Ubiracy de Souza
Braga
“Não quero que os ricos chorem, quero é que os pobres riam”. Olof Palme
A Suécia é uma monarquia
constitucional parlamentarista, em que o chefe de Estado é um monarca, com
poderes e funções meramente oficiais e cerimoniais. O atual rei é Carlos XVI
Gustav da Suécia desde 1973. Foi o único filho homem do príncipe Gustavo
Adolfo, Duque da Bótnia Ocidental, e sua esposa, a princesa Sibila de
Saxe-Coburgo-Gota. Seu pai morreu quando ele tinha menos de um ano de idade,
fazendo de Carlos Gustavo o herdeiro e depois sucessor de seu avô, o rei
Gustavo VI Adolfo. Sua herdeira aparente é a princesa Vitória, Princesa
Herdeira da Suécia, a sua primeira filha com a sua esposa, a rainha consorte
Sílvia Sommerlath. Vitória ascendeu a princesa herdeira, passando à frente de
seu irmão Carlos Filipe, Duque da Varmlândia, em 1º de janeiro de 1980, depois
de aprovada uma nova lei estabelecendo a primogenitura absoluta. A herdeira
sueca atual é a princesa Vitória, Princesa Herdeira da Suécia, a primogênita do
rei, é a primeira na linha de sucessão ao trono sueco. A governação do
país é efetuada pelo governo, liderado pelo primeiro-ministro, e respondendo
politicamente perante o parlamento. O atual primeiro-ministro é Kjell Stefan
Löfven do Partido Social-Democrata, desde 3 de outubro de 2014. O Governo
Löfven é uma coligação do Partido Social-Democrata com o Partido Verde. Entre o
começo de 2012 e o fim de 2014, ele foi o líder da oposição e líder do seu
partido. Após as eleições gerais de 2014, ele foi nomeado primeiro-ministro,
liderando um governo de coalizão minoritária com o Partido Verde. Ele
foi confirmado para um segundo mandato em 18 de janeiro de 2019 após longas
negociações depois da inconclusiva eleição de 2018, com o impasse resultante resolvido devido à abstenção dos membros do Partido do Centro, do
Partido de Esquerda e dos Liberais.
Stefan Löfven nasceu em Estocolmo,
mas foi adotado por uma família de trabalhadores humildes em Sollefteå. Aos 13
anos, funda a associação local da Juventude Social-Democrata Sueca
(SSU). Depois de ter feito um curso de dois anos do Ensino Médio, Löfven
estudou Serviço Social na Universidade de Umeå, tendo abandonado os estudos
depois de um ano e meio. Em seguida fez um curso prático de soldadura de 48
semanas em Kramfors. Depois de ter trabalhado nos correios e numa serração,
Löfven esteve empregado como soldador numa empresa de fabrico de material de
guerra em Örnsköldsvik entre 1979 e 1995, A partir de então, foi muito ativo no
poderoso Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos (IF Metall), um dos
maiores sindicatos do país, e uma importante organização do movimento operário
social-democrata na Suécia, tendo sido presidente no período 2006-2012, eleito
líder dos Social-Democratas, numa conferencia interna da direção do partido. Em
outubro de 2014, tomou posse como Primeiro-Ministro do Governo Löfven. Os
Sociais-Democratas, saíram vitoriosos nas eleições gerais de 2014 na Suécia,
conquistando 31% dos votos. Löfven anunciou que pretendia formar uma coligação
governamental com o Partido Verde, e ter uma colaboração pontual com outros
partidos, tendo indicado à esquerda o Partido da Esquerda, e à direita o
Partido do Centro e o Partido Liberal. Igualmente, tencionava manter alguns
amplos acordos parlamentares, incluindo os conservadores Partido Moderado e
Partido Democrata-Cristão. Apesar de o Governo Löfven ter sido aprovado pelo
Parlamento, a proposta de Orçamento do Estado foi vencida pela proposta da
oposição pela aliança política de centro-direita e viabilizada pelo Partido dos
Democratas Suecos de extrema-direita, tendo Stefan Löfven convocado novas
eleições para março do ano seguinte. O país tem de 10 milhões de
habitantes.
Sven Olof Joachim Palme (1927-1986) foi um político sueco. Membro do Partido Operário Social-Democrata da Suécia foi primeiro-ministro entre 1969 e 1976 e 1982 e 1986, ano em que foi assassinado à saída de um cinema em Estocolmo. O movimento operário sueco (arbetarrörelsen) é a organização articulada da Confederação Nacional de Sindicatos fundada em 1898, do Partido social-democrata fundado em 1889 e da União de Cooperativas, dando expressão à luta dos trabalhadores suecos por melhores condições de vida económicas, sociais, culturais e políticas. Tem as suas raízes em 1850, no advento da industrialização da Suécia, quando os operários se começaram a organizar, e a realizar estratégias da recusa de fome e greves. O primeiro sindicato organizado dos tipógrafos viu a luz do dia em 1846. O Partido Operário Social-Democrata da Suécia é designado de Partido Social-Democrata, é um partido político formado através da base dos trabalhadores fundado em 1889. A ideologia oficial do partido tem como representação a articulação entre as ideias de formação política e sindical em torno da social-democracia e do socialismo democrático, aceitando a economia de mercado com um forte estado regulador, melhor dizendo, a economia de mercado tem como base os princípios do liberalismo econômico, que defende a liberdade de produção e comércio, a propriedade privada, o Estado mínimo e a livre concorrência e um significativo setor público garantindo o Estado social. Colabora ativamente com a Confederação Nacional de Sindicatos da Suécia, formando o chamado Movimento Operário Sueco. A sua organização juvenil tem o nome de Juventude Social-Democrata Sueca, popularmente designada de SSU. Desde 27 de janeiro de 2012, o seu líder é Stefan Löfven. O partido publica Aktuellt i Politiken, uma revista semanal de notícias nacionais, que esclarece e divulga as relações sociológicas entre a política e a sociedade a partir da perspectiva social-democrata do rico movimento trabalhista.
Olof
Palme tornou-se reconhecido como um notável exemplo da Social-Democracia
Escandinava, tendo levado mais longe que qualquer outro político a ideia de
conciliar uma economia de mercado com um estado social. Durante o seu governo,
a Suécia gozou de uma forte economia e dos níveis de assistência social mais
altos no mundo. Seu reconhecimento também foi demonstrado como opositor do regime
Apartheid e da Guerra do Vietnam, chamada no Vietnã de Guerra de
Resistência contra a América ou simplesmente Guerra Americana. Representou
um grande conflito armado de grandes proporções que ocorreu no Vietnã, Laos e
Camboja de 1º de novembro de 1955 até a queda de Saigon em 30 de abril de 1975.
Foi a segunda das Guerras da Indochina oficialmente travada entre o Vietnã do
Norte e o governo do Vietnã do Sul. O exército norte-vietnamita era apoiado pela
União Soviética, China e outros aliados comunistas, enquanto os sul-vietnamitas
eram apoiados pelos Estados Unidos da América (EUA), Coreia do Sul, Austrália,
Tailândia, e outras nações anticomunistas pelo mundo globalizado Neste cenário,
o conflito no Vietnã é descrito como “uma guerra por procuração no auge da Guerra
Fria”, o que lhe causou graves conflitos com Washington. Os exércitos dos Estados Unidos da América e
do Vietnã do Sul tinham, notavelmente, maior poder de fogo bélico, apoiados
como tal por sua supremacia aérea e tecnológica, contando com operações estratégicas
imediatas de “procurar e destruir” (“search and destroy”), envolvendo maciças
unidades humanas terrestres, de artilharia e avassaladores ataques aéreos.
No
curso da guerra, os norte-americanos conduziram sistemáticas campanhas de
bombardeio estratégico contra cidades do Vietnã do Norte, causando enorme
devastação. O governo do Vietnã do Norte e os Viet Congs estavam lutando
em torno da questão nacional para unificar o país. Eles viam o conflito bélico como
parte de uma guerra colonial e uma continuação direta da Primeira Guerra da
Indochina, inícida na Indochina Francesa a 19 de dezembro de 1946,
prolongando-se até 1º de agosto de 1954. Os combates entre as forças francesas
e os seus oponentes Viet Minh no Sul datam de setembro de 1945, contra
as forças da França e depois dos Estados Unidos. O governo norte-americano
lutava para evitar que o Vietnã do Sul se tornasse mais uma nação comunista na
geopolítica dos Estados nacionais como parte da chamada Teoria do Dominó,
uma doutrina da política externa norte-americana na chamada Guerra Fria, que
postulava que se um país, ou região, entrasse para o comunismo, “os países com
os quais esse fizesse fronteira iriam cair em seguida” e da abrangente política
de contenção, com o objetivo final de deter o comunismo. A teoria é atribuída a
John Foster Dulles. No começo da década de 1950, conselheiros militares norte-americanos
foram enviados para a Indochina Francesa. O envolvimento dos Estados Unidos da
América nos conflitos da região aumentou nos anos 1960, com o número de tropas
estacionadas no Vietnã triplicando de tamanho real entre 1961 e 1962. Após o
Incidente do Golfo de Tonkin, em 1964, quando um contratorpedeiro norte-americano
foi supostamente atacado por embarcações norte-vietnamitas, o Congresso dos
Estados Unidos da América aprovou uma Resolução que autorizava o presidente
aumentar a presença militar do país no Vietnã e escalar o conflito. Unidades militares
de combate começaram a chegar quantitativamente no país em 1965.
A
guerra rapidamente se expandiu, atingindo o Laos e o Camboja, que passaram a
ser intensamente bombardeados pela força aérea dos Estados Unidos a partir de
1968, o mesmo ano que os comunistas lançaram a grande Ofensiva do Tet. As
operações recebem este nome porque se iniciaram nas primeiras horas da manhã do
Tết Nguyên Đán, o primeiro dia do ano no calendário lunar tradicional
usado no Vietnã e o feriado mais importante do país. Esta ofensiva falhou no
seu objetivo de derrubar o governo sul-vietnamita e iniciar uma Revolução Socialista
na região, mas é considerado o ponto de virada da guerra, já que a população norte-americana
passou a questionar a opinião pública se uma vitória militar seria possível,
com o inimigo capaz de lançar grandes ataques mesmo após anos de derramamento
de sangue. Havia uma grande disparidade entre o que a imprensa norte-americana
e o governo falavam, com os dados estatísticos apresentados por ambos
geralmente contrastando. Nos Estados Unidos e no Ocidente, a partir do final
dos anos 1960, começou um forte sentimento de oposição a guerra como parte de
um grande movimento de contracultura. A guerra mudou a dinâmica das relações
entre os blocos Leste e Oeste, também alterando as divisões norte-sul do mundo
global.
Enquanto
líder da oposição, Olof Palme atuou como mediador especial da Organização
das Nações Unidas na Guerra Irã-Iraque e foi Presidente do Conselho Nórdico
em 1979. O Conselho é um organismo de cooperação prática entre os parlamentos
dos países nórdicos e das suas regiões autónomas. Tem como principal missão dar
recomendações aos respetivos governos. Foi fundado em 1952 pela Suécia,
Dinamarca, Noruega e Islândia, tendo a Finlândia aderido em 1955. As regiões
autónomas da Åland e das Ilhas Faroé aderiram em 1970, e a Groenlândia em 1984.
O povo lapão (Sámi) não tem todavia representação no conselho. Este órgão é
composto por 87 deputados provenientes dos parlamentos dos cinco países
nórdicos e das suas três regiões autónomas. As principais áreas de trabalho do
Conselho Nórdico são a cultura e a educação, para além da justiça, transportes,
ambiente e condições sociais e económicas. Como marcas de referência da
atividade do conselho, estão a criação do mercado comum de trabalho em 1954, e
o acordo de livre circulação sem necessidade de passaporte em 1957.
Paralelamente ao Conselho Nórdico, existe um Conselho de Ministros Nórdicos,
fundado em 1971. As duas organizações têm sedes em Copenhagen. Palme era uma
figura humana central e polarizadora, na política interna e na política
internacional desde os anos 1960, pois foi firme na sua política de
não-alinhamento em relação às superpotências, acompanhado pelo apoio a
numerosos movimentos sociais de libertação nacional do chamado 3º Mundo após a descolonização,
incluindo, o mais controverso, o apoio económico e vocal a vários governos.
Olof
Palme foi o primeiro chefe de governo ocidental a visitar Cuba após sua
revolução, fazendo um discurso em Santiago elogiando os revolucionários
contemporâneos cubanos e cambojanos. A Revolução Cubana foi um movimento armado
e guerrilheiro que culminou com a destituição do ditador Fulgêncio Batista de
Cuba no dia 1º de janeiro de 1959 pelo Movimento 26 de Julho liderado
pelo então revolucionário Fidel Castro (cf. Kalfon, 1997). Frequentemente
crítico da política externa dos Estados Unidos da América e da União Soviética,
dirigiu críticas e muitas vezes polarizadoras ao identificar a sua oposição às
ambições imperialistas e regimes autoritários, incluindo os de Franco em
Espanha, Brezhnev na União Soviética, Salazar em Portugal e Gustáv Husák na
Checoslováquia, bem como John Vorster e Pieter Willem Botha, reconhecido como “P.W.”, ou Die Groot
Krokodil - africâner para “O Grande Crocodilo” - foi primeiro-ministro da
África do Sul entre 1978 e 1984 e Presidente-de-Estado. A sua condenação política
da guerra em 1972 aos bombardeamentos de Hanói, comparando notavelmente a
tática ao campo de extermínio de Treblinka, o quarto campo de extermínio alemão
onde judeus foram exterminados em câmaras de gás alimentadas por motores a
explosão localizado nos arredores da cidade de Treblinka, na Polônia ocupada
pelos alemães. Neste campo de concentração foi criado um sonderkommando (“sistema
de trabalho”) onde os judeus eram incumbidos de receber os comboios que
chegavam, conduzir os deportados para as câmaras de gás, retirar os cadáveres,
extrair os dentes de ouro, e proceder a cremação, resultou num congelamento
temporário nas relações diplomáticas sueco-norte-americanas.
Nascido a 30 de janeiro de 1927, de
uma conservadora família de Estocolmo, Olof Palme fez carreira como político
progressista. Ainda estudante de Direito, ele ingressou no movimento jovem do Partido
Trabalhista Social-Democrático, pelo qual foi eleito deputado federal em
1958. Durante o governo de Tage Erlander, foi ministro dos Transportes e das
Comunicações (1965-1967) e da Educação (1967-1969). Tage Fritiof Erlander
(1901-1985) foi um político social-democrata da Suécia. Ocupou o lugar de
primeiro-ministro de 11 de outubro de 1946 a 14 de outubro de 1969. Durante seu
mandato, vieram a luz do dia as importantes reformas
sociais da segurança social na doença e a pensão geral complementar. Ipso
facto, Olof Palme, também visionário, em 1969, herdou de Erlander o cargo e
as reformas de primeiro-ministro, permanecendo nele até 1976. Depois de seis
anos de governo conservador, Olof Palme voltou ao poder em 1982, quando se
destacou internacionalmente por sua inteligência, capacidade rhêtorikê e
formação política. A comunicação escrita e falada é a base da interação social
e mais que isso, atua como o elemento fundamental da política. Assim, a
retórica utiliza a linguagem, de forma eficiente, construindo uma argumentação
que visa o convencimento para influenciar a deliberação e a tomada de decisões.
Foi o 4º presidente do Partido Social-Democrático, desde sua fundação 100 anos
antes. Aos 42 anos, teve a honra de tornar-se o mais jovem chefe de governo da
Europa. No entanto, com suas análises penetrantes, na política, não só
conquistou amigos como inimigos. Era motivo de controvérsia dentro do próprio
Partido Social-Democrático, mas nunca se duvidou seriamente de sua capacidade
de liderança.
Muitas vezes nascer rico ou pobre é
ganhar anos de avanço em relação aos filhos de operários. Obviamente os
partidos políticos burgueses podem escolher chefes mais jovens que os partidos
proletários porque os quadros burgueses são formados mais facilmente, de
início. Apesar dos sistemas de bolsas, a proporção de filhos de operários que
seguem o curso secundário ou superior é muito menor que a dos filhos de
industriais, de comerciantes, de médicos, de advogados etc. Estatisticamente
entre as duas guerras, na Inglaterra, 50% dos deputados conservadores saíam de
universidades contra 42, 5% dos deputados liberais e somente 22% dos deputados
trabalhistas; 96,5% dos deputados conservadores haviam cursado as escolas
secundárias ou as public schools, em contraposição a 86,5% dos deputados
liberais e somente 28% dos deputados trabalhistas. Essas cifras são eloquentes:
ainda só dizem respeito aos parlamentares dos partidos, isto é, dos quadros
superiores. Nos quadros subalternos, a proporção de mestres operários que
tenham recebido instrução secundária ou universitária será muito mais fraca.
Mesmo se considerássemos que o ensino secundário ou superior constitui uma
formação política insuficiente, ele não deixa de dar uma cultura geral e uma
técnica da análise dos fatos políticos e da sua exposição, ou seja, uma
retórica, que são muito preciosas para a formação dos quadros de pensamento de
um partido político. Por não tê-las adquirido em sua juventude, mito militantes
operários são obrigados a aprendê-las mais tarde, o que lhes retarda o acesso
aos postos d direção. No próprio âmbito dos partidos operários, os elementos
burgueses têm, portanto, mais oportunidade de conduzir jovens a postos de
direção. Apesar de tudo, não devemos esquecer que, pela sua própria definição,
a massa dos partidos burgueses é composta de burgueses cuja grande parte se
beneficiou de uma instrução secundária ou mesmo superior, o que gera
concorrência assaz forte para as funções dirigentes. O rejuvenescimento está, ipso
facto, longe de assegurado de forma satisfatória. O grau de
centralização ou descentralização do partido político parece igualmente
desempenhar importante papel social.
O
líder sueco Olof Palme não escondia sua rejeição à intervenção militar
norte-americana no Vietnã. Também criticou a invasão de Praga pelos soviéticos.
A neutralidade axiológica da Suécia não impediu que reconhecesse a soberania do
Vietnã do Norte, em 1969, causando crise diplomática com os Estados Unidos da
América, resultando no rompimento da
entre os dois países somente restabelecida em 1974. Em seus discursos pacifistas, Olof Palme condenava
incisivamente a ameaça nuclear e a injustiça social no mundo globalizado.
Atacava a política do apartheid na África do Sul, enquanto apoiava a Organização
para a Libertação da Palestina (OLP) e mormente o Movimento Sandinista na
Nicarágua, propagando um “socialismo à sueca”. Seu engajamento na
política externa rendeu-lhe críticas e custou-lhe votos. Acusado de haver
negligenciado a política interna e criticado por aumentos de impostos em meio à
crise econômica, Palme perdeu as eleições parlamentares de 1976. O controle
quase permanente do governo exercido pelo Partido Social-democrata desde 1932
foi quebrado em 1976, quando os três partidos ditos “burgueses” formavam um
governo de coalizão, no qual se sucederam, durante os seis anos seguintes
diversos tipos de ministérios governamentais. Desnecessário dizer que o termo sociológico
burguês deriva do latim burgus através de adaptações germânicas expressas
pelas palavras: burga, baúrgs ou bürg, que na Alta Idade
Média designavam uma pequena fortificação, um castelo ou uma vila de proteção murada.
Seus
habitantes, por extensão, se denominaram primitivamente burgensis, burgari
- burgueses - termo atestado pela primeira vez de forma corrente no século
VIII. Com a conquista normanda da Inglaterra o termo bürg foi importado
e aparece no século XII como bury, borough, burgh,
denominando uma cidade. Aparece na mesma época também no norte do Reino da
França. O conceito é associado ao de cidadania, cujas origens históricas estão
na Antiguidade. Tanto a Grécia como Roma organizaram suas sociedades urbanas de
maneira a integrar um corpo de cidadãos, que viviam em um espaço físico bem
definido, eram regidos por leis específicas e detinham relevantes direitos
políticos, não atribuídos a outras classes. Após a queda do Império Romano as
cidades entraram em declínio comercial e a população se ruralizou em larga
proporção. No processo social e de comunicação através de crescimento dos
burgos o estatuto de cidadão adquiriu uma base jurídica diferenciada. Passou a
ser exclusivo dos habitantes livres, ou homens livres do servilismo ou
escravidão, e capazes de exercer direitos especiais. A este grupo social específico,
apenas, ficou restrito o uso do termo burguês, um sinônimo de cidadão.
Outros residentes dos burgos passaram a ser chamados no idioma alemão: Lumpenproletariat
(lumpen, “trapo, farrapo” + proletariat, “proletariado”),
ou “lumpesinato”, ou ainda “subproletariado”, designando na economia marxista,
a população situada socialmente abaixo do nível do proletariado, do ponto de
vista das condições sociais de vida e de trabalho, formada por frações pobres de
miseráveis, não organizadas do proletariado, não apenas destituídas de recursos
econômicos, mas também desprovidas de consciência política e de classe, não sendo
suscetíveis de servir aos interesses particulares da burguesia.
Em
1982, a social-democracia conseguiu, entretanto, recuperar o controle do
governo. Em 1979, tornou-se membro da Comissão Norte-Sul da Organização das
Nações Unidas, encarregada de melhorar as relações entre os países
industrializados e o 3º Mundo. Como presidente da Comissão das Nações Unidas
para Questões de Desarmamento e Segurança, lutou a partir de 1981 por uma
Escandinávia livre de armas atômicas. De volta ao poder em 1982, Olof Palme passou
dois anos trocando acusações com a União Soviética, devido à presença de
submarinos soviéticos em águas territoriais suecas, desta vez sem esquecer a
política interna. Com uma desvalorização da coroa sueca e uma série de medidas
drásticas, seu governo conseguiu retomar as rédeas da economia. A modificação
das relações políticas e partidárias fez com que a organização social e
política da Suécia, apesar da manutenção de um consolidado sistema
pluripartidarista, se aproximasse do sistema clássico de contradição e oposição
assimétrica exequível do bipartidarismo anglo-saxão com mediações complexas um
bloco liberal oposto ao socialista. Mas
a Suécia continua a ser uma economia pujante e com um Estado Social que é continuamente repensado
através de suas lutas sociais e políticas, à medida das capacidades da economia
sueca e não de certas e determinadas correntes ideológicas que fazem lobby
junto do poder e usam sindicatos como “correias de transmissão” dos partidos,
como é lugar-comum em Portugal e outros países continentais do Sul da Europa. O
bipartidarismo tradicional nasce após a Revolução Francesa. Com maior ou menor
êxito, foram sendo implantados na Europa parlamentos
bipartidaristas nos quais se apresentaram sempre dois blocos opostos que se
rivalizam em conservadores e liberais.
Uma
interpretação muito comum, mas errônea quando se fala do Estado Social na
Suécia, é a ideia de representação social de que este foi o resultado
político de um produto exclusivo da esquerda e que anteriormente às ideias
socialistas que germinaram no século XIX, não existia qualquer tipo de Estado
Social nesse país. Na realidade, foi a Igreja sueca que lançou as primeiras
pedras na construção do Estado Social sueco, quando esta instituiu em 1734 a
obrigação de cada paróquia ter um asilo para os mais desfavorecidos e
economicamente carenciados. O sistema eleitoral dessa instituição cristã é
único no mundo. A cada quatro anos, os cidadãos filiados à igreja elegem uma
espécie de Parlamento da Igreja Sueca (“Svenska kyrkan”), a que é a maior
organização religiosa do país. Esse Parlamento é composto tanto por
representantes do clero como por leigos e tem o poder de decidir não só
questões mundanas, como a reforma das paróquias e o valor de doações a países
pobres, mas também assuntos de ordem teológica, mas também de ordem sociológica, a exemplo do casamento entre
pessoas do mesmo sexo, aprovado pela Igreja Sueca em 2009. Até ao início da
segunda metade do século XIX a Suécia manteve-se um país relativamente pobre e subdesenvolvido
no quadro da Europa que tinha então já iniciado a sua industrialização nos
países economicamente mais avançados. Até ao início do século XX a Suécia
manteve um crescimento econômico acelerado, para o qual contribuíram também as
inovações tecnológicas e esforços técnico por vários inventores e
empreendedores suecos.
Ainda no século XIX, surgem diversas empresas inovadoras, chamadas por Erixon (1996) de “empresas gênio”. A primeira delas foi a Atlas, mais tarde reconhecida como Atlas Copco, fundada em 1873. Sua produção econômica foi, inicialmente, voltada para equipamentos pesados ferroviários, mais tarde entrando no mercado de compressores de ar e perfuratrizes. Em 1876, é fundada a Ericsson, que instalou sistemas telefônicos por todo o país. Seu sucesso foi tão grande que, em 1885, Estocolmo era a cidade com o maior número de telefones instalados em todo o mundo. No final da década de 1870, surge a Alfa-Laval, empresa que produz máquinas de laticínios. Em 1891, funda-se a ASEA, produtora de motores de corrente alternada e de equipamentos de transmissão de energia elétrica de longa distância. Em 1904, surge a AGA, que em poucos anos torna-se líder mundial de equipamentos de gás para uso industrial e médico. Por fim, em 1907, é fundada a SKF, produtora de rolamentos, que também assume rapidamente uma posição de líder global em seu segmento. O surgimento de empresas como a Ericsson (1876), a Volvo (1927), a Saab (1937) são alguns exemplos reais daquilo que foram e representaram nas últimas décadas do século XIX e as primeiras do século XX para a consolidação da economia sueca. A Suécia deixou assim de ser apenas mais um país rural e com uma economia baseada quase exclusivamente na em produtos primários da agricultura (e pesca), para se transformar numa Nação moderna e competitiva pautada por um claro processo de industrialização mecanizada e urbanização articulada com a demanda social.
Mais
de 30 anos após o assassinato do primeiro-ministro Olof Palme, a justiça
da Suécia encerrou o caso, já que o principal suspeito está morto. Stig
Engström, reconhecido também como o “homem da Skandia”, nome da empresa para a
qual trabalhava, apareceu regularmente na imprensa como suspeito. Era um
opositor às ideias de esquerda de Olof Palme. Engström foi um dos primeiros a
chegar ao local do crime e as autoridades o interrogaram como testemunha, o
exército e a polícia sueca e o serviço secreto sul-africanos. Olof Palme era um
grande crítico da política de apartheid do país, mas o consideraram pouco
confiável porque mudava regularmente de versão. Morreu no ano 2000. O assassino
de Olof Palme conseguiu fugir e levou a arma do crime. Centenas de pessoas
foram interrogadas, dezenas reivindicaram o ato e o processo ocupa 250 metros
de estantes. As condições de seu depoimento, repletas de irregularidades,
enfraqueceram o caso. Depois de confessar o assassinato, o criminoso voltou
atrás. Faleceu em 2004 e Lisbet em 2018. Com o passar do tempo, também foram
apontados como suspeitos, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK),
separatistas curdos turcos, reconhecido como KGK e anteriormente conhecido como
KADEK ou Kongra-Gel, é uma organização Curda antifascista que desde 1984 vem se
engajando em uma luta armada contra o Estado turco, por um Curdistão autônomo e
com mais direitos civis e políticos para os curdos na Turquia. O grupo foi
fundado em 27 de novembro de 1978 e foi liderado por Abdullah Öcalan. A
ideologia do PKK representou originalmente uma fusão consciente do socialismo
revolucionário e do nacionalismo curdo, embora desde a sua prisão, Öcalan tenha
abandonado o marxismo ortodoxo e elaborado o que ele chamou de Confederalismo
Democrático.
Os
países nórdicos europeus são frequentemente lembrados por entusiastas de
Estados prolixos como exemplos de sucesso das políticas públicas que defendem.
A análise geralmente feita é simples e superficial: a Suécia é um país rico e
sem pobreza, seu governo interfere na economia e distribui generosos benefícios
à população, logo o Estado é um agente importante na redução da pobreza e no
desenvolvimento econômico. É preciso uma análise mais rigorosa para perceber
que a realidade não é bem assim. Do começo do século XIX em diante é possível
compreender, segundo (Lungov, 2015), cinco fases distintas na economia sueca.
Para os dados de crescimento econômico dos anos entre 1820 a 2008, usa o
extraordinário trabalho de Angus Maddison depois expandido por outros
economistas. Tanto pelo Projeto Maddison como pelos dados do Banco Mundial,
estamos sempre falando em PIB per capita ajustado pelo poder de compra
de cada país (ou região) e época. Isso torna os dados comparáveis no mundo ao
longo da história. O Projeto Maddison diz que o Produto Interno Bruto per
capita na China de 1500 era de 600 Int$, enquanto que na Indonésia de 1970 era
1181 Int$. Isto quer dizer o seguinte: o dólar Geary-Khamis ou dólar
internacional (Int'l. dollar ou Intl. dollar, abreviação: Int`l$., Intl$.,
Int$, G-K$ ou GK$) é uma unidade de conta (uma moeda fictícia), que tem o mesmo
poder aquisitivo, em um dado país que o dólar norte-americano nos Estados
Unidos da América, em um determinado momento. Isso quer dizer ainda,
comparativamente, que o indonésio da década de 1970 tinha em média quase o
dobro do poder de compra do chinês de 1500; sua renda permitia-lhe comprar
quase o dobro de bens e serviços. Essa é a análise estatística e o quadro de
pensamento que importa para medir qualidade de vida da sociedade.
No início do século XIX, quase toda a população mundial vivia no campo e produzia alimentos, por sua teoria alimentar para o controle do aumento populacional, reconhecida como malthusianismo e na Suécia não era diferente. Isso quer dizer que a produção econômica de cada país e seu padrão de vida era determinada por sua capacidade de produzir alimentos. As condições naturais ao redor do polo norte não são particularmente favoráveis para atividades agropecuárias, mormente Suécia, Noruega e Finlândia estavam entre os países europeus de fato mais pobres historicamente. Apesar disso, a Suécia vinha de uma revolução pró-mercado na agricultura que seria importante para o rápido crescimento que viria mais adiante. Nos anos entre 1790 e 1815, o governo transferiu a propriedade de grandes áreas rurais para fazendeiros, estimulando o livre mercado na produção e comercialização de produtos do setor primário. Isso criou no país um ambiente onde o mecanismo de preços de mercado direcionava as ações dos agentes. Outras características fundamentais foram os investimentos que fizeram em canais e estradas e o surgimento de companhias de comércio e de sociedades de crédito para financiar capital. Por fim, a Suécia foi o primeiro país do mundo ocidental a ter escolas públicas e gratuitas, criando uma população alfabetizada e muito mais economicamente produtiva. Esse ambiente favorável causou um surto demográfico e de prosperidade que terminou de abrir as portas para a industrialização. Até meados do século XIX, micro-indústrias espalhadas pelas zonas rurais do país, principalmente de aço e madeira, desenvolveram-se em organizações maiores e especializadas, caracterizando uma I Revolução Industrial. Nos anos 1850, a maior parte das tarifas e barreiras a importações foram abolidas, e em 1873, o país adotou o padrão-ouro, o que significa uma paridade fixa entre sua moeda oficial e o ouro.
Além disso, a malha ferroviária foi largamente ampliada, tanto pelo governo como por empresas, interligando todo o país. Com uma área terrestre de 407 311 km², um comprimento de 1 572 km e uma largura de 499 km, a Suécia é o terceiro maior país da União Europeia em termos de superfície. É constituída por um terreno plano ou ondulado na sua parte sul, enquanto a parte norte apresenta uma planície costeira seguida de um interior acidentado culminando em alta montanha junto à fronteira com a Noruega. Como consequência topográfica, a Suécia pôde especializar-se na produção e exportação de bens que a Europa demandava: aço, madeira e aveia, enquanto importava tudo aquilo que não produzia internamente. No final do século, era um dos países mais abertos ao comércio exterior da Europa. Com o aumento abrupto nas exportações, os investimentos na indústria também aumentaram. Estima-se que entre 1850 e 1890, a taxa de investimento sobre o PIB tenha crescido de 5% para 10%. A abertura comercial permitiu ao país importar pesada quantidade de bens de capital, sendo um dos aspectos essenciais para a segunda Revolução Industrial que viria em seguida. O outro foi o robusto mercado de crédito e capital que se desenvolveu. Em 1848 foi editada uma lei de sociedades abertas, e em 1866 foi estabelecida a Bolsa de Valores de Stockholm (cf. Hilferding, 2011), o principal mercado de valores dos países nórdicos. Foi fundada em 1863, tendo sido adquirida em 1998 pela empresa sueco-finlandesa OMX, a qual, por sua vez, aderiu em 2008 à NASDAQ OMX Group. O principal índice de referência da Bolsa de Valores de Estocolmo é o OMX-S30. Este índice engloba as 30 empresas com maior volume de negócios da bolsa. Ao banco central sueco foi estabelecido em 1897 a legalidade contratual de prover liquidez ao mercado de crédito, fomentando a criação de bancos, que por sua vez financiavam pequenos negócios. Novas indústrias surgiram, em diversos novos setores e, em alguma medida substituíram os setores antigos, que agora encontravam competição internacional mais acirrada. Em suma, nos primeiros anos do século XX a economia sueca era robusta, estável e naturalmente dinâmica.
As
políticas econômicas desse período foram, portanto, quase todas liberais.
Benefícios sociais, redistribuição de lucros, alta carga tributária, e todas as
coisas que caracterizam o Estado do Bem-Estar Social não estiveram presentes
até 1950. A Suécia era um país que tinha, para sua época, um mercado livre e,
consequentemente, forte. E isso se reflete em sua taxa média de crescimento: Crescimento
médio do PIB per capita no período, ajustado pelo poder de compra de
cada país ou região. Aqui já temos o argumento mais forte de todos para refutar
a hipótese de que o Estado do Bem-Estar Social trouxe qualidade de vida aos
suecos: antes mesmo de serem adotadas as medidas que caracterizam essa linha de
condução econômica, o sueco já tinha poder de compra 1,68x o europeu e 3,21x o
mundial. É senso comum que a causa não pode ocorrer cronologicamente depois do
efeito, então não é possível que as políticas adotadas a partir de meados do
século XX expliquem o alto padrão de vida dos suecos em 1950. Essa explicação
vem, na verdade, das políticas conduzidas durante os mais de 100 anos
anteriores ao pós-guerra. A diferença de taxas de crescimento pode parecer
pouca, mas ao aplicá-las pelos 130 anos a que correspondem, percebemos que o
PIB per capita sueco aumentou mais de oito vezes no período, enquanto
que o europeu não aumentou nem quatro. PIB per capita dos países
europeus em 1950, em dólares internacionais de 1990 e ajustado ao poder de
compra de cada país. Com tamanha abundância de recursos, muitas famílias suecas
faziam caridade. De acordo com o economista Per Bylund, isso foi determinante
para que a população aceitasse que o Estado assumisse o papel de organizar e
distribuir essas assistências.
Todo
o Estado do Bem-Estar Social sueco foi idealizado e construído pelo Partido
Social Democrata (SAP), na sigla em sueco. Dos quase 110 anos em que a Suécia
foi um reino separado da Noruega, o partido esteve no poder por nada menos que
69 deles, inclusive 40 anos ininterruptos, entre as décadas de 1936 e 1976. Desde
seu primeiro governo, na década de 1920, o SAP já buscava nacionalizar a
economia no bom e velho estilo de economia política soviético. Diante da
dificuldade política encontrada nessa abordagem, mais adiante escolheu-se
deixar a produção de bens a cargo dos procedimentos técnicos capitalistas, mas
deram ao Estado a responsabilidade intervencionista da “justa distribuição” de
seus frutos à sociedade. Em um congresso de 1951, dois economistas de uma
confederação sueca de sindicatos, Gösta Rehn e Rudolf Meidner, apresentaram um
programa de políticas macroeconômicas reconhecido como modelo Rehn-Meidner (cf.
Quintas, 2017), também chamado Modelo Sueco. Esse modelo serviu para a
condução econômica no país pelo menos até início da década de 1970, mesmo que
nem sempre tenha se conseguido cumpri-lo à risca. Nos anos que se seguiram da 2ª
guerra mundial, a economia sueca estava superaquecida pelo processo de
reconstrução europeu. O problema que antes da guerra era de desemprego, agora
era de inflação causada pela disputa por mão-de-obra. O governo tentou, através
de diversas medidas intervencionistas, e sem sucesso, conter a inflação, entre
elas um congelamento de salários em 1949 e 1950.
O
modelo Rehn-Meidner de política econômica e salarial desenvolvido em 1951 por
dois economistas do Departamento de Pesquisa da Confederação Sindical Sueca
(LO), Gösta Rehn e Rudolf Meidner. Os quatro principais objetivos a serem
alcançados foram: inflação baixa, pleno emprego, alto
crescimento e igualdade de renda. O modelo foi teorizado como
tentativa de solucionar o problema da inflação, mas sem abrir mão do pleno
emprego vigente. Recomendava-se usar gastos públicos e impostos para manter o
nível de atividade econômica logo abaixo daquele que normalmente seria o de
pleno emprego e que pudesse, portanto, gerar pressões inflacionárias. As “ilhas
de desemprego” que sobrassem seriam eliminadas através da indução de políticas
ativas de planejamento no mercado de trabalho, ao por exemplo determinar “retreinamento”
ou “realocação de trabalhadores”. A partir de meados da década de 1950, as
negociações salariais passaram a ser conduzidas centralizadamente entre as
centrais sindicais conjuntas de patrões e empregados. Essas negociações
resultaram em aumentos nos salários de trabalhadores pouco produtivos, e
imposição de limites aos salários mais altos, parte do que o modelo cunhou de “política
salarial solidária”. A Suécia foi também o primeiro país do mundo a recuperar
da Grande Depressão de 1929, o colapso do capitalismo e também do
liberalismo econômico e o fato de ter conseguido manter a sua neutralidade axiológica
durante a 1ª grande guerra (1914-1918) e a 2ª guerra mundial (1940-1945) permitiu-lhe
evitar a destruição e morte que arruinou economicamente muitos outros países da
Europa durante décadas e abriu as portas à ocupação soviética a outros tantos. A
revista Life descreveu em 1938 a Suécia como sendo o país com o “padrão
de vida mais elevado do Mundo”. Padrão
este, segundo Nobre (2014) que nada teve de socialista ou se baseou
sequer em qualquer tipo de modelo socialista ou marxista.
As
empresas não lucrativas do mercado deveriam ser empurradas para o que se
convencionou chamar de política salarial solidária, com aumento dos salários
reais em linha com o crescimento da produtividade, obrigando-as a melhorar sua
capacidade produtiva para melhorar a rentabilidade, por meio de medidas como
também o ajuste estrutural. como robotização e automação da
produção, e através de meios subjetivos mais indiretos, como melhores condições
de trabalho, com o objetivo de diminuir as taxas de licenças médicas e aumentar
a produtividade. Tudo isso liberou recursos de trabalho, que foram então
mobilizados em corporações de alta produtividade, por meio de políticas ativas
de mercado de trabalho, visto que se beneficiaram dos custos do trabalho
comparativamente favoráveis a eles e estavam expandindo a produção à medida
que a demanda geral aumentava quando os salários reais e o poder de compra
aumentavam. Isso levou a tomada de lucros crescentes que foram reinvestidos na
melhoria da capacidade produtiva dessas empresas, em parte para aumentar a
lucratividade, em parte para atender à demanda crescente, em parte porque os
incentivos fiscais favoreceram investimentos de longo prazo em Pesquisa & Desenvolvimento,
ao invés de capital ganhos e dividendos e, em parte, para que essas corporações
não se tornem improdutivas e corram o risco de falência, garantindo alto
crescimento da produtividade e aumento dos salários.
O
modelo é estatizante e intervencionista, baseado em uma interação sociológica entre
a economia fiscal keynesiana, o crescimento real dos salários, as políticas
ativas do mercado de trabalho e a intervenção estatal. O objetivo era criar uma
espiral positiva como parte do ciclo de negócios, de acordo com a teoria
keynesiana, permanece a ideia de que o importante, em termos de política
fiscal, não é a geração de déficits, mas sim o papel do gasto público na
complementação de uma demanda efetiva insuficiente, uma vez que a criação de um
Estado de bem-estar expansivo e o investimento público para manter a demanda
doméstica ao longo dos ciclos econômicos garantiam segurança, proteção e
estabilidade ao trabalho, capital, empresas e consumidores. Isso, por sua vez,
ajudou a garantir baixa inflação, ao ajudar a evitar espirais salários-preços e,
assim, fortaleceu os sindicatos na exigência de aumento dos salários
reais em linha com o crescimento da produtividade, combinado com os efeitos do
Estado de bem-estar e programas sociais, levou ao aumento do poder de compra e
da confiança do consumidor. Resultando em aumento da demanda geral e aumento,
manter um ciclo que levou a altas taxas de crescimento e pleno emprego,
alimentado por tributação progressiva e redistribuição da riqueza, que aumentou
ainda mais o poder de compra e garantiu a igualdade de renda.
O
boom econômico que tomou conta da Europa no pós-guerra e que ficou
conhecido como o período dos Trinta Anos Gloriosos por só ter terminado
com a crise do petróleo em 1973, conferiu ainda mais prosperidade e pujança à
já muito forte economia sueca. Designa o período compreendido de 1945 a 1975
que se seguiram ao final da 2ª guerra mundial e que constituíram um período de crescimento
económico na maioria dos países notadamente os
membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE), uma organização econômica intergovernamental criada por 37 países
membros, fundada em 1961 para estimular o progresso econômico e o comércio
mundial através dessas lideranças. Basta ter-se em conta que em 1970 a
Suécia ocupava normalmente o 3º lugar nos rankings mundiais comparativos
de rendimento per capita. Contudo, a crise do petróleo de 1973 e o fim
dos Trinta Gloriosos não deixou a Suécia, nem nenhuma outra economia da
Europa imune aos seus efeitos. As consequências foram um abrandamento da subida
do padrão de vida na Suécia, a que se seguiu a grave recessão económica do
início da década de 1990 e que obrigou a uma reforma do Welfare State
sueco, que havia se tornado “demasiado pesado”, na falta de melhor expressão e
desajustado em relação à economia do país. Os problemas económicos trazidos por
um Estado Social trabalhista são notórios se tivermos em conta que entre 1950 e
1975 a despesa do Estado sueco em políticas sociais subiu de 20% para 50% do Produto
Interno Bruto.
As figuras dominantes da política
sueca destas décadas foram também personalidades novas. Por um lado, Olof Palm,
que em 1969 tinha sucedido a Tage Erlander como líder socialdemocrata,
manteve-se como tal durante 16 anos, até aquela noite de fevereiro de 1986 em
que foi assassinado numa rua central de Estocolmo. E, por outro lado, Ingvar
Carlsson que assumiu então como o quinto chefe na história de um partido,
próximo a cumprir 100 anos de existência. Como a figura política mais importante
do setor liberal durante esse período surgia Thorbjorn Falldin, um agricultor
do norte da Suécia e chefe do Partido de Centro, que ocupou o cargo de
primeiro-ministro durante cinco anos dos seis anos de mandato em que os
partidos liberais contaram com maioria parlamentar. Nestas duas décadas
surgiram dificuldades econômicas às quais o país não estava acostumado. A crise
do petróleo afetou a Suécia de maneira bastante forte, dado a dependência
energética da sua indústria. Por outro lado, a indústria sueca, fortemente
orientada para a exportação, começou a perder espaços no mercado internacional,
devido ao nível relativamente elevado de seus salários e à crescente
concorrência produzida com a emergência de novas nações industriais. Áreas
centrais da indústria sueca, como por exemplo os estaleiros, tiveram na prática
que ser liquidadas em consequência das condições de crise então vigentes no
mercado internacional. Durante alguns anos, o ritmo do crescimento econômico
diminuiu ou se deteve totalmente, a inflação foi bastante alta e surgiram déficits
fiscais que foram parcialmente financiados mediante o endividamento externo da
economia.
Simultaneamente ao desenvolvimento
desse tipo político de contradições, que tendiam a fortalecer a divisão do
espectro político sueco num bloco de direita e outro de esquerda, surgiram
também controvérsias não demarcadas nessa escala tradicional de
direita-esquerda. Com frequência trata-se de questões que é possível referir a
outra dimensão, aquela existente entre desenvolvimento ou não-desenvolvimento.
Tende-se aqui para a produção de um alinhamento diferente, situando-se
conservadores, liberais e socialdemocratas de um lado e o Partido de Centro,
os comunistas e o Partido Verde de outro. Os problemas derivados da tensão
existente entre esses dois polos de desenvolvimento contra não-desenvolvimento,
podem em alguns casos atravessar também um mesmo partido, o que é especialmente
válido para a socialdemocracia. Nesta ordem de problemas, a questão que tem
despertado maior atenção na política sueca é o problema da energia atômica. A
Suécia contava, em virtude de sua própria tecnologia comparativamente
bem-sucedida, com um considerável arsenal de energia atômica em 1980.
Uma questão de dimensão social e
política na esfera do projeto social democrata, por muitos caracterizada como
transformadora do sistema, foi o projeto de constituição dos “fundos de
assalariados”, apresentado pelo Partido Socialdemocrata e elaborado
originalmente no interior do movimento sindical. A proposta consistia na
transferência de uma parte dos ganhos das empresas de certo tamanho, a fundos
especiais por ramo industrial, geridos por diretórios com uma maioria de
representantes dos assalariados. Os defensores do projeto costumavam
apresentá-lo como um terceiro passo na luta do movimento operário para a
transformação da sociedade; o primeiro passo tinha consistido na conquista da
democracia política e o segundo, no estabelecimento de uma sociedade de
bem-estar. Agora, finalmente, o cidadão em geral, os assalariados, seriam
coparticipes da propriedade real do capital. Os adversários do projeto
vociferavam, acusando a socialdemocracia de ter abandonado seu pragmatismo
anterior, de ter tirado sua máscara e de estar disposta a instaurar uma nova e
perigosa modalidade de socialismo na sociedade sueca. Comparado com o desenho
original, o projeto finalmente aprovado em 1983, após grandes discussões,
mostrou-se uma versão muito diluída do primeiro. Posteriormente, o debate -
anteriormente tão inflamado - foi paulatinamente esfriando.
À noite, 28 de fevereiro de 1986 ocorreu seu assassinato. O primeiro-ministro Olof Palme e sua esposa estavam a caminho de casa ao saírem do cinema Grand, em Estocolmo. Quando chegaram ao cruzamento Sveavägen-Tunnelgatan, eles foram ultrapassados por um homem desconhecido que disparou dois tiros, um dos quais atingiu a Olof Palme nas costas. O agressor desapareceu correndo, provavelmente até as escadas em direção Malmskillnadsgatan, uma rua de 650 metros de comprimento no centro de Estocolmo. O assassino de Olof Palme, Christian Petterson, inicialmente condenado à prisão perpétua pelo crime, foi posto em liberdade em 1989, devido a irregularidades em seu julgamento. Uma comissão governamental chegou à conclusão de que a apuração do caso foi marcada por caos e incompetência. Deixaram de ser investigadas pistas importantes, como o fornecimento de mísseis suecos à Índia através de corrupção, e a existência de uma rede de extrema-direita na polícia de Estocolmo. As testemunhas que viram o criminoso em fuga deram descrições diferentes. Mas a investigação policial tem sido criticada por ter feito pouco uso profissional e governado por “altos” chefes de polícia em vez do crime ser analisado por investigadores qualificados em criminologia. Acima de tudo, um muito focado no que era uma potência estrangeira ou organização terrorista estava por trás do ataque. Logo, descobriu-se que a polícia tinha contrabandeado equipamentos de escutas ilegais a serem utilizados na investigação. Deputados foram interrogados pelo Tribunal Constitucional e Ebbe Carlsson condenado por contrabando agravado e a ministra da Justiça, Anna-Greta Leijon que renunciou ao cargo. Em 27 julho de 1989 o tribunal condenou o criminoso profissional, Carl Gustaf Christer Pettersson suspeito no assassinato de 1986 de Palme, o primeiro ministro da Suécia.
Em 1989, ele foi condenado à prisão
perpétua pelo assassinato no tribunal distrital, mas absolvido no recurso no
ano seguinte. Três testemunhas, incluindo Lisbet Palme, tinha estado em um
confronto que apontou Christer Pettersson assassino, que mais se parece com a
pessoa que tinha sido vista na noite do assassinato. O traficante de drogas
Sigge Cedergren indicara à polícia que ele havia emprestado um revólver Magnum
roubado para Pettersson, dois meses antes do assassinato. O tribunal distrital
não era a consenso e o julgamento foi objeto de recurso para o Tribunal de
Apelação da Svealândia, que é um dos seis tribunais de apelação de 2ª instância
(Hovrätt) do sistema judicial da Suécia, onde ele foi absolvido. Christer
Pettersson morreu em setembro de 2004, de uma fratura de crânio quando ele teve
um ataque epiléptico. Olof Palme foi durante a sua carreira, um político
polêmico que dominou a cena pública sueca durante o decorrer de sua vida. Em
alguns círculos elitistas, era desprezado, enquanto que em outros ele era muito
popular. Ele fez muitos inimigos poderosos no exterior através de suas
denúncias mordazes dos Estados Unidos da América, o regime de Franco na Espanha
e de apartheid na África do Sul, além de seu apoio claro à popularidade
de Fidel Castro. Enquanto na Suécia, ele tinha inimigos de suas políticas
radicais de socialização, em parte com base nos meios de comunicação
controlados pelo Estado e à nacionalização de grandes empresas.
Segundo Stahl
e Mulvad (2015), no artigo: “O Que Torna a Escandinávia Diferente?”, há uma
razão pela qual os estados de bem-estar social escandinavos seguem sendo motivo
de inveja de muitos ao redor do mundo. Mesmo após décadas de tentativas de
reformá-los pelo projeto neoliberal, a Escandinávia exibe uma divisão
igualitária de rendimentos relativamente elevados, grandes programas de
bem-estar social financiados por impostos, sindicados poderosos e taxas de
desempregos relativamente baixas. Os manuais neoliberais nos contam que o único
caminho para a prosperidade social é por meio de baixos níveis de tributação,
negócios desregulamentados e mercados de trabalho selvagemente competitivos.
Ainda assim, a despeito de não cumprir as métricas da variante anglo-americana
de capitalismo, os países escandinavos teimosamente continuam a prosperar, e
regularmente aparecem no topo dos índices globais de felicidade e qualidade de
vida. Não é nenhuma surpresa, portanto, encontrar neoliberais e conservadores
dedicando energia intelectual considerável em deslegitimar o “Modelo Nórdico”
de bem-estar público. O Instituto de Assuntos Econômicos, um think thank
neoliberal britânico, dedicou um livro interno com o objetivo de explicar à
“não-excepcionalidade” da economia e cultura escandinava. O objetivo era dar
uma explicação satisfatória à história de sucesso dos estados de bem-estar
social nórdicos, argumentando à velha moda Hayekiana que o sucesso dos países
nórdicos precede a Era de Bem-estar Público, e que qualquer coisa de
excepcional e bem-sucedido sobre tal modelo desapareceu desde então.
Nos EUA onde a campanha de Bernie Sanders pôs a ideia da socialdemocracia
nórdica no centro do debate político, Kevin Williamson é colunista de longa
data da National Review, adotou a estratégia oposta. Em artigos recentes ele reconhece a excepcionalidade
da experiência nórdica e admite que estes países têm sido de fato relativamente
bem-sucedidos até recentemente. Mas em uma estranha reviravolta novelesca,
Williamson também racializa a experiência nórdica, atando o sucesso de
políticas social-democráticas à alegada “brancura e homogeneidade dos países
nórdicos, por conseguinte enfraquecendo sua credibilidade como fonte de
inspiração para progressistas estadunidenses comprometidos com o antirracismo”.
A política escandinava é muito menos partidária e mais pró-coalisão que nos Estados
Unidos da América, com a representação proporcional efetivamente negando ao
partido político uma maioria parlamentar absoluta. Mas não devemos confundir,
afirmam Stahl e Mulvad, uma conjuntura histórica contingente do séc. XX, de
relativa civilidade política, como uma essência supra-histórica da cultura
política nórdica. O Estado de bem-estar social universal e o mercado de
trabalho regulado e igualitário são tão populares entre os eleitores que mesmo
políticos liberais ou conservadores querendo desmontá-lo têm de concorrer como
defensores deste bem-estar público se quiserem evitar o processo social de “suicídio
eleitoral”. Essa situação não emergiu das brumas da história. É o produto de
décadas de lutas de organizações de trabalhadores e de movimentos populares
através do século passado. O estado de bem-estar social-democrático enfrentou
duros desafios históricos, tanto da
Esquerda, diante de movimentos comunistas e da chamada Nova Esquerda,
quanto a Direita, como a poderosa organização patronal sueca Svenska
Arbetgivarföreningen (SAF), Federação Sueca de Empregadores, e movimentos
anti-impostos ao estilo Tea Party, referido como Partido do Chá,
um movimento social dinâmico norte-americano que apareceram na década de 1970
na Noruega e Dinamarca. Posto de maneira simples, o “Consenso Nórdico” nunca
foi tão compreensível como Oliver Eaton Williamson quer fazer-nos crer.
Bibliografia
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