segunda-feira, 22 de agosto de 2022

Guitarrista Prince – Tormento da Pressa & Técnica Excedente.

Tudo o que defendo é a liberdade de escolha e saber do que a verdade é capaz”. Prince Rogers Nelson


            Prince Rogers Nelson nasceu em Minneapolis, em 7 de junho de 1958 e faleceu em Chanhassen, em 21 de abril de 2016, nos Estados Unidos da América. É a cidade mais populosa do estado norte-americano do Minnesota, no condado de Hennepin, do qual é sede. Foi fundada em 1847 e incorporada em 1855. Com quase 430 mil habitantes, de acordo com o censo nacional de 2020, é a 46ª cidade mais populosa do país, com mais de 7,5% da população total do Minnesota vive em Minneapolis. De acordo com o Departamento do Censo dos Estados Unidos da América, a cidade tem uma área de 148,9 km², dos quais 139,8 km² estão cobertos por terra e 9,1 km² por água. Localiza-se no Leste do estado, onde nasce o Sol, à direita de quem olha para o Norte, às margens do Rio Mississippi. A cidade possui 24 lagos, e a abundância de água que fez sugerir aos fundadores o nome. A palavra Minneapolis deriva da palavra mine, que significa água na língua Dakota. A cidade é reconhecida também pelo apelido de Cidade dos Lagos. A região metropolitana da cidade é mais fria dos Estados Unidos, criando a fama que Minneapolis é reconhecida inverno com neve e temperaturas negativas de outubro/novembro a abril e verões quentes.

            O Dakota é o maior dos cinco dialetos etnológicos principais da língua Sioux. O dialeto representa uma das maiores comunidades falantes de uma língua nativa americana que restam nos Estados Unidos da América, com cerca de oito a nove mil falantes que vivem principalmente nos estados das planícies do norte, no Dakota do Norte e Dakota do Sul. O Dakota está associado predominantemente aos bandos dos Teton Sioux, que vivem a Oeste do rio Missouri. A língua foi posta pela primeira vez na forma escrita cerca de 1840, por missionários, e tem vindo a evoluir desde então para refletir as necessidades e uso contemporâneo. O Dakota faz parte da família linguística siouana. Autores que chamam a família de “Sioux” distinguem os dois ramos como Sioux Ocidental e Sioux Oriental ou como Sioux - próprio e Catawban. Outros restringem o nome Sioux ao ramo ocidental e usam o nome “Sioux-Catawban” para toda a família. Geralmente o nome Sioux é usado sem distinção. As línguas sioux podem ser agrupadas nas Sioux ocidentais e Catawban. As línguas Sioux Ocidentais são divididas em línguas do Rio Missouri: Crow, Hidatsa e Mandan, línguas do rio Mississipi: Sioux Dakota, Chiwere, Winnebago e línguas Dhegihan e ramos Sioux do Vale de Ohio. É aceito que as línguas Catawban consistem apenas na Catawba e Woccon.                     

          Durante o processo civilizatório da América do Norte (cf. Bennet, 2000), vários povos indígenas entraram em contato com os colonizadores franceses, espanhóis e ingleses. Entre as culturas instaladas naquela região, emergem os índios Sioux. A origem do termo tem a ver com a expressão “serpente” e representava o termo costumeiramente utilizado pelas tribos inimigas que conheciam esta instigante civilização, que se autointitula como Dakota.  A civilização Sioux (ou Dakota) é bastante diversificada, e ainda se subdivide em outros três grandes grupos: os Tétons, Yanktons e Santees. Dentro de cada uma dessas divisões temos a presença de outras tribos entre as quais se destacavam os Hunkpapas, os Oglalas e Brulés. O povo Sioux, ou Dakota, que é como o grupo étnico se autodenomina, são também reconhecidos como Lakota, Teton, Titunwan, moradores da pradaria e Teton Sioux referido à serpente, ou inimigo, é um povo que de tempos imemoriais, através da política do reconhecimento étnico ocorre quando o grupo de representação étnico se apresenta culturalmente diferente. Numa conjuntura multicultural habitando as planícies localizadas entre os rios Missouri e Missouri, o segundo mais longo curso de água dos Estados Unidos da América, perdendo a primeira posição para o rio Missouri, que é afluente do Mississippi. Juntos, formam a maior bacia hidrográfica da América do Norte. Quando medido da nascente do Missouri, o comprimento total do conjunto Missouri-Mississippi é de aproximadamente 6270 km na região nordeste dos Estados Unidos.

           A história social da escravidão (ou escravatura) nos Estados Unidos inicia-se no século XVII, quando práticas escravistas similares aos utilizados pelos espanhóis e portugueses em colônias na América Latina, e termina em 1863, com a Proclamação de Emancipação de Abraham Lincoln, realizada durante a Guerra Civil Americana. Na origem da guerra tem-se, grosso modo, a escravidão e dois modelos econômicos opostos. A Guerra Civil Americana, também reconhecida como Guerra de Secessão ou Guerra Civil dos Estados Unidos, foi uma guerra civil travada nos Estados Unidos de 1861 a 1865, entre o Norte e o Sul. A guerra civil teve início principalmente como resultado da longa controvérsia política e ideológica sobre a escravização dos negros. O norte em expansão econômica devido à industrialização, à proteção ao mercado interno e à mão-de-obra livre e assalariada, e o Sul de economia baseada na plantação e no escravismo. As diferenças entre os estados do Norte e os estados do Sul, ao contrário da dicotomização entre estudiosos, não são tão acentuadas, como se refere Gray (2013) um economista agricola norte-americano. 

O caráter capitalista da plantation escravista do Sul, análogo aos estados do Norte, era em certa medida uma contradição no sentido marxista da dialética ao sistema econômico. Mas uma economia escravista tende a inibir, do ponto de vista do valor-trabalho o desenvolvimento econômico de uma sociedade capitalista, tal como fora analisado por Max Weber em seu livro: The Theory of Social and Economic Organization. Ele analisa o comportamento que é dirigido principalmente por interesses materiais e também orientado para o comportamento de outros. Esse segundo aspecto distingue sua noção de ação econômica daquela da teoria econômica. A ação econômica de Weber é uma ação econômica social. É a partir dessa noção que o sociólogo vai relacionar economia e outras ordens e poderes sociais, como religião e política. Além disso, o retorno dos lucros de volta à produção, presente no Norte industrializado, não ocorria da mesma forma nos estados do Sul, que tinha uma acentuada tendência a um consumo intenso. Norte e Sul diferem-se no processo civilizatório medida em que o primeiro possui um progresso econômico qualitativo com o retorno dos lucros à produção, e o Sul, por sua vez, ao dirigir seus lucros em escravos e terras, possui um progresso econômico quantitativo, levando em consideração a aparente baixa produtividade da mão-de-obra escrava.

No período da Declaração de Independência dos Estados Unidos, em 1776, a escravidão era legal, presente em todas as Treze Colônias. Em 1865, quando foi abolida pela Décima Terceira Emenda da Constituição, ela estava presente em metade dos estados da União. Como um sistema laboral, foi vital para o sucesso econômico dos Estados Unidos no começo de sua história e quanto foi feito ilegal, foi substituída nas fazendas por sharecropping, uma forma de parceria rural e trabalhos forçados de presos do sistema carcerário, mirando principalmente afro-americanos, que continuaram em um sistema análogo a escravidão por quase um século após a guerra civil de 1861-65. Esse fato histórico, teórico e ideológico (cf. Bailyn, 2003) se deve à mentalidade escravista do proprietário sulista, que investia na compra de escravos como mercadoria, pois “dava prestígio e segurança econômica e social numa sociedade dominada pelos plantadores”. Os consequentes saltos qualitativos na produção nortista levaram os proprietários sulistas a uma aguda disputa com os proprietários do Norte. Se for aceita a condição capitalista para os estados do Sul, assim como para os estados do Norte, tem-se uma sociedade que impediu o desenvolvimento do próprio capitalismo, que historicamente tende a revoltas, guerras e revoluções, considerando que o Sul apresentava problemas em torno do binômio de produção de produtos para o consumo interno. 

Não queremos perder de vista que o Massacre de Wounded Knee (cf. Liggett, 1998) foi um etnogenocídio de nativos ocorridos em 29 de dezembro de 1890, perto de Wounded Knee Creek (“Čhaŋkpé Ópi Wakpála”) na Reserva Indígena de Pine Ridge, pertencente ao povo Dakota, no estado da Dakota do Sul, Estados Unidos da América. Etnograficamente representou a última batalha sangrenta das Guerras Indígenas. No dia anterior, um destacamento de 7º Regimento de Cavalaria dos Estados Unidos, comandado pelo Major Samuel M. Whitside interceptou um grupo de índios Miniconjou e 38 Hunkpapa liderados pelo chefe tribal Spotted Elk, de Porcupine Butte, e acompanhou-o por 8 km a Oeste até Wounded Knee Creek, onde eles fizeram um acampamento. O restante do 7º Regimento de Cavalaria chegou liderado por James W. Forsyth, e cercou o acampamento com o apoio de quatro canhões Hotchkiss modelo 1874. É um canhão de revólver de calibre 37mm. Foi fabricado na França pela empresa Hotchkiss. Foi adquirido pelo Brasil em 1875 para equipar baterias de artilharia a pé. Na manhã de 29 de dezembro, as tropas entraram no acampamento para “desarmar” os Lacotas. Durante o desarmamento dos Lacotas, o nativo Black Coyote estava relutante em abrir mão de seus rifles, alegando que tinha pago um preço caro por essas armas.       

Segundo o plano original, o general George Armstrong Custer e seus 647 homens da 7ª Cavalaria teria de encontrar os “índios rebeldes”, mandar um aviso para o forte, esperar pela chegada de outras duas colunas do Exército e, só então, avançar. Mas “Cabelos-longos”, como era chamado pelos índios, transbordava de ambição política. Em depoimento ao jornalista John Frederick Finerty (1846-1908), que, em 1890 publicou o livro War-Path and Bivouac, o general John Gibbon afirmou ter alertado Custer para que aguardasse por reforços. E o comandante teria dito: - “Não, eu não esperarei”. A vitória sobre os índios seria sua glória pessoal. - “Ele era implacável. Mudava de opinião o tempo todo e sempre achava que estava certo. Nunca pedia palpite a seus oficiais. A nós, restava obedecer”, relatou o militar James Horner, cabo da 7ª Cavalaria e um dos sobreviventes do Massacre, também em depoimento a Finerty. A controversa “briga” sobre os rifles de Black Coyote intensificou-se e um tiro foi disparado, o que resultou em um tiroteio provocado pela 7ª Cavalaria de forma indiscriminada por todos os lados da região, matando homens, mulheres e crianças, bem como alguns dos seus próprios companheiros soldados. Os poucos guerreiros Lacota que ainda tinham armas começaram a atirar em resposta para os soldados que os atacavam, que rapidamente foram reprimidos pelas armas dos indígenas. Alguns Lacotas sobreviventes fugiram, mas “cavaleiros dos Estados Unidos por vingança perseguiram e mataram muitos nativos que estavam desarmados”.

           O campo de batalha foi designado, em 15 de outubro de 1966, local do Registro Nacional de Lugares Históricos e em 21 de dezembro de 1965, um Marco Histórico Nacional. Vale lembrar que a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas (2007) afirma ainda que todas as doutrinas, políticas e práticas baseadas na superioridade de certos povos ou indivíduos ou que eles defendem por motivos de origem nacional ou diferenças os direitos raciais, religiosos, étnicos ou culturais “são racistas, cientificamente falsos, legalmente inválidos, moralmente condenáveis ​​e socialmente injustos”. Reafirmando que, no exercício de seus Direitos, os povos indígenas devem estar livres de todas as formas de discriminação. Preocupado com o fato de que os povos indígenas sofreram injustiças históricas como resultado, entre outros, da colonização e do desaparecimento de suas terras, territórios e recursos, o que os impediu de exercer, em particular, seu Direito ao desenvolvimento de acordo com suas próprias necessidades e interesses. Reconhecendo a necessidade urgente de respeitar e promover os Direitos intrínsecos dos povos indígenas, derivados de suas estruturas sociais e culturas políticas, econômicas e sociais, de suas tradições espirituais, história e filosofia, especialmente os Direitos históricos inalienáveis sobre suas terras, territórios e recursos. Reconhecendo a necessidade urgente de respeitar e promover os direitos civis dos povos afirmados em Tratados, Acordos e outros acordos construtivos com os Estados e assim por diante.

Isto posto, como introito, em sua notável carreira Rogers Nelson (cf. Danielsen, 1997) tornou-se o músico, Prince, um cantor, Prince, um compositor, Prince, multi-instrumentista. Um produtor, Prince, filantrópico e dançarino norte-americano. Em 2001, Prince se tornou Testemunha de Jeová mudando-se para Los Angeles para “entender melhor a indústria da música”. Lançou 39 discos em vida, de comunicação intensiva entre 1978 e 2016. Mais do que em geral um acadêmico na Academia, desenvolvendo diversos gêneros musicais como o funk, R&B, soul, jazz, rock, pop e hip hop. Filho de pais músicos, Prince Rogers manteve contato ininterrupto com instrumentos desde menino. O primeiro instrumento que ele aprendeu a tocar foi o piano, com apenas 7 anos de idade, herdado de seu pai. Com o processo e método de trabalho e de criação no âmbito da carreira, aderiu a diversos instrumentos, como o baixo, bateria, percussão, guitarra.  Adquiriu reconhecimento disciplinar com esses instrumentos musicais, o que lhe permitiu a completude em seu disco For You (1978), para “gravar tudo sozinho”, representando um conhecimento excedente (cf. Agamben, 2017). Além de tocar todos os instrumentos, ele também compôs a maioria das letras, bem como produtor da obra. Esse padrão e domínio da arte estendeu-se durante sua carreira: ele não permitia que ninguém interferisse processo e padrão criativo.

Com o álbum “Purple Rain” (1984), Prince conseguiu se equiparar ao Rei do Pop, Michael Jackson gerando uma rivalidade entre ambos, que regiam o cenário musical de seu tempo, e entre seus fãs. Além da genialidade como compositor, em 35 anos de carreira o músico ficou marcado também por suas excentricidades. Em homenagem a esta grande figura, a Jovem Pan Online relembra momentos em que Prince foi Prince. Em 1992, assinou um contrato de 60 milhões de dólares com a Warner Bros. Records, mas depois se disse “escravizado” pela gravadora e apareceu em público com a palavra “slave” (escravo) pintada no rosto, e ainda mudou um nome para um símbolo como forma de protesto. Em 2007, Prince solicitou a construção de uma luxuosa casa ao lado da O2 Arena, em Londres, para facilitar a sua chegada ao show. A intenção do cantor também era ter uma base para suas futuras visitas comerciais com a apresentação de shows à capital inglesa. Em 2011, Prince contratou uma limousine para percorrer uma distância de 24 metros, do seu camarim até o palco, no festival Hop Farm em Kent, na Inglaterra. Hop Farm Music Festival é um evento de música anual no The Hop Farm Country Park em Paddock Wood, Kent, Inglaterra, criado por John Vincent Power (1918-1944) do Festival Republic. John foi o primeiro tenente do Corpo de Fuzileiros que recebeu postumamente a Medalha de Honra por ações na Batalha de Kwajalein na 2ª Guerra Mundial (1939-1945).    

Após seu primeiro ano, foi indicado no UK Festival Awards com Best New Festival. Surgiu depois que uma pesquisa foi realizada entre os fãs do festival com o sentimento geral revelado de que eles sempre se sentiram os mais baixos em prioridade e importância. A pesquisa resultou no primeiro Hop Farm Festival em 2008, como um festival com capacidade para 30.000 pessoas centrado na música folk e Independente, com o objetivo específico de retornar à organização “de volta ao básico” sem patrocínio, sem marca, sem atitude vip. Crianças menores de doze anos, desde o início do festival, têm entrada gratuita. Em maio de 2013 foi anunciado que o sexto festival havia sido cancelado. De 4 a 6 de julho de 2014, o Hop Farm sediou um novo Hop Farm Music Festival 2014, que contou com artistas como Brian Wilson, Ray Davies, James Blunt e Grace Jones. O Hop Farm Music Festival de 2015 e os eventos organizados pela The Hop Farm não estão mais relacionados a John Vincent Power. O line-up de 2015 já está definido e os preparativos estão prontos para aproveitar o sucesso do festival de 2014.

Em sua lista de exigências enviada a hotéis britânicos durante a sua turnê de 2014, o astro exigiu que não houvesse escada de acesso às suas acomodações. Na mesma lista, o cantor baniu pinturas ou fotografias de rostos de pessoas, animais e “tapetes obstrutivos” em seu quarto. Como qualquer outro membro da religião, o cantor saía às ruas para divulgar adesão a religião. Ele próprio confirmou a informação em entrevista à revista The New Yorker. Prince despediu diversos músicos por não terem decorado as 150 músicas de seu repertório ou por distrações como olhar as horas durante o ensaio. Chamada 3rdeyegirl, estilizada como 3RDEYEGIRL, é uma banda de funk rock norte-americana e foi a banda de apoio de Prince desde seu retorno à Warner Music em 2014 até sua morte em 2016. A banda recente de Prince contava só com mulheres: a guitarrista canadense Donna Grantis, a baterista norte-americana Hannah Welton e a baixista dinamarquesa Ida Kristine Nielsen quando a estreia ocorreu no álbum Plectrumelectrum. Eles lançaram o LP Plectrumelectrum em 30 de setembro de 2014.

Pela projeção social da sua excentricidade, Prince é mais multi-instrumentista que exclusivamente dedicado à guitarra last but not least. Ou por preconceito quanto às estéticas sonoras, por algum motivo Prince é muitas vezes, como dizem, “ostracizado” na galeria dos grandes guitarristas das últimas décadas. Nada mais errado, como lugar-comum, pois Prince foi um exímio guitarrista, capaz expressar em vários estilos e com várias técnicas. Além disso, Prince acrescentou alguns modelos de guitarra notáveis e bastante peculiares à história social e técnica do instrumento. Uma das guitarras principais do músico, surgida nos anos 1980, a MadCat é uma cópia de uma Fender Tele japonesa, fabricada durante os anos 1970, cujo design seria mais tarde vendido por H.S. Anderson à Hohner, a famosa marca alemã de harmônicas que deixaria a produção das guitarras no Japão, construindo-as com o seu logo. Apresenta uma escala de 25 ½”, com ponte fixa e dois singles coil. A ponte é um dos detalhes que mais distingue a guitarra dos modelos Fender, ao contrário do design clássico Telecaster, o design hard-tail é mais inspirado nas Stratocaster. A proximidade do pick-up de ponte com a própria ponte dá-lhe timbre funk, fez Prince apaixonar-se pela guitarra, adquirir réplicas, com uso intensivo destes modelos, mudando-lhes os braços. O funk representa um gênero musical que se originou nas chamadas “comunidades afro-americanas” (cf. Price, 2003) em meados da década de 1960. Os músicos afro-americanos criaram uma nova forma de música rítmica e dançante através da mistura de soul, jazz e rhythm and blues. O funk usa os mesmos acordes estendidos ricamente coloridos encontrados no bebop, que é um subgênero do jazz.

A Gibson colaborou com Michael James Ness, reconhecido guitarrista, vocalista e compositor da lendária banda punk Social Distortion para o lançamento de uma nova Les Paul Deluxe. Com a sua fama aumentando, Prince criou alguns modelos custom. A mítica história da guitarra é responsável por causar uma completa revolução técnica e social na indústria da música. A primeira guitarra Cloud surgiu no filme Purple Rain. A primeira guitarra em nuvem foi originalmente construída em 1983 por David Husain, luthier da loja de música Knut Koupee em Minneapolis. O design foi baseado em um baixo que Prince usou no vídeo de Why you Wanna Treat me so bad. A primeira nuvem era branca e desempenhou um papel importante no filme Purple Rain. Originalmente, foram construídos exatamente quatro modelos, pelo luthier David Husain, conterrâneo de Prince. São construídas totalmente em maple, num design neck through. Na sua escala surgiu pela primeira vez o Love Symbol, como marcadores de escala. Esta possui 24 ¾” com 22 trastes médio/jumbo e um raio de 12”. Na posição de ponte surge um poderoso EMG 81 é um captador de alta saída especialmente desenvolvido para guitarra solo. O 81 é excelente para uso em amplificadores com Overdrive em seu volume máximo e o outro pick-up é um EMG SA, é um captador ativo de bobina simples (Single Coil) equipado com ímã em barra de Alnico V, que possuí um timbre inconfundível de Strato: brilhante, fresco com graves ricos. Possui blindagem interna e um pre-amp de baixa impedância, sendo assim um verdadeiro captador “noiseless”, sem sacrificar o verdadeiro timbre de captador single. As guitarras Cloud possuem o nut e a cobertura do parafuso do truss rod em bronze, com a ponte tune-o-matic e restante hardware da Schaller num acabamento gold-plated. O músico deu nome às quatro guitarras originais: Norte, Sul, Este e Oeste.

Acabariam por surgir réplicas e mesmo a Schecter criou modelos Cloud que foram comercializados, em determinado momento no seu site oficial. Talvez a guitarra mais distinta de Prince. A Love Symbol foi construída por Jerry Auerswald, luthier alemão. É um design neck-through é um método de construção de guitarra elétrica que combina o braço do instrumento e núcleo de seu corpo em uma única unidade. Isso pode ser feito de um pedaço sólido de madeira, ou dois ou mais laminados juntos. As cordas, captadores e ponte são todos montados nele, com componentes adicionais laterais do corpo (se houver) preenchendo sua forma completa colada ou mecanicamente anexada. A técnica também é usada em contrabaixos elétricos e usa a mesma configuração de pick-ups que a Cloud. O corpo do modelo original é em maple, com a ponte num design original de Auerswald. Escala de 24 ¾”, com 24 trastes e afinadores Schaller M6. Mais tarde um dos técnicos de guitarra de Prince construiu duas réplicas da guitarra, uma em preto e outra em branco, com corpo em mogno. Adepto de atirar as guitarras ao ar e deixá-las cair em palco, Prince usava estes modelos para o efeito, e o “corno” do modelo branco foi colado de volta várias vezes. Estes modelos tiveram réplicas construídas pela Schecter, que Prince passou a usar.

Em 1978 editou o seu primeiro álbum, For You, pela editora Warner Brothers Records, uma companhia discográfica norte-americana e uma das gravadoras mais importantes da empresa Warner Music Group. Fundada em 1958, por Jack Warner, tornou-se competitivamente a maior gravadora do planeta, sendo vendida em 2004 e depois em 2011. É reconhecida internacionalmente como WEA International Inc. A guitarra apresentando uma sonoridade funk e soul music, impôs-se moderadamente no mercado norte-americano. Dele foi extraído o single “Soft And Welt”. Os quatro álbuns seguintes confirmaram a ascensão de um artista prolífico e talentoso com um álbum por ano: Prince (1979), Dirty Mind (1980), o primeiro trabalho a incorporar uma vertente sexual, Controversy (1981) e 1999 (1982). Deste último surgiram temas como “1999”, “Little Red Corvette” e “Delirious”. Sob a designação de Prince And The Revolution gravou Purple Rain (1984), álbum que atingiu os primeiros lugares das tabelas de vendas dos Estados Unidos da América (EUA). Composto como banda sonora para o filme autobiográfico tendo como símbolo com o mesmo nome, dele saíram temas como “When Doves Cry” e “Purple Rain”. Valeu-lhe Óscar de Melhor Banda Sonora. É filme dirigido por Albert Magnoli com Clarence Williams III, Apollonia Kotero.        

Neste aspecto singular da arte, De Masi (2003), afirma o seguinte: a consciência e o usufruto dessas novas oportunidades não dependem da existência das mesmas, mas da disposição cultural de cada indivíduo de reconhece-las e de apreciá-las em todas as suas dimensões. E esta disposição, por sua vez, é influenciada pelo clima geral que há em torno, pela atitude diante da vida, pela confiança nos demais, assim como pelo hábito de confrontar os preconceitos irradiados com os dados de fato; em suma, por aquele conjunto de opiniões, emoções e sentimentos que, bombardeados pela mídia, acabam adoçando a nossa vida com a serenidade ou afogando-a na angústia. Mas contrariamente ao debate se se a felicidade criativa é uma exceção ou regra, o sociólogo considera o otimismo a forma mais perfeita e generosa da inteligência. O exercício da memória demonstra que este mundo no qual vivemos não é o melhor dos mundos possíveis, mas é, certamente, o melhor dos mundos entre aqueles habitados pela nossa espécie até agora, prescindindo das várias inclinações, seja ao otimismo, seja ao pessimismo. Seja que o mundo resulte em “um inferno temperado pelo nada” como para Leopardi, Caraco ou Gore Vidal, seja que resulte “num trânsito habitável enobrecido pela beleza e pela fantasia” como para Ariosto ou Beethoven, para Goethe ou Mendelssohn, para Felini ou Niemeyer, ou ainda, que resulte “num duelo com a razão, em forma de teorema”, para Borges ou Calvino, de todo o modo a história confirma que o homem sempre soube reagir às visões negativas, transformando-as em estímulos e projetos extraordinários para a sua criatividade.

O guitarrista Prince seguiu compondo, produzindo, tocando e ditando as regras do método em todos os seus trabalhos artísticos. Gravou disciplinarmente a maior parte da vida, e per se trabalhando à exaustão em seu estúdio em Paisley Park. Prince era um workaholic. Vivia obsessivamente para a música. Ao longo da sua carreira de 40 anos produziu 38 álbuns de estúdio e muitas outras gravações. A sua disciplina era tal que várias vezes passou noites sem dormir, a trabalhando nos discos durante 20 horas seguidas. Isso mesmo, afirmou Prince numa entrevista à Rolling Stone em 1985: - “Não há nenhuma outra pessoa que consiga ficar acordado tanto tempo quando eu. O que me mantém acordado é a música”. Foi o músico Larry Graham, antigo baixista dos Sly and the Family Stone, que influenciou Prince para que em 2001 ele se tornasse testemunha de Jeová. – “Não o vejo realmente como uma conversão, mas mais como uma realização”, disse Prince à revista New Yorker em 2008. Larry Graham era o seu mentor. O músico começou a ir a reuniões em Kingdom Hall e, tal como as outras testemunhas de Jeová, tinha que, de vez em quando, bater às portas das pessoas para lhes falar das suas crenças. Pode parecer estranho, mas a verdade em 1999, em entrevista à televisão holandesa, Prince explicou porque é que considerada que o tempo era relativo e que a ideia de passagem do tempo não fazia muito sentido. – “Não celebro os aniversários”. Esta ideia de que o tempo não é algo tão concreto como se costuma pensar surgiu ainda em 1984, quando o músico lançou um disco 1999. Mais recentemente, em 2011, numa entrevista ao The Guardian, voltou a dizer: - “O tempo é uma construção da mente. Não é real”.

Neste aspecto valemo-nos de uma digressão. Por volta de 1770, com 46 anos, Immanuel Kant leu a obra do filósofo escocês David Hume, por muitos considerados um empirista ou um cético, considerando-o um naturalista. Kant sentiu-se profundamente inquietado. Achava o argumento de Hume irrefutável, mas as conclusões inaceitáveis. Durante dez anos não publicou nada e, em 1781 publicou a Crítica da Razão Pura, um dos livros mais importantes e influentes da moderna filosofia. Neste livro, ele desenvolveu a noção abstrata de um argumento transcendental para mostrar que, em suma, apesar de não podermos saber necessariamente verdades sobre o mundo “como ele é em si”, estamos forçados a percepcionar e a pensar acerca do mundo de certas formas: podemos saber com certeza um grande número de coisas sobre “o mundo como ele nos aparece”. Por exemplo, que cada evento estará causalmente conectado com outros, que aparições no espaço e no tempo obedecem a leis da geometria, da aritmética, da física, etc. Nos cerca de vinte anos seguintes, até a morte em 1804, sua produção foi incessante. O edifício da filosofia crítica foi completado com a Crítica da Razão Prática, que lidava com a moralidade de forma similar ao modo como a primeira crítica lidava com o conhecimento; e a Crítica do Julgamento, que lidava com os usos dos “poderes mentais”, que não conferem conhecimento factual e nem nos obrigam a agir: o julgamento estético e julgamento teleológico, a construção de coisas como tendo fins. Como Kant os entendeu, o julgamento estético e teleológico conecta e fundamenta os nossos julgamentos morais e empíricos um ao outro, unificando o seu sistema de vida.

Uma das obras mais importantes recorrente hoje em dia grande destaque entre os estudiosos da filosofia moral: A Fundamentação da Metafísica dos Costumes que é considerada por muitos filósofos a mais importante obra já escrita sobre a moral. É nesta obra exemplar que o filósofo delimita as funções da ação moralmente fundamentada e apresenta conceitos como o Imperativo categórico e a Boa vontade. Os trabalhos de Kant são a sustentação e ponto de início da moderna filosofia alemã; como diz Georg Wilhelm Friedrich Hegel, frutificou com força e riqueza só comparáveis à do socratismo na história da filosofia grega. Johann Gottlieb Fichte, Friedrich Hegel, Friedrich Wilhelm Joseph von Schelling, Arthur Schopenhauer, para indicar os maiores, inscrevem-se na linhagem desse pensamento que representa uma etapa decisiva na história da filosofia e está longe de ter esgotado a sua fecundidade. Immanuel Kant escreveu alguns ensaios medianamente populares sobre história, política e a aplicação da filosofia à vida. Quando morreu, estava trabalhando numa “quarta crítica”, por ter chegado à conclusão de que seu sistema estava incompleto; este manuscrito foi publicado como Opus Postumum (1804).                    

Na Introdução à Fenomenologia Hegel repete suas críticas a uma filosofia que não fosse mais que teoria do conhecimento. E não obstante, a Fenomenologia, como têm assinalado quase todos os seus expressivos comentaristas, marca em certos aspectos um retorno ao ponto de vista de Kant e de Fichte. Em que novo sentido devemos entendê-lo? Ora, se o saber é um instrumento, modifica o objeto a conhecer e não nos apresenta em sua pureza; se for um meio tampouco, nos transmite a verdade sem alterá-la de acordo com a própria natureza do meio interposto. Se o saber é um instrumento, isto supõe que o sujeito do saber e seu objeto se encontram separados; por conseguinte, o Absoluto seria distinto do conhecimento: nem o Absoluto poderia ser saber de si mesmo, nem o saber, fora da relação dialética, poderia ser saber do Absoluto. Contra tais pressupostos a existência mesma da ciência filosófica, que conhece efetivamente, é já uma afirmação. Não obstante, esta afirmação não poderia bastar porque deixa a margem a afirmação de outro saber; é precisamente esta dualidade o que reconhecia Friedrich Schelling quando opunha o saber fenomênico e o saber absoluto, mas não demonstrava os laços entre um e outro. Uma vez colocado o saber absoluto não se vê como é possível no saber fenomênico, e o saber fenomênico por sua parte fica igualmente separado do saber Absoluto. Friedrich Hegel retorna ao saber fenomênico, ao saber típico da consciência comum, e pretende demonstrar como aquele conduz necessariamente ao saber Absoluto, ou também que ele mesmo é um saber absoluto que, todavia, abstratamente não se sabe como tal.

Não apenas Friedrich Fichte, mas o próprio Johann Schelling, adverte Vittorio Hösle, tampouco satisfaz a exigência de uma estrutura de sistema que retorna a si mesma, pois o dualismo fichteano do Eu e Não-Eu que perdura em última análise no primeiro projeto resumido de sistema, a saber do idealismo transcendental. Segundo ele, a filosofia tem, com efeito, duas partes – filosofia natural e filosofia transcendental, a qual, por sua vez, contém, entre outras coisas, filosofia prática e filosofia teórica. Schelling argumenta do seguinte modo: já que o saber seria unidade de subjetividade e objetividade, o ponto de partida da filosofia teria de ser ou o objetivo (a natureza) ou o subjetivo (a inteligência). Naquele caso, surgiria a filosofia da natureza; neste, a filosofia transcendental. O objetivo de cada uma dessas duas ciências seria avançar na direção da outra – de um lado, “partindo da natureza chegar ao inteligente”, e, de outro, do subjetivo, “fazer surgir dele o objetivo”. Esta afirmação apenas poderia fazer sentido se para Hösle, com ela se tivesse em mente que a inteligência tem de objetivar e naturalizar em atos práticos e estéticos, como Schelling tenta demonstrar no Sistema. A segunda falha resulta da primeira. Schelling conhece, em última instância, apenas duas esferas da filosofia, as quais, na terminologia conceitual concreta de Hegel, pertencem ambas à filosofia da realidade.

Aquela estrutura que precede à ambas e que Hegel tematiza na Ciência da Lógica não tem lugar neste projeto de sistema de Schelling. É fácil ver que não se pode um renunciar a ela, e por três motivos. Em primeiro lugar, somente desse modo se pode compreender porque ambas as partes são momentos de uma unidade. Não basta afirmar sua relação mútua, é preciso explicitar estruturas ontológicas gerais que subjazem de igual modo à natureza e à inteligência. Em segundo lugar, somente desse modo se pode tornar plausível a dependência da natureza em relação a uma esfera ideal. E, em terceiro lugar, uma filosofia natural e uma filosofia transcendental apriorísticas são inconcebíveis sem essa esfera abrangente, pois a partir de que deveriam ser fundamentadas as primeiras suposições de ambas as filosofias da realidade? Depois de se desfazer do “resto de fichteanismo”, ainda reconhecível na execução do sistema do idealismo transcendental, Schelling introduziu na Apresentação destas duas concepções de ciência, o Absoluto, e o definiu como identidade de subjetividade e objetividade. 

No entanto, não se pode deixar de entender um limite na doutrina schellinguiana do Absoluto que representa um retrocesso, ficando, no mínimo, aquém de Fichte e, em certo sentido, até mesmo aquém de Kant: as categorias analíticas que Schelling utiliza para a caracterização do Absoluto são catadas e, de modo algum deduzidas do próprio Absoluto. Unidade, identidade, infinitude são determinações que Schelling toam da tradição e que, em primeiro lugar, ele não legitima em si e por si – ele apenas mostra que em sua utilização de mera identidade, antes elas que seu contrário conviria ao Absoluto, o qual é entendido como unidade de subjetividade e objetividade, e que em segundo lugar, ele nem sequer põe em um nexo causal ordenado. Simplificadamente, segundo Vittorio Hösle (2007), o sistema pensamento de Hegel pode ser representado da seguinte forma: 1) o princípio supremo da filosofia transcendental tem de ser, com Fichte, uma estrutura iniludível e que fundamente a si mesma reflexivamente. 2) no entanto, esse princípio não pode ter nada perante si, se quer ser absoluto; sendo determinado como subjetividade, ele não pode, portanto, ser subjetividade finita, mas tem de ser com Schelling, unidade de subjetividade e objetividade ou, em terminologia hegeliana, ideia. 3) com o reconhecimento, porém, de que o Absoluto é unidade de subjetividade e objetividade, a filosofia ainda não está concluída. Antes, trata-se de explodir o caráter pontual desse conhecimento, por quatro motivos: a) a estrutura absoluta não pode ser posta imediatamente, pois ela mesma seria, na verdade, uma abstração, da qual nada decorreria; b) apenas assim pode-se alcançar uma prova da absolutidade dessa estrutura.

Por causa disso, a questão concreta é que Prince ganhou fama notória de workaholic, ou seja; de pessoa “obcecada pelo desempenho no trabalho”. O mundo corporativo é realizado, muitas vezes, de indivíduos motivados pela alta competitividade ou ainda alguma necessidade pessoal de provar algo a alguém, ou a si mesmo, que acabam se tornando viciados no trabalho para atingir seus objetivos. Um workaholic geralmente não consegue se desligar do trabalho, mesmo fora dele, e muitas vezes deixa de lado sua vida pessoal, seu parceiro, filhos, pais, amigos e família, e seus amigos acabam sendo apenas os que convivem no ambiente de trabalho. Um dos maiores receios de um workaholic é o medo de fracassar, esse medo faz com que ele se condicione e continue sempre dando o melhor de si na busca por resultados. Do início fulminante da carreira, como um multi-instrumentista recém-saído da adolescência que fazia um álbum incrível depois de outro, se transformou num “workaholic recluso”, que produzia música em série no complexo de casa-estúdio-local de shows que mantinha próximo a Minneapolis, sua cidade natal. Obteve sete prêmios Grammy, um Oscar e um Globo de Ouro, esses dois últimos por sua bem-sucedida aventura no cinema em 1984, quando estrelou Purple Rain, no papel afetivo de “um ídolo de rock genial e egocêntrico envolvido com garotas estonteantes”. Vale lembrar que seus primeiros seis e impecáveis álbuns foram lançados entre 1978 e 1984. Michael Jackson gravou Off the Wall (1979) e Thriller (1982) e se transformou no “maior ídolo pop globalizado da Terra”. Ipso facto, Prince, também jovem negro, baixo e talentoso, surgia como um contraponto poderoso. Não teria a mesma popularidade de Michael Jackson, mas ofereceu uma versão mais refinada, ladina e musicalmente mais rica do que a “explosão pop encarnada no ídolo e Rei do Pop”.

Apesar do reconhecimento na principal premiação da música e sucesso comercial sem precedentes, Jackson precisou reivindicar a coroa de Rei do Pop. - “Se o mundo não o coroa rei, ele mesmo o fará”, disse Michael Goldberg, na matéria de capa da Rolling Stone, em 1991. Seu maior sucesso veio de filme homônimo. O disco vendeu mais de 21 milhões de cópias e ajudou a cimentar a influência extraordinária de Prince na década de 1980, como um dos exemplares ícones da música pop norte-americana. Do ponto de vista dialético de Marx (2013) é bem claro que a utilidade de uma coisa faz dela um valor de uso. Mas essa utilidade não flutua no ar. Condicionada pelas propriedades do corpo da mercadoria (Warenkörper), ela não existe sem esse corpo. O valor de uso se efetiva apenas no uso ou no consumo. Os valores de uso formam o conteúdo material da riqueza, qualquer que seja a forma social desta. O valor de troca aparece inicialmente como a relação quantitativa, a proporção na qual valores de uso de um tipo social são trocados por valores de uso de outro tipo, uma relação que se altera constantemente no tempo e espaço. Por isso o valor de troca parece algo acidental e puramente relativo, um valor de troca intrínseco, imanente à mercadoria; portanto, uma contradictio in adjecto.

Mas para o que nos interessa per se, sociologicamente falando, mas prescindindo do valor de uso dos corpos das mercadorias, resta nelas uma única propriedade: a de serem produtos do trabalho que já se transformou em nossas mãos. Se abstrairmos seu valor de uso, abstraímos também os componentes e formas corpóreas que fazem dele um valor de uso. Com o caráter útil dos produtos do trabalho desaparece o caráter útil dos trabalhos neles representados e, portanto, também as diferentes formas concretas desses trabalhos, que não mais se distinguem dos outros, sendo todos reduzidos a trabalho humano igual, a trabalho humano abstrato. Tempo de trabalho socialmente necessário é aquele requerido para produzir valor de uso qualquer sob as condições normais para uma dada sociedade e com o grau social médio de destreza e intensidade do processo de trabalho. Na sociedade industrial, a organização social era condicionada pela série bastante definida de variáveis ambientais, humanas e tecnológicas, que condicionavam o seu caráter. O espaço econômico da empresa tinha dimensões regionais ou nacionais; somente em alguns casos limitados, o seu raio de ação com proveniência das matérias-primas, dos capitais, da mão-de-obra e da maquinaria; destino dos produtos e dos investimentos, ultrapassava as fronteiras, as quais, aliás, eram defendidas com rígidos cinturões alfandegários.

A produção se dava num âmbito caracterizado pela unidade de tempo e de espaço da fábrica. O poder na empresa era determinado pela relação de propriedade ou de “proletariedade”, segundo a expressão de Umberto Eco (cf. De Masi, 2003), com respeito aos meios de produção. Quanto aos homens que operavam na empresa, poucos graduados dominavam a massa de analfabetos e escasso líderes carismáticos programavam e controlavam os setores onde pululavam os “homens-bois”. O trabalho era central – em termos de duração e de importância – na vida dos trabalhadores, que o exerciam como privilégio e como dever. Aqueles dotados de uma mentalidade industrial encontravam-se culturalmente em posição oposta aos dotados de uma mentalidade do meio rural. As variáveis tecnológicas, mais complexas do que as que haviam caracterizado o trabalho artesanal, eram  relativamente ingênuas, apesar da desmedida potência: aos instrumentos flexíveis, herdados das oficinas, acrescentou as linhas de montagem e as máquinas automáticas, para as quais o homem era um complemento, segundo ritmos separados pelos tempos e pelos métodos da empreitada cronometrada.

Os critérios organizacionais condicionados por essas variáveis eram os métodos do Scientific Management e depois os das Human Relations: Alvin Tofler (1928-2016), escritor e futurista, que os sintetiza na padronização, especialização, sincronização e maximização da produtividade, da eficiência e do lucro, na concentração dos recursos e da economia de grande escala, assim como na centralização do poder. Na prática, racionalismo e utilitarismo colocados numa chave produtiva, com êxitos machismo e consumismo. As variáveis sociais que influem na organização produtiva na sociedade pós-industrial são bem mais numerosas e complicadas. O espaço econômico da empresa é global; a economia terceirizou-se; a linguagem técnica e gerencial assemelhou-se no mundo inteiro; o tempo e o espaço da produção desestruturaram-se; o poder, dentro e fora da empresa, é ligado sobretudo à propriedade dos meios de criação; a cultura, sob muitos aspectos sociais, desmassificou-se; a ciência está cada vez mais capaz de responder às necessidades técnicas; a contraposição frontal entre burguesia e proletariado cedeu lugar a uma articulação bastante variada de classes, lobbies, grupos e movimentos. Os sistemas sociais tornaram-se multirraciais. Às máquinas flexíveis, rígidas e automáticas, herdadas da época industrial, somaram-se – superando-as – a eletrônica, a telemática e a robótica.

Os trabalhadores das empresas pós-industriais são “escolarizados”, na falta de melhor expressão, e com frequência têm um Diploma, um Título de Graduação e de Especialização. Enquanto nos tempos de Marx havia um funcionário para cada 25 operários, hoje os colarinhos-brancos são bem mais numerosos que os macacões-azuis. O trabalho é vivido cada vez menos como um dever e cada vez mais como uma oportunidade de toda forma, já não é central, nem em termos de duração nem em importância na vida das pessoas, que hoje e dia já não lhes dedicam, em média, mais de um décimo da própria existência. A diferença de mentalidade já não contrapõe revolucionários e reformistas ou a divisão social do trabalho de rurais a urbanos, mas inovadores e conservadores, solidários a competitivos, comportamentos pós-industriais a industriais. Os indivíduos habituaram-se a respeitar, simultaneamente, vários líderes e reivindicam a desburocratização dos relacionamentos e o acesso às informações. As mulheres têm um peso político bem maior nos processos de decisão. E a autonomia e a estética são valores extraordinários cada vez mais apreciados. As consequências em termos organizacionais, forma aspectos dilacerantes. As novas tecnologias in fieri determinaram o declínio do trabalho físico, com exceção da prestação de serviços e do trabalho conceitual, fazendo surgir o trabalho criativo dos profissionais liberais e dos gerentes.  A questão em que se situa Domenico de Masi é a seguinte: Mas a cultura com a qual o homem administrará os seus recursos para criar o seu futuro estará à altura das condições e possibilidades que esses recursos permitem? A coexistência de fome e desperdício, de solidão e superpovoamento, como de estresse e desemprego, não denuncia uma escandalosa carência de capacidades programadoras e assim designada criativas?

A mentalidade, como sabemos, é causa e efeito de ideologias, linguagens, objetos, sinais, comportamentos e convenções. Albert Einstein tem realmente razão quando constata que nem a 2ª guerra mundial (1939-1945) e nem mesmo a bomba atômica conseguiram modificar as bagagens de nossa antiga consciência.  E quais são essas bagagens? Uma primeira bagagem cultural é de ordem ideal e, como nos recordam os antropólogos, é constituída por valores, por crenças, por estereótipos, por ideologias, pela linguagem, pelas necessidades e por um sentido difuso do tempo, do espaço, do saber, da vida, da morte e da identidade. A cultura ideal que a sociedade pós-industrial herda da industrial é marcada pela tomada de consciência de que as grandes construções teóricas desde o empirismo de Bacon, o racionalismo de Descartes e na retórica Vico, a mais ainda na dialética de Friedrich Hegel e Karl Marx, o funcionalismo de Émile Durkheim e o “relativismo” de Max Weber, livre de julgamentos de valor, foram insuficientes para explicar as fraturas que o maquinismo produziu na linguagem, na relação social entre estabelecida em tempo real e vivido, no sentido estético, nas ideologias cientificistas acadêmicas, na ideologia jurídica, na percepção do espaço e na psicologia da opulência.                       

Irremediavelmente surgiram assim novas escolas e novas teorias que tentaram reinterpretar e reprojetar vários participantes da cultura ideal: Hubdand e suas Roycraft Shops nos Estados Unidos da América, os pré-rafaelitas, Mackintosh e Morris na Inglaterra, a Secessão e a Wiernr Wekstätte na Áustria e a Bahaus na Alemanha lançaram asa bases de uma nova estética. Inseridos no espírito revivalista romântico da época, os pré-rafaelitas desejam devolver à arte a sua pureza e honestidade anteriores, que consideravam existir na arte medieval do final do Gótico e do início do Renascimento. Ao se autodenominarem pré-rafaelitas realçavam o fato de se inspirarem na arte anterior a Rafael, artista que tanto influenciou a academia inglesa e que era consequentemente criticado pelos pré-rafaelitas. A influenciar este grupo estão também os Nazarenos, uma confraria de pintores alemães que, no início do século XIX, estabeleceu-se em Roma com o objetivo de recuperar a arte paleocristã. O Instituto Pasteur de Paris, a Estação Zoológica de Nápoles e o Círculo Matemático de Palermo dispuseram os fundamentos para uma nova ciência. Wittgenstein em Cambridge e na Áustria, o Círculo Filosófico de Viena e a Escola de Frankfurt na Alemanha conceberam os alicerces da filosofia de uma linguagem, de uma epistemologia moderna e de uma sociologia crítica. Albert Einstein, Henri Bergson e Edmund Husserl, cada um a partir do próprio ponto de vista específico, estabeleceram novas relações entre espaço e tempo que é uma temática a qual estamos abordando hic et nunc. No momento em que a sociedade industrial cedeu a vez à pós-industrial, o tempo constituía uma das maiores preocupações e o paradoxo a ser resolvido.                        

O sentimento de onipotência difundido pelos progressos científicos contrastava com o sentimento de morte, que todavia permanece fatal no destino do ser humano. A incapacidade de reprogramar o tempo tornava vãos todos os esforços que a sociedade industrial fizera para crescer. Durante 100 anos, a vida média mais do que dobrou. E pari passu forma inventados expedientes e mecanismos para medir o tempo com maior precisão: os cronômetros, para programá-lo com mais exatidão: as agendas eletrônicas, para economizá-lo: aviões, telefones, internet, panelas de pressão, etc., e para armazená-los: secretárias eletrônicas, gravadores, videocassetes, bancos de dados, etc., assim como para enriquecê-lo, permitindo-nos realizar mais de uma coisa ao mesmo tempo (rádio nos carros, CD-players, etc.). Em 1949, o National Institute for Standard and Technology (NIST) aperfeiçoou um relógio que tinha uma defasagem real de um segundo a cada três anos; 40 anos depois, em 1989, o mesmo Instituto, utilizando as vibrações de alguns átomos de berílio resfriado até uma temperatura de 47 milionésimos de grau abaixo de zero absoluto, graças à luz combinada de seis raios laser, construiu um relógio atômico cujo descompasso de um segundo ocorre apenas a cada três milhões de anos.

Mas, em termos de “cultura do tempo”, todo o progresso técnico e social não se traduziu em melhor qualidade de vida: enquanto o tempo à nossa disposição crescia graças à farmacologia, à biologia, à medicina, à higiene e à alimentação; enquanto as horas de trabalho se reduziam, no processo geracional daqueles antepassados que trabalhavam cerca de 120 mil horas, a duração média de uma vida de trabalho não supera as 80 mil horas; e ainda enquanto o nosso tempo de trabalho vago aumentava, registrando dados que no último século passou de 25 mil horas para 260 mil horas numa vida média, insinuava-se, sempre mais inquietadora, a sensação de que, em relação aos nossos avós, o tempo disponível tivesse diminuído e que o “tormento da pressa”, segundo De Masi, tivesse aumentado. Essa sensação e essa preocupação, com todo o estresse e esmorecimento delas derivados, constituem alguns dentre os principais obstáculos à criatividade, sobretudo de tipo sociológico artístico.  O cantor Prince “passou os últimos dias de vida trabalhando em seu estúdio, por seis dias seguidos, sem descanso”.

O artista foi encontrado morto em sua casa, em Paisley Park, aos 57 anos, dentro do elevador que dava acesso ao seu estúdio de trabalho. A autópsia foi realizada, mas a causa da morte não foi confirmada. Maurice Phillips, casado com a irmã de Prince, Tyka, afirmou ao tabloide britânico The Sun, após a cerimônia de cremação, que o cantor “trabalhou por 154 horas seguidas”.  Há exatamente uma semana, Prince visitou a loja de discos Fetus Elétrica, em Minneapolis, em pleno Record Store Day. O funcionário Max Timander revelou à Press Association que “o cantor não estava com uma boa aparência”. Prince saiu da loja com clássicos da música, como “Talking Book”, de Stevie Wonder, “Hejira”, de Joni Mitchell e “Santana IV”, do guitarrista e compositor mexicano Carlos Santana, além de coletâneas de músicas gospel. Prince foi encontrado desacordado no elevador do complexo onde morava e mantinha seu estúdio, em Minneapolis. A causa delicada da morte não foi divulgada, mas o site TMZ (Thirty-mile zone), especializado em celebridades, especula que o guitarrista Prince pode ter sofrido overdose de Percocet, “analgésico forte e altamente viciante”. Segundo as opiniões da crítica, o TMZ sempre foi considerado uma fonte não fiável, ou com pouca credibilidade, que não passava apenas de um sítio de fofocas de celebridades. Seu reconhecimento mundial veio quando o artista Michael Jackson faleceu. O TMZ foi a primeira mídia a divulgar sua morte superando grandes redes de notícias mundiais. Horas mais tarde, a informação foi confirmada e o TMZ se tornou oficialmente uma referência de informações sobre celebridades.

Os homens de uma cultura, pelo seu modo de conhecimento, produzem a cultura que produz seu reconhecimento. A cultura gera os conhecimentos que regeneram a cultura. Ao considerar-se a que ponto o conhecimento é produzido por uma cultura, dependente de uma cultura, integrado a uma cultura, pode-se ter a impressão de que nada seria capaz de poder libertá-lo. Mas isso seria, sobretudo, ignorar as potencialidades de autonomia relativa, no interior de todas aquelas culturas, dos espíritos individuais. Os indivíduos não são todos, e nem sempre, mesmo nas condições culturais mais fechadas, máquinas triviais obedecendo impecavelmente à ordem social e às injunções culturais. Isso seria ignorar que toda cultura está vitalmente aberta ao mundo exterior, de onde retira conhecimentos objetivos e que conhecimentos e ideias migram entre as culturas. Seria ignorar que aquisição de uma informação, a descoberta de um saber, a invenção de uma ideia, podem modificar e transformar uma sociedade, mudar o curso da história.

Assim, o conhecimento está ligado, por todos os lados, à estrutura da cultura, à organização social, à práxis histórica. Sempre por toda parte, o conhecimento científico transita pelos espíritos individuais, que dispõem de autonomia potencial, a qual pode em certas condições sociais e políticas atualizarem-se e tornar-se um pensamento pessoal crítico. Nada, à primeira vista, parece tão fácil como determinar o papel da divisão do trabalho. Acaso seus esforços não são reconhecidos por todos? Por aumentar ao mesmo tempo social a força produtiva e a habilidade do trabalho, ela é condição necessária do desenvolvimento intelectual e material das sociedades; é a fonte da civilização. Como se presta de bom grado à civilização um valor absoluto, sequer se pensa em procurar outra função para a divisão do trabalho. Que ela tenha esse resultado, é o que não se pode pensar em discutir. Mas se ela não tivesse nenhum outro e não servisse a outra coisa, não se teria razão alguma para lhe atribuir um caráter moral. De fato, os serviços que ela presta assim são quase completamente estranhos à vida moral, ou, pelo menos, têm com ela apenas relações muito indiretas e distantes. 

Embora seja corrente responder às diatribes de J.-J. Rousseau com diatribes em sentido inverso, não está em absoluto provado que a civilização seja uma coisa moral. Para solucionar a questão, não se pode referir a análises de conceitos, que são necessariamente subjetivos; seria necessário, conhecer um fato capaz de servir para medir o nível de moralidade média e observar em seguida como ele varia, à medida que a civilização progride. Infelizmente, falta-nos essa unidade de medida, mas possuímos uma para a imoralidade coletiva. Se aliás, analisarmos esse complexo mal-definido a que chamamos civilização, descobrimos que os elementos de que é composto são desprovidos de qualquer caráter moral. Este é o suposto de análise que sustentamos no presente ensaio. De acordo com o site, o avião que transportava Prince após seu último show em Atlanta, no dia 14, precisou fazer um pouco de emergência para socorrê-lo em um hospital após o artista ter ingerido uma dose alta do analgésico. 

A informação contraria a versão divulgada pelos representantes de Prince, de que ele foi tratado por uma forte gripe. Segundo o site TMZ, fontes diversas dizem que Prince “se viciou no remédio após ter um problema no quadril”. Ele teria, inclusive, feito uma cirurgia de correção na região por volta de 2010. O site flagrou Prince no estacionamento de uma rede de farmácias bastante popular nos Estados Unidos da América horas antes de sua morte, no final de tarde de 20 para 21 de abril de 2016. Testemunhas dizem que o cantor aparentava estar mais frágil e nervoso que o habitual. Ele teria ido à farmácia quatro vezes na última semana de vida. A origem das empresas multinacionais remonta ao processo de colonização e de expansão imperialista dos países da Europa Ocidental, iniciado no começo do século XVI, com Inglaterra e Holanda. Durante este período, diversas empresas, como a famosa Companhia Holandesa das Índias Orientais, foram criadas para realizar a comercialização de bens oriundos do Extremo Oriente, da África e das Américas. Todavia, a estruturação das empresas transnacionais como conhecemos hoje surgiu apenas no século XIX, com o advento do capitalismo industrial e o desenvolvimento no sistema fabril, baseado na mecanização intensiva da produção, no desenvolvimento de técnicas de estocagem e na criação de meios de transporte mais rápidos. Na década de 1950, os bancos norte-americanos, europeus e japoneses começaram a investir enormes somas de dinheiro na indústria, encorajando fusões corporativas e promovendo a concentração do capital.

Os grandes avanços tecnológicos no transporte marítimo e aéreo, bem como a informatização e a facilitação dos meios de comunicação propiciaram que as empresas internacionais investissem em países e mercado de comércio internacional, resultando na rápida internacionalização. Enquanto isso, os novos recursos publicitários ajudaram a garantir parcela maior do mercado consumidor às empresas internacionais, ultrapassando os limites territoriais dos países de origem das empresas com a instalação de filiais em países em busca de mercado consumidor de energia, matéria-prima e mão de obra. É muito comum que essas empresas produzam cada parte de produto interno em países diferentes, com o objetivo de reduzir custos de produção. Portanto, essas empresas possuem influência que transcende a economia, pois elas interferem em governos e nas relações internacionais. Estima-se que existam cerca de 50 mil empresas transnacionais. Estas tendências foram determinantes para a consolidação do sistema oligopolista das empresas transnacionais destas empresas no comércio de uma forma nunca antes vista.

Neste sentido, se em 1906, havia duas ou três empresas líderes, com ativos que giravam na cada dos 500 milhões de dólares estadunidenses, em 1971 havia 333 empresas deste tipo, sendo que um terço destas apresentava ativos na casa de pelo menos 1 bilhão de dólares estadunidenses. Aliás, neste período, cerca de 70 a 80% do comércio mundial era controlado e realizado por empresas transnacionais. Durante o último quarto do século XX, evidenciamos uma maciça proliferação de transnacionais. Se em 1970, havia cerca de 7 000 empresas transnacionais com controle acionário, esse número saltou para 38 000, sendo que 90% delas possuem sede nos países ricos e industrializados e controlam mais de 207 mil filiais estrangeiras. Desde o início da década de 1990, as vendas globais destas filiais têm superado as exportações comerciais como principal veículo de fornecimento de bens e serviços aos mercados estrangeiros. A aparente prosperidade das empresas transnacionais é impressionante, pois a maior parcela dentre as 100 maiores empresas do mundo é composta exatamente por estas empresas. Em 1992, as 100 maiores companhias detinham ativos que giravam por volta dos 3,4 trilhões de dólares estadunidenses, dos quais cerca de 1,3 trilhões eram mantidos fora dos seus países de origem. Além disso, as 100 maiores empresas transnacionais representam cerca de um terço do “investimento estrangeiro direto” (IED) de seus países de origem.


Desde meados de 1980, tem havido um grande aumento no investimento direto estrangeiro das empresas transnacionais. Ademais, entre 1988 e 1993, o estoque de IED – que é uma medida da capacidade produtiva das empresas transnacionais fora dos seus países de origem - cresceu de 1,1 para 2,1 trilhões de dólares estadunidenses em valor estimado. Em relação aos países pouco industrializados, também nota-se um aumento no investimento estrangeiro realizado pelas empresas transnacionais, desde meados da década de 1980. Tal investimento, em conjunto com empréstimos bancários privados, cresceu de forma muito mais acentuada do que as ações estatais para o desenvolvimento nacional ou do que os empréstimos bancários multilaterais – aqueles realizados por instituições internacionais como o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial ou sistemas bancários regionais. Os governos dos países “em desenvolvimento”, sobrecarregados pelas dívidas sociais, pela tendência de baixa no preço das comodities, pelo ajustamento estrutural e pelo desemprego, têm visto as empresas transnacionais, nas palavras da revista britânica The Economist, como “personificação da modernidade” e de riqueza, cheias de tecnologia, ricas em capitais e postos de trabalho qualificados.

Como resultado, observa-se, ainda, a tendência dos governos dos países em desenvolvimento de capitalizar cada vez mais o investimento econômico das empresas transnacionais inicialmente por meio da liberação das restrições ao investimento e pela privatização das empresas estatais. Em compensação, as empresas transnacionais veem os países menos industrializados não apenas sob o aspecto de potencial aumento de seu mercado consumidor, mas também como alternativa produtiva em razão dos custos operacionais mais baixos, menores salários e menor regulação ambiental e de saúde que estes países apresentam. Na segunda metade do século XX, ficou clara a relação conflituosa entre empresas multinacionais e o Estado. De um lado, existe o interesse estatal de gerar crescimento econômico, trazer investimento internacional, avanços tecnológicos, empregos e benefícios da atuação de empresas mundiais. Por outro lado, existe a questão da exploração de recursos naturais nacionais, da remessa de lucros para a matriz e de minar o desenvolvimento de empresas nacionais nascentes.

Por serem mundiais, essas empresas conseguem comparar as características de mercado de cada país e analisar a relação de custo-benefício de cada localidade, podendo até barganhar com os governos a instalação de unidades, obtendo condições especiais para atuar. Esse fato econômico gera uma contradição em que existe um favorecimento das maiores empresas no mercado em detrimento de pequenos negócios, levando-os a uma concorrência. A regulamentação das empresas multinacionais no plano internacional é de crescente. A “lógica” de mercado das multinacionais é da maximização do lucro, orientando investimentos pela busca de oportunidades de expansão comercial, aliada à “segurança jurídica” propiciada pela existência de regras contratuais claras e respeitadas por um sistema jurídico eficaz. O Estado tem de competir no mercado internacional para atrair os investimentos estrangeiros para seu território e vice-versa, mesmo que isso implique em fazer concessões passíveis de atingir o consumo do mercado interno, que o Estado deve em tese proteger. Buscam a moralização de condutas das empresas transnacionais, o estabelecimento de igualdade de concorrência e legislação simplificada e fundada no direito internacional. Em substituição das diversas legislações tendem a reequilibrar as desigualdades entre as empresas multinacionais, além da moralização das condutas dessas empresas.

Bibliografia geral consultada.

DANIELSEN, Anne, “His Name was Prince: a study of diamonds and pearls”. In: Popular Music 16 (3): 275-291; 1997; LIGGETT, Lorie, Wounded Knee Massacre - An Introduction. Ohio: Bowling Green State University, 1998; BENNETT, Lerone, Forced into Glory: Abraham Lincoln’s White Dream. Chicago: Johnson Publishing Company, 2000; DE MASI, Domenico, Criatividade e Grupos Criativos. Rio de Janeiro: Editor Sextante, 2003; HÖSLE, Vittorio, O Sistema de Hegel. O Idealismo da Subjetividade e o Problema da Intersubjetividade. São Paulo: Edições Loyola, 2007; HENNION, Antoine, La Passion Musicale. Une Sociologie de la Médiation. Paris: Éditions Métailié. Coll. “Sciences Humaines”, 2007; RONIN, Ro, Prince: Inside the Music and the Masks. New York: Editor St. Martin’s Press, 2011; GRAY, Lewis Cecil, Introduction to Agricultural Economics. Estados Unidos: Editorial Macritchie Press, 2013; GARCÍA CANCLINI, Nestor, Culturas Híbridas: Estratégias para Entrar e Sair da Modernidade. 4ª edição. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2015; DEJOURS, Christophe, Le Choix - Souffrir au Travail n`est pas une Fatalité. Paris: Bayard Éditions, 2015; MOURIM, Roberta, Método Prince: Registros e Análise da Aplicação da Pedagogia de um Mestre sem Diploma. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Música. Centro de Letras e Artes. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, 2015; CLARK, Malissa, “Workaholism: It`s not Just long hours on the Job”. In: Psychological Science Agenda, April 2016; GREENMAN, Ben, Dig if you will the picture: funk, sex, God, and genius in the music of Prince. Nova York: Editor Henry Holt, 2017; MARTINS, Luiz Paulo Leitão, Sujeitos de Verdade: Uma Genealogia do Dizer a Verdade sobre Si na Psicanálise. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Teoria Psicanalítica. Instituto de Psicologia. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2018; VOGEL, Joseph, This Thing Called Life: Prince, Race, Sex, Religion, and Music. London; Oxford: Bloomsbury, 2018; Artigo: “De Jimi Hendrix a Prince: Conheça 7 guitarras icônicas na história da música”. In: https://rollingstone.uol.com.br/02/06/2019; LANA, Jonas Soares, “Crítica Musical e a Significação Social de Gravações de Prince nos Anos 1980”. In: Per Musi, nº 40. Belo Horizonte, 1-18; 2020; SILVA, Samuel Iauany Martins, A Forma da Conversão a Si no Pensamento de Michel Foucault: Ressonâncias d` A Hermenêutica do Sujeito e Questões para a Psicanálise. Tese de Doutorado. Faculdade de Ciências e Letras. Assis: Universidade Estadual Paulista, 2022; entre outros.

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