terça-feira, 30 de novembro de 2021

Patrulheira - Sentinela, Estratégia & Compreensão da Vida Cotidiana.

Contabiliza-se aquilo que é usado, não as maneiras de utilizá-lo”. Michel de Certeau

Uma sociedade seria composta de certas práticas exorbitadas, organizadoras de suas instituições normativas, e de outras práticas, sem-número, que ficaram como menores, no entanto presentes, embora organizadoras de um discurso e conservando as primícias ou os restos de hipóteses institucionais, científicas, diferentes para esta sociedade ou outras, detectada por Michel Foucault (2014), de práticas que produzem efeitos de poder, segundo modos ora minúsculos, ora majoritários entre espaços e linguagens. As patrulhas militares no âmbito da Operação Sentinela ativada em reação aos atentados terroristas em França de 2015 têm como missão a visibilidade dissuasora e a intervenção só em caso de ameaça em curso. Não têm poderes de polícia, como a de pedir identificação ou revistar um carro, por exemplo. – “Não sentimos essa necessidade. A nossa missão é proteger a população e evitar que aconteçam atentados”, sublinhou Jean-Pierre Bosser. Recordou alguns sucessos desse objetivo, como foi o do museu do Louvre, em fevereiro de 2017. O chefe de Estado-Maior do Exército francês alertou para a necessidade de treinar os militares na segurança interna a controlar o seu poder de fogo quando fazem os patrulhamentos. 

O general que falava numa conferência organizada pela Academia Militar, reconheceu que esse era um fator a ter em conta quando se colocam militares, formados para missões no exterior, em patrulhamentos internos, como acontece em França no âmbito da Operação Sentinela, em vigor desde 2015, no âmbito da qual cerca de 8 (oito) mil soldados das Forças Armadas estão empenhados no território nacional na prevenção dita terrorista. Na plateia, estão presentes alguns oficiais de polícia e muitos militares, ouviam atentamente o general falar da experiência francesa nesta matéria, principalmente porque está neste momento em discussão entre o Sistema de Segurança Interna (SSI) e as Forças Armadas a utilização real da composição estratégica de militares em patrulhas de prevenção conjuntas com os polícias, em caso de ameaças graves à segurança nacional, como a terrorista. Embora apenas tivesse dado um único em exemplo de utilização inadequada da arma por parte de militares, salientou que “o empenhamento de militares em território nacional deve ter uma preparação específica e tem um elemento chave que é o domínio do poder de fogo, muito diferente do que é utilizado em missões no exterior”. O general revelou que em França “houve um caso em que um soldado abriu fogo e foi a loucura. Dominar este poder de fogo é fundamental”. 

Oriente Médio é uma região do continente asiático, fazendo fronteira com a Europa e África. É uma das regiões consideradas como “berço das civilizações”, pois foi território de civilizações antigas, como a Mesopotâmia, o Egípcio e o Árabe. O Oriente Médio é delimitado pelos mares Negro, Mediterrâneo, Vermelho, Arábico, Cáspio e pelo Golfo Pérsico, além do Oceano Índico. No final do século XX e começo do século XXI, o Oriente Médio ficou marcado por intensos conflitos envolvendo disputas territoriais, principalmente entre os árabes e os israelitas (cf. Braga, 2006). A maioria das pessoas que habitam esta região é árabe, sendo este, portanto, o idioma mais falado no Oriente Médio. Porém, ainda existem outros povos com seus respectivos idiomas, como os turcos (que falam o turco), os judeus (que falam o hebraico) e os persas (que falam farsi), um idioma do subgrupo das línguas iranianas, que por sua vez pertencente ao ramo indo-iraniano da grande família indo-européia. O Oriente Médio é no debate historiográfico, uma das regiões importantes, considerada como “berço das civilizações”, pois foi território de civilizações antigas, como a Mesopotâmia, o Egípcio e o Mundo Árabe, constituído por 22 países e territórios com uma população combinada de 360 milhões de pessoas abrangendo o Norte de África e a Ásia Ocidental. Outro destaque no plano social importante desta região está no âmbito religioso, pois o judaísmo, o cristianismo e o islamismo – algumas das doutrinas mais expressivas do mundo – teriam surgido no Oriente Médio. Aliás, no âmbito religioso, a maioria das pessoas que habitam o Oriente Médio, é muçulmana, que podem estar subdivididas em seitas, como os sunitas, xiitas, drusos, alauitas, etc. No contexto econômico é reconhecido por ser o maior detentor de petróleo com 65% do petróleo existente no planeta está localizado sob os solos desta famosa região.


Para tratarmos do tema “orientalismo”, comumente utilizado para definir o estudo constituído por todas as sociedades fora do contexto ocidental, da cultura global europeia, – utilizamos a noção “pós-orientalismo”. Por duas razões: a) É correlata à filosofia dita pós-moderna; b) Trata-se de um eclético e elusivo movimento social caracterizado por sua crítica à filosofia ocidental. Começando como um movimento de crítica da filosofia Continental, foi influenciada fortemente pela fenomenologia, pelo estruturalismo e pelo existencialismo. Sofreu influências, também, em certo grau associado ao positivismo da filosofia analítica de Ludwig Wittgenstein. Para a maior parte dos pensadores, a filosofia pós-moderna reproduz a volumosa literatura da teoria crítica. Outras áreas de produção incluíram a “desconstrução” e as diversas áreas que começam com o prefixo “pós”, como o “pós-estruturalismo”, o “pós-marxismo” e o “pós-feminismo” também utilizado para designar a familiaridade por artistas e criadores ocidentais de elementos, descrições ou imitações culturalmente conotadas com as culturas ditas orientais. Popularizado como um campo de estudo desde o século XVIII, mas tendo adquirido particularidades institucionais a partir do colonialismo do século XIX, o orientalismo estudava, sem distinções, um vasto grupo humano vulgarizado pela designação “mundo árabe” e mesmo a África, em alguns casos. O orientalismo ratificou a hipótese colonialista da inferioridade racial e cultural de todas as civilizações não europeias. O seu objetivo, não assumido, foi à busca da justificação do processo de dominação imperialista através do discurso de redenção dos povos ditos “primitivos, inferiores e subdesenvolvidos” que tem origem na antropologia colonialista. 

O Oriente, sociologicamente falando, é uma entidade autônoma dotada de múltiplas identidades com suas respectivas localizações territoriais. O que seria então esse Orientalismo cuja definição permite afirmar que o Oriente é uma invenção do Ocidente? Segundo Edward Said (1990) esse conceito tem diversos significados, mas que de modo geral reflete a forma específica pela qual o Ocidente europeu reproporiam ao nível ideológico e cultural a designação do que é o Oriente. Assim, o Orientalismo não necessariamente estabelece uma relação dialética e real de identificação real com o Oriente e sim, inversamente é a ideia que o Ocidente faz dele. Nesse sentido o Oriente ajudou a definir a Europa ou o Ocidente de forma transcendente com sua imagem, ideia, personalidade e experiência contrastantes. O Oriente na visão do Orientalismo então é o “lugar do exótico”. Analiticamente precisamos tornar do ponto de vista teórico, prático e afetivo o exótico em familiar.  Trata-se do lugar de análise do não civilizado, da barbárie, do oposto, do diferente, do inimigo, do Outro. Além dessas características sociais que constituem o estereotipo do Oriente criado pelo Ocidente existe um marco na história das ciências que contribuiu para que o Oriente também fosse considerado um lugar atrasado, menos evoluído, e, em seu desenvolvimento, incivilizado. 

A definição de civilização baseada na análise comparada teve origem também no Iluminismo. Através do empirismo e posteriormente da importação “de fora para dentro”, da teoria evolucionista de Charles Darwin pelas ciências humanas. Que adotaram por muitos anos essa ideia da “escala evolutiva da sociedade”. Assim, comparativamente como o ser humano evoluiu, em termos biológicos, de um ancestral primata até o Homo Sapiens, a sociedade evolui também de forma que, uma sociedade anterior a concepção atual é inferior, menos evoluída do ponto de vista de sua formação e desenvolvimento social, como ocorre no discurso antropológico evolucionista de Lewis Morgan à Friedrich Engels etc. Assim ocorreu durante o “imperialismo europeu” e assim também ocorre hoje em dia com o “imperialismo norte-americano” tentando implantar com a força das armas seu modelo de democracia no Oriente para justificar suas ações políticas. Essa justificativa baseia-se sempre em um modelo de sociedade religiosa que tenta ser imposto aos outros povos como “aparentemente superior”, ou melhor, do que o deles. Aconteceu na historia nas Cruzadas, na Expansão Marítima, no Holocausto e ocorre nas invasões e massacre dos Estados Unidos da América em sua fase “superior do imperialismo”, para lembramos de V. I. Lênin, aos países e povos secularizados através de e na cultura do Oriente Médio.

Kurylenko nasceu em Berdiansk, na República da Ucrânia na União  Soviética. Seu pai, Konstantin Kurylenko, é ucraniano, e sua mãe, Marina Alyabysheva, que ensina arte e é artista expositora, nasceu em Irkutsk Oblast, na Rússia, e é de ascendência russa e bielo-russa. Seus pais se divorciaram quando ela tinha três anos e ela foi criada por sua mãe. Kurylenko raramente teve contato com o pai, encontrando-o pela primeira vez depois da separação quando ela tinha oito anos, e depois quando ela tinha treze anos. A atrizfoi descoberta por uma modelo feminina enquanto estava de férias em Moscou, aos 13 anos de idade. Com 15 anos, ela se mudou da Ucrânia para Moscou. Aos 16 anos ela se mudou para Paris, em 1996, ela assinou um contrato com a agência de modelos Madison, em Paris, onde conheceu sua publicista, Valérie Rosen. No ano seguinte, aos 18 anos, ela apareceu nas capas das revistas Vogue e Elle. E também nas capas das revistas Madame Figaro e Marie Claire. Ela se tornou o rosto das marcas Bebe Clarins e Helena Rubinstein. Ela também modelou para Roberto Cavalli e Kenzo apareceu no catálogo da Victoria`s Secret fundada em 1977 por Roy Raymond, uma espécie de Hugh Hefner da lingerie. Sua carreira cinematográfica começou na França em 2005.

O primeiro credito ocorreu no filme L`Annulaire (2005), e também estrelou em Je t`Aime, Quartier de la Madeleine (2011), contracenando com Elijah Wood. Nesse ano foi selecionada para ser o rosto da nova fragrância de Kenzo, Kenzo Amour. Ela também modelou para Roberto Cavalli e Kenzo. Em 2007, ela estrelou em Hitman ao lado de Timothy Olyphant, mais tarde ela interpretou a Bond Girl, Camille Montes no filme Quantum of Solace (2008), depois de derrotar Gal Gadot nas audições, papel que gerou a ela projeção internacional, e um status social de sex symbol. Neste filme, sequência direta de Casino Royale, James Bond luta contra o rico empresário Dominic Greene, membro da organização Quantum que finge ser um ambientalista, mas planeja armar um golpe militar na Bolívia para assumir o controle político das reservas de água do país. Procurando vingar-se pela morte de Vesper Lynd, Bond recebe ajuda de Camille Montes, que também procura vingança. Ela foi destaque na capa de dezembro em 2008, na edição norte-americana da revista Maxim e na capa da edição de fevereiro de 2009 da edição ucraniana da Maxim. Kurylenko apareceu no filme de Terrence Malick, To the Wonder (2012) com Ben Affleck. E também em Oblivion (2013), um filme de ficção científica estrelado por Tom Cruise e dirigido por Joseph Kosinski.

A atriz Olga Kurylenko se entrega à personagem militar, subtenente Karla, nos  movimentos estratégicos de ação, violência, drama ou eróticos. Após traumas vividos no Oriente Médio e viciada em “Opioides”, é realocada na Operação Sentinela em Paris, o intuito dos superiores, é deixá-la mais perto da mãe e da irmã. Contudo, já na  chegada, sua irmã sofre a violência física: um estupro de um estúpido magnata russo.   Após a contextualização do Oriente como “invenção” do Ocidente dentro desta forma de conceber o Oriente, chamada “Orientalismo”, Said (1990) aborda o conceito em três diferentes aspectos sociais. O Orientalismo acadêmico, imaginativo e histórico. Portanto, raça é um conceito que não corresponde a nenhuma realidade natural que diz respeito somente ao mundo social. Sendo, portanto um constructo ideológico e cultural, desenvolvido com o objetivo de promover identidades estanques e manejáveis. A estratégia ideológica por trás do discurso racial (cf. Brandão, 2020) é o de reforçar papéis de dominação por meio da diferenciação e hierarquização arbitrárias. O conceito de raça representa uma forma de naturalizar concepções equivocadas sobre as relações entre grupamentos humanos. Mas também está profundamente arraigado no comportamento social real. O “orientalismo imaginativo” é uma forma de pensar o Oriente e, diferente do conceito ainda precário, no modo de analisar pautado em determinado método, e na relação real da produção acadêmica e o que é transmitido ao senso comum, ao conhecimento geral, ao imaginário individual e coletivo de uma sociedade determinada.

O Relatório Mundial sobre Drogas 2020 divulgado pelo United Nations Office on Drugs and Crime demonstra que cerca de 269 milhões de pessoas usaram drogas no mundo em 2018.  Com sede em Viena, na Áustria, está presente em todas as regiões do mundo por meio de seus programas globais, conta com 2.500 funcionários e uma rede de escritórios de campo em 80  países. O Relatório baseia seu trabalho nas três convenções internacionais de controle de drogas, nas convenções contra o crime organizado transnacional e contra a corrupção e nos  instrumentos internacionais contra o terrorismo. O objetivo institucional é de tornar o mundo mais seguro contra a droga, o crime organizado, a corrupção e o terrorismo, combatendo essas ameaças para alcançar saúde, segurança e justiça para todos e promovendo a paz e o bem-estar sustentável. Enquanto a cannabis foi a substância mais consumida no mundo em 2018, com uma estimativa de 192 milhões de pessoas que a usaram, os opioides, no entanto, continuam sendo os mais nocivos, pois na última década o número total de mortes por transtornos associados ao uso de opioides teve alta de 71%, com aumento de 92% entre as mulheres, comparado com 63% entre os homens. O uso de drogas aumentou muito mais rapidamente entre os países em desenvolvimento, durante o período 2000-2018, do que comparativamente nos países chamados de desenvolvidos. Adolescentes e jovens representam a maior parcela de consumo daqueles que usam drogas, enquanto os jovens também são os mais vulneráveis aos efeitos específicos das drogas, pois são os que mais consomem e seus cérebros ainda estão em processo de desenvolvimento.

O Relatório baseia seu trabalho nas três convenções internacionais de controle de drogas, nas convenções contra o crime organizado transnacional e contra a corrupção e nos instrumentos internacionais contra o terrorismo. O objetivo institucional é de tornar o mundo mais seguro contra a droga, o crime organizado, a corrupção e o terrorismo, combatendo essas ameaças para alcançar saúde, segurança e justiça para todos e promovendo a paz e o bem-estar sustentável. Os norte-americanos são os maiores consumidores de maconha e cocaína do mundo, apesar da legislação repressiva adotada nos Estados Unidos da América, revela um estudo realizado em 17 países. Segundo o estudo, dirigido por pesquisadores da Universidade de New South Wales, em Sidney, Austrália, 16,2% dos norte-americanos já consumiram cocaína ao menos uma vez, enquanto que em análise comparada 42,4% já fumaram maconha. O estudo é baseado em dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). Os neozelandeses aparecem na segunda posição entre os consumidores de entorpecentes, com 4,3% para cocaína e 41,9% para maconha. A pesquisa, realizada com 54.068 pessoas, representou o perfil estatístico do principal consumidor de drogas: jovem adulto, do sexo masculino, com alta renda e solteiro ou divorciado. O consumo “não parece ter uma relação direta com as políticas nacionais de repressão às drogas”, afirmaram os pesquisadores. De fato, “os países com uma legislação mais rigorosa não registram um menor consumo do que nações mais tolerantes”. A Holanda é um quase perfeito exemplo, baseado em conquistas de cidadania, política liberal em matéria de entorpecentes, têm apenas 1, 9% de consumidores de cocaína e 19, 8% de maconha.

Enquanto a cannabis representou a substância mais consumida no mundo em 2018, com uma estimativa de 192 milhões de pessoas que a usaram, os opioides, no entanto, continuam sendo os mais nocivos, pois na última década o número total de mortes por transtornos associados ao uso de opioides teve alta de 71%, com aumento de 92% entre as mulheres, comparado com 63% entre os homens. Um opioide é qualquer composto químico psicoativo que produza efeitos farmacológicos semelhantes aos do ópio ou de substâncias nele contidas. Também inclui os opiáceos. Os opioides agem sobre receptores opioides, com efeitos similares aos da morfina. O uso de drogas aumentou mais rapidamente entre os países em desenvolvimento, durante o período 2000-2018, do que nos países desenvolvidos. Adolescentes e jovens representam a maior parcela daqueles que usam drogas, enquanto os jovens também são os mais vulneráveis aos efeitos das drogas, pois são os que mais consomem e seus cérebros ainda estão em desenvolvimento. Embora o impacto das leis que legalizaram a cannabis em alguns países ainda seja difícil de avaliar, é notável que o uso frequente da cannabis aumentasse per se nessas  áreas após a legalização do consumo. Em alguns desses países, os produtos mais potentes da cannabis também são mais comuns no mercado. A cannabis também continua sendo a principal droga que coloca as pessoas em contato com o sistema de justiça criminal, respondendo por mais da metade dos casos de infrações à lei de drogas, com base em dados de 69 países, no período de  2014 a 2018. O Relatório também aponta que os países de baixa renda ainda sofrem com a escassez de opioides farmacêuticos, usados para controle da dor e cuidados paliativos.

As apreensões dos Estados Unidos da América custam aos traficantes dezenas de milhões de dólares. Mais de 90% de todos os opioides farmacêuticos disponíveis para consumo médico encontravam-se em países de alta renda em 2018, compreendendo em torno de 12% da população mundial. Os opioides estão entre as drogas mais antigas do mundo: o uso terapêutico da papoula do ópio é anterior à história documentada. Os efeitos analgésicos dos opioides se devem a uma diminuição da percepção da dor, ou seja, a uma maior tolerância à dor. Os efeitos colaterais dessas substâncias incluem sedação, depressão respiratória, obstipação e um forte sentimento de euforia. Podem causar a supressão da tosse - sendo efetivamente empregados na prática clínica com essa finalidade, mas, ao mesmo tempo, a ação antitussígena pode ser considerada um efeito colateral indesejado. O paciente pode desenvolver dependência no tratamento, seguindo-se a síndrome de abstinência se o uso for interrompido repentinamente. A euforia produzida por elas é, todavia, um dos principais motivos para o uso social não médico dessas substâncias, com eventual abuso e dependência. A estimativa estatística é de que os países considerados dentro de baixa e média renda, que   compreendem os 88% da população mundial, consumam menos de 10% de opioides   farmacêuticos. O acesso de consumo aos opioides farmacêuticos depende de vários fatores   sociais e políticos, incluindo legislação, cultura, sistemas de saúde e práticas de prescrição.

Neste sentido vale uma digressão conceitual. Os próprios reclamos da imprensa dominante norte-americana foram atropelados pelo atentado terrorista de 11 de setembro às torres do World Trade Center (WTC) e, a partir de então, Bush filho comprometeu-se com a missão de “vingar o pai que não conseguira na outra Guerra do Golfo (1991) retirar Saddan Hussein do poder, no Iraque”. Cercado de assessores fundamentalistas, comprometido tanto com a indústria do petróleo quanto com a de armamentos, George W. Bush, que escapara do serviço militar, agora vai à guerra (2003), disposto a impor a sua vontade, sobretudo após o ataque ao povo afegão, a substituição de governo no Afeganistão e a insatisfatória resposta a Osama Bin Laden (1957-2011), um exilado responsabilizado pelo ato de 11 de setembro de 2001. Para nós, política é regulação da existência coletiva, poder decisório, luta entre interesses contraditórios, disputa por posições de mundo, confrontos mil entre forças sociais, violência em última análise. Só que a produção política (os processos políticos) se diferencia radicalmente da produção econômica porque usa eventualmente suportes materiais, tais como armas, livros, processos, papéis onde se inscrevem as ordens, os atos de gestão, as sentenças ou as leis, mas não é uma produção material. Porque consiste em decisões imperativas. Assim, é também diferente da produção simbólica porque se exercita sobre o interesse dos agentes sociais, quando não sobre o seu próprio corpo; corresponde a atos de vontade que regulam atividades coletivas; disciplina práticas sociais.

Não produz mensagens, discursos; produz obediências, obrigações, submissões, direitos, deveres, controles. Poder é uma relação social: de mando e obediência. As decisões tomadas politicamente se impõem a todos num dado território ou numa dada unidade social. Convertem-se em atividades coercitivas (esfera da segurança), administrativas (esfera da administração), jurídico-judiciárias (esfera da justiça) e legislativas (esfera da deliberação). O Estado de exceção tornou-se prática frequente entre as nações contemporâneas, atingindo desde o 3º Reich até o USA Patriot Act referido nos editorias em português como “Lei Patriótica”. O fracasso da busca por provas contundentes de armas de destruição em massa, cuja existência assegurou o argumento em defesa da guerra contra o Iraque, foi apoiada em documentos falsificados e fontes inconsistentes e sombrias, como ficou confirmado com os escândalos tanto no Parlamento inglês, onde foi solicitada a deposição do premier Tony Blair [que respondeu “em silêncio”], ou ainda, sobre a “culpa” de “acusação falsa” contra o Iraque, da Casa Branca e CIA, conforme o artigo publicado no jornal El País intitulado “Casa Branca e CIA culpam-se mutuamente sobre acusação falsa contra Iraque” (12.07.2003).

Estamos diante do mito de banhos de sangue que para a gramaticalidade do linguista Chomsky e Herman (1975), a partir da guerra do Vietnã, explica porque se deve continuar a matar em grande escala. Mas isso só foi possível com a passagem da produção de massa e da economia de mercado para as sociedades de conhecimento baseadas na informação e comunicação. Com a generalização dos conflitos aparentemente iniciados com os atentados ao Word Trade Center (WTC) e Pentágono, amplamente divulgados pela mídia norte-americana e de resto na Europa, refletimos noutra oportunidade, não propriamente sobre a questão de uma nova guerra no Afeganistão, mas sobre duas ou três noções correlatas que nestes dias escapam ao gravíssimo problema dos dispositivos discursivos editados na e pela informação globalizada. A palavra terrorista, em primeiro lugar, não pode, de certo, ter reconhecimento para o confronto de entidades terroristas de manutenção das tradições e sobre ocupações de terra, historicamente constituído. A maioria dos estudiosos erra quando considera um ato terrorista isolado, praticado por um grupo religioso fanático. E concordar com a ideia de que derrubar o WTC é um ato de guerra histórico equivalente ao que ocorreu em Saravejo em 1914 é, conforme entendemos, apressado. Difícil concordar ainda, como alguns afirmam, que em New York explodiu a primeira guerra da globalização. Nada! NY construiu o que a etnologia de Marc Augé problematizou como “ego ficcional”. Isto é, cúmulo de um fascínio que se aciona em toda relação social exclusiva com a imagem, é “um ego sem relações” (“est un moi sans relations”) e, sem suporte identitário, suscetível de absorção pelo mundo de imagens onde ele pensa poder reencontrar-se e reconhecer-se.

De outra parte, o sociólogo Slavoj Žižek denominou-o de “fantasia paranóica americana máxima”, isto é, um paraíso consumista, onde um indivíduo percebe um espetáculo encenado para convencê-lo de que ele vive em um mundo real. Exemplo: O filme “Tempo Fora dos Eixos” (“Time Out of Joint”). Na década de 1960, em segundo lugar, uma canção de Dylan, “Subterranean Homesick Blues”, quando ela diz: “Não é preciso um meteorologista para dizer de que lado sopra o vento...”. (“You don`t need a Weatherman to Know which way the wind blows”) inspirou um movimento da juventude norte-americana que se propunha a destruir a sociedade pela violência. O movimento surgiu como a facção militante dos 40 mil estudantes da Studentes Democratic Society (SDS). No Congresso nacional e histórico do SDS em Chicago (1969) essa facção tornou-se dominante e conseguiu expulsar os marxistas não-violentos. Adotaram uma política de violência imediata com o nome Weathermen e foram os autores de bombas atiradas em bancos, tribunais, universidades etc. Análises importantes, todavia provisórias, têm sido feitas a respeito, no caso dos Estados Unidos da América.

O primeiro talvez a chamar a atenção, naquele momento, tenha sido o escritor Gore Vidal, talvez melhor que os autores de “Bains de Sang Constructifs dans le Sang et la Propagande” (1975) ainda que estes tenham demonstrado até que ponto o governo dos Estados Unidos anteriormente tenham se envolvido em crimes praticados na Guerra do Vietnã. Ipso facto, Vidal divulgou no jornal El País (Madri) parte do conteúdo das cartas-correspondências que mantinha com o terrorista norte-americano Timothy, pouco antes da violência letal atribuída ao Estado. Dizia ele - contra o terror de Estado, - que melhor teria ocorrido ao terrorista explodir bombas para efeito simbólico de destruição de prédios, sem vítimas, p. ex., o próprio Pentágono. No que se refere ao confronto contra os afegãos e a utilização de imagens, como sabemos, o Corão proíbe a reprodução de figuras humanas e sagradas. Para os fundamentalistas, a interdição, realizada há 1.300 anos, vale para fotos e imagens transmitidas pela TV. Porque querem preservar, a todo custo, o que construíram: as regras e normas do islamismo professado por Maomé. Embora o país tenha sido devastado nos últimos 200 anos por uma dezena de conflitos, três guerras contra a Inglaterra até sua Independência em 1919, um golpe de Estado que derrubou o rei em 1973, e ainda, em 1979 a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), devastou o país permanecendo em guerra por consecutivos dez anos. Quando estes foram expulsos, assumiu o poder a milícia islâmica Taliban, que significa estudante, no dialeto pashto, a segunda língua da região.

O grupo foi criado em 1994 por um movimento estudantil radical. O “império” americano realizou uma guerra longa contra o Afeganistão como anunciaram pela mídia. No caso do Iraque, nestes dias e em termos de submissão das vontades, a guerra foi considerada “rápida” na contabilidade americana porque culminou com a morte de dez mil militares, aproximadamente três mil civis e dezesseis jornalistas em pouco mais de vinte dias. Daí a terceira questão e breve, que diz respeito a duas definições weberianas entrelaçadas ao espírito do capitalismo. Todavia trata-se apenas de uma intuição. Max Weber (2003) em 1904/05 afirmava o seguinte: Ninguém sabe ainda a quem caberá no futuro viver nessa prisão, ou se, no fim desse tremendo desenvolvimento, não surgirão profetas inteiramente novos, ou um vigoroso renascimento de velhos pensamentos e ideias, ou ainda se nenhuma dessas duas - a eventualidade de uma petrificação mecanizada caracterizada por esta convulsora espécie de auto-justificação (“sich-wichtig nehmen”). O fato é que estes últimos homens poderiam ser designados de acordo com Max Weber, como “especialistas sem espírito, sensualistas sem coração, nulidades que imaginam ter atingido um nível de civilização nunca antes alcançado”. E em contraposição, o conceito de carisma, que particularmente refere-se a faculdades mágicas, revelações ou heroísmo, poder intelectual ou de oratória.

O sempre novo, o extracotidiano, o inaudito e o arrebatamento emotivo que provocam constituem a fonte da devoção pessoal. Representam eles a dominação do profeta, do herói guerreiro e do grande demagogo. É uma relação social especificamente extracotidiana e puramente pessoal. O pressuposto indispensável para isso é “fazer-se acreditar”. Se “lhe falha o êxito, seu domínio oscila”. A impressão que temos diante da mídia norte-americana e de resto na Europa, para não falarmos no Brasil, quanto ao nome de bin Laden [bin em letra minúscula significa “filho de” é que, como justificativa para o fim da economia de guerra - ou a chamada “guerra fria”, os conflitos mundiais perderam sua matriz político-ideológica e ganharam desde a guerra contra o Golfo Pérsico (1991) mediações culturais e religiosas, de “suposta” rivalidade entre emblemas como Ocidente e Oriente, entre cristãos, judeus e islâmicos. Ele assim [bin Laden] passa a ser o que o sociólogo Max Weber intuiu: “não surgirão profetas inteiramente novos?”. Um exemplo sobre o gravíssimo problema dos dispositivos discursivos editados na e pela informação globalizada. A pergunta é que saber se forma a partir daí e deste ponto de vista abstrato, revelar a vontade de saber que lhe serve ao mesmo tempo de suporte e instrumento. Interessa-nos levar em consideração, quem fala, os lugares e os pontos de vista de que se fala, as instituições que incitam a fazê-lo, que armazenam e difundem o que se diz sobre o fato discursivo global. Mark Bowden e sua imersão jornalística no ideário europeu e norte-americano são um típico exemplo.

Os episódios de 11 de setembro em Nova Iorque fora de dúvida recolocaram em pauta o conceito de “guerra justa”, pragmaticamente pensado como autodefesa. Diante da ineficácia simbólica, da ideia de “guerra limpa”, “guerra tecnológica”, onde não haveria mais “banhos de sangue” a ser exibido, nem combate “corpo a corpo”. Em verdade este conceito foi elaborado pela cristandade ocidental no século XII, a partir da expansão da sociedade europeia ocidental através das lutas contra os hereges, das investidas das cruzadas e da criação da Inquisição. De modo que, “estamos diante de um embate ideológico travado no interior da teologia política ocidental que percorreu vários séculos”. A ideia de “guerra justa” também pode ser admitida como uma “guerra contra os infiéis”, erigida a partir do expansionismo da igreja romana, católica, no qual as Cruzadas politicamente condensaram toda a sua magnitude religiosa. Situa-se neste enquadramento ideológico a expansão marítima e colonial da cristandade europeia para a América, Ásia e África, a partir do século XVI, num quadro político onde a escravidão e o tráfico de escravos de nações africanas e indígenas não devem ser esquecidos.

Para os que nos interessa, a ideia de “guerra justa” implicou como implica uma absolvição moral da guerra e daqueles que a decidem e praticam”. Mas decidem, em primeiro lugar, porque a guerra hoje é vista pelo espelho emocional das sociedades. A televisão amplifica a personalização exacerbada dos comportamentos. E para um líder político, o virtual permite mostrar um tipo particular de proteção: a imunidade midiática. E em segundo lugar porque o novo império, é uma empresa plutocrática que exerce poder simbólico sobre a sociedade civil mundial e propõe-se a administrar e hierarquizar as diferenças numa economia geral de comando. Daí que a radicalização política ocorre de forma mais aguda na década de 1990. Os fatores que contribuíram para tal fato foram, o fim da política internacional de “equilíbrio entre blocos”, representado, no plano simbólico, pela queda do Muro de Berlim, que havia garantido, bem ou mal, que os conflitos permanecessem confinados em fronteiras imaginárias, ou seja, para que a guerra imperialista fosse percebida como “localizada”. A velocidade com que ocorreu o desmantelamento do bloco socialista deveu-se a uma conjunção de variáveis desfavoráveis à articulação de um novo “equilíbrio”.

Estas variáveis desfavoráveis representaram, de um lado, os governos republicanos nos Estados Unidos articulados em torno de Reagan e Bush, pai – meados da década de 1980 e meados da década dos anos 1990. Estes governos desancaram a voracidade expansionista e o exclusivismo do “império”, impedindo, inclusive a formação da Comunidade de Estados Independentes (CEI) na extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas proposta por Mikhail Gorbachev. Com receio dos partidos comunistas do Iraque e do Irã, por exemplo, que eram organizações políticas fortes até o início do processo de distensão política na região, apoiaram (militarmente) forças políticas ligadas a grupos fundamentalistas islâmicos, até então minoritários em vários países asiáticos (dentre eles o Irã e o Iraque). De outro lado, a eleição de João Paulo II designada como “papa polonês” da Igreja Romana, deu uma guinada à direita na inserção política da cristandade ocidental e interferiu diretamente na velocidade do desmantelamento do bloco socialista na Europa oriental, e da Polônia, dificultando uma repactuação política em termos internacionais. Foi muito mais fraco o tom, para não falar em omissão, do Papado Romano na condenação moral das carnificinas entre cristãos grego-ortodoxos e os povos muçulmanos nos Bálcãs.

Mesmo no conflito palestino-israelense a omissão ronda a presença do Vaticano. Também na América Latina, os efeitos desta guinada fizeram-se presentes, através do esvaziamento político da Teologia da Libertação, com desdobramentos significativos, sendo o caso da Nicarágua o mais emblemático. Estes episódios demonstram porque o genocídio, a vitimização de civis seja pela guerra convencional, seja pela guerra de guerrilha ou pelo terrorismo, e a tortura, começaram a ganhar a condenação moral da sociedade civil internacional, que vem reclamando, no tempo presente, por um Tribunal Penal Internacional. Porque tem sido importante declarar direitos universais que devem ultrapassar as barreiras dos Estados constituídos. E, além disso, retomar o conceito de dignidade humana e dos direitos civis fundamentais que se constituem como sua garantia, como condição para a consolidação de uma vida estável e digna de ser vivida em todo o planeta. Do ponto de vista conceitual o vocábulo sentinela tem sua origem  na palavra italiana sentinella que, por sua vez, provém do verbo ouvir ou perceber.

Assim, sentinela é a pessoa que tem a função de vigiar os outros e estar atento a qualquer perigo ou ameaça, real ou imaginária. Por este motivo, é um termo que se utiliza primordialmente na esfera de influência militar. A estratégia militar exige um complexo sistema de organização. Um elemento fundamental é a segurança das tropas que formam um corpo militar. Neste contexto de segurança, a sentinela cumpre com uma missão específica: vigiar e advertir qualquer tipo de perigo que seja possível. O indivíduo que realiza esta função é normalmente uma figura ideal do soldado que durante um tempo determinado se coloca em posição estratégica para ter amplo campo de visão. Na segunda metade do século XVIII: o soldado se tornou algo que se fabrica; de uma massa informe, de um corpo inapto, fez a máquina de que se precisa; corrigiram-se aos poucos as posturas: lentamente uma coação calculada percorre cada parte per se do corpo, assenhoreia-se dele, dobra o conjunto, torna-o perpetuamente disponível, e se prolonga, em silêncio, no automatismo dos hábitos (cf. Foucault, 2014); em resumo, foi “expulso o camponês” e lhe foi dada a “fisiognomia de soldado”. O rosto seduz de forma mais segura e ainda mais sutil do que as palavras. O rosto é objeto de um trabalho pessoal, indispensável à conversão e ao comércio entre os homens.

Manuais de retórica, obras de fisiognomonia, livros de civilidade e artes de conversação lembram incansavelmente do século XVI ao XVIII que o rosto está no centro das percepções de si, da sensibilidade ao outro, dos rituais da sociedade civil, das formas do político. Trata-se de um privilégio antigo que reveste, porém, uma nova tonalidade a partir do início daquele século. Todos esses textos dizem e repetem que o rosto fala. Ou, mais precisamente, que pelo rosto é o indivíduo que se exprime. Um laço se esboça e depois é traçado, segundo Courtine & Haroche (2016: 10-11) mais nitidamente entre sujeito, linguagem e rosto, um laço crucial para a elucidação moderna. As percepções do rosto são lentamente deslocadas, as sensibilidades à expressão se desenvolvem progressivamente. É um dos traços físicos essenciais do avanço do individualismo nas mentalidades. Um “individualismo de costumes” que Philippe Ariès atribui a um processo social geral de privatização que vai transformar profundamente a identidade individual entre estes últimos séculos e reconfigurar de maneira paradoxal as relações entre comportamentos públicos e privados: o que vai, por um lado, afirmar a proeminência do indivíduo e incitar a expressão pessoal. O indivíduo é, em diante, indissociável da expressão singular de seu rosto, com uma tradução corporal de seu eu íntimo. Mas, por outro lado, esse mesmo movimento que o incita a se exprimir leva-o ao mesmo tempo a se apagar, a mascarar o seu rosto, a encobrir sua expressão.

As sentinelas ficam situadas em pontos específicos no exterior dos quartéis e costumam proteger-se das inclemências do tempo e espaço no interior de uma guarita. Obviamente, este soldado deve permanecer corretamente uniformizado e armado. Deve-se ressaltar a importância do papel da sentinela sob a ótica militar, pois o mesmo cumpre também uma função comunicativa através de sua presença e por estar sempre pronto para defender o quartel de qualquer eventualidade. Se a sentinela não cumprisse com essa função certamente o recinto militar ficaria desprotegido e suscetível a ataque. Fora do campo militar é possível também empregar o conceito sentinela em um sentido figurado. Isso acontece com as várias passagens da Bíblia e que “aparecem como sinônimo de guarda”. Por exemplo, os querubins são descritos como guardiões da árvore da vida e o arcanjo Miguel tem a incumbência de cuidar do corpo de Moisés. A figura do profeta Ezequiel também cumpre essa função como sentinela do “seu povo”, o nome Ezequiel significa em hebraico “Deus é minha fortaleza”. Desta maneira, a ideia de sentinela na Bíblia tem o papel de guardião em um sentido simbólico de expiação.

Klara, representada pela atriz Olga Kurylenko, é uma militar disciplinada, destacada em algum lugar do Sahel, que designa os países da África ocidental, para os quais existe um complexo sistema de estudos da precipitação. Ao longo da história social da África, o Sahel assistiu à sucessão de alguns dos mais avançados reinos africanos, que beneficiaram do comércio através do deserto, reconhecidos como Reinos Sahelianos, na região meridional da África, onde as tropas francesas combatem o terrorismo e o extremismo na região. Após presenciar uma explosão, ela é enviada de volta para casa, em Paris, onde passa a patrulhar as ruas no combate ao terrorismo na capital francesa. Após uma festa com sua irmã, Tânia (Marilyn Lima), Klara recebe uma ligação telefônica dizendo que sua irmã sofrera uma violência e que estava em coma no hospital. Assim começa uma estratégia de honra da militar, que não vai até Nice apenas para “fazer justiça com as próprias mãos”. Mais do que isso. Etnograficamente segundo Foucault, o soldado, é antes de tudo, alguém que se reconhece de longe; que leva os sinais naturais de vigor e coragem, as marcas também de seu orgulho: seu corpo é o brasão de sua força e de sua valentia: e se é verdade que deve aprender aos poucos o ofício das armas – essencialmente lutando – as manobras como a marcha, as atitudes como o porte da cabeça se originam, em boa parte, da retórica de honra.

O Sahel, do árabe ساحل, sahil, que significa “costa” ou “fronteira” é uma faixa de 500 a 700 km de largura, em média, e 5 400 km de extensão, entre o deserto do Saara, ao norte, e a savana do Sudão, ao sul; mas também entre o oceano Atlântico, a oeste, e ao mar Vermelho, a leste. O Sahel atravessa os seguintes países de oeste para leste: Gâmbia, Senegal, a parte sul da Mauritânia, o centro do Mali, norte do Burquina Fasso, a parte sul da Argélia, Níger, a parte norte da Nigéria e dos Camarões, a parte central do Chade, assim como a região do centro e sul do Sudão, o norte do Sudão do Sul e a Eritréia. Eventualmente, são incluídos também a Etiópia, o Djibuti e a Somália. Constitui uma zona de transição fundamental entre a ecozona paleoártica e a ecozona afro-tropical, ou seja, entre a aridez do Saara e a fértil da savana sudanesa sentido norte-sul. É região fitogeográfica dominada por vegetação de estepes que recebe uma precipitação entre 150 e 300 mm por ano. É protegida por um cinturão verde constituído por uma flora diversificada, que a protege dos ventos do Saara. Mas, o Sahel tem sido atingido também por períodos de seca. Entre 1968-1974, seu prolongamento levou a situação de intensa fome na região, motivando política de criação do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola, agência especializada das Nações Unidas.

A guerra do Sahel, também chamada de conflito armado no Sahel, insurreição islamita no Sahel ou insurreição jihadista no Sahel é um conflito armado entre os países da região do Sahel, em particular: Mali, Níger, Mauritânia, Burquina Fasso e Chade e os grupos jihadistas salafistas ligados principalmente a Al-Qaeda. Este conflito é uma consequência indireta da Guerra Civil Argelina quando, em busca bases de retaguarda, os rebeldes islamitas argelinos decidiram se estabelecer no deserto a partir do início dos anos 2000. Um conflito armado entre o governo argelino e vários grupos de rebeldes islâmicos, que teve início em 1991. O número de mortos é estimado entre 150 e 200 mil, entre os quais há mais de 70 jornalistas, quer por forças do Estado ou por militantes islâmicos. O conflito terminou em vitória para o governo após a rendição do Exército de Salvação Islâmica e a derrota, em 2002, do Grupo Islâmico Armado. No entanto, atualmente ainda se produzem conflitos de baixa intensidade em algumas áreas. A disputa começou em dezembro de 1991, quando a Frente Islâmica de Salvação (FIS) ganhou popularidade entre o povo argelino, e a Frente de Libertação Nacional (FLN) representando o partido do governo, temendo a vitória do primeiro, cancelou as eleições após a primeira rodada, uma vez que se tornou evidente que ganharia a Frente Islâmica de Salvação e que terminaria com a democracia.

Após a proibição da FIS e a detenção de milhares de seus membros, os seus apoiadores começaram uma guerra de guerrilha contra o governo e seus partidários. Os principais grupos rebeldes que lutavam contra o governo foram o Movimento Islâmico Armado (MIA), com base nas montanhas, e o Grupo Islâmico Armado (GIA), nas aldeias. Os guerrilheiros inicialmente previram o exército e a polícia na Argélia, mas alguns grupos começaram logo a atacar civis. Em 1994, quando as negociações entre governo e líderes encarcerados da FIS atingiram o seu auge, o GIA, por um lado, declarou guerra à FIS e os seus apoiadores, enquanto o MIA, por seu turno e vários grupos menores reagrupados declararam sua lealdade à FIS, a ser renomeado Exército de Salvação Islâmica (SIA). Isso levou a um caminho ardiloso caracterizado por três guerras. Progressivamente, passariam a realizar ações de guerrilha, terrorismo e tomada de reféns na região; sobretudo, passariam de modo gradual a criar laços afetivos com as populações civis e disseminar islamismo radical que acabará por levar ao recrutamento dos autóctones, ou ao surgimento de novos movimentos muito ancorados localmente, como o Ansar Dine, o Movimento para a Unidade e a Jihad na África Ocidental (MUJAO), ou até mesmo Katiba Macina. A França intervém como potência imperialista militarmente em apoio estratégico aos Estados da região: primeiro no Mali em 2013, com a Operação Serval, depois em todo o Sahel em 2015, com a Operação Barkhane.

Os recrutas são habituados a manter a cabeça ereta e alta; a se manter direito sem curvar as costas, a fazer avançar o ventre, a salientar o peito, e esconder o dorso; e a fim de que se habituem essa posição lhes será dada apoiando-os contra um muro, de maneira que os calcanhares, a batata da perna, os ombros e a cintura encostem-se a ele, assim como as costas das mãos, virando os braços para fora, se afastá-los do corpo, ser-lhes-á igualmente ensinado a nunca fixar os olhos na terra, mas a olhar com ousadia aqueles diante de quem eles passam, a ficar imóveis esperando o comando, sem mexer a cabeça, as mãos nem os pés, enfim, marchar com passo firme, com o joelho e a perna esticados, a ponta baixa e para fora.  Houve na história durante a Época Clássica, uma descoberta da representação do corpo como objeto de alvo e poder, ao corpo que se manipula, modelam-se, treina-se, que obedece, responde, torna-se hábil ou cujas forças se multiplicam. O grande livro do homem-máquina foi escrito simultaneamente em dois registros: no anátomo-metafísico, cujas primeiras páginas haviam sido escritas por René Descartes e que os médicos, os filósofos continuaram; o outro, técnico-político, constituído por um conjunto de regulamentos militares, escolares, hospitalares e por processos empíricos e refletidos para controlar ou corrigir as operações do corpo.

Dois registros bem distintos, pois se tratava ora de submissão e utilização, ora de funcionamento e de explicação: corpo útil, corpo inteligível. E, portanto, de um ao outro, pontos de cruzamento. “O homem-máquina” de La Mettrie é ao mesmo tempo uma redução materialista da alma e, além disso, uma teoria geral do adestramento, no centro dos quais reina a noção de “docilidade” que une corpo ao corpo analisável o corpo manipulável. Ipso facto, é dócil, afirma Foucault, “um corpo que pode ser utilizado, que pode ser transformado e aperfeiçoado”. O que há de novo?  Não é a primeira vez, certamente, não sendo a última, que o corpo é objeto de investimentos tão imperiosos e urgentes; nas sociedades onde o corpo está preso no interior de poderes apertados, que lhe impõem limitações, proibições ou obrigações. Muitas coisas são novas nessas técnicas. A escala, em primeiro lugar: não se trata de cuidar do corpo, em massa, como se fosse uma unidade indissociável, mas de trabalhá-lo detalhadamente; de exercer sobre ele uma coerção sem folga, de mantê-lo ao mesmo nível da mecânica – movimentos, gestos, atitude, rapidez: poder infinitesimal sobre o corpo ativo.

O objeto, em seguida do controle: não, ou não mais os elementos significativos do comportamento ou a linguagem do corpo; mas a economia, a eficácia dos movimentos, sua organização interna; a coação se faz mais sobre as forças que sobre os sinais; a única cerimônia que realmente importa é a do exercício. A modalidade, enfim: implica uma coerção ininterrupta, constante, que vela sobre os processos da atividade mais que sobre seu resultado e se exerce de acordo com uma codificação que esquadrinha formalmente ao máximo o tempo, o espaço, os movimentos. Esses métodos que permitem o controle minucioso das operações do corpo, que realizam a sujeição constante de suas forças e lhes impõem uma relação de docilidade-utilidade, são o que podemos chamar as “disciplinas”. Muitos processos disciplinares existam há muito tempo: nos conventos, nos exércitos, nas oficinas também. Mas as disciplinas se tornaram no decorrer do século XVII e XVIII fórmulas gerais de dominação. Diferentes da escravidão, não se fundamentam numa relação de apropriação dos corpos.

Diferentemente da domesticidade, quando nos vemos diante do imediato, que é uma forma de relação social de dominação constante, global, maciça, não analítica, ilimitada e estabelecida sob a forma da vontade singular do patrão, da questão de seu “capricho”. Diferentes da vassalidade que é uma relação de submissão altamente codificada, mas longínqua e que se realiza menos sobre as operações do corpo que sobre os produtos trabalho e as marcas rituais da obediência. Diferentes ainda do ascetismo e das “disciplinas” de tipo monástico, que têm por função realizar renúncias mais do que aumentos de utilidade e que, implicam obediência a outrem, têm como fim principal um aumento do domínio de cada um sobre seu próprio corpo. O momento histórico das disciplinas é o momento em que nasce uma arte do corpo humano, que visa não exclusivamente o aumento de suas habilidades, nem tampouco aprofundar sua sujeição, mas a formação de uma relação que no mesmo mecanismo o torna tanto mais obediente quanto é mais útil, e inversamente. Forma-se  uma política das coerções que são um trabalho sobre o corpo, uma manipulação calculada de seus elementos, de seus gestos, de seus comportamentos. O corpo humano entra numa maquinaria de poder que o esquadrinha, o desarticula, o recompõe.

Sem temor a erro podemos afirmar que assim se coloca o problema abstrato das relações desses procedimentos com o discurso. Mas eles não têm a fixidez repetitiva dos ritos, dos costumes ou dos reflexos, como ocorre via de regra com cidades da dimensão de Fortaleza – saberes que não mais ou ainda se articulam em discursos. Sua mobilidade se ajusta incessantemente a uma diversidade de objetivos e “golpes”, mas sem que dependam de uma elucidação verbal. Mas são de fato autônomas a este respeito? Táticas no discurso pode ser o ponto de referência formal de táticas sem discurso. Como também essas maneiras de pensar investidas em maneiras de fazer constituem um caso estranho – e maciço – das relações que tais práticas mantêm com teorias. Em Foucault, o drama se desenrola, como sempre, entre duas forças, cuja relação a astúcia do tempo inverte. Essas táticas vão se afinando e estendendo sem precisar recorrer a uma ideologia. Mediante um lugar celular do mesmo tipo para todos, elas aperfeiçoam a visibilidade e o reticulado desse espaço para transformá-lo num instrumento capaz de disciplinar, vigiando, e de tratar não importa que grupo humano. Trata-se de detalhes tecnológicos, processos ínfimos e decisivos. Acabam vencendo a teoria: por eles se impõem a universalização da pena uniforme, a prisão, que inverte, a partir de dentro, as instituições revolucionárias e instala em toda parte o “penitenciário” no lugar da justiça penal. Michel Foucault distingue estes dois sistemas heterogêneos.

Esta notável técnica de interpretação historiográfica destaca ao mesmo tempo duas questões que não se devem, no entanto, confundir: de um lado, o papel decisivo dos procedimentos e dispositivos tecnológicos na organização de uma sociedade; de outro lado, o desenvolvimento excepcional de uma categoria particular desse dispositivo: a) como explicar o desenvolvimento privilegiado da série particular que é constituída pelos dispositivos panópticos? E, b) qual o estatuto de muitas séries que, prosseguido em seus silenciosos itinerários, não deram lugar a uma configuração discursiva nem a uma sistematização tecnológica? Poderiam ser consideradas como uma imensa reserva constituindo os esboços ou traços de desenvolvimentos diferentes. Outros dispositivos tecnológicos, e seus jogos com a ideologia, foram já esquadrinhados por estudos recentes que sublinham também, embora em perspectivas diferentes, o seu caráter dominante. Mas parecem prevalecer durante um tempo mais ou menos longo, depois cair na massa estratificada dos procedimentos metódicos, enquanto vão dando lugar a outros através da representação do papel de informar um determinado sistema. 

Bibliografia geral consultada. 

HELLER, Agnes, Sociologia della Vita Quotidiana. Roma: Editore Riuniti, 1975; KEMP, Tom, La Revolucion Industrial en la Europa del siglo XIX. Barcelona: Libros de Confrontacion, 1976; VAN GENNEP, Arnold, Os Ritos de Passagem. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 1978; SAID, Edward, Orientalismo: O Oriente como Invenção do Ocidente. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 1990; WEBER, Max, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. 2ª edição. São Paulo: Editora Pioneira, 2003; BALLANI, Tanimária da Silva Lira, Juventude, Drogas e Internação Hospitalar: Ampliando o Conceito de Evento Sentinela. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação Enfermagem. Departamento de Enfermagem. Maringá: Universidade Estadual de Maringá, 2006; BRAGA, Ubiracy de Souza, “A Questão Israelense-Palestina: Histórias Míticas?”. In: Jornal O Povo. Fortaleza, 7 de outubro de 2006; CRIGNON, Philippe, Hobbes et la Répresentation: Une Ontologie Politique. Thèse de Doctorat. Saint-Denis: Université de Paris 8, 2007; CERTEAU, Michel de, A Invenção do Cotidiano. 1. Artes de fazer. 22ª edição. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 2014; FOUCAULT, Michel, Vigiar e Punir. Nascimento da Prisão. 42ª edição. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 2014; SPEZZARIA, Mario, A Linha Metafísica do Belo. Estética e Antropologia em K. P. Moritz. Tese de Doutorado. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2017; BRANDÃO, Wildson Roberto Lima, O Terrorismo e a Multiplicidade de Interpretação: A Lógica Racional das Teorias Racionalistas, a Construção Discursiva das Teorias Reflexivistas e as Relações Internacionais. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais. Uberlândia: Universidade Federal de Uberlândia, 2020; SILVA, Mateus Ostemberg Benites, A Sentinela da Liberdade: O Capitão América e o Combate aos Inimigos da Democracia. Dourados – MS. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em História. Faculdade de Ciências Humanas.  Dourados: Universidade Federal da Grande Dourados, 2020; NEVES, Pedro Fernandes, A Economia Local do Surf e o Desenvolvimento de Pequenas Cidades - O Caso de Peniche. Instituto de Geografia e Ordenamento de Território. Faculdade de Arquitetura. Lisboa: Universidade de Lisboa, 2021; entre outros.

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