sábado, 30 de agosto de 2025

Scarface – Ilegalidades & Dispositivos de Poder do Harlem Italiano.

        O sabá dos condenados respondia ao cerimonial da justiça com faustos que inventava”. Michel Foucault

          Gângster tem como representação social um termo usado para definir um membro de uma quadrilha, gangue ou de uma organização criminosa, com uma semelhança com os grupos do crime organizado da Itália, como a Cosa Nostra, a Camorra e a ´Ndrangheta. A atividade central de tal organização seria a arbitragem de disputas entre criminosos, bem como a organização e execução de acordos entre criminosos por meio do uso ou ameaça de violência. As máfias geralmente se envolvem em atividades secundárias, como jogos de azar, agiotagem tráfico de drogas, prostituição e fraude. O termo “máfia” foi originalmente aplicado à máfia siciliana, a famosa Cosa Nostra. Desde então, o termo se expandiu para abranger outras organizações de métodos e propósitos semelhantes. O termo foi massificado pela imprensa dominante global, mas é informal, sociologicamente falando, tendo em vista que as organizações criminosas têm seus próprios nomes, como por exemplo a chamada “Máfia russa, que se autodenomina Bratva ou a “Máfia chinesa”, chamada formalmente de Tríades chinesas. A 'Ndrangheta, originária da região da Calábria, no Sul da Itália, é amplamente considerada pela literatura especializada “a máfia mais rica e poderosa do mundo”. Ipso facto, é um termo que indica, também, um tipo de organização criminosa regida pela violência como “parteira da história”, para lembrarmos de Marx, silêncio, ritos de passagem e mitos fundadores.  Um mito fundador ou mito de origem é um mito que descreve a origem de alguma característica do mundo natural ou social. Um tipo de mito fundador é o mito de criação, que descreve em geral a criação do mundo, e particularmente da colonização e processos civilizatórios. Muitas culturas têm histórias sociais após o mito cosmogônico, que descrevem a origem dos fenômenos naturais e das instituições humanas dentro de um universo preexistente.

            A Cosa Nostra, também reconhecida apenas como Máfia, é uma sociedade criminosa secreta que se desenvolveu na primeira metade do século XIX na Sicília, Itália. No final do século XIX, a Cosa Nostra também se desenvolveu nos Estados Unidos. Segundo Paolo Pezzino, “a Máfia é um tipo de crime organizado não apenas ativo em vários campos ilegais, mas também com tendências a exercer funções soberanas — normalmente pertencentes a autoridades públicas — sobre um território específico...”. Alguns estudiosos veem a “máfia” como um conjunto de atributos, profundamente enraizados na cultura popular, como um “estilo de vida”, como ilustrado pelo etnógrafo siciliano Giuseppe Pitrè (1841-1916) do final do século XIX: “A máfia é a consciência do valor de alguém; o conceito exagerado de força individual como o juiz único de todos os conflitos de interesses ou ideias”. Muitos sicilianos não consideram esses homens criminosos, mas modelos ou protetores, uma vez que o Estado foi incapaz de oferecer proteção aos fracos e pobres. Por volta da década de 1950, a inscrição fúnebre do lendário chefe de Villalba, Calogero Vizzini (1877-1954) dizia que “sua máfia não foi criminosa, mas manteve o respeito à lei, à defesa de todos os direitos e à grandiosidade de caráter Era amor”. Máfia significa ser sensível, orgulho, honra, ou mesmo responsabilidade: uma atitude, não uma organização. Em 1925, o ex-primeiro-ministro italiano Vittorio Emanuele Orlando (1860-1952) reportou ao Senado que se sentia orgulhoso de ser um mafioso, “uma vez que essa palavra significava honorável, nobre, generoso”.

        Scarface - A Força do Poder, tem como representação social um filme de drama policial estadunidense de 1983, dirigido por Brian De Palma e escrito por Oliver Stone, um diretor aclamado, abordando temas que vão desde a Guerra do Vietnã,  após o que o Vietnã do Norte conquistou a vitória final do ponto de vista político-ideológico e unificou o país em 1975 sob regime comunista, e a política norte-americana até cinebiografias musicais e dramas policiais. Um remake do filme de 1932 de mesmo nome, Scarface narra a história política do refugiado cubano do Êxodo de Mariel de 1980 Tony Montana (Al Pacino), que chega em Miami com nada e mais tarde se torna um poderoso chefão da droga. O filme  apresenta Mary Elizabeth Mastrantonio, Steven Bauer e Michelle Pfeiffer. O argumento é de Oliver Stone baseado num romance de Armitage Trail. Scarface é um dos filmes mais violentos já realizados e também um expoente de Hollywood no cinema da década de 1980. A resposta da crítica a Scarface foi heterodoxa, com as críticas sobre a violência simbólica excessiva, linguagem forte e frequente uso gráfico de droga pesada. Alguns expatriados cubanos em Miami se “opuseram à representação do filme de cubanos como criminosos e traficantes de drogas”. Comentários posteriores têm sido mais positivos, e os roteiristas e diretores extraordinários como Martin Scorsese elogiaram o filme. Ele recebeu uma reavaliação dos críticos, considerado por alguns como um dos melhores filmes de máfia de todos os tempos e em geral; na história referenciado extensivamente na particularidade da música rap e na cultura pop, quadrinhos e utilidade de uso de jogos de vídeo. 

                                        

          Censurado em muitos países, Scarface é um filme em que o palavrão fuck é utilizado 226 vezes no total, sendo que apenas Tony Montana, comparativamente, o pronuncia 182 vezes. Sociologicamente a utilidade de uso de palavrões no cinema, é frequentemente um tema controverso, que tem aumentado nas últimas décadas, especialmente com a evolução do sistema de classificação. Inicialmente, o Código Hays (1930-1968) proibia palavrões, mas o sistema de classificação da Motion Picture Association (MPA) estabeleceu diretrizes para o uso de linguagem imprópria. O sistema da MPA, que varia por país, utiliza classificações como PG, PG-13, R e NC-17, indicando “o grau de conteúdo adulto, incluindo linguagem forte”. O uso de palavrões tem sido objeto de controvérsia e censura, com filmes sendo cortados ou recebendo classificações restritivas. A MPA estabeleceu um sistema de classificação que permite aos cineastas usar palavrões de forma mais livre, mas também informa ao público sobre o conteúdo da obra. Filmes com linguagem forte podem gerar discussões sobre liberdade de expressão, realismo e adequação ao público. O filme “MAS*H” foi um dos primeiros filmes populares a usar a palavra fuck sob o sistema da MPA. Filmes como Pulp Fiction (1994) e Cães de Aluguel (1992) são reconhecidos por seu uso frequente de palavrões. A série de filmes O Poderoso Chefão (1972; 1974; 1990) também apresenta diálogos com linguagem forte, embora não se compare aos níveis de Pulp Fiction (1994) no artigo do Jovem Nerd. A classificação PG-13 geralmente permite o uso de fuck, desde que não seja em contexto sexual. A classificação R é necessária tendo em vista que se o filme contiver várias expressões ou se a palavra for usada em contexto sexual. 

          Há exceções sociais, como em quase tudo na vida social e os censores podem ser mais tolerantes, afinal de contas, com filmes e valores de eventos históricos. O uso de palavrões continua a ser um tema per se complexo e em constante evolução, com diferentes opiniões e perspectivas sobre seu impacto social e adequação. Brian Russell De Palma, nascido em 11 de setembro de 1940 é um diretor de cinema e roteirista norte-americano. Com uma carreira de mais de 50 anos, ele é mais reconhecido por seus trabalhos nos gêneros suspense, crime e thriller psicológico. De Palma foi um dos principais membros da geração New Hollywood. Carrie (1976), sua adaptação do romance homônimo de Stephen King, lhe rendeu destaque como um jovem cineasta. Ele teve sucesso comercial com Vestida para Matar (1980), Os Intocáveis (1987) e Missão: Impossível (1996) e fez clássicos cult como Saudações (1968), Oi, Mãe! (1970), Irmãs (1972), O Fantasma do Paraíso (1974) e A Fúria (1978). Como um jovem diretor, De Palma sonhava em ser o “Godard americano”. Seu estilo é alusivo; ele prestou homenagem a Alfred Hitchcock em Obsession (1976) e Body Double (1984); Blow Out (1981) é baseado em Blowup (1966) de Michelangelo Antonioni, e Scarface (1983), seu remake do filme de Howard Hawks de 1932, é dedicado a Hawks e Ben Hecht. Seu trabalho foi criticado por sua violência simbólica e conteúdo sexual, mas também foi defendido por críticos americanos como Roger Ebert e Pauline Kael. Em 2015, ele foi entrevistado sobre seu trabalho em um documentário bem recebido por Noah Baumbach. De Palma nasceu em 11 de setembro de 1940, em Newark, Nova Jersey, o mais novo de três meninos.  

Seus pais ítalo-americanos eram Vivienne DePalma (nascido Muti) e Anthony F. DePalma, um cirurgião ortopédico que era filho de imigrantes de Alberona, província de Foggia. Ele foi criado na Filadélfia, Pensilvânia e Nova Hampshire, e frequentou várias escolas protestantes e quakers, eventualmente se formando na Friends` Central School. Ele tinha um relacionamento ruim com seu pai e o seguia secretamente para registrar seu comportamento adúltero; isso acabaria inspirando o personagem adolescente em Dressed to Kill (1980) de De Palma. Quando ele estava cursando o Ensino Médio, ele construiu computadores. Ele ganhou um prêmio regional de Feira de Ciências por seu projeto “Um Computador Analógico para Resolver Equações Diferenciais”. Matriculado na Universidade de Columbia como estudante de Física, De Palma ficou encantado com a produção cinematográfica depois de assistir a Cidadão Kane (1941), de Orson Welles, e Um Corpo Que Cai (1958), de Alfred Hitchcock. Após receber seu diploma de graduação em 1962, De Palma matriculou-se no recém-misto Sarah Lawrence College como aluno de pós-graduação em seu departamento de teatro, obtendo um Mestrado em 1964 e se tornando um dos primeiros alunos do sexo masculino em escola predominantemente feminina. Uma vez lá, influências tão diversas quanto o professor de teatro Wilford Leach (1929-1988), os irmãos Maysles, Michelangelo Antonioni, Andy Warhol e Jean-Luc Godard, impressionaram-no com estilos e temas que moldaram seu trabalho cinematográfico nas décadas seguinte.

No final dos anos 1970 e início dos anos 1980, Miami vivia um mar de sangue, cadáveres, explosões, narcotraficantes, policiais corruptos, dinheiro sujo e toneladas de cocaína. Os chamados “cowboys da cocaína” geraram uma onda de terror que converteu o destino de férias de milhares de americanos na capital de assassinatos dos Estados Unidos. Mas, em meio ao caos, havia uma espécie de oásis do prazer onde mafiosos, autoridades e celebridades compartilhavam noites de sexo, drogas e álcool. “Era um paraíso em meio ao inferno”, disse à BBC Mundo o escritor e jornalista Roben Farzad, autor do livro Hotel Scarface: where cocaine cowboys partied and plotted to control Miami. Naquela conjuntura, esteticamene falando, o hotel Mutiny era o centro da ostentação na cidade. “Assim como Nova York tinha o famoso Studio 54, Miami tinha o The Mutiny”, diz Farzad. O hotel era uma vitrine para ver e ser visto. Mafiosos colombianos e cubanos chegavam a gastar milhares de dólares numa noite, compartilhando o espaço com celebridades como Barbara Streisand, Liza Minnelli, Arnold Schwarzenegger e integrantes das bandas Led Zeppelin, The Eagles e Fleetwood Mac. “Um dos frequentadores do hotel era um jovem artista faminto chamado Julio Iglesias”, conta Farzard. “Ele implorava ao DJ do local para que tocasse as suas músicas”. Segundo Farzad, o Mutiny também recebeu personagens da política, como Ted Kennedy, os irmãos Bush e Hamilton Jordan, chefe de gabinete do então presidente Jimmy Carter. Mas ao mesmo tempo em que atraía o jet set pop e político do país, o Mutiny era visitado por mafiosos que inundavam Miami de cocaína. 

       A ostentação (cf. Fille, 2007), ou exibição de riqueza e status social, é um fenômeno presente em diversas culturas, mas com nuances diferentes nos Estados Unidos e no Brasil. Nos Estados Unidos da América, a ostentação pode ser vista como um efeito de poder do individualismo possessivo e do sucesso financeiro, enquanto no Brasil, muitas vezes, é associada à busca por reconhecimento social e ao “jeitinho” brasileiro de querer ser mais igual que o outro. A cultura norte-americana valoriza o sucesso individual e a busca pela realização pessoal, o que pode levar à ostentação como forma de demonstrar conquistas. A ideia de “fazer a própria sorte” e ascender socialmente é forte, e a exibição de bens materiais pode ser vista como uma validação desse sucesso. No Brasil, a ostentação pode ter raízes históricas na busca por reconhecimento social e na valorização do “jeitinho brasileiro” como forma de lidar com as dificuldades do dia a dia. A ostentação pode ser vista como uma forma de ascensão social, mas também como uma forma de compensar desigualdades e frustrações individuais e coletivamente. A cultura brasileira (cf. Azevedo, 2010) com suas influências indígenas, africanas e europeias, também molda a forma como a ostentação é percebida e praticada. Nos Estados Unidos da América a ostentação pode ser mais discreta e tendo como escopo em bens de consumo de alta qualidade, no Brasil ela pode ser mais exuberante e chamar mais atenção. A ostentação no Brasil pode ser vista como mais polêmica, comparativamente, e gerar mais julgamentos sociais. É importante ressaltar que a ostentação não é exclusiva de um país ou cultura. No entanto, as particularidades políticas e sociais de cada sociedade moldam a forma como esse fenômeno se manifesta e é percebido.

O decorador do Mutiny, que tinha muitos clientes da Colômbia e de Cuba, se empenhou em “seduzir o macho latino”. Segundo Farzad, há registros etnográficos de que Pablo Escobar esteve pelo menos uma vez no Mutiny. “Não tinha nada de estranho em ir ao Mutiny, almoçar ali não significava que você era um corrupto. Era à noite que as coisas se tornavam mais interessantes”, diz o jornalista. Tudo ali era projetado para o prazer e os excessos. O Mutiny foi fundado por Burton Goldberg, personagem conhecido como “o Hugh Hefner de Miami”. No final dos anos 1960, Goldberg se dedicou a criar um lugar onde “qualquer fantasia fosse possível”. Ao se dar conta de que muitos de seus clientes eram “novos ricos” vindos da Colômbia, Venezuela, Cuba e América Central, o decorador que trabalhava para Goldberg disse que o modelo de negócios deveria ser o de “sedução do macho latino”. Assim, se deu a tarefa de criar 130 habitações temáticas, cada uma mais espalhafatosa que a outra. Os nomes de cada suíte “falam por si”: Caramelo Caliente, O Safari, Caravana Egípcia, A Odisseia, A Quinta Dimensão, O Espaço Exterior...Farzad narra a anedota que ouviu de um dos hóspedes do Mutiny, que, no meio de uma festa, teria caído de sua suíte e parado na habitação Safari, onde estava em curso uma orgia com homens e mulheres usando cabeças de leões e elefantes. O escritor também descreve uma ocasião em que um grupo de narcotraficantes gastou US$ 20 mil para encher um tonel de champanhe. “Nada fazia sentido”, diz Farzad. “Mas isso era o de menos, o que importa é que esses episódios revelam o que o dinheiro representava para eles”. No meio das festas, ao ritmo da música dos DJs, era fácil identificar quem era quem. Os traficantes cubanos, por exemplo, eram mais extravagantes e ostentavam mais. Ipso facto, os patrões dos traficantes colombianos igualmente exigiam que fossem bem mais discretos. Eles e os demais clientes do hotel eram atendidos pelas Chicas Mutiny, “um grupo de belas jovens que ganhavam milhares de dólares em uma só noite”.

O ambiente no Mutiny era tão alucinante que ninguém se atrevia a perturbá-lo. Policiais disfarçados que se infiltravam no estabelecimento sabiam bem quem mais estava lá. A qualquer momento poderiam interditar e fechar o local. Mas, segundo Farzad, não tinham coragem de fazê-lo. Essa “atmosfera onírica” é recriada no filma Scarface, um clássico de 1983, escrito por Oliver Stone, protagonizado por Al Pacino e dirigido por Brian De Palma. Segundo Farzad, o fictício clube Babilônia que aparece no filme é inspirado no Mutiny. Stone, Pacino e De Palma estiveram no hotel original, segundo Farzad, e no script chegam a mencionar o Mutiny, mesmo se referindo ao Babilônia. “A forma como descrevem como gostariam que fosse o Babilônia é quase exatamente igual ao que foi o Mutiny”, afirma Farzad. A farra no Mutiny durou até 1981. Naquele ano, Miami alcançou um nível de violência sem precedentes. “Tudo se tornou questão de vida ou morte”, diz Farzad. “Já não era mais só sexo, drogas e música”. Um dos pontos de inflexão foi o assassinato de Margarita, uma das Chicas Mutiny, que apareceu morta nos arredores de um chalé do hotel. “Isso despertou os demais funcionários”, diz Farzad. “Eles se deram conta de que qualquer um deles poderia ter sido Margarita”. A partir daí a polícia começou a pressionar mais a direção do hotel. Com o surgimento da epidemia de Aids e a escalada dos conflitos entre narcotraficantes, o Mutiny foi perdendo sua clientela. Além disso, outras casas de festa com histórico menos problemático foram abertas na região. Finalmente, Goldberg vendeu o hotel em 1984 e o prédio ficou abandonado até meados dos anos 1990, quando uma cadeia hoteleira voltou a colocá-lo em operação comercial, mas com ambientação diferente do original. “Hoje é um hotel sem graça, nada emocionante, com nenhum resquício de sex appeal”, opina Farzad. E atualmente seria “impensável” um lugar original. Segundo ele, aquele era um símbolo de “tempos mais inocentes”, quando os estragos da cocaína e da violência não eram ainda tão evidentes.

Miami, oficialmente Cidade de Miami (City of Miami), é uma cidade localizada no estado americano da Flórida, no condado de Miami-Dade, do qual é sede. É a segunda cidade mais populosa da Flórida, depois de Jacksonville, e a 44ª mais populosa do país. Miami é um centro turístico, sendo uma das cidades mais visitadas por turistas nos Estados Unidos, por causa de seu clima quente durante o ano inteiro, e pelas suas praias. Sua origem ocorreu através de uma povoação criada no fim do século XIX, que prosperou com o caminho-de-ferro e o porto. A cidade é uma das mais frequentadas pelos snow birds (termo usado para descrever os habitantes da região norte dos Estados Unidos, que passam o inverno nos Estados do Sul, em especial, a Flórida, para fugirem da neve e ao frio). O turismo tornou-se uma importante fonte de renda de Miami a partir da década de 1920, e é atualmente a principal fonte de renda da cidade. Muitos imigrantes ficam em Miami, ou pelo menos desembarcam de suas viagens imigrantes por Miami, por causa de sua proximidade com a América Central, e também pela cidade situar-se no litoral, facilitando assim o acesso aos Estados Unidos através do litoral. São falados comumente na cidade, além do inglês, o espanhol, devido à quantidade de grupos e nacionalidade hispanófonas (de origem cubana, porto-riquenha, mexicana e de outros países da América Central) morando em Miami. A região também conta com uma colônia judaica numerosa.     

Nos arredores da cidade está o Aeroporto Internacional de Miami, que é o segundo aeroporto mais movimentado do estado, atrás apenas do Aeroporto Internacional de Orlando. Este aeroporto está em tempos atuais em reformas, o que possibilitará a operação de grandes jatos, como o A380, da Airbus e outros grandes aviões. A área de Miami foi o primeiro espaço habitado por mais de mil anos pelo Tequestas, uma aldeia localizada no estado americano da Flórida, no condado de Palm Beach. Foi incorporada em 1957, mas foi mais tarde reivindicado pela Espanha em 1566 por Pedro Menéndez de Avilés (1519-1574). Uma missão espanhola foi construída um ano mais tarde, em 1567. Em 1836, a Fort Dallas foi construída, e a área geográfica de Miami se tornou posteriormente um sitio de combate durante a Segunda Guerra Seminole.  Miami detém a distinção de ser a única grande cidade dos Estados Unidos fundada por uma mulher, Julia Tuttle (1849-1898), que era uma rica produtora de citrinos nativa de Cleveland. A área de Miami era conhecida como a “Biscayne Bay Country”, nos primeiros anos de seu crescimento. Alguns relatos etnográficos descrevem a zona como um promissor deserto. A área também foi caracterizada como “uma das melhores obras na Flórida”. Na Grande Parada de 1894-1895 Miami acelerou o crescimento, onde as culturas da área Miami foram as únicas que sobreviveram na Flórida. Julia Tuttle posteriormente convenceu Henry Flagler (1830-1913), um magnata ferro-rodoviário, a fim de expandir sua Florida East Coast Railroad para a região. Miami foi oficialmente declarada na esfera política do estado como “uma cidade em 28 de julho de 1896 com uma população de pouco mais de 300 habitantes”.                   

A Segunda Guerra Seminole, também reconhecida como Guerra da Flórida, foi um conflito ocorrido de 1835 a 1842 na Flórida entre os Estados Unidos e grupos de pessoas conhecidos coletivamente como Seminoles, consistindo de Seminoles Creek e Black, bem como outras tribos aliadas. Representou parte da série de conflitos chamados de Guerras Seminole. Historicamente a Segunda Guerra Seminole, frequentemente chamada de Guerra Seminole, é considerada “o mais longo e custoso dos conflitos indígenas dos Estados Unidos”. Após o Tratado de Payne`s Landing em 1832, que exigiu a remoção dos Seminoles da Flórida, as tensões aumentaram até que ferozes hostilidades ocorreram no massacre de Dade em 1835. Este engajamento iniciou oficialmente a guerra, embora tenha havido uma série de incidentes que levaram à batalha de Dade. Os Seminoles e as forças públicas dos EUA se envolveram principalmente em pequenos engajamentos por mais de seis anos. Em 1842, apenas algumas centenas de povos nativos permaneceram na Flórida. Embora nenhum tratado de paz tenha sido assinado, a guerra foi declarada encerrada em 14 de agosto de 1842, pelo Coronel William Jenkins Worth (1794-1849). Bandos de várias tribos no Sudeste dos Estados Unidos da América se mudaram num processo fundamental difusionista para as terras desocupadas na Flórida no século XVIII. Estes incluíam Alabamas, Choctaw, Yamasees, Yuchis e Muscogees (então chamados de Creeks). Os Muscogees eram o maior grupo e incluíam pessoas das Cidades Baixas e Altas da Confederação Muscogee, e falantes de Hitchiti e Muscogee.

Um grupo de falantes de Hitchiti, os Mikasuki, se estabeleceu ao redor do que é o Lago Miccosukee perto de Tallahassee. Outro grupo de falantes de Hitchiti se estabeleceu ao redor da Pradaria de Alachua no que é o Condado de Alachua. Os espanhóis em Santo Agostinho começaram a chamar os Alachua Muscogees de cimarrones, que significava aproximadamente “selvagens” ou “fugitivos”, [ a ] e que é a provável origem de Seminole. Este nome (cf. Ginzburg e Poni, 1979) acabou sendo aplicado também a outros grupos na Flórida, embora os nativos americanos ainda se considerassem membros de tribos diferentes. Outros grupos na Flórida na época das Guerras Seminoles incluíam “índios espanhóis”, assim chamados porque se acreditava que eles eram descendentes de Calusas, e “índios rancho”, pessoas de ascendência nativa norte-americana, possivelmente Calusa e Muscogee, e ascendência mista nativo americana/espanhola, vivendo em ranchos de pesca espanhóis/cubanos na costa da Flórida. Por um breve período logo após o início da guerra, esses índios rancho, particularmente aqueles que residiam ao longo da Baía de Tampa, receberam proteção. No entanto, eles também foram forçados a viver em reservas. O Tratado de Moultrie Creek previa uma reserva na Flórida central para os Seminoles.

 Os Estados Unidos e a Espanha estavam em desacordo sobre a Flórida depois que o Tratado de Paris encerrou a Guerra Revolucionária Americana e devolveu o Leste e o Oeste da Flórida ao controle espanhol. Os Estados Unidos disputaram os limites da Flórida Ocidental. Eles acusaram as autoridades espanholas de abrigar escravos fugitivos (Forte Negro) e de não impedir os nativos americanos que viviam na Flórida de invadir os Estados Unidos. A partir de 1810, os Estados Unidos ocuparam e anexaram partes da Flórida Ocidental. Além disso, a Guerra Patriótica de 1812 foi parte desses conflitos em andamento. Em 1818, Andrew Jackson (1767-1845) liderou uma invasão da Flórida Espanhola, durante a Guerra de 1812 e a Guerra Creek, levando à Primeira Guerra Seminole. Os Estados Unidos adquiriram a Flórida da Espanha por meio do Tratado Adams-Onís em 1819 e tomaram posse do território em 1821. Agora que a Flórida pertencia os peretencia, os colonos pressionaram o governo a remover completamente os Seminoles e seus aliados. Em 1823, o governo negociou o Tratado de Moultrie Creek com os Seminoles, estabelecendo reserva para eles no meio do território.

Seis chefes, no entanto, foram autorizados a manter suas aldeias ao longo do Rio Apalachicola. Os Seminoles cederam suas terras no Panhandle e lentamente se estabeleceram na reserva, embora ocasionalmente tivessem confrontos com os europeus americanos. O Coronel (posteriormente General) Duncan Lamont Clinch (1787-1849) foi colocado no comando das unidades do Exército na Flórida. O Forte King foi construído perto da agência de reserva, no local da atual Ocala, Flórida. No início de 1827, o Exército relatou que os Seminoles estavam na reserva e que a Flórida estava em paz. Essa paz durou cinco anos, durante os quais houve repetidos apelos para que os Seminoles fossem enviados para o oeste do Mississippi. Os Seminoles se opuseram à mudança, e especialmente à sugestão de que deveriam ser colocados na reserva Creek. A maioria dos europeus americanos considerava os Seminoles simplesmente Creeks que haviam se mudado recentemente para a Flórida, enquanto os Seminoles reivindicavam a Flórida como seu lar e negavam qualquer ligação com os Creeks. A situação dos escravos fugitivos era uma irritação constante entre os Seminoles e os europeus-americanos. “O maior problema não era com eles [Seminoles], mas com os índios- negros”. O General Taylor, sendo ele próprio um senhor de escravos, não negaria “aos Seminoles seus negros” e, na prática, entregava seus cativos ao tenente John Fulton Reynolds (1820-1863), do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos da América, “encarregado da imigração”. A Espanha havia concedido liberdade aos escravos que escapavam para a Flórida sob seu domínio, embora os Estados Unidos não a reconhecessem.  

Quer dizer, ao longo dos anos, aqueles que se tornaram conhecidos como Seminoles negros ou negros estabeleceram comunidades separadas das aldeias Seminoles, e os dois povos tinham alianças estreitas, embora mantivessem culturas distintas. “Os negros entre os Seminoles constituíam uma ameaça à instituição da escravidão ao norte da fronteira espanhola. Os senhores de escravos no Mississippi e em outras áreas da fronteira estavam cientes disso” e “acusavam constantemente os índios de roubar seus negros”. No entanto, esta “acusação” foi frequentemente revertida; os brancos atacavam a Flórida e roubavam à força os escravos dos homens vermelhos. Preocupado com a possibilidade de uma revolta indígena e/ou uma rebelião armada de escravos, o governador DuVal solicitou tropas federais adicionais para a Flórida. Em vez disso, Fort King foi fechado em 1828. Os Seminoles, com falta de comida e a caça piorando na reserva, estavam se afastando dela com mais frequência. Também em 1828, Andrew Jackson, o antigo inimigo dos Seminoles, foi eleito presidente dos Estados Unidos. Em 1830, o Congresso aprovou a Lei de Remoção dos Índios. Eles queriam resolver os problemas com os Seminoles movendo-os para o Oeste do Rio Mississippi. Miami prosperou na década de 1920 com um aumento na população e infraestruturas, mas enfraqueceu após o colapso da Flórida em 1920, o Furacão em Miami em 1926 e da Grande Depressão da década 1930. Quando a II Guerra Mundial (1939-1945) começou, Miami, bem localizada devido à sua localização na costa Sul da Flórida, desempenhou um papel importante na batalha contra os submarinos alemães. A guerra contribuiu para expandir a população humana de Miami, por volta de 1940, 172. 172 pessoas viviam na cidade. 

Depois que o guerrilheiro marxista Fidel Alejandro Castro Ruz (1926-2016)  subiu ao poder em 1959, muitos cubanos se refugiaram em Miami, aumentando ainda mais estaticamernte a população urbana. Nas décadas de 1980 e de 1990, diversas crises assolaram o Sul da Flórida, entre elas o espancamento de Arthur McDuffie e o subsequente motim, guerra das drogas, o furacão Andrew e o alvoroço de Elián González. Os distúrbios de Miami de 1980, também chamados de distúrbios de Arthur McDuffie, foram distúrbios raciais que ocorreram em Miami, Flórida, começando para valer em 18 de maio de 1980, após um júri totalmente branco absolver cinco policiais brancos do Departamento de Segurança Pública do Condado de Dade na morte de Arthur McDuffie, nascido em 3 de dezembro de 1946 e morto em 21 de dezembro de 1979, um vendedor de seguros negro e cabo do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos. McDuffie foi espancado até a morte por quatro policiais após uma parada de trânsito. Depois que os policiais foram julgados e absolvidos de acusações que incluíam homicídio culposo e adulteração de evidências, um tumulto eclodiu nos bairros negros de Overtown e Liberty City na noite de 17 de maio. Os distúrbios continuaram até 20 de maio, resultando em pelo menos 18 mortes e cerca de US$ 100 milhões em danos materiais. Em 1981, o Condado de Dade resolveu uma ação civil movida pela família de McDuffie por US$ 1,1 milhão. Os distúrbios de Miami de 1980 foram os distúrbios urbanos mais mortais em uma única cidade desde o distúrbio de Detroit de 1967 e permaneceram assim até os distúrbios de Los Angeles de 1992, doze anos depois. 

Nas primeiras horas da manhã de 17 de dezembro de 1979, um grupo de seis policiais brancos parou McDuffie, de 33 anos, que pilotava uma motocicleta Kawasaki Z1 1973, preta e laranja. McDuffie havia acumulado multas de trânsito e pilotava com a carteira de habilitação suspensa. De acordo com o Boletim de Ocorrência, ele liderou a polícia em uma perseguição de oito minutos em alta velocidade por ruas residenciais a velocidades superiores a 130 km/h. No relatório inicial, quatro dos policiais envolvidos na perseguição [ a ] alegaram que McDuffie havia passado no sinal vermelho ou parado e, posteriormente, levou a polícia a uma perseguição de oito minutos. O sargento Herbert Evans (que não estava no local) acrescentou que McDuffie perdeu o controle de sua motocicleta ao fazer uma curva à esquerda e, de acordo com o policial Charles Veverka, McDuffie posteriormente bateu a cabeça no chão,após o que tentou fugir a pé. Os policiais o pegaram e uma briga se seguiu na qual McDuffie supostamente chutou o sargento Ira Diggs, que escreveu “o sujeito foi observado lutando violentamente”. A polícia dirigiu uma viatura sobre a motocicleta para fazer o incidente parecer um acidente. McDuffie foi transportado para um hospital próximo, onde morreu quatro dias depois devido aos ferimentos. A ex-esposa de McDuffie, que planejava se casar novamente com ele em 7 de fevereiro de 1980, estava de plantão como auxiliar de enfermagem quando ele foi transportado para o Jackson Memorial Hospital. O relatório do legista concluiu que ele havia sofrido múltiplas fraturas no crânio, uma das quais tinha 250 mm de comprimento. O legista, Dr. Ronald Wright, afirmou que os ferimentos de McDuffie não eram consistentes com um acidente de motocicleta e que, se McDuffie tivesse caído da motocicleta, como alegou a polícia, não fazia sentido que os medidores estivessem quebrados. Wright disse que parecia que ele havia sido espancado até a morte. 

Em dezembro de 1979, o vendedor de seguros e ex-fuzileiro naval negro Arthur McDuffie foi atacado por cerca de dez policiais brancos depois de cruzar um sinal vermelho com sua motocicleta. O ataque foi tão brutal que McDuffie entrou em coma e morreu poucos dias depois. Naquele ano, 621 pessoas morreram violentamente - a maior quantidade de homicídios em um só ano da história da cidade - e a imprensa relatava tudo de forma explícita. Uma mulher morta a tiros em uma rua de Miami, um homem com a jugular cortada com uma faca, um corpo rolando sobre uma autoestrada após ser empurrado de um carro em movimento, um menino de 4 anos baleado enquanto caminhava de mãos dadas com sua mãe... os mortos eram tantos que o escritório do legista local precisou alugar um caminhão refrigerado para armazenar os corpos. – “A quantidade de assassinatos era assustadora e o departamento de polícia não conseguia dar conta da limpeza dos homicídios”, declarou à BBC News Mundo (o serviço em espanhol da BBC) o escritor e jornalista Roben Farzad, autor do livro Hotel Scarface: where cocaine cowboys partied and plotted to control Miami (“Hotel Scarface: onde os caubóis da cocaína festejavam e conspiravam para controlar Miami”). No entanto, na segunda metade do século XX, Miami se tornou um dos principais centros financeiros e culturais internacionais. Miami e sua área metropolitana extraordinariamente cresceu de pouco mais de mil habitantes para quase cinco milhões e meio de habitantes, em apenas 110 anos (1896-2006). O apelido da cidade, A Cidade Mágica, surge a partir deste rápido crescimento econômico e social. Os visitantes de inverno observaram que a cidade cresceu muito a partir de um ano para o outro comparativamente que era como magia.

Não por acaso Magic Town é um filme de comédia estadunidense de 1947, dirigido por William A. Wellman e estrelado por James Stewart e Jane Wyman. O filme é um dos primeiros a abordar a então incipiente prática de pesquisas de opinião pública (cf. Lasswell, 1975). O filme foi inspirado nos estudos de Middletown. Também é conhecido como The Magic City. A “mágica” do título é o milagre matemático (como é chamado no filme) que permite que certas cidades sejam usadas para prever com bastante precisão as ações de todo o país. Lawrence “Rip” Smith é um ex-jogador de basquete e ex-militar que agora administra uma empresa que realiza pesquisas e levantamentos com consumidores. Ultimamente, ele tem se dedicado a encontrar a “fórmula milagrosa” matemática perfeita para realizar a pesquisa perfeita e competir de verdade com suas empresas rivais. Por falta de recursos, ele está muito atrás de seu principal rival, George Stringer. Um dia, Rip descobre que uma pesquisa feita por um amigo e ex-colega do Exército, Hoopendecker, na pequena cidade de Grandview, coincide exatamente com uma que Stringer havia feito em nível nacional. Rip conclui que a demografia da pequena cidade é perfeita para o país como um todo e acredita ter finalmente encontrado sua fórmula milagrosa. Ansioso para testar sua teoria, Rip vende uma pesquisa sobre educação progressista para um cliente, com a promessa de que o resultado será válido para todo o país. Além disso, ele promete entregar o resultado no mesmo dia que a empresa de Stringer, embora a rival já esteja trabalhando no projeto há algum tempo. Rip e sua equipe de profissionais viajam para Grandview para realizar a pesquisa. Eles fingem ser corretores de seguros. Mas os problemas começam quando Rip ouve uma conversa entre uma mulher chamada Mary Peterman tentando convencer o prefeito a expandir a cidade e construir uma série de novos prédios: um centro cívico.

Rip quer que a cidade permaneça exatamente como está, para que ele possa fazer suas pesquisas perfeitas, refletindo a demografia do país. Rip faz um discurso eletrizante para preservar a cidade, e os membros conservadores do conselho municipal o ouvem em vez de Mary, cuja proposta é deixada de lado. Mary escreve um editorial ousado e raivoso contra Rip no jornal local, administrado por sua família. Rip inicia uma ofensiva de charme contra Mary para amolecê-la, mas ela se mantém firme. Os dois combatentes, no entanto, se sentem atraídos um pelo outro. Eles passam muito tempo juntos enquanto Rip secretamente reúne informações para sua pesquisa. Um dos colegas de Rip o avisa que ele está se envolvendo demais com o assunto que deveria estar estudando, mas Rip fica cego por sua atração por Mary. Rip começa a treinar o time de basquete da escola e participa de um baile da escola, onde conhece a família de Mary. Quando Rip mais tarde foge para falar com seu cliente por telefone, Mary o segue, escuta a conversa e descobre a verdade sobre Rip estar na cidade. Irritada com a mentira, ela publica a história no jornal no dia seguinte. Um jornal de circulação nacional maior retoma a história, e logo a cidade está repleta de repórteres. A cidade é chamada de "capital da opinião pública dos EUA" e seus habitantes começam a vender suas opiniões sobre produtos de consumo em cada esquina. A prefeitura começa a traçar planos ousados para expandir a cidade, e tanto Rip quanto Mary se envergonham do que fizeram para mudar a estrutura da cidade.

Rip deixa Grandview e Mary e volta para casa. Logo, uma estranha pesquisa em Grandview indica que os cidadãos americanos gostariam de uma presidente. A cidade é ridicularizada pela espetacularização da imprensa e os planos de expansão têm um fim abrupto. Mas Rip não consegue esquecer Mary e retorna a Grandview para revelar per se seus verdadeiros sentimentos. Mary admite que também sente algo por ele, mas também diz a Rip que eles precisam consertar a bagunça que causaram em Grandview antes de poderem começar um relacionamento. Rip começa conversando com um senador americano de Grandview, Wilton, para obter ajuda dele para arrecadar fundos para salvar a cidade. Eles apresentam seu plano diante da Câmara Municipal, mas o principal membro do conselho, Richard Nickleby, é contra. Chateado, Rip diz a Nickleby que está “abandonando o time”. Mais tarde, Rip descobre, por meio de Hank, filho de Nickleby, que seu pai já havia vendido o terreno onde a expansão principal ocorreria para uma empresa. Para impedir isso, Rip consegue publicar trechos do discurso da prefeitura, algumas semanas antes, onde afirmava que eles expandiriam a cidade “com as próprias mãos”. Muitos moradores que leram o artigo começaram a exigir que a prefeitura construísse no terreno designado para salvar a reputação da cidade. Acontece que o contrato de venda da propriedade não estava formalmente correto e o terreno é devolvido à cidade. Todos os moradores contribuem para a construção de um centro cívico no terreno, e Rip e Mary se tornam um casal.

A delinquência provocada geralmente por pessoas órfãs e exploração desenfreada do ser humano por outros seres humanos é o ingrediente base de Oliver Twist e “Nicholas Nickleby”, onde faz também a denúncia das condições sociais de muitos estabelecimentos de ensino. “Casa Sombria” será um libelo contra a corrupção e a ineficiência do sistema jurídico inglês, tal como em “A pequena Dorrit”. Menos reconhecido, este romance é uma obra prima de sátira acerba, recheada de enganos, além de contar a típica história do pobre que enriquece. Aventurou-se também pelo romance histórico, de que é exemplo “Barnaby Rudge”, de 1841 — a obra é, contudo, dominada pela ficção e apenas em alguns pontos serve o desígnio do que se costuma chamar “romance histórico”. De fato, nenhuma das personagens tiveram existência, excetuando Lord Gordon. O seu “Conto de duas cidades”, sobre a Revolução Francesa, de cariz diverso do resto da sua obra é, contudo, um dos mais celebrados romances históricos ingleses. Charles Dickens era fascinado pelo teatro, que considerava como uma forma de refúgio psicológico perante as adversidades da vida. Em Nicholas Nickleby aparecem personagens ligadas ao meio teatral. 

A mulher que o acompanhou nos últimos anos de vida era atriz, e ele mesmo teve uma carreira ligada ao palco, durante as suas leituras públicas dos seus próprios romances, que o levou a percorrer a Grã-Bretanha e os Estados Unidos em digressões muito concorridas, e na sua escrita, ao conjugar realidade com fantasia, a crítica social com o melodrama, e a reflexão sobre o destino humano com o humor. Outros, porém, consideram David Copperfield o seu melhor romance — é também aquele onde se encontram mais elementos autobiográficos. A sua popularidade pouco decresceu desde a sua morte. Continua a ser um dos autores ingleses mais lidos e apreciados. Pelo menos cerca de 180 filmes e adaptações para televisão das suas obras documentam ainda o seu sucesso entre o público atual. Durante a sua vida se tinham adaptado algumas das suas obras para o palco. Em 1913 os produtores cinematográficos se lançavam na produção de um filme mudo denominado The Pickwick Papers. As suas personagens eram de tal forma sugestivas que pareciam ganhar vida própria, tornando-se, mesmo, proverbiais. A língua inglesa ganhou alguns neologismos à sua conta. “Gamp” é um termo usado na gíria para “guarda-chuva”, devido a uma personagem, a senhora Gamp. “Pickwickiano”, “Pecksniffiano”, etc., podem ser usadas para se referir ao mesmo tipo de pessoa que as personagens referidas. O seu conto “Canção de Natal” é talvez a sua história mais reconhecida. As adaptações são inúmeras, para quase todos os géneros de comunicação: cinema, banda desenhada, televisão, teatro, outras adaptações literárias, etc., criam um fenómeno de popularidade que transcende a obra original. Segundo alguns, esta história, patética, moralista e bem-humorada, resume o verdadeiro significado do Natal, eclipsando as outras histórias de Dickens sobre o tema.

            Scarface iniciou seu desenvolvimento após Pacino ver o filme de 1932 de mesmo nome no Tiffany Theather enquanto estava em Los Angeles. Mais tarde, ele chamou o seu gerente, o produtor Martin Bregman (1926-2018) e informou-o de sua crença no potencial de um remake do filme. Pacino originalmente queria manter o aspecto da peça da época, mas percebeu que devido à sua natureza melodramática seria difícil de realizar. Sidney Lumet tornou-se figura como diretor, desenvolvendo a ideia de Montana ser cubano chegando na América durante o êxodo de Mariel, isto é, uma emigração em massa de cubanos que partiram de Porto de Mariel para os Estados Unidos entre 15 de abril e 31 de outubro de 1980. O evento foi precipitado por uma desaceleração acentuada da economia cubana que levou a tensões internas na ilha e uma busca de asilo na embaixada peruana de mais de 10 mil cubanos. O governo cubano anunciou subsequentemente que qualquer pessoa que queria deixar o país poderia fazê-lo, e um êxodo de barco começou pouco depois. O êxodo foi organizado por cubano-americanos com o acordo do presidente marxista cubano Fidel Castro (1926-2016). O êxodo começou a ter implicações políticas negativas para o então presidente dos Estados Unidos Jimmy Carter (1924-2025), quando se descobriu que um número dos exilados tinha sido libertado das prisões cubanas e instituições de saúde mental. O êxodo de Mariel acabou por mútuo Acordo entre os dois governos envolvidos em outubro de 1980. Mais de 125 mil cubanos haviam feito a viagem para a Florida.                   

O episódio começou quando, em 1º de abril de 1980, Hector Sanyustiz colocou em prática o plano que planejara secretamente durante meses. Ele embarcou em um ônibus, e junto com outras quatro pessoas (incluindo o condutor), parou várias quadras antes do Setor das Embaixadas no centro de Havana, sendo as representações diplomáticas distribuídas por diferentes bairros da cidade. O motorista, que também era amigo de Sanyustiz, anunciou que o ônibus havia quebrado e esvaziou o veículo, deixando os outros quatro que estavam a par do plano. Sanyustiz assumiu o controle do ônibus e dirigiu-o através da cerca da embaixada peruana. Alguns dos guardas cubanos que foram posicionados para vigiar a rua abriram fogo contra o ônibus. Um guarda foi ferido mortalmente no fogo cruzado. Os cinco tomaram medidas desesperadas para pedir asilo político, e o diplomata peruano encarregado da embaixada, Ernesto Pinto-Bazurco, concedeu. O governo cubano imediatamente pediu ao governo peruano para retornar os cinco indivíduos, afirmando que eles precisavam serem julgados pela morte do guarda. Mas o governo peruano recusou. Scarface estreou no dia 1° de dezembro de 1983 em Nova Iorque, onde foi inicialmente recebido com heterodoxas reações positivas. Duas estrelas do filme, Al Pacino e Steven Bauer, foram acompanhadas por Burt e Diane Lane, Melanie Griffith, Raquel Welch, Joan Collins, seu então namorado Peter Holm e Eddie Murphy entre outros. O limitado relançamento do 20º aniversário nos cinemas em 2003, ostentava uma trilha sonora remasterizada com efeitos sonoros aprimorados e música.

As diferenças criativas de Bregman de Lumet fizeram com que Lumet desistisse do projeto. Lumet queria fazer uma história política que se concentrasse em culpar a administração presidencial para o afluxo de cocaína para os Estados Unidos, e Bregman discordou das opiniões de Lumet. Bregman o substituiu por Brian De Palma, e contratou o escritor Oliver Stone, mais tarde afirmando que demorou apenas quatro telefonemas para garantir o seu envolvimento. Stone pesquisou o roteiro, enquanto lutava contra o seu próprio vício em cocaína. Ele e Bregman realizaram sua própria investigação, viajando para Miami, Flórida, onde eles tiveram acesso aos registros do Gabinete do Procurador dos EUA e a Organized Crime Bureau. Stone mudou-se para Paris para escrever o roteiro, acreditando que ele não poderia quebrar seu vício enquanto estava nos Estados Unidos, afirmando em uma entrevista de 2003 que ele estava completamente fora das drogas no momento, “porque eu não acho que a cocaína ajuda a escrever. É muito destrutivo para as células do cérebro”. Embora Pacino tenha insistido em assumir o papel principal como Tony Montana, Robert De Niro foi convidado, mas recusou o papel. Pacino trabalhou com especialistas em combate com faca, formadores e com o boxeador Roberto Duran para atingir o tipo de corpo que ele queria para o papel. Duran também ajudou a inspirar o personagem, a quem Pacino pensou ter “um certo leão nele”, e o trabalho de Meryl Streep em A Escolha de Sofia (1982), onde desempenhou uma personagem imigrante.

Bauer e um treinador de dialeto o ajudaram a aprender aspectos da língua e pronúncia do espanhol cubano. Pfeiffer era uma atriz desconhecida, e ambos Pacino e De Palma tinham argumentado contra sua entrada no elenco, mas Bregman lutou por sua inclusão. Glenn Close era a escolha original para o papel, enquanto outras, incluindo Geena Davis, Carrie Fisher, Kelly McGillis, Sharon Stone, e Sigourney Weaver também foram consideradas. Bauer, no entanto, tem o seu papel, mesmo sem a audição. Durante o processo de audição, a diretora de elenco Alixe Gordin viu Bauer e imediatamente notou que ele estava certo para o papel de Manny, um julgamento que tanto De Palma e Bregman concordaram; ele foi o único real cubano no elenco principal. John Travolta foi considerado para o papel. Durante os ensaios para um tiroteio, Pacino ficou ferido depois que ele pegou o cano de uma arma que tinha acabado de ser usada para disparar várias balas fictícias. Sua mão ficou presa ao cano quente e ele não foi capaz de removê-lo imediatamente; a lesão o afastou durante 2 semanas. A cena do tiroteio também inclui uma única gravação, dirigida por Steven Spielberg, que estava visitando o set naquele momento oportunamente. Durante as filmagens, alguns cubano-americanos se opuseram à presença de personagens cubano-americanos do filme tendo em vista que eles estavam sendo retratados para a sociedade globalizada como criminosos por atores não-cubano-americanos. Para contrariar esta situação, contraditoriamente, o filme apresenta um aviso durante os seus créditos, “certificando que os personagens do filme não eram representativos da comunidade cubano-americana”.   

A indústria do entretenimento inicialmente odiava o filme, como a atriz Liza Minnelli — que na época não tinha visto o filme —; ela veio até Pacino e disse, “Al, o que você fez com essas pessoas?”, mas Pacino lembrou de Eddie Murphy que também estava lá e disse: “Eu adorei, Al”. Apesar de ambientado em Miami, a maior parte do filme foi gravado em Los Angeles já que o turismo de Miami tinha medo de que a representação do cinema do estado, como um refúgio para as drogas e bandidos, iria impedir o turismo. A mansão opulenta de Tony em Miami era El Fureidis, uma mansão de estilo romano, em Santa Barbara, Califórnia. Scarface recebeu uma classificação X na América do Norte, três vezes por “extrema violência, linguagem forte e frequente uso de drogas pesadas”. A classificação restritiva, mais associada à época com a pornografia, tanto limitou o número de cinemas dispostos a exibir tal filme, e restringiu a publicidade promocional, o que afetaria adversamente o potencial de quaisquer receitas de bilheteira. Em particular, uma das primeiras cenas espetacular “onde Angel, associado de Montana, é desmembrado com um motosserra, foi apontada como a causa da classificação X”. De Palma fez edições para o local e reenviou para a Motion Picture Association of América (MPAA), mas foi novamente dada uma classificação X.

Ele fez mais edições e reapresentou entre 3 a 5 vezes antes de se recusar a editar mais o filme, dizendo que a Universal Pictures ou o libera em sua forma atual ou queima-lo e substitui-o por alguém que possa editá-lo. A Universal optou por recorrer da decisão do MPAA. Então o presidente do estúdio Robert Rehme participou da audiência, que foi presidida pelo seu amigo e Presidente da MPAA Jack Valenti que foi presidente da Motion Picture Association (MPA), anteriormente reconhecida como Motion Picture Association of America (MPAA), de 1966 a 2004. Ele é conhecido por ter criado o sistema de classificação de filmes da MPAA. Valenti também foi um importante lobista pró-direitos autorais e defensor da indústria cinematográfica americana. Antes de liderar a MPAA, Valenti foi assessor especial do presidente Lyndon B. Johnson (1908-1973). Um dos marcos de sua gestão de negócios foi a implementação do sistema de classificação de filmes da MPAA, que avalia o conteúdo de filmes para informar o público sobre sua adequação a diferentes faixas etárias. Valenti era destacadamente reconhecido por seu trabalho de lobby no Congresso dos Estados Unidos da América, defendendo os interesses predominantemente da chmada indústria cinematográfica. Ele também atuou ativamente no combate à pirataria de filmes, buscando proteger os direitos autorais e a produção audiovisual. Jack Valenti morreu em 26 de abril de 2007, aos 85 anos, em Beverly Hills, Califórnia, devido a um derrame. Após sua morte, a National Italian American Foundation (NIAF) lançou o Jack Valenti Institute em sua homenagem, para apoiar estudantes de cinema ítalo-americanos.

Roger Ebert descreveu sua abordagem de crítica analítica a seleção de filmes estatisticamente como “relativas, não absolutas”; ele analisou um filme para o que ele sentiu para o que seria com seu público potencial, mas sempre com pelo menos alguma consideração quanto ao seu valor como um todo. Ele premiava com quatro estrelas de filmes da mais alta qualidade, e geralmente, meia estrela aos do mais baixa, a menos que ele considere que o filme seja “artisticamente inepto” ou “moralmente repugnante”, caso em que não recebe estrelas. Quando você pergunta a um amigo se Hellboy é bom, você não está perguntando se ele for bom em comparação com Mystic River, você está perguntando se ele é bom em comparação com The Punisher. E a minha resposta seria, em uma escala de um a quatro, se Superman é quatro, então Hellboy é três, comparando com The Punisher é duas. Da mesma forma, se American Beauty recebe quatro estrelas, em seguida, The United States of Leland recebe cerca de duas. Ebert enfatizou que suas classificações de estrelas teriam pouco significado se não forem no contexto da própria avaliação. Ocasionalmente (como em sua avaliação de Basic Instint 2), a classificação de estrelas de Ebert pode ter parecido em desacordo com o seu parecer por escrito. Ebert reconheceu tais casos, afirmando: “Eu não posso recomendar o filme, mas … por que diabos eu não posso? Só porque ele é desagradável? Que tipo de razão é para ficar longe de um filme? Desagradável e chato, que seria uma razão”. Em agosto de 2004 Stephen King, em uma coluna, criticou o que ele via como uma tendência crescente de clemência para os críticos de filmes, incluindo Ebert.

Sua principal crítica é que os filmes, citando Spider-Man 2 como um exemplo, estavam constantemente recebendo quatro classificações de estrelas que eles não merecem. Em sua revisão para Família Manson, Ebert deu ao filme três estrelas para alcançar o que se propôs a fazer, mas admitiu que não conta como uma recomendação. Semelhantemente ele deu a refilmagem estrelada por Adam Sandler (Longest Yard) uma avaliação positiva para de três estrelas, mas em sua revisão, ele escreveu depois de assistir ao Festival de Cannes, ele recomendou aos leitores para não verem o filme porque não tinha acesso a cinematográfica com experiência mais satisfatória. Ele se recusou a dar uma classificação por estrelas para The Human Centipede (First Sequence), argumentando que o sistema de classificação foi inadequado a um filme: “É um filme bom, é ruim, isso importa, ele é o que é e ocupa um mundo em que as estrelas não brilham”. Entre aqueles que falaram em nome do filme durante a apelação estavam o crítico de cinema Roger Ebert, o chefe da organizada divisão de crime do Condado de Broward da Flórida, e o chefe de uma grande cadeia de cinema, Alan Friedberg. Membro da MPAA Richard Heffner viria a admitir que ele poderia ter lutado mais para manter a classificação X, mas ele acreditava que Valenti não apoiou a decisão, já que ele não quer se indispor com os grandes estúdios de cinema. A decisão foi esmagadora a favor de lançar o filme com a classificação R menos restritiva. Em resposta, De Palma argumentou que se a última versão do filme foi agora considerada restrita, então a sua versão original também seria, racionalizando que as edições que ele fez foram menores. A MPAA disse a De Palma que só a sua mais recente edição pode ser certificada como restrita. De Palma no entanto acreditava que as mudanças foram tão pequenas que ninguém iria notar se ele lançasse a sua versão original de qualquer maneira, o que ele finalmente fez.

Bibliografia Geral Consultada.

FAULKNER, Harold Underwood, História Económica de los Estados Unidos. Buenos Aires: Editora Nueva, 1954; LASSWELL, Harold, “A Estrutura e a Função da Comunicação na Sociedade”. In: COHN, Gabriel (Org.), Comunicação e Indústria Cultural. São Paulo: Editora Nacional, 1975; GINZBURG, Carlo e PONI, Carlo, “Il Nome e il Come: Scambi Ineguale e Mercato Storiografico”. In: Quaderni Storici, n˚ 40, 1979; GINZBURG, Carlo, Miti, Emblemi, Spie. Morfologia e Storia. Torino: Einaudi Editore, 1986; GINZBURG, Carlo “et alii”, A Micro-História e Outros Ensaios. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1989; LARZELERE, Alex, The 1980 Cuban Boatlift. Washington, DC: National Defense University Press, 1988; ROMANO, Vicente, Desarrollo y Progreso: Por una Ecologia de la Comunicación. Barcelona: Editorial Teide, 1993; AUGÉ, Marc, La Guerre des Rêves. Exercices d`ethno-fiction. Paris: Éditions du Seuil, 1997; GAGNON, Marc-André; FAILLE, Dimitri della, “La Sociologie Économique de Thorstein Veblen: Pertinences et Impertinences d’une Pensée à Contre-Courant”. In: Revue Interventions Économiques. Éditeur Association d’Économie Politique n° 36, 2007; AMSDEN, Alice Hoffenberg, A Ascensão do Resto: Os Desafios ao Ocidente de Economias com Industrialização Tardia. São Paulo: Editora Unesp, 2009; AZEVEDO, Fernando de, A Cultura Brasileira. 7ª edição. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2010; FOUCAULT, Michel, Vigiar e Punir: Nascimento da Prisão. 42ª edição. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 2014; JUNQUEIRA, Flávia, A Teatralidade na Vida Cotidiana. Dissertação de Mestrado. Escola de Comunicações e Artes. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2014; LELOUP, Jean-Yves, Une Danse Immobile. Paris: Editions Du Relie, 2015; AMORIM, Lauro Maia, “Contrastando Marcas de Oralidade em Traduções de ‘Alta Literatura’ e de ‘Best-sellers de Ficção Popular’: Ernest Hemingway e Agatha Christie”. In: Belas Infiéis,7(I)59–90, 2018; Artigo: “Scarface: A Rotina de Orgias, Festas e Cocaína dos Traficantes que Inspiraram Filme”. Disponível em: https://g1.globo.com/pop-arte/cinema/noticia/2019/01/11/; AFTEL, Mandy, Essência e Alquimia. Belo Horizonte: Editor Laszlo, 2020; LEPORE, Jill, Estas Verdades: A História de Formação dos Estados Unidos. 1ª edição. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2020; ALVAREZ, Gabriel, A Problemática do Direito à Cidade no Urbano Contemporâneo. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Geografia Humana. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2023; Artigo: “Clássico na Netflix: Scarface conta a história do gângster Tony Montana”. In: https://www.folhabv.com.br/variedades/16/03/2025; entre outros.  

sexta-feira, 22 de agosto de 2025

4 L – Comédia Dramática, Cinema & Aventura, Jornada de Quatro Amigos.

 Com os amigos ao lado, até a jornada mais longa se torna curta”. Filme 4L (2019)      

       4L (em espanhol: 4 latas) tem como representação social um filme de comédia espanhol de 2019, dirigido por Gerardo Olivares, nascido em 1964 é um cineasta e roteirista espanhol. É casado, tem dois filhos e mora em Madri. Foi o primeiro espanhol a ganhar o Golden Spike no prestigiado festival de cinema Seminci, em Valladolid, por seu filme “14 quilómetros”. Recebeu o Prêmio Cinema pela Paz de 2019 na categoria Justiça por seu filme “Duas Catalunhas” e escrito por Olivares e María Jesús Petrement. O enredo gira em torno de Tocho (Hovik Keuchkerian), que é um alcoólatra rude e mal-educado; Jean Pierre (Jean Reno), que já foi mulherengo, mas amadureceu; e Ely (Susana Abaitua). Todos estão viajando da Espanha para o pai de Ely, Joseba (Enrique San Francisco), que mora em Tombuctu, Mali, e está em seu leito de morte. É uma cidade no centro do Mali, capital da região de mesmo nome. Apesar de não demonstrar o esplendor da sua época áurea, no século XIV, e estar a ser engolida pela areia do deserto do Saara, ainda tem uma importância histórica e social tão grande, como depósito de saber, que foi inscrita pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), em 1988, integrada na lista do Patrimônio Mundial. cultural das nmções Na trama cinematográfica eles decidiram viajar para lá usando o velho automóvel Renault do pai de Ely, um carro que eles costumavam usar para fazer determinadas viagens. O filme 4L não tem frases  reconhecidas em filmes famosos. Mas explora a amizade, aventura e a busca por liberdade.

        No início da trama cinematográfica, Tocho, tem como representação social um cidadão rude e alcoólatra de Bilbao, Espanha, que recebe uma carta informando que Joseba, uma velha amiga, está morrendo em Tombuctu. Profundamente tocado e nostálgico, Tocho viaja de ônibus para a França, onde convoca outro velho amigo, Jean Pierre, dono de um vinhedo, para acompanhá-lo em uma viagem para se despedir de sua amada Joseba. Jean Pierre concorda, um tanto hesitante, e os dois homens visitam Ely, filha de Joseba, com quem se separavam, para convidá-la a se juntar a eles. Para espanto deles, Ely revela que o velho Renault de 1982, que os três amigos dirigiram pelo Deserto do Saara foi cuidadosamente preservado em sua garagem. Ela aceita a oferta, se eles dirigirem o Renault da Espanha a Tombuctou novamente. Com boas lembranças de suas aventuras de juventude, Jean Pierre e Tocho concordam em recriar a jornada com Ely a reboque. Mas os homens e o carro estão mais velhos agora, e os tempos mudaram. O que antes era uma viagem de liberdade se torna “uma jornada repleta de colapsos e momentos estereotipados de quase morte no deserto”. Um caroneiro malinês, Mamadou, faz amizade com Ely, mas morre de sede ao sair para buscar ajuda quando o 4L quebra. Há um encontro no meio do Tanezrouft com um traficante francês que guarda rancor de Jean Pierre, que “roubou um de seus caminhões há muitos anos”. Chegando a Timbuctou, os três viajantes encontram Joseba doente e seu parceiro malinês, e a cena final deixa os personagens prometendo restaurar um barco fluvial no Níger (a cerca de 20 km de Tombuctu) de propriedade de Joseba.

          O filme “4x4”, também reconhecido como “4L”, não tem um parceiro de origem malinês, relativo à República do Mali (antigo Sudão francês), na África ocidental. O filme narra a história controversa de um homem que, após roubar um carro, fica preso dentro dele, e a narrativa se concentra em seus esforços humanos e tecnológicos para escapar e sobreviver. Não há menção a um cachorro ou ouro animal de estimação no enredo do filme. O filme “4x4” é um thriller psicológico que explora temas de isolamento, perda, sofrimento, memória e luta pela sobrevivência. O protagonista, interpretado por Peter Lanzani, precisa usar sua inteligência e recursos para lidar com a situação perigosa em que se encontra. Embora o filme não tenha um parceiro canino, ele explora a relação entre o homem e a máquina, e a luta pela sobrevivência em ambiente hostil. O Mali ou Máli, oficialmente República do Mali, em bambara, Mali ka Fasojamana tem como representação social um país africano sem saída para o mar na África Ocidental. O Mali é o sétimo maior país da África. Limita-se com sete países, a Norte pela Argélia, a Leste pelo Níger, a Oeste pela Mauritânia e Senegal e ao Sul pela Costa do Marfim, Guiné e Burquina Fasso. O Mali tem uma área de 1 240 000 km² e a sua população em cerca de 24,5 milhões de habitantes. A capital do país é Bamaco. Formado por Oito regiões, o Mali tem fronteiras ao Norte, no meio ao Deserto do Saara, e ao Sul, onde vive a maioria dos habitantes, está próximo aos rios Níger e Senegal. Os recursos naturais no Mali são o ouro, o urânio e o sal.          

O atual território do Mali foi sede de três impérios da África Ocidental, que controlava o comércio transaariano: o Império do Gana, o Império do Mali (que deu o nome de Mali ao país), e o Império Songai. No final do século XIX, o Mali ficou sob o controle da França, tornando-se parte do Sudão Francês. Em 1960, conquistou a Independência, juntamente com o Senegal, tornando-se a Federação Mali. Um ano mais tarde, a Federação do Mali se dividiu em dois países: Mali e Senegal. Depois de um tempo em que havia apenas um partido político, um golpe de Estado em 1991 levou à escritura de uma nova Constituição e à criação do Mali como uma nação democrática, com um sistema pluripartidário. Quase a metade de sua população vive abaixo da linha de pobreza, com menos de 1 dólar por dia. Mali deriva do nome do Império do Mali. O nome significa “o lugar onde o rei mora” e carrega uma conotação expressiva de força. O escritor guineense Djibril Tamsir Niane (1932-1921) sugere, em sua obra  Sundiata: An Epic of Old Mali (1965), que não é impossível que Mali tenha sido o nome dado a uma das capitais dos imperadores. O viajante marroquino do século XIV, Ibn Battuta, relatou que a capital do Império se chamava Mali. 

Uma tradição Mandinka narra que o lendário primeiro imperador Sundiata Keita se transformou em um hipopótamo após sua morte no rio Sankaranie, sendo possível encontrar aldeias na área deste rio denominadas “velho Mali”, possuindo Mali em seus nomes. Um estudo de provérbios do Mali observou que, no antigo Mali, havia uma aldeia chamada Malikoma, que significa “Novo Mali”, e que Mali poderia ter sido anteriormente o nome de uma cidade. Outra teoria sugere que Mali é uma pronúncia Fulani do nome do povo Mande. É sugerido que uma mudança de som levou à alteração. O território do atual Mali foi sede de grandes impérios da África Ocidental, que controlavam o comércio de sal, ouro, matérias prima, além de prata e bronze. Estes reinos careciam tanto de fronteiras geopolíticas quanto de identidades étnicas. Um destes grandes impérios foi o Império do Gana, fundada pelos soninquês, que falavam mandê. O reino se expandiu por toda África Ocidental desde o século VIII até 1078, quando foi conquistado pelos almorávidas. O Império do Mali se formou na parte superior do Rio Níger e chegou à sua força máxima em meados do século XIV.  Sob o reinado do Império do Mali, as antigas cidades de Djené e Tombuctu foram importantes centros de comércio e de aprendizagem islâmica. O reino entrou em declínio e, foi resultado de conflitos internos, e até ser substituído pelo Império Songai. 

O povo Songai é originário do noroeste da atual Nigéria, cujo império tinha sido há muito tempo uma potência na África Ocidental sob o controle do Império de Mali. No final do século XIV, o Império Songai ganhou a Independência do Império do Mali gradualmente, abrangendo a extremidade oriental deste império. Sua queda foi resultado de uma invasão berbere em 1591, marcando o fim do papel regional da encruzilhada comercial. Após o estabelecimento de rotas marítimas pelas potências europeias, a rotas comerciais transaarianas perderam sua importância. Na Era Colonial, Mali ficou sob o controle francês no fim do século XIX. Em 1905, toda a sua área estava sob controle da França, fazendo parte do Sudão Francês. No início de 1959, o Mali e o Senegal se uniram, formando a Federação do Mali, que conquistou a sua independência em 20 de agosto de 1960. A retirada da federação senegalesa permitiu que a ex-República sudanesa formasse a nação independente do Mali em 22 de setembro de 1960. Modibo Keita (1915-1977), que foi primeiro-ministro da Federação do Mali até sua dissolução, foi eleito o primeiro presidente. Keita estabeleceu o unipartidarismo, adotando, por sua vez, uma orientação africana independente e socialista de fortes laços com a União das Repúblicas Socialistas Soviética (URSS) e realizou uma grande nacionalização dos recursos econômicos. Modibo Keïta foi um pan-africanista e terceiro-mundista convicto, compartilhando essa crença com os nacionalistas de sua época, como Muammar Gaddafi da Líbia, Gamal Abdel Nasser do Egito, Kwame Nkrumah do Gana, Ahmed Ben Bella da Argélia, dentre outros.

Em 1968, como resultado de um crescente declínio econômico, o mandato de Keita foi derrubado por um golpe militar liderado por Moussa Traoré (1936-2020). O regime militar subsequente, de Traoré como presidente, teve a função de fazer reformas econômicas. Apesar disso, seus esforços foram frustrados pela instabilidade política e uma devastadora seca climática que ocorreu entre 1968 e 1974. O regime Traoré enfrentou distúrbios estudantis que começaram no final dos anos 1970, como também ocorreram três tentativas de golpe de Estado. No entanto, as divergências foram suprimidas até o final da década de 1980. O governo continuou a tentar implantar reformas econômicas, mas sua popularidade entre a população diminuiu cada vez mais. Em resposta à crescente demanda por uma democracia pluripartidária, Traoré consistiu em uma liberalização política limitada, mas negou a marcar o início de um pleno sistema democrático. Em 1990, começaram a surgir novos movimentos de oposição coerentes, mas estes processos foram interrompidos pelo aumento da violência étnica no Norte, devido ao retorno de muitos tuaregues ao país. Novos protestos contra o governo ocorreram em 1991 levaram a mais um golpe de Estado, seguido de um governo de transição e a realização da nova Constituição. Em 1992, Alpha Oumar Konaré venceu as primeiras eleições presidenciais democráticas. Após sua reeleição em 1997, o presidente Konaré impulsionou reformas político-econômicas e lutou em combater a corrupção.

Em 2002, foi substituído por Amadou Toumani Touré, general que liderou um outro golpe de Estado contra os militares e impôs a democracia. O Mali vinha sendo um dos países mais estáveis de África no âmbito político e social. Entretanto, em 21 de março de 2012, um golpe militar derrubou o governo do presidente Touré. Em 2013, Ibrahim Boubacar Keïta venceu as eleições presidenciais daquele ano e assumiu a presidência até 18 de agosto de 2020, quando um outro golpe militar derrubou o governo de Keïta. Em setembro de 2020, a junta militar elegeu o presidente interino Bah N`daw no lugar de Keïta e governou o país até o dia 24 de maio de 2021, quando as tropas lideradas pelo chefe Assimi Goita derrubaram o governo de Bah e assumiram o poder de Mali até os dias atuais. Em 16 de maio de 2023, os governos militares de Mali, Burquina Fasso e Níger formam a aliança de defesa denominada Aliança de Estados do Sahel (AES), cujo objetivo é fortalecer as defesas dos três países em combate aos jihadistas ligados à Al-Qaeda e o Estado Islâmico. Em 29 de janeiro de 2024, o Mali saiu da CEDEAO, ou Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental, uma organização regional que reúne 15 países da África Ocidental com o objetivo de promover a integração econômica e a cooperação política e social. Foi fundada em 1975 pelo Tratado de Lagos, junto com Burquina Fasso e Níger, devido a acusação dos três países de “trair seus próprios fundadores” após o grupo aplicar sanções econômicas contra eles.

            A população do Mali abrange vários grupos étnicos subsaarianos. Os bambaras são de longe estatisticamente o maior grupo étnico único, constituindo 36,5% da população. Coletivamente, os bambaras, soninquês, cassonquês e mandingas (também chamados mandinca), todos parte do grupo mais amplo mandês, constituem 50% da população do Mali. Outros grupos significativos são os fulas (17%), voltaic (12%), songais (6%) e tuaregues e mouros (10%). No Mali, assim como no Níger, os mouros também são reconhecidos como árabes de Azawagh, em homenagem à região de Azawagh no Saara. Eles falam principalmente o árabe Hassani, que é uma das variedades regionais do árabe. No extremo Norte, há uma divisão entre as populações nômades tuaregues descendentes de berberes e os bellas ou tamaxeques, de pele mais escura, devido à expansão histórica da escravidão na região. Estima-se que 800 mil pessoas no Mali são descendentes de escravos. E a escravidão no Mali persistiu por séculos. A população árabe manteve escravos até o século 20, quando a escravidão foi suprimida pelas autoridades francesas em meados do século 20. Ainda persistem certas relações de servidão hereditária, e de acordo com algumas estimativas, ainda cerca de 200 mil malianos ainda são escravizados. Alguns descendentes de europeus/africanos muçulmanos de origem espanhola, francesa, irlandesa, italiana e portuguesa vivem no Mali, onde são reconhecidos como o povo arma, com 0,4% da população do país.

    

            A Constituição maliana prevê a Independência jurídica, mas o Poder Executivo exerce influência sobre o Judiciário sob o seu poder de nomear juízes e supervisionar tanto as funções judiciais como a sua aplicação em lei. Os tribunais do Mali de maior hierarquia são o Tribunal Supremo, que tem competências judiciais e administrativas, e um Tribunal Constitucional independente que proporciona controle jurisdicional de atos legislativos e serve como um árbitro eleitoral. Existem vários tribunais menores, ainda que os chefes de aldeia e anciãos são responsáveis por resolver os conflitos sobre a aldeia local. A orientação política externa do Mali tornou-se cada vez mais pragmática e pró-ocidental ao longo do tempo. Como um país democrático a partir de 2002, as relações do Mali com o Ocidente em geral e com os Estados Unidos da América em particular, melhoraram significativamente. O Mali tem uma relação diplomática de longa data com a França, a antiga metrópole colonial. O país era ativo em organizações regionais, como a União Africana, até à sua suspensão durante o golpe de 2012. Mali apoia a resolução de conflitos regionais, como na Costa do Marfim, Libéria e Serra Leoa, o que é descrito como um dos principais objetivos da política externa do Mali. O governo maliano se sente ameaçado pelos conflitos em Estados fronteiriços, e as relações com os vizinhos são muitas vezes desconfortáveis. A insegurança ao longo das fronteiras do norte, incluindo o banditismo e o terrorismo, permanecem como questões preocupantes nas relações regionais. As forças militares do Mali consistem em um exército, que inclui as forças terrestres e a força aérea, estando sob o controle do Ministério da Defesa e dos Veteranos do Mali. O país é membro da Organização das Nações Unidas (ONU).

            Friedrich Hegel que parte da análise da consciência comum, não podia situar como princípio primeiro uma dúvida universal que só é própria da reflexão filosófica. Por isso mesmo ele segue o caminho aberto pela consciência e a história detalhada de sua formação. Ou seja, a Fenomenologia vem a ser uma história concreta da consciência, sua saída da caverna e sua ascensão à Ciência. Daí a analogia que em Hegel existe de forma coincidente entre a história da filosofia e a história do desenvolvimento do pensamento, mas este desenvolvimento é necessário, como força socialmente irresistível que se manifesta lentamente através dos filósofos, que são instrumentos de sua manifestação. Assim, preocupa-se apenas em definir os sistemas, sem discutir as peculiaridades e opiniões dos diferentes filósofos. Na determinação do sistema, o que o preocupa é a categoria fundamental que determina o todo complexo do sistema, e o assinalamento das diferentes etapas, bem como as vinculasses destas etapas que conduzem à síntese do espírito absoluto. Para compreender o sistema é necessário começar pela representação, que ainda não sendo totalmente exata permite, no entender de sua obra a seleção de afirmações e preenchimento do sistema abstrato de interpretação do método dialético, para poder alcançar a transformação da representação numa noção clara e exata.

Assim, temos a passagem da representação abstrata, para o conceito claro e concreto através do acúmulo de determinações. Aquilo que por movimento dialético separa e distingue perenemente a identidade e a diferença, sujeito e objeto, finito e infinito, é a alma vivente de todas as coisas, a Ideia Absoluta que é a força geradora, a vida e o espírito eterno. Mas a Ideia Absoluta seria uma existência abstrata se a noção de que procede não fosse mais que uma unidade abstrata, e não o que é em realidade, isto é, a noção que, por um giro negativo sobre si mesma, revestiu-se novamente de forma subjetiva. Metodologicamente a determinação mais simples e primeira que o espírito pode estabelecer é o Eu, isto é, a faculdade de poder abstrair todas as coisas, até sua própria vida. Chama-se idealidade precisamente esta supressão da exterioridade. Entretanto, o espírito não se detém na apropriação, transformação e dissolução da matéria em sua universalidade, mas, enquanto consciência religiosa, por sua faculdade representativa, penetra e se eleva através da aparência dos seres até esse poder divino, uno, infinito, que conjunta e anima interiormente todas as coisas, enquanto pensamento filosófico, como princípio universal, a ideia eterna que as engendra e nelas se manifesta. Isto quer dizer que o espírito finito se encontra inicialmente numa união imediata com a natureza, a seguir em oposição com esta e finalmente em identidade com esta, porque suprimiu a oposição e voltou a si mesmo e, consequentemente, o espírito finito é a ideia, mas ideia que girou sobre si mesma e que existe por si em sua própria realidade.

A Ideia absoluta que para realizar-se colocou como oposta a si, à natureza, produz-se através dela como espírito, que através da supressão de sua exterioridade entre inicialmente em relação simples com a natureza, e, depois, ao encontrar a si mesma nela, torna-se consciência de si, espírito que conhece a si mesmo, suprimindo assim a distinção entre sujeito e objeto, chegando assim à Ideia a ser por si e em si, tornando-se unidade perfeita de suas diferenças, sua absoluta verdade. Com o surgimento do espírito através da natureza abre-se a história da humanidade e a história humana é o processo que medeia entre isto e a realização do espírito consciente de si. A filosofia hegeliana centra sua atenção sobre esse processo e as contribuições mais expressivas de Hegel ocorrem precisamente nesta esfera, do espírito. Melhor dizendo, para Hegel, à existência na consciência, no espírito chama-se saber, conceito pensante. O espírito é também isto: trazer à existência, isto é, à consciência. Como consciência em geral tenho eu um objeto; uma vez que eu existo e ele está na minha frente. Mas enquanto o Eu é reflexivamente o objeto de pensar, é o espírito precisamente isto: produzir-se, sair fora de si, saber o que ele é. Nisto consiste a grande diferença: o homem sabe o que ele é. Logo, em primeiro lugar, ele é real. Sem isto, a razão, a liberdade não são nada. O homem é razão. O homem, a criança, o culto e o inculto, é razão. E a possibilidade para ser razão, existe em cada um, é dada a cada um.

A razão não ajuda em nada a criança, o inculto. É somente uma possibilidade, embora não seja uma possibilidade vazia, mas possibilidade real e que se move em si. Assim, por exemplo, dizemos que o homem é racional, e distinguimos muito bem o homem que nasceu somente e aquele cuja razão educada está diante de nós. Isto pode ser expresso também assim: o que é em si, tem que se converter em objeto para o homem, chegar à consciência; assim chega para ele e para si mesmo. A história para Hegel, é o desenvolvimento do Espírito no tempo, assim como a Natureza é o desenvolvimento da ideia no espaço. Deste modo o homem se duplica. Uma vez, ele é razão, é pensar, mas em si: outra, ele pensa, converte este ser, seu em si, em objeto do pensar. Assim o próprio pensar é objeto, logo objeto de si mesmo, então o homem é por si. A racionalidade produz o racional, o pensar produz os pensamentos. O que o ser em si é se manifesta no ser por si. Todo conhecer, todo aprender, toda visão, toda ciência, inclusive toda atividade humana, não possui nenhum outro interesse além do aquilo que filosoficamente é em si, no interior, podendo manifestar-se unicamente desde si mesmo, produzir-se, transformar-se objetivamente. Nesta diferença se descobre toda a diferença real na história do mundo. Os homens são todos racionais. O formal desta racionalidade é que o homem seja livre. Esta é a sua natureza ser à essência do homem: a liberdade.

O europeu sabe de si, afirma Hegel, é objeto de si mesmo. A determinação que ele conhece é a liberdade. Ele se conhece a si mesmo como livre. O homem considera a liberdade como sua substância. Se os homens falam mal de conhecer é porque não sabem o que fazem. Conhecer-se, converter-se a si mesmo no objeto (do conhecer próprio) e o fazem relativamente poucos. Mas o homem é livre somente se sabe que o é. Pode-se também em geral falar mal do saber, como se quiser. Mas somente este saber libera o homem. O conhecer-se é no espírito a existência. Portanto isto é o segundo, esta é a única diferença da existência (Existenz) a diferença do separável. O Eu é livre em si, mas também por si mesmo é livre e eu sou livre somente enquanto existo como livre. A terceira determinação é que o que existe em si, e o que existe por si são somente uma e mesma coisa. Isto quer dizer precisamente evolução. O em si que já não fosse em si seria outra coisa. Por conseguinte, haveria ali uma variação, mudança. Na mudança existe algo que chega a ser outra coisa. Na evolução, em essência, podemos também sem dúvida falar da mudança, mas esta mudança deve ser tal que o outro, o que resulta, é ainda idêntico ao primeiro, de maneira que o simples, o ser em si não seja negado.

 

Para Friedrich Hegel a evolução não somente faz aparecer o interior originário, exterioriza o concreto contido já no em si, e este concreto chega a ser por si através dela, impulsiona-se a si mesmo a este ser por si. O espírito abstrato assim adquire o poder concreto da realização. O concreto é em si diferente, mas logo só em si, pela aptidão, pela potência, pela possibilidade. O diferente está posto ainda em unidade, ainda não como diferente. É em si distinto e, contudo, simples. É em si mesmo contraditório. Posto que é através desta contradição impulsionado da aptidão, deste este interior à qualidade, à diversidade; logo cancela a unidade e com isto faz justiça às diferenças. Também a unidade das diferenças ainda não postas como diferentes é impulsionada para a dissolução de si mesma. O distinto (ou diferente) vem assim a ser atualmente, na existência. Porém do mesmo modo que se faz justiça à unidade, pois o diferente que é posto como tal é anulado novamente. Tem que regressar à unidade; porque a unidade do diferente consiste em que o diferente seja um. E somente por este movimento é a unidade verdadeiramente concreta. É algo concreto, algo distinto. Entretanto contido na unidade, no em si primitivo. O gérmen se desenvolve assim, não muda. Se o gérmen fosse mudado desgastado, triturado, não poderia de fato evoluir. Na alma, enquanto determinada como indivíduo, as diferenças estão enquanto mudanças que se dão no indivíduo, que é o sujeito uno que nelas persiste e, segundo Hegel, enquanto momentos do seu desenvolvimento.

Por serem elas diferenças, à uma, físicas e espirituais, seria preciso, para determinação ou descrição mais concreta, antecipar a noção do espírito cultivado. As diferenças são: 1) curso natural das idades da vida, desde a criança, desde a criança, o espírito envolvido em si mesmo – passando pela oposição desenvolvida, a tensão de uma universalidade ela mesma ainda subjetiva em contraste com a singularidade imediata, isto é, como o mundo presente, não conforme a tais ideais, e a situação que se encontra, em seu ser-aí para esse mundo, o indivíduo que, de outro lado, está ainda não-autônomo e em si mesmo não está pronto, o jovem, para chegar à relação verdadeira, ao reconhecimento da necessidade e racionalidade objetivas do mundo já presente, acabado; em sua obra, que leva a cabo por si e para si, o indivíduo retira, por sua atividade, uma confirmação e uma parte, mediante a qual ele é algo, tem uma presença efetiva e um valor objetivo (homem); até a plena realização da unidade com essa objetividade do conhecer: unidade que, enquanto real, vem dar na inatividade da rotina que tira o interesse, enquanto ideal se liberta dos interesses mesquinhos é das complicações do presente exterior (o ancião).                

O espírito manifesta aqui sua independência da própria corporalidade, em poder desenvolver-se antes que nela torne. Com frequência, crianças têm demonstrado um desenvolvimento que vai mais rápido que a formação corporal. Esse foi o caso histórico, sobretudo em talentos artísticos indiscutíveis, em particular nos gênios da música. Também em relação ao fácil apreender de variados conhecimentos, especialmente na disciplina matemática; e tal precocidade tem-se demonstrado não raramente também em relação a um raciocínio de entendimento, e mesmo sobre objetos éticos e religiosos. O processo de desenvolvimento do indivíduo humano naturalmente decompõe-se então em uma série de processos, cuja diversidade se baseia sobre a relação do indivíduo para com o gênero, e funda na história de formação a diferença da criança, do homem e do ancião. Essas diferenças são as apresentações das diferenças do conceito. A idade da infância é o tempo da harmonia natural, da paz do sujeito consigo mesmo e com o mundo. Um começo tão sem-oposição quanto a velhice é um fim sem-oposição. As oposições que surgem ficam sem interesse mais profundo. A criança vive na inocência, sem sofrimento durável; no amor aos seus pais, e no sentimento de ser amado por eles.

           A prestigiada universidade corânica de Sancoré, onde 50 mil sábios muçulmanos ajudaram a espalhar o Islão através da África Ocidental, ainda funciona, embora com um número mais reduzido: 15 mil estudantes. Tombuctu alberga, ainda, o famoso Instituto Ahmed Baba, com a sua colecção de 20 mil manuscritos árabes antigos, que retratam mais de um milênio de conhecimento científico islâmico e vários madraçais. A cidade tem três mesquitas principais: Djingareiber, construída de barro em 1325, Sancoré e Sidi Iáia. Tombuctu foi inscrita em 1990 na Lista do Património Mundial em perigo. A Universidade, Mesquita ou Madraça de Sancoré (Sankore) é o mais antigo dos três centros de ensino de Tombuctu, no Mali, África Ocidental. As três mesquitas, Sancoré, Djinguereber e Sidi Iáia, compõem o centro de conhecimento e estudos islâmicos reconhecido como Universidade de Tombuctu, um dos grandes centros de produção de conhecimento do mundo islâmico desde o medieval. A madraça é uma escola em árabe. Historicamente, a África Ocidental representou o lar de vários estados e impérios poderosos que controlavam o domínio das rotas comerciais, incluindo os Impérios Mali e Gao. Posicionada em uma extraordinária encruzilhada de comércio, tecnologia e subsistência entre o Norte da África e a África Subsaariana, a região fornecia bens como ouro, marfim e siderurgia avançada.

Durante a exploração europeia, as economias locais foram incorporadas ao tráfico de escravos do Atlântico, o que expandiu os sistemas de escravidão existentes. Mesmo após o fim do tráfico de escravos no início do século XIX, as potências coloniais, especialmente a França e a Grã-Bretanha, impulsionaram a exploração e degradação da região por meio de relações coloniais. Por exemplo, auxiliamos exportando bens extrativos como cacau, café, madeira tropical e recursos minerais. Desde que conquistaram a independência, várias nações da África Ocidental, como a Costa do Marfim, Gana, Nigéria e Senegal, assumiram papéis ativos nas economias regionais e globais. A África Ocidental possui uma ecologia rica, com biodiversidade significativa em várias regiões. Seu clima é moldado pelo Saara seco ao Norte e Leste, produzindo os ventos Harmattan, um vento seco e carregado de poeira que sopra do deserto do Saara para a África Ocidental, especialmente durante a extraordinária estação seca. Ele é caracterizado por baixa umidade, temperaturas mais baixas e a presença de partículas de poeira e areia e pelo Oceano Atlântico ao Sul e Oeste, que traz monções sazonais. Essa mistura climática cria uma variedade de biomas, de florestas tropicais a terras áridas, que abrigam espécies como pangolins, rinocerontes e elefantes. O ambiente da África Ocidental enfrenta ameaças devido ao desmatamento, perda de biodiversidade, pesca predatória, poluição da mineração, uso de plásticos e mudanças climáticas.

A mesquita foi fundada em 989 pelo juiz do Tombuctu, Alcaide Acibe ibne Maomé ibne Omar. Construiu o pátio interno da mesquita com as mesmas dimensões da Caaba em Meca. Tempos depois, uma rica dama mandinga financiou a Universidade de Sancoré e ajudou a torná-la no principal centro de educação. A universidade prosperou e tornou-se sede muito significativa de aprendizado no mundo islâmico, sobretudo sob o mansa Muça I (1307–1332) e sob a dinastia de Ásquia (1493–1581). Foi nesse período que a universidade ganhou grande notoriedade por todo o mundo islâmico, atraindo intelectuais de toda a África e Oriente Médio para o Reino do Mali para estudar e produzir sobre a cultura e religião islâmica no centro. Tombuctu era o ponto de passagem de uma ampla rede de comércio que se estendia desde o Médio Oriente até o norte da África. Como um centro de peregrinação religiosa. Ao final do reinado de mansa Muça I, a mesquita de Sankoré foi transformada em uma madraça, com o maior acervo de livros e manuscritos da África desde a biblioteca de Alexandria, com um nível de aprendizado que superava o de muitas escolas islâmicas do mesmo período. A madraça era capaz de abrigar 25 mil estudantes e sua biblioteca um acervo entre 400 mil e 700 mil livros e manuscritos. É considerada in statu nascendi universidade do mundo, apesar de sua organização pedagógica não seguir modelos convencionais ao ocidente.

Metodicamente as aulas se davam nos pátios, e cada estudante estava ligado a um imame, que os orientava no estudo do corão e de disciplinas seculares, como geometria, álgebra e astronomia. Os estudos eram divididos em níveis identificados por uma cor de turbante diferente, sendo um primeiro introdutório, um segundo de aprofundamento para que no terceiro, fosse produzido um estudo próprio, preservando-se sempre uma cópia desse paper na universidade. Aos estudantes que chegassem ao quarto nível, eram reservadas funções administrativas e educacionais nas cidades e mesquitas da região. As bibliotecas e acervos de manuscritos do complexo eram enormes, e a maior biblioteca no continente africano desde a Biblioteca de Alexandria. No seu apogeu, acredita-se que se tenha contido mais de setecentos mil manuscritos, e mais de vinte e cinco mil estudantes. Em suas ruinas e nas parcelas da construção que sobreviveram até os dias de hoje, mais de vinte mil manuscritos foram preservados, mesmo com a negligência, constantes ataques e ações do tempo deteriorando boa parte do acervo ao longo dos séculos.

A Biblioteca de Alexandria foi uma das mais significativas e célebres bibliotecas e um dos maiores centros de produção do conhecimento na Antiguidade. Estabelecida durante o século III a.C. no complexo palaciano da cidade de Alexandria, no Reino Ptolemaico do Antigo Egito, a Biblioteca fazia parte de uma instituição de pesquisa chamada Mouseion. A ideia de sua criação pode ter sido proposta por Demétrio de Faleros, um estadista ateniense exilado, ao sátrapa do Egito e fundador da dinastia ptolemaica, Ptolemeu I Sóter, que, tal como o seu antecessor, Alexandre Magno, buscava promover a difusão da cultura helenística. Contudo, a Biblioteca provavelmente não foi construída até o reinado de seu filho, Ptolemeu II Filadelfo. Ela adquiriu um grande número de rolos de papiro, devido sobretudo às políticas agressivas e bem financiadas dos reis ptolemaicos para a obtenção de textos. Não se sabe exatamente quantas obras ela tinha em seu acervo, mas estima-se que ela chegou a abrigar entre trinta mil e setecentos mil volumes literários, acadêmicos e religiosos. O acervo da Biblioteca cresceu de tal maneira que, durante o reinado de Ptolemeu III Evérgeta, uma filial sua foi criada no Serapeu de Alexandria. Além de servir à demonstração de poder dos governantes ptolemaicos, a Biblioteca teve um papel significativo na emergência de Alexandria como sucessora de Atenas enquanto centro irradiador da cultura grega.

A educação participa na vida e no crescimento da sociedade, tanto no seu destino exterior como na sua estruturação interna e desenvolvimento espiritual; e, uma vez que o desenvolvimento social depende da consciência dos valões que regem a vida humana, a história da educação está essencialmente condicionada pela transformação dos valões válidos para cada sociedade. À estabilidade das normas válidas corresponde a solidez dos fundamentos da educação. Da dissolução e destruição das normas advém a debilidade, a falta de segurança e até a impossibilidade absoluta de qualquer ação educativa. Acontece isto quando a tradição é violentamente destruída ou sofre decadência interna. Fora de dúvida, a estabilidade não é o indício seguro de saúde, porque reina também nos estados de rigidez senil, nos momentos finais de uma cultura: assim sucede na China confucionista pré-revolucionária, nos últimos tempos históricos da Antiguidade, nos derradeiros dias dos Judaísmo, uma religião monoteísta com raízes antigas, centrada na crença em um único Deus e na observância de leis e tradições transmitidas através da Torá e outros textos sagrados. É uma religião, filosofia e modo de vida com uma rica história, práticas e costumes distintos, em certos períodos da história da Igrejas, da arte e das escolas científicas. Segundo Jaeger (2011), é “monstruosa a impressão gerada pela fixidez quase intemporal da história do antigo Egito, através de milênios”; também entre os Romanos a estabilidade das relações foi considerada o valor mais alto e apenas se concedeu justificação limitada aos anseios e ideais inovadores. Desnecessário dizer que o Helenismo ocupa uma posição singular na história.

 

Termópilas é um desfiladeiro localizado na Grécia Central que serviu de lugar praticado para violenta batalha entre persas e espartanos. O conflito foi provocado pelo anseio do persa Xerxes de dominar o território e o povo espartano, o que foi negado pelo rei e general de Esparta de 491 a. C até a data de sua morte em 480 a.C. durante a batalha de Termópilas. Uma de suas ações mais importantes se deu por ocasião da invasão da Grécia pelos persas, em 481 a.C. Defendendo o desfiladeiro das Termópilas, que une a Tessália à Beócia, Leónidas e uma tropa de aproximadamente 7000 homens, sendo que apenas 300 eram espartanos, conseguiram repelir os ataques iniciais. Mas Xerxes I, rei da Pérsia, foi auxiliado pelo pastor Efialtes que o conduziu por um caminho que contornava o desfiladeiro, e pôde cercar o exército de Leónidas. Restavam apenas 300 espartanos e pouco mais de 1000 soldados tespienses e tebanos, que decidiram resistir lutando até a morte. Em 462 a.C. Efialtes foi responsável pela reforma do Areópago, controlado pela aristocracia, limitando o seu poder para julgar apenas os casos de homicídio e os crimes religiosos. Antes do século V a. C., o Areópago representava o conselho dos anciãos relativamente semelhante se pensarmos comparativamente ao extraordinário Senado romano. A origem do nome não é clara. Em grego antigo, πάγος pagos significa “grande pedaço de rocha”. Areios poderia ter vindo de Ares ou do Erinyes, pois em seu pé foi erguido templo dedicado às Erínias onde ‘eram considerados assassinos costumavam encontrar abrigo para não enfrentar as consequências de seus atos criminosos”.

Mais tarde, o Romanos referido à colina rochosa como “Mars Hill”, após Marte, a versão romana do deus grego da guerra. Perto do Areópago também foi construída a basílica de Areopagitas Dionísio. Comparativamente sua composição era restrita aos que pelo status ocuparam cargos públicos importantes, neste caso o de Arconte. Em 594 a. C, o Areópago concordou em transferir suas funções para Solon para reforma. Ele instituiu reformas democráticas, reconstituiu seus membros e devolveu o controle à organização. Sob as reformas de Clístenes promulgadas em 508/507 a. C, o Boule (βουλή) ou conselho, foi expandido de 400 para 500 homens, e foi formado por 50 homens de cada um dos dez clãs ou phylai (φυλαί). Em 462 a. C., Efialtes passou por reformas que privaram o Areópago de quase todas as suas funções, exceto a de um tribunal de homicídio em favor de Heliaia, o tribunal supremo da Atenas antiga. A opinião generalizada entre os acadêmicos é de que a origem de seu nome é o verbo Ήλιάζεσθαι, que tem como significado συναθροίζεσθαι, “congregar”. Esta medida formal foi considerada impopular entre os aristocratas e levou ao seu assassinato em 461 a. C. Ipso facto, a investigação metódica moderna abriu imensamente o horizonte da história. A oikoumene dos Gregos e Romanos clássicos, que durante dois mil anos coincidiu com os limites do mundo, foi rasgada em todos os sentidos do espaço e perante o nosso olhar surgiram mundos espirituais até então insuspeitados. Quando deixa de ser um povo particular e nos inscreve membros nos círculos de povos, começa a aparição dos Gregos.

Foi por essa razão ou racionalização que a esse grupo de povos Werner Jaeger designou de helenocêntrico. É este o motivo porque, no decurso de nossa história, voltamos constantemente à Grécia. Este retorno e esta espontânea renovação de sua influência não significa que lhe tenhamos conferido, pela sua grandeza espiritual, uma autoridade imutável, fixa e independente do nosso destino. O fundamento de nosso regresso reside nas próprias necessidades vitais, por mais variadas que elas sejam através da História. É claro que, para nós e para cada um dos povos deste círculo, a Grécia e Roma aparecem como algo de radicalmente estranho. Esta separação analítica funda-se em parte no sangue e no sentimento, em parte na estrutura do espírito e das instituições, e ainda na diferença da respectiva situação histórica; mas entre esta separação e a que sentimos ante os povos orientais, distintos pela sua raça e pelo espírito, a diferença é gigantesca. Não se trata inclusive de um sentimento apenas de parentesco racial. É preciso distinguir a história nesse sentido quase antropológico da história que se fundamenta na união espiritual viva e ativa e na comunidade de um destino, quer seja o do próprio povo, quer um grupo de povos estreitamente unidos. Só nesta particularidade histórica se tem uma íntima compreensão e contato criador entre uns e outros.

Só nela existe uma comunidade de ideais e de formas sociais e espirituais que se desenvolvem e crescem independentes das múltiplas interrupções e mudanças sociais e politicamente através das quais varia, mas também se cruza, choca, desaparece, quando se renova uma família de diversos outros povoamentos no âmbito na genealogia. A comunidade existe na totalidade dos povos ocidentais e entre estes e a historicidade da Antiguidade clássica. Se considerarmos a história nesse sentido profundo, no sentido de uma comunidade radical, não poderemos supor-lhe como cenário o planeta inteiro e, por mais que alarguemos os nossos horizontes geográficos, as fronteiras dessa história jamais poderão ultrapassar a antiguidade daqueles que há vários milênios traçaram seu destino. Não é possível dizer até quando a Humanidade continuará a crescer na unidade de sentido que tal destino lhe assinala, pois o objetivo teórico e histórico de Werner Jaeger é apresentar a formação do homem grego, a Paidéia, no seu caráter particular e no seu desenvolvimento histórico. Não se trata de um conjunto de ideias abstratas em sua generalidade, mas da própria história da Grécia concretamente do seu destino vital.

Contudo, essa história vivida já teria desaparecido há longo tempo se o homem grego não a tivesse criado na sua forma perene. A ideia de educação representava para ele o sentido de todo o esforço humano. Era a justificação última da comunidade e individualidade humana. Mesmo os imponentes monumentos da Grécia arcaica são perfeitamente inteligíveis a esta luz, pois foram criados no mesmo espírito que os gregos consideraram a totalidade de sua obra criadora em relação aos outros povos da Antiguidade de que foram herdeiros. Augusto concebeu a missão do Império Romano em função da ideia da cultura grega. Sem a concepção grega da cultura não teria existido a Antiguidade como unidade histórica e mundo ocidental. É indiscutível que foi o momento historicamente em que os gregos situaram o problema da individualidade no cimo de seu desenvolvimento filosófico que principiou a história da personalidade europeia. Roma e o Cristianismo agiram sobre ela. E da inserção desses fatores brotou o o Eu individualizado. Mas não podemos entender de modo radical e preciso a posição do espírito grego na história da formação dos homens, se tomarmos um ponto de vista moderno. Vale mais partir, segundo Jaeger, da constituição rácica do espírito grego.

A vivacidade espontânea, a sutil mobilidade, a íntima liberdade que, embora tenham parecido condições do rápido desabrochar daquele povo na inesgotável riqueza de formas que nos surpreende e espanta ao contato com os escritores gregos de todos os tempos, dos mais primitivos aos mais modernos, não tem as suas raízes no cultivo da subjetividade, como atualmente acontece; pertencem à sua natureza. Os gregos tiveram o sendo inato do que significa natureza. Sendo o conceito elaborado por eles em primeira mão, tem indubitável origem na sua constituição espiritual. Muito antes de o espírito grego ter delineado essa ideia, eles já consideravam as coisas do mundo numa perspectiva tal que nenhuma delas lhes aparecia como parte isolada do resto, mas sempre como um todo ordenado em conexão viva, na e pela qual tudo ganhava posição e sentido. Esta concepção é orgânica, porque nela todas as partes são consideradas membros de um todo. Sua tendência é clara de apreensão das leis do real. O estilo e a visão artística entre eles surgem, em primeiro lugar, pelo descobrimento como talento estético. Assentam num instinto humano e na interpretação através de um simples ato de visão, não na deliberada transferência de uma ideia para o reino da criação artística.

A idealização da arte, no entanto, só mais tarde aparece, no período clássico. Até na oratória grega encontramos os mesmos princípios formais que vemos na cultura ou na arquitetura. As formas literárias dos gregos surgem organicamente, na sua multíplice variedade e elaborada estrutura, das formas naturais e ingênuas pelas quais o homem exprime a sua vida, elevando-se daí à esfera ideal da arte e do estilo. Também na oratória, a sua aptidão para dar forma a um plano complexo e lucidamente articulado deriva simplesmente do sentido espontâneo e madurecido das leis que governam o sentimento, o pensamento e a linguagem, o lugar onde esta ideia reaparece mais tarde na história, ela é uma herança dos gregos, e aparece sempre que o espírito humano abandona a ideia de um adestramento em função de fins exteriores e reflete na essência a própria educação. O fato de os gregos terem sentido esta tarefa como algo grandioso e difícil e se terem consagrado a ela com ímpeto sem igual não se explica nem pela sua visão artística nem pelo espírito. Desde as primeiras notícias que se disseminam na história da filosofia e têm deles, encontramos o homem no centro do seu pensamento. A forma humana dos seus deuses, o predomínio evidente do problema da forma humana na sua escultura e na sua pintura, o movimento consequente da filosofia desde o problema do cosmos até o problema do homem, que culmina em Sócrates, Platão e Aristóteles; a sua poesia, cujo tema inesgotável desde Homero até os últimos séculos é o homem e o seu duro destino no sentido pleno da palavra. Finalmente, o Estado grego, cuja essência só pode ser correspondida precisamente sob o ponto de vista da formação do homem e da sua vida inteira: o grego é o antropoplástico. Tudo são raios de uma única e mesma luz, expressões de um sentimento vital antropocêntrico que não pode ser explicado nem derivado de nenhuma outra coisa e que penetra todas as formas do espírito grego.

Assim, impossível não admitir que, entre os povos, a língua de Homero é, naturalmente, um problema em si. Mas adverte: trata-se de uma língua que ninguém nunca falou, Robert Knox (2014). É uma língua artificial, poética – como propõe o estudioso alemão Witte, “a língua dos poemas homéricos é uma criação de versos épicos”. Era também uma língua difícil. Para os gregos da Era Dourada, isto é, o século V a. C., no qual inevitavelmente pensamos quando dizemos “os gregos”, o idioma de Homero estava longe de ser claro e era repleto de arcaísmos, no vocabulário, na sintaxe e na gramática, e incongruências: palavras e formas extraídas de diferentes dialetos e estágios distintos da língua. Ninguém nem sonharia em empregar a linguagem de Homero, à exceção dos bardos épicos, sacerdotes oraculares e parodistas eruditos. Isso não significa que fosse um poeta reconhecido apenas de eruditos e estudantes; os épicos homéricos eram familiares como as palavras do cotidiano na boca dos gregos comuns.

 

Muitos estudiosos importantes e influentes trabalharam na mesma, notadamente Zenódoto de Éfeso, que buscou padronizar os textos dos poemas homéricos e produziu o registro mais antigo de que se tem notícia do uso da ordem alfabética como método de organização; Calímaco, que escreveu os Pínakes, provavelmente o primeiro catálogo de biblioteca do mundo; Apolônio de Rodes, que compôs o poema épico As Argonáuticas; Eratóstenes de Cirene, que calculou pela primeira vez a circunferência da Terra, com invulgar precisão; Aristófanes de Bizâncio, que inventou o sistema de diacríticos gregos e foi o primeiro a dividir textos poéticos em linhas; e Aristarco da Samotrácia, que produziu os textos definitivos dos poemas homéricos e extensos comentários sobre eles. Além deles, existem referências de que a comunidade da Biblioteca e do Mouseion de Alexandria teria também incluído temporariamente numerosas outras figuras que contribuíram duradouramente para o conhecimento, como Arquimedes e Euclides.                                

Apesar da crença hic et nunc de que a Biblioteca teria sido incendiada e destruída em seu auge, na realidade ela decaiu gradualmente ao longo dos séculos, começando com a repressão de intelectuais durante o reinado de Ptolemeu VIII Fiscão. Aristarco da Samotrácia renunciou ao posto de bibliotecário-chefe e exilou-se no Chipre, e outros estudiosos, incluindo Dionísio da Trácia e Apolodoro de Atenas, fugiram para outras cidades. A Biblioteca, ou parte de sua coleção, foi acidentalmente queimada por Júlio César em 48 a.C., mas não está claro o quanto realmente foi destruído, pois fontes indicam que ela sobreviveu ou foi reconstruída pouco depois. O geógrafo Estrabão menciona ter frequentado o Mouseion por volta de 20 a.C., e a prodigiosa produção acadêmica de Dídimo Calcêntero nesse período indica que ele teve acesso a pelo menos parte dos recursos da Biblioteca. Sob controle romano, a Biblioteca perdeu vitalidade devido à falta de financiamento e apoio, e a partir de 260 a.C. não se tem notícia de intelectuais filiados a ela. Entre 270 e 265 a.C. a cidade de Alexandria viu tumultos que  destruíram o que restava da Biblioteca, caso ela ainda existisse, mas a biblioteca do Serapeu pode ter sobrevivido mais longamente, talvez até 391 a.C., quando o papa copta Teófilo I por inveja do gozo do outro instigou a vandalização e a demolição do Serapeu.

A Biblioteca de Alexandria foi mais que um repositório de obras, e durante séculos constituiu um notável polo de atividade intelectual criativa. Sua influência pôde ser sentida em todo o mundo helenístico, fantástico não apenas por meio da valorização do conhecimento escrito, que levou à criação de outras bibliotecas nela inspiradas e à proliferação de manuscritos, mas também por meio do trabalho de seus acadêmicos em numerosas áreas do conhecimento. Teorias e modelos criados pela comunidade da Biblioteca continuaram a influenciar as ciências, a literatura e a filosofia até pelo menos a Renascença. Além disso, o legado da Biblioteca de Alexandria teve efeitos de poder que se estendem contemporaneamente, e ela pode ser considerada um arquétipo da biblioteca universal, do ideal de armazenamento do conhecimento, e da fragilidade desse conhecimento. Juntos, a Biblioteca e o Mouseion contribuíram para afastar a ciência de correntes de pensamento específicas e, sobretudo, para demonstrar que a pesquisa acadêmica pode servir às questões práticas e às necessidades das sociedades e governos.

Bibliografia Geral Consultada.

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