sexta-feira, 10 de maio de 2024

Ana Maria Braga – Cultura, Pragmatismo & Conversação Conversada.

                                              Amizade é o nome da rua que leva a gente para casa”. Ana Maria Braga

          Ana Maria Braga Maffeis nasceu em São Joaquim da Barra, município brasileiro do estado de São Paulo pertencente a Aglomeração Urbana de Franca, em 1º de abril de 1949. É apresentadora de TV, chef de cozinha e jornalista brasileira. O município já se chamou Juçara, São Joaquim de Oiçaí, São Joaquim de Nuporanga, Capão do Meio e São Joaquim, acrescentou-se o termo “da Barra” ao nome por causa do Córrego da Barra, divisor dos municípios de Ipuã e São Joaquim da Barra e pouso habitual de viajantes e tropeiros no percurso entre Ipuã e Nuporanga. O município surgiu no início do século XIX, devido ao “êxodo dos moradores do Sul da província de Minas Gerais, atraídos pela riqueza da terra, pelo clima agradável e boas aguadas. Nascia o povoado de São Joaquim quase 100 anos depois disto, em 1898”. Em 30 de maio de 1898, José Esteves de Lima e sua esposa Maria Teodora da Conceição assinaram a escritura de doação de patrimônio para a construção da primeira capela do povoado, que teve como padroeiro São Joaquim.   As obras foram iniciadas em 1901, e o distrito de São Joaquim foi criado pela Lei Estadual nº 859, de 6 de dezembro de 1902. O pequeno povoado passou então a receber inúmeras pessoas chegaram de territórios vizinhos ou distantes, entre elas italianos, espanhóis e portugueses. 

Inaugurada a Estação São Joaquim pela Cia. Mogiana de Estradas de Ferro, com a primeira casa de comércio impulsionaram a dinâmica do crescimento e progresso do município. Em 19 de dezembro de 1906 foi elevado a categoria de vila pela lei nº 1038. Criado o município pela lei estadual nº 1588 de 16 de dezembro de 1917, com território desmembrado de Orlândia, elevando sua sede à categoria de Cidade. Em 30 de novembro de 1944, pelo Decreto Lei Estadual nº 14374, o nome foi mudado para São Joaquim da Barra. Em 1979 a estação ferroviária foi desativada e substituída por outra afastada da cidade, os trilhos que passavam ao centro da cidade foram retirados e deram espaço ao que é a Av. Orestes Quércia. Empresário e político brasileiro Orestes Quércia (1938-2010) foi filiado ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro. Foi o 53º Governador do estado de São Paulo. Orestes Quércia mudou-se jovem com a sua família para Campinas, onde se formou em jornalismo. Era também advogado e administrador de empresas desde 1962 pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas.

De infância humilde em Pedregulho como entregador de leite e vendedor de doces na estação de trem, Quércia deixou um patrimônio avaliado em 1,5 bilhão aos seus herdeiros. Segundo o jornalista e escritor Elio Gaspari foi o primeiro político bilionário brasileiro. Filho do pedreiro Octávio Quércia e da lavradora Isaura Roque Quércia, Orestes Quércia morou em Pedregulho e a seguir em Campinas, para onde se mudou acompanhando a família e onde foi eleito vice-presidente do grêmio estudantil da Escola Normal Livre. À época, ingressou como repórter do Diário do Povo e foi aprovado no vestibular da Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, onde foi diretor do jornal do Centro Acadêmico 16 de Abril e fundou a Universidade de Cultura Popular, ligada à universidade. Locutor (1959 - 1963) da Rádio Cultura e da Rádio Brasil, trabalhou no Jornal de Campinas e na sucursal do Última Hora. A seguir, presidiu a Associação Campinense de Imprensa e trabalhou no Departamento de Estrada de Rodagem (DER) como assistente de produção. Orestes Quércia basicamente construiu sua carreira política no regime militar (1964-85), iniciou sua vida pública ao ser eleito vereador de Campinas pelo Partido Libertador em 1962. Representou um partido político que existiu durante dois períodos, de 1928 a 1937 e depois entre 1945 e 1965. Defendia o sistema parlamentarista de governo e o federalismo. Extinto o pluripartidarismo, optou pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB) tendo sido eleito deputado estadual em 1966 e prefeito de Campinas em 1968.

Em relação à sua gestão à frente da prefeitura, o Dicionário Histórico e Bibliográfico Brasileiro (DHBB) da Fundação Getúlio Vargas destaca o seguinte: Em sua gestão desenvolveu trabalhos através de planejamento coordenado com a Universidade Estadual de Campinas. Foi autor do projeto de avenidas expressas, pavimentou ruas e avenidas, aperfeiçoou o saneamento com a construção da terceira estação de tratamento de água e a elaboração do plano diretor de esgotos, urbanizou o parque Taquaral, na época o maior centro turístico do estado, construiu o chamado palácio dos Esportes e instalou praças de esportes nos bairros mais populosos. Criou ainda novos núcleos de habitação popular e a Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas. Após eleger seu sucessor Lauro Gonçalves na prefeitura em dezembro de 1972, Quércia passou a organizar diretórios do Movmento Democrático Brasileiro pelo interior paulista e disputou a convenção do partido como candidato ao Senado Federal em 1974 vencendo a disputa com Lino de Matos e Samir Achôa.

Naquele pleito, Quércia deu o seu grande salto político-eleitoral ao ser eleito senador com expressivos 4 630 182 votos representando 73,19% dos válidos, derrotando o então senador conservador arenista e candidato à reeleição apontado como favorito Carvalho Pinto – o qual recebeu apenas 1 696 340 votos (26,81% dos válidos). Na tribuna, Quércia foi crítico da política econômica do governo general Ernesto Geisel e em 1977 foi noticiada a ocorrência de casos de corrupção quando de sua passagem pela prefeitura de Campinas, porém tais afirmações ideológicas não foram comprovadas. Com o retorno ao pluripartidarismo, ingressou no PMDB em 1980 e declarou-se candidato à sucessão do governador Paulo Maluf em fevereiro de 1981, posição que manteria até que um acordo de última hora tornou-o candidato a vice-governador na chapa de Franco Montoro em 1982. Foi eleito vice-governador, mas ao contrário da imagem de unidade partidária apresentada durante a campanha, foi adversário constante de políticos peemedebistas ligados ao governador, não conseguindo, porém, impedir a nomeação do deputado federal Mário Covas como prefeito de São Paulo em 1983 e a eleição do senador Fernando Henrique Cardoso à presidência do diretório estadual do PMDB naquele mesmo ano.

Foi adepto das Diretas Já (1984), um movimento político de cunho popular que teve como objetivo a retomada das eleições diretas ao cargo de presidente da República no Brasil, durante a ditadura militar brasileira e da campanha vitoriosa de Tancredo Neves (1910-1985) à Presidência em 1985, ano em que se casou com a médica Alaíde Cristina Barbosa Ulson. Nesse ponto, estava em curso a sua candidatura a governador em 1986. Quando da derrota da Emenda Constitucional Dante de Oliveira na Câmara dos Deputados, foi um dos políticos que ingressaram com Mandado de Segurança junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar forçar a apreciação da proposta pelo Senado Federal, o que não obteve resultado prático algum. Após a vitória do ex-presidente Jânio Quadros (PTB) sobre Fernando Henrique Cardoso em novembro daquele ano, Quércia viu aumentar seu controle sobre o PMDB num movimento denominado de “quercismo” que garantiu sua indicação como candidato a governador apesar das dissidências internas. Candidato numa eleição inicialmente polarizada entre o então deputado federal Paulo Maluf e o empresário Antônio Ermírio de Morais e a qual ainda contava com a participação do deputado Eduardo Suplicy, do Partido dos Trabalhadores (PT) iniciou o embate com índices baixos nas pesquisas de opinião, entretanto manteve sua candidatura e afinal sagrou-se vitorioso em turno único com 5 578 795 votos, tendo conquistado 40,78% dos válidos. Entretanto, seu governo foi responsável pela duvidosa necessidade de privatização da empresa Viação Aérea São Paulo em 1990, ano em que elegeu Luiz Antônio Fleury Filho como seu sucessor.

Ipso facto o Fundo Social de Solidariedade forma o trabalho de Assistência Social de São Joaquim da Barra, onde diariamente são atendidas pessoas nos diferentes programas sociais como ocorre no trabalho de manicure, cabeleireiro, corte, costura, tricô, pintura em tecido e bordado, atendimento à gestante. Em termos hidráulicos que regem o transporte na cidade, a conversão de energia, a regulação e o controle do fluido agindo sobre suas variáveis, destacam-se a utilidade de uso e transformação de ferro, siderurgia e laminação, e per se na fabricação de peças para máquinas agrícolas, com finalidade de fabricação de calçados, e esmagamento de soja para óleo comestível. As usinas de açúcar e álcool são parte da economia do município. O comércio destaca-se pela variedade de atividades, tornando o município um ponto de referência para a região. De um total de 39.900 ha, o município tem uma área agricultável de 32.000 ha, sendo 23 mil de cultura de cana, 4 mil de cultura de soja, 2.600 de cultura de milho e 3 mil destinados às pastagens. O município possui 2.500 cabeças sendo a maioria gado cruzado e produtor que produz 1.500 litros de leite por dia e em torno de 44 mil litros de leite por mês.  

Aproximadamente 4.600 cabeças e produção de 73.600 arrobas de carne por ano. A média de suínos se mantém em torno sw 600 cabeças que são abatidas em torno de 150 cabeças/800 arrobas anuais.  Na avicultura a produção anual de 500.000 aves e peso de 900.00K/ano. A cidade não dispõe geograficamente grandes pontos turísticos, por assim dizer, “chamativos”, como os aspectos naturais. Mas ainda assim atrai turistas devido a festas e comemorações religiosas. Em maio, no final do mês acontece a tradicional Festa da Soja. Em junho, no primeiro final de semana, após a Festa da Soja e no mesmo recinto, realiza-se um festival ecumênico tendo como base a Musica Gospel. No mês de julho, comemora-se a Festa do Padroeiro São Joaquim, no dia 26, e posteriormente a tradicional Festa do Senhor Bom Jesus da Lapa. No mês de novembro entre ao dias 18 a 27 acontece a novena em ação de graças a Nossa Senhora das Graças. Anualmente ocorre a procissão de São Cristóvão, com veículos automotores. Em 2015 foram contabilizados, entre motos, automóveis de passeio, caminhões, e ônibus, mais de 12 mil veículos, que por horas desfilaram diante da imagem da santa padroeira para receber a benção anual.

Na história social da civilização todo povo que atinge um certo grau de desenvolvimento sente-se naturalmente inclinado à prática da educação. Ela é o princípio por meio do qual a comunidade humana conserva e transmite a sua peculiaridade tanto física quanto espiritual. Uma educação consciente pode mudar a natureza física do homem e suas qualidades, elevando-lhe a capacidade a um nível superior. Mas o espírito conduz progressivamente à descoberta de si mesmo e cria, pelo conhecimento do mundo exterior e interior, formas melhores de existência humana. A natureza do homem, na sua dupla estrutura corpórea e espiritual, cria condições especiais para a manutenção e transmissão da sua forma peculiar e exige organizações físicas e espirituais, ao conjunto dos quais damos o nome de educação. Nela, a educação, o homem com sua prática social, atua a mesma força vital, criadora e plástica, que espontaneamente impele todas as espécies vivas à conservação e propagação de seu tipo social. É nela, porém, que essa expressão social atinge o mais alto grau de intensidade, através do esforço consciente do conhecimento e da vontade, dirigida para a consecução de um fim. Em nenhuma parte, o influxo da comunidade nos seus membros tem maior força que no constante ato de educar, em conformidade com o próprio sentir, cada nova geração. A estrutura política assenta nas leis e normas escritas e não escritas que a unem e unem os seus membros.

É bem verdade que a liberdade no pensamento tem somente o puro pensamento por sua verdade; e verdade sem a implementação da vida. Por isso, para lembrarmos de Hegel, é ainda só o conceito da liberdade, não a própria liberdade viva. Com efeito, para ela a essência é só o pensar em geral, a forma coo tal, que afastando-se da independência das coisas retornou a si mesma. Mas porque a individualidade, como individualidade atuante, deveria representar-se como viva; ou, como individualidade pensante, captar o mundo vivo como um “sistema de pensamento”; teria de encontrar-se no pensamento mesmo, para aquela expansão do agir, um conteúdo do que é bom, e para essa expansão do agir, um conteúdo do que é bom, e para essa expansão do pensamento, um conteúdo do que é verdadeiro. Com isso não haveria, absolutamente nenhum outro ingrediente, naquilo que é para a consciência, a não ser o conceito que é a essência. O conceito enquanto abstração, separando-se da multiplicidade variada das coisas, não tem conteúdo nenhum em si mesmo, exceto um conteúdo que lhe é dado. A consciência, quando pensa o conteúdo, o destrói como um ser alheio; mas o conceito é conceito determinado e justamente essa determinidade é o alheio que o conceito possui nele. 

Esta unidade do existente, o que existe, e do que é em si é o essencial da evolução. É um conceito especulativo, esta unidade do diferente, do gérmen e do desenvolvido. Ambas estas coisas são duas e, no entanto, uma. É um conceito da razão. Por isso só todas as outras determinações são inteligíveis, mas o entendimento abstrato não pode conceber isto. O entendimento fica nas diferenças, só pode compreender abstrações, não o concreto, nem o conceito. Resumindo, teremos uma única vida a qual está oculta. Mas depois entra na existência e separadamente, na multiplicidade das determinações, e que com graus distintos, são necessárias. E juntas de novo, constituem um sistema. Essa representação é uma imagem da história da filosofia. O primeiro momento era o em si da realização, e em si do gérmen etc. O segundo é a existência, aquilo que resulta. Assim, o terceiro é a identidade de ambos, mais precisamente agora o fruto da evolução, o resultado de todo este movimento. E a isto Friedrich Hegel chama “o ser por si”. É o “por si” do homem, do espírito mesmo. Somente o espírito chega a ser verdadeiro por si, idêntico consigo. O que o espírito produz, seu objeto de pensamento, é ele mesmo. Ele é um desembocar em seu outro. É um desprendimento, um desdobrar-se, e por isso, ao mesmo tempo, um desafogo.

No que toca mais precisamente a um dos lados da educação, melhor dizendo, à disciplina, não se há de permitir ao adolescente abandonar-se a seu próprio bel-prazer; ele deve obedecer para aprender a mandar. A obediência é o começo de toda a sabedoria; pois, por ela, a vontade que ainda não conhece o verdadeiro, o objetivo, e não faz deles o seu fim, pelo que ainda não é verdadeiramente autônoma e livre, mas, antes, uma vontade despreparada, faz que em si vigore a vontade racional que lhe vem de fora, e que pouco a pouco esta se torne a sua vontade. O capricho deve ser quebrado pela disciplina; por ela deve ser aniquilado esse gérmen do mal. No começo, a passagem de sua vida ideal à sociedade civil pode parecer ao jovem como uma dolorosa passagem à vida de filisteu. Até então preocupado apenas com objetos universais, e trabalhando só para si mesmo, o jovem que se torna homem deve, ao entrar na vida prática, ser ativo para os outros e ocupar-se com singularidades, pois concretamente se se deve agir, tem-se de avançar em direção ao singular. Nessa conservadora produção do mundo consiste no trabalho do homem. Podemos, fora de dúvida, dizer que o homem só produz o que já existe. Por outro, é necessário que um progresso individual seja efetuado na vida. 

Mas o progredir no mundo só ocorrer nas massas, e só se faz notar em uma grande soma de coisas produzidas. É a característica preservada e atribuída ao ente cuja existência é não necessária, mas, ao mesmo tempo, não impossível - isto é, a sua realidade não pode ser demonstrada nem negada em termos abstratos definitivos. Dizer que são contingentes as proposições, e neste sentido que não contém um entendimento necessariamente verdadeiras nem necessariamente falsas é uma boutade. Há quatro classes de proposições, algumas das quais se sobrepõem: proposições necessariamente verdadeiras ou tautologias, que devem ser verdadeiras, não importam quais são ou poderiam ser as circunstâncias. Geralmente o que se entende por proposição necessária é a proposição “necessariamente verdadeira”. Proposições necessariamente falsas ou contradições, que devem ser falsas, não importam quais são ou poderiam ser as circunstâncias. Proposições contingentes, que não são necessariamente verdadeiras nem necessariamente falsas. Proposições possíveis, que são verdadeiras ou poderiam ter sido verdadeiras em certas circunstâncias. Enfim, todas as proposições necessariamente verdadeiras e todas as proposições contingentes também são proposições possíveis.

Talk show é um gênero de programa televisivo ou radialístico, em que uma pessoa ou um grupo de pessoas se junta e discute vários tópicos que são sugeridos e moderados por um ou mais apresentadores. Joe Franklin, o primeiro radialista e apresentador norte-americano, a apresentar um talk show. Seu programa começou em 1951 na antiga WABC-TV. Normalmente os convidados são pessoas que têm experiência em relação ao assunto que está sendo tratado no programa. Outras vezes um único convidado responde às perguntas do apresentador e/ou da plateia. Muitos apresentadores só se tornaram famosos por causa dos seus programas, mas também há o processo inverso, quando uma personalidade famosa decide ter seu próprio programa. Habitualmente, um talk show é uma espécie de rubrica de informação, uma forma de “conversação conversada” em oposição à “conversação textual”. Existe um público, na maioria das vezes, que observa tudo e tem direito de manifestação. São usadas técnicas de descontração e informalidade. Um jornalista realiza entrevistas coletivas e públicas em torno de um tema ou convidado. Caracteriza o talk show o sistema de perguntas e respostas, com uma mediação. Neste modelo, tanto a imprensa quanto o público podem perguntar. Opõe-se a palestra, seminário, debate, congresso e outros. Esse formato de programas teve origem nos Estados Unidos da América, que tem uma veiriedade de inúmeros programas do gênero em sua grade televisiva, para citarmos alguns exemplos: The Phil Donahue Show, The Jerry Springer Show, The Oprah Winfrey Show e The Tonight Show with Jay Leno, tendo sido transmitida em todo o país entre 1970 e 1996.

O conceito de sociedade está fundamentalmente ligado aos fatores territoriais, culturais, políticos e históricos que unem os seus indivíduos. Toda geração é assim o resultado da consciência viva de uma norma que rege uma comunidade humana, quer se trate da família, de uma classe social ou de uma profissão, quer se trate de um agregado mais vasto, como um grupo étnico ou um Estado. A educação participa na vida e no crescimento da sociedade, tanto no seu destino exterior como na sua estruturação interna e desenvolvimento espiritual; e, uma vez que o desenvolvimento social depende da consciência dos valões (níveis) que regem a vida humana, a história da educação está essencialmente condicionada pela transformação dos valões válidos para cada sociedade. À estabilidade das normas válidas corresponde a solidez dos fundamentos da educação. Da dissolução e destruição das normas advém a debilidade, a falta de segurança e até a impossibilidade absoluta de qualquer ação educativa. Acontece isto quando a tradição é violentamente destruída ou sofre decadência interna. Fora de dúvida, a estabilidade não é o indício seguro de saúde, porque reina também nos estados de rigidez senil, nos momentos finais de uma cultura: assim sucede na China confucionista pré-revolucionária, nos últimos tempos históricos da Antiguidade, nos derradeiros dias dos Judaísmo, em certos períodos da história da Igrejas, da arte e das escolas científicas. 

Segundo Jaeger (2011), é monstruosa a impressão gerada pela fixidez quase intemporal da história política do antigo Egito, através de milênios; mas também entre os Romanos e a estabilidade histórica comunal das relações sociais e políticas foi considerada como o valor mais alto e apenas se concedeu justificação limitada aos anseios e ideais inovadores. O Helenismo ocupa uma posição singular na história. Termópilas é um desfiladeiro localizado na Grécia Central que serviu de lugar praticado para a violenta batalha entre persas e espartanos. O conflito foi provocado pelo anseio do persa Xerxes de dominar o território e o povo espartano, o que foi negado pelo rei e general de Esparta de 491 a. C até a data de sua morte em 480 a.C. durante a batalha de Termópilas. Uma de suas ações mais importantes se deu por ocasião da invasão da Grécia pelos persas, em 481 a.C. Defendendo o desfiladeiro das Termópilas, que une a Tessália à Beócia, Leónidas e uma tropa de aproximadamente 7000 homens, sendo que apenas 300 eram espartanos, conseguiram repelir os ataques iniciais. Mas Xerxes I, rei da Pérsia, foi auxiliado pelo pastor Efialtes que o conduziu por um caminho que contornava o desfiladeiro, e pôde cercar o exército de Leónidas. Restavam apenas 300 espartanos e pouco mais de 1000 soldados tespienses e tebanos, que decidiram resistir lutando até a morte. Em 462 a.C. Efialtes foi responsável pela reforma do Areópago, controlado pela aristocracia, limitando o seu poder para julgar apenas os casos de homicídio e os casos de crimes religiosos.

Anteriormente ao século V a. C., o Areópago representava o conselho dos anciãos relativamente semelhante ao Senado romano. Entretanto, a origem do nome não é clara. Etimologicamente em grego antigo, πάγος pagos significa “grande pedaço de rocha”. Areios poderia ter vindo de Ares ou do Erinyes, pois em seu pé foi erguido um templo dedicado às Erínias onde os que eram considerados assassinos costumavam encontrar abrigo para não enfrentar as consequências de seus atos criminosos. Mais tarde, o Romanos referido à colina rochosa como “Mars Hill”, após Marte, a versão romana do deus grego da guerra. Perto do Areópago também foi construída a basílica de Areopagitas Dionísio. Comparativamente sua composição era restrita aos que pelo status ocuparam cargos públicos importantes, neste caso o de Arconte. Em 594 a. C, o Areópago concordou em transferir suas funções para Solon para reforma. Ele instituiu reformas democráticas, reconstituiu seus membros e devolveu o controle à organização. Sob as reformas de Clístenes promulgadas em 508/507 a. C, o Boule (βουλή) ou conselho, foi expandido de 400 para 500 homens, e foi formado por 50 homens de cada um dos dez clãs ou phylai (φυλαί). Em 462 a. C., Efialtes passou por reformas que privaram o Areópago de quase todas as suas funções, exceto a de um tribunal de homicídio em favor de Heliaia, o tribunal supremo da Atenas antiga. A opinião generalizada entre os acadêmicos é de que a origem de seu nome é o verbo Ήλιάζεσθαι, que significa συναθροίζεσθαι, “congregar”. Esta medida foi impopular entre os aristocratas e levou ao seu assassinato em 461 a. C.

A investigação moderna abriu o horizonte da história. A oikoumene dos Gregos e Romanos clássicos, que durante dois mil anos coincidiu com os limites do mundo, foi rasgada em todos os sentidos do espaço e perante o nosso olhar surgiram mundos espirituais até então insuspeitados. Quando deixa de ser um povo particular e nos inscreve como membros num vasto círculos de povos, começa a aparição dos Gregos. Foi por essa razão que a esse grupo de povos Werner Jaeger (2005) designou de helenocêntrico. É este o motivo porque, no decurso de nossa história, voltamos constantemente à Grécia. Este retorno e espontânea renovação e influência não significa que tenhamos conferido, pela grandeza espiritual, uma autoridade imutável, fixa e independente do nosso destino. O fundamento de nosso regresso reside nas próprias necessidades vitais, por mais variadas que elas sejam através da História. É claro que, para nós e para cada um dos povos deste círculo, a Grécia e Roma aparecem como algo de radicalmente estranho. Esta separação analítica funda-se em parte no sangue e no sentimento, em parte na estrutura do espírito e das instituições, e ainda na diferença da respectiva situação histórica; mas entre esta separação e a que sentimos ante os povos orientais, distintos pela sua raça e pelo espírito, a diferença é gigantesca. Não se trata inclusive de um sentimento  de parentesco racial. É preciso distinguir a história nesse sentido quase antropológico da história que se fundamenta na união espiritual viva e ativa e na comunidade de um destino, quer seja o da própria condição social de povo, quer o de um grupo de povos estreitamente unidos. 

Só nesta particularidade histórica e da sociedade se tem uma íntima compreensão e contato criador entre uns e outros. Só nela existe uma comunidade de ideais e de formas sociais e espirituais que se desenvolvem e crescem independentes das múltiplas interrupções e mudanças através das quais varia, se cruza, choca, desaparece e se renova uma família de povos diversos na genealogia.   Esta comunidade existe na totalidade dos povos ocidentais e entre estes e a Antiguidade clássica. Se considerarmos a história nesse sentido profundo, no sentido de uma comunidade radical, não poderemos supor-lhe como cenário o planeta inteiro e, por mais que alarguemos os nossos horizontes geográficos, as fronteiras dessa história jamais poderão ultrapassar a antiguidade daqueles que há vários milênios traçaram seu destino. Não é possível dizer até quando a Humanidade continuará a crescer na unidade de sentido que tal destino lhe assinala, pois o objetivo teórico e histórico de Werner Jaeger é apresentar a formação do homem grego, a paidéia, no seu caráter particular e no seu desenvolvimento histórico. Não se trata de um conjunto de ideias abstratas em sua generalidade, mas da própria história da Grécia na realidade concreta do seu destino vital. Contudo, essa história vivida já teria desaparecido há longo tempo se o homem grego não a tivesse criado na sua forma perene. A ideia de educação representava sentido do esforço humano. Era a justificação da comunidade e individualidade humana.

Mesmo os imponentes monumentos da Grécia arcaica são perfeitamente inteligíveis a esta luz, pois foram criados no mesmo espírito que os gregos consideraram a totalidade de sua obra criadora em relação aos outros povos da Antiguidade de que foram herdeiros. Augusto concebeu a missão do Império Romano em função da ideia da cultura grega. Sem a concepção grega da cultura não teria existido a Antiguidade como unidade histórica e mundo ocidental. É historicamente indiscutível que foi a partir do momento em que os gregos situaram o problema da individualidade no cimo de seu desenvolvimento filosófico que principiou a história da personalidade europeia. Roma e o Cristianismo agiram sobre ela. E da inserção desses fatores brotou o fenômeno do Eu individualizado. Mas não podemos entender de modo radical e preciso a posição do espírito grego na história da formação dos homens, se tomarmos um ponto de vista moderno. Vale mais partir, segundo Werner Jaeger, da constituição rácica do espírito grego. A vivacidade espontânea, a sensibilidade sutil da mobilidade, a íntima liberdade que, embora tenham parecido condições do rápido desabrochar daquele povo na inesgotável riqueza de formas que nos surpreende e espanta ao contato com os escritores gregos de todos os tempos, dos mais primitivos aos mais modernos, não tem as suas raízes no cultivo da subjetividade, como atualmente acontece; pertencem à sua natureza. Os gregos tiveram o sentido inato do que significa natureza. Sendo o conceito elaborado por eles em primeira mão, tem indubitável origem na sua constituição espiritual.

Muito antes de o espírito grego ter delineado essa ideia, eles já consideravam as coisas do mundo numa perspectiva tal que nenhuma delas lhes aparecia como parte isolada do resto, mas sempre como um todo ordenado em conexão viva, na e pela qual tudo ganhava posição e sentido. Esta concepção é orgânica, porque nela todas as partes são consideradas membros de um todo. Sua tendência é clara de apreensão das leis do real. O estilo e a visão artística entre eles surgem, em primeiro lugar, como talento estético. Assentam num instinto e num simples ato de visão, não na deliberada transferência de uma ideia para o reino da criação artística. A idealização da arte, no entanto, só mais tarde aparece, no período clássico. Até na oratória grega encontramos os mesmos princípios formais que vemos na cultura ou na arquitetura. As formas literárias dos gregos surgem organicamente, na sua multíplice variedade e elaborada estrutura, das formas naturais e ingênuas pelas quais o homem exprime a sua vida, elevando-se daí à esfera ideal da arte e do estilo. Também na oratória, a sua aptidão para dar forma a um plano complexo e lucidamente articulado deriva simplesmente do sentido espontâneo e madurecido das leis que governam o sentimento, o pensamento e a linguagem, o lugar onde esta ideia reaparece mais tarde na história, ela é uma herança dos gregos, e aparece sempre que o espírito humano abandona a ideia de um adestramento em função de fins exteriores e reflete na essência a própria educação. O fato de os gregos terem esta tarefa, como grandiosa e difícil, e se consagrado a ela com ímpeto sem igual não se explica nem pela sua visão artística nem pelo espírito teórico.

Mesmo os imponentes monumentos da Grécia arcaica são perfeitamente inteligíveis a esta luz, pois foram criados no mesmo espírito que os gregos consideraram a totalidade de sua obra criadora em relação aos outros povos da Antiguidade de que foram herdeiros. Augusto concebeu a missão do Império Romano em função da ideia da cultura grega. Sem a concepção grega da cultura não teria existido a Antiguidade como unidade histórica e mundo ocidental. É historicamente indiscutível que foi a partir do momento em que os gregos situaram o problema da individualidade no cimo de seu desenvolvimento filosófico que principiou a história da personalidade europeia. Roma e o Cristianismo agiram sobre ela. E da inserção desses fatores brotou o fenômeno do Eu individualizado. Mas não podemos entender de modo radical e preciso a posição do espírito grego na história da formação dos homens, se tomarmos um ponto de vista moderno. Vale mais partir, segundo Werner Jaeger, da constituição rácica do espírito grego. A vivacidade espontânea, a sensibilidade sutil da mobilidade, a íntima liberdade que, embora tenham parecido condições do rápido desabrochar daquele povo na inesgotável riqueza de formas que nos surpreende e espanta ao contato com os escritores gregos de todos os tempos, dos mais primitivos aos mais modernos, não tem as suas raízes no cultivo da subjetividade, como atualmente acontece; pertencem à sua natureza. Os gregos tiveram o sentido inato do que significa natureza. Sendo o conceito elaborado por eles em primeira mão, tem indubitável origem na sua constituição espiritual.

Muito antes de o espírito grego ter delineado essa ideia, eles já consideravam as coisas do mundo numa perspectiva tal que nenhuma delas lhes aparecia como parte isolada do resto, mas sempre como um todo ordenado em conexão viva, na e pela qual tudo ganhava posição e sentido. Esta concepção é orgânica, porque nela todas as partes são consideradas membros de um todo. Sua tendência é clara de apreensão das leis do real. O estilo e a visão artística entre eles surgem, em primeiro lugar, como talento estético. Assentam num instinto e num simples ato de visão, não na deliberada transferência de uma ideia para o reino da criação artística. A idealização da arte, no entanto, só mais tarde aparece, no período clássico. Até na oratória grega encontramos os mesmos princípios formais que vemos na cultura ou na arquitetura. As formas literárias dos gregos surgem organicamente, na sua multíplice variedade e elaborada estrutura, das formas naturais e ingênuas pelas quais o homem exprime a sua vida, elevando-se daí à esfera ideal da arte e do estilo. Também na oratória, a sua aptidão para dar forma a um plano complexo e lucidamente articulado deriva simplesmente do sentido espontâneo e madurecido das leis que governam o sentimento, o pensamento e a linguagem, o lugar onde esta ideia reaparece mais tarde na história, ela é uma herança dos gregos, e aparece sempre que o espírito humano abandona a ideia de um adestramento em função de fins exteriores e reflete na essência a própria educação. O fato de os gregos terem sentido esta tarefa como algo grandioso e difícil e se terem consagrado a ela com ímpeto sem igual não se explica nem pela sua visão artística nem pelo espírito teórico.

Desde as primeiras notícias que se disseminam na história da filosofia e que se têm deles, encontramos o homem no centro do seu pensamento. A forma humana dos seus deuses, o predomínio evidente do problema da forma humana na sua escultura e na sua pintura, o movimento consequente da filosofia desde o problema do cosmos até o problema do homem, que culmina em Sócrates, Platão e Aristóteles; a sua poesia, cujo tema inesgotável desde Homero até os últimos séculos é o homem e o seu duro destino no sentido pleno da palavra; e, finalmente, o Estado grego, cuja essência só pode ser correspondida sob o ponto de vista da formação do homem e da sua vida inteira: o grego é o antropoplástico. Tudo são raios de uma única e mesma luz, expressões de um sentimento vital antropocêntrico que não pode ser explicado nem derivado de nenhuma outra coisa e que penetra todas as formas do espírito grego. Assim, impossível não admitir que, entre os povos, a língua de Homero é, naturalmente, um problema em si. Mas adverte: trata-se de uma língua que ninguém nunca falou, afirma Knox (2011). É uma língua artificial, poética – como propõe o estudioso alemão Witte, “a língua dos poemas homéricos é uma criação de versos épicos”. Era também uma língua difícil. Para os gregos da era dourada, o século V a. C., no qual inevitavelmente pensamos quando dizemos “os gregos”, o idioma de Homero estava longe de ser claro e era repleto de arcaísmos, no vocabulário, na sintaxe e na gramática, e incongruências: palavras e formas extraídas de diferentes dialetos e estágios de desenvolvimento da língua. 

Desde as primeiras notícias que se disseminam na história da filosofia e que se têm deles, encontramos o homem no centro do seu pensamento. A forma humana dos seus deuses, o predomínio evidente do problema da forma humana na sua escultura e na sua pintura, o movimento consequente da filosofia desde o problema do cosmos até o problema do homem, que culmina em Sócrates, Platão e Aristóteles; a sua poesia, cujo tema inesgotável desde Homero até os últimos séculos é o homem e o seu duro destino no sentido pleno da palavra; e, finalmente, o Estado grego, cuja essência só pode ser correspondida sob o ponto de vista da formação do homem e da sua vida inteira: o grego é o antropoplástico. Tudo são raios de uma única e mesma luz, expressões de um sentimento vital antropocêntrico que não pode ser explicado nem derivado de nenhuma outra coisa e que penetra todas as formas do espírito grego. Assim, impossível não admitir que, entre os povos, a língua de Homero é, naturalmente, um problema em si. Mas adverte: trata-se de uma língua que ninguém nunca falou, afirma Knox (2011). É uma língua artificial, poética – como propõe o estudioso alemão Witte, “a língua dos poemas homéricos é uma criação de versos épicos”. Era também uma língua difícil. Para os gregos da era dourada, o século V a. C., no qual inevitavelmente pensamos quando dizemos “os gregos”, o idioma de Homero estava longe de ser claro e era repleto de arcaísmos, no vocabulário, na sintaxe e na gramática, e incongruências: palavras e formas extraídas de diferentes dialetos e estágios de desenvolvimento da língua. 

Na realidade, ninguém nem sonharia em empregar a linguagem de Homero, à exceção dos bardos épicos, sacerdotes oraculares e parodistas eruditos. Isso não significa que Homero fosse um poeta conhecido apenas de eruditos e estudantes; pelo contrário, os épicos homéricos eram familiares como as palavras do cotidiano dos gregos comuns. Conservaram sua influência na língua e na imaginação dos gregos por sua excelente qualidade literária – a simplicidade, rapidez e objetividade da técnica narrativa, a genialidade e emoção, a grandeza e a tocante humanidade dos personagens – e por conceder aos gregos, de forma memorável, imagens de seus deuses e do saber ético, político e prático de sua tradição cultural. As maiores obras do helenismo são monumentos de uma concepção do Estado de grandiosidade sem par, cuja cadeia se desenrola numa série ininterrupta, desde a idade heroica de Homero até o Estado autoritário de Platão, dominado pelos filósofos, e no qual o indivíduo e a comunidade social travam a sua última batalha no tereno da filosofia. Todo o futuro humanismo deve estar essencialmente orientado para o fato fundamental de toda a educação grega, a saber: que a humanidade, o “ser do Homem” se encontravam essencialmente vinculado às características do homem como ser político. O fato de os homens mais importantes da Grécia se considerarem a serviço da comunidade é índice da íntima conexão que tem a vida. No entanto, os grandes homens da Grécia, comparativamente, não se manifestam como profetas de Deus, mas antes de forma singular, como mestres independentes do povo e formadores dos seus ideais.

É considerada pelos seus autores, com vigor infatigável, uma função social. A trindade grega do poeta, do homem de Estado e do sábio encarna a mais alta direção da nação. É a íntima  liberdade, a qual se sente vinculada por conhecimento, e até pela mais alta lei divina, a serviço da totalidade, que se desenvolveu o gênio criador dos gregos até chegar à sua plenitude educadora, acima do virtuosismo intelectual e artístico da moderna civilização individualista. Seria necessário escrever uma história da arte grega que essente como espelho dos ideais que dominam a sua vida. Também se deve dizer que até o século IV a arte grega é a expressão do espírito da comunidade. Não é possível compreender o ideal agônico, revelado nos cantos pindáricos aos vencedores, sem conhecer as estátuas que nos demonstram os vencedores olímpicos na sua encarnação corporal, ou as dos deuses, como encarnação das ideias gregas sobre a dignidade da alma e do corpo humanos. O templo dórico é sem dúvida, o mais grandioso monumento que deixou à posteridade o gênio dórico e o seu ideal de estrita subordinação do individual à totalidade.

Habita nele a força poderosa que torna historicamente atual a vida de outrora que ele eterniza, e a fé religiosa que o inspirou. Sem dúvida, os verdadeiros representantes da paidéia grega não são os artistas mudos – escultores, pintores, arquitetos -, mas os poetas e os músicos, os filósofos, os retóricos e os oradores, quer dizer, os homens de Estado. No pensamento grego, o legislador encontra-se, em certo aspecto, muito mais próximo do poeta que o artista plástico: é que ambos têm uma missão educadora, e só o escultor que forma o homem vivo tem direito a esse título. Assim, a história da educação grega, para o que nos interessa, coincide substancialmente com a da literatura. Esta é, no sentido originário que lhe deram os seus criadores, a expressão do processo de autoformação do homem grego. Independentemente disto, não possuímos nenhuma tradição escritas dos séculos anteriores à idade clássica além do que nos resta dos seus poemas. Assim, mesmo tomando a história no seu mais amplo sentido, uma só coisa nos torna acessível a compreensão daquele período: a evolução e a formação do homem na poesia e na arte. A história determinou que só isso ficasse da essência inteira do homem. Não podemos traçar o processo de formação dos gregos daquele tempo senão a partir do ideal de homem que precisamente formaram. Mutatis mutandis - um apresentador representa uma pessoa que introduz ou comanda um programa de televisão ou segmentos do mesmo.

Mas, é comum que celebridades de outras áreas assumam esse papel, mas algumas pessoas fizeram seu nome unicamente dentro do campo da apresentação, tornando-se grandes personalidades da televisão. Em sua forma original, o papel do apresentador de televisão era essencial, clássico e extremamente formal, mas rapidamente se tornou um papel mais amplo, frequentemente sendo exercido por jornalistas, atores e divulgadores mais descontraídos. O papel do apresentador de televisão adquiriu cada vez mais prestígio e importância ao longo dos anos, e, com a popularização da televisão (cf. Chesnaux, 1989; Bounanno, 2006) e decorrente ampliação do público, tornou-se cada vez mais empático, com a tarefa de representar tanto o público do programa como a rede de televisão mediante a qual atua.  Alguns apresentadores podem se dividir como atores, modelos, músicos, comediantes, etc. Outros podem ser especialistas em determinado assunto, servindo como apresentadores de um programa sobre sua área de especialização, por exemplo, como ocorre, por exempolo com a jornalista especializada em economia Miriam Leitão, o famoso historiador português José Hermano Saraiva, ou o chef bósnio naturalizado Ljubomir Stanisic. Algumas são celebridades que fizeram seu nome em uma área e, em seguida, aproveitam sua fama para se envolver em outras áreas ordinariamente enredadas.

Vale lembrar que Antoine Lilti (2018) os apresenta na encruzilhada da sociedade da corte e da vida intelectual, ao mesmo tempo em que enfatiza seu papel fundamental no início da Revolução Francesa . Por exemplo, o salão Choiseul em Chanteloup é objeto, no Le Monde des Salons, de um estudo aprofundado de Lilti. Este é descrito como um “nó onde se cruzam os fluxos de informação do tribunal, do mundo literário, dos cafés e dos jornalistas” (Éric Saunier) 10e um pool de oponentes e oposições. Além disso, Lilti quer contradizer uma visão excessivamente idealizada – às vezes tingida de nostalgia – de salões onde estes são considerados apenas pelo seu aspecto filosófico e intelectual. Ele enfatiza as dimensões mundanas e triviais (jogos, refeições, shows 13 ): Roger Chartier explica que Antoine Lilti, os salões “não são tanto lugares para exercícios filosóficos, mas oportunidades para compartilhar os prazeres e jogos do mundanismo”. Seu livro Le Monde des salons (2005) foi traduzido para o inglês por Lydia Cochrane em 2015, sob o título “O mundo dos salões: sociabilidade e mundanismo na Paris do século XVIII”, na imprensa da Oxford Universidade. Ainda ligada ao Iluminismo e à Revolução Francesa, Lilti estudou, em Public Figures (2014), o nascimento histórico do conceito moderno de celebridade que tem como primícias de seu significado em emados do século XVIII. Neste livro, o historiador se propõe a estudar “as figuras públicas que desde a década de 1750 até cerca de 1850 marcaram a opinião europeia e americana”. 

Analisa as celebridades de Rousseau transportado pelo sucesso de La Nouvelle Héloïse, de Voltaire (Lilti retorna à sua “coroação” na Comédie-Française em março de 1778) do comediante Janot. Lilti explica que alguns autores contemporâneos à Voltaire e Janot lamentaram que um filósofo e um ator de boulevard pudessem ter uma celebridade equivalente. Assim, a fama é vista “como uma força que 'nivela', que apaga as distinções legítimas entre esferas de atividade”. Uma ligação com sua obra sobre o mundo dos salões seria a da distinção entre as noções de público e privado, e do comentário à obra do teórico Jürgen Habermas sobre esses conceitos.Na introdução do livro, Antoine Lilti propõe diferenciar entre glória, reputação e celebridade. As duas primeiras são as características do tradicional latim fama. Enquanto o terceiro é mais moderno. Ele detalha que a glória se refere aos heróis antigos e à comemoração dos gloriosos mortos e que a reputação é “em grande parte independente” da celebridade. Para descrever a celebridade, Lilti cita uma historicamente uma velha e importante fórmula: “uma pessoa famosa é conhecida por pessoas que não têm motivos para opinar sobre ela”. A celebridade diz respeito então a um público mais amplo, variado, contemporâneo à pessoa. Esse público costuma estar ávido por detalhes sobre a vida privada dessas celebridades e “busca construir um vínculo afetivo com elas”. Lilti se propõe a compreender a notoriedade do ator François-Joseph Talma (1763-1826) com esta “chave de leitura”. Mas também as figuras David Garrick e Sarah Siddons na Inglaterra, ou mesmo Miss Clairon na França.

Exemplos deste último grupo incluem a cantora brasileira Karol Conka, que apresentou o programa Superbonita, destinado ao público feminino, e o comediante estadunidense Joe Rogan, que atua como comentarista e entrevistador pós-luta no Ultimate Fighting Championship (UFC) represenmta uma organização de Artes Marciais Mistas (MMA) que produz eventos ao redor de todo o mundo. Atualmente, UFC é a maior e mais popular organização no mundo, reconhecida por ter os melhores lutadores do mundo de MMA. O UFC possui doze categorias de peso (oito masculinas e quatro femininas) e mais de quinhentos lutadores de setenta e um países, tendo realizado mais de quinhentos eventos desde 1993. Tem sua base atualmente em Las Vegas nos Estados Unidos da América. Pertence e é operado pela Zuffa uma subsidiária integral do Grupo Endeavor. O UFC também já se destacou pragmaticamente nos cinemas e outras mídias de empreendimentos comerciais, e além disso, também existem jogos eletrônicos licenciadas pelas empresas para produzir jogos.O primeiro evento promovido pelo UFC ocorreu em Denver, Colorado em 1993, criado pelo executivo Art Davie e pelo artista marcial brasileiro Rorion Gracie. A proposta era identificar a arte marcial mais efetiva, em uma luta entre competidores de diferentes tipos de luta, incluindo jiu-jitsu brasileiro, boxe, wrestling, muay thai, judô, karatê, tae kwon do, entre outras, em um evento sem regras. Resultando na vitória extraordinária do jiu-jitsu pelo brasileiro Royce Gracie.

Em eventos subsequentes, passaram-se a adotar técnicas efetivas de mais de um tipo de luta, e novas regras foram implementadas, resultando no desenvolvimento das Artes Marciais Mistas (MMA). O UFC era inicialmente propriedade do Semaphore Entertainment Group (SEG) até que teve problemas financeiros e foi vendido aos irmãos Frank e Lorenzo Fertitta em 2001, que formaram a empresa Zuffa para operar o UFC, e instalaram Dana White como presidente da empresa. Em 2016 o UFC foi vendido ao Grupo Endeavor por $4 bilhões. Em 2023 a Endeavor também comprou a promoção de Luta Livre Profissional WWE. O UFC se fundiria com a WWE para formar o TKO Group Holdings, uma nova empresa pública de propriedade majoritária da Endeavor, com Vince McMahon atuando como presidente executivo da nova entidade e White permanecendo como presidente do UFC. Com um acordo de televisão a cabo e expansão para Canadá, Europa, Austrália, o Oriente Médio, Ásia, Brasil e novos territórios nos Estados Unidos, o UFC foi ganhando popularidade, junto com muita cobertura da mídia. Desde 2001, os telespectadores podem ver o UFC em pay-per-view nos EUA, Brasil, Austrália, Canadá, Nova Zelândia e Itália. Nos EUA, também é transmitido pela ESPN, pelo seu serviço de streaming ESPN+ e pela rede ABC. A ESPN também transmite o UFC no Reino Unido e na Irlanda, assim como do ponto de vista da comunicação social de mercado globalizada em 150 países em 22 diferentes línguas ao redor do mundo.

O Ultimate Fighting Championship (UFC) planeja continuar sua expansão  mundial, apresentando shows constantemente no Reino Unido, formado por Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte, é uma nação insular situada no Noroeste da Europa, no Canadá e no Brasil, estabilizando escritórios na Europa e no Brasil. O UFC também já realizou eventos na Alemanha, na Austrália e nos Emirados Árabes, com planos para realizar eventos no México, nas Filipinas e no Afeganistão. O UFC também já comprou e absorveu organizações rivais como PRIDE Fighting Championships, World Extreme Cagefighting e Strikeforce. A transmissão do UFC no Brasil, curiosamente ocorre por contrato ou espécie de joint ventures de serviço de streaming próprio do UFC, o UFC Fight Pass, e na TV Aberta pela Rede Bandeirantes. Em Portugal a BTV (Benfica TV), anunciou em julho de 2015 o exclusivo para Portugal. Nos Estados Unidos da América e outros países anglófonos, tal pessoa é tipicamente chamada de host. No Brasil, de modo geral, são chamados de apresentadores. No caso dos comandantes de programa de auditório, também podem ser reconhecidos do ponto de vista tenico-metodológico como animadores. No contexto dos noticiários de TV, eles são conhecidos como âncoras.

Como um apanhado algo sumário do que se apurou até aqui na investigação empírico-teórica das transformações civilizatória acerca de seu próprio direcionamento, pode-se dizer que dentre os principais critérios para um processo de civilização estão as transformações do habitus social dos seres humanos na direção de um modelo de autocontrole mais bem proporcionado, universal, estável. Mas o que é decisivo é que estes conceitos portam o selo não de seitas ou famílias, mas de povos inteiros, ou talvez apenas de certas classes. Mas, em muitos aspectos, o que se aplica a palavras específicas de grupos menores estende-se também a eles: são usados basicamente por e para povos que compartilham uma tradição e situação particulares, polindo-os na fala e na escrita. É neste sentido comparativo que o conceito de civilização minimiza as diferenças nacionais entre os povos. Manifesta a autoconfiança de povos cujas fronteiras nacionais e identidade nacional forma plenamente estabelecidas, desde séculos, que deixaram de ser tema de qualquer discussão, pois há povos em que há mito se expandiu fora de suas fronteiras e colonizaram terras além delas. Em contraste, o conceito alemão Kultur dá ênfase especial a diferenças nacionais e à identidade particular de grupos. O conceito adquiriu em campos como a pesquisa etnológica e antropológica uma significação muito além da área linguística alemã e da situação em que se originou o conceito.

Comparativamente enquanto o conceito de civilização inclui a função social de dar expressão a uma  tendência continuamente expansionista de grupos colonizadores, os últimos 500 anos, por exemplo, o conceito de Kultur reflete a consciência de si mesma de uma nação que teve de buscar e constituir incessante e novamente suas fronteiras, tanto no sentido político como no espiritual. A orientação do conceito alemão de cultura, para Norbert Elias, com sua tendência à demarcação e ênfase em diferenças, e no seu detalhamento, entre grupos, corresponde a este processo histórico.  A história coletiva neles se cristalizou e ressoa. O indivíduo encontra essa cristalização já em suas possibilidades de uso. Não sabe bem por que este significado e esta delimitação estão implicadas nas palavras, por que, exatamente, esta nuance e aquela possibilidade delas podem ser derivadas. Usa-as porque lhe parece uma coisa natural, porque desde a infância aprende a ver o mundo através da lente dos conceitos. A sobrevivência do sistema de crenças no chamado Novo Mundo é notável, embora as tradições tenham se modificado com o tempo. Uma das maiores diferenças entre o vodu da África Ocidental e o haitiano é que os africanos “transplantados” ao Haiti, conforme a tipologia clássica na antropologia das civilizações de Darcy Ribeiro, de forma praticamente inédita correspondentes às nações criadas pela migração europeia para novos espaços mundiais, procuram reconstituir formas idênticas às de origem.

O conceito de figuração distingue-se de muitos outros conceitos teóricos da sociologia de Elias por incluir expressamente os seres humanos em sua formação. Contrasta, portanto, decididamente com um tipo amplamente dominante de formação de conceitos que se desenvolve sobretudo na investigação de objetos sem vida, portanto no campo da física e da filosofia para ela orientada. Há figurações de estrelas, assim como de plantas e de animais. Mas apenas os seres humanos formam figurações uns com os outros. O modo de sua vida conjunta em grupos grandes e pequenos é, de certa maneira, singular e sempre co-determinado pela transmissão histórica e social de conhecimento de uma geração a outra, portanto por meio do ingresso do singular no mundo simbólico específico de uma figuração já existente dos seres humanos. Às quatro dimensões espaço-temporais indissoluvelmente ligadas se soma, no caso dos seres humanos, uma quinta, a dos símbolos socialmente aprendidos. Sem sua apropriação, sem, por exemplo, o aprendizado de uma determinada língua especificamente social, os seres humanos não seriam capazes de se orientar no seu mundo nem de se comunicar uns com os outros. Um bom exemplo pode ser referido ao humano adulto, que não teve acesso aos símbolos da língua e do conhecimento de determinado grupo humano permanece fora de todas as figurações humanas e, portanto, não é e nem pode ser considerado um ser humano.

O crescimento de um jovem em figurações humanas, por outro lado, como processo e experiência, assim como o aprendizado de um determinado esquema de autorregularão na relação intrínseca com os seres humanos, é condição indispensável do desenvolvimento rumo à humanidade. Socialização e individualização de um ser humano são, portanto, nomes diferentes para o mesmo processo. Cada ser humano assemelha-se aos outros e é, ao mesmo tempo, diferente de todos os outros. O mais das vezes, as teorias sociológicas deixam sem resolver o problema da relação entre indivíduo e sociedade. Em seu ersatz o convívio dos seres humanos em sociedades tem sempre, mesmo no caos, na desintegração, na maior desordem social, uma forma absolutamente determinada. É isso o que o conceito de figuração exprime. Uma geração os transmite a outra sem estar consciente do processo como um todo, e os conceitos sobrevivem enquanto esta cristalização de experiências passadas e situações retiver um valor existencial, uma função na existência concreta da sociedade – isto é, enquanto gerações sucessivas puderem identificar suas próprias experiências no significado das palavras. Em outras ocasiões, eles apenas adormecem, ou o fazem em certos aspectos, e adquirem um novo valor existencial com uma nova situação. São relembrados porque alguma coisa encontra expressão na cristalização do passado corporificada nas palavras.

As novas relações econômicas e a necessidade de desenvolvimento motivaram entes subnacionais a se relacionar e cooperar com o mundo civilizado exterior. As novas tecnologias da informação, os avanços nas telecomunicações, a diminuição nos custos de transporte de cargas e pessoas também contribuíram para essa mudança, afinal tornaram o plano internacional mais acessível. Ipso facto, a dimensão metodológica do conceito de processo social refere-se às transformações amplas, contínuas, de longa duração – ou seja, em geral não aquém de três gerações - de figurações formadas por seres humanos, ou de seus aspectos, em uma de duas direções opostas. Uma delas tem, geralmente, o caráter de uma ascensão, a outra o caráter decorrente de um declínio. Em ambos os casos, os critérios são puramente objetivos. Eles independem do fato de o respectivo observador os considerar bons ou ruins. Exemplos disso são, comparativamente, a diferenciação crescente e decrescente de funções sociais, o aumento ou a diminuição do chamado “capital social”, ou melhor, do patrimônio social do saber, do nível de controle humano sobre a natureza não-humana ou da compaixão por outros homens, pertençam eles ao grupo estabelecido que for. Um deles pode tornar-se dominante, ou caber ao outro manter o equilíbrio. Assim um processo dominante, direcionado a uma maior integração, pode, sucessivamente, andar de par com uma desintegração parcial. Mas, inversamente, um processo dominante de desintegração social, como exemplo, o processo de “feudalização” pode conduzir sob certas condições a uma reintegração sob novas bases, a princípio parcial e a seguir dominante; portanto, a um novo processo de formação do Estado.

O drama de uma vida humana individual, ou da história social e política da humanidade como um todo, não é um drama estaiado em que uma meta preexistente seja triunfalmente atingida ou tragicamente não alcançada. Nem uma realidade externa constante nem tampouco uma infalível fonte interna de inspiração compõem o pano de fundo desses dramas. Ao contrário, ver a própria vida ou a vida da comunidade como uma narrativa dramática é vê-la com um processo de auto-superação nietzschiana. O paradigma dessa narrativa é a vida do gênio capaz de dizer “eu quis assim”. Sobre a parte relevante do passado, por ter encontrado um modo de descrever esse passado. E que o próprio passado jamais reconheceu e, ter descoberto um eu, de maneira afirmativa, para compreender que seus precursores nunca souberam ser possível. Nessa cosmovisão nietzschiana, o impulso de pensar, indagar e tecer outra vez a si mesmo, de maneira cada vez mais minuciosa, não é simplesmente o assombro, mas o pavor. Hume (2009) sustenta filosoficamente que nossas ideias representam imagens de nossas impressões, pois assim também podemos formar ideias secundárias, que são imagens das primárias. Não se trata de mais uma exceção à regra, mas de uma explicação. Agatha Christie, tinha uma relação muito próxima com o editor Billy Collins, responsável pelas publicações da escritora na Harper Collins. Em correspondências descobertas recentemente, não só a relação amistosa, mas também as desavenças, ficam evidentes em alguns momentos.

         Essas correspondências provam que, além da proximidade, os dois também tinham divergências. Em mais de uma situação, o editor e a escritora discordaram sobre as capas dos livros. Um dos exemplos mais emblemáticos foi quando a Rainha do Crime detestou a capa de Os Doze Trabalhos de Hércules, mas Bill Collins a publicou mesmo assim. - “O design da capa de Hércules ocasionou as observações e sugestões mais complicadas e obscenas da minha família. Tudo o que posso dizer é: tente novamente!”, argumentou a escritora no escrito. Em outra situação, um de seus livros foi publicado antes da aprovação final. Entertanto, ela viu o exemplar de seu último lançamento nas mãos de um fã, que a cumprimentou pelo trabalho. Agatha Christie ficou furiosa: - “Acho que está tratando seus  autores de forma vergonhosa”, escreveu carta para Collins. Contudo, evidentemente as desavenças eram menores do que o lucro que a relação dos dois proporcionava. Em uma ocasião, Bill Collins até ofereceu um carro de presente para Christie, um Jaguar, mas a escritora o recusou, pois estava “muito velha para se divertir”. Ocasionalmente, a conversa dos dois passava do profissional para o pessoal. Em setembro de 1940, Collins perguntou à escritora se poderia ficar com seu jardineiro, Midgley, cuja esposa “estava desgastada” e queria uma mudança de cenário. Christie mais tarde perguntou a Collins, cujo irmão era um tenista famoso, se ele poderia arranjar bolas de tênis através de suas conexões de Wimbledon, já que era cada mais difícil de encontrá-las durante a guerra.

As ideias produzem as imagens de si mesmas em novas ideias. Mas como supomos que as primeiras ideias são derivadas de impressões, continua sendo verdade que todas as nossas ideias simples procedem, mediata ou imediatamente das impressões correspondentes. Esse é o primeiro princípio que a filosofia de David Hume estabelece na ciência da natureza humana. Pois cabe notarmos que a presente questão, a respeito da anterioridade de nossas impressões, ou formação de ideias, é a mesma que produziu tanto barulho sob outra formulação, quando se discutiu se haveria ideias inatas, ou se todas as ideias derivam da sensação e da própria reflexão. A fim de comprovar que as ideias de extensão e de cor não são inatas, os filósofos nada mais fazem que demonstrar que elas são transmitidas por nossos sentidos. Para comprovar que as ideias de paixão e desejo são inatas, eles observam que experimentamos previamente em nós mesmos essas emoções. A faculdade pela qual repetimos nossas impressões da primeira vez se chama memória e depois da outra forma, imaginação. Mas se examinarmos  esses argumentos, veremos que eles nada comprovam, senão que as ideias em sua essência são precedidas por outras percepções mais vívidas, das quais derivam e as quais elas representam.

Como a imaginação pode separar todas as ideias simples, e uni-las novamente da forma que bem lhe aprouver, nada seria mais inexplicável que as operações dessa faculdade, se ela não fosse guiada por alguns princípios universais, que a tornam, em certa medida, uniforme em todos os momentos e lugares. Fossem as ideias inteiramente soltas e desconexas, apenas o acaso as ajuntaria; e seria impossível que as mesmas ideias simples se reunissem de maneira regular em ideias complexas se não houvesse algum laço de união entre elas, alguma qualidade associativa, pela qual uma ideia naturalmente introduz outra. Esse princípio de união entre as ideias não deve ser considerado uma conexão inseparável, tampouco devemos concluir que, sem ele a mente não poderia juntar duas ideias – pois nada é mais livre que essa faculdade. Devemos vê-lo apenas como uma força suave, que comumente prevalece, e que é a causa pela qual, entre outras coisas diversas, as línguas se correspondem de modo tão estreito umas às outras: pois a natureza de alguma forma  aponta a cada um de nós as ideias  simples mais apropriadas para serem unidas em uma ideia complexa. As qualidades, portanto, não dão origem a tal associação, mas inexoravelmente e que levam a mente, dessa maneira, de uma ideia a outra, são três, a saber: semelhança, contiguidade no tempo e no espaço, e a relação de causa e efeito.

Melhor dizendo, que as ideias da memória são muito mais vivas e fortes que as da imaginação, e que a primeira faculdade pinta seus objetos em cores mais distintas que todas as formas possíveis que possam ser usadas pela última. Ao nos lembrarmos de um acontecimento passado, sua ideia invade nossa mente com força, ao passo que, na imaginação, a percepção ainda é fraca e lânguida, e apenas com muita dificuldade pode ser conservada firme e uniforme pela mente durante todo o período considerável de tempo. Temos aqui uma diferença sensível entre as duas espécies de ideias. Mas há uma outra diferença, não menos evidente, entre esses dois tipos de ideias. Embora nem as ideias da memória nem as da imaginação, nem as ideias vívidas nem as fracas possam surgir na mente antes que impressões correspondentes tenham vindo abrir-lhes o caminho, a imaginação não se restringe à mesma ordem na forma das impressões originais, ao passo que a memória está de certa maneira amarrada quanto a esse aspecto, sem nenhum poder de variação. É evidente que a memória preserva a forma original sob a qual seus objetos se apresentaram. A principal função da memória não é preservar as ideias simples, mas sociologicamente sua ordem e posição. Esse princípio se apoia em aspectos comuns e vulgares do dia a dia que podemos nos poupar o trabalho de continuar insistindo nele.

Bibliografia Geral Consultada.

CHESNAUX, Jean, La Modernité-Monde. Paris: La Découvert, 1989; DE MASI, Domenico (Org.), L`Emozione e la Regola. I Gruppi Creativi in Europa dal 1850 al 1950. Bari: Casa Editrice Laterza, 1991; ELIAS, Norbert, A Sociedade dos Indivíduos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994; WEBER, Max, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. 2ª edição revista. São Paulo: Editora Pioneira, 2003; BOUNANNO, Milly, L’Etat della Télévisione. Esperienze e Teorie. Roma: Edizione Laterza, 2006; SILVA, Cinara de Andrade, Hélio Oiticica – Arte como Experiência Participativa. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Ciência da Arte. Escola de Comunicação e Arte. Instituto de Arte e Comunicação Social. Niterói (RJ): Universidade Federal Fluminense, 2006; PRATA, Patrícia, O Caráter Intertextual dos Tristes de Ovídio: Uma Leitura dos Elementos Épicos Virgilianos. Tese de Doutorado em Linguística. Instituto de Estudos da Linguagem. Campinas:  Universidade Estadual de Campinas, 2007; HUME, David, Tratado da Natureza Humana. Uma Tentativa de Introduzir o Método Experimental de Raciocínio nos Assuntos Morais. 2ª edição revista e ampliada. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 2009; JAEGER, Werner, Paidéia: A Formação do Homem Grego. 5ª edição. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2011; ARFUNCH, Leonor, Espaço Biográfico: Dilemas da Subjetividade Contemporânea. Rio de Janeiro: Editora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2010; DUARTE, Rodrigo, Indústria Cultural e Meios de Comunicação. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2014; PFEFFERKORN, Roland, “L`Impossible Neutralité Axiologique - Wertfreiheit Engagement dans les Sciences”. In: Raison Présente, n° 191; 2014; WILLIAMS, Raymond, Televisão: Tecnologia e Forma Cultural. São Paulo; Belo Horizonte: Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, 2016; LILTI, Antoine, A Invenção da Celebridade (1750-1850). 1ª edição. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2018;  VIRGOLINO, Mariano Figueiredo, Redes, Stásis e Estabilidade na Grécia Antiga: Um Estudo em Cultura Política. Tese de Doutorado. Programa de Pós-graduação em História Social. Instituto de História. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2018; Artigo: “Ana Maria Braga Completa Cinco Mil Programas ao Vivo na TV Globo”. In: https://www.estadao.com.br/03/11/2020; Artigo: “Ana Maria Braga retorna à Casa de Cristal e desabafa: Saudade, mas não saudosismo”. In: https://revistamarieclaire.globo.com/celebridades/2024/04/22; entre outros. 

terça-feira, 7 de maio de 2024

Alienação & Arte - Um Conceito Teórico, Histórico e Representacional.

                                                               Que época terrível é esta, onde idiotas dirigem cegos?”. William Shakespeare

István Mészáros (2006) reitera que Ludwig Feuerbach, Friedrich Hegel e a economia política inglesa exerceram a mais direta influência na formação da teoria da alienação de Marx. Mas estamos interessados muito mais do que simples influências intelectuais. O conceito de alienação pertence a uma vasta e complexa problemática, com uma longa história própria. As preocupações com essa problemática – em formas que vão da Bíblia a trabalhos literários, bem como a tratados sobre direito, economia e filosofia – refletem tendências objetivas de desenvolvimento europeu, antevisto por Hegel desde a escravidão até a chamada passagem de transição do capitalismo para o socialismo. As influências intelectuais, revelando continuidades importantes que perpassam as transformações das estruturas sociais, só adquirem sua significação real se consideradas nesse quadro de pensamento objetivo de desenvolvimento social e político. Se avaliadas dessa forma, sua importância histórica, teórica e ideológica – longe de esgotar-se na mera curiosidade histórica – dificilmente poderá ser exagerada, isto é, condicionadas precisamente porque elas indicam a profundidade do abismo e das raízes de certas problemáticas, bem como da autonomia das formas as quais elas se inserem. O primeiro aspecto que consideramos é o lamento por ter sido “alienado com relação a Deus” (ou haver “perdido a Graça”) que pertence à herança da mitologia judaico-cristã. 

A ordem divina, afirma-se, foi violada; o homem alienou-se dos “caminhos de Seus”, seja simplesmente pela “queda do homem” ou mais tarde pelas “idolatrias sombrias de Judá alienada”, ou ainda mais tarde, pelo comportamento dos “cristãos alienados de Deus”. A missão messiânica consiste em resgatar o homem desse estado de autoalienação que ele atraiu sobe si mesmo. Mas as semelhanças entre as problemáticas judaica e cristã vão apenas até aí; e diferenças de longo alcance prevalecem em outros aspectos. Pois a forma pela qual se vislumbra a transcendência messiânica da alienação não é uma questão indiferente. Em sua universalidade o cristianismo anuncia a solução imaginária de autoalienação na forma do “mistério de Cristo”. Esse mistério postula a reconciliação das contradições que fizeram com que grupos de pessoas se opusessem mutuamente designados como “estranhos”, “estrangeiros”, “inimigos”.  Não é apenas a imagem refletida de uma forma específica de luta social, mas ao mesmo tempo também a sua “resolução” mística o que levou o materialista Marx decisivamente a escrever: - Foi só na aparência que o cristianismo superou o verdadeiro judaísmo. The Beatles representou uma banda de rock britânica, formada na cidade de Liverpool, Londres, em 1960. Com os integrantes John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr, o grupo tornou-se reconhecido como o melhor e mais bem sucedido da Era do Rock. 

Enraizados no skiffle, beat e o rock and roll dos anos 1950, os Beatles mais tarde experimentaram com diversos gêneros, desde baladas pop e a música indiana até a música psicodélica e o hard rock, e incorporaram elementos clássicos de maneiras inovadoras. Em meados da década de 1960, a imensa popularidade da banda tornou-se conhecida como a “Beatlemania”, mas conforme a música do grupo crescia em sofisticação, liderada pelos principais compositores Lennon e McCartney, seus membros começaram a ser percebidos como uma incorporação dos ideais compartilhados pelas revoluções socioculturais da Era. Os Beatles construíram sua reputação apresentando-se em boates de Liverpool e Hamburgo durante três anos na década de 1960. O empresário da banda Brian Epstein transformou seus integrantes em artistas profissionais, e o produtor George Martin melhorou seus potenciais musicais. Eles ganharam popularidade no Reino Unido com seu primeiro sucesso: “Love Me Do” no final de 1962. Eles adquiriram o apelido “The Fab Four”, conforme a Beatlemania crescia em território britânico no ano seguinte, e ao final de 1964 tornaram-se astros internacionais, liderando a chamada “Invasão Britânica” no mercado musical estadunidense. A parte de 1965, os Beatles produziam o que muitos consideram como seus melhores materiais, incluindo os inovadores e influenciadores álbuns Rubber Soul (1965), Revolver (1966), Sgt. Pepper`s Lonely Hearts Club Band (1967), The Beatles — comumente referido como White Album — (1968) e Abbey Road (1969). Após a separação de seus membros em 1970, eles conquistaram carreiras musicais bem-sucedidas. McCartney e Starr, os membros que estão musicalmente ativos nos palcos. John Lennon foi assassinado em dezembro de 1980, enquanto Harrison morreu de câncer de pulmão em novembro de 2001. 

De acordo com a Recording Industry Association of America (RIAA), os Beatles são os artistas com o maior número de vendas nos Estados Unidos da América, com 178 milhões de unidades certificadas. Eles possuem o maior número de álbuns que chegaram ao cume da UK Albums Chart e venderam mais singles no Reino Unido do que qualquer outro artista. Em 2008, o grupo foi listado pela Billboard como o ato mais bem sucedido de todos os tempos nas tabelas publicadas pela revista; até 2015, o conjunto ainda detém o recorde de mais números um na Billboard Hot 100, com 20 canções. Eles receberam dez Grammy Awards, um Oscar para Melhor Banda Sonora e 15 Ivor Novello Awards. Com seus membros coletivamente incluídos na compilação da revista Time que listou as 100 pessoas mais influentes do século 20, a banda é a “mais bem sucedida comercialmente na história, tendo vendido mais de 600 milhões de cópias em âmbito global”.  Incluídos no celebrado grupo Rock and Roll Hall of Fame em 1988, com todos os participantes sendo adicionados individualmente entre 1994 e 2015, e possui cinco álbuns na lista dos 200 álbuns definitivos no Rock and Roll Hall of Fame, juntamente ao Led Zeppelin, uma banda britânica de rock pesado formada em Londres, em 1968.

O pensamento e a prática de Karl Marx e dos marxistas posteriores são um produto   de seu tempo e lugar, por mais que possam ser permanentes seu valor intelectual ou suas conquistas teóricas e práticas. Portanto, devem ser analisados inserindo-os nas condições históricas em que foram formulados, ou seja, levando-se em conta tanto a situação na qual os marxistas tinham de saber agir e os problemas que dela derivam, quanto a específica combinação de materiais intelectuais com a qual construíram suas ideias. De modo geral podemos dizer que Marx derivou uma análise da chamada “lei de movimento” do capitalismo a partir da fase que ele mesmo viveu, por volta de meados do século XIX, e, mais particularmente, a partir de sua versão colonialista inglesa; e ele fez isso, na teoria como utilidade de uso, como um pensador de projeção do século, isto é, como um pensador que sofrera um certo tipo de educação, que alimentara de um corpo específico de informações e experiências, que partilhava de algumas noções comuns daquele período, etc. Isso vale igualmente para os marxistas posteriores, cujas ações e ideias políticas tiveram naturalmente como elemento formativo determinante os movimentos marxistas anteriores e as experiências e tradições dos movimentos políticos marxistas europeus que se originaram no século XX. 

Não estamos longe de admitir que Marx se tornou uma “celebridade” por suas intervenções polêmicas em torno do método de análise de interpretação da história, no âmbito da crítica da economia política, na análise de conjuntura, colocando em evidência o coup d`État na França com a análise das lutas de classes e com a mudança das relações de produção. Um aspecto social de sua contribuição à construção do conhecimento na cultura do Ocidente, porém, ficou subaproveitado em dois níveis abstratos: a dimensão filosófica e, por extensão, nesta dinâmica das relações sociais reais de produção, entre burguês e proletariado, através da apropriação do trabalho, a questão da ideologia. Isto é, o sujeito transforma a si mesmo e transforma historicamente o mundo da vida material. É um conceito, baseado num movimento concreto de lutas e interesses em oposição assimétrica que não poderá ser apreendido por quem prega a pseudoneutralidade metodológica. Marx, como sabemos, escreveu satisfatoriamente, mesmo sob condições determinadas de espaço e tempo social e político entre a Alemanha rural e a Londres operária.

Para a consciência – e a consciência filosófica considera que o pensamento que concebe constitui o homem real e, por conseguinte, o mundo só é real quando concebido -, portanto, o movimento das categorias surge como ato de produção real – que concebe um simples impulso do exterior, o que é lamentado – cujo conteúdo é o mundo; e isto é exato na medida em que a totalidade concreta enquanto totalidade-de-pensamento, enquanto concreto-de-pensamento, é de fato um produto do pensamento, da atividade de conceber; ele não é pois, de forma alguma o produto do conceito que engendra a si próprio, que pensa exterior e superiormente à observação imediata e à representação, mas um produto da elaboração de conceitos a partir da observação imediata e da representação. O todo, afirma Marx, na forma em que aparece no espírito como todo-de-pensamento, é um produto do cérebro pensante, que se apropria do mundo do único modo que lhe é possível, de um modo que difere da apropriação desse mundo pela arte, pela religião, pelo espírito prático. Antes como depois, o objeto real conserva a sua independência fora do espírito; e isso durante o tempo em que o espírito tiver uma atividade meramente especulativa, meramente teórica. Por consequência, nunca é demais repetir, também o emprego do método teórico é necessário que o objeto de pensamento, a sociedade, esteja constantemente presente no espírito humano como dado primeiro. Em relação à propriedade, tanto material como no método de apreensão do real, a categoria mais simples surge, pois, como a relação de comunidades simples de famílias ou de tribos.

Na sociedade num estágio superior, ela aparece como a relação mais simples de uma organização mais desenvolvida. Mas pressupõe sempre o substrato concreto que se exprime por uma relação de posse. O dinheiro pode existir e existiu historicamente antes de existir o capital, os bancos, o trabalho assalariado, etc. Nesse sentido, podemos dizer que a categoria de trabalho mais simples pode exprimir relações dominantes de um todo menos desenvolvido ou, pelo contrário, relações subordinadas de um todo mais desenvolvido, relações que existiam já historicamente antes que o todo se desenvolvesse no sentido que encontra a sua expressão numa categoria concreta. Assim, abstração mais simples, que a economia política moderna coloca em primeiro lugar e que exprime uma relação muito antiga e válida para todas as formas de sociedade, só aparece, no entanto, sob esta forma abstrata como verdade prática enquanto categoria da sociedade mais moderna. Poder-se-ia dizer que esta indiferença constituída nas relações sociais em relacionadas a forma determinada de trabalho, que se apresenta noutros países como produto histórico, se manifesta como uma disposição natural. Este exemplo do trabalho mostra e evidencia que até as categorias mais abstratas, ainda que válidas – precisamente por causa de sua natureza abstrata – para todas as épocas, não são menos, sob a forma determinada desta mesma abstração, o produto de destas condições e só se encontram plenamente válidas nestas e no quadro de pensamento destas relações sociais.

Admitir que o homem só então se converte para ele seu modo de existência natural em seu modo de existência humano, e a natureza torna-se para ele o homem. A sociedade é, pois, a plena unidade essencial do homem com a natureza, a verdadeira ressureição da natureza, o naturalismo acabado do homem e o humanismo acabado da natureza. Precisamos admitir que o indivíduo é o ser social. Deve-se evitar antes de tudo fixar, ou inventar a “sociedade” como outra abstração frente ao indivíduo. A atividade social e o gozo social não existem de modo algum unicamente na forma de uma atividade imediatamente coletiva, e de um gozo imediatamente coletivo, ainda que a atividade coletiva e o gozo coletivo, isto é, a atividade e o gozo que se exteriorizam e confirma imediatamente na sociedade efetiva com outros homens, encontrar-se-ão onde quer que aquela expressão imediata da sociabilidade esteja fundada na essência de seu conteúdo e seja adequada à sua natureza. Como consciência genérica o homem confirma sua vida social real e não faz mais do que repetir no pensar seu modo de existência efetivo, assim como, inversamente, o ser genérico se confirma na consciência genérica e é para si, na sua generalidade, enquanto ser pensante. O homem – por mais que seja um indivíduo particular, e justamente é sua particularidade que faz dele um indivíduo e ser social individual efetivo – é na mesma medida, do ponto de vista abstrato, conceitual, a totalidade ideal, o modo de existência subjetivo da sociedade pensada e sentida para si, do modo na efetividade ele existe tanto como intuição e gozo efetivo do modo de existência social, quanto como uma totalidade de exteriorização de vida humana.

Ele era demasiado refinado, demasiado espiritual para eliminar a crueza das necessidades práticas a não ser elevando-se à esfera etérea. O cristianismo é o pensamento sublime do judaísmo. O judaísmo é a aplicação prática vulgar do cristianismo. Mas essa aplicação prática só se poderia tornar universal quando o cristianismo, como religião aperfeiçoada, tivesse realizado, de maneira teórica, a alienação do homem de si mesmo e da natureza. No início de 1970, Biko tornou-se uma figura-chave no momento Durban. Em 1972, ele foi expulso da Universidade de Natal por causa de suas atividades políticas e tornou-se presidente honorário da Convenção do Povo Negro. Ele foi banido pelo governo do apartheid em fevereiro de 1973, ou seja, ele “não estava autorizado a falar com mais de uma pessoa, impossibilitando assim que ele falasse em público”, pois politicamente era restrito à cidade distrito judiciário do Rei William e não poderia escrever publicamente, ou com a mídia. Foi proibido citar qualquer coisa que ele dissesse, incluindo discursos ou conversas do dia a dia. Quando Biko foi banido, seu trânsito dentro do país estava restrito ao Cabo Oriental, sua terra natal. Depois de voltar, ele formou uma série de organizações sociais com base na noção de autossuficiência como a Zanempilo, o Fundo Fiduciário Zimele que ajudou a apoiar ex-presos políticos e suas famílias.

Apesar da representação do governo do apartheid, Biko e o Movimento da Consciência Negra (BCM) desempenharam um papel significativo na organização dos protestos que culminaram com a Revolta de Soweto de 16 de junho de 1976. Na sequência da revolta social, foi recebido com a “mão pesada” da força bruta da política estrategicamente quando a força de segurança e as autoridades começaram a alvejar Biko ainda mais. Em 11 de setembro de 1977, a polícia carregou-o nas costas de um Land Rover, nu e contido em algemas para levá-lo para uma prisão com instalações hospitalares. Ele estava quase morto devido às lesões anteriores. Ele morreu logo após a chegada na prisão, em 12 de setembro. A polícia alegou que sua morte foi o resultado de uma greve de fome prolongada, mas a autópsia revelou múltiplas contusões e escoriações e que ele finalmente sucumbiu devido a uma hemorragia cerebral maciça dos ferimentos na cabeça, reforçando a ideia de que ele havia sido brutalmente agredido por seus captores. Donald Woods, jornalista, Editor e amigo de Biko, junto com Helen Zille, mais tarde líder do partido político da aliança democrática, expuseram a verdade por detrás da morte de Steve. Por causa de sua grande visibilidade, a notícia da morte de Biko espalhou-se divulgando a natureza repressiva do governo do apartheid.

O seu funeral foi assistido por mais de 10 mil pessoas, incluindo numerosos embaixadores e outros diplomatas dos Estados Unidos da América e Europa Ocidental. O liberal branco jornalista sul-africano Donald Woods, amigo pessoal de Biko, fotografou seus ferimentos no necrotério. Como Frantz Fanon, Stephen Bantu Biko originalmente estudou Medicina e, como Fanon, Biko desenvolveu uma intensa e extraordinária preocupação social para o desenvolvimento da consciência negra, como a solução para as lutas existenciais que a existência forma, tanto como um ser humano como igualmente um africano. Biko, portanto, pode ser visto como um seguidor de Fanon e Aimé Césaire (1913-2008). Biko viu a luta pela consciência africana como tendo duas fases: “libertação psicológica” e “libertação física”. Ipso facto, a influência não-violenta de Gandhi, chamado de o “pai da Índia” e uma “grande alma em vestes de mendigo” uma abordagem não violenta em relação à mudança política ajudou a Índia a se tornar independente depois de cerca de um século de controle colonial britânico, no contexto de reflexão sobre os sentimentos morais e a análise psicológica da moralidade e Martin Luther King (1929-1968) sobre Biko é então suspeito, como Biko sabia que por sua luta psicológica para dar lugar a libertação física, era necessário que ele existisse dentro das políticas do governo do apartheid, e a não-violência passa a ser visto mais como tática e convicção pessoal. O cantor Peter Gabriel compôs em 1980 a música Biko.

Donald Woods foi mais tarde forçado a fugir da África do Sul para a Inglaterra, e fez campanha contra o apartheid e quando consequentemente divulgou mais ainda a vida e a morte de Biko, escrevendo muitos artigos de jornal e autor do livro Biko que mais tarde foi transformado em filme de nome Cry Freedom (1987), interpretado pelo ator Denzel Washington. Depois de um inquérito com 15 dias em 1978, um juiz magistrado disse que não havia provas suficientes para acusar os oficiais de Estado de homicídio, pois não havia testemunhas. Em 2 de fevereiro de 1978, com base nas provas dadas no inquérito, o procurador-geral do Cabo Oriental declarou não processar os policiais. Em 28 de julho de 1979, o advogado da família Biko anunciou que o governo Sul-Africano teria que pagar 78 milhões de dólares em compensação pela morte de Biko. Em outubro de 2003, o Ministério da Justiça Sul-Africano anunciou que os cinco policiais acusados de matar Biko não seriam processados porque o limite de tempo para a acusação tinha decorrido da insuficiência de provas. Um ano após sua morte, alguns de seus escritos foram recolhidos e editado sob o título: - “Eu escrevo o que eu gosto”.

Isaach De Bankolé, é um ator premiado com o César, nascido na República de Côte d` Ivoire, país africano, limitado a Norte pelo Mali e pelo Burquina Fasso, a Leste pelo Gana, a Sul pelo Oceano Atlântico e a Oeste pela Libéria e pela Guiné. Sua capital é Iamussucro, mas a maior cidade é Abidjã. O governo marfinês solicitou à comunidade internacional em outubro de 1985, que o país seja designado apenas pelo nome francês Côte d`Ivoire e vários países e organizações internacionais referendaram. Antes da colonização pelos europeus, a Costa do Marfim tinha como representação política vários estados, incluindo Reino Jamã, o Império de Congue e Baúle. A área tornou-se um protetorado da França em 1843, e colônia em 1893, em meio à corrida pela sua disputa europeia pela África. Alcançou a Independência do jugo imperialista em 1960, liderada por Félix Houphouët-Boigny (1905-1993), que governou o país até 1993. Reconhecido carinhosamente por Papa Houphouët, ou Le Vieux, foi o primeiro Presidente da Costa do Marfim, cargo onde permaneceu por mais de três décadas até à sua morte. Chefe tribal, trabalhou como assistente médico, sindicalista e agricultor antes de ser eleito para o Parlamento francês. A Costa do Marfim estabeleceu estreitos laços políticos e econômicos com seus países vizinhos da África Ocidental, mantendo ao mesmo tempo relações políticas e sociais internacionais estreitas com o Ocidente, especial a França.

O país experimentou um golpe de Estado em 1999, seguido de duas guerras civis, fundamentadas religiosamente, primeiro entre 2002 e 2007 e novamente durante 2010 e 2011. Em 2000, o país adotou uma nova Constituição. Ele foi “descoberto nas ruas de Paris enquanto estudava para ser piloto de avião”. É formado em atuação pelo Cours Simon e tem Mestrado em Matemática pela Université de Paris. Atou nos filmes Pantera Negra (2018), sobre a história de T'Challa, príncipe do reino de Wakanda, que perde o seu pai e viaja para os Estados Unidos da América, onde tem contato com os Vingadores. Entre as suas habilidades estão a velocidade, inteligência e os sentidos apurados, e Shaft (2019), onde John Shaft Jr. pode ser um especialista em “cibersegurança” com um diploma no Massachusetts Institute of Technology (MIT), onde a instituição admite cerca de 4% dos alunos para seus cursos de nível superior, tornando-se uma das universidades mais seletivas dos Estados Unidos da América, para não falarmos no resto do mundo. Mas para descobrir a verdade por trás da morte precoce de seu melhor amigo, ele precisa da orientação que provavelmente só o vínculo afetivamente de um pai pode proporcionar.

O filme Mirage (Délibáb), é um drama húngaro-eslovaco de 2014, dirigido por Szabolcs Hajdu. Foi exibido na seção Contemporary World Cinema do Festival Internacional de Cinema de Toronto, Canadá, de 2014. É um conto sobre a Hungria moderna, tematizando questões sociais em torno do racismo, da questão da igualdade, no âmbito das práticas poder em sintonia com a liberdade. O Eurochannel estreia Miragem. Um jogador de futebol africano cometeu um crime e precisa fugir. Ele encontra refúgio em uma fazenda remota no Leste Europeu. Quando descobre que a fazenda é um campo moderno de escravos, ele é consciente em lutar por sua liberdade e sua vida. Com um Sol singelo abraçando o horizonte, bronzeando tudo ao seu redor e apenas o ar soprando, aparece uma figura negra de óculos escuros e bolsa esportiva. Esse é Francis, um jogador de futebol da Costa do Marfim, procurado pela polícia por ser suspeito de “manipulação de resultados”. Ele continua andando e alguns quilômetros e um endereço importante depois, chega a uma estação de trem em ruínas. Ele sobe no que sobrou do antigo trem e acaba no meio praticamente do nada, em uma fazenda administrada por Cisco e seus capangas armados com metralhadoras AK47, também reconhecida como Kalashnikov, é um fuzil de assalto de calibre 7,62x39mm criado em 1947 por Mikhail Kalashnikov (1919-2013) e produzido na União Soviética pela indústria estatal IZH de Ijevsk.

Mikhail Kalashnikov (1919-2013) foi um militar russo, inventor, engenheiro  militar, escritor, notável por projetar armas, especialmente o célebre fuzil de assalto AK-47 e suas melhorias o AKM e AK-74, assim como a metralhadora RPK, e pai do engenheiro Victor Kalashnikov. Kalashnikov era, de acordo com ele mesmo, “um funileiro autodidata que combinava habilidades mecânicas inatas com o estudo de armamento para projetar armas que alcançaram à ubiquidade do campo de batalha”. Apesar do Kalashnikov sentir tristeza com a distribuição descontrolada das armas, ele se orgulhou de suas invenções e sua reputação de confiabilidade, enfatizando que seu fuzil é “uma arma de defesa” e “não uma arma para ofensa”. Ijevsk é a capital e a maior cidade da Udmúrtia, na Rússia. Localiza-se no Leste da Rússia europeia. Tem cerca de 612 mil habitantes. Foi fundada pelos russos em 1760. Designou-se Ustinov entre 1984 e 1987. É a cidade onde-se residiu Mikhail Kalashnikov, criador do fuzil de assalto AK-47, falecido no final de 2013 de causas naturais. A catedral Svyato Mihailovsky em Ijevsk, República da Udmúrtia, Rússia. A cidade se situa próximo ao rio Ij, a 40 km antes dele desaguar no rio Kama. A cidade tem como principal atividade a indústria bélica, a empresa estatal IZH, mais importante da cidade, produzindo rifles de assalto, pistolas, carros e motos.

A cidade de Ijevsk é a sede do Estádio Central Republicano e do FC Ijevsk, que participou do Campeonato Russo de Futebol. O fuzil de assalto Avtomat Kalashnikova - 47, (AK-47) fuzil automático Kalashnikov, modelo de 1947 surgiu na União Soviética logo após o fim da 2ª guerra mundial inspirado no fuzil de assalto alemão Sturmgewehr 44, sendo o fuzil mais fabricado de todos os tempos com mais de 100 milhões de unidades. Estima-se que o número de exemplares produzidos tanto na Rússia como sob licença em países como a Bulgária, China, Hungria, Índia, Coreia do Norte, Romênia entre outros, chegue à cifra de 90 milhões. Países como a Finlândia e Israel também se basearam no projeto maquínico deste fuzil para produzirem seus modelos M62 e Galil. Como uma máquina de guerra mortífera e caracterizado por sua grande rusticidade, facilidade de utilidade e produção-consumo em massa, simplicidade de operação tática e manutenção, além de reconhecida estabilidade de uso em regiões desérticas em baixas e altas temperaturas. Deixa a desejar nos requisitos precisão, ergonomia e peso.

A fazenda, localizada em uma estância longe da civilização, está nas mãos de uma quadrilha de bandidos, que fazem os moradores locais, que foram privados de suas aposentadorias, e também aqueles que fogem da lei, trabalharem como escravos. Francis encontra refúgio nessa fazenda isolada do mundo no coração do deserto, mas logo percebe que a fazenda é, na verdade, uma colônia de escravos nestes dias modernos. Com sua chegada, ele agita a vida dos residentes. Os apáticos presos o veem como seu salvador, e Cisco, que governa como um “pequeno rei, o vê como seu rival”. No entanto, Francis não deseja o papel de herói, ele tenta fugir na primeira oportunidade, mas é impossível encontrar seu caminho na paisagem plana e enganosa. A felicidade inicial de apenas ser livre logo se torna uma miragem, e ele acaba voltando para onde começou. Francis, um homem de poucas palavras, pode reagir ao sofrimento dos escravos da fazenda de várias maneiras: pode fazer amizade com os opressores armados, fugir ou mudar a situação vigente. Ele decide fazer o último. Sua tentativa de fuga o coloca entre os escravos e, contra sua vontade, ele se torna um rebelde. A partida mais difícil de sua vida começa, o que está em jogo não é apenas a sua liberdade, mas a própria sobrevivência. Após a fuga malsucedida, o acaso finalmente o leva a tentar derrubar o reinado dos Ciscos.

Quer dizer, a secularização do conceito religioso de alienação foi realizada nas afirmações concretas relacionadas com a “vendabilidade”. Em primeiro lugar, essa secularização progrediu no interior da concha religiosa. Nada podia deter essa tendência a converter tudo em objeto vendável, por mais “sagrado” que tivesse sido considerado em certa fase, em sua “inalienabilidade” sancionada por um suposto mandamento divino. O Melmoth, de Honoré Balzac é uma reflexão, magistralmente irônica, sobre uma sociedade totalmente secularizada, na qual “até memo o Espírito Santo tem sua cotação na Bolsa de Valores. A própria doutrina da “queda do homem” teve de ser questionada – como foi por Lutero, por exemplo – em nome da “liberdade” do homem. Essa defesa da “liberdade”, contudo, revelou-se na realidade nada mais do que a glorificação religiosa do princípio secular da “vendabilidade universal”. Foi este último que encontrou seu adversário – ainda que utópico – em Thomas Münzer, que protestou em seu folheto contra Lutero, dizendo ser intolerável que “toda criatura seja transformada em propriedade – os peixes na água, os pássaros do céu, as plantas na terra”. Visões de mundo como essa, lembra Mészáros (2006: 37), por mais profunda e verdadeiramente que elas refletissem a natureza interior das transformações em curso, tinham de permanecer como meras utopias, protestos ineficazes, concebidos da perspectiva de uma antevisão sem esperanças de uma possível negação futura da sociedade mercantil. Na época da ascensão triunfal do capitalismo, as concepções ideológicas prevalecentes tinham de ser aquelas que assumiam uma atitude afirmativa ante as tendências objetivas desse desenvolvimento.

Alienação é um conceito eminentemente histórico. Se o homem é alienado, ele deve ser alienado com relação a alguma coisa, como resultado de certas causas – o jogo mútuo dos acontecimentos e circunstâncias em relação ao homem como sujeito dessa alienação – mas que per se que se manifestam num contexto histórico. Do mesmo modo, a “transcendência da alienação” é um conceito inerentemente histórico, que vislumbra a culminação bem-sucedida do processo em direção a um estado de coisas qualitativamente diferente. De fato, se o conceito de alienação é abstraído do processo socioeconômico concreto, uma mera aparência de historicidade pode pôr-se no lugar de um genuíno entendimento dos fatores complexos envolvidos no processo histórico. Quer dizer, é uma função essencial das mitologias transferir os problemas sócio-históricos fundamentais do desenvolvimento humano para um plano atemporal, e o tratamento judaico-cristão da problemática da alienação não é exceção à regra geral. Mais interessante ideologicamente é o caso de certas teorias da alienação do século XX, nas quais conceitos de “alienação do mundo” têm a função de engar categorias históricas e substituí-las por mistificação. Não obstante, é uma característica social importante da história intelectual que tenham alcançado os maiores resultados na compreensão das múltiplas complexidades da alienação - antes do pensamento de Marx: Friedrich Hegel acima de todos – aqueles filósofos que abordaram esse puzzle de uma maneira histórica e teórica de forma adequada. Isto é, os filósofos que conseguiram elaborar uma abordagem histórica dos problemas da filosofia foram aqueles que tinham precisamente consciência da problemática da alienação e na medida em que o tinham.

A dificuldades do discurso de Marx em seus Manuscritos de 1844 devem-se não somente ao fato de que se trata de um sistema in statu nascendi. As dificuldades principais são, porém, inerentes ao método de Marx em geral, e às características objetivas do seu tema de análise: os aspectos históricos quanto os sistemáticos-estruturais do problema da alienação, em relação às complexidades da vida real nas várias formas de e pensamento. Assim, ele analisa: 1. As manifestações da autoalienação do trabalho na realidade, juntamente com as várias institucionalizações, reificações e mediações envolvidas nessa autoalienação prática, isto é, trabalho assalariado, propriedade privada, intercâmbio, dinheiro, renda, lucro, valor etc. 2. Os reflexos dessas alienações por intermédio da religião, da filosofia, do direito, da economia política, da arte, da ciência “abstratamente material” etc. 3. Os intercâmbios e reciprocidades entre (1) e (2); pois “os deuses são, originalmente, não a causa, mas o efeito do erro do entendimento humano. Mais tarde essa relação se transforma em ação recíproca”. 4. O dinamismo interno de qualquer fenômeno particular, ou campo de investigação, em seu desenvolvimento de uma complexidade menor para uma maior; 5. As inter-relações estruturais de vários fenômenos sociais, bem como a gênese histórica e a renovada transformação dialética de todo os sistemas de interrelações múltiplas; 6. Uma compilação adicional está no fato de que Marx analisa as teorias em seu contexto histórico concreto, além de investigar as relações estruturais de umas com as outras em cada período particular, por exemplo, Adam Smith, filósofo moral; ao mesmo tempo, os tipos de respostas dada por ele – tanto como um economista quanto um moralista – em relação ao desenvolvimento do capital.

Fora de dúvida, na concepção dialética de Marx, o conceito-chave, segundo István Mészáros, é a “atividade produtiva humana”, que não significa simplesmente produção econômica. Desde o princípio ela é muito mais complexa do que isso, como de fato indicam as referências de Marx à ontologia. Essa ideia também estrutura ativamente as múltiplas mediações específicas, nos mais variados campos da atividade humana, por intermédio de sua estrutura própria enormemente intrincada e relativamente autônoma. Melhor dizendo, se a “desmistificação” da sociedade capitalista, devido ao “caráter fetichista” de seu modo de produção e troca, tem de partir da investigação econômica possam simplesmente transferidos para outras esferas e níveis de análise. Mesmo em relação à cultura, à política, ao direito, à religião, à arte, à ética etc., da sociedade capitalista, ainda é necessário encontrar aquelas complexas mediações, em distintos níveis de generalizações histórico-filosófica, que nos permitem chegar a conclusões confiáveis tanto sobre as formas ideológicas específicas em questão como sobre a forma dada, historicamente concreta, da sociedade capitalista como um todo.

Não se pode compreender o intelectual “específico” sem identificar suas múltiplas interconexões com um determinado sistema de mediações complexas. Em outras palavras: devemos ser capazes de ver os elementos “atemporais” (sistemáticos) na temporalidade e os elementos temporais nos fatores sistemáticos. O conceito de mediações complexas está ausente da visão dos deterministas econômicos que – ainda que inconscientemente – capitulam ante a “necessidade cega” que parece predominar por meio do caráter fetichista do capital. Todo debate econômico culmina num novo conceito de homem. Ao discutir os problemas cruciais da divisão do trabalho, Marx problematiza radicalmente a explicação da natureza humana. Podemos recordar que ele elogiou a economia política liberal por ter-se abstraído das aparências individuais das inter-relações humanas, por ter desenvolvido, de forma tão aguda e consistente, embora unilateral, a ideia do trabalho como a única essência da riqueza, e por ter incorporado à propriedade privada ao próprio homem. Ele elogiou os economistas não só porque nessas realizações eles superaram efetivamente as limitações dos “idólatras, fetichistas, católicos”. E por que esses avanços dos economistas possuem também um outro lado.

A abstração talvez coerente das aparências individuais conduziu a um novo estranhamento do homem. A incorporação da propriedade privada no próprio homem levou a colocá-lo na órbita da propriedade e da alienação. Marx se opõe apaixonadamente à atitude da economia política, que não se considera o trabalhador “como homem, no seu tempo livre-de-trabalho, mas deixa, antes, essa política e o curador da miséria social”. Ele recusa a aceitação da reificação sob a forma de considerar o trabalho, segundo Mészáros, “abstratamente como uma coisa”. Ele recusa a prática de levar a extremos uma virtude que resultou, primeiro, na superação real do velho fetichismo, mas depois implicou necessariamente uma submissão a um novo tipo de fetichismo: o fetichismo amadurecido em sua forma elevada, mais abstrata e universal. Na visão humanista de Marx, a propriedade privada e suas consequências humanas têm de ser explicadas historicamente, e não supostas ou deduzidas de uma suposição. De acordo com o filósofo materialista, a propriedade privada é trazida à existência pela atividade alienada e então, por sua vez afeta profundamente, é claro, as aspirações humanas. Sua abordagem foi diretamente influenciada pelos socialistas utópicos, e por Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865) e Moses Hess (1812-1875).  

Mas o que constitui algo novo nele representa\ uma insistência coerente sobre os fundamentos últimos das inter-relações humanas, desenvolvidas pelo jovem Friedrich Engels originalmente em seu ensaio: Esboço de uma Crítica da Economia Política. Essa abordagem analítica, cujo centro de referência é a atividade produtiva ou práxis – encerra em si o que emerge como sendo a “ciência da natureza humana” não é o egoísmo, mas a socialidade, como característica definidora da natureza humana. Ao contrário do “egoísmo”, ela não pode ser uma qualidade abstrata inerente ao indivíduo isolado. Só pode existir nas relações dos indivíduos uns com os outros. Como corolário, a realização adequada da natureza humana não pode ser a concorrência – essa “condição inconsciente da humanidade” que corresponde ao egoísmo e ao bellum omnium contra omnes hobbesiano -, mas a associação consciente. Assim, é de esperar que a natureza humana (“socialidade”) liberada do egoísmo institucionalizado (a negação da socialidade) superará a “reificação”, o “trabalho abstrato” e os “apetites imaginários”. Quer dizer, não é difícil compreender que, enquanto a concorrência de fato representar o poder logicamente governante da produção, ou, em outras palavras, enquanto a “eficiência do custo” for o princípio dominante da atividade produtiva, é impossível considerar o trabalhador um homem nas várias fases e etapas do ciclo de produção.

A atividade humana, sob as condições de concorrência, está destinada a continuar sendo trabalho assalariado, uma mercadoria sujeita à “lei natural” das sociedades objetivas, independentes, da concorrência para o atendimento das exigências humanas de atividade autorrealizadora em oposição ao “trabalho abstrato como negação da socialidade e para eliminação dos “apetites imaginários”. Não por acaso, a primeira fase do desenvolvimento da alienação do trabalho tinha de assumir uma forma política, porque a existência de um produto agrícola excedente não contém nenhuma determinação econômica quanto à forma de sua apropriação. Um princípio econômico de apropriação e redistribuição só pode operar em nível bastante elevado de desenvolvimento histórico e social, segundo Mészáros, e pressupõe uma relação já fixada politicamente entre a produção e o processo de apropriação do trabalho. Mas onde encontrar um princípio regulador. Toda forma original de propriedade privada é sui generis e não há razão para supor que esse caráter social específico não tenha anda a ver com a forma específica da propriedade anterior, sobre cuja base de acumulação primitiva de capital se originou. As diferenciações em fases posteriores de desenvolvimento são determinadas, pelo menos até certo ponto, pela série particular de condições que caracterizam as fases anteriores. Isso se aplica não apenas ao passado remoto, mas também ao presente e ao futuro.

Todavia, postular uma propriedade comunal homogênea como superação das relações de produção capitalistas alienantes é a-histórico. As “relações de propriedade” constituem, evidentemente, um conceito-chave na análise da alienação; mas seria ingênuo supor que a negação direta dessas relações de propriedade específicas não produzirá algo igualmente específico. Assim, a questão da alienação não se resolve de uma vez por todas simplesmente negando as relações de propriedade capitalistas. Não devemos nos esquecer de que estamos tratando de uma série complexa de inter-relações, das quais as “relações de propriedade” são apenas uma parte. Mesmo assim, a análise das relações de propriedade é muito importante em relação à alienação, porque os problemas fundamentais da liberdade humana estão intimamente relacionados com ela. Marx coloca a seguinte questão: como se emancipa o homem da sujeição às forças cegas da necessidade natural? A resposta: “por sua atividade produtiva”, envolve diretamente as relações de propriedade. Pois, necessariamente, toda produção – primitiva e feudal, capitalista e socialista, igualmente – tem de ser regulada no quadro de relações de propriedade específicas. O problema original da liberdade – as relações do homem com a natureza – se modifica. Mas de que maneira e até que ponto, uma determinada forma específica de propriedade impõe limitações à questão da liberdade humana?

István Mészáros (2006) responde-nos da seguinte forma. Uma nova complicação surge, porque as limitações podem ou não aparecer também como restrições político-jurídicas, propondo-nos que o problema da liberdade tem que ser discutido numa relação tríplice. 1.O grau de liberdade com relação à necessidade natural alcançada por uma determinada fase da evolução humana. As relações de propriedade devem ser avaliadas, no caso, em função de sua contribuição para esse fim. 2. As formas de propriedade são expressões de relações humanas determinadas. Devemos indagar: como a margem de liberdade obtida, isto é, a liberdade em relação à necessidade natural – é distribuída entre os vários grupos reunidos nas relações de propriedade existentes? Em certas condições, pode ocorrer que as condições de qualquer grau de liberdade no sentido (1) privem a grande maioria da população de qualquer gozo da liberdade, que é reservada a pequenos segmentos da sociedade. A liberdade, nesse sentido essencialmente negativo, contrasta com o caráter positivo do sentido (1), não se refere diretamente à relação entro o homem e natureza, mas entre homem e homem. É a liberdade em relação ao poder de interferência de outros homens. Devemos, porém, ressaltar que há uma inter-relação inerente dos sentidos negativo e positivo da liberdade. Assim, o sentido (2) – esse sentido essencialmente negativo – de liberdade também possui um aspecto positivo, na medida em que encerra, necessariamente, uma referência ao conteúdo sentido. 3. A terceira relação refere-se à “liberdade para exercer os poderes essenciais do homem”.

Ela possui um caráter positivo, e, portanto, necessita de algo mais do que sanções legais para sua realização. De fato, a legalidade é completamente impotente para além da possibilidade de proporcionar um quadro favorável para desenvolvimentos positivos. Só podemos legislar sobre o sentido (2), essencialmente negativo, para eliminar anacronismos e estabelecer proteções contra a sua reaparição. Mesmo que a liberdade seja realizada no sentido (2) – isto é, se ela for legalmente distribuída segundo o princípio da igualdade – a questão permanece: até que ponto o homem é livre no sentido positivo? Marx descreveu esse sentido como a liberdade de exercer os “poderes essenciais” do homem. A restrição político-jurídica pode, evidentemente, interferir neste livre exercício dos poderes essenciais do homem. Porém, mesmo que esta interferência seja eliminada, a liberdade positiva não é levada à sua realização enquanto houver outros fatores que interfiram nela. Nem podemos esperar uma solução legislativa para o problema: as dificuldades inerentes à liberdade positiva devem ser resolvidas no nível em que surgem. As relações de propriedade, sob esse aspecto, devem ser avaliadas de acordo com o critério do que promovem o livre exercício dos poderes essenciais do homem. Assim, os aspectos políticos da teoria da alienação de Marx podem ser resumidos nessa relação tríplice entre a liberdade e as relações de propriedade existentes. A questão central é então: qual a contribuição de uma determinada forma de relações de propriedade para tornar o homem mais livre: 1. Da necessidade natural; 2. Do poder de interferência dos outros homens; e 3. Em relação a um exercício mais cabal de seus próprios poderes essenciais. A questão da alienação, nesse contexto, refere-se a um processo que afeta negativamente a liberdade nessa tríplice relação do homem com a natureza, com os “outros homens” e “consigo mesmo”, isto é, com seus próprios poderes essenciais. Em outros termos: a alienação, sob esse aspecto, é a negação da liberdade humana em seus sentidos negativos e positivos. A resposta política de Marx à questão de sabermos se as relações de propriedade capitalista tornam o homem mais livre nos sentidos enunciados anteriormente é um Não historicamente fundamentado e qualificado do pensamento.

Bibliografia geral consultada.

GIANNOTTI, José Arthur, Trabalho e Reflexão. Ensaios para uma dialética da sociabilidade. São Paulo: Editora Brasiliense, 1984; MÉSZÁROS, István, A Teoria da Alienação em Marx. São Paulo: Boitempo Editorial, 2006; JAY, Martin, A Imaginação Dialética: História da Escola de Frankfurt, 1923-1950. Rio de Janeiro: Editora Contraponto, 2008; CHEROBINI, Demetrio, Educação e Política no Pensamento de István Mészáros: Ensaio Introdutório. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Educação. Centro de Ciências da Educação. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2010; LÖWY, Michael, A Teoria da Revolução no Jovem Marx. 1ª ed., ampl. e atual. São Paulo: Boitempo Editorial, 2012; Idem, A Jaula de Aço: Max Weber e o Marxismo Weberiano. 1ª edição. São Paulo: boitempo Editorial, 2014; MENEZES, Rafael Lessa Vieira de Sá, Crítica dos Direitos Humanos à Luz da Leitura de István Mészáros. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Direito. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2013; ALVES, Stênio Eduardo de Sousa, A Crise Estrutural do Capital de István Mészáros como uma Síntese Sui Generis: Possibilidades e Limites. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais. Uberlândia: Universidade Federal de Uberlândia, 2014; ALBUQUERQUE, Rafael João Mendonça de, A Permanência do Capital na Experiência Soviética na Obra Para Além do Capital, de István Mészáros. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Serviço Social. Maceió: Universidade Federal de Alagoas, 2019; SOUZA, Daniela Rezende de, Formação Humana em István Mészáros: Contribuições da Produção Acadêmico-Científica. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Educação. Unidade Acadêmica Especial de Educação. Jataí: Universidade Federal de Jataí, 2021; SANTOS, Milena da Silva, Mészáros: Defeitos Estruturais de Controle do Capital e Estado. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Serviço Social. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Natal: Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2021; BRANDÃO, Daniel Silva, A Educação em István Mészáros: Reflexões por uma Prática Educacional Transformadora. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas. Manaus: Universidade do Estado do Amazonas, 2022; entre outros.