domingo, 27 de outubro de 2019

Daniel Defoe - Literatura, Cinema & Insularidade de Crusoé.


                                                                                                      Ubiracy de Souza Braga

                   A necessidade transforma um homem honesto num velhaco”. Daniel Defoe

         
            Daniel Foe se notabilizou como escritor e jornalista inglês, de pseudônimo um  mais nobre: Daniel Defoe, foi o autor, dentre outros, de três livros extraordinários: além de Um Diário do Ano da Peste e do conhecidíssimo Robinson Crusoé, Defoe foi o autor do igualmente clássico Moll Flanders. A obra Robinson Crusoé, com o título original: The Life and Strange Surprising Adventures of Robinson Crusoe, representa uma interpretação política realista e foi publicada em 1719 e 1721. Nasceu em Londres, provavelmente na paróquia de St. Giles Cripplegate. Na Igreja Católica a definição de paróquia é dada pelo Código de Direito Canônico (Codex Iuris Canonici) que declara: - Paróquia é uma determinada comunidade de fiéis, constituída estavelmente na Igreja, e seu cuidado pastoral é confiado ao pároco como a seu pastor, sob a autoridade do Bispo diocesano. Determina ainda o direito canônico que toda diocese ou outra Igreja particular seja dividida em partes distintas ou paróquias. Foi aluno de Charles Morton cujo estilo, poderá tê-lo influenciado. Depois de concluídos os estudos, tornou-se comerciante, embora a sua tendência para a especulação narrativa não tenha favorecido essa carreira. Escreveu panfletos famosos, favoráveis a Guilherme III, da Inglaterra,  reconhecido como Guilherme de Orange, nascido em Hala em novembro de 1650.
            Nasceu em Londres em 1660, em St. Giles, Cripplegate, filho de James Foe, um mercador de velas. Daniel alterou seu nome para Defoe por volta de 1695. Fundou e incrementou o jornal The Review (1704-1713), “quase sozinho”, desenvolvendo um trabalho descritivo que viria a favorecer a afirmação contida nos ensaios The Tatler e The Spectator (1709-1714), através de suas dificuldades da vida, quando eles começaram a entender o que os outros estavam sentindo e as decisões que eles tomaram. Estudou na Morton`s Academy for Dissenters, isto é, dentre aqueles que não se conformavam à Igreja da Inglaterra. Eles formaram uma parte significativa dos sistemas educacionais entre os séculos XVII e XIX, em Newington Green. Depois serviço militar e durante algum tempo como soldado na rebelião do duque de Monmouth, estabeleceu-se bem como mercador e percorreu quase toda a Inglaterra, assim como o continente. A forma moderna do romance nasceu como um texto narrativo, que, partindo das memórias de alguns viajantes, configura um relato cuja inscrição da verdade depende da acumulação de pormenores concretos. É o que ocorre em Robinson Crusoé quando narra a vida do único sobrevivente decorrente de um naufrágio que se isola numa ilha aparentemente deserta. Assim figura a démarche do personagem que para conservar os valores da sua condição humana sobre uma natureza hostil e quase incompreensível. Acaba por ser adaptada pela história das ideias que lida com a expressão, preservação e mudança. Mas historicamente, como um arquétipo de constructo antopológico e psicológico da condição individualista, tendo como escopo uma aproximação da história intelectual. 
            A necessidade designa em psicologia um estado interno de insatisfação causado pela falta de algum bem necessário ao bem-estar. Henry Murray (1938), um dos primeiros a pesquisar sobre o assunto, classificou as necessidades em necessidades primárias ou viscerogênicas, que são as necessidades de natureza biológica (fome, sede, sono), e necessidades secundárias ou psicogênicas, que são necessidades que derivam de uma necessidade primária ou são inerentes à estrutura psíquica humana. Como a pessoa procura diminuir o estado interno de déficit, uma necessidade funciona como um impulso para determinados comportamentos. A intensidade de uma necessidade determina a intensidade do comportamento a que ela está ligada: quanto mais intensa a necessidade, mais intensa a ação. Tal “intensidade” pode se expressar de diferentes formas: pelo vigor, entusiasmo, perseverança - ou mesmo a prioridade que se dá ao comportamento em detrimento de outros. Dessa forma uma necessidade tem um caráter diretivo com relação ao comportamento: por um lado ela determina o objeto ou evento necessários para sua saciação e, por outro, ela determina se essa satisfação se dá através de um movimento para perto desse objeto ou para longe dele - por exemplo “sede” e “medo de nadar” têm ambos por objeto a água, mas a direção é diferente. Toda necessidade é assim direcional.

     As necessidades variam o tempo todo. No entanto determinadas pessoas têm uma determinada tendência a ter certas necessidades mais frequentemente, ou mais intensamente do que outras. Quando uma necessidade tem para uma pessoa uma certa estabilidade ela torna-se uma parte de sua personalidade. Nesse caso se chamam necessidades disposicionais. Outro conceito muito próximo é o de motivo. Tanto necessidades como motivos estão intimamente ligados à motivação. Assim descreveu dois tipos de necessidades: as necessidades primárias, fisiológicas, e as secundárias, aprendidas no decorrer da vida, de acordo com estruturas físicas, sociais e culturais do ambiente. As necessidades secundárias são definidas apenas pelo fim a que elas se direcionam e não por características superficiais do comportamento observável. Correspondente às necessidades, que são internas, Murray postula a existência de uma pressão do lado do ambiente ou da situação: é a atração ou repulsa geradas pelo ambiente no indivíduo. De uma maneira fenomenológica ele diferencia dois tipos de pressão: a pressão alfa é a exercida objetivamente pela situação, pressão beta é a exercida pela situação tal qual o indivíduo a percebe. A principal diferença entre motivo e necessidade é que pode ser influenciado tanto por uma necessidade quanto uma pressão externa.

   Assim a solidão (pressão) pode levar ao desejo de fazer novos amigos (motivo). Como as necessidades, também as relações dos motivos podem ser disposicionais. Murray desenvolveu uma longa lista de necessidades (ou motivos) - sobretudo psicogênicas - que ele supunha serem comuns a todas as pessoas. Para ele as pessoas se diferenciam na proporção em que para elas cada uma dessas necessidades é mais ou menos marcante. Eis alguns deles e as mais pesquisadas empiricamente: necessidades ligadas à ambição: desempenho; reconhecimento; exibição; necessidades relacionadas a objetos inanimados; aquisição; ordem; retenção; construção; necessidades ligadas à defesa do próprio status; evitação de mostrar as próprias fraquezas; necessidades ligadas ao poder humano e assim por diante. Segundo Murray as necessidades não se manifestam isoladas, mas se relacionam entre si. Muitas vezes duas ou mais necessidades se fundem, refletindo-se em um só e mesmo comportamento - por exemplo conhecer novas pessoas pode estar a serviço tanto da necessidade de afiliação como da de reconhecimento.

Outras vezes uma necessidade está a serviço de outra - por exemplo quando a necessidade de ordem está a serviço da necessidade social de desempenho humano. Duas ou mais necessidades podem também estar em conflito umas com as outras - por exemplo a necessidade de intimidade pode estar em conflito com a necessidade de autonomia. Esses três tipos de relações possíveis entre necessidades são também possíveis entre necessidades e pressões externas. Para medir o “perfil de necessidades” de uma pessoa, Murray desenvolveu com outros colegas o teste de apercepção temática, um teste projetivo composto de uma série de figuras. A pessoa sendo testada tinha atarefa de contar uma história, explicando a cena dos quadros. A ideia por trás do teste é que, ao contar uma história, a pessoa projetaria as suas necessidades na história - e com base nisso o pesquisador poderia medir as necessidades mais marcantes de uma pessoa. O modelo de Murray foi muito influente e foi o início de uma grande tradição científica. Como se viu, simplificadamente, hic et nunc, a diferença entre necessidade e motivo em Murray nem sempre é muito clara - outrossim a sua lista de necessidades também é de motivos.




Escritor prolífico e versátil, Daniel Defoe produziu livros sobre uma ampla variedade temática, incluindo a esfera política, religião, economia, matrimônio, psicologia e superstição. Gostava muito de representar papéis e se disfarçar, aptidão a que recorreu com grande efeito psicológico na qualidade de agente secreto, e, ao escrever, costumava adotar pseudônimos ou outra personalidade a fim de obter impacto retórico. Seu primeiro panfleto político reconhecido contra Jaime II foi publicado em 1688, e excelente venda do poema satírico em 1701. Dois anos depois, Defoe foi preso por causa de The Shortest Way with the Dissenters, uma sátira a respeito do extremismo da Igreja Alta (High Church), encarcerado na prisão de Newgate e submetido ao pelourinho. Defoe foi solicitado a escrever o panfleto político pela crescente hostilidade em relação aos dissidentes após a adesão conservadora da rainha Anne ao trono. Voltou-se para a ficção relativamente tarde na vida e, em 1719, publicou sua obra imaginativa Robinson Crusoé, segundo (Inácio Neto, 2016), que se restringem aos territórios norte-americanos que se relacionam tanto com os ensaios publicados por ele na década de 1710, quanto com as descrições contidas nos relatos de viagem. Com o sucesso comercial do ensaio Robinson Crusoé, Defoe lançou dois livros como sequência nos anos seguintes, indicando também em avant-première o início da literatura comercial. Não queremos perder de vista nesta singular narrativa que a experiência anterior de Daniel Defoe como jornalista colaborou para a adoção teórica do realismo que em seu livro, e, não por um acaso, a história de Crusoé é baseada em um fato social.
  Melhor dizendo, à inauguração de uma nova prática escriturística, marcada no céu do século XVIII pela insaluridade laboriosa de Robinson Crusoé, pode-se então comparar a sua generalização assim como é representada pelas máquinas fantásticas, segundo Michel Certeau (2014), cujas figuras vão aparecer, por volta dos anos 1910-1914, nas obras de Alfred Jarry, O Supermacho (1902), O Doutor Faustroll (1911); de Raymond Roussel, Impressões da África, 1910, Locus Solus, 1914; de Marcel Duchamp, Le Grand Verre, A Casada Desnudada por seus Celibatários, mesmo, 1911-1925; Franz Kafka, A Colônia Penal, 1914, etc.; mitos que falam do encerramento nas operações de uma escritura indefinidamente e não encontra nunca a não ser a si mesma. Só há saídas em ficções , janelas pintadas, espelhos de vidro. Só há brechas e rompimentos escritos. São comédia de desnudamentos e torturas, relatos autômatos de desfolhamentos de sentidos, estragos teatrais de rostos decompostos. Essas produções têm um ar fantástico, não pela indecisão de um real que mostrariam nas fronteiras da linguagem, mas pela relação entre os dispositivos produtores de simulacros e a ausência de outra coisa. Essas ficções romanescas ou micônicas  narram que não existe, para a escritura, nem na saída, nem entrada nem saída, mas somente o interminável jogo de suas fabricações. O mito diz o não lugar do acontecimento ou um acontecimento que não tem lugar - se todo acontecimento é uma entrada ou saída. A máquina produtora de linguagem é lavada da história, limpa das obscenidades real, ab-soluta e sem relação com o outro celibatário
  O jornal The Englishmen publicou uma entrevista em 1711, com Alexander Selkirk, marinheiro escocês que chegou à Inglaterra após quatro anos em uma ilha no Chile. Historicamente a primeira publicação de jornal impresso, regular, editada semanalmente, o Nieuwe Tijdinghen, originou-se em 1602, na Antuérpia. Os primeiros periódicos em alemão são fundados em 1609: o Relation aller fürnemmen und gedenckwürdigen Historien, em Estrasburgo, e o Avisa Relation oder Zeitung. Em 1615, surge o Frankfurter Journal, considerado primeiro periódico jornalístico também semanal em alemão. Em 1621, surgiu em Londres, o primeiro jornal particular de língua inglesa, The Corante. No ano seguinte, uma negociação e cooperação entre 12 oficinas de impressão inglesas, holandesas e alemãs determinou intercâmbio cooperativo sistemático de notícias. No mesmo ano, Nathaniel Butler fundou também em Londres o primeiro hebdomadário: o Weekly News, que a partir de 1638, seria considerado sociologicamente o primeiro jornal de noticiário internacional, globalizado. Foi seguido na França pelo jornal La Gazette, de Théophraste Renaudot cujo primeiro número foi publicado em 30 de maio de 1631, e na Holanda pelo Courante uyt Italien ende Duytschlandt, em 1632. O primeiro jornal português é de 1641: A Gazeta da Restauração, de Lisboa. Já no século XVII tinham existido publicações periódicas com o título Gazeta, sendo as Gazetas publicadas entre 1641 e 1647 atribuído a Manuel de Galhegos. São também reconhecidas como “Gazetas da Restauração”, tendo funcionado como propaganda durante as guerras com Castela após a aclamação de D. João IV.
O jornal mais antigo do mundo ainda em circulação, no entanto, é o sueco Post-och Inrikes  Tidningar, que teve início de suas atividades em 1645. Até então, estas publicações tinham periodicidade semanal, quinzenal, mensal ou irregular. A partir de 1650 surgiu o primeiro jornal impresso diário do mundo, o Einkommende Zeitungen fundado na cidade de Leipzig, Alemanha. A primeira revista, em estilo almanaque, ocorreu com o Journal des Savants, fundado na França em 1665. No chamado “Novo Mundo”, o primeiro jornal originou-se nas colônias britânicas da América do Norte, publicado em Boston: o Publick Occurrences, Both Forreign and Domestick, que, no entanto, só teve uma edição. De 1702 a 1735 circulou o primeiro jornal (diário) em inglês, o Daily Courant, de Samuel Buckley, ipso facto nas colônias britânicas. Em 1728, é criado o jornal Sankt Peterburgskie Vedomosti, o mais antigo da Rússia, até nossos dias em circulação nacional. Em 1729, nasceu o Pennsylvania Gazette, de Benjamin Franklin, primeiro jornal “a se manter com trabalho publicitário”. Nesse ano eram fundados a Gaceta de Guatemala, e ainda Las Primicias de la Cultura, de Quito, primeiros jornais do continente latino-americano. Contudo, o primeiro jornal da América Latina tem como representação a Gaceta de Lima, circulando diariamente a partir de 1743.
   Por meio da intersecção metodológica de temas entre estes textos será possível identificar quais elementos sociais e históricos contribuíram para a construção das representações da América do Norte e, ao mesmo tempo, ressaltar aqueles aspectos sociais e políticos que corroboraram para a ênfase das potencialidades destes locais como possível herança de colônias britânicas. Daniel Defoe morreu no dia 24 de abril de 1731. Teve grande influência no desenvolvimento do romance ficcional inglês, sendo considerado “o primeiro verdadeiro romancista”. São justamente essas formas sociais que constituem, segundo Marx (2016), as categorias da economia burguesa. Trata-se de formas de pensamento socialmente válidas e, portanto, dotadas de objetividade para as relações de produção desse modo social de produção historicamente determinado, a produção de mercadorias. Todo o misticismo do mundo das mercadorias, a mágica e a assombração que anuviam os produtos do trabalho da produção de mercadorias desaparecem imediatamente, tão logo nos refugiemos noutras formas distintas de produção. Como a esfera de análise da economia ama robinsonadas, lancemos um olhar sobre este Robinson náufrago em sua ilha.

  O globo terrestre é composto de terra e mar. Apesar de haver em torno de 210 países espalhados pelos cinco continentes, nem todos eles ficam atrelado ao continente. Trata-se de grandes massas de terras que são separadas fisicamente pelos oceanos. A origem etimológica do nome continente é derivada das palavras latinas continens e entis, que estando no particípio presente de continere, significa “conter, abranger”, verbo oriundo de “cum, con e tenere”, tendo como representação sociológica o significado de ter. Esta é a fonte do eruditismo em cinco línguas reais europeias: em língua portuguesa, espanhola e italiana, continente (século XV); em língua inglesa continent, (século XIV); o vocábulo inglês continent é uma palavra que foi tomada de empréstimo do vocábulo francês continent (século XII). Na acepção geograficamente que se considera na ciência, os substantivos das quatro línguas europeias têm o mesmo significado: em português, espanhol e italiano, continente (século XVI); em francês, continent (1532); em inglês, continent (1590); e em língua alemã Kontinent (entre os séculos XVI e XVII). O vocábulo português e espanhol continente foi documentado na história social entre os séculos XII e XIV, significado “gesto, atitude, parte”, cujo sentido é conjunto da produção daquilo que é a vivência. De acordo com a divisão do trabalho social, existem seis principais continentes no globo terrestre: América, Europa, África, Ásia, Oceania e a Antártida.

   Alguns territórios de nações se encontram em unidade, ou separadamente por água com formato de ilhas. Há dois tipos de regiões existentes na extensão de um país: a de país arquipélago e a de país continental. Os países continentais em área de terra espaçosa têm uma área de água na fronteira ao mar largo e fronteiras terrestres com inúmeros países. O país arquipélago tem inúmeras ilhas, águas territoriais mais amplas, e muitas vezes sem fronteiras terrestres com países   vizinhos. Uma identidade compartilhada se desenvolveu definida por uma cultura nacional, diversidade étnica, pluralismo religioso dentro de uma população de maioria muçulmana, e uma história de colonialismo, rebelião e golpes de Estado. O conceito que os geógrafos usam para definir massa continental pode variar segundo os critérios que adotam, podendo ser físicos, culturais, políticos ou histórico-sociais. A definição física de maior disseminação considera a divisão abstrata em sete continentes: África, América do Norte, América do Sul, Antártida, Ásia, Europa e Oceania. Esse modelo é cultural como padrão em países como China, Índia, Paquistão e em boa parte dos países de língua inglesa com larga população, o que o faz ser reconhecido o padrão utilizado por mais de 45% da população mundial. Ou seja, menos da metade (45,7%) da população mundial agora vive em algum tipo de democracia, um declínio significativo em relação a 2020, quando o número era em torno de 49,4%.

    Ainda menos (6,4%) residem em uma “democracia plena” – categoria social que inclui apenas 21 dentre 167 países e territórios analisados, depois que Chile e Espanha foram rebaixados para “democracias imperfeitas”. Mas, seguindo-se critérios tanto culturais como sociais e políticos, costumam-se considerar como continentes a Europa, a Ásia, a África, a América, a Antártida e a Oceania. O chamado Velho Mundo é constituído pelos mesmos três continentes que constituem a Eufrásia: Europa, Ásia e África. Essa classificação técnico-metodológica é baseada numa afirmação concreta de especialistas renomados de que as três massas terrestres se unem histórica e geograficamente: Ásia e Europa (Eurásia), cujos acidentes geográficos que ligam os continentes são o Cáucaso, o mar Cáspio e a cordilheira dos Urais, no momento em que a África e a Ásia são comunicadas per se pelo istmo do Suez que separa o mar Mediterrâneo do mar Vermelho, ligando os continentes africano e Asiático, no qual foi construído o canal do Suez . Uma via navegável artificial a nível do mar localizada no Egito, entre o mar Mediterrâneo e o mar Vermelho (golfo de Suez).

  Inaugurado em 17 de novembro de 1869, após 10 anos de construção, permite que navios viajem entre a Europa e a Ásia Meridional sem navegar em torno de África, como na chamada Era dos Descobrimentos nos anos 1497-1500, reduzindo a distância da viagem marítima entre o continente europeu e a Índia em cerca de 7 mil km.  A história registra que todas as motivações tanto sociológicas como psicológicas, propostas para fazer compreender as estruturas e gênese do simbolismo erram muitas vezes por uma secreta e estreita metafísica: umas porque querem reduzir o processo motivador a um sistema de elementos exteriores à consciência e exclusiva das pulsões, as outras porque se atêm exclusivamente a pulsões, ou, o que é pior, ao mecanismo redutor da censura e ao seu produto, o recalcamento. O que quer dizer que implicitamente se volta a um esquema explicativo e linear no qual se descreve, se conta a epopeia dos indo-europeus ou as metamorfoses da libido, voltando a cair nesse vício fundamental da psicologia geral que é acreditar que a explicação dá inteiramente conta de um fenômeno que por natureza escapa às normas da semiologia teórica. Assim,, parece que estudar in concreto o simbolismo imaginário será preciso enveredar resolutamente pela via da antropologia, dando a esta palavra o seu sentido pleno atual: o conjunto das ciências que estudam a espécie homo sapiens – sem se por limitações a priori e sem optar por uma ontologia psicológica que não passa de “espiritualismo camuflado”, ou “ontologia culturalista” que, geralmente, não é mais que “máscara da atitude sociologista”, ou dentre atitudes resolvendo-se em análise num intelectualismo semiológico. Esse trajeto é reversível; porque o meio elementar é revelador da atitude adotada diante da dureza, da fluidez da queimadura. O gesto chama a sua matéria e procura o seu utensílio, e que toda matéria excluída, abstraída do cósmico, e utensílio ou instrumento é vestígio de um gesto passado.

Apesar de seu aparente caráter modesto, ele tem diferentes necessidades sociais a satisfazer e, por isso, tem de realizar trabalhos úteis de diferentes tipos, fazer ferramentas, fabricar móveis, domesticar, pescar, caçar etc., pois nosso herói Robinson Crusoé encontra grande prazer nessas atividades desenvolvidas pela imaginação e as considera uma boa recreação. A própria necessidade o obriga a distribuir seu tempo com exatidão entre diferentes funções. Se uma ocupa mais espaço e outra menos em sua atividade total depende da maior ou menor dificuldade que se tem de superar para a obtenção do efeito útil visado. A experiência lhe ensina, e eis que nosso Robinson, que entre os destroços do navio salvou relógio, livro comercial, tinta e pena, põe-se logo, como inglês, fazer a contabilidade de si mesmo. Seu inventário contém uma relação de objeto de uso que ele possui, das diversas operações requeridas para sua produção e, por fim, do tempo social de trabalho que lhe custa, em média, a obtenção de determinadas  quantidades desses diferentes produtos. Aqui, todas as relações entre Robinson e as coisas que formam sua riqueza, por ele mesmo criada, são tão simples que até mesmo o Sr. M. Wirth poderia compreendê-las sem o maior esforço intelectual. E, no entanto, nelas já estão contidas todas as determinações essenciais do valor em economia política.
  A historicidade revela-se como uma propriedade fundamental da consciência humana. Os sistemas filosóficos e sociológicos não constituem uma exceção. Como as religiões e as obras de arte, contêm uma visão da vida e do mundo, inserida na vitalidade das pessoas que os produziram e em consonância com as épocas em que vieram à luz do dia; traduzem uma determinada atitude afetiva, caracterizam-se pela imprescindível energia lógica, porque o filósofo e frequentemente o sociólogo procuram trazer a imagem do mundo à clara consciência e ao mais estrito urdimento cognitivo. Um esforço de reflexão e trabalho dos conceitos, que gera uma circunspecção potenciada que reside o valor prático da atitude filosófica. Como o centro da compreensão está na vida como um todo estruturado, mas sempre resultando da relação entre individualidades, é possível perceber a conexão entre a ética e a teoria compreensiva. Em verdade uma concepção da teoria, ao longo de quase meio século, permeada lado a lado por um motivo básico: uma unidade cuja garantia de existência é a presença do sentido. Há uma démarche que atravessa o homem, e nesta noção de sentido está a marca de uma concessão fatal a uma metafísica, que não é simplesmente a noção ampla de vida, mas sua unidade constitutiva, a vivência, representada em toda experiência humana. Ipso facto, o evento na história é suscetível de conhecimento porque é obra humana e nela o sujeito e objeto do conhecimento formam uma unidade.             
   Vale lembrar, que a história da sucessão é de origem da alta antiguidade, que se expressa sob a forma de continuidade da religião e da família na Índia, Grécia e Roma. A importância de ter para quem deixar seus pertences baseava-se na agregação familiar, portanto, aquele que não tivesse herdeiro seria um castigo pós-morte, pois, não teria ninguém no âmbito familiar para reverenciar sua memória e seu tumulo, ficaria a deserção já que cabe ao herdeiro fazer reverencia ao falecido. Durante séculos essa sucessão se transmitia ao primogênito homem (varão), pois o filho era considerado o sacerdote da religião doméstica. O direito romano deu origem às primeiras três classes de herdeiros, constituída pelas Leis das XII Tábuas, cedendo liberdade absoluta sobre a disponibilidade dos bens pós-morte, os sui, agnati e gentiles sem testamento. Os Sui iuris chamados assim com a morte do pater: os filhos, os netos e também a esposa; os agnati parentes mais próximos no momento da morte (agnatus próximos); os gens que são o grupo familiar. Os romanos achavam fundamental ter um testamento falecendo-se sem, era considerado uma maldição finar-se ab intestato “o homem morria sem honra”. O descobrimento da primitiva gens do direito materno, como etapa anterior à gens de direito paterno dos povos civilizados, tem comparativamente para a história primitiva, a mesma importância que a teoria da evolução de Charles Darwin para a biologia e a teoria da mais-valia, enunciada por Marx, para a economia política.

Em contrapartida, a consideração do trabalho coletivo, isto é, imediatamente socializado, não precisamos remontar à sua forma natural-espontânea, que encontramos no limiar histórico de todos os povos civilizados, pois a dependência pessoal caracteriza tanto as relações pessoais  da produção material quanto as esferas da vida erguidas sobre elas. Mas é justamente porque as relações pessoais de dependência constituem a base social dada que os trabalhos e seus produtos não precisam assumir uma forma fantástica distinta de sua realidade. Elas entram na engrenagem social como serviços e prestações in natura. A forma natural de trabalho, sua particularidade - e não, como na base da produção de mercadorias, sua universalidade - é aqui sua forma imediatamente social. A corveia é medida pelo tempo social de trabalho tanto quanto o é o trabalho que produz mercadorias, mas cada servo sabe que o que ele despende a serviço de seu senhor é uma quantidade determinada de sua força pessoal de trabalho. O dízimo a ser pago ao padre é mais claro do que a benção do padre. Julguem-se como se queiram as máscaras atrás das quais os homens aqui se confrontam, o fato é que as relações  sociais de pessoas em seus trabalhos aparecem como suas próprias relações pessoais e não se encontram travestidas em relações sociais entre coisas, entre produtos dos trabalhos.
  Para uma sociedade de produtores de mercadorias, cuja relação social geral de produção consiste em se relacionar com seus produtos como mercadorias, ou seja, como seus valores de uso, e, nessa forma reificada (sachlich), confrontar mutuamente seus trabalhos privados como trabalho humano igual, o cristianismo, seu culto do homem abstrato (kultus des abstrakten Menschen), é a forma de religião mais apropriada às instituições econômicas do capitalismo, especialmente a religião protestante que se destaca tendo primícias em seu desenvolvimento burguês, como protestantismo, deísmo, etc. Essa limitação real se ampara idealmente nas antigas religiões naturais e populares, realizadas pelos seres humanos, e que cada povo com o passar do tempo foi desenvolvendo sua própria religião, adequando as sua próprias necessidades. Esse background do ponto de vista religioso do mundo real só pode desaparecer quando as relações cotidianas da vida prática se apresentam diariamente para os próprios homens como relações transparentes e racionais que eles estabelecem entre si e com a natureza. A figura desse processo social de vida só se livra de seu místico véu de névoa quando, como produto de homens livremente socializados, encontra-se sob seu controle consciente e planejado. Requer-se uma base material da sociedade ou uma série de condições de produção que, por sua vez, são elas próprias o produto natural-espontâneo de uma  excruciante história de desenvolvimento que para Marx, seguindo a fenomenologia de Friedrich Hegel é vir a ser aquilo que se é

 É bem verdade que historicamente a economia política analisou, mesmo que incompletamente, o valor e a grandeza de valor e revelou o conteúdo que se esconde nessas formas. Tais formas, em cujas testas estão escritos que elas pertencem a uma formação social em que a produção domina os homens, e não os homens o processo de produção, são tratadas por elas mais ou menos do mesmo modo como as religiões pré-cristãs foram tratadas pelos Padres da Igreja. O quanto uma parte dos economistas é enganada pelo fetichismo que se cola ao mundo das mercadorias ou pela aparência objetiva das determinações sociais do trabalho é demonstrado, entre outros pela fastidiosa e absurda disputa sobre o papel da natureza na formação do valor de troca. Se as mercadorias pudessem falar diriam: é possível que o valor de uso tenha interesse para os homens. A nós, como coisas, ele não nos diz respeito, mas materialmente é nosso valor. Nossa própria circulação social como coisas-mercadorias - é a prova cabal disso - sem o que não se poderia falar de individualismo moderno e de estratégias de reprodução econômica de muitos grupamentos e identidades sociais no mundo contemporâneo. Relacionando-nos na forma de trabalho como valor.
  Em sua perplexidade, nossos possuidores pensam como Fausto: Era no início a ação! Por isso, eles já agiram antes mesmo de terem pensado. A criação da obra ocupou toda a vida de Goethe, ainda que não de maneira contínua. As leis da natureza das mercadorias atuam no instinto natural de seus possuidores, os quais só podem relacionar suas mercadorias umas com as outras como valores, e desse modo, como mercadorias na medida em que as relacionam antagonicamente com outra mercadoria qualquer como equivalente universal. Esse é o resultado da análise da mercadoria. Assim, a forma naturalizada dessa mercadoria se converte em forma de equivalente socialmente válida. Ser equivalente universal torna-se, por meio do processo social, mediatizando a função especificamente social da mercadoria excluída. E assim fetichizada ela se torna valor-dinheiro. Na mesma medida em que se opera a metamorfose dos produtos do trabalho em mercadorias, opera-se também a metamorfose da mercadoria em dinheiro. A forma-dinheiro se fixa nos artigos mais importantes vindos do estrangeiro, que, na verdade, são formas naturais-espontâneas de manifestação  dos produtos domésticos enquanto elemento principal da propriedade alienável.
            Portanto, seu valor de uso se aparta de seu valor de troca. A relação quantitativa, na qual elas são trocadas, torna-se dependente de sua própria forma particular de produção. O costume as fixa como grandezas de valor, seja pela força ou pela persuasão. Em sua narrativa Robinson Crusoé é um pícaro que, longe do mundo e da vida social, procura recriar a vida em sociedade. A ilha foi primeiramente nomeada Santa Cecilia pelo seu descobridor, o capitão espanhol que ali chegou, oficialmente a 22 de novembro de 1574. Numa época desconhecida, foi também reconhecida pelo nome do seu descobridor e, mais recentemente, por Más a Tierra.  Foi nesta ilha que o marinheiro escocês Alexander Selkirk permaneceu solitário por mais de quatro anos. Os relatos teriam dado vida a Robinson Crusoé, famoso personagem do livro homônimo de Daniel Defoe. A ilha tornou-se famosa e, em 1966, Salvador Allende, primeiro socialista a ser eleito presidente de República e chefe de Estado chileno nas três Américas, que governou o Chile de 1970 a 1973, deu-lhe o nome deste libelo personagem.  
Bibliografia geral consultada.

WATT, Ian, A Ascensão do Romance: Estudos sobre Defoe, Richardson e Fielding. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 1990; Idem, Miths of Modern Individualism: Faust, Don Quixote, Don Juan, Robinson Crusoé. Cambridge: Cambridge University Press, 1996; BATTAGLIA, Stela Maris Fazio, Questões de Linguagem na Obra de Robinson Crusoé: A Dialogia da Palavra na Vida Solitária. Tese de Doutorado. Faculdade de Educação. Universidade de São Paulo, 2009; DEFOE, Daniel, Robinson Crusoé. Rio de Janeiro: Ediouro Publicações, 1970; Idem, Histoire du Diable. Paris: Editeur Nabu Press, 2011; BORGES JUNIOR, José David, As Máscaras de Robinson Crusoé: A Representação do Individualismo Moderno em Daniel Defoe e Mozael Silveira. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Universidade de São Paulo, 2012; MARX, Karl, O Capital. Crítica da Economia Política. Livro I. São Paulo: Boitempo Editorial, 2013; CERTEAU, Michel de, A Invenção do Cotidiano: 1. Artes de fazer. 22ª edição. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 2014; POSTONE, Moishe, Tempo, Trabalho e Dominação Social. São Paulo: Boitempo Editorial, 2015; AUGUSTO, André Guimarães, “Marx e as Robinsonadas da Economia Política”. In: Nova Economia, vol. 26, n°1, 2016; pp. 301-327; INÁCIO NETO, José, Daniel Defoe e as Representações do Novo Mundo: Um Diálogo entre Romances e Relatos de Viagem (1697-1729). Dissertação de Mestrado em História. Faculdade de Ciências Humanas e Sociais. Franca: Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, 2016; PRIMOLAN, Thiago Panini, O Espaço do Romance: Questões sobre Teoria e Historiografia do Gênero Romantismo a partir da Obra de Daniel Defoe. Dissertação de Mestrado em Letras. Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários. Faculdade de Letras. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2016; MORAES, Maria Celina Bodin de, “Defoe, Robinson e o Início do Mundo Atual”. In: civilistica.com || A. 8. nº 3. 2019; entre outros.

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