terça-feira, 30 de março de 2021

Olof Palme - Na Suécia, Havia Um Pouco Mais de Sol.

 

Ubiracy de Souza Braga

                              Não quero que os ricos chorem, quero é que os pobres riam”. Olof Palme


            A Suécia é uma monarquia constitucional parlamentarista, em que o chefe de Estado é um monarca, com poderes e funções meramente oficiais e cerimoniais. O atual rei é Carlos XVI Gustav da Suécia desde 1973. Foi o único filho homem do príncipe Gustavo Adolfo, Duque da Bótnia Ocidental, e sua esposa, a princesa Sibila de Saxe-Coburgo-Gota. Seu pai morreu quando ele tinha menos de um ano de idade, fazendo de Carlos Gustavo o herdeiro e depois sucessor de seu avô, o rei Gustavo VI Adolfo. Sua herdeira aparente é a princesa Vitória, Princesa Herdeira da Suécia, a sua primeira filha com a sua esposa, a rainha consorte Sílvia Sommerlath. Vitória ascendeu a princesa herdeira, passando à frente de seu irmão Carlos Filipe, Duque da Varmlândia, em 1º de janeiro de 1980, depois de aprovada uma nova lei estabelecendo a primogenitura absoluta. A herdeira sueca atual é a princesa Vitória, Princesa Herdeira da Suécia, a primogênita do rei, é a primeira na linha de sucessão ao trono sueco. A governação do país é efetuada pelo governo, liderado pelo primeiro-ministro, e respondendo politicamente perante o parlamento. O atual primeiro-ministro é Kjell Stefan Löfven do Partido Social-Democrata, desde 3 de outubro de 2014. O Governo Löfven é uma coligação do Partido Social-Democrata com o Partido Verde. Entre o começo de 2012 e o fim de 2014, ele foi o líder da oposição e líder do seu partido. Após as eleições gerais de 2014, ele foi nomeado primeiro-ministro, liderando um governo de coalizão minoritária com o Partido Verde. Ele foi confirmado para um segundo mandato em 18 de janeiro de 2019 após longas negociações depois da inconclusiva eleição de 2018, com o impasse resultante resolvido devido à abstenção dos membros do Partido do Centro, do Partido de Esquerda e dos Liberais.

            Stefan Löfven nasceu em Estocolmo, mas foi adotado por uma família de trabalhadores humildes em Sollefteå. Aos 13 anos, funda a associação local da Juventude Social-Democrata Sueca (SSU). Depois de ter feito um curso de dois anos do Ensino Médio, Löfven estudou Serviço Social na Universidade de Umeå, tendo abandonado os estudos depois de um ano e meio. Em seguida fez um curso prático de soldadura de 48 semanas em Kramfors. Depois de ter trabalhado nos correios e numa serração, Löfven esteve empregado como soldador numa empresa de fabrico de material de guerra em Örnsköldsvik entre 1979 e 1995, A partir de então, foi muito ativo no poderoso Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos (IF Metall), um dos maiores sindicatos do país, e uma importante organização do movimento operário social-democrata na Suécia, tendo sido presidente no período 2006-2012, eleito líder dos Social-Democratas, numa conferencia interna da direção do partido. Em outubro de 2014, tomou posse como Primeiro-Ministro do Governo Löfven. Os Sociais-Democratas, saíram vitoriosos nas eleições gerais de 2014 na Suécia, conquistando 31% dos votos. Löfven anunciou que pretendia formar uma coligação governamental com o Partido Verde, e ter uma colaboração pontual com outros partidos, tendo indicado à esquerda o Partido da Esquerda, e à direita o Partido do Centro e o Partido Liberal. Igualmente, tencionava manter alguns amplos acordos parlamentares, incluindo os conservadores Partido Moderado e Partido Democrata-Cristão. Apesar de o Governo Löfven ter sido aprovado pelo Parlamento, a proposta de Orçamento do Estado foi vencida pela proposta da oposição pela aliança política de centro-direita e viabilizada pelo Partido dos Democratas Suecos de extrema-direita, tendo Stefan Löfven convocado novas eleições para março do ano seguinte. O país tem pouco mais de 10 milhões de habitantes.

            Sven Olof Joachim Palme (1927-1986) foi um político sueco. Membro do Partido Operário Social-Democrata da Suécia foi primeiro-ministro entre 1969 e 1976 e 1982 e 1986, ano em que foi assassinado à saída de um cinema em Estocolmo. O movimento operário sueco (arbetarrörelsen) é a organização articulada da Confederação Nacional de Sindicatos fundada em 1898, do Partido social-democrata fundado em 1889 e da União de Cooperativas, dando expressão à luta dos trabalhadores suecos por melhores condições de vida económicas, sociais, culturais e políticas. Tem as suas raízes em 1850, no advento da industrialização da Suécia, quando os operários se começaram a organizar, e a realizar estratégias da recusa de fome e greves. O primeiro sindicato organizado dos tipógrafos viu a luz do dia em 1846. O Partido Operário Social-Democrata da Suécia é designado de Partido Social-Democrata, é um partido político formado através da base dos trabalhadores fundado em 1889. A ideologia oficial do partido tem como representação a articulação entre as ideias de formação política e sindical em torno da social-democracia e do socialismo democrático, aceitando a economia de mercado com um forte estado regulador, melhor dizendo, a economia de mercado tem como base os princípios do liberalismo econômico, que defende a liberdade de produção e comércio, a propriedade privada, o Estado mínimo e a livre concorrência e um significativo setor público garantindo o Estado social. Colabora ativamente com a Confederação Nacional de Sindicatos da Suécia, formando o chamado Movimento Operário Sueco. A sua organização juvenil tem o nome de Juventude Social-Democrata Sueca, popularmente designada de SSU.  Desde 27 de janeiro de 2012, o seu líder é Stefan Löfven. O partido publica Aktuellt i Politiken, uma revista semanal de notícias nacionais, que esclarece e divulga as relações sociológicas entre a política e a sociedade a partir da perspectiva social-democrata do rico movimento trabalhista. 


Olof Palme tornou-se reconhecido como um notável exemplo da Social-Democracia Escandinava, tendo levado mais longe que qualquer outro político a ideia de conciliar uma economia de mercado com um estado social. Durante o seu governo, a Suécia gozou de uma forte economia e dos níveis de assistência social mais altos no mundo. Seu reconhecimento também foi demonstrado como opositor do regime Apartheid e da Guerra do Vietnam, chamada no Vietnã de Guerra de Resistência contra a América ou simplesmente Guerra Americana. Representou um grande conflito armado de grandes proporções que ocorreu no Vietnã, Laos e Camboja de 1º de novembro de 1955 até a queda de Saigon em 30 de abril de 1975. Foi a segunda das Guerras da Indochina oficialmente travada entre o Vietnã do Norte e o governo do Vietnã do Sul. O exército norte-vietnamita era apoiado pela União Soviética, China e outros aliados comunistas, enquanto os sul-vietnamitas eram apoiados pelos Estados Unidos da América (EUA), Coreia do Sul, Austrália, Tailândia, e outras nações anticomunistas pelo mundo globalizado Neste cenário, o conflito no Vietnã é descrito como “uma guerra por procuração no auge da Guerra Fria”, o que lhe causou graves conflitos com Washington.  Os exércitos dos Estados Unidos da América e do Vietnã do Sul tinham, notavelmente, maior poder de fogo bélico, apoiados como tal por sua supremacia aérea e tecnológica, contando com operações estratégicas imediatas de “procurar e destruir” (“search and destroy”), envolvendo maciças unidades humanas terrestres, de artilharia e avassaladores ataques aéreos.

No curso da guerra, os norte-americanos conduziram sistemáticas campanhas de bombardeio estratégico contra cidades do Vietnã do Norte, causando enorme devastação. O governo do Vietnã do Norte e os Viet Congs estavam lutando em torno da questão nacional para unificar o país. Eles viam o conflito bélico como parte de uma guerra colonial e uma continuação direta da Primeira Guerra da Indochina, inícida na Indochina Francesa a 19 de dezembro de 1946, prolongando-se até 1º de agosto de 1954. Os combates entre as forças francesas e os seus oponentes Viet Minh no Sul datam de setembro de 1945, contra as forças da França e depois dos Estados Unidos. O governo norte-americano lutava para evitar que o Vietnã do Sul se tornasse mais uma nação comunista na geopolítica dos Estados nacionais como parte da chamada Teoria do Dominó, uma doutrina da política externa norte-americana na chamada Guerra Fria, que postulava que se um país, ou região, entrasse para o comunismo, “os países com os quais esse fizesse fronteira iriam cair em seguida” e da abrangente política de contenção, com o objetivo final de deter o comunismo. A teoria é atribuída a John Foster Dulles. No começo da década de 1950, conselheiros militares norte-americanos foram enviados para a Indochina Francesa. O envolvimento dos Estados Unidos da América nos conflitos da região aumentou nos anos 1960, com o número de tropas estacionadas no Vietnã triplicando de tamanho real entre 1961 e 1962. Após o Incidente do Golfo de Tonkin, em 1964, quando um contratorpedeiro norte-americano foi supostamente atacado por embarcações norte-vietnamitas, o Congresso dos Estados Unidos da América aprovou uma Resolução que autorizava o presidente aumentar a presença militar do país no Vietnã e escalar o conflito. Unidades militares de combate começaram a chegar quantitativamente no país em 1965.

A guerra rapidamente se expandiu, atingindo o Laos e o Camboja, que passaram a ser intensamente bombardeados pela força aérea dos Estados Unidos a partir de 1968, o mesmo ano que os comunistas lançaram a grande Ofensiva do Tet. As operações recebem este nome porque se iniciaram nas primeiras horas da manhã do Tết Nguyên Đán, o primeiro dia do ano no calendário lunar tradicional usado no Vietnã e o feriado mais importante do país. Esta ofensiva falhou no seu objetivo de derrubar o governo sul-vietnamita e iniciar uma Revolução Socialista na região, mas é considerado o ponto de virada da guerra, já que a população norte-americana passou a questionar a opinião pública se uma vitória militar seria possível, com o inimigo capaz de lançar grandes ataques mesmo após anos de derramamento de sangue. Havia uma grande disparidade entre o que a imprensa norte-americana e o governo falavam, com os dados estatísticos apresentados por ambos geralmente contrastando. Nos Estados Unidos e no Ocidente, a partir do final dos anos 1960, começou um forte sentimento de oposição a guerra como parte de um grande movimento de contracultura. A guerra mudou a dinâmica das relações entre os blocos Leste e Oeste, também alterando as divisões norte-sul do mundo global.

Enquanto líder da oposição, Olof Palme atuou como mediador especial da Organização das Nações Unidas na Guerra Irã-Iraque e foi Presidente do Conselho Nórdico em 1979. O Conselho é um organismo de cooperação prática entre os parlamentos dos países nórdicos e das suas regiões autónomas. Tem como principal missão dar recomendações aos respetivos governos. Foi fundado em 1952 pela Suécia, Dinamarca, Noruega e Islândia, tendo a Finlândia aderido em 1955. As regiões autónomas da Åland e das Ilhas Faroé aderiram em 1970, e a Groenlândia em 1984. O povo lapão (Sámi) não tem todavia representação no conselho. Este órgão é composto por 87 deputados provenientes dos parlamentos dos cinco países nórdicos e das suas três regiões autónomas. As principais áreas de trabalho do Conselho Nórdico são a cultura e a educação, para além da justiça, transportes, ambiente e condições sociais e económicas. Como marcas de referência da atividade do conselho, estão a criação do mercado comum de trabalho em 1954, e o acordo de livre circulação sem necessidade de passaporte em 1957. Paralelamente ao Conselho Nórdico, existe um Conselho de Ministros Nórdicos, fundado em 1971. As duas organizações têm sedes em Copenhagen. Palme era uma figura humana central e polarizadora, na política interna e na política internacional desde os anos 1960, pois foi firme na sua política de não-alinhamento em relação às superpotências, acompanhado pelo apoio a numerosos movimentos sociais de libertação nacional do chamado 3º Mundo após a descolonização, incluindo, o mais controverso, o apoio económico e vocal a vários governos.

Olof Palme foi o primeiro chefe de governo ocidental a visitar Cuba após sua revolução, fazendo um discurso em Santiago elogiando os revolucionários contemporâneos cubanos e cambojanos. A Revolução Cubana foi um movimento armado e guerrilheiro que culminou com a destituição do ditador Fulgêncio Batista de Cuba no dia 1º de janeiro de 1959 pelo Movimento 26 de Julho liderado pelo então revolucionário Fidel Castro (cf. Kalfon, 1997). Frequentemente crítico da política externa dos Estados Unidos da América e da União Soviética, dirigiu críticas e muitas vezes polarizadoras ao identificar a sua oposição às ambições imperialistas e regimes autoritários, incluindo os de Franco em Espanha, Brezhnev na União Soviética, Salazar em Portugal e Gustáv Husák na Checoslováquia, bem como John Vorster e Pieter Willem Botha,  reconhecido como “P.W.”, ou Die Groot Krokodil - africâner para “O Grande Crocodilo” - foi primeiro-ministro da África do Sul entre 1978 e 1984 e Presidente-de-Estado. A sua condenação política da guerra em 1972 aos bombardeamentos de Hanói, comparando notavelmente a tática ao campo de extermínio de Treblinka, o quarto campo de extermínio alemão onde judeus foram exterminados em câmaras de gás alimentadas por motores a explosão localizado nos arredores da cidade de Treblinka, na Polônia ocupada pelos alemães. Neste campo de concentração foi criado um sonderkommando (“sistema de trabalho”) onde os judeus eram incumbidos de receber os comboios que chegavam, conduzir os deportados para as câmaras de gás, retirar os cadáveres, extrair os dentes de ouro, e proceder a cremação, resultou num congelamento temporário nas relações diplomáticas sueco-norte-americanas.

            Nascido a 30 de janeiro de 1927, de uma conservadora família de Estocolmo, Olof Palme fez carreira como político progressista. Ainda estudante de Direito, ele ingressou no movimento jovem do Partido Trabalhista Social-Democrático, pelo qual foi eleito deputado federal em 1958. Durante o governo de Tage Erlander, foi ministro dos Transportes e das Comunicações (1965-1967) e da Educação (1967-1969). Tage Fritiof Erlander (1901-1985) foi um político social-democrata da Suécia. Ocupou o lugar de primeiro-ministro de 11 de outubro de 1946 a 14 de outubro de 1969. Durante seu mandato, vieram a luz do dia as importantes reformas sociais da segurança social na doença e a pensão geral complementar. Ipso facto, Olof Palme, também visionário, em 1969, herdou de Erlander o cargo e as reformas de primeiro-ministro, permanecendo nele até 1976. Depois de seis anos de governo conservador, Olof Palme voltou ao poder em 1982, quando se destacou internacionalmente por sua inteligência, capacidade rhêtorikê e formação política. A comunicação escrita e falada é a base da interação social e mais que isso, atua como o elemento fundamental da política. Assim, a retórica utiliza a linguagem, de forma eficiente, construindo uma argumentação que visa o convencimento para influenciar a deliberação e a tomada de decisões. Foi o 4º presidente do Partido Social-Democrático, desde sua fundação 100 anos antes. Aos 42 anos, teve a honra de tornar-se o mais jovem chefe de governo da Europa. No entanto, com suas análises penetrantes, na política, não só conquistou amigos como inimigos. Era motivo de controvérsia dentro do próprio Partido Social-Democrático, mas nunca se duvidou seriamente de sua capacidade de liderança.    

            Muitas vezes nascer rico ou pobre é ganhar anos de avanço em relação aos filhos de operários. Obviamente os partidos políticos burgueses podem escolher chefes mais jovens que os partidos proletários porque os quadros burgueses são formados mais facilmente, de início. Apesar dos sistemas de bolsas, a proporção de filhos de operários que seguem o curso secundário ou superior é muito menor que a dos filhos de industriais, de comerciantes, de médicos, de advogados etc. Estatisticamente entre as duas guerras, na Inglaterra, 50% dos deputados conservadores saíam de universidades contra 42, 5% dos deputados liberais e somente 22% dos deputados trabalhistas; 96,5% dos deputados conservadores haviam cursado as escolas secundárias ou as public schools, em contraposição a 86,5% dos deputados liberais e somente 28% dos deputados trabalhistas. Essas cifras são eloquentes: ainda só dizem respeito aos parlamentares dos partidos, isto é, dos quadros superiores. Nos quadros subalternos, a proporção de mestres operários que tenham recebido instrução secundária ou universitária será muito mais fraca. Mesmo se considerássemos que o ensino secundário ou superior constitui uma formação política insuficiente, ele não deixa de dar uma cultura geral e uma técnica da análise dos fatos políticos e da sua exposição, ou seja, uma retórica, que são muito preciosas para a formação dos quadros de pensamento de um partido político. Por não tê-las adquirido em sua juventude, mito militantes operários são obrigados a aprendê-las mais tarde, o que lhes retarda o acesso aos postos d direção. No próprio âmbito dos partidos operários, os elementos burgueses têm, portanto, mais oportunidade de conduzir jovens a postos de direção. Apesar de tudo, não devemos esquecer que, pela sua própria definição, a massa dos partidos burgueses é composta de burgueses cuja grande parte se beneficiou de uma instrução secundária ou mesmo superior, o que gera concorrência assaz forte para as funções dirigentes. O rejuvenescimento está, ipso facto, longe de assegurado de forma satisfatória. O grau de centralização ou descentralização do partido político parece igualmente desempenhar importante papel social.

O líder sueco Olof Palme não escondia sua rejeição à intervenção militar norte-americana no Vietnã. Também criticou a invasão de Praga pelos soviéticos. A neutralidade axiológica da Suécia não impediu que reconhecesse a soberania do Vietnã do Norte, em 1969, causando crise diplomática com os Estados Unidos da América, resultando no rompimento da  entre os dois países somente restabelecida em 1974. Em seus discursos pacifistas, Olof Palme condenava incisivamente a ameaça nuclear e a injustiça social no mundo globalizado. Atacava a política do apartheid na África do Sul, enquanto apoiava a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e mormente o Movimento Sandinista na Nicarágua, propagando um “socialismo à sueca”. Seu engajamento na política externa rendeu-lhe críticas e custou-lhe votos. Acusado de haver negligenciado a política interna e criticado por aumentos de impostos em meio à crise econômica, Palme perdeu as eleições parlamentares de 1976. O controle quase permanente do governo exercido pelo Partido Social-democrata desde 1932 foi quebrado em 1976, quando os três partidos ditos “burgueses” formavam um governo de coalizão, no qual se sucederam, durante os seis anos seguintes diversos tipos de ministérios governamentais. Desnecessário dizer que o termo sociológico burguês deriva do latim burgus através de adaptações germânicas expressas pelas palavras: burga, baúrgs ou bürg, que na Alta Idade Média designavam uma pequena fortificação, um castelo ou uma vila de proteção murada.

Seus habitantes, por extensão, se denominaram primitivamente burgensis, burgari - burgueses - termo atestado pela primeira vez de forma corrente no século VIII. Com a conquista normanda da Inglaterra o termo bürg foi importado e aparece no século XII como bury, borough, burgh, denominando uma cidade. Aparece na mesma época também no norte do Reino da França. O conceito é associado ao de cidadania, cujas origens históricas estão na Antiguidade. Tanto a Grécia como Roma organizaram suas sociedades urbanas de maneira a integrar um corpo de cidadãos, que viviam em um espaço físico bem definido, eram regidos por leis específicas e detinham relevantes direitos políticos, não atribuídos a outras classes. Após a queda do Império Romano as cidades entraram em declínio comercial e a população se ruralizou em larga proporção. No processo social e de comunicação através de crescimento dos burgos o estatuto de cidadão adquiriu uma base jurídica diferenciada. Passou a ser exclusivo dos habitantes livres, ou homens livres do servilismo ou escravidão, e capazes de exercer direitos especiais. A este grupo social específico, apenas, ficou restrito o uso do termo burguês, um sinônimo de cidadão. Outros residentes dos burgos passaram a ser chamados no idioma alemão: Lumpenproletariat (lumpen, “trapo, farrapo” + proletariat, “proletariado”), ou “lumpesinato”, ou ainda “subproletariado”, designando na economia marxista, a população situada socialmente abaixo do nível do proletariado, do ponto de vista das condições sociais de vida e de trabalho, formada por frações pobres de miseráveis, não organizadas do proletariado, não apenas destituídas de recursos econômicos, mas também desprovidas de consciência política e de classe, não sendo suscetíveis de servir aos interesses particulares da burguesia.

Em 1982, a social-democracia conseguiu, entretanto, recuperar o controle do governo. Em 1979, tornou-se membro da Comissão Norte-Sul da Organização das Nações Unidas, encarregada de melhorar as relações entre os países industrializados e o 3º Mundo. Como presidente da Comissão das Nações Unidas para Questões de Desarmamento e Segurança, lutou a partir de 1981 por uma Escandinávia livre de armas atômicas. De volta ao poder em 1982, Olof Palme passou dois anos trocando acusações com a União Soviética, devido à presença de submarinos soviéticos em águas territoriais suecas, desta vez sem esquecer a política interna. Com uma desvalorização da coroa sueca e uma série de medidas drásticas, seu governo conseguiu retomar as rédeas da economia. A modificação das relações políticas e partidárias fez com que a organização social e política da Suécia, apesar da manutenção de um consolidado sistema pluripartidarista, se aproximasse do sistema clássico de contradição e oposição assimétrica exequível do bipartidarismo anglo-saxão com mediações complexas um bloco liberal oposto ao socialista.  Mas a Suécia continua a ser uma economia pujante e com um  Estado Social que é continuamente repensado através de suas lutas sociais e políticas, à medida das capacidades da economia sueca e não de certas e determinadas correntes ideológicas que fazem lobby junto do poder e usam sindicatos como “correias de transmissão” dos partidos, como é lugar-comum em Portugal e outros países continentais do Sul da Europa. O bipartidarismo tradicional nasce após a Revolução Francesa. Com maior ou menor êxito, foram sendo implantados na Europa parlamentos bipartidaristas nos quais se apresentaram sempre dois blocos opostos que se rivalizam em conservadores e liberais.

Uma interpretação muito comum, mas errônea quando se fala do Estado Social na Suécia, é a ideia de representação social de que este foi o resultado político de um produto exclusivo da esquerda e que anteriormente às ideias socialistas que germinaram no século XIX, não existia qualquer tipo de Estado Social nesse país. Na realidade, foi a Igreja sueca que lançou as primeiras pedras na construção do Estado Social sueco, quando esta instituiu em 1734 a obrigação de cada paróquia ter um asilo para os mais desfavorecidos e economicamente carenciados. O sistema eleitoral dessa instituição cristã é único no mundo. A cada quatro anos, os cidadãos filiados à igreja elegem uma espécie de Parlamento da Igreja Sueca (“Svenska kyrkan”), a que é a maior organização religiosa do país. Esse Parlamento é composto tanto por representantes do clero como por leigos e tem o poder de decidir não só questões mundanas, como a reforma das paróquias e o valor de doações a países pobres, mas também assuntos de ordem teológica, mas também de ordem sociológica, a exemplo do casamento entre pessoas do mesmo sexo, aprovado pela Igreja Sueca em 2009. Até ao início da segunda metade do século XIX a Suécia manteve-se um país relativamente pobre e subdesenvolvido no quadro da Europa que tinha então já iniciado a sua industrialização nos países economicamente mais avançados. Até ao início do século XX a Suécia manteve um crescimento econômico acelerado, para o qual contribuíram também as inovações tecnológicas e esforços técnico por vários inventores e empreendedores suecos.

Ainda no século XIX, surgem diversas empresas inovadoras, chamadas por Erixon (1996) de “empresas gênio”. A primeira delas foi a Atlas, mais tarde reconhecida como Atlas Copco, fundada em 1873. Sua produção econômica foi, inicialmente, voltada para equipamentos pesados ferroviários, mais tarde entrando no mercado de compressores de ar e perfuratrizes. Em 1876, é fundada a Ericsson, que instalou sistemas telefônicos por todo o país. Seu sucesso foi tão grande que, em 1885, Estocolmo era a cidade com o maior número de telefones instalados em todo o mundo. No final da década de 1870, surge a Alfa-Laval, empresa que produz máquinas de laticínios. Em 1891, funda-se a ASEA, produtora de motores de corrente alternada e de equipamentos de transmissão de energia elétrica de longa distância. Em 1904, surge a AGA, que em poucos anos torna-se líder mundial de equipamentos de gás para uso industrial e médico. Por fim, em 1907, é fundada a SKF, produtora de rolamentos, que também assume rapidamente uma posição de líder global em seu segmento. O surgimento de empresas como a Ericsson (1876), a Volvo (1927), a Saab (1937) são alguns exemplos reais daquilo que foram e representaram nas últimas décadas do século XIX e as primeiras do século XX para a consolidação da economia sueca. A Suécia deixou assim de ser apenas mais um país rural e com uma economia baseada quase exclusivamente na em produtos primários da agricultura (e pesca), para se transformar numa Nação moderna e competitiva pautada por um claro processo de industrialização mecanizada e urbanização articulada com a demanda social. 

Mais de 30 anos após o assassinato do primeiro-ministro Olof Palme, a justiça da Suécia encerrou o caso, já que o principal suspeito está morto. Stig Engström, reconhecido também como o “homem da Skandia”, nome da empresa para a qual trabalhava, apareceu regularmente na imprensa como suspeito. Era um opositor às ideias de esquerda de Olof Palme. Engström foi um dos primeiros a chegar ao local do crime e as autoridades o interrogaram como testemunha, o exército e a polícia sueca e o serviço secreto sul-africanos. Olof Palme era um grande crítico da política de apartheid do país, mas o consideraram pouco confiável porque mudava regularmente de versão. Morreu no ano 2000. O assassino de Olof Palme conseguiu fugir e levou a arma do crime. Centenas de pessoas foram interrogadas, dezenas reivindicaram o ato e o processo ocupa 250 metros de estantes. As condições de seu depoimento, repletas de irregularidades, enfraqueceram o caso. Depois de confessar o assassinato, o criminoso voltou atrás. Faleceu em 2004 e Lisbet em 2018. Com o passar do tempo, também foram apontados como suspeitos, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), separatistas curdos turcos, reconhecido como KGK e anteriormente conhecido como KADEK ou Kongra-Gel, é uma organização Curda antifascista que desde 1984 vem se engajando em uma luta armada contra o Estado turco, por um Curdistão autônomo e com mais direitos civis e políticos para os curdos na Turquia. O grupo foi fundado em 27 de novembro de 1978 e foi liderado por Abdullah Öcalan. A ideologia do PKK representou originalmente uma fusão consciente do socialismo revolucionário e do nacionalismo curdo, embora desde a sua prisão, Öcalan tenha abandonado o marxismo ortodoxo e elaborado o que ele chamou de Confederalismo Democrático.

Os países nórdicos europeus são frequentemente lembrados por entusiastas de Estados prolixos como exemplos de sucesso das políticas públicas que defendem. A análise geralmente feita é simples e superficial: a Suécia é um país rico e sem pobreza, seu governo interfere na economia e distribui generosos benefícios à população, logo o Estado é um agente importante na redução da pobreza e no desenvolvimento econômico. É preciso uma análise mais rigorosa para perceber que a realidade não é bem assim. Do começo do século XIX em diante é possível compreender, segundo (Lungov, 2015), cinco fases distintas na economia sueca. Para os dados de crescimento econômico dos anos entre 1820 a 2008, usa o extraordinário trabalho de Angus Maddison depois expandido por outros economistas. Tanto pelo Projeto Maddison como pelos dados do Banco Mundial, estamos sempre falando em PIB per capita ajustado pelo poder de compra de cada país (ou região) e época. Isso torna os dados comparáveis no mundo ao longo da história. O Projeto Maddison diz que o Produto Interno Bruto per capita na China de 1500 era de 600 Int$, enquanto que na Indonésia de 1970 era 1181 Int$. Isto quer dizer o seguinte: o dólar Geary-Khamis ou dólar internacional (Int'l. dollar ou Intl. dollar, abreviação: Int`l$., Intl$., Int$, G-K$ ou GK$) é uma unidade de conta (uma moeda fictícia), que tem o mesmo poder aquisitivo, em um dado país que o dólar norte-americano nos Estados Unidos da América, em um determinado momento. Isso quer dizer ainda, comparativamente, que o indonésio da década de 1970 tinha em média quase o dobro do poder de compra do chinês de 1500; sua renda permitia-lhe comprar quase o dobro de bens e serviços. Essa é a análise estatística e o quadro de pensamento que importa para medir qualidade de vida da sociedade.

No início do século XIX, quase toda a população mundial vivia no campo e produzia alimentos, por sua teoria alimentar para o controle do aumento populacional, reconhecida como malthusianismo e na Suécia não era diferente. Isso quer dizer que a produção econômica de cada país e seu padrão de vida era determinada por sua capacidade de produzir alimentos. As condições naturais ao redor do polo norte não são particularmente favoráveis para atividades agropecuárias, mormente Suécia, Noruega e Finlândia estavam entre os países europeus de fato mais pobres historicamente. Apesar disso, a Suécia vinha de uma revolução pró-mercado na agricultura que seria importante para o rápido crescimento que viria mais adiante. Nos anos entre 1790 e 1815, o governo transferiu a propriedade de grandes áreas rurais para fazendeiros, estimulando o livre mercado na produção e comercialização de produtos do setor primário. Isso criou no país um ambiente onde o mecanismo de preços de mercado direcionava as ações dos agentes. Outras características fundamentais foram os investimentos que fizeram em canais e estradas e o surgimento de companhias de comércio e de sociedades de crédito para financiar capital. Por fim, a Suécia foi o primeiro país do mundo ocidental a ter escolas públicas e gratuitas, criando uma população alfabetizada e muito mais economicamente produtiva. Esse ambiente favorável causou um surto demográfico e de prosperidade que terminou de abrir as portas para a industrialização. Até meados do século XIX, micro-indústrias espalhadas pelas zonas rurais do país, principalmente de aço e madeira, desenvolveram-se em organizações maiores e especializadas, caracterizando uma I Revolução Industrial. Nos anos 1850, a maior parte das tarifas e barreiras a importações foram abolidas, e em 1873, o país adotou o padrão-ouro, o que significa uma paridade fixa entre sua moeda oficial e o ouro. 

Além disso, a malha ferroviária foi largamente ampliada, tanto pelo governo como por empresas, interligando todo o país. Com uma área terrestre de 407 311 km², um comprimento de 1 572 km e uma largura de 499 km, a Suécia é o terceiro maior país da União Europeia em termos de superfície. É constituída por um terreno plano ou ondulado na sua parte sul, enquanto a parte norte apresenta uma planície costeira seguida de um interior acidentado culminando em alta montanha junto à fronteira com a Noruega. Como consequência topográfica, a Suécia pôde especializar-se na produção e exportação de bens que a Europa demandava: aço, madeira e aveia, enquanto importava tudo aquilo que não produzia internamente. No final do século, era um dos países mais abertos ao comércio exterior da Europa. Com o aumento abrupto nas exportações, os investimentos na indústria também aumentaram. Estima-se que entre 1850 e 1890, a taxa de investimento sobre o PIB tenha crescido de 5% para 10%. A abertura comercial permitiu ao país importar pesada quantidade de bens de capital, sendo um dos aspectos essenciais para a segunda Revolução Industrial que viria em seguida. O outro foi o robusto mercado de crédito e capital que se desenvolveu. Em 1848 foi editada uma lei de sociedades abertas, e em 1866 foi estabelecida a Bolsa de Valores de Stockholm (cf. Hilferding, 2011), o principal mercado de valores dos países nórdicos. Foi fundada em 1863, tendo sido adquirida em 1998 pela empresa sueco-finlandesa OMX, a qual, por sua vez, aderiu em 2008 à NASDAQ OMX Group. O principal índice de referência da Bolsa de Valores de Estocolmo é o OMX-S30. Este índice engloba as 30 empresas com maior volume de negócios da bolsa. Ao banco central sueco foi estabelecido em 1897 a legalidade contratual de prover liquidez ao mercado de crédito, fomentando a criação de bancos, que por sua vez financiavam pequenos negócios. Novas indústrias surgiram, em diversos novos setores e, em alguma medida substituíram os setores antigos, que agora encontravam competição internacional mais acirrada. Em suma, nos primeiros anos do século XX a economia sueca era robusta, estável e naturalmente dinâmica.                

As políticas econômicas desse período foram, portanto, quase todas liberais. Benefícios sociais, redistribuição de lucros, alta carga tributária, e todas as coisas que caracterizam o Estado do Bem-Estar Social não estiveram presentes até 1950. A Suécia era um país que tinha, para sua época, um mercado livre e, consequentemente, forte. E isso se reflete em sua taxa média de crescimento: Crescimento médio do PIB per capita no período, ajustado pelo poder de compra de cada país ou região. Aqui já temos o argumento mais forte de todos para refutar a hipótese de que o Estado do Bem-Estar Social trouxe qualidade de vida aos suecos: antes mesmo de serem adotadas as medidas que caracterizam essa linha de condução econômica, o sueco já tinha poder de compra 1,68x o europeu e 3,21x o mundial. É senso comum que a causa não pode ocorrer cronologicamente depois do efeito, então não é possível que as políticas adotadas a partir de meados do século XX expliquem o alto padrão de vida dos suecos em 1950. Essa explicação vem, na verdade, das políticas conduzidas durante os mais de 100 anos anteriores ao pós-guerra. A diferença de taxas de crescimento pode parecer pouca, mas ao aplicá-las pelos 130 anos a que correspondem, percebemos que o PIB per capita sueco aumentou mais de oito vezes no período, enquanto que o europeu não aumentou nem quatro. PIB per capita dos países europeus em 1950, em dólares internacionais de 1990 e ajustado ao poder de compra de cada país. Com tamanha abundância de recursos, muitas famílias suecas faziam caridade. De acordo com o economista Per Bylund, isso foi determinante para que a população aceitasse que o Estado assumisse o papel de organizar e distribuir essas assistências.

Todo o Estado do Bem-Estar Social sueco foi idealizado e construído pelo Partido Social Democrata (SAP), na sigla em sueco. Dos quase 110 anos em que a Suécia foi um reino separado da Noruega, o partido esteve no poder por nada menos que 69 deles, inclusive 40 anos ininterruptos, entre as décadas de 1936 e 1976. Desde seu primeiro governo, na década de 1920, o SAP já buscava nacionalizar a economia no bom e velho estilo de economia política soviético. Diante da dificuldade política encontrada nessa abordagem, mais adiante escolheu-se deixar a produção de bens a cargo dos procedimentos técnicos capitalistas, mas deram ao Estado a responsabilidade intervencionista da “justa distribuição” de seus frutos à sociedade. Em um congresso de 1951, dois economistas de uma confederação sueca de sindicatos, Gösta Rehn e Rudolf Meidner, apresentaram um programa de políticas macroeconômicas reconhecido como modelo Rehn-Meidner (cf. Quintas, 2017), também chamado Modelo Sueco. Esse modelo serviu para a condução econômica no país pelo menos até início da década de 1970, mesmo que nem sempre tenha se conseguido cumpri-lo à risca. Nos anos que se seguiram da 2ª guerra mundial, a economia sueca estava superaquecida pelo processo de reconstrução europeu. O problema que antes da guerra era de desemprego, agora era de inflação causada pela disputa por mão-de-obra. O governo tentou, através de diversas medidas intervencionistas, e sem sucesso, conter a inflação, entre elas um congelamento de salários em 1949 e 1950.

O modelo Rehn-Meidner de política econômica e salarial desenvolvido em 1951 por dois economistas do Departamento de Pesquisa da Confederação Sindical Sueca (LO), Gösta Rehn e Rudolf Meidner. Os quatro principais objetivos a serem alcançados foram: inflação baixa, pleno emprego, alto crescimento e igualdade de renda. O modelo foi teorizado como tentativa de solucionar o problema da inflação, mas sem abrir mão do pleno emprego vigente. Recomendava-se usar gastos públicos e impostos para manter o nível de atividade econômica logo abaixo daquele que normalmente seria o de pleno emprego e que pudesse, portanto, gerar pressões inflacionárias. As “ilhas de desemprego” que sobrassem seriam eliminadas através da indução de políticas ativas de planejamento no mercado de trabalho, ao por exemplo determinar “retreinamento” ou “realocação de trabalhadores”. A partir de meados da década de 1950, as negociações salariais passaram a ser conduzidas centralizadamente entre as centrais sindicais conjuntas de patrões e empregados. Essas negociações resultaram em aumentos nos salários de trabalhadores pouco produtivos, e imposição de limites aos salários mais altos, parte do que o modelo cunhou de “política salarial solidária”. A Suécia foi também o primeiro país do mundo a recuperar da Grande Depressão de 1929, o colapso do capitalismo e também do liberalismo econômico e o fato de ter conseguido manter a sua neutralidade axiológica durante a 1ª grande guerra (1914-1918) e a 2ª guerra mundial (1940-1945) permitiu-lhe evitar a destruição e morte que arruinou economicamente muitos outros países da Europa durante décadas e abriu as portas à ocupação soviética a outros tantos. A revista Life descreveu em 1938 a Suécia como sendo o país com o “padrão de vida mais elevado do Mundo”.  Padrão este, segundo Nobre (2014) que nada teve de socialista ou se baseou sequer em qualquer tipo de modelo socialista ou marxista.

As empresas não lucrativas do mercado deveriam ser empurradas para o que se convencionou chamar de política salarial solidária, com aumento dos salários reais em linha com o crescimento da produtividade, obrigando-as a melhorar sua capacidade produtiva para melhorar a rentabilidade, por meio de medidas como também o ajuste estrutural. como robotização e automação da produção, e através de meios subjetivos mais indiretos, como melhores condições de trabalho, com o objetivo de diminuir as taxas de licenças médicas e aumentar a produtividade. Tudo isso liberou recursos de trabalho, que foram então mobilizados em corporações de alta produtividade, por meio de políticas ativas de mercado de trabalho, visto que se beneficiaram dos custos do trabalho comparativamente favoráveis ​​a eles e estavam expandindo a produção à medida que a demanda geral aumentava quando os salários reais e o poder de compra aumentavam. Isso levou a tomada de lucros crescentes que foram reinvestidos na melhoria da capacidade produtiva dessas empresas, em parte para aumentar a lucratividade, em parte para atender à demanda crescente, em parte porque os incentivos fiscais favoreceram investimentos de longo prazo em Pesquisa & Desenvolvimento, ao invés de capital ganhos e dividendos e, em parte, para que essas corporações não se tornem improdutivas e corram o risco de falência, garantindo alto crescimento da produtividade e aumento dos salários.  

O modelo é estatizante e intervencionista, baseado em uma interação sociológica entre a economia fiscal keynesiana, o crescimento real dos salários, as políticas ativas do mercado de trabalho e a intervenção estatal. O objetivo era criar uma espiral positiva como parte do ciclo de negócios, de acordo com a teoria keynesiana, permanece a ideia de que o importante, em termos de política fiscal, não é a geração de déficits, mas sim o papel do gasto público na complementação de uma demanda efetiva insuficiente, uma vez que a criação de um Estado de bem-estar expansivo e o investimento público para manter a demanda doméstica ao longo dos ciclos econômicos garantiam segurança, proteção e estabilidade ao trabalho, capital, empresas e consumidores. Isso, por sua vez, ajudou a garantir baixa inflação, ao ajudar a evitar espirais salários-preços e, assim, fortaleceu os sindicatos na exigência de aumento dos salários reais em linha com o crescimento da produtividade, combinado com os efeitos do Estado de bem-estar e programas sociais, levou ao aumento do poder de compra e da confiança do consumidor. Resultando em aumento da demanda geral e aumento, manter um ciclo que levou a altas taxas de crescimento e pleno emprego, alimentado por tributação progressiva e redistribuição da riqueza, que aumentou ainda mais o poder de compra e garantiu a igualdade de renda.

O boom econômico que tomou conta da Europa no pós-guerra e que ficou conhecido como o período dos Trinta Anos Gloriosos por só ter terminado com a crise do petróleo em 1973, conferiu ainda mais prosperidade e pujança à já muito forte economia sueca. Designa o período compreendido de 1945 a 1975 que se seguiram ao final da 2ª guerra mundial e que constituíram um período de crescimento económico na maioria dos países notadamente os  membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), uma organização econômica intergovernamental criada por 37 países membros, fundada em 1961 para estimular o progresso econômico e o comércio mundial através dessas lideranças. Basta ter-se em conta que em 1970 a Suécia ocupava normalmente o 3º lugar nos rankings mundiais comparativos de rendimento per capita. Contudo, a crise do petróleo de 1973 e o fim dos Trinta Gloriosos não deixou a Suécia, nem nenhuma outra economia da Europa imune aos seus efeitos. As consequências foram um abrandamento da subida do padrão de vida na Suécia, a que se seguiu a grave recessão económica do início da década de 1990 e que obrigou a uma reforma do Welfare State sueco, que havia se tornado “demasiado pesado”, na falta de melhor expressão e desajustado em relação à economia do país. Os problemas económicos trazidos por um Estado Social trabalhista são notórios se tivermos em conta que entre 1950 e 1975 a despesa do Estado sueco em políticas sociais subiu de 20% para 50% do Produto Interno Bruto.

            As figuras dominantes da política sueca destas décadas foram também personalidades novas. Por um lado, Olof Palm, que em 1969 tinha sucedido a Tage Erlander como líder socialdemocrata, manteve-se como tal durante 16 anos, até aquela noite de fevereiro de 1986 em que foi assassinado numa rua central de Estocolmo. E, por outro lado, Ingvar Carlsson que assumiu então como o quinto chefe na história de um partido, próximo a cumprir 100 anos de existência. Como a figura política mais importante do setor liberal durante esse período surgia Thorbjorn Falldin, um agricultor do norte da Suécia e chefe do Partido de Centro, que ocupou o cargo de primeiro-ministro durante cinco anos dos seis anos de mandato em que os partidos liberais contaram com maioria parlamentar. Nestas duas décadas surgiram dificuldades econômicas às quais o país não estava acostumado. A crise do petróleo afetou a Suécia de maneira bastante forte, dado a dependência energética da sua indústria. Por outro lado, a indústria sueca, fortemente orientada para a exportação, começou a perder espaços no mercado internacional, devido ao nível relativamente elevado de seus salários e à crescente concorrência produzida com a emergência de novas nações industriais. Áreas centrais da indústria sueca, como por exemplo os estaleiros, tiveram na prática que ser liquidadas em consequência das condições de crise então vigentes no mercado internacional. Durante alguns anos, o ritmo do crescimento econômico diminuiu ou se deteve totalmente, a inflação foi bastante alta e surgiram déficits fiscais que foram parcialmente financiados mediante o endividamento externo da economia.

            Simultaneamente ao desenvolvimento desse tipo político de contradições, que tendiam a fortalecer a divisão do espectro político sueco num bloco de direita e outro de esquerda, surgiram também controvérsias não demarcadas nessa escala tradicional de direita-esquerda. Com frequência trata-se de questões que é possível referir a outra dimensão, aquela existente entre desenvolvimento ou não-desenvolvimento. Tende-se aqui para a produção de um alinhamento diferente, situando-se conservadores, liberais e socialdemocratas de um lado e o Partido de Centro, os comunistas e o Partido Verde de outro. Os problemas derivados da tensão existente entre esses dois polos de desenvolvimento contra não-desenvolvimento, podem em alguns casos atravessar também um mesmo partido, o que é especialmente válido para a socialdemocracia. Nesta ordem de problemas, a questão que tem despertado maior atenção na política sueca é o problema da energia atômica. A Suécia contava, em virtude de sua própria tecnologia comparativamente bem-sucedida, com um considerável arsenal de energia atômica em 1980.

            Uma questão de dimensão social e política na esfera do projeto social democrata, por muitos caracterizada como transformadora do sistema, foi o projeto de constituição dos “fundos de assalariados”, apresentado pelo Partido Socialdemocrata e elaborado originalmente no interior do movimento sindical. A proposta consistia na transferência de uma parte dos ganhos das empresas de certo tamanho, a fundos especiais por ramo industrial, geridos por diretórios com uma maioria de representantes dos assalariados. Os defensores do projeto costumavam apresentá-lo como um terceiro passo na luta do movimento operário para a transformação da sociedade; o primeiro passo tinha consistido na conquista da democracia política e o segundo, no estabelecimento de uma sociedade de bem-estar. Agora, finalmente, o cidadão em geral, os assalariados, seriam coparticipes da propriedade real do capital. Os adversários do projeto vociferavam, acusando a socialdemocracia de ter abandonado seu pragmatismo anterior, de ter tirado sua máscara e de estar disposta a instaurar uma nova e perigosa modalidade de socialismo na sociedade sueca. Comparado com o desenho original, o projeto finalmente aprovado em 1983, após grandes discussões, mostrou-se uma versão muito diluída do primeiro. Posteriormente, o debate - anteriormente tão inflamado - foi paulatinamente esfriando.

            À noite, 28 de fevereiro de 1986 ocorreu seu assassinato. O primeiro-ministro Olof Palme e sua esposa estavam a caminho de casa ao saírem do cinema Grand, em Estocolmo. Quando chegaram ao cruzamento Sveavägen-Tunnelgatan, eles foram ultrapassados por um homem desconhecido que disparou dois tiros, um dos quais atingiu a Olof Palme nas costas. O agressor desapareceu correndo, provavelmente até as escadas em direção Malmskillnadsgatan, uma rua de 650 metros de comprimento no centro de Estocolmo. O assassino de Olof Palme, Christian Petterson, inicialmente condenado à prisão perpétua pelo crime, foi posto em liberdade em 1989, devido a irregularidades em seu julgamento. Uma comissão governamental chegou à conclusão de que a apuração do caso foi marcada por caos e incompetência. Deixaram de ser investigadas pistas importantes, como o fornecimento de mísseis suecos à Índia através  de corrupção, e a existência de uma rede de extrema-direita na polícia de Estocolmo. As testemunhas que viram o criminoso em fuga deram descrições diferentes. Mas a investigação policial tem sido criticada por ter feito pouco uso profissional e governado por “altos” chefes de polícia em vez do crime ser analisado por investigadores qualificados em criminologia. Acima de tudo, um muito focado no que era uma potência estrangeira ou organização terrorista estava por trás do ataque. Logo, descobriu-se que a polícia tinha contrabandeado equipamentos de escutas ilegais a serem utilizados na investigação. Deputados foram interrogados pelo Tribunal Constitucional  e Ebbe Carlsson condenado por contrabando agravado e a ministra da Justiça, Anna-Greta Leijon que  renunciou ao cargo.  Em 27 julho de 1989 o tribunal condenou o criminoso profissional, Carl Gustaf Christer Pettersson suspeito no assassinato de 1986 de Palme, o primeiro ministro da Suécia.

Em 1989, ele foi condenado à prisão perpétua pelo assassinato no tribunal distrital, mas absolvido no recurso no ano seguinte. Três testemunhas, incluindo Lisbet Palme, tinha estado em um confronto que apontou Christer Pettersson assassino, que mais se parece com a pessoa que tinha sido vista na noite do assassinato. O traficante de drogas Sigge Cedergren indicara à polícia que ele havia emprestado um revólver Magnum roubado para Pettersson, dois meses antes do assassinato. O tribunal distrital não era a consenso e o julgamento foi objeto de recurso para o Tribunal de Apelação da Svealândia, que é um dos seis tribunais de apelação de 2ª instância (Hovrätt) do sistema judicial da Suécia, onde ele foi absolvido. Christer Pettersson morreu em setembro de 2004, de uma fratura de crânio quando ele teve um ataque epiléptico. Olof Palme foi durante a sua carreira, um político polêmico que dominou a cena pública sueca durante o decorrer de sua vida. Em alguns círculos elitistas, era desprezado, enquanto que em outros ele era muito popular. Ele fez muitos inimigos poderosos no exterior através de suas denúncias mordazes dos Estados Unidos da América, o regime de Franco na Espanha e de apartheid na África do Sul, além de seu apoio claro à popularidade de Fidel Castro. Enquanto na Suécia, ele tinha inimigos de suas políticas radicais de socialização, em parte com base nos meios de comunicação controlados pelo Estado e à nacionalização de grandes empresas.

            Segundo Stahl e Mulvad (2015), no artigo: “O Que Torna a Escandinávia Diferente?”, há uma razão pela qual os estados de bem-estar social escandinavos seguem sendo motivo de inveja de muitos ao redor do mundo. Mesmo após décadas de tentativas de reformá-los pelo projeto neoliberal, a Escandinávia exibe uma divisão igualitária de rendimentos relativamente elevados, grandes programas de bem-estar social financiados por impostos, sindicados poderosos e taxas de desempregos relativamente baixas. Os manuais neoliberais nos contam que o único caminho para a prosperidade social é por meio de baixos níveis de tributação, negócios desregulamentados e mercados de trabalho selvagemente competitivos. Ainda assim, a despeito de não cumprir as métricas da variante anglo-americana de capitalismo, os países escandinavos teimosamente continuam a prosperar, e regularmente aparecem no topo dos índices globais de felicidade e qualidade de vida. Não é nenhuma surpresa, portanto, encontrar neoliberais e conservadores dedicando energia intelectual considerável em deslegitimar o “Modelo Nórdico” de bem-estar público. O Instituto de Assuntos Econômicos, um think thank neoliberal britânico, dedicou um livro interno com o objetivo de explicar à “não-excepcionalidade” da economia e cultura escandinava. O objetivo era dar uma explicação satisfatória à história de sucesso dos estados de bem-estar social nórdicos, argumentando à velha moda Hayekiana que o sucesso dos países nórdicos precede a Era de Bem-estar Público, e que qualquer coisa de excepcional e bem-sucedido sobre tal modelo desapareceu desde então.

Nos EUA onde a campanha de Bernie Sanders pôs a ideia da socialdemocracia nórdica no centro do debate político, Kevin Williamson é colunista de longa data da National Review, adotou a estratégia oposta.  Em artigos recentes ele reconhece a excepcionalidade da experiência nórdica e admite que estes países têm sido de fato relativamente bem-sucedidos até recentemente. Mas em uma estranha reviravolta novelesca, Williamson também racializa a experiência nórdica, atando o sucesso de políticas social-democráticas à alegada “brancura e homogeneidade dos países nórdicos, por conseguinte enfraquecendo sua credibilidade como fonte de inspiração para progressistas estadunidenses comprometidos com o antirracismo”. A política escandinava é muito menos partidária e mais pró-coalisão que nos Estados Unidos da América, com a representação proporcional efetivamente negando ao partido político uma maioria parlamentar absoluta. Mas não devemos confundir, afirmam Stahl e Mulvad, uma conjuntura histórica contingente do séc. XX, de relativa civilidade política, como uma essência supra-histórica da cultura política nórdica. O Estado de bem-estar social universal e o mercado de trabalho regulado e igualitário são tão populares entre os eleitores que mesmo políticos liberais ou conservadores querendo desmontá-lo têm de concorrer como defensores deste bem-estar público se quiserem evitar o processo social de “suicídio eleitoral”. Essa situação não emergiu das brumas da história. É o produto de décadas de lutas de organizações de trabalhadores e de movimentos populares através do século passado. O estado de bem-estar social-democrático enfrentou duros desafios históricos,  tanto da Esquerda, diante de movimentos comunistas e da chamada Nova Esquerda, quanto a Direita, como a poderosa organização patronal sueca Svenska Arbetgivarföreningen (SAF), Federação Sueca de Empregadores, e movimentos anti-impostos ao estilo Tea Party, referido como Partido do Chá, um movimento social dinâmico norte-americano que apareceram na década de 1970 na Noruega e Dinamarca. Posto de maneira simples, o “Consenso Nórdico” nunca foi tão compreensível como Oliver Eaton Williamson quer fazer-nos crer. 

Bibliografia geral consultada.

BARTOLINI, Stefano; MAIR, Peter, Identity, Competition and Electoral Availability: The Stabilization of European Electorates (1885-1985). New York: Cambridge University Press, 1990; ESPING-ANDERSEN, Gosta, The Three Worlds of Welfare Capitalism. New York: Cambridge Polity Press, 1990; WOOD JÚNIOR, Thomas, Fordismo, Toyotismo e Volvismo: Os Caminhos da Indústria em Busca do Tempo Perdido. In: Rev. Adm. de Empresas, vol. 32, nº 4, pp. 6-18. São Paulo, set./out., 1992; SLIWINSKI, Marek, Le Génocide Khmer Rouge: Une Analyse Démographique. Paris: Editions L`Harmattan, 1995; FIORI, José Luís, “Estado de Bem-estar Social: Padrões e Crises”. In: Physis, vol.7, nº2, pp.129-147, 1997; HILFERDING, Rudolf, Il Capitale Finanziario. Milano: Editore Mimesis, 2011; CORREA, Juliana Chueri Barbosa, Retração do Welfare State na Suécia e Dinamarca. Dissertação de Mestrado. Escola de Administração de Empresas: São Paulo: Fundação Getúlio Vargas, 2013; PIKETTY, Thomas, “Um Estado Social para o Século XXI”. In: O Capital no Século XXI. 1a edição. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2014; TEIXEIRA, Antônio Alder, Estratégias Narrativas na Filmografia de Ingmar Bergman: O Diálogo entre o Clássico e o Moderno. Tese de Doutorado. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2014; AVELAR, Marina Campos de, Descentralização Educacional na Suécia: Uma Análise da Formulação da Política Pública. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Educação. Faculdade de Educação. Universidade Estadual de Campinas, 2014; PRATES, Thiago Henrique Oliveira, “O Mundo não Acaba no Malecón”: Exílio, Intelectuais e Dissidência Política nas Revistas Encuentro de la Cultura Cubana e Revista Hispano-Cubana (1996-2002). Dissertação de Mestrado. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2015; QUINTAS, Felipe Maruf, Uma Estratégia Nacionalista e Social-Democrata de Desenvolvimento: O Modelo Rehn-Meidner na Suécia (1952-1983). Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Ciência Política. Instituto de Ciências Humanas e Filosofia. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2017; PÉREZ, Angélica, “El Asesino de Olof Palme es el Hombre de Skandia y se Cierra la Investigación sobre el Magnicidio”. In: https://cctt.cl/2020/06/13/; NOBREGA, Roberto Bezerra; KUBO, Edson Keyso de Mirnada, Resquícios de Volvismo nas Organizações Contemporâneas. In: International Journal of Development Research. Vol. 10, Issue, 07, pp. 38097-38104, July, 2020; Série TV Cable: Assassinato do Primeiro-Ministro. In: https://www.netflix.com.br/2021/; entre outros. 

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