segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

Aziz Nesin – Escritor Türkler, Educação & Construção da Escola.

                                                                       “Mulheres que amam de coração morrem se não chorarem”. Aziz Nesin

A distância comunicativa pela via aérea (abstrata) entre o centro geográfico de Turquia e o centro de Reino Unido é 3382 km, ou 2102 milhas, ou ainda 1826 milhas náuticas. Numa Londres que se tornara a grande cidade de refúgio para exilados de todos os países, o Soho era o centro preferido pelos alemães, particularmente os democratas, republicanos e socialistas. Enquanto os alemães sem qualificação profissional que trabalhavam em padarias moravam no East End, e os mais sofisticados frequentavam os salões de St. John`s Wood, para os radicais - especialmente artesãos - o Soho, com sua Associação Educacional dos Trabalhadores Alemães na Great Windmill Street, era um óbvio ponto de atração. Era mais fácil encontrar esses alemães nas vizinhanças de Oxford Street, perto de Leicester Square, ou no centro daquele labirinto de ruelas tortas entre Saint Martin`s Lane e a igreja de Santa Ana, no Soho. Nos anos 1850 era uma região superlotada, com uma média de catorze pessoas por casa, e particularmente insalubre, uma vez que o abastecimento de água em algumas partes era contaminado. Como disse Marx, era “um distrito excelente para a cólera” e foco de um surto isolado em Londres em 1854. Marx e Jenny exilados não tinham planejado morar no Soho. Depois de penhorar sua prataria em Frankfurt, vender a mobília em Colônia e ser obrigada a deixar Paris, Jenny tinha chegado a Londres com três crianças e uma quarta dentro de um mês. Ao desembarcar, foi recebida por um dos amigos do grupo periodista Newe Rheinische Zeitung, Georg Weerth (1822-1856), que a instalou numa pensão em Leicester Square, uma praça para pedestres no West End de Londres, Inglaterra. 

Foi estabelecido em 1670 como Leicester Fields, que recebeu o nome da recém-construída Leicester House, em homenagem a Robert Sidney (1595-1677), 2º Conde de Leicester. Marx cresceu numa família de classe média alta, filho do advogado Heinrich Marx e de Henriette Pressburg, “dona de casa” holandesa pertencente à família Phillips - cujo sobrenome curiosamente é referência em aparelhos eletrônicos. Judeus, os pais de Marx se converteram ao cristianismo por causa da repressão religiosa que marcou a monarquia absolutista prussiana cuja legislação proibia “não cristãos” de ocuparem cargos públicos. Os decretos foram ignorados nos tempos em que Trier foi anexada à França por Napoleão, mas voltaram a ser cumpridos depois da derrocada do imperador francês, em 1815. Até de nome o pai do futuro filósofo materialista mudou: Herschel Mordechai virou Heinrich Marx, em 1818. A conversão foi fundamental no destino de Marx. O primogênito assumia o cargo de rabino de Trier, tradição que acabou com o irmão mais velho de Heinrich. A ironia quase kierkegaardiana é que o filósofo que poderia ter virado rabino, famoso como o homem que compreendeu que a religião é fundamental à crítica analítica da exploração do próprio homem, pois crê que as concepções metafísicas em geral e religiosas em particular tendem a desresponsabilizar os homens pelas consequências de seus atos. A mãe de Marx se chamava Henriette Pressburg (1787-1863) e era descendente de rabinos. 

A influência dela no pensamento do filho parece ter sido “periférica”, se considerada em relação à publicação de Marx do ensaio: Zur Judenfrage (1844). O pai de Karl, Hirschel Marx (1777-1838) era advogado e conselheiro de justiça, descendente de uma família de rabinos, tendo abandonado o judaísmo em 1824, quando se converteu ao cristianismo luterano em função das restrições ideológicas impostas à presença de membros de etnia judaica no serviço público alemão, quando Marx tinha seis anos. Karl Heinrich Marx e a mãe, Henriette Pressburg de origem judia holandesa provavelmente abandonaram o judaísmo porque naquela conjuntura ultraconservadora e racista os cargos públicos não eram permitidos a quem era de origem hebraica, na Renânia. Em 1842, o jovem filósofo assumiu a chefia da redação do jornal Renano em Colônia, onde seus artigos inscritos no radicalismo democrata comparativamente como ocorria na sociedade norte-americana, irritaram as autoridades antiliberais censoras. Em 1843, Marx mudou-se para Paris, editando em 1844 o primeiro volume dos Anais Franco-Alemães, órgão principal difusionista dos hegelianos ditos de “esquerda”. Entretanto, Marx viria a romper historicamente com os líderes deste movimento social, Bruno Bauer (1809-1882) e Arnold Ruge (1802-1880).

Essa mentalidade de Herschel era condicionada pelo liberalismo da região em que vivia, isto é, em Trier, onde Karl Marx nasceu e viveu até ir para a Universidade. Esta cidade situa-se na Renânia alemã, região que foi anexada e governada pela França revolucionária durante em bom tempo, o que fez dela um dos lugares da Alemanha mais impregnado dos princípios e do espírito revolucionário. O próprio pai de Marx, um advogado reconhecido e durante muito tempo foi presidente da associação dos advogados da cidade, também estava intimamente ligado com o movimento liberal radical renano. Ele era membro da sociedade literária, o “Trier Cassino Club”, fundado durante a ocupação francesa e assim chamado por ser um lugar praticado  de encontro político. O pai de Marx era um intelectual meticuloso, e passava seu tempo antes lendo que recitando, enquanto a mãe falava mal alemão, com seu forte sotaque holandês. Ela não participava da sociedade de Trier e parecia não ter intenção de expandir seu mundo além das necessidades de sua família. Eram amorosos, mas não exatamente alegres, mas prósperos - o trabalho duro de Heinrich e a parcimônia da família lhes permitia comprar dois pequenos vinhedos, mas sem fartura.

Marx respeitava a integridade de seu pai, apesar de frequentemente se rebelar contra seus conselhos. Ludwig von Westphalen e Heinrich Marx estavam entre os duzentos protestantes da cidade e eram membros seletos dos mesmos clubes sociais e profissionais. Karl Marx e Edgar von Westphalen eram colegas de classe: na verdade Edgar seria o único amigo de Karl desde a época da escola. E Sophie Marx, a irmã mais velha e mais íntima de Karl era coincidentemente amiga de Jenny von Westphalen. As crianças estavam sempre umas nas casas das outras, e talvez tenha sido a amizade de Karl com Edgar, mais do que sua relação com o pai de Jenny que tenha primeiro chamado a atenção dela. Edgar, que era apenas cinco anos mais novo que Jenny, era seu único irmão de pai e mãe, e ela contariam a uma amiga, anos mais tarde que ele tinha sido o “o ídolo da minha infância... meu único e amado companheiro”. Edgar era bonito e atraente com seus cabelos desgrenhados que lhe davam ar de poeta, mas não era um intelectual: era impulsivo como um menino, e, portanto, protegido pelos pais e pela irmã mais velha. Relativamente estudioso Marx foi visto como uma boa influência para ele.  

Qualquer que fosse o caso, Karl foi absolvido pela família: por Edgar, o primeiro discípulo de Marx; por Ludwig, encantado com o cérebro notável do rapaz; e por Jenny, que não conseguiu ficar indiferente àquele adolescente que impressionava tanto os dois homens que ela mais amava em meio a tudo isso, o pai de Marx se manifestou contra o governo num discurso feito no clube a que ele e Ludwig von Westphalen pertenciam. O Casino Club, a associação particular mais exclusiva de Trier, de profissionais liberais, militares e homens de negócios, reuniram-se em janeiro de 1834 para homenagear os membros mais liberais da dieta renana (a assembleia da província). Heinrich Marx havia ajudado a organizar o encontro e falou ao grupo, agradecendo ao rei por permitir que a dieta se reunisse como corpo de representantes do povo e aplaudindo a Coroa por dar ouvidos aos desejos de seus súditos. Mas apesar de seu discurso ser sincero, aquilo foi interpretado como ironia e deixou alarmados os oficiais do governo. Semanas mais tarde o clube voltou a se reunir, e dessa vez os discursos deram lugar às proibidas “canções de liberdade”, entre elas a Marselhesa da França, que as monarquias consideravam uma incitação à revolta equivalente a hastear a bandeira vermelha. O que deixou os oficiais preocupados não foi tanto quem estava cantando – os pilares da comunidade de Trier -, mas o fato de saberem a letra de cor. O “frenesi do espírito revolucionário” ecoado em torno de 1830, segundo um militar presente ao evento, não podia passar por uma aberração eventual. O clube foi posto sob a vigilância e Heinrich Marx passou a ser visto com suspeita pelo governo.  

 

Os poemas de Georg Weerth celebravam a solidariedade da classe trabalhadora em sua luta pela libertação da exploração e da opressão. Ele era amigo e companheiro de Marx e Engels, que descreveu Weerth como “o primeiro e mais importante poeta do proletariado alemão”. Weerth nasceu na cidade de Detmold, na Vestefália, filho do clérigo e reformador escolar Ferdinand Weerth. Ele morreu em Havana, Cuba. Georg Weerth escreveu e editou a página do esboço que se tornou célebre no Neue Rheinische Zeitung, um jornal alemão do qual Marx era editor-chefe. Sua escrita provocativa e sátira pungente o levaram à prisão, após o que ele fugiu para a Inglaterra. De 1843 a 1846, Weerth fez sua casa em Bradford, Inglaterra. Seis meses desse tempo ele passou em contato próximo com Engels, cujo negócio era em Manchester. Como Engels (2010), dedicou o tempo que restava de suas funções como representante de uma empresa têxtil a estudar os efeitos da Revolução Industrial na relação entre o proprietário e a classe trabalhadora. Weerth participou de reuniões cartistas com os líderes do movimento George Julian Harney e Ernest Jones. Ele informou sobre as condições londrinas para os jornais alemães. Em 1846 deixou a cidade e foi morar em Bruxelas, onde Marx tinha sua casa. Weerth sucumbiu à febre tropical em uma viagem a Cuba. Pouco antes de sua morte, ele escreveu a Heinrich Heine que Cuba “seria o campo onde os grandes conflitos do novo mundo seriam travados primeiro”. 

A descrição de Friedrich Engels (2010) assenta ao mesmo tempo em observações concretas e nas obras que ele tinha a sua disposição. Ele reconhece Lancashire industrial e sobretudo a região de Manchester, e que visitou as principais cidades industriais do Yorkshire: Leeds, Bradford, Sheffield, assim como passou várias semanas em Londres, Inglaterra. Representou o maior império em extensão de terras descontínuas do mundo contemporâneo. Um império composto por relações sociais de domínios, representação política de colônias, protetorados, mandatos e territórios governados ou administrados exatamente pelo Reino Unido. Originou-se com as conquistas das colônias ultramarinas e entrepostas estabelecidas pela Inglaterra durante o final do século XVI e início do século XVII. No seu auge, foi o maior império da história política e, por mais de um século, foi a principal potência mundial. Em 1920 o Império Britânico dominava cerca de 458 milhões de pessoas, sendo ¼ da população do mundo ocidental e oriental e abrangeu mais de 35 500 000 km², quase 24% da área geográfica total do planeta Terra. Como resultado, seu legado político, cultural e linguístico é generalizado, globalizado. No auge do seu poder, foi dito muitas vezes que “o sol nunca se põe no Império Britânico” devido à sua extensão de poder geopolítico ao redor do mundo garantir que o Sol sempre estivesse brilhando em pelo menos um de seus numerosos territórios invadidos e colonizados.

A Terra, nossa casa, é o terceiro planeta mais próximo do Sol, o mais denso e o quinto maior dos oito planetas do Sistema Solar. É também o maior dos quatro planetas telúricos. É por vezes designada como Mundo ou Planeta Azul. Na canção de Guilherme Arantes, Terra planeta água (1983): - “Água que nasce na fonte serena do mundo/E que abre um profundo grotão/Água que faz inocente riacho e deságua/Na corrente do ribeirão/Águas escuras dos rios/Que levam a fertilidade ao sertão/Águas que banham aldeias/E matam a sede da população”. Lar de milhões de espécies de seres vivos, incluindo os seres humanos, a Terra é o único corpo celeste onde é reconhecida a existência de vida. O planeta formou-se há 4,56 bilhões de anos, e a vida surgiu na sua superfície depois de um bilhão de anos. Desde então, a biosfera terrestre alterou de forma significativa a atmosfera e fatores abióticos do planeta, permitindo a proliferação de organismos aeróbicos, como a formação da camada de ozônio, que em conjunto com seu campo magnético, bloqueia radiação solar prejudicial, permitindo a vida no planeta. A sua superfície exterior é dividida em segmentos rígidos, chamados placas tectônicas, que migram sobre a superfície terrestre ao longo de milhões de anos. Aproximadamente 71% da superfície é coberta por oceanos de água salgada, o restante consistindo de continentes e ilhas, lagos e corpos de água que contribuem para a constituição da hidrosfera. Os polos opostos geográficos da Terra encontram-se majoritariamente cobertos por mantos de gelo ou por banquisas.

O interior da Terra permanece ativo e relativamente sólido, um núcleo externo líquido que gera um campo magnético, e um núcleo interno sólido, composto, sobretudo por ferro. A Terra interage com outros objetos em movimento no espaço, em particular com o Sol e a Lua. A Terra orbita o Sol uma vez por cada 366,26 rotações sobre o seu próprio eixo, o que equivale a 365,26 dias solares ou representa um (01) ano sideral. O eixo de rotação da Terra possui uma inclinação de 23,4° em relação à perpendicular ao seu plano orbital, reproduzindo variações sazonais na superfície do planeta, com período igual a um ano tropical, ou, 365,24 dias solares. A Lua representa o único satélite natural reconhecido da Terra. O atual modelo consensual para a formação da Lua diz respeito à hipótese do grande impacto. É uma hipótese astronômica que postula a formação da Lua através do impacto de um planeta com aproximadamente o tamanho de Marte, reconhecido como Theia, em confronto com a Terra. Ela é responsável pelas marés, estabiliza a inclinação axial da Terra e abranda a rotação do planeta. A Lua pode ter afetado dramaticamente o desenvolvimento da vida ao moderar o clima do planeta. Evidências paleontológicas e simulações de computador demonstram que a inclinação axial do planeta é estabilizada pelas interações cíclicas de maré com a Lua.

Representou um período histórico de colapso dos impérios mediante o processo civilizatório da Espanha, China, França, Sacro Império Romano-Germânico e Mongol. Testemunhou o crescimento dos impérios britânico, russo, Alemão, Japonês e Americano, estimulando conflitos militares e avanços técnico-científicos. A rota comercial do Volga foi estabelecida pelos varegues (víquingues) que se fixaram no noroeste da Rússia no início do século IX. A Rota da Seda era a principal rota de comércio que iniciava no planalto iraniano e seguia até alcançar a parte ocidental da China, indo de oásis a oásis e margeando os desertos da Ásia Central, sendo muito utilizada mesmo antes de ser oficialmente autorizada. Cerca de 10 km ao sul da entrada do rio Volkhov no lago Ladoga, eles estabeleceram um assentamento chamado Velha Ladoga. Esta, ligou o Norte da Europa e o Noroeste da Rússia com o mar Cáspio, através do rio Volga. Os Rus` usaram esta rota para negociar com países muçulmanos na costa sul do mar Cáspio, às vezes penetrando até Bagdá. A rota funcionou concomitantemente com a rota comercial do rio Dniepre, reconhecida como a rota comercial entre os vareques e os gregos, e perdeu sua importância no século XI. Sacaliba (cf. Tchékhov, 2018) refere-se a escravos eslavos, sequestrados das costas da Europa, ou em guerras no mundo muçulmano medieval, no Oriente Médio, Norte da África, Sicília e Alandalus. Eles serviam, ou eram forçados, os muitos servos, concubinas de harém, eunucos, artesãos, escravos militares e como expresso na violência dos guardas do califa. Almutaz foi o califa abássida entre 866 e 869 durante o período que ficou reconhecido “anarquia em Samarra”.

O termo deriva do nome da capital e sede da corte do califado, a cidade de Samarra. A “anarquia” começou em 861, com o assassinato de Mutavaquil pelos gulans, sua guarda pessoal turca. Seu sucessor, Almontacir, reinou por seis meses até morrer, possivelmente envenenado pelos chefes militares. Ele foi, por sua vez, sucedido por Almostaim. Divisões internas nas forças militares turcas permitiram que ele fugisse para Bagdá em 865, com o apoio de parte dos líderes turcos e dos taíridas. Porém, o resto do exército turco aclamou um novo califa - Almutaz - marchou contra Bagdá, cercando a cidade e forçando uma rendição no ano seguinte, um conflito que ficou conhecido como guerra civil abássida. Almostaim foi exilado e executado. Almutaz, que era um líder habilidoso e energético, tentou controlar os líderes militares e excluí-los da administração civil, mas encontrou forte resistência. Em julho de 869, ele também foi deposto e assassinado. Seu sucessor, almutadi, também tentou reafirmar o poder dos califas, mas foi assassinado em junho de 870. Com a morte de Almutadi e a ascensão de Almutâmide, a facção turca reunida sob a liderança de Muça ibne Buga que, por sua vez, tinha relações próximas com o irmão do califa e vizir Almuafaque, se tornou dominante na corte califal, terminando a “anarquia”. Embora o Califado Abássida tenha demonstrado leve recuperação nas décadas seguintes, a crise de governamentalidade, para lembrarmos de monsieur Foucault (2021: 407 e ss.), da “Anarquia em Samarra”, causaram um duro e permanente golpe na estrutura e no prestígio do governo central do califado, encorajando e abrindo caminho para ideias secessionistas e rebeldes nas províncias do Estado.

Alçado ao trono pelos turcos (os gulans), ele se demonstrou hábil demais para os seus tutores. Ele tinha apenas 19 anos e foi o califa mais jovem a reinar e à sua volta estavam diversos partidos em conflito. Em Samarra, os turcos estavam tendo problemas com os “ocidentais” (berberes e mouros). Em Bagdá, árabes e persas consideravam os dois grupos com igual desprezo. Almutaz estava “rodeado de grupos que constantemente conspiravam uns contra os outros e contra o próprio califa”. E ele escolheu o mesmo caminho de traição e derramamento de sangue que eles. Na Península Ibérica, Marrocos, Damasco e Sicília, seu papel militar pode ser comparado ao dos mamelucos no Império Otomano. Na Espanha, os eunucos eslavos eram tão populares e amplamente distribuídos que se tornaram sinônimo de Sacaliba. O imposto pençik, ou pençyek, que significa “um quinto”, era uma tributação baseada em um verso do Alcorão pelo qual um quinto dos despojos de guerra pertencia a Deus, a Maomé e sua família, aos órfãos, aos necessitados e aos viajantes. Isso incluiu “escravos e prisioneiros de guerra que eram dados aos soldados e oficiais para ajudar a motivar sua participação nas guerras”. Cristãos e Judeus, reconhecidos como Povos do Livro no Islã, eram considerados dhimmis em territórios sob domínio muçulmano, um status de cidadãos de segunda classe que tinham liberdade limitada, proteção legal, segurança pessoal e permissão para “praticar sua religião, sujeita a certas condições, e desfrutar de uma medida de autonomia comunal”. Para manter essas proteções e direitos, os dhimmis eram obrigados a pagar os impostos de Jizia e Caraje como um reconhecimento do domínio muçulmano.

De acordo com Abu Yusuf, a falta de pagamento destes impostos deveria tornar a vida e propriedade do dhimmis nulas e submete-los à conversão forçada, escravidão, prisão ou morte. Se alguém tivesse concordado em pagar a Jizia, deixar o território muçulmano para a terra inimiga seria punível com escravidão se fosse capturado. A falta de pagamento da Jizia era comumente punida com prisão domiciliar e algumas autoridades permitiram a escravização de dhimmis por falta de pagamento de impostos. No sul da Ásia, por exemplo, a captura de famílias dhimmis por não pagar a jizia anual foi uma das duas fontes significativas de escravos vendidos nos mercados de escravos do Sultanato de Déli, as cinco dinastias de curta duração, atualmente a capital da Índia, compostas por turcos e pastós na Índia medieval. Governaram do Sultanato de Déli entre 1206 e 1526, quando a última dinastia foi derrotada pelo Império Mongol. Os mongóis constituíram uma tribo de nômades da Ásia Central ou Norte da Ásia. Eles viviam nas estepes, contando com um estilo de vida como um modus operandi de movimento de ir e vir constante.

Eles foram dependentes e anexados aos seus cavalos, que representava o principal meio de comunicação e transporte. Religiosamente, eram “animistas politeístas”. Isabelle Stengers vai além da analogia entre fatos (“fatiches”) e fetiches para buscar na história das ciências modernas a tensão constitutiva com as práticas ditas mágicas. Segundo ela, as ciências modernas “se estabelecem a partir da desqualificação de outras práticas, acusadas de equívoco ou charlatanismo”. Ela acompanha, por exemplo, como a química se divorciou da alquimia, e a psicanálise, do magnetismo e da hipnose. Em suma, as ciências modernas desqualificam aquilo que está na sua origem. Eles nunca estabeleceram um grande império, organizado, e em vez disso ficaram como uma coalizão de tribos no Norte da China. Historicamente eles entravam geralmente em guerra com seus vizinhos. A China ao Sul de fato construiu a Grande Muralha da China durante o reinado do Imperador Shi Huang (247-221 a. C.) como um meio para manter os mongóis e outros para longe de suas aldeias. Os mongóis também rivalizaram com outros grupos tribais na Ásia Central, historicamente como tribos turcas e os tártaros. A história social Mongol extraordinariamente mudou durante o reinado de Genghis Khan. Ele transformou-se em chefe tribal dos mongóis entre 1206 e 1227. Em seu reinado, ele conseguiu unificar as diversas tribos mongóis, juntamente com inúmeras tribos turcas existentes.

Com um grupo grande, unificado, começou a conquistar toda e qualquer terra onde os cavaleiros mongóis poderiam alcançar. Genghis Khan (1162-1227)conquistou a maior parte do norte da China em 1210. Ao fazê-lo, ele destruiu as dinastias Xia, também reconhecida como dinastia Hsia, a primeira dinastia descrita pela historiografia tradicional chinesa. Reinou cerca século XXI a. C. – século XVI a. C. A historiografia lista os nomes de 9 (nove) reis por 14 (catorze) gerações e Jin, também reconhecida como a dinastia Jurchen, fundado pelos Waynan, clã dos Jurchen, antepassados dos manchus que estabeleceram a dinastia Qing, 500 anos mais tarde. O nome é algumas vezes escrito como Jinn para ser diferenciado da primeira dinastia Jin, cujo nome é igual ao desta dinastia no alfabeto latino. Fundada em 1115, no norte da Manchúria, aniquila a dinastia Liao no ano 1125. Esta última tinha existido entre a Manchúria e a fronteira norte da China durante vários séculos. Em 9 de janeiro de 1127, as forças Jin saquearam Kaifeng, a capital da dinastia Song do norte, capturando o novo imperador Qinzong (1100-1161), que havia subido ao trono após a abdicação do pai, o imperador Huizong (1082-1135), ao ver a necessidade de organização social e política com o objetivo claro de enfrentar o exército Jin.

Depois da queda da capital de Kaifeng, os Song (960-1279), sob a liderança da herdeira dinastia Song do sul, continuaram a luta por conquista de territórios durante mais de uma década contra os Jin, assinando por fim um Tratado de Paz em 1141, e cedendo todo o norte da China aos Jin em 1142, a fim de obter a paz. Ele também conseguiu conquistar a maioria das tribos turcas da Ásia Central, abrindo todo o território para a geopolítica da Pérsia. Isso o levou a enviar exércitos para o Leste da Europa, bem como, a atacar terras russas, inclusive as fronteiras de Estados alemães da Europa Central. Mais importante do que o processo civilizatório é entender como Genghis Khan o conquistou. Na esfera política ele usou deliberadamente o “terror como arma de guerra”. Se uma cidade que ele estava sitiando desistisse sem lutar, o povo normalmente seria poupado, mas teria que ficar sob controle Mongol. Se a cidade lutou contra os mongóis, todos, incluindo civis, seriam massacrados. Este reinado de terror é uma grande parte da razão pela qual ele irá se tornar um “conquistador consagrado”. Os povoados estavam mais dispostos a desistirem do que sofrerem massacres em suas mãos. Por exemplo, quando ele sitiou a cidade de Herat, no atual Afeganistão, matou mais de 1,6 milhões de pessoas.

  No Norte da África e no Oriente Próximo, algumas dinastias principais, como os Fatímida (909-1171), surgiram e governaram uma enorme área geográfica que inclui as regiões atuais do Egito, Sicília, Argélia, Tunísia e partes da Síria.  Foi também neste período que algumas das principais dinastias turcas e povos da Ásia central tomaram a vanguarda da política e da criatividade artística do mundo islâmico. Os seljúcidas eram nômades da Ásia central que governaram terras do oriente islâmico e eventualmente controlaram o Irã, o Iraque e grande parte da Anatólia, embora tenha sido um império de curta duração. O ramo principal dos seljúcidas, o Império Seljúcida, manteve o controle sobre o Irã. Esse foi também o período das cruzadas cristãs europeias, que tinham por objetivo reconquistar a Terra Santa dos muçulmanos. Uma série de pequenos reinos cristãos surgiram no século XII, bem como dinastias muçulmanas, como o Império Aiúbida (1179-1260), cujo líder mais famoso, Salah al-Din (r.1169-93), conhecido no ocidente como Saladino, terminou a dinastia Fatímida. Por fim, os soldados escravizados, responsáveis pela proteção militar da dinastia Aiúbida, derrubaram o último sultão Aiúbida em 1249-1250. Escravos mamluk significam “possuídos”, e ficaram reconhecidos como mamelucos e controlaram a Síria e o Egito até 1517.

Representavam soldados de uma milícia egípcia constituída por escravos turcos. Formaram uma casta militar, vindo a conquistar o poder no Egito. Giocangga (1526-1583) era filho de Fuman e avô paterno de Nurhaci, o homem que unificou os povos Jurchen e fundou a dinastia Jin posterior da China. Tanto ele quanto seu filho Taksi atacaram o Forte de Atai, que estava sendo sitiado por um chefe rival de Jurchen, Nikan Wailan, que prometeu o governo da cidade a quem matasse Atai. Um dos subordinados do Forte se rebelou e o assassinou. Ambos Giocangga e Taksi foram mortos por Nikan Wailan em circunstâncias pouco claras. Giocangga, Taksi e Nikan estavam todos sob o comando de Li Chengliang. E Giocangga recebeu o nome de templo Jǐngzǔ e o nome póstumo do Imperador Yi pela dinastia Qing. Em 2005, um estudo liderado por um pesquisador do Instituto britânico Wellcome Trust Sanger sugeriu que Giocangga pode ser um ancestral direto das relações sociais de gênero de mais de 1,5 milhão de homens, principalmente no Nordeste da China.  Isso foi atribuído às muitas esposas e concubinas de Giocangga e seus descendentes. Os descendentes de Giocangga na linha patrilinear estão concentrados entre várias minorias étnicas que faziam parte do sistema Manchu Eight Banners, e não são encontrados na população Han. Giocangga pode ter deixado cerca de 1,5 milhão de descendentes homens na China e na Mongólia, de acordo com uma pesquisa baseada na análise do cromossomo Y, exclusivo dos homens.

A análise é similar a um estudo de 2003, segundo o qual cerca de 16 milhões de homens descendiam do conquistador mongol Genghis Khan (1162-1227). Giocangga viveu em meados do século 16 e seu neto fundou a dinastia Qing, que reinou na China de 1644 a 1912. Seus descendentes homens, tal qual os filhos e netos de Genghis Khan, espalharam-se e levavam uma vida extravagante, com muitas mulheres e concubinas. A pesquisa, publicada no American Journal of Human Genetics, sugere que essa prática seja uma boa estratégia de sucesso reprodutivo. Esse tipo de vantagem reprodutiva dos homens é talvez o traço mais importante da genética humana, segundo Chris Tyler-Smith, do Instituto Sanger, estabelecido no Reino Unido coordenador dos estudos. Geneticistas britânicos e chineses examinaram o cromossomo Y de cerca de mil homens e encontraram 3,3% de similaridade de que compartilhavam o mesmo ancestral masculino Giocangga. Uma classe de nobres, descendentes diretos de Giocangga, reinou até 1912 – o menos nobre deles tinha muitas concubinas e “era presumivelmente um especialista em disseminar o cromossomo Y herdado de Giocangga”. O Y de Gengis Khan é o que mais se aproxima dessa prevalência: é encontrado em cerca de 2,5% dos homens do Leste da Ásia.     

Todavia, em 1798, foram derrotados por Napoleão na Batalha das Pirâmides também reconhecida como Batalha de Embebeh teve lugar no dia 21 de julho de 1798 entre o exército francês no Egito comandado por Napoleão Bonaparte e as forças locais mamelucas e foi a batalha onde Napoleão usou a formação em quadrados. Em julho de 1798, Napoleão ia na direção do Cairo, depois de invadir e capturar Alexandria. Pelo caminho encontrou as forças dos mamelucos a 15 km das pirâmides, e a apenas 6 km do Cairo. Os mamelucos eram comandados por Murade Bei (1750-1801) e Ibrahim Bei e tinham uma poderosa cavalaria. Apesar de serem superiores em número, estavam equipados com uma tecnologia antiga, possuíam espadas, arcos e flechas; ainda por cima as suas forças militares ficaram divididas pelo Nilo, com Murade entrincheirado em Embebeh e Ibrahim em campo aberto. Napoleão deu conta de que a única tropa egípcia de grande valor era a cavalaria. Ele possuía pouca cavalaria a seu mando e era superado numericamente pelos mamelucos. Viu-se, pois, estrategicamente forçado a ir na defensiva militar das tropas, e formou o seu próprio exército em quadrados com o suporte da artilharia, cavalaria e equipes no centro de cada uma fila, dispersando assim o ataque da cavalaria mameluca com fogo de artilharia de apoio simulado.  O povo nômade mongol tem uma relação social e afetiva profunda com os cavalos, tanto em tempos de paz quanto em tempos de guerra para constituição militar da sociedade. Símbolo de força, resistência, velocidade, liberdade e espiritualidade, é um animal que tem conexão com o sagrado.

De outra parte, historicamente, Napoleão (1769-1821) foi um estadista e líder militar francês que ganhou destaque durante a Revolução Francesa liderando várias campanhas militares de sucesso durante as chamadas Guerras Revolucionárias Francesas. Foi imperador dos franceses como Napoleão I de 1804 a 1814 e brevemente em 1815 durante os Cem Dias. Napoleão dominou os assuntos europeus e globais por mais de uma década, enquanto liderava a França contra uma série de coalizões nas guerras napoleônicas. Ele venceu a maioria desses conflitos e a grande maioria de suas batalhas, construindo um grande império que governava grandes territórios da Europa continental antes de seu colapso final em 1815. Ele é considerado um dos maiores comandantes da história e suas guerras e campanhas são estudadas em escolas militares em todo o mundo globalizado. O legado político e cultural de Napoleão perdurou como um dos líderes mais célebres e controversos da história da humanidade. Ele nasceu na Córsega de uma família italiana relativamente modesta, da nobreza menor. Ele estava servindo como oficial de artilharia no exército francês quando a Revolução Francesa eclodiu em 1789. Ele rapidamente subiu nas fileiras das corporações militares, aproveitando as novas oportunidades apresentadas pela Revolução clássica burguesa e tornando-se general precocemente aos 24 anos. O Diretório Francês acabou por lhe dar o comando do Exército da Itália depois que ele suprimiu a revolta dos 13 Vendémiaire do ano 4 foi uma batalha travada entre forças republicanas francesas e contra o governo dos insurgentes realistas manifestantes pró-monarquia nas ruas de Paris. A insurreição acabou sendo esmagada e levou a fama repentina de um dos generais, Napoleão Bonaparte, do exército da República.

Aos 26 anos, ele iniciou sua primeira campanha militar contra os austríacos e os monarcas italianos alinhados com os Habsburgos, sendo que venceu praticamente todas as batalhas e conquistou a Península Italiana em torno de um ano, enquanto estabelecia “Repúblicas irmãs” com apoio local e regional se tornando um herói de guerra na França. Em 1798, ele liderou uma expedição militar ao Egito que serviu de trampolim para o poder político. Ele orquestrou um golpe em novembro de 1799 e se tornou o primeiro cônsul da República. Na primeira década do século XIX, o império francês sob comando de Napoleão se envolveu em uma série de conflitos com todas as grandes potências europeias, as chamadas Guerras Napoleônicas. Após uma sequência de vitórias garantiu posição dominante na Europa continental, e manteve a esfera de influência da França, através da formação de amplas alianças e a nomeação de amigos e familiares para governar os outros países europeus como dependentes da França. As campanhas militares de guerra de Napoleão continuam sendo estudadas nas academias militares de quase todo o mundo. A Campanha da Rússia em 1812 marcou uma virada na sorte de Napoleão. Seu Grande Armée foi seriamente danificado na campanha e nunca se recuperou totalmente.

La Marseillaise é o hino nacional da França. Foi composto pelo oficial Claude Joseph Rouget de Lisle em 1792, da divisão de Estrasburgo, como canção revolucionária. A canção adquiriu grande popularidade durante a Revolução Francesa, especialmente entre as unidades do exército de Marselha, ficando reconhecida como A Marselhesa. Seu título era originalmente Canto de Guerra para o Exército do Reno. O hino foi composto por Claude-Joseph Rouget de Lisle (1760-1836), oficial do exército francês, um republicano moderado (o que quase levou-o à guilotina) e músico autodidata, a pedido do prefeito de Estrasburgo, Philippe-Frédéric de Dietrich (1748-1793), depois da declaração de guerra ao imperador da Áustria, em 25 de abril de 1792. O canto deveria encorajar os soldados no combate de fronteira, na região do rio Reno. A canção obteve sucesso imediato e em pouco tempo, por meio de viajantes, chegou à Provença, no Sudeste da França. Um mês depois, a canção chegava a Paris com os soldados federados marselheses, que a cantaram durante todo o percurso. Desde então, passou a ser associada à cidade de Marselha. No dia 4 de agosto o jornal La Chronique de Paris evocou o canto dos marselheses, e seis dias depois ele seria entoado na famosa tomada do Palácio das Tulherias. Em 20 de setembro de 1792, o exército revolucionário, comandado pelo general Dumouriez, venceu a Batalha de Valmy, travada contra a nobreza francesa e seus aliados austríacos e prussianos, que tentavam derrubar o regime instaurado em 1789. Na ocasião, Servan de Gerbey, ministro da Guerra da França, escreveu a Dumouriez: - “O hino conhecido pelo nome de La Marseillaise é o Te Deum da República”. 

Em 1795, foi instituída pela Convenção como hino nacional. Napoleão Bonaparte baniu A Marselhesa durante o império, assim como Luís XVIII na segunda restauração, devido ao seu caráter revolucionário. A revolução de 1830 restabeleceu-lhe o status de hino nacional, sendo inclusive reorquestrada por Hector Berlioz na década de 1830. Entretanto, Napoleão III tornaria a banir a canção até que, em 1879, com a instauração da III República, a canção foi definitivamente confirmada como o hino nacional francês, ato esse reafirmado nas constituições de 1946 e 1958. Em 1880, com base em A Marselhesa, Piotr Ilitch Tchaikovski (1840-1893) escreveu uma peça orquestral, a Abertura 1812, para comemorar a vitória russa sobre Napoleão, fazendo sobressair musicalmente temas de música russa tradicional comparativamente à melodia de A Marselhesa, com o intuito de ilustrar precisamente essa vitória. Não por acaso, na Revolução Socialista de 1917, os revolucionários russos adotaram para a Rússia um hino provisório denominado A Marselhesa Operária, que durou de outubro 1917 a meados de 1918, e que possuía uma adaptação da melodia de A Marselhesa. Em 1881, o militante anticlerical Leo Taxil (1854-1907) escreveu uma música em defesa da laicidade e da democracia liberal na França. A música usava a melodia de A Marselhesa e, por conta disso, ficou conhecida como A Marselhesa Anticlerical. Não se sabe se Claude Joseph Rouget de Lisle, o autor de A Marselhesa, se inspirou no primeiro andamento do Concerto nº 25, em C major (K. 503) de Wolfgang Amadeus Mozart, datado de 1786, para realizar a melodia de A Marselhesa, porque, na verdade, existem algumas ressonâncias.

Em 1813, a Sexta Coligação derrotou suas forças em Leipzig. No ano seguinte, a coligação invadiu a França, forçou Napoleão a abdicar e o exilou na ilha de Elba. Napoleão escapou de Elba em fevereiro de 1815 e assumiu o controle da França mais uma vez. Os Aliados responderam formando uma Sétima Coalizão que o derrotou na Batalha de Waterloo, em junho. Os britânicos o exilaram para a remota ilha de Santa Helena, no Atlântico Sul, onde morreu seis anos depois, aos 51 anos. A influência de Napoleão no mundo moderno trouxe reformas liberais para os vários territórios que ele conquistou e controlou, como os Países Baixos, a Suíça e grandes partes da Itália e da Alemanha modernas. Ele implementou políticas liberais fundamentais na França e em toda a Europa Ocidental. Seu Código Napoleônico influenciou os sistemas legais de mais de 70 nações em todo o mundo globalizado. O Império Britânico representou o maior império na história da humanidade, chegando a dominar quase 1/4 do planeta Terra. Era tanto território que foi apelidado de “o império no qual o Sol nunca se põe”.

A atividade imperial na Grã-Bretanha começou no fim do século XVI, muito motivada pelas explorações portuguesas e espanholas pelas Américas e pelo Sudeste Asiático. Outras potências europeias como França e Holanda se interessaram pelo prestígio e riqueza que tais explorações traziam, com a extração de metais preciosos e especiarias asiáticas. Neste caso a rainha Elizabeth I adotou política de exploração das Américas e chegou a se envolver em conflitos navais com a Espanha. O Império Britânico é geralmente dividido em duas fases. Na primeira, o escopo foi em estabelecer colônias na América do Norte e no Caribe. A Inglaterra chegou a assinar um acordo com a Espanha para recolonizar a região, mas a adoção de uma política protecionista, impedindo o comércio com outras nações, gerou conflitos com países como a Holanda. A colonização prosperou até o fim do século 18, com a Independência dos Estados Unidos da América (EUA). Os britânicos então mudaram seu escopo militarista, apostando no Pacífico e na África, conquistando a Índia, ipso facto, sua colônia mais importante, Austrália e Nova Zelândia. O período entre 1815 e 1914, pós-Independência dos Estados Unidos, foi o mais próspero para o império, muitas vezes chamado de “o século britânico”. Desnecessário dizer que o império britânico também foi fortalecido pela revolução industrial: ele usava recursos das colônias para fabricar produtos que eram então vendidos no mundo todo. O trabalho era facilitado pelo controle britânico sobre as rotas de navegação com as muitas colônias, aliás, que foram estabelecidas por suas posições estratégicas.

As línguas turcas constituem uma família linguística de cerca de trinta línguas, faladas através de uma vasta região desde a Europa Oriental e Mediterrâneo à Sibéria e Oeste da China. Os povos turcomanos, são povos eurasiáticos que vivem no Norte, Centro e Oeste da Eurásia e que falam línguas pertencentes à família de línguas turcas ou chamadas turcomanas. Estes povos compartilham, em vários graus, certos traços culturais e antecedentes históricos. O termo turco representa um amplo grupo etnolinguístico e inclui sociedades existentes tais como os cazaques, uzbeques, quirguizes, uigures, azeris, turcomenos e os turcos modernos, comparadas as sociedades históricas dos Xiongnu, quipechaques, ávaros, protobúlgaros, hunos, turcos seljúcidas, cazares, otomanos e Timúridas. Muitos dos povos turcomanos têm sua terra natal na Ásia Central, uma região que compreende as estepes, montanhas e desertos entre o Leste do mar Cáspio e o Centro-oeste da China, entre o Norte do Irã e Afeganistão, assim como o Sul da Sibéria, porém nunca houve uma demarcação oficial rígida regional, geograficamente especificando com metodologia apropriada onde se originaram. Mas, desde então, as línguas turcas se difundiram, através de migrações e conquistas, para outras regiões incluindo a atual Turquia na Anatólia. Enquanto o termo turco pode se referir a um membro de qualquer povo turcomano, também pode se referir especificamente ao povo e ao idioma da moderna Turquia.         

Cerca de 180 milhões de pessoas têm uma língua turca como sua língua nativa; além disso, cerca de 20 milhões falam “uma língua turca como segunda língua”. A língua turca com o maior número de falantes é o “turco moderno, ou turco da Anatólia”, cujos falantes representam cerca de 40% do total de falantes de línguas turcas. Mais de um terço destes são etnicamente turcos da Turquia, e que residem predominantemente na Turquia e nas antigas regiões dominadas pelo Império Otomano da Europa Oriental e do Oriente Médio; também há residentes na Europa Ocidental, Austrália e Américas como resultado de imigrações. Os demais povos turcos estão concentrados na Ásia Central, na Rússia, no Cáucaso, na China, no Norte do Iraque e no Norte e Noroeste do Irã. Atualmente, há seis países turcos Independentes: Azerbaijão, Cazaquistão, Quirguistão, Turcomenistão, Turquia e Uzbequistão. Há também várias subdivisões nacionais turcas na Federação Russa: Bascortostão, Tartaristão, Chuváchia, Cacássia, Tuva, Sakha, República de Altai, Krai de Altai, Kabardino-Balcária, Carachai-Circássia. Cada subdivisão tem sua própria bandeira, parlamento, leis e língua oficial de Estado junto com o russo.

Aziz Nesin, nascido Mehmet Nusret, em 20 de dezembro de 1915 e falecido em 6 de julho de 1995, foi um notável escritor turco, comediante e autor de mais de 100 livros. Nascido em um momento em que os turcos não tinham nomes oficiais, ele teve que adotar um depois que o Direito de Família de 1934 foi aprovado. A Turquia como país com a configuração atual só surgiu na década de 1920, quando o Império Otomano foi abolido e substituído pela República da Turquia, mas esta pode considerar-se uma legítima sucessora de uma série de impérios que tiveram o seu centro de poder no que representa a Turquia contemporânea. Apesar do nome do país, da tradição e longa história social e política, a migração dos povos turcos para o território é um fenômeno relativamente recente, com cerca de mil anos. Os turcos, são povos cuja língua pertencem ao ramo das línguas turcomanas, começaram a emigrar das suas terras ancestrais para a Anatólia no século XI. Os seljúcidas representavam um ramo etnológico dos “turcos oguzes” (“Kınık Oğuz ou Oğuzlar”) que no século X viviam na “periferia” dos domínios muçulmanos dos Abássidas, a Norte do mar Cáspio e de Aral, num dos yabghu khagans da confederação oguz. No século XI os seljúcidas abandonaram as suas terras ancestrais e o crescente processo de migração para as regiões orientais da Anatólia, em que se tornariam a pátria dos oguzes após a Batalha de Manziquerta, em 1071, na qual os turcos derrotaram os bizantinos.

O filme Mucize, dirigido pelo cineasta Mahsun Kirmizigül (2015) é um drama turco, baseado em fatos históricos. Kırmızıgül, nasceu em Abdullah Bazencir, em 26 de março de 1969. É um cantor, compositor, ator e diretor turco, roteirista, compositor musical, produtor de ascendência Zaza. Também é reconhecido como empresário por sua parceria em uma das principais produtoras musicais, a Prestij Müzik, na Turquia até 2002. Nasceu em 26 de março de 1969 em Diyarbakir, Turquia, como membro de uma família de 22 filhos. Estudou escolas primárias e secundárias em Diyarbakir e trabalhou para contribuir com sua família desde tenra idade. Ele começou a cantar para os casamentos para economizar dinheiro. Em 1984, ele foi convidado para Istambul para fazer um álbum para Güneş Plak. Ele começou a estudar no Departamento de Voz da İstanbul Üniversitesi Devlet Konservatuarı, é uma universidade de música, teatro e dança em Istambul. É o conservatório mais antigo e a mais antiga escola de música em operação contínua na Turquia. Oferece formação musical desde o ensino secundário até ao doutoramento. Seu edifício principal em Kadıköy é um mercado histórico, e seu andar térreo abriga um teatro ativo. Mahsun Kırmızıgül iniciou seus estudos musicais em 1980 e realizou 8 álbuns amadores. Seu álbum de estreia profissional “Alem Buysa Kral Sensin” lançado em 1993, como “uma bomba no mundo da música” e ficou no topo das listas musicais. Em 1994, ingressou na Prestige Music Company como produtor. O artista ganhou aclamação com seu filme Beyaz Melek, que escreveu, dirigiu e interpretou. Em 2009, Güneşi Gördüm, que ele escreveu, dirigiu e interpretou. Em 2010, ele lançou New York`ta Beş Minare, que também escreveu, dirigiu, tocou e compôs a música tema do filme.

A narrativa do filme Mucize gira em torno do professor Muallim Mahir (Talat Bulut). Em meados da década de 1960 ele foi enviado para uma região montanhosa da Turquia dominada por bandoleiros para lecionar para a população de um pequeno vilarejo. Trata-se de uma história real narrada em forma de fábula, que começa com o professor deixando sua família; sua esposa não quis acompanha-lo, ele decide seguir a sua missão. Depois de viajar horas de ônibus e atravessar duas montanhas a pé, Mahir finalmente chega ao seu destino, sem perder a pose mesmo trajando um terno. É recebido por vários homens que por desconfiança lhe apontam um rifle, até descobrirem que é o professor. O relato etnográfico ocorre na Turquia nos anos 1960. O professor Mahir Ögretmen recebe uma transferência para a pequena e isolada aldeia no interior do país. Chegando lá, descobre que na verdade, trata-se de uma estratégia, pois “o governo não construiu ainda uma escola”. Mahir testemunha o brilho nos olhos das crianças felizes por poderem estudar, e ouve os líderes anciões do vilarejo. O professor decide ficar e construir uma escola com seu próprio dinheiro. Mas, com a condição de que, contrariando a “tradição, as meninas também pudessem frequentá-la”. Com materiais à disposição, os próprios moradores e os bandoleiros da região constroem a escola. 

A história social desse país é demasiado longa, com uma vasta tradição, ipso facto, faremos uma digressão com khagan do Caganato turco ocidental de 618 a 628 d.C. Tong Yanghu era irmão de Sheguy (611–618), o khagan anterior dos Göktürks ocidentais, e era membro do clã Ashina; seu reinado é geralmente considerado como o zênite do Göktürk Khaganate Ocidental. Seu nome é transcrito com o caractere chinês , que significa “principal fio de seda, diretriz, unir, comandar, governar”. O estudioso Karakhanid Mahmud al-Kashgari, escrevendo no século XI, glosou toŋa em turco médio como basicamente significando tigre. Gerard Clauson argumenta contra Kashgari e afirma que toŋa significa vagamente “herói, guerreiro notável”. Tong Yabghu manteve relações estreitas com a Dinastia Tang da China e pode ter se casado com alguém da família imperial. O peregrino budista chinês Xuanzang (602-644/664) foi um célebre monge budista chinês Ch`an, nascido en Luoyang (Henan) no seio de uma família de eruditos que visitou a capital ocidental de Göktürk, Suyab, no atual Quirguistão, e deixou uma descrição do khagan. Os estudiosos acreditam que o khagan descrito por Xuanzang era Tong Yabghu. Gao e La Vaissière argumentam que o khagan que Xuanzang que conheceu era seu filho Si Yabghu, ao invés de Tong Yabghu. Xuanzang descreveu o khagan fabulosamente da seguinte forma: - O Cã usava um manto de cetim verde; seu cabelo, que tinha três metros de comprimento, estava solto. Uma faixa de seda branca envolvia sua testa e pendia atrás. Os ministros da presença, em número de 200 membros, vestindo mantos bordados, estavam tanto à sua direita quando à sua esquerda.

O resto de sua comitiva militar [estava] vestido com peles, sarja e lã fina, as lanças, estandartes e arcos em ordem, e os cavaleiros de camelos e cavalos estendidos longe da vista. De acordo com Antigo Livro de Tang, o reinado de Tong Yabghu já foi considerado a idade de ouro do Göktürk Khaganate Ocidental: Tong Yehu Kaghan é um homem de bravura e astúcia. Ele é bom na arte da guerra. Assim, ele controlou as tribos Tiele ao Norte, confrontou a Pérsia a Oeste, conectou-se com Kasmira (hoje Caxemira) ao Sul. Todos os países estão sujeitos a ele. Ele controlou dez mil homens com flecha e arco, estabelecendo seu poder sobre a região Oeste. Ele ocupou a terra de Wusun e mudou sua tenda para Qianquan ao Norte de Tashkent. Todos os príncipes da região ocidental assumiram o ofício turco de Jielifa. Tong Yehu Kaghan também enviou um Tutun para monitorá-los para imposição. O poder dos turcos ocidentais nunca havia atingido tal Estado antes. O império de Tong Yabghu lutou com os sassânidas do Irã. No início dos anos 620, o sobrinho do khagan, Böri Shad, liderou uma série de ataques pelas montanhas do Cáucaso em território persa. Muitos estudiosos identificaram Tong Yabghu como o Ziebel mencionado em fontes bizantinas (como khagan dos khazares) como tendo feito campanha com o imperador Heráclio no Cáucaso contra o Império Persa Sassânida em 627-628. Há tempo é sustentado por alguns estudiosos, incluindo Chavannes, Uchida.

Gao e Xue Zhongzeng, que Tong Yabghu não pode ser positivamente identificado com Ziebel ou qualquer governante Khazar e pode realmente ter morrido já em 626. Esses estudiosos apontam para discrepâncias no datas entre fontes bizantinas e chinesas e argumentam que confundir definitivamente Ziebel com Tong Yabghu é um exagero das evidências existentes. A pesquisa mais recente sobre este tópico prova que eles estavam certos: se Tong realmente morreu em 628, Ziebel deve ser identificado com Sipi khagan, tio de Tong Yabghu, que o assassinou e ascendeu brevemente ao trono. Sipi era então pronunciado Zibil e ele era um pequeno khagan encarregado da parte ocidental do império de Tong Yabghu, exatamente como Ziebel era de acordo com as fontes bizantinas. Ziebel é descrito como irmão de Tong nas fontes bizantinas e como seu tio nas fontes chinesas, uma discrepância que por muito tempo impediu a identificação. No entanto, tio e irmão mais velhos são a mesma palavra em turco antigo, äçi, e as fontes chinesas não conseguiram traduzir esse duplo significado com seu sistema muito preciso de nomes de parentesco. Tong Yabghu nomeou governadores (ou tuduns) para administrar as várias tribos e pessoas que estavam sob sua soberania. Com toda a probabilidade, o sobrinho de Tong Yabghu, Böri Shad, e filho de Zibil/Ziebel, era o comandante dos khazares, a mais ocidental das tribos devido à lealdade aos Göktürks ocidentais; este ramo da família pode ter fornecido aos khazares seus khagans em meados do século VII. Em ca. 630 foi assassinado por Külüg Sibir, seu tio e partidário da facção Dulu.

Após a morte do líder Tong Yabghu, o poder dos Göktürks ocidentais entrou em colapso. Embora o khaganato tenha durado algumas décadas antes de cair no Império Chinês, muitas das tribos clientes tornaram-se independentes e vários estados sucessores, incluindo o Khazar Khaganate e a Grande Bulgária, tornaram-se independentes. O confronto terminou com uma pesada derrota do exército bizantino, que contribuiu decisivamente para minar a autoridade bizantina na Anatólia e abriu o caminho para a invasão militar turca e progressiva “turquificação” da Anatólia. O exército seljúcida foi comandado pelo sultão Alparslano (1029-1072) reconhecido como Alparslano, Alpe Arslã em latim: Alparslanus ou Axã, foi o segundo sultão do Império Seljúcida e reinou de 1063 até sua morte. Seu lacabe Alparslano era termo turco para “Leão Corajoso”. Era filho de Chagri Bei e sobrinho de Tugril, sem antecessor como sultão e o exército bizantino pelo imperador Romano IV Diógenes, que foi capturado durante os combates. No lado bizantino, os principais combatentes foram os soldados profissionais das tagmata orientais e ocidentais, pois grande parte dos mercenários e recrutas anatólios fugiram no início do combate e sobreviveram à batalha. A debandada de Manziquerta foi desastrosa para os bizantinos, tendo resultado em conflitos civis e crise econômica, decerto, que debilitaram severamente a capacidade do império para defender as suas fronteiras. 

Isto possibilitou um movimento massivo de turcos para a Anatólia Central e em 1080 os turcos seljúcidas tinham tomado uma área de 78 000 km². Só após 30 anos de guerras civis é que o império voltou a ter estabilidade política, sob o governo de Aleixo I Comneno (1081-1118). Embora os historiadores mais recentes rejeitem a opinião dos seus antecessores que consideravam a derrota em Manziquerta como um revés catastrófico, para os bizantinos, continua a considerá-la como um acontecimento com consequências muito dolorosas. Esta vitória foi determinante para a formação do Sultanato seljúcida da Anatólia ou Sultanato de Rum, que começou como um ramo separado do Império Seljúcida que dominava partes significativas da Ásia Central, Irã, Anatólia e Sudoeste Asiático. Em 1243 os exércitos seljúcidas foram derrotados pelos exércitos mongóis, o que causou a progressiva desintegração do poder concreto seljúcida, que na prática passou para as mãos de uma série de principados (beilhiques ou beyliks) que, tendo começado por ser tributários do Sultanato de Rum, ganharam Independência a partir do século XIII. Um desses beilhiques, o dos otomanos (osmanlı), acabou por se impor aos demais que são restantes, a partir do reinado de Osmã I, que declarou a Independência em 1299 e é oficialmente considerado o fundador da dinastia otomana.  

Após a vitoriosa Batalha de Manziquerta, em 1071, contra os bizantinos, as tribos Oguzes turcomanas, lideradas pelos comandantes Ghazi começaram a se estabelecer na Anatólia, dominada desde o ano de 391 pelos bizantinos. Alguns dos comandantes, que tomaram suas posições naquela batalha, seguindo ordens expressas de Alparslano, buscaram estabelecer-se naquela região (Anatólia). Eram eles Artuque Bei, Ebûlkasım Saltuk, Danismende, o emir Mengücek, Çaka Bey, Tutak Bey, Savtegin Bey, Afsin Bey, Cutalmiche e os filhos Salomão Xá e Mansur ibne Cutalmiche, entre outros. Um destes comandantes turcomanos era Tanrıbermiş Bey. Ele seguiu com seus guerreiros para a região de Éfeso e Filadélfia, moderna Alaşehir, no Reino da Lídia, na Anatólia Ocidental, em 1074, tomou-a e ali fundou o seu principado (Beilique). A região de Éfeso àquela época já não resguardava o brilho de outrora e nada mais era que uma pequena aldeia. Esses beiliques recebiam e eram conhecidos pelos nomes de seus fundadores. Estes desbravadores, como Tanribermis, muito contribuiriam para a disseminação da cultura e da civilização islâmica bem como seus incentivos à arquitetura, à arte e aos costumes. Este processo civilizatório seria posteriormente chamado de turquização da Anatólia.

 Muitos outros destes comandantes, chegando à Anatólia, transformaram as suas possessões em beilhiques, principados, sultanatos ou emirados e criaram verdadeiras dinastias. O principado de Tanribermis, como os demais, pequenos, eram assim mesmo, responsáveis por guarecerem as tropas imperiais na Anatólia. Eram pequenos e tinham uma ação local, embora os beilhiques dos Saltuklular (Saltúquidas), Danişmentliler (Danismendidas), Mengücekler (Mengucéclidas) e Artuklular (Artúquidas) fossem mais fortes. Tanrıbermiş desempenhou um papel fundamental na conquista da Anatólia, no pós-Batalha de Manziquerta, e foi um dos percursores naquilo que foi, posteriormente, chamado de “turquização da Anatólia”. Ao mesmo tempo que ele, Çaka Bey que, na verdade, o precedeu naquela região, estabeleceu o seu Principado de Esmirna, na cidade de mesmo nome, e que na atualidade se chama Izmir, e em seus arredores. Os territórios dos primeiros principados da Turquia foram estendidos para as costas do Mar Egeu e do Mar de Mármara e o emir Çaka Bey foi o pioneiro a introduzir as artes da navegação marítima entre os turcos e foi um dos invasores mais audazes do Exército Seljúcida.

Tzacas, também reconhecido como Chaca Bei, foi um comandante militar dos turcos seljúcidas do século XI que governou um Estado independente baseado em Esmirna. Originalmente em serviço bizantino, rebelou-se e apropriou-se de Esmirna, bem como uma vastidão de territórios costeiros do mar Egeu na Ásia Menor e as ilhas da costa em 1088-1091. No auge de seu poder, declarou-se imperador bizantino e tentou assaltar Constantinopla juntamente com pechenegues. Em 1092, uma expedição naval bizantina comandada por João Ducas infligiu pesada derrota sobre ele e retomou Lesbos; no ano seguinte, foi morto traiçoeiramente por seu genro Quilije Arslã I. Muito pouco se sabe sobre sua vida, e boa parte provém de uma única fonte: a Alexíada da princesa bizantina Ana Comnena, filha do imperador Aleixo I Comneno (1081-1118). Foi também mencionado no Danishmendname do século XIII, o qual não é uma fonte muito fiável devido à natureza semilendária de seu material. Originalmente, segundo a Alexíada, Tzacas era um salteador que foi feito prisioneiro pelos bizantinos durante o reinado de Nicéforo III Botaniates (1078-1081). Depois, entra em serviço bizantino e avança rapidamente nas fileiras do exército através do favor imperial, recebendo o título de protonobilíssimo e presentes dispendiosos. Porém, quando Aleixo I Comneno depôs contra Botaniates em 1081, Tzacas perdeu sua posição e fugiu do Império Bizantino. De cerca de 1088 em diante, utilizou sua base em Esmirna para lançar guerra contra os bizantinos.

Construiu uma frota empregando artesãos cristãos, com a qual capturou Foceia e as ilhas egeias orientais de Lesbos, exceto a fortaleza de Metímna, Samos, Quios e Rodes. Uma frota bizantina sob o comando de Nicetas Castamonita foi enviada contra ele, mas Tzacas a derrotou em batalha. Alguns estudiosos modernos especularam que suas atividades ao longo deste período podem ter estado em conjunção, e até mesmo coordenação, com dois rebeldes gregos bizantinos contemporâneos: Rapsomata no Chipre e Cárices em Creta. Em 1090-1091, os bizantinos, comandados pelo duque naval Constantino Dalasseno, recuperaram Quios, Implacável, Tzacas refez suas forças e recomeçou seus ataques, proclamando-se imperador (basileu) e procurando concluir aliança contra Aleixo com os pechenegues na Trácia para um ataque conjunto contra Constantinopla. Em 1092, Dalasseno e João Ducas, o novo grande duque, foram enviados contra Tzacas e atacaram a fortaleza de Mitilene em Lesbos. Tzacas resistiu por tr|ês meses, mas finalmente teve que negociar a rendição da fortaleza. Durante seu retorno para Esmirna, Dalasseno atacou a frota turca, que foi quase destruída. Na primavera de 1093, Tzacas atacou o porto de Abidos no Mar de Mármara. Aleixo I convocou o sultão dos turcos seljúcidas Quilije Arslã I (1092–1107), que era casado com a filha de Tzacas e era assim seu genro, para atacá-lo da retaguarda. O sultão avançou para Abidos, onde, sob pretexto de convidar o pai da sua esposa a um banquete, assassinou seu sogro. Porém, em ca. 1097, um “Tzacas”, talvez filho do original, é relatado como ainda retendo Esmirna quando o exército bizantino sob João Ducas a retomou.

De acordo com Estrabão (cf. Dourado, 1992), Esmirna era o nome antigo de Éfeso, e o nome deriva de uma amazona que conquistou Éfeso. Outros autores, porém, mencionam Esmirna como a mãe de Adônis: sua mãe teria dito que ela era mais bela que Afrodite, e a deusa a amaldiçoou, fazendo com que ela se apaixonasse pelo próprio pai; desta união nasceu Adônis. Segundo William Smith, o nome da cidade deriva da mãe de Adônis. A cidade que tem cinco mil anos é uma das cidades mais antigas da bacia de Mediterrâneo. A cidade foi estabelecida no 3º milênio a.C., quando compartilhou com Troia a cultura importante da Anatólia. Por volta de 1 500 a.C. tinha caído na influência do Império Hitita da Anatólia Central. De acordo com historiadores e mitógrafos gregos, as cidades da costa asiática do Mar Egeu, Mirina, Cime, Esmirna e Éfeso, haviam sido conquistadas pelas amazonas; Archibald Henry Sayce (1846-1933), um pioneiro assiriologista e linguista britânico, que ocupou importante cátedra como professor de Assiriologia na Universidade de Oxford no período de 1891 a 1919, quando interpreta este mito, como se estas amazonas fossem as sacerdotisas das deusas asiáticas, cujo culto se espalhou a partir de Carquemis com as conquistas hititas.

Ele capturou e obteve controle social sobre algumas cidades, sobre a costa e sobre algumas ilhas do Mar Egeu e ali criou o seu principado, em turco: Çaka Beyliği (1081-1093). Ele organizou uma poderosa frota marítima e ganhou (posteriormente) o título de “o primeiro fuzileiro turco”. E foi o responsável por infligir uma grande derrota à marinha bizantina e na frota dos cruzados. No entanto, ambos não puderam sustentar seu domínio por muito tempo e lugar praticado durante a Primeira Cruzada em 1098, seus territórios foram recuperados pelos cruzados e as frotas do imperador bizantino Aleixo I Comneno (1081-1118) que envara um grande contingente para a Ásia, sob o comando de Godofredo de Bulhão Duque da Baixa Lorena (1087-1100), que obteve grandes vitorias para o Império Bizantino e recuperou algumas cidades e territórios importantes, como Niceia (atual Iznik), Quios, Rodes, Esmirna (atual Izmir), Éfeso, Filadélfia, Sardes e, na verdade, a maior parte da Ásia Menor (1097-1099). Devolveu tudo aos bizantinos, que dispunham da marinha mais aparelhada e, navegando pelas áreas costeiras, se apoderou de Éfeso e obteve o controle da Anatólia Ocidental. Éfeso foi destruída pelos exércitos cruzados e bizantinos e os dois principados em consequência foram extintos.

Osman bin Ertuğrul, reconhecido como Osman I, nasceu no Sultanato de Rum, um Estado muçulmano de origem sunita turco-persa que foi estabelecido na região da Anatólia. A data exata de seu nascimento é, no entanto, desconhecida, embora, segundo o historiador otomano do século XVI Kemalpaşazade, Osman provavelmente tenha nascido em meados do século XIII, provavelmente em torno dos anos 1254/1255.  O beilhique otomano expandiu-se no decorrer dos dois séculos seguintes, absorvendo os restantes Estados turcos da Anatólia, e conquistando territórios na região próxima da Trácia, Bálcãs e no Levante, tornando-se efetivamente o Império Otomano. Em 29 de maio de 1453 os otomanos liderados pelo sultão Maomé II (1444-1446) e (1451-1481) o Conquistador (Fatih), acabaram com o Império Bizantino ao conquistarem a sua capital, Constantinopla, um acontecimento que muitos consideram marcar o fim da Idade Média. Osman era filho de Ertuğrul, cujo pai, Suleyman Shah (1178-1236) foi líder da tribo turco-oguz dos cais, que habitava no Noroeste do Irão ou Nordeste do Iraque. Foi filho de Kutalmış e pai de Ertuğrul que, por sua vez, foi pai de Osmã I, fundador da dinastia otomana e do Império Otomano. Era o líder Kayi dos turcos Oghuz. 

Ertuğrul, juntamente com a tribo Kayic turca, fugiu para a Anatólia da Ásia Central Ocidental para escapar das invasões e conquistas mongóis. Segundo suas fontes, Ertuğrul começou a servir o sultão do sultanato de Rûm e foi recompensado com o domínio sobre a cidade de Söğüt na fronteira bizantina, uma ação que acabou levando a uma série de eventos que resultaram na formação do Império Otomano por Osman. Não há muita informação factual em Osman, devido à escassez de dados históricos autênticos e aos vários mitos e lendas associadas à sua vida que os otomanos mencionaram nos séculos posteriores. Eles começaram a gravar a história de sua vida apenas a partir do século XV, que ocorreu após um período de 100 anos após sua morte. Não há fonte escrita disponível a partir do momento concreto de seu governo. Assim, tornou-se extremamente difícil para os historiadores averiguar os fatos históricos reais e separá-los dos mitos e lendas associadas à sua vida. Com o tempo, surgiram diferentes sugestões sobre a origem e ortografia de Osman I. Estudiosos sugeriram que seu nome original era possivelmente turco, Ataman ou Atman, e que o nome foi posteriormente alterado para o árabe Osmān.

Novamente, o historiador, filósofo e escritor bizantino grego George Pachymeres (1242-1310) e outras fontes bizantinas anteriores mencionam seu nome como Ατουμάν (Atouman) ou Ατμάν (Atman). Tanto a versão árabe, “Uthmān”, quanto a versão turca, “Osmān”, encontram lugar análogo nas fontes gregas. As sugestões afirmam que ele possivelmente adotou o nome muçulmano de “mais reputação em um estágio posterior”. O Império Otomano atingiu o seu apogeu nos séculos XVI e XVII, quando foi uma das maiores potências bélicas mundiais, particularmente durante o reinado de Solimão, o Magnífico, que durou dentre 1520 a 1566. No final do século XVI os territórios sob administração otomana estendiam-se sobre uma área de 5,6 milhões de km², que ia desde os Balcãs e partes da Hungria a Oeste, até ao que são hoje os países árabes, além de quase toda a costa mediterrânica do Norte de África e de todas as áreas costeiras do Mar Negro. Os otomanos confrontaram-se em várias ocasiões com Sacro Império Romano-Germânico nos seus avanços em direção à Europa central através dos Balcãs e das regiões meridionais da República das Duas Nações, constituídas pela Comunidade Polaco-Lituana, chegando a cercar Viena em 1529 e 1683. A expansão dos turcos para ocidente só foi travada graças a coligações que envolveram a maiores potências cristãs.

No mar, os otomanos combateram pelo controle do Mediterrâneo com a Liga Santa, constituída por diversos Estados cristãos, nomeadamente a República de Veneza, a Espanha e Áustria dos Habsburgos, os Cavaleiros de São João (Ordem de Malta) e a generalidade dos Estados italianos. A expansão marítima otomana no Mediterrâneo só foi detida pela derrota na Batalha de Lepanto em 7 de outubro de 1571 resultando um conflito naval travado entre uma esquadra da Liga Santa e o Império Otomano. No Oceano Índico os otomanos combateram contra as armadas portuguesas para defenderem o monopólio ancestral do comércio marítimo entre a Índia e Ásia Oriental com a Europa, seriamente ameaçado pela descoberta do caminho marítimo para a Índia por Vasco da Gama em 1498. Além dos confrontos geopolíticos e militares com cristãos, os otomanos defrontaram-se com os persas, por vezes aliados dos portugueses nos séculos XVI, XVII e XVIII, quer por disputas territoriais, quer por diferendos religiosos. Esta batalha representou o fim da expansão islâmica no Mediterrâneo. Desde o início do século XIV, os otomanos vinham invadindo as áreas europeias outrora invadidas por árabes e turcos seljúcidas. Tais invasões eram habilmente orquestradas através de “ferramentas administrativas” muito bem desenvolvidas, entre elas o sistema janízaro, que tinha por escopo a construção, e consequente expansão, de seu próprio engenhoso império.

Todos esses problemas, com a intensidade e multiplicidade tão características do século XVI, segundo Foucault (2021: 408), se situam na convergência de dois processos: processo que, superando a estrutura feudal, começa a instaurar os grandes Estados territoriais, administrativos, coloniais; processo, inteiramente diversos, mas que se relaciona com o primeiro, que, a Reforma e em seguida com a Contrarreforma, questiona o modo como se quer ser espiritualmente dirigido para alcançar a salvação. Por um lado, movimento de concentração estatal, por outro, de dispersão e dissidência religiosa: é no encontro desses dois movimentos que se coloca a intensidade particular no século XVI, o problema de como ser governado, por quem, até que ponto, com qual objetivo, com que método etc. Trata-se de uma problemática geral da forma de governo em geral. Em toda essa imensa e monótona literatura sobre governamentalidade, alguns pontos importantes dizem respeito à definição do que se entende por “governo do Estado”, aquilo que chamaremos governo em sua forma política.

Com esse objetivo, o mais simples sem dúvida é opor essa literatura a um único texto que, do século XVI ao século XVII, constitui um ponto de repulsão, implícito ou explícito, em relação ao qual - por oposição ou recusa – se situa a literatura do governo: O príncipe de Maquiavel. É importante lembrar que O príncipe não foi imediatamente abandonado: foi reverenciado pelos seus contemporâneos e sucessores imediatos como também no início do século XIX – sobretudo na Alemanha, onde foi lido, apresentado, comentado por pessoas como Rehberg, Leo, Ranke, Kellermann etc., e na Itália – exatamente no momento em que desaparece toda a literatura sobre a arte de governar. O que se deu no contexto preciso Revolução Francesa e de Napoleão, quando se colocou a questão de como em que condições se pode mante a soberania de um soberano sobre um Estado, no contexto do aparecimento, com Clausewitz, da relação entre política e estratégia e da importância política manifestada por exemplo pelo Congresso de Viena (1815), que se atribui ao cálculo das relações de força como princípio de inteligibilidade e racionalização das relações internacionais; finalmente, no contexto da unificação territorial da Itália e da Alemanha, uma vez que Nicolau Maquiavel foi um dos que procuraram definir em que condições a unificação da Itália poderia ser realizada.

Embora sua família tenha o epíteto Topalosmanoğlu, um apelido ornamentando o nome e o distinguindo, neste caso, por um antepassado chamado Topal Osman, ele escolheu o sobrenome Nesin. Em turco, Nesin, significa o que você é? Geralmente reconhecido como Aziz Nesin, o nome “Aziz” era originalmente o apelido de seu pai, usado por Nesin para o pseudônimo sob o qual ele começou a publicar. Ele escreveu mais de cinquenta canções, como o pseudônimo Vedia Nesin, o nome de sua primeira esposa, que ele usou para os poemas de amor publicados na revista Yedigün. Nesin era de origem tártara da Crimeia. Ele nasceu em 1915 em Heybeliada, uma das Ilhas Príncipe de Istambul, nos dias do Império Otomano. Depois de servir como oficial de carreira por vários anos, tornou-se editor de uma série de publicações satíricas com inclinação socialista. Ele foi preso várias vezes e colocado sob vigilância pelo Serviço de Segurança Nacional por suas opiniões políticas. Nesin supostamente proporcionou uma forte acusação de opressão e brutalidade tendo como suportação e sentido o homem comum. Ele satirizou a burocracia e “expôs as desigualdades econômicas em histórias que efetivamente combinam cores locais e verdades universais”. Aziz Nesin recebeu inúmeros prêmios na Turquia, na Itália, na Bulgária e na antiga União Soviética. Seus trabalhos foram traduzidos cerca de trinta línguas. Nas últimas partes de sua vida, ele foi dito ser “o único autor turco que ganhou a vida com seus livros”.  

Em 1972, ele criou a Fundação Nesin. O objetivo da fundação era levar quatro crianças pobres e indigentes a cada ano para a casa da fundação e fornecer todas as necessidades – a começar pelo abrigo, educação e treinamento, desde a escola primária - para completar o Ensino Médio, uma escola de negócios ou mesmo para que possam adquirir uma vocação. Aziz Nesin doou para a Fundação Nesin seus direitos autorais da totalidade para todas as suas obras publicadas na Turquia ou em outros países, incluindo todos os seus livros publicados, todos os trabalhos a serem realizados, todos os direitos autorais para filmes e todas as suas obras feitas ou usado no rádio ou na televisão. Aziz Nesin foi um ativista político. Após o golpe na Turquia, em 1980, liderado por Kenan Evren (1918-2015), chefe de gabinete do exército turco, Aziz Nesin recebeu vários intelectuais para se rebelar contra o governo militar, emitindo a Petição de Intelectuais (em turco: Aydınlar Dilekçesi). Ele foi o presidente de Türkiye Yazarlar Sendikasi (União de escritores turcos). Ele também criticava o Islão. Na década de 1990, ele começou uma tradução do controverso romance Salman Rushdie, The Satanic Verses.

Isso provocou indignação das organizações islâmicas, que estavam ganhando popularidade em toda a Turquia, que tentaram persegui-lo. Em 2 de julho de 1993, ao participar de um festival cultural principalmente de Alevitas, na cidade de Sivas, no centro da Anatólia, uma multidão organizada por islâmicos reuniu-se ao redor do Hotel Madimak, onde os participantes do festival ficaram. Após as horas de cerco, os intrusos queimaram o hotel, as chamas gradativamente engoliram vários andares inferiores, enquanto os caminhões de bombeiros conseguiram se aproximar, e Nesin e muitos hóspedes do hotel conseguiram escapar. No entanto, 37 pessoas foram mortas no incêndio. Este evento, também reconhecido como o Massacre de Sivas, foi percebido como censura, e os direitos humanos na Turquia foram supostamente interrompidos. Também aprofundou a diferença entre os muçulmanos fundamentalistas e aqueles que consideram infiéis. Ele passou seus últimos anos lutando contra o fundamentalismo religioso. Aziz Nesin morreu em 6 de julho de 1995 devido a um ataque cardíaco, após um evento de assinatura de livros em Çeşme, İzmir, uma pequena cidade na costa da Turquia. Está localizada próxima à cidade de Izmir, a terceira mais populosa da Turquia. Seu corpo foi enterrado em um lugar desconhecido em terras pertencentes à Fundação Nesin, sem qualquer cerimônia, conforme solicitado por sua própria vontade. Massacre de Sivas ou Massacre de Madimak refere-se aos acontecimentos de 2 de julho de 1993 no Hotel Madimak em Sivas, Turquia, que resultou na morte de 37 pessoas, a maioria intelectuais Alevi. Dois perpetradores também morreram durante o incidente. 

As vítimas, que se reuniram no hotel para o festival Pir Sultan Abdal, foram mortas quando uma multidão incendiou o hotel. Comparecendo à conferência estava o intelectual turco de esquerda Aziz Nesin, que era odiado por muitos muçulmanos na Turquia por causa de sua tentativa de publicar o polêmico romance de Salman Rushdie, Os versos satânicos, considerado por muitos muçulmanos como uma blasfêmia. Milhares de residentes sunitas de Sivas, depois de assistir às orações em uma mesquita, marcharam para o hotel em que a conferência estava ocorrendo e incendiaram o prédio. Enquanto o governo turco retratou o ataque como direcionado a Aziz Nesin, os comentaristas Alevi argumentam que o alvo eram os Alevis, já que a multidão também destruiu uma estátua representando Pir Sultan Abdal erguida no dia anterior. Muitos intelectuais, poetas e músicos Alevi reconhecidos foram mortos no incêndio, incluindo Hasret Gültekin, Metin Altıok, Asım Bezirci, Behçet Aysan, Nesimi Çimen e Muhlis Akarsu.     

O ataque ocorreu pouco depois das tradicionais orações de sexta-feira, quando a multidão rompeu as barricadas da polícia para cercar o Hotel Madimak, onde artistas, escritores e músicos se reuniram para celebrar a vida do poeta alevi do século XVI, Pir Sultan Abdal (1480-1550). O hotel foi incendiado e o incêndio ceifou 37 vidas, incluindo os músicos e poetas que participaram do festival. Aziz Nesin conseguiu escapar do fogo por uma escada. Após os bombeiros reconhecerem quem ele era, começaram a atacá-lo, mas ele fugiu. O evento foi visto como um grande ataque à liberdade de expressão e aos direitos humanos na Turquia, e aprofundou significativamente a divisão entre religiosos e seculares segmentos da sociedade. Um dia após o incidente, 35 pessoas foram presas. Em seguida, o número de detidos aumentou para 190. Um total de 124 dos 190 réus foram acusados ​​de “tentativa de estabelecer um estado religioso alterando a ordem constitucional” e indiciados por acusações. A primeira audiência do caso, publicamente conhecida como Julgamento do Massacre de Sivas, Tribunal de Segurança do Estado de Ancara nº 1, foi realizada em 21 de outubro de 1993. Em 26 de dezembro de 1994, um veredicto foi alcançado no caso dos 124 réus: 15 anos de prisão para 22 arguidos, 10 anos de prisão para 3 arguidos, 3 anos e 9 meses para 54 arguidos, 2 anos e 4 meses para 6 arguidos e a absolvição de 37 arguidos. Outros 14 suspeitos foram condenados a 15 anos de prisão. Os restantes 33 arguidos foram acusados ​​de 35 acusações de homicídio.

Após longos processos judiciais, o Tribunal de Segurança do Estado condenou os 33 réus à morte em 28 de novembro de 1997 por seus papéis no massacre; 31 dessas sentenças foram mantidas em um recurso de 2001. Quando a Turquia revogou a pena de morte pouco mais de um ano depois, em 2002, as sentenças foram comutadas. Cada réu recebeu 35 penas de prisão perpétua, uma para cada vítima de assassinato e tempo adicional para outros crimes. Esses 31 condenados são atualmente os únicos que ainda cumprem pena pelos crimes; os outros réus foram libertados antecipadamente ou libertados após cumprirem suas sentenças. Em janeiro de 2020, Ahmet Turan Kılıc, que a princípio foi condenado à morte no envolvimento do Massacre de Sivas, recebeu uma comutação da sentença por Recep Tayyip Erdoğan, presidente da Turquia desde 28 de agosto de 2014. Ocupou o cargo de primeiro-ministro do país entre 14 de março de 2003 e 2014, tendo sido prefeito de Istambul de 1994 a 1998.

Erdoğan é o fundador do Partido da Justiça e Desenvolvimento (em turco: Adalet ve Kalkınma Partisi) e liderou-o em três vitórias eleitorais, a saber em 2002, 2007 e 2011 antes de sua vitória nas eleições presidenciais de 2014. Tendo iniciado sua carreira política como um islamista e democrata conservador, seu governo tem sofrido transições graduais ao conservadorismo social e também ao liberalismo econômico. Como resultado, sua sentença foi removida. A resposta das forças de segurança na altura e posteriormente foi fraca. O assalto ocorreu durante oito horas sem qualquer intervenção da polícia, militares ou bombeiros. Alevis e a maioria dos intelectuais na Turquia argumentam que o incidente foi desencadeado pelo governo quando panfletos e folhetos foram publicados e distribuídos antes do incidente. O governo refere-se ao incidente como um ataque a intelectuais, mas se recusa a vê-lo como um incidente dirigido aos alevitas.  Os eventos em torno do Massacre de Sivas foram capturados por câmeras de TV e transmitidos para todo o mundo. Todos os anos, durante o aniversário do massacre, várias organizações Alevi pedem a prisão dos responsáveis. Dois dos suspeitos, incluindo Cafer Erçakmak, morreram durante o julgamento. Em março de 2012, o caso do Massacre de Sivas contra os cinco réus restantes foi arquivado, devido ao estatuto de limitações. No entanto, este caso está sendo apelado. Todos os anos, no aniversário do massacre, os manifestantes realizam protestos e vigílias para homenagear as vítimas do incêndio.

Dario Fo lembrou o massacre em seu discurso ao aceitar o Prêmio Nobel em 1997.  Muitos desejam ver o hotel que foi reaberto, declarado memorial e transformado em museu. Em 2008, um ministro do governo indicou que seria transformado em um centro cultural Alevi, mas isso ainda não ocorreu. Em junho de 2010, o Ministro do Trabalho e Previdência Social anunciou que o dinheiro para a compra do hotel havia sido repassado, e que o Ministério forneceria recursos adicionais para a restauração. Após a decisão do tribunal de 23 de novembro de 2010, o Hotel Madimak tornou-se uma entidade pública por uma compensação de 5.601.000 TL (Lira Turca) aos proprietários do hotel. O jornal islâmico conservador Yeni Akit (2012) publicou uma história de primeira página em 23 de julho de 2012 declarando o Massacre de Sivas uma “mentira de 19 anos”, alegando que as vítimas foram mortas por tiros, em vez de tiros com base em fotos do necrotério que afirmavam não ter sido publicadas. As alegações foram desmascaradas e condenadas. Sir Ahmed Salman Rushdie, nasceu em Bombaim, em 19 de junho de 1947. É um ensaísta e autor de ficção britânico de origem muçulmana indiana. Cresceu em Mumbai e estudou na Inglaterra, onde se formou no King`s College, Universidade de Cambridge.

O seu estilo narrativo, mesclando o mito e a fantasia com a vida real, tem sido descrito “como conectado com o realismo mágico”. Em 12 de agosto de 2022, Rushdie foi alvo de um ataque a faca, sobreviveu e ficou em estado grave. Foi durante uma palestra na pequena cidade de Chautauqua, no Estado de Nova York, Estados Unidos da América. O condado tem uma área de 4 000 km², dos quais 2 700 km² estão cobertos por terra e 1 100 km² por água, uma população de 134 905 habitantes, e uma densidade populacional de 49 hab./km² segundo o censo demográfico nacional de 2010. O ataque está relacionado com ameaças de morte de setores de ativistas radicais muçulmanos, que o escritor sofria desde décadas pelo seu sucesso de seu livro The Satanic Verses (1989). Rushdie casou-se com a famosa atriz e modelo indiana Padma Lakshmi, de quem anunciou divórcio em julho de 2007. Em 1983, Rushdie foi eleito membro da Royal Society of Literature. Ele foi nomeado Commandeur da Ordem das Artes e das Letras da França em 1999. Em 2007, ele foi nomeado cavaleiro por serviços à literatura. Em 2008, o The Times o classificou em 13º em sua lista dos 50 maiores escritores britânicos desde 1945. Desde 2000, Rushdie vive nos Estados Unidos. Ele foi nomeado Distinguished Writer in Residence no Arthur L. Carter Journalism Institute da Universidade de Nova Iorque em 2015.

O romance, com cerca de 500 páginas, representa um trabalho complexo inspirado em acontecimentos reais, o ataque contra um avião da Air Índia em 1985, os tumultos de Brixton em 1981 e 1985, o fervor popular em torno do ator indiano Amitabh Bachchan, após um acidente em 1982, o trágico afogamento em 1983 de vários seguidores xiitas de um iluminado que os convenceram de que o mar se abriria diante deles, a revolução iraniana de 1979, referências biográficas sobre o próprio autor ou sua comitiva, bem como acontecimentos históricos inspirados na vida de Maomé, lendário como o episódio dos versos satânicos ou imaginário individual e coletivo. Baseia-se em um tema central que pode ser encontrado ilustrando outras obras do autor: o “desenraizamento do imigrante”, dividido entre sua cultura de origem a partir da qual se afasta e a cultura de seu país anfitrião, que ele ansiosamente deseja adquirir, e a dificuldade desta metamorfose. A novela constrói pontes articuladas entre a Índia e a Grã-Bretanha, o passado e o presente, o imaginário e a realidade, e aborda muitos outros temas, fé, tentação, fanatismo religioso, racismo, brutalidade policial, provocação política, doença, morte, vingança, perdão.

Consiste em nove capítulos. Os capítulos ímpares descrevem as peregrinações dos dois personagens principais, Gibreel Farishta e Saladin Chamcha. Os capítulos pares são as narrativas dos sonhos e pesadelos de Gibreel Farishta. O último, um ator de renome no cinema indiano, perdeu a fé após uma doença e fugiu para a Inglaterra em busca de uma jovem que conhecera pouco antes. Saladin Chamcha também é de origem indiana, mas é dotado de um passaporte britânico, e de toda a sua alma quer ser britânico. Sua cor de pele provoca preconceitos, e ganha sua vida pelo talento que ele tem para falsificar sua voz. Encontrando-se ambos num voo para Londres, são os únicos sobreviventes de um ataque terrorista. Quando eles chegam ilesos em uma praia, eles enfrentam policiais que suspeitam que sejam imigrantes ilegais, ema existente alhures, mas apenas Saladino Chamcha, embora o mais “britânico” dos dois, tendo sido considerado o “mais suspeito”, é preso sem que Gibreel Farishta esboce o menor gesto de solidariedade humana. Os dois homens, agora separados e reciprocamente prometendo uma certa animosidade, evoluirão cada um do seu lado durante a novela, antes de poder confrontar-se. No dia 12 de agosto de 2022, Salman Rushdie foi “esfaqueado no abdômen e no pescoço em Nova Iorque, Estados Unidos da América”. Ele se preparava para uma palestra na Chautauqua Institution quando Hadi Matar, de 24 anos, invadiu o local o esfaqueou por volta das 11horas. Ele estava vestido de preto e usando uma máscara. Hadi Matar tem 24 anos, reside em Nova Jérsia e tinha bilhete para o evento em que esfaqueou o escritor britânico. A polícia acredita que atuou sozinho, mas ainda investiga o motivo do ataque.

O moderador Ralph Henry Reese também foi esfaqueado no rosto, mas já recebeu alta do hospital. Hadi está sob custódia e o FBI investiga o caso junto com outros órgãos. Rushdie já sofreu outro atentado em 1989, um ano após o lançamento de seu livro Versos Satânicos, quando um homem preparou um livro-bomba que deveria ser entregue ao autor, mas explodiu antes da hora e matou o terrorista. Também, Rushdie possui um prêmio valorizado por sua cabeça, que chegou a US$ 3,3 milhões em 2012. O atentado foi “comemorado por extremistas islâmicos, como Keyvan Saedy”. Seu agente, Andrew Wylie, confirmou para o The New York Times que Rushdie passou por uma cirurgia. O autor perdeu um olho, os nervos de um dos braços foram cortados, o que o impede de usar uma das mãos, e o seu fígado foi perfurado. O escritor foi esfaqueado de 10 a 15 vezes, de acordo com testemunhas, no pescoço, no braço e no fígado por Hadi Matar, de 24 anos, que foi preso em flagrante no local enquanto Rushdie era socorrido. Matar seria simpático à Guarda Revolucionária Iraniana, como demonstram redes sociais. Ele foi acusado de tentativa de homicídio sem possibilidade de fiança pela promotoria de Nova York. O ataque teria sido premeditado, como ocorrera com Lennon e o Papa João de Deus. O Irã negou em 15 de agosto de 2022, envolvimento no ataque ao escritor Salman Rushdie. E ainda que ele seus seguidores são os culpados pelo episódio.

Bibliografia geral consultada.

DURAND, Pierre, La Vie Amoureuse de Karl Marx. Paris: Editeur Julliard, 1970; KAPP, Ivone, Eleanor Marx: La Vida Familiar de Carlos Marx (1855-1883). Tomo I. México: Ediciones Nuestro Tiempo, 1979; SARMIENTO, Domingo Faustino, Facundo – Civilización y Barbárie. Buenos Aires: Editorial Colihue, 1986; DOURADO, Peter Benjamin, Introdução à História dos Povos Turcos. Wiesbaden: Editor Harrasowitz, 1992; XUE, Zongzheng, Uma História dos Turcos. Pequim: Chinese Social Sciences Press, 1992; WALLERSTEIN, Immanuel, O Declínio do Poder Americano. Rio de Janeiro: Editor Contraponto, 2004; ROGOFF, Bárbara, A Natureza Cultural do Desenvolvimento Humano. Porto Alegre: Editora Artmed, 2005; BROOKE, Kevin Alan, Os Judeus da Cazária. 2ª edição. Maryland: Rowman & Littlefield Publishers, 2006; HOURANI, Albert, Uma História dos Povos Árabes. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 2006; ENGELS, Friedrich, A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra. São Paulo: Boitempo Editorial, 2010; MARX, Karl, Cadernos de Paris & Manuscritos Econômico-filosóficos de 1844. São Paulo: Expressão Popular, 2015; TONAMI, Aki, Asian Foreign Policy in a Changing Arctic. The Diplomacy of Economy and Science at New Frontiers. Londres: Editor Palgrave Macmillan, 2016; MIGUEL, Aline Cântia Corrêa, O Educadornarrador: Uma Trajetória pela Palavra e pela Escuta. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Educação. Faculdade de Educação. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2017; TCHÉKHOV, Anton, A Ilha de Sacalina. 1ª edição. São Paulo: Editora Todavia, 2018; NEVES, Leandro César Santana, Bendita és Tu entre as Mulheres de Rus: O Discurso Hagiográfico sobre (Santa) Olga de Kiev (Rus - Séculos XI a XIII). Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em História. Instituto de Ciências Humanas e Sociais. Rio de Janeiro: Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, 2018; BROZOSKI, Fernanda Pacheco de Campos, A Geopolítica Contemporânea dos Oceanos: A Territorialização do Espaço Marítimo no Século XXI. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Economia Política Internacional. Instituto de Economia. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2018; LIU, Yang, Metáfora Gramatical em Textos de Aprendentes Chineses de PLE. Dissertação de Mestrado em Português como Língua Estrangeira/Língua Segunda. Faculdade de Letras. Lisboa: Universidade Nova de Lisboa, 2019; FOUCAULT, Michel, “A Governamentalidade”. In: Microfísica do Poder. 11ª edição. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2021; FONSECA, Adriana, “Por que o brasileiro está aprendendo turco?”. In: https://valor.globo.com/carreira/noticia/2022/10/25/; entre outros.

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