sábado, 25 de abril de 2020

Religião - Martírio das Abadias, Igrejas & Catedrais na História.


                          As energias voltam sempre quando a esperança volta”. José Saramago


Na verdade que o significado e o sentido do termo fantástico nasce na acepção literária por ocasião da tradução francesa das Phantasiestücke in Callot`s Manier de Ernest Hoffmann (1813). A palavra alemã Phantastich evocava inicialmente as formas breves da fantasia e, na época romântica, trazia à lembrança tudo o que se referia ao domínio do imaginário, mas com a tradução da obra de Hoffmann, o adjetivo evolui em direção ao substantivo e passa a designar uma nova modalidade literária. Pierre- George Castex em seu livro Le Conte Fantastique en France de Nodier à Maupassant (1951), pretende responder às questões de Sainte-Beuve, a fecundidade e a transformação da literatura fantástica no decorrer do século XIX, explicar sua história e o êxito quase constante que ela experimentou e o sucesso ilustrado, de Nodier a Maupassant, “por uma série de obras patéticas ou perturbadoras”.  Em sua Introdução, segundo Camarini (2014), depois de creditar aos jornalistas do Globe, Jean-Jacques Ampère e Duvergier de Hauranne, a clarividência de notar a originalidade da obra de Hoffmann que apresenta um sobrenatural essencialmente interior e psicológico, definindo-o assim: “O fantástico, na verdade, não deve ser confundido com a fabricação convencional de contos mitológicos ou contos de fada, o que implica uma mudança de mentalidade. Pelo contrário, é caracterizada por uma intrusão brutal de mistério no contexto da vida real”.
Podemos pensar no fantástico da Igreja, isto é, considerando-a, ela mesma como um mistério, quando também podemos falar da Igreja do mistério, enquanto que ela é depositária do Mistério de Cristo de comunhão entre Deus e os homens, e destes entre si e com Deus, é sacramentum communionis: ela visibiliza o mistério de união com Deus e com os demais. O catecismo da Igreja Católica fala da Igreja como um projeto nascido no coração do Pai, prefigurada desde a origem do mundo, preparada na Antiga Aliança, instituída por Jesus Cristo, manifestada pelo Espírito Santo e consumada na glória. Diz ainda: - “A Igreja está na história, mas ao mesmo tempo a transcende. É unicamente com os olhos da fé que se pode enxergar em sua realidade visível, ao mesmo tempo, uma realidade espiritual, portadora de vida divina”. Ela é um mistério revelado paulatinamente até que chegasse a plenitude dos tempos (Cfr. Gal 4,4) e Jesus Cristo - que é a plenitude e o mediador da revelação a fundasse. Em primeiro lugar: como a Igreja é um projeto nascido no coração do Pai, e como o Pai é eterno, podemos dizer que a Igreja existe na eternidade no coração de Deus. É elemento central para compreender a Igreja: Comunhão da humanidade para viver em comunhão com ele.



As primeiras igrejas são transportes que datam da Antiguidade tardia. Durante a expansão do cristianismo a construção de igrejas e catedrais se espalhou pelo mundo cristão. As técnicas de construção passaram a depender cada vez mais dos materiais disponíveis e das habilidades dos transportadores de cada região. Diferentes estilos arquitetônicos se desenvolveram e se disseminaram pela administração das novas ordens monásticas, de bispos de uma região nomeados para governar outra e pelas mãos de mestres pedreiros itinerantes que frequentemente serviam de arquitetos. Os estilos das igrejas transportadoras foram chamados, sucessivamente, de arquitetura paleocristã, bizantina, românica, gótica, renascentista, barroca, coroando estilos de revivalismo do final do século XVIII até o princípio do XX nosso contemporâneo. E sobreposto a cada um destes estilos religiosos estavam os diversos estilos e características regionais. Entre estas algumas são tão peculiares à região, nação ou país que, independente da forma de seu estilo, aparecem em igrejas projetadas comparativamente com séculos distantes da diferença entre si.
A palavra igreja, ecclesia, a representação (αντιπροσώπευση) “casa de Deus” tem diversos significados nos livros Sagradas Escrituras, onde os cristãos se reúnem para cumprir seus deveres religiosos. O templo de Jerusalém era a casa de Deus e a casa de oração. O edifício dedicado pelos cristãos ao culto de Cristo, que os sacerdotes gregos chamavam Kyriaké (“a casa do senhor”), e, na língua inglesa, veio mais tarde a se chamar Kirk e church. Em Roma, essa assembleia denominada Concio, é aquela que falava Ecclesiastes e Concionator. No Novo Testamento, uma igreja é um grupo de cristãos que seguem a Cristo. A palavra pode ser usada para falar de todos aqueles que servem ao Senhor, não importa onde estejam (cf. Hebreus 12: 22-23). É frequentemente usada para descrever grupos locais de discípulos que se encontram para adorarem, para edificarem uns aos outros e para proclamarem o evangelho de Jesus. É neste ambiente social de igrejas que encontramos homens escolhidos para supervisionar e guiar. Os sistemas comuns de denominações, de ligas internacionais de igrejas e de hierarquias que ligam e governam milhares de igrejas locais, são invenções do homem. Não há modelo bíblico de tais arranjos. No Novo Testamento, os cristãos serviam juntos em congregações locais. Eles eram gratos pelos seus irmãos em outros lugares. Mas não tentavam criar laços de organização social onde os cristãos de um lugar pudessem dirigir ou governar o trabalho de discípulos de outro lugar. Este modelo se espraia considerado o ensinamento específico sobre a organização social da igreja.
É ainda nesse último sentido, para Thomas Hobbes (1991), que a Igreja pode ser entendida como uma pessoa, isto é, que ela “tenha o poder de querer, de pronunciar, de ordenar, de ser obedecida, de fazer leis ou de praticar qualquer espécie de ação”. Se não existir a autoridade de uma congregação legítima, qualquer ato praticado por um conjunto de pessoas é um ato individual de cada um dos presentes que contribuíram para a prática desse ato. Não um ato conjunto, como se fosse de um só corpo. Nem um ato dos ausentes ou daqueles que, estando presentes, eram contra a sua prática. Uma Igreja pode ser definida “como um conjunto de pessoas que professam a religião cristã, ligadas à pessoa de um soberano, que ordena a reunião e que determina quando não deverá haver reunião”. Ipso facto, politicamente distingue entre a condição da pessoa e o ofício. Enquanto historicamente na Itália Maquiavel discutia as virtudes e deveres dos príncipes, como para Louis XIV, na França: “o Estado sou eu”, Hobbes na Inglaterra, desafiou, quando “o príncipe poderia ser legitimamente substituído”. Nos Estados semelhantes assembleias são ilegítimas, se não são autorizadas pelo soberano civil. E ilegítima a reunião em qualquer Estado em que tiver sido proibida. 

Principalmente as catedrais, entendido o conceito de catedral como templo católico que é a cadeira (cátedra) do bispo ou arcebispo, responsável pelo território da diocese ou arquidiocese, mas também as igrejas de abadia, uma comunidade monástica cristã, originalmente católica (“casa regular formada”), sob a tutela de um abade ou de uma abadessa, que a dirige com a dignidade de pai ou madre espiritual da comunidade, e as basílicas, que representam um grande espaço coberto, destinado à realização de assembleias cuja origem remonta à Grécia Helenística. O seu modelo foi largamente desenvolvido pelos católicos Romanos, sendo mais tarde adaptado como modelo para os templos cristãos que exibem estruturas complexas que raramente são encontradas em igrejas paroquiais. Elas geralmente revelam em análise comparada, em grande medida, o melhor do estilo arquitetural e a concepção e execução do trabalho dos melhores artesãos, ocupando uma posição, eclesiástica e social, que as igrejas paroquiais não tinham. Estas catedrais, ou grandes igrejas são, geralmente, obras-primas da região onde estão assentadas e são objetos de grande orgulho estamental. Muitas catedrais, basílicas e diversas igrejas abaciais estão entre as mais importantes obras da arquitetura mundial. A arquitetura estrutural de catedrais, basílicas e igrejas abaciais é caracterizada principalmente pelo grande tamanho e mobilidade do edifício. Segue uma entre várias tradições de forma, sua função e estilos derivados. E em última instância, das tradições arquitetônicas do cristianismo primitivo consolidadas durante o período constantiniano.
Do ponto de vista temporal e da globalização entre as principais construções é possível citar a Basílica de São Pedro, no Estado do Vaticano é o maior e mais importante edifício religioso do catolicismo e um dos locais cristãos mais visitados do mundo. Cobre uma área urbana plana, majestosa de 23 000 m² e pode albergar mais de 60 mil devotos, o que é proporcionalmente mais de cem vezes a população do Vaticano. É o edifício com o interior mais proeminente do Vaticano, sendo a sua cúpula uma característica dominante do horizonte de Roma, adornado com 340 estátuas de santos, mártires e anjos. Situada na Praça de São Pedro, a sua construção recebeu contribuições de alguns dos maiores artistas da humanidade, tais como Bramante, Michelangelo, Rafael e Bernini. A Catedral de Notre-Dame de Paris é uma das mais antigas catedrais francesas sendo iniciada sua construção no ano de 1163, dedicada à Virgem Maria e situa-se na Île de la Cité em Paris, rodeada pelas águas do rio Sena. A catedral surge intimamente ligada à ideia de gótico no seu esplendor, ao efeito claro das necessidades e aspirações da alta sociedade, e uma nova abordagem como edifício de contato e ascensão espiritual.
A Catedral de Colônia, localizada na cidade alemã de Colônia, é uma igreja católica de estilo gótico, marco principal da cidade e seu símbolo não oficial. É a quinta igreja mais alta do mundo e foi classificada como patrimônio da humanidade em 1996. Símbolo da cidade atrai seis milhões de turistas por ano, sendo o local turístico mais visitado da Alemanha. Em 1164, foram trazidas de Milão “as supostas ossadas dos Três Reis Magos”. Elas estão atrás do altar, numa arca de ouro e prata, ornamentada com pedras preciosas. A Catedral de Salisbury, reconhecida formalmente como Igreja Catedral da Santíssima Virgem Maria, é de orientação religiosa anglicana em Salisbury, Inglaterra, e um dos principais exemplos da arquitetura inglesa primitiva. O corpo principal do edifício foi completado em apenas 38 anos, entre 1220 e 1258. A catedral tem o mais alto coruchéu de igreja no Reino Unido com 123 metros. Os visitantes podem realizar ali o Tower Tour, no qual visitam o interior do coruchéu e apreciam a superestrutura necessária para sustentação e formação dos antigos andaimes de madeira.
 A Catedral de Praga é uma das principais construções da cidade de Praga e a maior igreja da República Checa. Situada no Castelo de Praga e construída juntamente com o castelo, a construção da catedral em seu estilo gótico foi iniciada em 1344 e finalizou-se, depois de uma interrupção das obras no século XV, só em 1929. A Catedral de São Vito é definitivamente a atração n° 1 do Castelo de Praga. Ela abriga as joias da Coroa Tcheca e também as tumbas de santos e antigos reis, incluindo o padroeiro São Wenceslau, o amado São João Nepomuceno e o poderoso Rei Carlos IV que deu nome à famosa Ponte Carlos, maior e belo cartão postal de Praga. A fachada é riquíssima em detalhes, nenhuma gárgula é igual a outra, uma coisa impressionante. A Catedral de São Vito levou quase 600 anos para concluir, pois a obra era interrompida por sucessivas guerras e pragas que assolaram o antigo Reino da Boêmia.
A Catedral Basílica de Saint Denis, antigamente chamada de Abbaye de Saint-Denis é uma ampla igreja abacial na comuna de Saint-Denis, atualmente um subúrbio ao norte de Paris. A igreja abacial foi nomeada catedral em 1966 e é a residência do Bispo de Saint-Denis, Pascal Michel Ghislain Delannoy. Desde este ano, a abadia tornou-se catedral e sede da diocese de Saint-Denis. Fundada no século VII por Dagoberto I onde São Dinis, um santo padroeiro da França, foi sepultado, a igreja se tornou um local de peregrinação e o mausoléu dos reis franceses, quase todos os reis do século X ao XVIII foram sepultados lá, assim como muitos dos séculos anteriores. A igreja não foi utilizada para a coroação de reis, este papel sendo designado à Catedral de Reims. No entanto, rainhas eram comumente coroadas na catedral. Saint-Denis logo se tornou a abadia de um crescente complexo monástico. No século XII o Abade Suger reconstruiu partes da abadia “usando inovadas características estruturais e decorativas”, que foram extraídas de uma série de outras fontes e estilos arquitetônicos. Ao fazer isso, ele afirmou ter criado o primeiro edifício verdadeiramente gótico. A nave do século XIII da basílica é seu protótipo radiante, e forneceu um modelo de arquitetura para catedrais e mosteiros do norte da França, Inglaterra e países congêneres.           
Santa Maria Maggiore ou Basílica de Santa Maria Maior é uma das quatro basílicas maiores, uma das sete igrejas de peregrinação e a maior igreja mariana de Roma, motivo pelo qual ela recebeu o epíteto de Maggiore. Foi a primeira igreja do Ocidente dedicada a Maria em honra a Jesus Cristo, e tem uma celebração específica na liturgia católica rememorando como fato social a Dedicação de Basílica de Santa Maria Maior. Depois do Tratado de Latrão, de 1929, firmado entre a Santa Sé e o Reino da Itália, Santa Maria Maggiore permaneceu como parte do território italiano e não do Vaticano. Porém, a Santa Sé é proprietária do edifício e do terreno onde ele está e o governo italiano é obrigado, legalmente, a reconhecer este fato político e a conceder a ela a imunidade concedida pelo Direito Internacional às embaixadas de agentes diplomáticos de Estados estrangeiros. Desde 28 de dezembro de 2016, o arcipreste protetor da basílica é Stanisław Ryłko, cardeal polonês e presidente do Pontifício Conselho para os Leigos no Vaticano, que é cardeal-diácono do Sagrado Coração do Cristo Rei. O arcipreste mais antigo (geralmente idoso), que aconselhava e assistia o governo da diocese, era o patriarca latino de Antioquia, um título abolido em 1964.

A Basílica de São Vital é o monumento mais famoso de Ravena, Itália e um dos exemplos mais importantes de arte bizantina e arquitetura na Europa Ocidental. A basílica é uma das oito construções dos monumentos paleocristãos de Ravena, consideradas Património Cultural da Humanidade pela Unesco. A Basílica começou a ser construída em 526 d. C., sob a ordem do bispo Eclésio, ainda no reinado do ostrogodo Teodorico, o Grande e foi concluída por Maximiniano em 548 d. C., durante o Exarcado de Ravena, já há sete anos sob o domínio do Império Bizantino. Não se sabe nominalmente quem foi o arquiteto que desenvolveu o planejamento da obra. A igreja tem um plano octogonal em mármore e combina elementos de arquitetura romana, com a cúpula, forma dos vãos das portas, com elementos bizantinos, abside poligonal, capiteis, tijolos estreitos. Contudo, a basílica é mais famosa por sua riqueza de mosaicos bizantinos, os maiores e mais bem preservados fora da cidade de Constantinopla. A Basílica é de extrema importância para a arte bizantina, visto que é a única grande igreja do período do imperador Justiniano que sobreviveu virtualmente intacta. A construção foi patrocinada pelo banqueiro grego Juliano Argentário, de quem pouco se sabe, exceto que também tinha patrocinado a construção da Basílica de Santo Apolinário em Classe quase que simultaneamente. O imperador bizantino Justiniano deve também ter patrocinado a obra como propaganda de seu governo, a fim de acelerar a incorporação de novos territórios ao império. O banqueiro Juliano Argentário é representado nos mosaicos na corte de dignitários de Justiniano, entre o imperador e o bispo.
 A Basílica de São Marcos é a mais famosa das igrejas de Veneza, Itália, e um dos melhores exemplos da arquitetura bizantina. Localizada na Praça de São Marcos, ao lado do Palácio dos Doges, a basílica é a sede da arquidiocese católica romana de Veneza desde 1807. A primeira igreja construída no local foi um edifício temporário no Palácio dos Doges, construído em 828, quando mercadores venezianos adquiriram de Alexandria as supostas relíquias de São Marcos Evangelista. Em 832, um novo edifício foi erguido, no local da atual basílica; esta igreja foi incendiada durante uma rebelião em 976, reconstruída em 978 e, mais uma vez, em 1063, no que viria a ser a base do atual edifício. A igreja apresenta uma planta em cruz grega, baseada nos exemplos de Basílica de Santa Sofia e da Basílica dos Apóstolos, ambas em Constantinopla. Possui um coro elevado acima de uma cripta. A planta do interior consiste em três naves longitudinais e três transversais. Um baldaquino cobre o altar principal, com colunas decoradas com relevos do século XI. O retábulo é a famosa Pala d´Oro - um trabalho em metal bizantino de 1105. Atrás do altar principal há um segundo altar com colunas de alabastro. Os cercados do coro, acima dos quais há três relevos de Sansovino, apresentam obra de marchetaria de Fra Sebastiano Schiavone. Os dois púlpitos de mármore da nave são decorados com estatuetas dos irmãos Massegne (1394).
Basílica de São Marcos.
A Abadia de Westminster denominada Igreja Colegiada de São Westminster, é uma grande igreja em arquitetura gótica na cidade de Westminster, em Londres, a oeste do Palácio de Westminster. É um dos edifícios religiosos mais notáveis ​​do Reino Unido e o local tradicional de coroação e sepultamento dos monarcas ingleses e, posteriormente, britânicos. O edifício em si era uma igreja monástica beneditina até a dissolução do mosteiro em 1539. Entre 1540 e 1556, a abadia tinha o status de catedral. Desde 1560, o prédio não é mais uma abadia ou catedral, tendo o status de Royal Peculiar da Igreja Anglicana, uma igreja responsável diretamente pelo soberano. De acordo com uma tradição relatada pela primeira vez por Sulcard em cerca de 1080, uma igreja foi fundada no local, reconhecida como Thorn Ey (Ilha Thorn) no século VII, em que viveu Mellitus, bispo de Londres. A construção atual começou em 1245, por ordem do rei Henrique III.  Desde a coroação de Guilherme, o Conquistador, em 1066, todas as coroações de monarcas ingleses e britânicos estão na Abadia de Westminster, com 16 casamentos reais na abadia desde 1100. Como local de enterro de mais de 3.300 pessoas, geralmente de destaque predominante na história social e política britânica, incluindo pelo menos dezesseis monarcas, oito primeiros ministros, poetas e atores, cientistas e líderes militares e o Guerreiro Desconhecido, a Abadia às vezes é descrita etnograficamente como Valhalla da Grã-Bretanha, depois de icônico salão funerário da mitologia nórdica.
A Catedral de São Basílio é uma representação ortodoxa russa erguida na Praça Vermelha em Moscou, entre 1555 e 1561. Construída sob a ordem de Ivã IV da Rússia, para comemorar a captura de Kazan e Astracã, marca o centro geométrico da cidade e o centro do seu crescimento, desde o século XIV. Foi o edifício mais alto de Moscou até a conclusão do Campanário de Ivã, o Grande, em 1600. O edifício original, reconhecido como Igreja da Trindade e depois de Catedral da Trindade, continha oito igrejas laterais dispostas ao redor do edifício central e a décima igreja que foi erguida em 1588 sobre o túmulo do santo reconhecido como Vasily (Basílio). Nos séculos XVI e XVII a catedral, considerada o símbolo terreno da Cidade Celestial, era popularmente reconhecida como Jerusalém e serviu como uma alegoria ao Templo de Jerusalém no desfile de Domingo de Ramos com a presença do Patriarca de Moscou e do czar. O projeto do edifício, em forma de chama de uma fogueira subindo ao céu, não tem análogos no domínio da arquitetura russa: - “É como nenhum outro edifício russo. Nada semelhante pode ser encontrado no milênio inteiro da tradição bizantina, do século V ao XV, um estranhamento que surpreende pela sua imprevisibilidade, complexidade e beleza”. A catedral antecipou o desempenho no âmbito do processo de trabalho e clima de comunicação (cf. Lopes, 1988) da arquitetura nacional da Rússia no século XVII. A catedral tem operado como uma divisão do Museu Histórico do Estado desde 1928. Foi completamente secularizada em 1929 e, em 2010, continuou a ser uma propriedade federal da Federação Russa. A catedral é parte do Kremlin e da Praça Vermelha e Patrimônio Mundial da Unesco desde 1990.
            A Igreja Catedral de São Pedro e São Paulo na Cidade e Diocese de Washington, reconhecida como Catedral Nacional de Washington é anglicana-estado-unidense localizada na capital federal, Washington, DC. É a sede da Diocese episcopaliana de Washington, que abrange outras regiões da Virgínia e de Maryland. A construção da catedral foi iniciada em 29 de setembro de 1907 em estilo neogótico, quando a pedra fundamental foi colocada na presença do então presidente Theodore Roosevelt e de uma plateia de mais de 20 000 pessoas. A obra durou 83 anos. A última crista foi colocada na presença do então presidente George H. W. Bush em 1990. Figura entre as 5 maiores estruturas de Washington. A catedral situa-se na área noroeste de Washington, na esquina das avenidas Massachusetts e Wisconsin. É a sexta maior catedral do mundo, e a segunda maior dos Estados Unidos da América. A Catedral Nacional de Washington está afiliada com o governo norte-americano por uma carta do Congresso, assinada em 6 de janeiro de 1893, não recebe fundos de patrocínio ou participação da cidade ou do governo federal norte-americano. A Associação da Catedral Nacional recolhe donativos para a manutenção do edifício.
            A Sagrada Família é o termo usado para designar a família de Jesus de Nazaré, composta segundo a Bíblia por José, Maria e Jesus. A sua festa no calendário litúrgico é celebrada no domingo que fica na Oitava do Natal. As cenas da Sagrada Família são das mais representadas na arte, especialmente em pintura. Destacam-se as cenas da Natividade de Jesus e da Fuga para o Egito. Anúncio do Anjo a José: - “E o Anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos, dizendo: - José, filho de David, não temas receber a Maria tua mulher: porque o que dela nasceu, é obra do Espírito Santo” (cf. Mateus 1: 20). Fuga para o Egito, por causa da perseguição movida pelo rei Herodes, que queria matar Jesus. Descrito como “um louco que assassinou sua própria família e inúmeros rabinos”, Herodes é reconhecido por seus colossais projetos de construção em Jerusalém e outras partes do mundo antigo, em especial a reconstrução que patrocinou do segundo Templo, naquela cidade, por vezes chamado de Templo de Herodes. Alguns detalhes de sua biografia são conhecidos pelas obras do historiador romano-judaico Flávio Josefo. Assim, Jesus perde-se e é encontrado no templo, um episódio também reconhecido na liturgia como “Jesus entre os doutores”. As cenas da Sagrada Família são das mais representadas na arte, especialmente em pintura e posteriormente no cinema. Destacam-se as cenas da Natividade de Jesus e da Fuga para o Egito. A Sagrada Família, obra-prima incompleta de Gaudi, e a antiga igreja de Santa Sofia, atualmente um museu. A primeira capela-mor da igreja Matriz de Fortaleza teve sua construção autorizada pela Ordem Régia de 12 de fevereiro de 1746.

Em 12 de janeiro de 1795, o padre Antônio José Álvares de Carvalho, vigário-geral, contratou José Gonçalves Ramos para terminar a obra. Em 1821, a Matriz de São José encontrava-se em ruínas, precisando ser reconstruída. A vila cresceu para o lado da Igreja do Rosário e foram passadas para esta, em procissão, o Santíssimo Sacramento e todas as imagens, passando ela a funcionar como matriz até 2 de abril de 1854, quando as imagens voltaram à matriz reconstruída. No dia 26 de setembro de 1861, foi nomeado primeiro bispo do Ceará dom Luiz Antônio dos Santos e a igreja matriz passou a ser catedral. Quando dom Manoel da Silva Gomes era bispo, em 1938, foi feita vistoria e constatou-se rachadura nas bases de sua construção pelo lado do mar. A igreja foi novamente condenada e demolida. A pedra fundamental da nova Sé foi aposta a 15 de agosto de 1939. O projeto da nova catedral foi de autoria do engenheiro francês George Mounier,  inspirada na Catedral de Notre Dame de estilo híbrido gótico romano e o gótico moderado, construída em concreto aparente.  
A imponência de suas duas torres com 75 metros de altura é um marco do estilo gótico e foram inspiradas nas torres da catedral da cidade alemã de Colônia. Em sua cripta, criação do engenheiro Luciano Pamplona, inaugurada em 1962, encontra-se a Capela de Cristo Ressuscitado, e as sepulturas de monsenhores e bispos: dom Antônio de Almeida Lustosa, dom Manuel da Silva Gomes, dom José Terceiro, dom Raimundo de Castro e Silva, monsenhor José Alves Quinderé e os do monsenhor Tito Guedes. Lançamento da pedra fundamental, ou lançamento da primeira pedra, é o nome que se dá à cerimônia de colocação do primeiro bloco de pedra, ou alvenaria, acima da fundação da construção. Em concreto aparente, estilo neogótico ou “revivalismo gótico” é estilo revivalista originado em meados do século XVIII na Inglaterra, com predominância de elementos ecléticos e também românicos, que ocupa grande parte da Praça Pedro II. Neste ano de 1962, coincidindo com movimentos sociais e urbanos foram montados os altares laterais. Falava-se muito em “juventude transviada”.
No século XIX, estilos neogóticos progressivamente mais sérios e instruídos procuraram reavivar as formas góticas medievais, em contraste com os estilos clássicos dominantes nesta conjuntura. O movimento de revivalismo gótico teve uma influência significativa na Europa e nas Américas, e talvez tenha sido construída mais arquitetura gótica revivalista nos séculos XIX e XX do que durante o movimento gótico original. O revivalismo gótico encontrou paralelo e apoio no medievalismo, que teve suas origens no interesse antiquarial por relíquias e curiosidades. Na literatura inglesa, o revivalismo gótico e o romantismo deram origem à novela gótica, gênero inaugurado por O Castelo de Otranto (1764) de Horace Walpole, e inspirado no gênero de poesia medieval que parece emergir da poesia pseudo-bárdica do Ossian, o narrador e suposto autor de um ciclo de poemas épicos publicados pelo poeta escocês James Macpherson desde 1760. O próprio Macpherson afirmou ter coletado o material de “boca-a-boca em gaélico escocês”, como sendo de fontes antigas e que seu trabalho era sua tradução desse material. Ossian é baseado em Oisín, filho de Finn, ou Fionn Mac Cumhaill, anglicizado para Finn McCool, um bardo lendário que é um personagem da mitologia irlandesa. Os críticos contemporâneos se dividiram quanto a autenticidade da obra. Mas o consenso desde então é que Macpherson “enquadrou os poemas ele mesmo”, com base em antigos contos populares que ele havia coletado, e sendo assim, Ossian é, nas palavras de Thomas Curley, “a falsificação literária mais bem sucedida da história moderna”.

O trabalho popular se tornou internacional sendo traduzido em quase todas as línguas literárias da Europa daquela conjuntura e foi influente tanto no desenvolvimento do movimento romântico quanto no renascimento gaélico. – “A disputa sobre a autenticidade das produções pseudo-gaélica de Macpherson”, afirma Curley, “tornou-se um sismógrafo da frágil unidade dentro da inquieta diversidade imperial da Grã-Bretanha na era de Johnson”. A fama de Macpherson foi coroada por seu enterro entre os gigantes literários na Abadia de Westminster. Neste sentido, William Paton Ker observa que “todo o artesanato de Macpherson como impostor filológico não teria sido nada sem sua habilidade literária”. Poemas como Os Idílios do Rei, de Alfred Tennyson, representam um conjunto de doze poemas narrativos do poeta inglês publicados entre 1859 e 1885 e que relatam a lenda do rei Artur, dos seus cavaleiros, do amor dele por Guinevere, da trágica traição desta, e da ascensão e queda do rei e do seu reino. São dedicados poemas individualmente a Lancelot, Erec (Geraint), Galahad, aos irmãos Balin e Balan, e também a Merlim e à Senhora do Lago, sendo a figura do rei central e relacionando todas as histórias e narrativas etnográficas. O que há de fantástico é que projetam temas modernos em cenários medievais dos romances Arturianos. Na literatura germânica o revivalismo gótico também teve raízes em tendências literárias.
Dom Antônio, dedicou os três altares da direita aos santos jovens Tarcísio, Domingos Sávio e Pancrácio. Ao lado esquerdo, os altares de Luzia, Inês e Filomena. A Cripta da Catedral, projetada pelo engenheiro Luciano Pamplona, foi inaugurada em 1962, homenageando seis santos que morreram jovens: São Domingos Sávio, São Pancrácio, denominado protetor da juventude alemã, São Tarcísio e as santas Maria Goretti, Inês e Luzia. Por esta razão, o arcebispo de Fortaleza dom Antônio de Almeida Lustosa dedicou-a aos jovens, chamando-a de Cripta dos Adolescentes. Encontra-se, na Cripta, a Capela do Ressuscitado e a do Santíssimo Sacramento, bem como os restos mortais de vários prelados nela sepultados: dom Manoel da Silva Gomes, 3º bispo do Ceará e o 1º Arcebispo de Fortaleza. Nasceu na cidade de Salvador, Bahia, aos 14 de março de 1874. Preconizado Bispo Auxiliar do Ceará, por Pio X, a 11 de abril de 1911, foi sagrado a 29 de outubro de mesmo ano. Chegou ao Ceará a 9 de fevereiro de 1912. Em 8 de dezembro de 1912, assumiu a Diocese como Bispo Residencial. Em 10 de novembro de 1915 é nomeado primeiro Arcebispo Metropolitano de Fortaleza. Fundou o Círculo de Operários Católicos a 29 de junho de 1912. Trouxe para o estado do Ceará os Institutos Religiosos Jesuítas, Franciscanos, Salesianos, Sacramentinos, Irmãs do Bom Pastor, Dorotéias, Salesianos, Carmelitas, Terceiras Capuchinhas, Filhas de Santana, irmãs do Amparo, Ursulinas, Missionárias de Jesus Crucificado.      
Fundou o jornal O Nordeste e auxiliou a criação do Banco Popular de Fortaleza. Iniciou a construção da Nova Catedral. Monsenhor José Quinderé, que ingressou no Seminário Episcopal de Fortaleza no ano de 1894 onde se ordenou em 30 de novembro de 1904 aos 22 anos de idade. Seus estudos foram custeados pela irmã Gagné, Madre Superiora do Colégio Imaculada Conceição. Celebrou sua primeira missa em dezembro de 1904.  Teve passagem como Coadjutor de Maranguape (1905- 1906) e depois se transferiu para Fortaleza onde exerceu por duas décadas o cargo de Secretário Geral do Arcebispado. Em 1910 foi nomeado professor de Latim no Colégio Liceu do Ceará. Três anos depois fundou com os professores Misael Gomes e Climério Chaves o Colégio Cearense, que posteriormente foi entregue aos Irmãos Maristas. Em 1920 recebeu o título de Cônego e em 1929, o de Monsenhor. Como homem de letras e jornalista integrou os quadros dos jornais O Nordestino e O Povo. Destacou- se na política sendo conduzido a uma Cadeira na assembleia Legislativa do Estado do Ceará.

Relíquia da Cruz de Cristo em Fortaleza.
Monsenhor Tito Guedes Cavalcante e do próprio dom Antônio de Almeida Lustosa. Foi inaugurada no dia 22 de dezembro de 1978 pelo cardeal arcebispo de Fortaleza, dom Aloísio Lorscheider.  Em 2007, a catedral passou por uma reforma completa, com a verificação da estrutura e sua renovação, além da inclusão de novos elementos decorativos na parte interna do prédio. É considerado santo pela Igreja Católica. São Pancrácio, protetor da juventude alemã, tornou-se um mártir ao ser decapitado na via Aurélia por conta de sua fé, durante a perseguição de Diocleciano. São Tarcísio viveu em Roma por volta do ano 258 da era cristã. Tarcísio pertencia à comunidade cristã de Roma, era acólito. No decorrer da terrível perseguição do imperador romano Públio Licínio Valeriano (253-260) muitos cristãos estavam sendo presos e condenados à morte. Nas tristes prisões à espera do martírio, os cristãos desejavam poder fortalecer-se com Cristo Eucarístico. O difícil era conseguir entrar nas cadeias para a comunhão. Nas vésperas de numerosas execuções de mártires, o Papa Sisto II não sabia como levar o Pão dos Fortes à cadeia. Foi então que Tarcísio, com 12 anos de idade, ofereceu-se dizendo estar pronto para iniciar esta piedosa tarefa.
Relativamente ao perigo, Tarcísio afirmava que se sentia forte, disposto antes morrer que entregar as Sagradas Hóstias aos pagãos. Maria Teresa Goretti (1890- 1902) foi uma jovem católica italiana, venerada como santa e mártir, brutalmente assassinada aos 11 anos de idade, ao recursar-se fornicar numa tentativa de estupro. Em 5 de Julho de 1902, Alessandro, então com 20 anos, encontrou a menina de 11 anos costurando, sozinha em casa. Ele entrou e a ameaçou de morte se ela recusasse a ter relações sexuais com ele. A intenção era estuprá-la, porém, ela não se submeteu e, mesmo após as investidas do rapaz ardente do desejo lascivo, manteve-se resoluta em não pecar contra a castidade. Agarrada a força, ajoelhou-se, protestando que seria um pecado mortal e advertiu Alessandro de que a alma dele poderia ir para o Inferno se consumasse o ato de fornicação. Alessandro primeiro tentou controlá-la, mas como ela insistia que preferia morrer a perder inocência, pureza e decência, ele a apunhalou 11 vezes. Ferida, Maria tentou alcançar a porta, mas ele a agarrou e deu mais três punhaladas, antes de fugir.
Noel Crusz foi um jornalista nascido no Sri Lanka, mas trabalhou na British Broadcasting Corporation (BBC), uma corporação pública de rádio e televisão do Reino Unido fundada em 1922, na Rádio Vaticano, emissora de rádio da Santa Sé que tem por finalidade anunciar a mensagem cristã católica e proporcionar uma união do Vaticano com as demais comunidades cristãs espalhadas pelo mundo e a Voice of America (VOA), o serviço oficial de controle de radiodifusão internacional financiado pelo Governo Federal dos Estados Unidos da América (EUA) e autorizado a operar exclusivamente fora de território norte-americano. É retransmitida em mais de 44 idiomas (pela via comunicativa do rádio) e 24 idiomas (pelas antenas de televisão) por várias estações ao redor do mundo e sob a supervisão do International Broadcasting Bureau, uma instituição vinculada ao presidente dos Estados Unidos e que teoricamente garantiria a falsa “isenção da VOA perante a política externa norte-americana”. O problema principal, e a que se voltará, não o interesse, por importantes que sejam as divergências, mas a política, o universal concreto, em que acrescentam-se a revitalização da economia norte-americana e a promoção da democracia no exterior.

Escreveu o livro Maria Goretti-Saint under Siege (2002) (em português: “Maria Goretti-Santa sob Assédio”), baseado em entrevistas de Alessandro Serenelli e de Ersilia, irmã de Maria, realizadas em 1952, adiciona novos detalhes. Em 5 de julho de 1902, às 15:00 horas, Serenelli que insistentemente pedia favores sexuais à menina, aproximou-se. Ela estava cuidando de sua irmã menor, na casa da família. Ele a ameaçou com uma adaga de quase 30 centímetros. Quando Maria recusou, como sempre fazia, ele deu 14 facadas. Os ferimentos atingiram a garganta, coração, pulmões e diafragma. Os cirurgiões no hospital ficaram surpresos que ela ainda estivesse viva. Na presença do chefe de polícia, Maria Goretti,  filha de um pobre casal de agricultores Luigi Goretti e Assunta Carlini, disse a sua mãe que Alessandro Serenelli já havia tentado estuprá-la duas vezes. Como ele com a força bruta a ameaçava de morte, ela não contou o assédio sexual para ninguém. Alessandro Serenelli foi condenado a 30 anos de prisão. Mas se arrependeu depois de ser visitado pelo Bispo de Noto, Dom Giovanni Blandini, e após sonhar que Maria Goretti colocava nele quatorze lírios, vale lembrar que representa a mesma quantidade de vezes que a esfaqueou. Quando Alessandro saiu da prisão, procurou a mãe de Maria para pedir-lhe perdão.
Alguns anos depois, colaborou com o seu testemunho na causa da sua beatificação. Também foi admitido na Ordem Terceira de São Francisco. - “O assassino de Maria Goretti reconheceu o crime cometido, pediu perdão a Deus e à família da mártir, redimiu com convicção o seu crime e  em sua vida manteve este estado de espírito. A mãe da santa, por sua parte, ofereceu-lhe o perdão da sua família”, destacou São João Paulo II. Por esta razão, o arcebispo de Fortaleza, dom Antônio de Almeida Lustosa, dedicou-a aos jovens, chamando-a de Cripta dos Adolescentes. Encontra-se, na Cripta, a Capela do Ressuscitado e a do Santíssimo Sacramento, além dos restos mortais de vários prelados nela sepultados: dom Manoel da Silva Gomes, monsenhor José Quinderé, monsenhor Tito Guedes Cavalcante e do próprio dom Antônio de Almeida Lustosa. A Cripta foi reinaugurada em 9 de julho de 2011, após um ano e quatro meses de reforma, em que foi colocado um piso de granito, uma nova iluminação, um sistema de ar condicionado e concluído o altar da catedral. A Cripta permite acomodar 350 pessoas sentadas. Em 12 de agosto de 2011, foi inaugurada a nova iluminação externa da Catedral, programada com lâmpadas de Led, fabricante de refletor, luminária industrial e pública. A Catedral Metropolitana de Fortaleza é a terceira maior do país, com capacidade para abrigar aproximadamente cinco mil pessoas. É um monumento localizado no centro da cidade e se destaca pela imponência arquitetônica, seus belos vitrais e pelo estilo gótico romano.
Bibliografia geral consultada.

SICRE, José Luís, Con los Pobres de la Tierra: La Justicia Social en los Profetas de Israel. Madrid: Ediciones Cristandad, 1984; LOPES, João Aloísio, Transitais (Da Noção de Tecnologia na Expressão ‘Novas Tecnologias de Comunicação’ à Descoberta do Valor-de-Informação). Tese de Doutorado. Escola de Comunicações e Artes. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1988; HOBBES, Thomas, Leviatano. Tradutore Giuseppe Micheli. Biblioteca Universale Rizzoli, 1991; CAMARANI, Ana Luiza Silva, Tradução e Poética: Charles Nodier. Tese de Doutorado. Programa de Doutorado em Letras. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1997; Idem, A Literatura Fantástica: Caminhos Teóricos. São Paulo: Editora Cultura Acadêmica, 2014; ROAS, David (Org.), Teorías de lo Fantástico. Madrid: Ediciones Arco Libros, 2001; DE MARTINO, Ernesto, La Terra del Rimorso. Presentazione di Clara Gallini. edizione. Milano: Il Saggiatore, 2008; MICELI, Sérgio, A Elite Eclesiástica Brasileira: 1890-1930. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 2009; PORTO, Márcio de Souza, Modernidade e Catolicismo: O Episcopado de Dom José de Medeiros Delgado no Ceará (1963- 1973). Tese Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Sociologia. Departamento de Sociologia. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2014; FREIRE, Edwilson Soares, As Cortinas que Cerram o Vale: Religião e Secularização na Diocese de Limoeiro do Norte/CE (1940-1980). Tese Doutorado em História. Faculdade de Ciências Humanas e Sociais. Franca: Universidade Estadual Paulista, 2016; PINA NETA, Lucy da Silva, Ressignificar para Manter-se Fiel: Dom Helder Câmara e o Exercício do seu Ministério Sacerdotal (1955-1965). Tese de Doutorado.  Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião. Recife: Universidade Católica de Pernambuco. 2019; entre outros.

quarta-feira, 22 de abril de 2020

Dias Gomes - O Pagador de Promessas & Sincretismo Brasileiro.


Há um mínimo de dignidade que o homem não pode negociar”. Dias Gomes


           Alfredo de Freitas Dias Gomes, romancista, contista e teatrólogo nasceu no bairro do Canela em Salvador, Bahia, no dia 19 de outubro de 1922, e faleceu aos 76 anos, em 18 de maio de 1999, vítima de acidente de carro em São Paulo. Filho do engenheiro Plínio Alves Dias Gomes e de Alice Ribeiro de Freitas Gomes, fez o curso primário no Colégio Nossa Senhora das Vitórias, dos Irmãos Maristas, e iniciou o secundário no Ginásio Ipiranga. Em 1935, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, onde prosseguiu o curso secundário no Ginásio Vera Cruz e posteriormente no Instituto de Ensino Secundário. Com apenas 15 anos escreveu sua primeira peça, A Comédia dos Moralistas (1937), que obteve o 1º lugar no Concurso do Serviço Nacional de Teatro em 1939, criado em 1937 por Gustavo Capanema, o Ministro da Educação que mais tempo ficou no cargo em toda a história social e política do Brasil, entre os anos de 1934 a 1945, durando aproximadamente 11 anos contínuos como Ministro da Educação e Saúde durante o governo autoritário de Getúlio Vargas.  Embora não tenha sido encenada, a obra foi premiada em 1939 num concurso do Serviço Nacional de Teatro (SNT) e publicada no mesmo ano pela Fênix Gráfica, da Bahia, a expensas de um tio entusiasta, Alfredo Soares da Cunha. Ela foi seguida por Esperidião (1938), Ludovico (1940), Amanhã será outro dia (1941) e O homem que não era seu (1942).
           Em 1942, o jovem autor conhece a sua primeira realização teatral de sucesso com Pé de cabra, produzida e encenada pelo ator Procópio Ferreira e exibida em diversas capitais brasileiras entre 1943 e 1944. A peça foi censurada e “proibida na estreia, no dia 31 de julho de 1942, por ser considerada marxista. Liberada mais tarde, serviu, no entanto, para caracterizar Dias Gomes como comunista muito antes de ele ingressar de fato no Partido Comunista Brasileiro” (cf. Paranhos, 2017). Estreou no teatro profissional com a comédia Pé-de-cabra (1942), encenada no Rio de Janeiro e posteriormente em São Paulo por Procópio Ferreira, que com ele excursionou pelo país. Escreveu as peças O homem que não era seu e João Cambão (1942).  Em 1943, sua peça Amanhã será outro dia foi encenada pela Comédia Brasileira, do Serviço Nacional de Teatro (SNT) e novelas globais como O Bem Amado (1973), Roque Santeiro (1985), Saramandaia (1976) e O Pagador de Promessas (1982), uma minissérie produzida e exibida pela Rede Globo entre 5 e 15 de abril de 1988, em 12 capítulos, ás 22h30. Escrita por Dias Gomes, adaptando a peça teatral de sua autoria, e dirigida por Tizuka Yamasaki. Concebida tecnicamente em 12 capítulos, a história político-religiosa teve que ser reeditada por imposição da censura civil-militar no Brasil, e acabou sendo exibida em apenas oito capítulos. As referências políticas, as menções das lutas dos trabalhadores rurais sem-terra e posseiros e a inconclusiva reforma agrária foram suprimidas tirando o gênese mitico-poética da personagem. 
       O símbolo com o formato da cruz, que está sendo representado em sua forma mais simples e através do cruzamento de duas linhas em ângulos retos, antecede em muitos séculos, comparativamente tanto no Ocidente quanto no Oriente, historicamente a introdução do cristianismo; data a um período muito remoto na história da civilização. Supõe-se que seria usado não apenas por seu valor ornamental, mas também com a diversidade de seus significados religiosos. Entetanto, a cruz cristã é o reconhecido símbolo religioso do cristianismo. É uma representação do instrumento da crucificação de Jesus Cristo, e está relacionada ao crucifixo, ou seja, a cruz que inclui uma representação religiosa do corpo de Jesus e à família genérica mais ampla dos símbolos em forma de cruzes. A cruz representou em diversas sociedades a interseção do plano material e do transcendental em seus eixos perpendiculares. Por exemplo, era insígnia de Serápis no Egito. Ao ser apropriado pelo cristianismo, este símbolo enriqueceu e sintetizou a história social da salvação e paixão de Jesus, significando também a possibilidade de ressurreição. As igrejas cristãs modernas tendem a se preocupar muito mais em como a humanidade pode ser salva de uma condição que tende a ser universal de pecado e morte do que na questão de como judeus e gentios podem fazer parte da família de Deus.

De acordo com a teologia ortodoxa oriental, com base em sua compreensão da expiação apresentada pela teoria da recapitulação de Irineu, a morte de Jesus é um resgate. Isso restaura a relação com Deus, que é amoroso e se aproxima da humanidade, e oferece a possibilidade de theosis e divinização, tornando-se o tipo de homem que Deus quer que a humanidade seja. Segundo a doutrina católica, a morte de Jesus satisfaz a ira de Deus, suscitada pela ofensa à honra de Deus causada pela pecaminosidade humana. A Igreja Católica ensina que a salvação não ocorre sem a fidelidade dos cristãos; os convertidos devem viver de acordo com os princípios do amor e normalmente devem ser batizados. Na teologia protestante, a morte de Jesus é considerada como uma pena substitutiva carregada por Jesus, pela dívida que deve ser paga pela humanidade quando ela quebrou a lei moral de Deus. Os cristãos diferem em seus pontos de vista sobre até que ponto a salvação dos indivíduos é pré-ordenada por Deus. A teologia reformada coloca ênfase distinta na graça ao ensinar que os indivíduos são completamente incapazes de autorredenção, mas que a graça santificadora é irresistível. Em contraste, católicos, cristãos ortodoxos e protestantes arminianos acreditam que o exercício do livre arbítrio é necessário para ter fé em Jesus. 

                                       

            Neste período também escreveu alguns contos e romances: O Chefe (1938), O Ressuscitado (1938), Duas Sombras Apenas (1945), Um Amor e Sete Pecados (1946), A Dama da Noite (1947) e Quando é Amanhã (1948). Em 1944, a convite de Oduvaldo Viana, foi trabalhar na Rádio Pan-Americana (São Paulo), fazendo adaptações de peças, romances e contos para o Grande Teatro Pan-Americano. Regressou ao Rio de Janeiro, em 1948, onde passou a trabalhar sucessivamente na chamada Era do Rádio com as famosas Rádios Tupi e Rádio Tamoio (1950), Rádio Clube do Brasil (1951) e Rádio Nacional (1956). Em 1950, casou-se com Janete Emmer (Janete Clair), com quem teve cinco filhos: Guilherme, Alfredo, Denise, Alfredo e Marcos Plínio. Em fins de 1953, viajou à União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) com uma delegação de escritores, para as comemorações do 1º de Maio. Por essa razão, ao voltar ao Brasil, foi demitido da Rádio Clube. Seu nome censurado foi incluído numa lista, e durante nove meses seus textos tiveram que ser negociados com a TV Tupi em nome de colegas. 
        Janete Clair nasceu Jenete Stoco Emmer, filha do comerciante libanês Salim Emmer e da costureira Carolina Stocco Emmer, de ascendência portuguesa. Seu nome era para ser Janete, mas devido ao forte sotaque de seu pai, o cartório a registrou erroneamente como Jenete. Depois de passar uma infância tranquila em Conquista, no Triângulo Mineiro, no Vale do Rio Grande, o talento de Jenete para a vida artística  despontou quando a família se mudou para Franca, no interior de São Paulo. Na Rádio Herz, a principal emissora da cidade, Jenete fazia sucesso interpretando canções, tanto em árabe quanto em francês. Aos quatorze anos de idade, precisou interromper temporariamente a vida artística e se dedicou a trabalhar como datilógrafa para ajudar na renda da família. Depois, já na capital São Paulo fez estágio num laboratório como bacteriologista e aos vinte anos passou num teste para ser locutora e rádio atriz da Rádio Tupi. Adotou o nome artístico Janete por ser de mais fácil pronúncia, e o sobrenome Clair, inspirada na canção Clair de Lune, de Claude Debussy por sugestão de Otávio Gabus Mendes. Trabalhando na rádio, conheceu e se apaixonou por seu futuro marido, o dramaturgo Dias Gomes. Nos anos 1950, incentivada pelo marido, passou a escrever radionovelas e teve grande sucesso com Perdão, Meu Filho (Rádio Nacional, 1956). Na década de 1960 iniciou a produção para a televisão, com as telenovelas O Acusador e Paixão Proibida, ambas pela TV Tupi.

       Depois teve uma temporada em Minas Gerais onde escreveu a novela Estrada do Pecado (1965) para a TV Itacolomy, volta ao Rio de Janeiro e adapta A Herança do Ódio (1951) de Oduvaldo Vianna para a TV Rio. Em 1967, recebeu a incumbência de alterar a trama da telenovela Anastácia, a Mulher sem Destino, da Rede Globo, para reduzir drasticamente as despesas de produção. Ela inseriu na história um terremoto que matou mais da metade dos personagens e destruiu inúmeros cenários. Depois disso, ficou em definitivo na Rede Globo, onde escreveu telenovelas como Sangue e Areia (1967), Passo dos Ventos (1968), Rosa Rebelde (1969) e Véu de Noiva (1970). Nos anos 1970 escreveu algumas das telenovelas de maior sucesso da história televisiva nacional, como Irmãos Coragem (1970), Selva de Pedra (1972) e Pecado Capital (1975), período este em que passou a ser chamada de “a maga das oito”, por garantir índices de audiência estratosféricos nas telenovelas exibidas neste horário, sendo, em muitas, indiscutivelmente imbatível. 
Em 1978, paralisou o Brasil com a telenovela O Astro, introduzindo a técnica do mistério: “Quem matou Salomão Hayala?”, personagem interpretado por Dionísio Azevedo. Janete Clair se “tornou a maior autora popular da história da televisão do Brasil, a única a alcançar 100 pontos de audiência”. Em 11 de agosto de 2005 o pesquisador em Teledramaturgia e também diretor e roteirista Márcio Tavolari, após dois anos de intensos trabalhos de pesquisa dedicados a catalogação, organização e inventário do acervo da novelista, promoveu na Associação Brasileira de Letras (ABL/RJ) um evento póstumo em reconhecimento de Janete Clair “como a mais popular autora da Televisão Brasileira”. Morreu precocemente, vitimada por um câncer no intestino, enquanto escrevia a telenovela Eu Prometo (1983), que deixou inacabada. Foi concluída pela colaboradora e brilhante escritora Glória Perez, que torna-se reconhecida e respeitada novelista, e naturalmente, pelo cariz de seu viúvo Dias Gomes. 
Em 1959, Dias Gomes escreveu a peça O Pagador de Promessas, que estreou no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), em São Paulo, com a direção de Flávio Rangel e com Leonardo Vilar no papel principal. Dias Gomes ganhou projeção nacional e internacional. A peça, traduzida para mais de uma dúzia de idiomas, foi encenada em boa parte do mundo. Adaptada pelo próprio autor para o cinema, dirigido por Anselmo Duarte, recebeu a Palma de Ouro no Festival de Cannes, em 1962. Nesse ano, recebeu o Prêmio Cláudio de Sousa, da Academia Brasileira de Letras (ABL), com a peça A invasão, uma obra que foi encenada pela primeira vez em 25 de outubro de 1962. Retrata a necessidade de mudança que a sociedade necessitava no período que se iniciou em 1° de abril de 1964, com uma sociedade viciada politicamente e presa a uma dramaturgia tradicionalista sem renovação do aplauso fácil da classe dominante. Foi premiada duas vezes com o Prêmio Padre Ventura, 1962 pelo Círculo Independente dos Críticos Teatrais (CICT) e o Prêmio Cláudio de Souza, 1961 pela Academia Brasileira de Letras. É uma peça de teatro escrita em três atos e com cinco quadros.    
Os fabulosos Janete Clair e Dias Gomes.
Não queremos perder de vista que a Associação Brasileira de Críticos Teatrais (ABCT) foi criada em 1937, tendo por principal objetivo incrementar o teatro brasileiro através de medidas e leis que o incentivassem. Assim, em 1943 levou ao então ditador Getúlio Vargas um memorial com críticas ao Serviço Nacional do Teatro (SNT) no qual propunham mudanças em sua estrutura e sugeriam a criação de Departamentos nos estados. Em agosto do ano seguinte, junto à Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (SBAT) e também representados pelo Sindicato dos Atores Teatrais, Cenógrafos e Cenotécnicos do Rio de Janeiro (Casa dos Artistas) criou uma Comissão Permanente de Teatro que logo encaminhou ao presidente da República um plano de ideias onde recomendava a concessão pelo SNT de subvenções, num momento em que este órgão estatal atravessava crises internas. A ABCT foi responsável pela realização dos dois primeiros congressos brasileiros de teatro; idealizado inicialmente pelo então presidente da entidade Augusto de Freitas Lopes Gonçalves, teve para tal o apoio da SBAT, da Casa dos Artistas e outras instituições como a Academia Brasileira de Letras; o primeiro deles foi realizado no Rio de Janeiro em 1951, e o segundo na capital paulista em 1953, ambos contando com o apoio oficial do governo através do Serviço Nacional de Teatro. A entidade começou a perder força política com a fundação, em 1957, do Círculo Independente de Críticos Teatrais (CICT), com a qual passou a rivalizar; mas, por outro lado a própria crítica teatral foi deixando de existir a partir da década de 1960, sobretudo com a instauração no país do golpe de Estado e da ditadura militar de 1964, o desaparecimento de muitos jornais com o advento da televisão e outros fatores sociais.
Dias Gomes baseou a história num fato real: no final dos anos 1950, um grupo de favelados do Rio de Janeiro que perderam seus barracos, devido a uma enchente. Sem ter onde se abrigar invade uma construção abandonada. A primeira família narrada é a de Bené, um ex-jogador de futebol, que sem esperanças encontra na bebida seu único meio para suportar tamanho sofrimento e pobreza. Espera no filho, Lula, a oportunidade que nunca teve. Sem opção de moradia Bené, Isabel e Lula iniciam propriamente a Invasão. Depois seguido de Justino, Santa, O Filho de Santa, Tonho, Malu e Rita. Já estavam lá Bola Sete e Lindalva que no início os confunde com a polícia. Depois os outros vão chegando, O Profeta, no primeiro piso e a Invasão vai se dando gradativamente no prédio abandonado. O edifício ficou reconhecido como Favela do Esqueleto, onde depois nasceu a Universidade do Estado da Guanabara, com gente pobre, negros, mulatos e muitos palavrões, mesclados com desemprego e fome.
Apesar dos problemas acumulados nos últimos anos, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) começou como um sonho. Renascida em 4 de dezembro de 1950, a então Universidade do Distrito Federal (UDF) pretendia fazer dar certo um projeto de ensino superior que existiu entre 1935 e 1939, quando a instituição fora criada sob a liderança do educador Anísio Teixeira. Para isso, nos anos 1950 unificou quatro escolas já estabelecidas: a Faculdade de Ciências Médicas, a de Ciências Jurídicas, a de Ciências Econômicas e a de Filosofia e Letras. O Rio de Janeiro, então capital da República, buscava acompanhar as mudanças na educação superior no Brasil. Sua história social teve início em 4 de dezembro de 1950, com a promulgação da lei municipal nº 547, que cria a nova Universidade do Distrito Federal (UDF) durante mandato do então General de Divisão e Prefeito do Distrito Federal do Rio de Janeiro Marechal Ângelo Mendes de Moraes. Diferente da instituição homônima, fundada em 1935 e extinta em 1939, a nova universidade ganhou força estratégia e tornou-se uma referência em ensino superior, pesquisa e extensão na Região Sudeste. Em 1961, após a transferência do Distrito Federal para a recém-inaugurada Brasília, a UDF passou a se chamar Universidade do Estado da Guanabara (UEG). Finalmente, com a fusão do estado em 1975, ganhou o nome de Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
O país era governado por uma ditadura militar desde o golpe civil-militar de 1964. O governo estava enfraquecido, dividido pelos militares mestiços da linha-dura e os militares moderados. A economia apresentava uma alta inflação, o povo saía às ruas nas chamadas Diretas Já. O militar Ernesto Geisel, presidente entre 1974 e 1979, garantiu uma “distensão lenta, segura e gradual”. Assim, iniciou-se a abertura política. Aos poucos, a oposição, representada pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB) ganhou força política. Mas foi no governo de João Figueiredo (1979-1985) que o país passou para os civis, após anos de frustração. Em 1985, Tancredo Neves foi eleito pelo Colégio Eleitoral com 480 votos contra 180 de Paulo Maluf (PDS) que representava a ditadura.  Na véspera da posse de Tancredo em 14 de março de 1985, ele foi internado. No dia seguinte, José Sarney tomou posse interinamente até que o titular assumisse. Em 21 de abril de 1985, Tancredo falece aos 75 anos, e Sarney tornou-se presidente não eleito em definitivo. A última eleição disputada pelo PDS ocorreu em 1992 quando Maluf venceu em São Paulo e Teresa Jucá em Boa Vista. Naquele ano os pedessistas mantiveram o posto de 3° maior partido do Brasil ao elegerem 363 prefeitos. A história da agremiação teve fim em 4 de abril de 1993, quando este se fundiu ao PDC para criar o Partido Progressista Reformador (PPR), presidido pelo senador Espiridião Amin.
Também naquela década, conheceria uma de suas primeiras crises financeiras, a partir do final de 1964. Em 12 de novembro daquele ano, o reitor Haroldo Lisboa da Cunha afirmava que sem mais verba do governo, a UEG fecharia. Não fechou. E em 1967, começaria um de seus planos mais ousados: a construção do campus do Maracanã. A obra duraria até a década de 1970, mas alguns de seus cursos ocupariam as instalações em 1969, antes de estarem prontas. Na década de 1970, a UEG, finalmente, se tornaria UERJ. No ano de 1975, com a fusão dos estados do Rio e da Guanabara, na época do reitor Oscar Tenório, a universidade mudou o nome. Um ano depois, já se falava em interiorização da instituição, que agora pertencia ao Estado do Rio de Janeiro. Sob novos padrões e no novo campus, idealizado para ser uma “microuniversidade urbana”, a nova instituição aumentou sua participação na integração política da cidade. O campus do Maracanã ocupava o lugar da antiga Favela do Esqueleto e havia desabrigado seus moradores, removidos para o bairro da Vila Kennedy, na longínqua Zona Oeste. A retribuição à população ocorreria por meio de projetos sociais, como os desenvolvidos no extraordinário Morro da Mangueira a partir da redemocratização de 1985. Uma integração social e um projeto dinâmico, real de que viria de fato para ficar.            
Criada a partir da fusão da Faculdade de Ciências Econômicas do Rio de Janeiro, da Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, da Faculdade de Filosofia do Instituto La-Fayette e da Faculdade de Ciências Médicas, a Universidade cresceu, incorporando e criando novas unidades com o passar dos anos. Às faculdades fundadoras uniram-se instituições como a Escola Superior de Desenho Industrial (Esdi), o Hospital Geral Pedro Ernesto (Hupe), a Escola de Enfermagem Raquel Haddock Lobo, entre outras. Além disso, novas unidades foram criadas para atender às demandas da Universidade e da comunidade, como o Instituto de Aplicação (CAp) e a Editora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Eduerj), entre outros. Nesses 60 anos de história, a Universidade cresceu em tamanho, estrutura e importância social, política e administrativa, comparativamente nos cenários educacional, regional, nacional e internacional. O campus Francisco Negrão de Lima, no bairro Maracanã, zona norte do Rio de Janeiro, foi erguido no local da antiga Favela do Esqueleto, reconhecida por esse nome, pois lá existia a estrutura abandonada da construção de um hospital público que, após sua conclusão, passou a representar o Pavilhão Haroldo Lisboa da Cunha.
Dias Gomes e Aguinaldo Silva escreveram Roque Santeiro (1985) baseando-se em uma peça de teatro, de autoria de Dias Gomes, O Berço do Herói, que já havia sido censurada e proibida de estrear em 1963. A telenovela seria exibida a partir do dia 27 de agosto de 1975, pela Rede Globo, substituindo a novela Escalada (1975), de Lauro César Muniz, e já havia 30 capítulos gravados e as chamadas publicitárias de áudio na TV anunciavam sua estreia. Porém, no dia preparado para sua estreia, a emissora recebeu um ofício do anacrônico Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), do governo federal censurando a exibição pública da novela. O motivo da censura foi “uma escuta telefônica do governo, em que foi gravada uma conversa do autor da novela, Dias Gomes, afirmando que Roque Santeiro era apenas uma forma de enganar os militares”, adaptando O Berço do Herói (1965) para a televisão, com ligeiras modificações que fariam que os militares não percebessem que se tratava da obra.
     Após 10 anos, já no governo do vice-presidente José Sarney, que assumiu  interinamente após a internação de Tancredo Neves, e definitivamente na farsa do programado dia 21 de abril de 1985, após a morte do qual foi o primeiro presidente civil após mais de vinte anos de regime militar no Brasil. A telenovela foi finalmente liberada e pôde ser exibida na televisão. Por consideração aos artistas envolvidos no trabalho original, os mesmos foram convidados à participar da nova versão da novela, com seus respectivos personagens. Porém, Francisco Cuoco e Betty Faria recusaram os papéis principais de Roque Santeiro e Viúva Porcina, mas Lima Duarte retornou à produção novamente como o inesquecível Sinhozinho Malta. Além dele, alguns atores que participaram da versão censurada da novela retornaram à produção interpretando os mesmos personagens, como João Carlos Barroso, Luiz Armando Queiroz e Ilva Niño. Milton Gonçalves, que interpretava o padre Honório, nome esse trocado para Hipólito na versão censurada, ganhou o papel do promotor público Lourival Prata. A atriz Elizângela, também participou da versão censurada, mas teve seu papel alterado para viver Marilda, esposa de Roberto Mathias, interpretado por Fábio Júnior. Dennis Carvalho, que interpretou Roberto Mathias em 1975, era Tomazini em 1985 e Lutero Luiz que interpretou o prefeito Flô, nesta versão, interpretou o Dr. Cazuza Amaral.
       Para o que nos interessa, enquanto objeto de análise teórica, O Pagador de Promessas teve versão cinematográfica em 1962, dirigida por Anselmo Duarte, ipso facto, o único filme brasileiro a ganhar a Palma de Ouro no Festival de Cannes, na França. Vale lembrar que se trata de um festival de cinema criado em 1946, e conforme a concepção de Jean Zay, e até 2002, chamado Festival International du Film, é um dos mais prestigiados festivais de cinema do mundo. Acontece tradicionalmente todos os anos, no mês de maio, na cidade francesa de Cannes. Igualmente o chamado marché du film (mercado do filme) acontece paralelamente ao festival. No final dos anos 1930, contrariado pela ingerência dos governos fascista alemão e italiano na seleção dos filmes da Mostra de Veneza, Zay, ministro da Instrução pública e de Belas Artes, propõe a criação, em Cannes, de um festival cinematográfico de nível internacional. Em junho de 1939, Louis Lumière aceita ser o presidente da primeira edição do festival, que deveria acontecer do 1° dia ao dia 30 de setembro. A declaração de guerra da França e do Reino Unido à Alemanha em 3 de setembro, põe fim, prematuramente a essa decisão, apesar de o prêmio ter sido atribuído a Union Pacific, de Cecil B. DeMille, um filme norte-americano de 1939, do gênero faroeste, baseado no livro Trouble shooter de Ernest Haycox, dirigido por Cecil B. DeMille e estrelado por Barbara Stanwick e Joel McCrea. Zé do Burro (José Mayer) é um simplório lavrador de uma família de posseiros que luta contra a secularização dos latifundiários rurais, cujo principal representante é Tião Gadelha (Carlos Eduardo Dolabella).
            Porém o ingênuo Zé é alheio a esses conflitos e vive num mundo à parte com seu fiel companheiro, um burro chamado Nicolau. Do costume do povoado na companhia do burro, nasce seu apelido, Zé do Burro. Vítima de um acidente, Nicolau fica à beira da morte, e Zé faz uma promessa a Santa Bárbara para que ela salve o animal. O pagamento da promessa é carregar uma pesada cruz de sua roça em Monte Santo, interior baiano, até a igreja de Santa Bárbara em Salvador. Nas escadarias da igreja, com os ombros feridos, o conflito maior é deflagrado a partir da incompreensão do Padre Olavo (Walmor Chagas), religioso conservador que não consegue entender a simbiose ou sincretismo religioso na pureza da proposta. A promessa tinha sido feita num ritual de candomblé para Santa Bárbara, da Igreja Católica, que é sincretizada como Orixá Iansã, a senhora dos ventos e das tempestades. Tem como símbolos principais o raio e a espada. O raio é o símbolo da justiça divina atuando no plano físico. É a força que ilumina as trevas do ego. A espada é o instrumento da lei, que zela, protege e ampara a todos. É a luta pessoal, o melhoramento, a morte dos vícios. Seu sincretismo acontece com Santa Bárbara, santa católica que tem como insígnias o cálice e a espada.
Ela é valente, tem temperamento forte e independente. Os rituais do candomblé são realizados em templos chamados casas, roças ou terreiros que podem ser de linhagem matriarcal: quando somente as mulheres podem assumir a liderança; patriarcal: quando somente homens podem assumir a liderança, ou mista: quando homens e mulheres podem assumir a liderança do terreiro. Furioso, o padre tranca a porta da igreja e acusa o lavrador de heresia. Aos poucos, no cotidiano da vida social, Zé do Burro cativa a comunidade e através de sua insistência vai elevando a tensão social até um confronto de rua com a polícia, bem nos meios dos barulhentos festejos em homenagem à santa. No seu aparente insano calvário, Zé do Burro, vê sua bela mulher Rosa (Denise Milfont), ser seduzida pelo gigolô Bonitão. Fascinada pelo cafetão, Rosa ainda enfrenta o ódio da prostituta Marli (Joana Fomm). Para completar a rede de confusões, Zé torna-se vítima das manipulações de Aderbal (Guilherme Fontes), um jornalista que o transforma num místico revolucionário, dando a promessa do peregrino uma realidade de conotação política. Em novembro de 2015 o filme O Pagador de Promessas entrou na lista elaborada pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos.
Bibliografia geral consultada.
SOARES, Afonso Maria Ligorio, Le Religioni Afrobrasiliane e l`Inculturazione delle Fede. Roma: Pontifícia Universidade Gregoriana, 1990; MERTEN, Luiz Carlos, Anselmo Duarte: O Homem da Palma de Ouro. 1ª edição. São Paulo: Imprensa Oficial, 2004; SILVA, Sebastiana Siqueira, O Pagador de Promessas – Um Drama Trágico em Tempos Modernos. Dissertação de Mestrado em Letras. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. João Pessoa: Universidade Federal da Paraíba, 2009; PINHEIRO, Roberta Vanessa Crispim, O Pagador de Promessas: Dramaticidade e Tragicidade, da Literatura ao Cinema. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Letras. João Pessoa: Universidade Federal da Paraíba, 2010; SANTOS, Josué Pereira dos, O Pagador de Promessas no Contexto do Drama/Teatro Brasileiro Moderno: Discussão sobre a Tragédia Nacional-Popular. Dissertação de Mestrado em Literatura e Interculturalidade. Departamento de Letras e Artes. Campina Grande: Universidade Estadual da Paraíba, 2012; GOMES, Robson Teles, Alegorias do Estado Autoritário em O Pagador de Promessas e em O Santo Inquérito. Tese de Doutorado. Programa de Pòs-Graduação em Letras. João Pessoa: Universidade Federal da Paraíba, 2014; PARANHOS, Kátia Rodrigues, “Dias Gomes entre Textos e Cenas: A Construção e a Reconstrução de um Autor”. In: ArtCultura. Uberlândia, Vol. 19, n° 34, pp. 139-152; jan./jun., 2017; DI SALVO, Leandro Braga, O Herói e o Bode Expiatório na Tragicomédia de Dias Gomes. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2018; LIMA LUIZ, Michelly Jacinto, O Discurso da Intolerância Religiosa no Filme O Pagador de Promessas sob a Perspectiva da Análise do Discurso Ecológico. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística. Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2018; VILELA, Anne Araújo, As Performances de Odorico Paraguaçu em “O Bem Amado” (1973): Uma Sátira à Política Brasileira no Século XX. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Performances Culturais. Goiânia: Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2020; entre outros.