quinta-feira, 15 de maio de 2025

Encontro Explosivo – Velocidade & Amor, Impávido Agente Secreto.

É uma permanente brincadeira sobre a persona do ator”. in Gazeta do Povo, 08 de julho de 2010 

O amor é uma das grandes categorias sociais que dá forma ao existente, mas isso é dissimulado tanto por certas realidades psíquicas como in fieri por certos modos de representações teóricas. Não há dúvida que o efeito amoroso desloca e falsifica inúmeras vezes a imagem objetivamente reconhecível de seu objeto e, nessa medida, é decerto geralmente reconhecido, segundo Simmel, como “formativo”, mas de uma maneira que não pode visivelmente parecer coordenada com as outras forças espirituais que dão forma. Trata-se de uma imagem já existente que se encontra modificada em sua determinação qualitativa, sem que se tenha abandonado seu nível de existência teórica, nem criado um produto de uma nova categoria. Essas modificações que o amor já presente traz à exatidão objetiva da representação nada têm a ver com a criação inicial que produz o ser amado como tal. Na verdade, todas essas categorias são coordenadas, por sua significação, quaisquer que sejam o momento ou as circunstâncias em que elas atuam. E o amor é uma delas, na medida em que cria seu objeto como produto totalmente original. É preciso, antes de mais anda, que o ser humano exista e seja conhecido, antes de ser amado. Esse algo que acontece não tem lugar com esse ser existente que permaneceria não modificado, foi, ao contrário, no sujeito que uma nova categoria fundamental se tornou criadora. Eu, amante, sou diferente do quer era antes – pois não é determinado “aspecto” meu, determinada energia que ama em mim, mas meu ser inteiro, o que não precisa uma transformação das minhas outras manifestações -, é um outro, nascendo de outro que não o ser conhecido ou temido, indiferente ou venerado.

Por que o amor está, antes de mais nada, absolutamente intricado em seu objeto, e não simplesmente associado a ele: ou seja, o objeto do amor em toda a sua significação categorial não existe antes do amor, mas apenas por intermédio dele. O que faz aparecer de maneira bem clara que o amor – e, no sentido lato, todo o comportamento do amante enquanto tal – é algo absolutamente unitário, que não pode se compor a partir de elementos preexistentes. Totalmente inúteis parecem, pois, as tentativas de considerar o amor como um produto secundário, no sentido de que seria motivado como resultante de outros fatores psíquicos primários. No entanto, ele pertence a um estágio demasiado elevado da natureza humana para que possamos situá-lo no mesmo plano cronológico e genético da respiração ou da alimentação, ou mesmo do instinto sexual. Tampouco podemos safar-nos do embaraço por esta escapatória fácil: em virtude de seu sentido metafísico, de seu significado atemporal, o amor permanece sem dúvida à primeira – ou última - ordem dos valores e das ideias, mas sua realização humana ou psicológica colocá-lo-ia num estágio ulterior de uma série longa e complexa na evolução contínua da vida. Não podemos nos satisfazer com essa estranheza recíproca de seus significados ou de suas areações. O problema de seu dualismo é aí, reconhecido e bem expresso, mas não resolvido; determo-nos nessa conclusão seria duvidar de sua solubilidade.

O amor é sempre uma dinâmica que se gera, filosoficamente para Simmel (1993), por assim dizer, a partir de uma autossuficiência interna, sem dúvida trazida, por seu objeto exterior, do estado latente ao estado de perfeição atualmente, mas que não pode ser, propriamente falando, provocada por ele; a alma o possui enquanto realidade última, ou não o possui, e nós não podemos remontar, para além dele, a um dos movens exterior ou interior que, de certa forma, seria mais que sua causa ocasional. É esta a razão mais profunda que torna o procedimento de exigi-lo, a qualquer título legítimo que seja totalmente desprovido de sentido. Sequer sua atualização dependa sempre de um objeto, e se aquilo que chamamos de desejo ou necessidade de amor – esse impulso surdo e sem objeto, em particular na juventude, em direção a qualquer coisa a ser amada – já não é amor, que por enquanto só se move em si mesmo, digamos um amor em roda livre. Seguramente, a pulsão em direção a um comportamento poderá ser considerada como o aspecto afetivo do próprio comportamento, ele próprio já iniciado; o fato de nos sentirmos “levados” a uma ação significa que a ação já começou anteriormente e que seu acabamento não é outra coisa que o desenvolvimento ulterior dessas primeiras inervações. Onde, apesar do impulso sentido, não passamos à ação, porque a energia não basta para ir além desses primeiros elos da ação, seja porque ela é contrariada por forças opostas, antes mesmo que esses primeiros elos já anunciados à consciência tenham podido se prolongar num ato visível.

A possibilidade real, a ocasião apriorística desse modo de comportamento que chamamos amor, fará surgir, se for o caso, e levará à consciência, como um sentimento obscuro e geral, inicial de sua própria realidade, antes mesmo que a ele se some a incitação por um objeto determinado para levá-lo a seu efeito acabado.  A existência desse impulso sem objeto, por assim dizer incessantemente fechado em si, acento premonitório do amor, puro produto do interior e, no entanto, já acento de amor, é a prova mais decisiva em favor da essência central puramente interior do fenômeno amor, muitas vezes dissimulado sob um modo de representação pouco claro, segundo o qual o amor seria uma espécie de surpresa ou de violência vindas do exterior, tendo su símbolo mais pertinente no “filtro do amor”, em vez de uma maneira de ser, de uma modalidade e de uma orientação que a vida como tal toma por si mesma – como se o amor viesse de seu objeto, quando, na realidade, vai em direção a ele. De fato, o amor é o sentimento que, fora dos sentimentos religiosos, se liga mais estreita e mais incondicionalmente a seu objeto. À acuidade com a qual ele brota do sujeito corresponde a acuidade igual com que ele se dirige para o objeto. É que nenhuma instância vem se interpor. Se venero alguém. É pela qualidade de venerabilidade que, em sua realidade particular, permanece ligada à imagem desse por tanto tempo quanto eu o venerar, passível de adoração, contemplação e grande respeito.

Por mais insuficiente, por mais preso a um estreito simbolismo humano que esteja o conceito de objetivo e de meios em presença da misteriosa realização da vida, devemos qualificar essa emoção sexual de meio de que a vida se serve para a manutenção da espécie, confiando aqui a consecução desse objetivo não mais a um mecanismo (no sentido lato) mas a mediações psíquicas. Enfim, a pulsão, dirigida a princípio, tanto no sentido genérico quanto no sentido hedonista, ao outro sexo enquanto tal, parece ter diferenciado cada vez mais seu objeto, à medida que seus suportes se diferenciavam, até singularizá-lo. Claro, sabemos que a pulsão não se torna amor pelo simples fato de sua individualização; esta última pode ser refinadamente hedonista, ou instinto vital-teleológico para o parceiro apto a procriar os melhores filhos.  Mas, indubitavelmente, ela cria uma disposição formativa e, por assim dizer, um marco para essa exclusividade que constitui a essência do amor, mesmo quando seu sujeito se volta para uma pluralidade de objetos. Não duvidamos em absoluto que no seio do que se chama “atração dos sexos” constitui-se o primeiro factum, ou, se quiserem, a prefiguração do amor. A vida se metamorfoseia também nessa produção, traz sua corrente à altura dessa onda, cuja crista, porém, sobressai livremente acima dela. Se considerarmos o processo da vida como um dispositivo de meios a serviço desse objetivo e se levarmos em conta o significado efetivo do amor para a propagação da espécie, então este também é um dos meios que a vida se dá para si e a partir de si.

Do mesmo modo, no homem que temo, o caráter terrível e o motivo que o provocou estão intimamente ligados; mesmo o homem que odeio não é, na maioria dos casos separado em minha representação da causa desse ódio – é esta uma das diferenças entre amor e ódio que desmente a assimilação que comumente se faz deles. Mas o específico do amor é excluir do amor existente a qualidade mediadora de seu objeto, sempre relativamente geral, que provocou o amor por ele. Ele permanece como intenção direta e centralmente dirigida para esse objeto, e revela a sua natureza verdadeira e incomparável nos casos em que sobrevive ao desaparecimento indubitável do que foi sua razão de nascer. Essa constelação, que engloba inúmeros graus, desde a frivolidade até a mais alta intensidade, é vivida segundo o mesmo modelo, seja em relação a uma mulher ou a um objeto, a uma ideia ou a um amigo, à pátria ou a uma divindade. Isso deve ser solidamente estabelecido em primeiro lugar, se quisermos elucidar em sua estrutura seu significado mais restrito, o que se eleva no terreno da sexualidade. A ligeireza com que a opinião corrente alia instinto sexual a amor lança talvez uma das pontes mais enganadoras na paisagem psicológica exageradamente rica em construções desse gênero. Quando, ademais, ela penetra no domínio da psicologia que se dá por científica, temos com demasiada frequência a impressão de que esta última caiu nas mãos de açougueiros. Por outro lado, o que é óbvio, não podemos afastar pura e simplesmente essa relação. Nossa emoção sexual, afirma Simmel, desenrola-se em dois níveis de significação. Por trás do arrebatamento e do desejo, da realização e do prazer sentidos, diretamente subjetivos, delineia-se, consequência disso tudo, a reprodução da espécie. Pela propagação do plasma germinal a vida corre levada de ponta a ponta.

Por mais insuficiente, por mais preso a um estreito simbolismo humano que esteja o conceito de objetivo e de meios em presença da misteriosa realização da vida, devemos qualificar essa emoção sexual de meio de que a vida se serve para a manutenção da espécie, confiando aqui a consecução desse objetivo não mais a um mecanismo (no sentido lato) mas a mediações psíquicas. Enfim, a pulsão, dirigida a princípio, tanto no sentido genérico quanto no sentido hedonista, ao outro sexo enquanto tal, parece ter diferenciado cada vez mais seu objeto, à medida que seus suportes se diferenciavam, até singularizá-lo. Claro, sabemos que a pulsão não se torna amor pelo simples fato de sua individualização; esta última pode ser refinadamente hedonista, ou instinto vital-teleológico para o parceiro apto a procriar os melhores filhos.  Mas, indubitavelmente, ela cria uma disposição formativa e, por assim dizer, um marco para essa exclusividade que constitui a essência do amor, mesmo quando seu sujeito se volta para uma pluralidade de objetos. Não duvidamos em absoluto que no seio do que se chama “atração dos sexos” constitui-se o primeiro factum, ou, se quiserem, a prefiguração do amor. A vida se metamorfoseia também nessa produção, traz sua corrente à altura dessa onda, cuja crista, porém, sobressai livremente acima dela. Se considerarmos o processo da vida como um dispositivo de meios a serviço desse objetivo e levarmos em conta o significado efetivo do amor para a propagação da espécie, então este também é um dos meios que a vida se dá para si e a partir de si.

Knight and Day (2010) tem como representação social um filme de comédia de ação satírica norte-americana, dirigido por James Mangold, notável por sua versatilidade em lidar com uma variedade de gêneros, Mangold fez sua estreia como diretor de cinema com Heavy (1995), e ganhou reconhecimento pelos filmes Cop Land (1997), Girl, Interrupted (1999), Identity (2003), Johnny & June (2005), 3:10 to Yuma (2007), e dois filmes da franquia X-Men com The Wolverine (2013) e Logan (2017), o último dos quais lhe rendeu uma indicação ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado. É estrelado por Tom Cruise e Cameron Diaz. O filme foi a segunda colaboração de Cruise e Diaz na tela depois de Vanilla Sky (2001) em que um jovem rico luta para distinguir os sonhos da realidade após um acidente que o deixa desfigurado. As filmagens ocorreram principalmente em várias cidades localizadas em Massachusetts, oficialmente a Comunidade de Massachusetts, na região da Nova Inglaterra do Nordeste dos Estados Unidos, enquanto outras cenas foram filmadas na Espanha, o maior país do Sul da Europa e o quarto estado-membro mais populoso da UE. Abrangendo a maior parte da Península Ibérica, seu território inclui as Ilhas Canárias, no Oceano Atlântico Oriental, as Ilhas Baleares, no Mar Mediterrâneo Ocidental, e as cidades autônomas de Ceuta e Melilla na África continental, e em partes da Áustria, um país sem litoral na Europa Central, situado nos Alpes Orientais e Jamaica, é a terceira maior ilha, depois de Santiago de Cuba e Hispaniola das Grandes Antilhas e do Caribe.

O filme segue a trilha aberta de June Havens (Cameron Diaz), uma restauradora de carros clássicos, que involuntariamente se envolve com Roy Miller (Tom Cruise), um excêntrico agente secreto, enquanto Roy está fugindo da Central Intelligence Agency (CIA), um serviço civil de inteligência estrangeira do governo federal dos Estados Unidos, oficialmente encarregado de coletar, processar e analisar informações de segurança nacional de todo o mundo, por meio da utilidade de uso de inteligência humana treinada disciplinarmente e conduzir ações secretas por meio de suas operações especiais. A CIA foi criada em 26 de julho de 1947, quando Harry S. Truman (1884-1972) sancionou a Lei de Segurança Nacional. Um grande impulso para a criação da agência foi o aumento das tensões com a União Soviética após o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Os investidores do filme compensaram “os custos de financiamento pagando a Cruise uma taxa inicialmente menor e fornecendo-lhe uma parte da receita somente depois que os financiadores reembolsassem seu investimento na produção”. Knight and Day foi lançado nos Estados Unidos em 23 de junho de 2010 e recebeu críticas mistas “com elogios às suas sequências de ação e às atuações de Cruise e Diaz, mas criticaram seu roteiro”. O filme arrecadou US$ 262 milhões em todo o mundo e foi refeito em hindi como Bang Bang!, com Hrithik Roshan e Katrina Kaif nos papéis principais.

Um herói de ação imagética ou heroína de ação tem como representação social o protagonista de um filme de ação ou outra forma de entretenimento que retrata ação, aventura e, muitas vezes, violência. Outras mídias em que tais heróis aparecem incluem tradicionalmente filmes de capa e espada, filmes de faroeste, rádio antigo, romances de aventura, romances baratos, revistas populares e folclore. A origem do herói de ação está enraizada na história do imperialismo, com histórias de aventura escritas principalmente para meninos, para se imaginarem como homens em viagens e vivenciando uma ação emocionante. A palavra imperialismo surge a partir da palavra imperium em latim, e significa poder supremo. Seu significado atual surge no Reino Unido na década de 1870 e foi usado com uma conotação negativa. Na Grã-Bretanha, a palavra tinha sido usada para se referir à política de Napoleão III (1808-1873) de obtenção de opinião pública favorável na França, comparativamente, através de intervenções militares fora do país. Shawn Shimpach academicamente escreveu: “Os jovens homens brancos que eram (ou se tornaram) os sujeitos engrandecidos dessas histórias motivaram as narrativas por meio de sua propensão à ação e resolveram conflitos por meio da violência informada por coragem, inteligência e habilidade inata, garantindo, em cada história, o futuro do mundo pelo qual eles eram responsáveis e no processo de confirmação de sua identidade masculina”. 

No início do século XX, essa narrativa foi comercializada e as histórias foram “prontamente adaptadas” para o cinema. Um dos primeiros atores dos heróis de ação foi Douglas Fairbanks. No Chicago Tribune, Donald Liebenson escreveu: “Douglas Fairbanks foi o primeiro grande herói de ação de Hollywood, mais conhecido pelas fantasias épicas que o estabeleceram como o espadachim mais arrojado da tela”. Um dos personagens do heroísmo de ação definidores interpretado por Fairbanks foi Zorro, que Michael Sragow chamou de “a figura de ação mais influente da história do cinema e o guerreiro do cinema mais feliz de todos os tempos”. Fairbanks foi seguido por Errol Flynn, o qual alcançou a fama como Robin Hood no filme de 1938, As Aventuras de Robin Hood. Em meados do século XX, “o gênero de ação era previsivelmente povoado por heróis galantes e atraentes vivendo aventuras emocionantes e exóticas, sem impedimentos (se claramente alinhados a) fronteiras nacionais, culturais ou estaduais”. Quando a televisão se tornou comum, programas que apresentavam “heróis de ação” incluíam Adventures of Superman (1952–1958), The Avengers (1961–1969), The Saint (1962–1969), The Man from UNCLE (1964–1968), Batman (1966–1969) e Mission Impossível (1966–1973). Shimpach disse que “ofereceram homens brancos extraordinários (embora nem sempre completamente sérios) que resolveriam conflitos por meio de ação direta e violência, enquanto exibiam seu domínio sem esforço dos espaços urbanos, novas tecnologias, moda e seus próprios corpos”. O sucesso dos Commandos britânicos durante a Segunda Guerra Mundial levou o presidente Franklin D. Roosevelt (1882-1945), a autorizar a criação de um serviço de inteligência modelado após o Secret Intelligence Service (MI6), e Special Operations Executive.

O que levou à criação do Escritório de Serviços Estratégicos (OSS), estabelecido por uma ordem militar presidencial emitida pelo presidente Roosevelt em 13 de junho de 1942. Em 20 de setembro de 1945, logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, Harry S. Truman assinou uma ordem executiva dissolvendo o OSS e, em outubro de 1945, suas funções foram divididas entre os Departamentos de Estado e de Guerra. A divisão durou apenas alguns meses. A primeira menção pública da “Agência Central de Inteligência” apareceu em uma proposta de reestruturação de comando apresentada por James Forrestal e Arthur Radford ao Comitê de Assuntos Militares do Senado dos Estados Unidos no final de 1945. O agente de Inteligência do Exército, Coronel Sidney Mashbir, e o Comandante Ellis Zacharias trabalharam juntos por quatro meses sob a direção do Almirante da Frota Ernest King, e preparou o primeiro esboço e diretrizes de implementação para a criação do que viria a ser a Agência Central de Inteligência. Apesar da oposição do establishment militar, do Departamento de Estado dos Estados Unidos e do Federal Bureau of Investigation (FBI), Truman estabeleceu a Autoridade Nacional de Inteligência em janeiro de 1946. Sua extensão operacional ficou reconhecida como Central Intelligence Group (CIG), que foi o predecessor direto da CIA. Lawrence Houston, conselheiro-chefe da SSU, CIG e, mais tarde, CIA, foi o principal redator da Lei de Segurança Nacional de 1947, que dissolveu o NIA e o CIG e estabeleceu o Conselho de Segurança Nacional e a Agência Central de Inteligência (CIA). Em 1949, Houston ajudou a redigir pragmaticamente a Lei da Agência Central de Inteligência, que autorizou a agência a usar procedimentos fiscais e administrativos sigilosos e a isentou da maioria das limitações ao uso de recursos federais.

No início da Guerra da Coreia, a CIA ainda tinha apenas alguns milhares de funcionários, cerca de mil dos quais trabalhavam em análise. A inteligência veio principalmente do Escritório de Relatórios e Estimativas, que extraía seus relatórios de uma tomada diária de telegramas do Departamento de Estado, despachos militares e outros documentos públicos. A CIA ainda carecia de suas habilidades de coleta de informações. Em 21 de agosto de 1950, pouco depois, Truman anunciou Walter Bedell Smith como o novo diretor da CIA. A mudança de liderança ocorreu logo após a invasão da Coreia do Sul, já que a falta de um aviso claro ao Presidente e ao Conselho de Segurança Nacional sobre a iminente invasão norte-coreana foi vista como uma grave falha da Inteligência. A CIA tinha diferentes demandas feitas pelos vários órgãos que a supervisionavam. Truman queria um grupo centralizado para organizar as informações que chegavam até ele, o Departamento de Defesa queria inteligência militar e ação encoberta, e o Departamento de Estado queria criar uma mudança política global favorável aos EUA. Assim, as duas áreas de responsabilidade da CIA eram a ação encoberta e a inteligência encoberta. Um dos principais alvos da coleta de informações era a União Soviética, que também havia sido uma prioridade dos predecessores da CIA.

O general da Força Aérea dos Estados Unidos, Hoyt Vandenberg, segundo diretor da CIG, criou o Gabinete de Operações Especiais (OSO), bem como o Gabinete de Relatórios e Estimativas (ORE). Inicialmente, o OSO foi encarregado de espionagem e subversão no exterior com um orçamento de $ 15 milhões, a generosidade de um pequeno número de patronos no Congresso. Os objetivos de Vandenberg eram muito parecidos com os de seu antecessor; descobrindo “tudo sobre as forças soviéticas na Europa Oriental e Central - seus movimentos, suas capacidades e suas intenções”. Em 18 de junho de 1948, o Conselho de Segurança Nacional emitiu a Diretiva 10/2[134] pedindo uma ação secreta contra a URSS, e conceder autoridade para realizar operações secretas contra “estados ou grupos estrangeiros hostis” que poderiam, se necessário, ser negados pelo governo dos Estados Unidos. Para tanto, foi criado o Escritório de Coordenação de Políticas (OPC) dentro da nova CIA. O OPC era único; Frank Wisner, chefe do OPC, respondia não ao diretor da CIA, mas aos Secretários de Defesa, Estado, ao Conselho de Segurança Nacional e as ações do OPC eram um segredo até mesmo do chefe da CIA. A maioria das estações da CIA tinha dois chefes de estação, um trabalhando para o OSO e outro para o OPC. O histórico inicial da CIA era ruim, com a agência incapaz de fornecer informações suficientes sobre as aquisições soviéticas da Romênia e da Checoslováquia, o bloqueio soviético de Berlim e o projeto soviético da bomba atômica. Em particular, a agência falhou em prever a entrada chinesa na Guerra da Coreia com 300 000 soldados. O famoso agente duplo Kim Philby representava o contato britânico com a Inteligência Central norte-americana. Por meio dele, a CIA coordenou centenas de airdrops dentro da chamada Cortina de Ferro, todos comprometidos por Philby. Arlington Hall, o centro nervoso da criptoanálise da CIA, foi comprometido por Bill Weisband (1908-1967), um tradutor russo e espião soviético.

No entanto, a CIA teve sucesso em influenciar a eleição italiana de 1948 em favor dos democratas-cristãos. O Fundo de Estabilização Cambial de 200 milhões de dólares, destinado à reconstrução da Europa, foi usado para pagar americanos ricos de origem italiana. O dinheiro foi então distribuído à Ação Católica, o braço político do Vaticano, e diretamente aos políticos italianos. Essa tática de usar seu grande fundo para comprar eleições foi repetida com frequência nos anos subsequentes. No início da Guerra da Coreia, o oficial da CIA Hans Tofte afirmou ter transformado mil expatriados norte-coreanos em uma força de guerrilha encarregada de infiltração, guerrilha e resgate de pilotos. Em 1952, a CIA enviou mais 1 500 agentes expatriados para o norte. O chefe da estação de Seul, Albert Haney, celebraria abertamente as capacidades desses agentes e as informações que eles enviaram. Em setembro de 1952, Haney foi substituído por John Limond Hart, um veterano da Europa com uma memória vívida de amargas experiências sobretudo de desinformação. Hart suspeitou do desfile de sucessos relatados por Tofte e Haney e lançou uma investigação especificamente que determinou que todas as informações fornecidas pelas fontes coreanas eram falsas ou enganosas.

Após a guerra, análises internas da CIA corroborariam as descobertas de Hart. A estação da CIA em Seul tinha 200 oficiais, mas nenhum falante de coreano. Hart relatou a Washington, D.C. que a estação de Seul era desesperadora e não poderia ser recuperada. Loftus Becker, vice-diretor de inteligência, foi enviado pessoalmente para dizer a Hart que a CIA precisava manter a estação aberta para salvar a face. Becker voltou a Washington, declarou que a situação era "sem esperança" e que, depois de visitar as operações da CIA no Extremo Oriente, a capacidade da CIA de reunir informações no Extremo Oriente era “quase insignificante”. Ele então renunciou. O coronel da Força Aérea, James Kallis, afirmou que o diretor da CIA, Allen Dulles, continuou a elogiar a força coreana da CIA, apesar de saber que estavam sob controle inimigo. Quando a China entrou na guerra em 1950, a CIA tentou uma série de operações subversivas no país, todas fracassadas devido à presença de agentes duplos. Milhões de dólares foram gastos nesses esforços. Isso incluiu uma equipe de jovens oficiais da CIA lançados de avião na China que sofreram uma emboscada e fundos da CIA usados ​​para estabelecer um império global de heroína no Triângulo Dourado da Birmânia após uma traição de outro agente duplo. A CIA enfrentou controvérsia por ajudar na derrubada britânica do primeiro-ministro iraniano Mohammed Mossadegh em 1953. Em 1951, Mohammed Mossadegh, membro da Frente Nacional, foi eleito primeiro-ministro iraniano. Como primeiro-ministro, ele nacionalizou a Anglo-Iranian Oil Company, que seu antecessor havia apoiado.

A nacionalização da indústria petrolífera iraniana financiada pelos britânicos, incluindo a maior refinaria de petróleo do mundo, foi desastrosa para Mosaddegh. Um embargo naval britânico fechou as instalações petrolíferas britânicas, que o Irã não tinha trabalhadores qualificados para operar. Em 1952, Mosaddegh resistiu à recusa real de aprovar seu Ministro da Guerra e renunciou em protesto. A Frente Nacional saiu às ruas em protesto. Temendo uma perda de controle, os militares retiraram suas tropas cinco dias depois, e o xá Mohammad Reza Pahlavi cedeu às exigências de Mosaddegh. Mosaddegh rapidamente substituiu os líderes militares leais ao xá pelos leais a ele, dando-lhe controle pessoal sobre os militares. Com seis meses de poderes de emergência, Mosaddegh aprovou legislação unilateralmente. Em 1953, Mossadegh dissolveu o parlamento e assumiu poderes ditatoriais. Essa tomada de poder levou o xá a exercer seu direito constitucional de demitir Mosaddegh. Mosaddegh lançou um golpe militar enquanto o xá fugia do país. Sob o comando do diretor da CIA, Allen Dulles, a Operação Ajax foi iniciada. Seu objetivo era derrubar Mossadegh com o apoio militar do general Fazlollah Zahedi e instalar um regime pró-ocidental liderado pelo xá do Irã. Kermit Roosevelt Jr. supervisionou a operação no Irã. Em 16 de agosto, seu novo círculo militar interno protegeu uma multidão paga pela CIA liderada pelo Aiatolá Ruhollah Khomeini que desencadearia o que um oficial da embaixada dos EUA chamou de “uma revolução quase espontânea”, mas Mosaddegh e a CIA não conseguiram ganhar influência dentro das forças armadas iranianas. O homem escolhido ex-general Fazlollah Zahedi, não tinha a quem recorrer. Após o fracasso do primeiro golpe, Roosevelt pagou manifestantes para se passar por comunistas e desfigurar símbolos associados ao xá.

 Este incidente de 19 de agosto ajudou a promover o apoio público ao xá e liderou gangues de cidadãos em uma onda de violência com a intenção de destruir Mossadegh. Um ataque à sua casa forçaria Mossadegh a fugir. Ele se rendeu no dia seguinte, e seu golpe chegou ao fim. June Havens, que está voltando para casa em Boston depois de comprar peças de carro em Wichita, colide com Roy Miller no aeroporto e é transferida para um voo posterior. John Fitzgerald, um agente da CIA, presume que June esteja trabalhando com Roy e a coloca de volta no avião. Enquanto June está no banheiro, se asseando, Roy subjuga os passageiros e a tripulação, que são agentes enviados por Fitzgerald, e faz o avião cair em um milharal. Drogando June, em choque, Roy avisa que agentes virão atrás dela. Ao acordar em casa, ela se prepara para o casamento de sua irmã April. June descobre que April quer vender o Pontiac GTO tri-power 1966 do pai, que June planejava restaurar como presente de casamento. Ela é resgatada por Fitzgerald e seus agentes. Roy aparece e a resgata, enquanto também mata vários agentes em uma perseguição na estrada. June foge para a casa de seu ex-namorado Rodney, da corporação de bombeiro, antes que Roy chegue e finja sequestrá-la, atirando em Rodney em fuga e perseguição que vinha ocorrendo. Ele convence June de que ela está mais segura com ele e revela que possui o Zephyr, uma bateria extraordinariamente de energia perpétua, e que havia sido designado para proteger seu inventor, Simon Feck, até que Fitzgerald tentou roubar a bateria, incriminando Roy.

No Brooklyn, June e Roy descobrem que Feck se escondeu, mas deixaram uma pista para Roy de que ele está nos Alpes. Eles são atacados por capangas enviados por Antonio Quintana, um traficante de armas espanhol. June é drogada novamente e entra em transe enquanto são capturados e escapam para a ilha isolada de Roy. Ao atender um chamado da irmã, June acidentalmente leva os homens de Quintana ao esconderijo. Escapando do veículo aéreo não tripulado de Quintana em um helicóptero, Roy nocauteia June para driblar seu medo de voar no pequeno helicóptero. June acorda a bordo de um trem na Áustria, onde Roy se reencontrou com Feck, e eles conseguem matar Bernhard, um assassino profissional contratado por Quintana. Após se hospedar em um hotel em Salzburgo, June segue Roy até um encontro com Naomi, a capanga de Quintana, onde ele se oferece para vender o Zephyr. Fitzgerald e a diretora da Central Intelligence Agency, Isabel George, encontram June e revelam que Roy a usou no aeroporto para contrabandear o Zephyr pela segurança. Desolada, June os leva ao hotel. Fugindo pelos telhados, Roy é baleado e cai no rio com o enigmático Zephyr.

Feck é sequestrado da custódia da CIA por Fitzgerald, o verdadeiro traidor, para ser entregue a Quintana, na Espanha. De volta para casa, June comparece ao casamento da irmã e visita um endereço que Roy vinha monitorando, onde conhece os pais dele e descobre que seu verdadeiro nome é Matthew Knight. Os pais dele acreditam que o filho, um sargento do Exército e escoteiro, foi morto em combate e ganhou várias loterias e sorteios dos quais não se lembram de ter participado. Deixando um recado em sua secretária eletrônica declarando que tem o Zephyr, June é levada pelos homens de Quintana para Sevilha. Dopada com um protótipo de “soro da verdade”, June explica que o acordo de Roy com Quintana tinha como objetivo alertar a CIA para que June pudesse voltar para casa em segurança a tempo do casamento. Roy rastreia Fitzgerald, resgata June e lidera Quintana e seus homens em uma perseguição de carro. Quintana é morta por uma debandada de touros no perímetro urbano de Madri e Roy troca o Zephyr com Fitzgerald por Feck. Fitzgerald atira em Feck mesmo assim, mas Roy leva o tiro. Logo após Feck revelar que a bateria está instável, ela explode, matando Fitzgerald. 

Roy é hospitalizado em Washington, D.C. onde George lhe conta que June seguiu em frente e o recebe de volta à CIA. No entanto, a linguagem codificada de George revela que ele será morto. June, disfarçada de enfermeira, droga Roy e o liberta do hospital. Acordando no GTO reconstruído, Roy e June dirigem em direção ao Cabo Horn, onde seus pais inesperadamente recebem suas próprias passagens. O cabo Horn é o ponto mais meridional da América do Sul, excluídas as Ilhas Geórgia do Sul e Sandwich do Sul e as Ilhas Diego Ramírez. Encontra-se na Ilha de Hornos, no arquipélago da Terra do Fogo, na porção pertencente ao Chile. Dos grandes cabos, é o que se encontra mais ao sul e compõe a parte norte do estreito de Drake. Até a abertura do canal do Panamá, era passagem obrigatória da rota dos navios que viajavam ao redor do globo, indo para a costa oeste dos Estados Unidos, China, Índia e toda a Ásia. cabo Hornier é o nome que é dado ao marinheiro e à embarcação que passa o Cabo Horn. As condições de navegação ao redor do cabo costumam ser severas, insularmente com fortes ventos, um marco para navegantes de todos os tipos reais, até nos dias atuais. Várias regatas de veleiros de oceano, como a Volvo Ocean Race, antiga Whitbread Round the World Race, velejam ao redor do globo terrestre passando pelo Cabo Horn.

Profissões, despojadas de suas roupagens próprias, são funções técnicas e sociais especializadas que as pessoas desempenham em resposta a necessidades especializadas de outras; são, ao menos em sua forma mais desenvolvida, segundo Norbert Elias, conjuntos especializados de relações humanas. Para ele, o estudo da gênese de uma profissão, portanto, não é simplesmente a apreciação de um certo número de indivíduos que tenham sido os primeiros a desempenhar certas funções para outros e a desenvolver certas relações, mas sim a análise de tais funções e relações sociais. Toas as profissões, ocupações, ou qualquer que seja o nome que tenham, são, de uma forma peculiar, independentes, não das pessoas, mas daquelas pessoas em particular pelas quais elas são representadas em uma época determinada. Elas continuam existindo depois que esses seus representantes morrem. Como as línguas, pressupõem a existência de um grupo. Descobertas científicas, invenções e o surgimento de novas necessidades humanas e de meios especializados para satisfazê-las são indubitavelmente fatores que contribuem para o desenvolvimento de uma nova profissão. O processo social como tal nível abstrato de análise sociológico, a gênese e o desenvolvimento de uma profissão ou de qualquer outra ocupação social, é mais que a soma total de atos individuais, do ponto de vista da função, tem em sua constituição seu modelo próprio de origem e significado.

  Nos estudos sobre a gênese da profissão naval nos Escritos & Ensaios, de Elias (2006: 69 e ss.), ele resgata do ponto de vista histórico, a crítica metodológica sobre a condição do fazer sociológico. Assim, infere o contexto social, se forem seres humanos que desempenharam papel importante na determinação do destino de seu próprio país, a briga interessará ao métier dos historiadores. Estes considerarão a briga como um acontecimento único, tentarão descobrir os motivos pessoais dos envolvidos e situa-los no interior de seu contexto histórico irrepetível. Mas e os sociólogos? Tendemos a pensar que cabe aos sociólogos se ocuparem com os problemas sociais. E, pela maneira como as palavras “sociedade” e “coletividade” são atualmente compreendidas, isso implica que os sociólogos não podem ou não deveriam se ocupar com os problemas dos indivíduos isolados. Em sua análise, um exame mais atento poderia revelar que há algo que não funciona bem nessa separação do trabalho intelectual, praticamente absoluta entre o estudo das sociedades e o dos seres humanos individuais. A regra do pensamento e expressão universalmente aceita, segundo a qual o que é “social” não pode ser “individual” e o que é “individual” não pode ser “social” é um desses axiomas fossilizados que têm a tendência a serem aceitos na medida em que em regra geral, todos parecem aceita-los, mas que desaparecem como “a roupa nova do rei” quando na medida certa com o desenvolvimento histórico são examinados sem preconceitos sociais.   

As sociedades não são nada além do que indivíduos conectados entre si; cada um dos indivíduos é dependente de outros, de seu (deles e dele e dela) amor, de sua língua, de seu conhecimento, de sua identidade, da manutenção da paz e de muitas outras coisas. Até mesmo os conflitos de classe são também – independentemente do que mais possam ser – conflitos entre seres humanos individuais. E um conflito entre dois seres humanos, por mais que possam ser algo único e pessoal, pode ser ao mesmo tempo representativo de uma luta entre diversos estratos sociais, remontando a várias gerações. O que aqui se expõe é o relato de um tal conflito. O material foi tomado em prestado da história. Não seria difícil encontrar, em nossa própria época, um material do mesmo tipo. Mas, como material para uma investigação paradigmática, é vantajosa a utilização de um conflito ocorrido em uma outra época. Fora de dúvida, afirma Elias, as paixões foram arrefecidas pela distância temporal. A história pode ser construída sem que o narrador seja distraído pelos argumentos convencionais de partidários e oponentes de sua própria época que, independentemente de sua vontade, repercutiriam em seus ouvidos. Além dos mais, nas sociedades passadas os seres humanos eram habitualmente menos ambíguos. Em geral, não se deixava pairar nenhuma dúvida sobre as linhas de divisão social que atravessavam a sociedade, e em que ponto da escala social alguém estava situado.

A ambiguidade do status, que pode surgir quando alguém ascende socialmente, tinha pouca influência sobre a avaliação da posição estamental, feita pelos contemporâneos, em sociedades com uma camada aristocrática superior que atribuía grande valor à origem social e ao berço. Não é, portanto, particularmente difícil estabelecer a hierarquia em um período passado e a posição nele ocupada por um determinado indivíduo, quando se observa bem o que seus contemporâneos tinham a dizer a respeito. A maioria das dificuldades possivelmente experimentadas pelos pesquisadores na reconstrução dessa hierarquia decorre do procedimento anacrônico utilizado: eles examinam as desigualdades de poder e status nas sociedades antigas como se elas tivessem necessariamente o mesmo caráter das existentes em sua própria sociedade. Um exemplo notável deste método de trabalho é a tendência atual de pretender descrever a desigualdade de poder e prestígio em geral em termos de classes sociais e estamentos. Tanto na literatura elizabetana e jacobita, sendo cristão ortodoxo monofisista da Igreja síria, na Inglaterra quanto na literatura francesa do mesmo período, de fato em todo o século XVII e em parte do século XVIII, essa divisão é mencionada. Essa separação estava ligada, na história da religião, mas não era idêntica, à divisão em diversos estamentos, tais como na Inglaterra, entre a nobreza e os comuns. Nem todos os cortesãos eram nobres, assim como, nem todos os membros da nobreza eram cortesãos. 

O conceito de figuração distingue-se de outros conceitos teóricos da sociologia por incluir expressamente os seres humanos em sua formação social. Contrasta, portanto, decididamente com um tipo amplamente dominante de formação de conceitos que se desenvolve sobretudo na investigação de objetos sem vida, portanto no campo da física e da filosofia para ela orientada. Há figurações de estrelas, assim como de plantas e de animais. Mas apenas os seres humanos formam figurações uns com os outros. O modo de sua vida conjunta em grupos grandes e pequenos é, de certa maneira, singular e sempre co-determinado pela transmissão de conhecimento de uma geração a outra, por tanto por meio do ingresso singular do mundo simbólico específico de uma figuração já existente de seres humanos. Às quatro dimensões espaço-temporais indissoluvelmente ligadas se soma, no caso dos seres humanos, uma quinta, a dos símbolos socialmente apreendidos. Sem sua apropriação, sem, por exemplo, o aprendizado de uma determinada língua especificamente social, os seres humanos não seriam capazes de se orientar no seu mundo nem de se comunicar e vivenciar cotidianamente uns com os outros. Um ser humano adulto, que não teve acesso aos símbolos da língua e do conhecimento de determinado grupamento social permanece fora de todas as figurações humanas, pois não é de fato socialmente um ser humano.

As definições de controle social são demasiado amplas e vagas, e, portanto, seria legítimo indagar, escolhendo-as mais ou menos ao acaso, para inferir que resultam em termos de um controle, isto é, qualquer estímulo ou complexo de estímulos que provoca uma determinada reação. Assim, pois, todos os estímulos são controles, pois representam a direção do comportamento por influências grupais, estimulando ou inibindo a ação individual ou grupal. O controle social pode ser definido como a soma total ou, antes, o conjunto de padrões culturais, símbolos sociais, signos coletivos, valores culturais, ideias e idealidades, tanto como atos quanto como processos diretamente ligados a eles, pelo qual a sociedade inclusiva, cada grupo particular, e cada membro individual participante superam as tensões e os conflitos entre si, através do equilíbrio temporário, e se dispõem a novos esforços criativos. Ipso facto, em toda a dimensão da vida associativa deverá haver algum ajustamento de relações sociais tendentes a prevenir a interferência de direitos e privilégios entre os indivíduos. De maneira mais específica, são três as funções do estabelecidas pelo controle social: a obtenção e a manutenção da ordem social, da proteção social e da eficiência social. O seu emprego hic et nunc na investigação sociológica contribuiu consideravelmente para produzir uma simplificação ou redução na análise dos problemas sociais, conseguida proporcionalmente, graças à compreensão positiva da integração das contradições correspondentes no sistema de organização das sociedades e da importância relativa de cada um deles, como e enquanto expressão do jogo social.  Embora obscuro e equívoco, em seu significado corrente, o conceito de controle social é necessário à investigação sociológica na modernidade, encontraram um sistema de referências propício à sua crítica, seleção lógica e coordenação metódica.  

 O crescimento de um jovem convivendo e habitando comum em figurações humanas, como processo social e experiência, assim como o aprendizado de um determinado esquema de autorregulação na relação com os seres humanos, é condição indispensável ao desenvolvimento rumo à humanidade. Socialização e individualização de um ser humano, são nomes diferentes para o processo. Cada ser humano assemelha-se aos outros, e é, ao mesmo tempo, diferente de todos os outros. O mais das vezes, as teorias sociológicas deixam sem resolver o problema da relação entre indivíduo e sociedade. Quando se fala que uma criança se torna um indivíduo humano por meio da integração em determinadas figurações, como, por exemplo, em famílias, em classes escolares, em comunidades aldeãs ou em Estados, assim como mediante a apropriação e reelaboração de um patrimônio simbólico social, conduz-se o pensamento por entre dois grandes perigos da teoria e das ciências humanas: o perigo de partir de um indivíduo a-social, portanto como que de um agente que existe por si mesmo; e o perigo de postular um “sistema”, um “todo”, em suma, uma sociedade humana que existiria para além do ser humano singular, para além dos indivíduos. Embora não possuam um começo absoluto, não tendo nenhuma per se outra substância a não ser seres humanos gerados familiarmente por pais e mães, as sociedades humanas não são simplesmente um aglomerado cumulativo dessas pessoas. O convívio dos seres humanos em sociedades tem sempre, mesmo no caos, na desintegração, na maior desordem social, uma forma absolutamente determinada. É isso que o conceito de figuração historicamente exprime.

O processo de concentração física de força pública se acompanhada de uma desmobilização da violência ordinária. A violência física só pode ser aplicada por um agrupamento especializado, especialmente mandatado para esse fim, claramente identificado no seio da sociedade pelo uniforme, portanto um agrupamento simbólico, centralizado e disciplinado. A noção de disciplina, sobre a qual Max Weber escreveu páginas magníficas, é capital: não se pode concentrar a força física sem, ao mesmo tempo, controla-la, do contrário é o desvio da violência física, e o desvio da violência física está para a violência física assim como o desvio de capitais está para a dimensão econômica: é o equivalente da concussão. A violência física pode ser concentrada num corpo formado para esse fim, claramente identificado em nome da sociedade pelo uniforme simbólico, especializado e disciplinado, isto é, capaz de obedecer como um só homem a uma ordem central que, em si mesma, não é geradora de nenhuma ordem. O conjunto das instituições sociais mandatadas para garantir a ordem, a saber, as forças públicas e de justiça, são, portanto, separadas pouco a pouco do mundo social corrente. Essa concentração do capital físico se realiza em um duplo contexto. Para uns, o desenvolvimento do exército profissional está ligado à guerra, assim como o imposto; mas há também a guerra interior, a guerra civil, a arrecadação do imposto como uma espécie de guerra civil. 

A estratégia do passado que visava organizar novos espaços urbanos transformou-se meramente em artifícios políticos e muito pouco em torno de reabilitação de patrimônios. Depois de haver inconscientemente projetado a cidade futura, torna-se uma cidade frequentada por sua estranheza, muito mais elevada aos excessos que reduzem o presente, a nada mais que simples escombros como caixas d`água que deixam escapar seu domínio do tempo. Mas os técnicos se denunciam já no quadriculamento que atrapalhavam os planejadores funcionalistas que deviam fazer tábula rasa das opacidades contidas nos projetos de cidades transparentes. Afinal qual o urbanismo que não descontroem mais do que uma guerra a questão da memória e da história aldeã, operária, com casas desfiguradas, fábricas desativadas, universidades sem vida, cacos de histórias naufragadas que hoje formam as ruínas de uma cidade fantasma ou fantasmas da cidade, antes modernista, cidade de massa, homogênea, como os lapsos de uma linguagem que se desconhece, quem sabe inconsciente. Mas elas surpreendem. O imaginário individual (sonho) e coletivo (mitos, ritos, símbolos), em primeiro lugar, são as coisas que o soletram. Eles têm uma função que consiste em abrir uma profundidade no presente, mas não têm mais o conteúdo que provê de sentido a estranheza do passado. Suas histórias políticas deixam de ser pedagógicas para inferir um final claramente trágico. 

O Estado se constitui, portanto, em relação à forma de governo um duplo contexto: de um lado, efeitos de poder político em relação a outros Estados, atuais ou potenciais, isto é, os princípios concorrentes – portanto, precisa concentrar “capital de força física” para travar a guerra pela terra, pelos territórios; de outro lado, em relação a um contexto interno, a contrapoderes, isto é, príncipes concorrentes ou classes dominadas que resistem à arrecadação do imposto ou ao recrutamento de soldados. Esses dois fatores favorecem a criação de exércitos poderosos dentro dos quais se distinguem progressivamente forças propriamente militares e forças propriamente policiais destinadas à manutenção da ordem interna. Essa distinção exército/polícia, evidente hoje, tem uma genealogia extremamente lenta, as duas forças têm sido por muito tempo confundido. O desenvolvimento do imposto está ligado às despesas de guerra. O nascimento do imposto é simultâneo a uma acumulação extraordinária de capital detido pelos profissionais da gestão burocrática e à cumulação de um imenso capital informacional. É o vínculo institucional entre Estado e estatística: o Estado está associado a um conhecimento racional do mundo social e governamental. A estatística em como representação o campo da matemática que relaciona fatos sociais e números em que há um conjunto de métodos que nos possibilita coletar dados e analisá-los, assim sendo possível realizar alguma interpretação deles.

Bibliografia Geral Consultada.

SIMMEL, Georg, Filosofia do Amor. São Paulo: Editora Martins Fontes, 1993; WAIZBORT, Leopoldo, Vamos Ler Georg Simmel? linhas para uma interpretação. Tese de Doutorado. Departamento de Sociologia. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1996; DURAND, Gilbert, As Estruturas Antropológicas do Imaginário: Introdução à Arquetipologia Geral. São Paulo: Editora Martins Fontes, 1997; ELIAS, Norbert, “Estudos sobre a Gênese da Profissão Naval”. In: Escritos & Ensaios (1): Estado, Processo, Opinião Pública. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2006; pp. 69-113; BERGSON, Henri, Duração e Simultaneidade. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2006; CARVALHO FILHO, Aldir Araújo, Individualismo Solidário: Uma Redescrição da Filosofia Política de Richard Rorty. Tese de Doutorado em Filosofia. Instituto de Filosofia e Ciências Sociais. Departamento de Ciências Sociais. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2006; SANTOS, Fábio Eulálio dos, A Fundamentação da Moral em Jürgen Habermas. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Filosofia. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2007; CONDE, Camilo José Cela, “El mar de Hoces” In: laopinióncoruña. Editorial Prensa Ibérica, 2008; VAIRO, Carlos Pedro, Naufrágios no Cabo Horn. 1ª edição. Rio de Janeiro: Editora ‏Annablume, 2010; ECO, Umberto, História das Terras e Lugares Lendários. Rio de Janeiro: Record Editora, 2013; MARTUCCELLI, Danilo, La Condition Sociale Moderne. L`Avenir d`une Inquiétude. Paris: Éditeur Gallimard, 2017; BENZAQUEM, Guilherme Figueredo, “Quando o Indivíduo se Transforma: Reflexões a partir de Mead, Goffman e Garfinkel”. In: Ponto e Vírgula. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, nº 24, 2º semestre de 2018; pp. 97-112; TALLIS, Frank, Românticos Incuráveis. Quando o Amor é uma Armadilha. 1ª edição. ‏São Paulo: Faro Editorial, 2019; CORTESE, João Figueiredo Nobre Brito, “Das Extremidades, encontrar o Centro: O Triângulo Aritmético e o Papel das Proporções para Pascal”. In: Seminário Nacional de História da Matemática, vol. 15, 2023; DUARTE, Flávia Alexandra Radeucker, A Experiência Beat em Anjos da Desolação, de Jack Kerouac. Dissertação de Mestrado em Teoria da Literatura. Programa de Pós-Graduação em Letras. Escola de Humanidades. Porto Alegre: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2025; entre outros. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário