população. Em 1º de abril de 1967, um operário da construção civil negro e desarmado de 22 anos chamado Denzil Dowell foi morto a tiros pela polícia em North Richmond. A família de Dowell contatou o Partido dos Panteras Negras em busca de ajuda depois que as autoridades se recusaram a investigar o caso.          

O partido realizou comícios em North Richmond que educaram a comunidade sobre autodefesa armada e o incidente de Denzil Dowell. A polícia raramente interferia nesses comícios porque todos os Panteras estavam armados e nenhuma lei era infringida. Os ideais do partido ressoaram com vários membros da comunidade, que então levaram suas próprias armas para os comícios seguintes. A notoriedade do Partido dos Panteras Negras para a Autodefesa cresceu rapidamente após o protesto de 2 de maio de 1967 no Capitólio do Estado da Califórnia. Naquele dia, o Comitê de Procedimento Criminal da Assembleia Estadual da Califórnia deveria se reunir para discutir o que era conhecido como Lei Mulford, que tornaria ilegal o porte público de armas de fogo carregadas. Newton, com o Ministro da Informação Eldridge Cleaver, elaborou um plano para enviar um grupo de 26 Panteras armados, liderados por Seale, de Oakland a Sacramento para protestar contra o projeto de lei. O grupo entrou na assembleia portando suas armas, um incidente que foi amplamente divulgado e que levou a polícia a prender Seale e outros cinco. O grupo se declarou culpado de contravenção por perturbar uma sessão legislativa. Na época do protesto, o partido tinha menos de 100 membros no total.

Em maio de 1967, os Panteras Negras invadiram a Câmara da Assembleia Estadual em Sacramento, armados, no que parece ter sido uma manobra publicitária. Mesmo assim, assustaram muita gente importante naquele dia. Na época, os Panteras Negras quase não tinham seguidores. Agora, (um ano depois), porém, seus líderes discursam a convite em quase todos os lugares onde radicais se reúnem, e muitos brancos usam botões com os dizeres “Honkeys for Huey”, apoiando a luta pela libertação de Newton, que está preso desde 28 de outubro de 1967, acusado de ter matado um policial... Em 1967, a Lei Mulford foi aprovada pela legislatura da Califórnia e sancionada pelo governador Ronald Reagan. A lei foi elaborada em resposta a membros do Partido dos Panteras Negras que estavam monitorando a atuação policial. A lei revogou uma legislação que permitia o porte público de armas de fogo carregadas. O Partido dos Panteras Negras divulgou pela primeira vez seu programa original de dez pontos: “O que queremos agora!” em 15 de maio de 1967, após a ação de Sacramento, na segunda edição do jornal The Black Panther. Queremos liberdade. Queremos poder para determinar o destino da nossa comunidade negra. Queremos pleno emprego para o nosso povo. Queremos o fim do roubo da nossa comunidade negra pelos capitalistas. Queremos moradias decentes, adequadas para abrigar seres humanos. Queremos uma educação para o nosso povo que revele a verdadeira natureza desta sociedade americana decadente. Queremos uma educação que nos ensine a nossa verdadeira história e o nosso papel na sociedade atual. Queremos que todos os homens negros sejam isentos do serviço militar. Exigimos o fim imediato da brutalidade policial e do assassinato de pessoas negras. Queremos a liberdade de todos os homens negros detidos em prisões e cadeias federais, estaduais, municipais e distritais. Queremos que todas as pessoas negras, quando levadas a julgamento, sejam julgadas por um júri composto por pessoas de seu próprio grupo ou de suas comunidades negras, conforme definido pela Constituição dos Estados Unidos. Queremos terra, pão, moradia, educação, roupas, justiça e paz.

Em agosto de 1967, o Federal Bureau of Investigation (FBI) instruiu seu programa “COINTELPRO” a “neutralizar... grupos nacionalistas negros de ódio” e outros grupos dissidentes. Em setembro de 1968, o diretor do FBI, J. Edgar Hoover, descreveu os Panteras Negras como “a maior ameaça à segurança interna do país”. Em 1969, os Panteras Negras e seus aliados tornaram-se alvos principais do COINTELPRO, sendo selecionados em 233 das 295 ações autorizadas do COINTELPRO contra “nacionalistas negros”. Os objetivos do programa eram impedir a unificação de grupos nacionalistas negros militantes e enfraquecer sua liderança, bem como desacreditá-los para reduzir seu apoio e crescimento. Os alvos iniciais incluíam a Conferência de Liderança Cristã do Sul, o Comitê Coordenador Estudantil Não Violento, o Movimento de Ação Revolucionária e a Nação do Islã, bem como líderes como o Reverendo Martin Luther King Jr., Stokely Carmichael, H. Rap ​​Brown, Maxwell Stanford e Elijah Muhammad. Como o diretor assistente do FBI, William Sullivan, testemunhou posteriormente perante o Comitê da Igreja, o FBI “não diferenciava” entre espiões soviéticos e suspeitos de serem comunistas em movimentos nacionalistas negros ao implantar táticas de vigilância e neutralização. O COINTELPRO tentou criar rivalidades entre facções nacionalistas negras e explorar as já existentes. Uma dessas tentativas foi “intensificar o grau de animosidade” entre os Panteras Negras e os Blackstone Rangers, uma gangue de rua de Chicago. O FBI enviou uma carta anônima ao líder da gangue Rangers alegando que os Panteras estavam ameaçando sua vida, uma carta cujo objetivo era provocar violência "preventiva" contra a liderança dos Panteras. 

No sul da Califórnia, o FBI fez esforços semelhantes para exacerbar uma “guerra de gangues” entre o Partido dos Panteras Negras e um grupo nacionalista negro chamado Organização dos EUA, supostamente enviando uma carta provocativa à Organização dos EUA para aumentar o antagonismo existente. O COINTELPRO também visava desmantelar o Partido dos Panteras Negras, atacando seus programas sociais/comunitários, incluindo o programa Café da Manhã Gratuito para Crianças, cujo sucesso serviu para “lançar luz sobre a falha do governo em lidar com a pobreza e a fome infantil — apontando para os limites da Guerra contra a Pobreza do país”. De acordo com Bloom & Martin, o FBI denunciou os esforços do partido como um meio de doutrinação, porque o partido ensinava e provia para as crianças de forma mais eficaz do que o governo. “A polícia e os agentes federais regularmente assediavam e intimidavam os participantes do programa, os apoiadores e os trabalhadores do Partido e procuravam afastar doadores e organizações que abrigavam os programas, como igrejas e centros comunitários”. Membros do Partido dos Panteras Negras estiveram envolvidos em muitos tiroteios fatais com a polícia. Newton declarou: - Malcolm, implacável ao extremo, ofereceu às massas negras... a libertação das correntes do opressor e do abraço traiçoeiro dos porta-vozes [negros] apoiados. Somente com a arma foi negada às massas negras essa vitória. Mas elas aprenderam com Malcolm que, com a arma, podem recuperar seus sonhos e torná-los realidade. Em 28 de outubro de 1967, o policial de Oakland, John Frey, foi morto a tiros em uma altercação com Huey P. Newton durante uma abordagem de trânsito, na qual Newton e o policial de apoio, Herbert Heanes, também sofreram ferimentos a bala. Newton foi condenado por homicídio culposo no julgamento, mas a condenação foi depois anulada. Em Shadow of the Panther, Hugh Pearson alega que Newton estava embriagado nas horas que antecederam o incidente e afirmou ter matado John Frey intencionalmente. Newton alegou ter sido falsamente acusado, o que levou à campanha “Libertem Huey!” do partido. 

O assassinato policial deu ao partido um reconhecimento ainda maior pela esquerda radical americana e estimulou o crescimento do partido em todo o país. Newton foi libertado após três anos, quando sua condenação foi anulada em apelação. Enquanto Newton aguardava julgamento, a campanha “Libertem o Huey” desenvolveu alianças com inúmeros estudantes e ativistas antiguerra, “promovendo uma ideologia política anti-imperialista que ligava a opressão dos manifestantes antiguerra à opressão de negros e vietnamitas”. A campanha “Libertem o Huey” atraiu organizações do movimento Black Power, grupos da Nova Esquerda e outros grupos ativistas, como o Partido Trabalhista Progressista, Bob Avakian da Comunidade para uma Nova Política e a Guarda Vermelha. Por exemplo, o Partido dos Panteras Negras colaborou com o Partido da Paz e da Liberdade, que buscava promover uma política antiguerra e antirracista forte em oposição ao Partido Democrata tradicional. O Partido dos Panteras Negras forneceu a legitimidade necessária à política racial do Partido da Paz e da Liberdade e, em troca, recebeu um apoio inestimável para a campanha “Libertem o Huey”. Em 1968, o capítulo do Sul da Califórnia foi fundado por Alprentice “Bunchy” Carter em Los Angeles. Carter era o líder da gangue da Rua Slauson, e muitos dos primeiros recrutas do capítulo de Los Angeles eram Slausons. Bobby James Hutton nasceu em 21 de abril de 1950, no Condado de Jefferson, Arkansas. Aos três anos de idade, ele e sua família se mudaram para Oakland, Califórnia, após serem perseguidos por grupos racistas de vigilantes associados à Ku Klux Klan. Em dezembro de 1966, com apenas 16 anos, tornou-se o primeiro tesoureiro e membro do Partido dos Panteras Negras. Em 6 de abril de 1968, dois dias após o assassinato do Dr. Martin Luther King Jr. e com tumultos assolando cidades, Hutton, de 17 anos, viajava de carro com Eldridge Cleaver e outros membros do Partido dos Panteras Negras (BPP). 

O grupo confrontou policiais de Oakland e, em seguida, fugiu para um prédio de apartamentos, onde travaram um tiroteio de 90 minutos com a polícia. O impasse terminou com Cleaver ferido e Hutton se rendendo voluntariamente. Segundo Cleaver, embora Hutton tivesse tirado a roupa, ficando apenas de cueca, e estivesse com as mãos para cima para provar que estava desarmado, a polícia de Oakland atirou nele mais de 12 vezes, matando-o. Dois policiais também foram baleados. Ele se tornou o primeiro membro do partido a ser morto pela polícia. Embora na época o BPP tenha alegado que a polícia os havia emboscado, vários membros do partido admitiram posteriormente que Cleaver liderou o grupo dos Panteras Negras em uma emboscada deliberada contra os policiais, provocando o tiroteio. Outros sete Panteras Negras, incluindo o Chefe de Gabinete David Hilliard foram presos. A morte de Hutton tornou-se um tema de mobilização para os apoiadores dos Panteras Negras. As estruturas sociais de classe, gênero e etnia são reduzidos às imagens do social e vividos através do meio de reprodução das imagens e de estilo de vida. Observou que os “meios realizadores” estão em coisas muito diferentes às expectativas geradas, e, ainda segundo ele, que atendam satisfações mais superficiais, mas jamais aspectos profundos da vida humana como geralmente propõem. Sob este aspecto radicalizou ao desenvolver a ideia que os indivíduos imersos nas práticas e relações de consumo, não combatem nem condenam, mas exploram ao máximo as tendências figuradas. As sensações imediatas, as experiências ardentes e isoladas, tanto quanto as intensidades da sociedade-cultura de consumo. 

Sem procurar significados obtém prazer estético de intensidades superficiais. Na ordem da produção, o objeto carece de unicidade e singularidade, pois, objetos tornam-se simulacros indefinidos uns dos outros como objetos, os homens que os produzem. A pretensa objetividade do mundo erigido pela racionalização técnica corresponde à universalização de um modelo arbitrário advindo da generalização da economia política na forma da lei do valor. A partir do código, considerado como sistema de signos generalizados, a simulação opera a inversão das relações sociais entre pessoas, identificada entre o real e sua representação, estabelecendo simples oposições binárias que permitem a objetividade do discurso e o controle dos objetos. Em relação ao discurso, reduzindo o signo ao puro jogo dos significantes, anula a relação entre significante e significado necessária ao processo de significação. Assim, diferentemente da ordem da produção, o controle das relações do homem com as “coisas” não mais advém do agir racional-com-respeito-a-fins, pois a predominância do código inaugura primus inter pares o monopólio da palavra como característica básica da dominação contemporânea. Da mesma forma, enquanto técnica de controle do objeto, o processo de simulação opera uma completa inversão, de forma que o real se torne efeito ou reflexo de modelos gerativos. Simulacros e simulação representa um tratado filosófico de Jean Baudrillard que discute a relação entre realidade, símbolos e sociedade. Simulacros são cópias que representam níveis de análise que nunca existiram ou que não possuem mais o seu equivalente na realidade. Simulação é a imitação de um processo virtual existente no mundo real. Se a visão de Baudrillard é problemática e pessimista porque não depreende nos mass media a possibilidade real da comunicação e da troca, estando restrita ao encontro “face a face”, por outro lado, ela é profícua na medida em que, na década de 1970, o autor ergue-se contra o domínio da semiologia italiana e francesa, relativizando sua prática teórica no que diz respeito à comunicação.

Bibliografia Geral Consultada.

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