“A maior felicidade é quando a pessoa sabe porque é que é infeliz”. Fiódor Dostoiévski
Apenas após seu retorno da prisão na
Sibéria - Dostoievski foi preso por tramar contra o Czar -, repetiria o
escritor seu sucesso inicial com a semibiográfica obra Recordações da Casa dos
Mortos (1862), uma coleção de fatos sociais e eventos políticos ligados à vida nas
prisões da Sibéria. O próprio Dostoiévski passou quatro anos exilado em uma
dessas prisões, em função socialmente de sua condenação por envolvimento com o Círculo
Petrashevski (1847), um grupo literário russo banido pelo czar Nicolau I (1796-1855), a qual
trata etnograficamente dos anos que passou na prisão. Mais tarde sua fama aumentaria
drasticamente graças a obras dialéticas como Crime e Castigo, onde existem sujeitos sociais
ordinários e extraordinários, os primeiros,
condenados a viver uma vida normal e obedecer às normas sociais,
enquanto que os segundos, extraordinários: Napoleão Bonaparte, podendo
transgredir as normas sociais e levar a sociedade a um novo estágio, O
Idiota, uma modernização do ideal ético cristão, o Príncipe Míchkin (1869), também
era a forma como Dostoiévski se contrapunha do ponto de vista da análise comparada ao niilismo ocidental europeu, por
isso o personagem pode ser visto como estando em direta contraposição ao
Raskolnikov do ensaio: Crime e Castigo, uma das principais retratações
niilista, e Os Demônios, obra foi motivada por um episódio verídico: o
assassinato do estudante I. I Ivanov pelo grupo niilista liderado por Sergey
Nechayev.
Considerado um “gênio do mal”, segundo Máximo Gorki. E “perigoso”, segundo o velhaco Stálin. Até 1953 o currículo autoritário/totalitário soviético para estudos universitários sobre o escritor o classificava como “expressão da ideologia reacionária burguesa individualista”. Segundo ele mesmo, seu mal era uma doença chamada consciência. O inverno se aproxima de Moscou a passos de neve. Estamos a 30 de novembro de 1821. No hospital Maria, destinado aos pobres, Maria Feodórovna Netchaiev ouve os primeiros gritos de seu segundo filho, Fiodor Mikhailovitch Dostoievski, cujo destino nem a mãe nem o pai doutor Mikhail Andrévitch Dostoievski (1789-1839) - seriam capazes de adivinhar naquele momento de angústias e esperanças. Além disso, o que está escrito na lápide do túmulo de Fiódor Dostoiévski (1821-1881) em São Petersburgo deu frutos, no âmbito da literatura e da filosofia, a saber: Friedrich Nietzsche, Jean-Paul Sartre, Albert Camus, Kafka, Freud, Proust, Clarice Lispector, Nelson Rodrigues, todos devem tributo ao russo, nascido em Moscou. Epiléptico como Machado de Assis, influenciou o existencialismo, o modernismo literário, a psicologia e a teologia. Foi condenado à morte por ler textos censurados, mas teve a pena alterada de frente para o pelotão de fuzilamento, sendo levado à Sibéria para quatro anos de trabalhos forçados. Ao recriar esse evento, o escritor cria uma das suas maiores obras, naquela “altura” de Crime e Castigo.
Entretanto, “Besy” pode se referir a um romance de Fiódor Dostoievsky, “Os Demônios”, ou a uma plataforma de gestão de energia inteligente. Também pode referir-se a equipamentos neonatais da marca Besy, com escopo em berços e incubadoras. Além disso, existe uma produção cinematográfica chamada “Besy”, um filme dirigido por Roman Shalyapin. “Besy” é um estudo profundo do pensamento político, social, filosófico e religioso de seu tempo. O narrador, ao mesmo tempo que observa a ação, participa dela, pois é um personagem narrando a estranha história social que se desenrolou em sua cidade no interior da Rússia. Foi, entretanto, já próximo da morte que Dostoiévski consolidou-se um dos maiores escritores de todos os tempos com sua obra-prima Os Irmãos Karamazov (1880), uma das mais importantes obras da literatura russa e mundial, ou, melhor conforme afirmou Freud, leitor de Dostoiévski: “a maior obra da história”. Considera esse romance, juntamente com Édipo Rei e Hamlet, três importantes livros com a representação de personagens a respeito do embate pai & filho, e retratam de forma extraordinária a questão essencial do fantástico Complexo de Édipo. Fiódor Dostoiévski foi muito influenciado literariamente por tradições folclóricas, representada por algumas ideias que acreditavam que as águas de rios, mares e lagos, representavam a fronteira impossível entre “o mundo dos vivos e o mundo dos mortos”.
Por
conta da influência que arrecadou através dessa cultura – onde o homem está
entre a possível vida e a morte –, as personagens da literatura de Dostoiévski estão
constantemente expostas a ocasiões complexas, beirando os limites da razão e da lógica, e os limites que o ser humano é capaz de realizar diante de problemas universais;
contudo, em geral, suas personagens podem ser classificadas em diferentes
categorias históricas e sociais: “cristãos humildes e modestos”, “autodestrutivos e niilistas”,
“cínicos e libertinos”, “intelectuais rebeldes”, enquanto regidos por ideias e
não imperativos sociais ou biológicos. Lembra-nos a chamada “filosofia na
alcova: ou os preceptores imorais” (cf. Castro, 2006). Embora alguns biógrafos
insistam que a primeira “crise” de Dostoiévski aconteceu antes da prisão, às
cartas que ele enviou ao irmão deixaram bastante claro que ele só começou a
apresentar a doença durante sua prisão. Os estudos médicos nunca chegaram a um
acordo sobre sua epilepsia. Freud, por exemplo, afirmou que era uma doença
histérica, e não epilepsia. Não só compreendida pela análise recorrente das Cartas, mas
também pelos testemunhos deixados por seus contemporâneos, podemos perceber que
Dostoiévski nunca abandonou a religião Ortodoxa, na qual fora criado, ao
contrário da lenda que se formou posteriormente.
A
partir de Sigmund Freud, o Inconsciente passa a ser uma instância psíquica de
interpretação analítica com leis próprias, regida pelo imperativo da satisfação
e que, a todo o momento, quer irromper praticamente na consciência e, para
tanto, romper com o recalque. Não por acaso, na literatura da psicologia recalque,
representa um dos conceitos fundamentais da concepção de psicanálise, criada tendo
sido desenvolvido através da observação por Sigmund Freud. Denota um mecanismo
mental de defesa contra ideias que sejam incompatíveis com o Eu. Freud
dividiu a repressão psicológica em dois tipos: a repressão primária, na qual o
inconsciente é constituído; e a repressão secundária, que envolve a rejeição de
representações inconscientes. A repressão é o processo psíquico através do qual
o sujeito rejeita determinadas representações, ideias, pensamentos, lembranças
ou desejos, submergindo-os na negação inconsciente, no esquecimento,
bloqueando, assim, os conflitos geradores de angústia. – “O recalcado se
sintomatiza”, diz Freud, os processos inconscientes só
se tornam conscientes através de seus derivados - os sonhos ou os sintomas
neuróticos. De acordo com Freud, o
recalque ganha expressiva força simbólica e é um dos conceitos fulcrais da
psicanálise.
O
filme A Vida de Uma Mulher acompanha Jeanne (Judith Chemla), que volta
para casa após completar os estudos e passa a ajudar os zelosos pais nas
tarefas ordinárias do campo. Certo dia o visconde Julien de Lamare (Swann
Arlaud) aparece nas redondezas e logo conquista o coração da jovem, que,
encantada, com ele se casa e vai morar. Conforme o tempo avança Julien se
mostra infiel, avarento e nada companheiro, o que vai minando a alegria de
viver da antes esperançosa Jeanne. A Vida de uma Mulher, em francês: Une
Vie, tem como representação social um filme de drama franco-belga de 2016
dirigido por Stéphane Brizé, nascido em Rennes, em 18 de outubro de 1966 é um
cineasta, produtor cinematográfico, roteirista e ator francês. É baseado no
romance Une Vie, de Guy de Maupassant, sobre uma mulher sensível forçada
a enfrentar a dureza do mundo. Henri René Albert Guy de Maupassant, ou
simplesmente Guy de Maupassant, nascido em Tourville-sur-Arques, em 5 de agosto de 1850 e morto em Paris, 6 de julho de 1893, foi um
escritor e poeta francês com predileção situações
psicológicas e de crítica social tendo como utilidade de uso uma técnica
realista.
Escólio: Normandia, 1819. O Barão Simone-Jacques Le Perthuis e sua esposa Adelaide têm uma filha, Jeanne, cuja amiga é Rosalie, sua criada, da mesma idade que ela. Após conhecer o Visconde Julien de Lamare, ela se apaixona por ele e logo em seguida se casam. Mas Jeanne descobre que ele a traiu com Rosalie, que, naquela conjuntura encontra-se grávida dele, é despedida. Embora Jeanne perdoe Julien, ele continua a flertar, desta vez com uma vizinha, Gilberte de Fourville. Jeanne tenta com o padre local encontrar uma saída para sua miséria. Quando Julien é baleado pelo marido de Gilberte, o filho de Jeanne, Paul, com a saúde debilitada, é educado em casa antes de ser mandado para um internato aos 12 anos. Paul mais tarde se apaixona por uma prostituta, contrai dívidas enormes e, ainda irresponsável, foge para Londres, “escrevendo regularmente para pedir dinheiro à mãe, mas sem visitá-la”. Aos 42 anos, Jeanne está sozinha, exceto por Rosalie, que voltou para ajudar sua amiga de infância. A última frase do filme e do livro é: “A vida, veja bem, nunca é tão boa ou tão ruim quanto se pensa”. Mas que lições poderemos tirar no âmbito desta questão? O sentido da vida constitui um questionamento acerca do propósito e significado da existência humana.
Ipso facto, há certamente uma quantidade inumerável de possíveis respostas provavelmente compreensíveis para “o sentido da vida”, frequentemente relacionadas ou com a religião ou com a filosofia. Opiniões sobre o sentido da vida podem por si próprias se distinguir de pessoa por pessoa, bem como também pode variar no decorrer da vida de cada humano. No entanto, de uma forma mais ampliada, não existe consenso sobre tal. As opiniões em relação ao sentido da vida, que foram expressadas na história da filosofia, podem ser consideradas representativas como respostas per se não-religiosas. Algumas das respostas expostas no decorrer das relações decorrentes do tempo e espaço social sobre tal questionamento sugerem que o sentido da vida na filosofia antiga consiste principalmente da aquisição da felicidade (eudaimonia). Esta era comumente considerada a característica mais elevada e mais desejada. Neste contexto histórico e social, as diferenças comparadas entre as escolas filosóficas resultam das diferentes concepções sobre a felicidade e como cada qual acreditava que ela pudesse ser atingida. Após Platão, a alma imortal humana consistia de três partes: a razão, a coragem e os instintos. Apenas se essas três partes no sentido do recorte abstrato estivessem em equilíbrio e não se contradissessem mutuamente, no dia-a-dia o ser humano poderia ser fabulosamenete feliz. Aristóteles, filósofo da Grécia Antiga, não julgava a felicidade como uma condição filosoficamente estática, mas sim uma constante ativa da alma.
A felicidade humana perfeita só poderia ser encontrada na contemplação da vida (bios theoretikos), isto é, no filósofo e/ou no pesquisador científico. O estoicismo derrubou a virtude em posição da felicidade. Só aqueles que vivem em uníssono com a ordem do cosmo, livre de emoções, desejos e paixões e seja indiferente perante ao próprio destino, alcançaria o estado final “apatia”. Esta insensibilidade perante os acontecimentos da vida, a “paz estoica”, significava a verdadeira felicidade. Por outro lado, para Epicuro, estudado pelo materialismo dialético do jovem Marx, o sentido da vida jaz no desejo. Condições prévias de felicidade eram a superação do medo e da dor. Recomendava-se ainda a isolação da vida pública resguardando-se apenas a um pequeno círculo de amigos. A Idade Média foi o tempo no qual o Cristianismo dominou na Europa, detendo “o monopólio de todo o sentido oferecido àquele tempo”. Na Baixa Idade Média, a ênfase do sentido transferiu-se do pessoal ao coletivo, na sucessão pessoal de Cristo e a união mística com Deus que já havia sido procurada. Com a declaração da vida eterna, o significado da vida mormente na cosmovisão da Idade Média estava na máxima e eterna comunhão com Deus.
A
ação, representa a única atividade que se exerce diretamente entre os homens
sem a mediação das coisas existentes ou da matéria, corresponde ipso facto à
condição humana da pluralidade, ao fato de que homens, e não o Homem, vivem na
Terra e habitam, o mundo. Isto quer dizer o seguinte. Todos os aspectos da
condição humana têm alguma relação com a esfera política; mas esta pluralidade
é especificamente a condição – não apenas a conditio sine qua non, mas a
conditio per quam – de toda a vida política. Assim, o idioma dos romanos,
talvez o povo mais político que conhecemos, empregava como sinônimas as
expressões “viver” e “estar entre os homens” (inter homines esse), ou
“morrer” e “deixar de estar entre os homens” (inter homines esse desinere).
Mas em sua forma mais elementar, a condição humana da ação está implícita até
mesmo na Gênese (“macho e fêmea Ele os criou), se entendemos que esta versão da
criação do homem diverge, em princípio, da outra segundo a qual Deus
originalmente criou o Homem (adam) – a ele, e não a eles, de sorte que a
pluralidade dos seres humanos vem a ser o resultado da multiplicação. Quer
dizer, a ação, segundo Hannah Arendt (1993), seria um luxo desnecessário, uma
caprichosa interferência com as leis gerais do comportamento, se os homens não
passassem de repetições interminavelmente reproduzíveis do mesmo modelo,
dotadas da mesma natureza e a essência de qualquer outra coisa. A pluralidade
é a condição satisfatória da ação humana por sermos todos os mesmos, humanos, sem que
ninguém seja exatamente igual a qualquer pessoa que tenha existido, exista ou
venha a existir.
Com
a expressão vita activa, Arendt designa metodologicamente três
atividades humanas fundamentais, a saber, as relações entre labor, trabalho
e ação. Trata-se de atividades fundamentais porque a cada uma delas
corresponde uma das condições básicas mediante as quais a vida foi dada ao
homem na Terra. O labor é atividade que corresponde ao processo biológico do
corpo humano, cujos crescimento espontâneo, metabolismo e eventual declínio têm
a ver com as necessidades vitais produzidas e introduzidas pelo labor no
processo de vida. A condição humana do labor é a própria vida. O trabalho é a
atividade correspondente ao artificialismo da existência humana, existência
esta não necessariamente contida no eterno ciclo vital da espécie, e cuja
mortalidade não é compensada por este último. O trabalho produz um mundo
“artificial” de coisas, nitidamente diferente de qualquer ambiente natural.
Dentro de suas fronteiras habita cada vida individual, embora esse mundo se
destine a sobreviver e a transcender todas as vidas individuais. A condição
humana do trabalho é a mundanidade. As três atividades e suas condições têm a
mínima relação com as condições mais gerais da existência humana. O labor
assegura não apenas a sobrevivência do indivíduo, mas a vida plena da espécie.
O trabalho e seu produto, o artefato humano, emprestam certa permanência e
durabilidade à futilidade da vida mortal e ao caráter efêmero do tempo social
humano.
A ação, na medida em que se empenha em fundar e preservar corpos políticos, cria a condição para a lembrança, ou seja, para a história. O labor e o trabalho, bem como sua ação iniludível, têm também raízes na natalidade, na medida em que sua tarefa é produzir e preservar o mundo humano para o constante influxo de recém-chegados que vêm a este mundo na qualidade de estranhos, além de prevê-los e leva-los em conta. Não obstante, das três atividades, a ação é a mais intimamente relacionada com a condição humana da natalidade; o novo começo inerente a cada nascimento pode fazer-se sentir no mundo somente porque o recém-chegado possuía a capacidade de iniciar algo novo, isto é, de agir de forma pragmática. A distinção politicamente que Arendt propõe entre labor e trabalho é inusitada. A evidência fenomenológica a favor dessa distinção é demasiada marcante para que se ignore; e, no entanto, é historicamente verdadeiro que, à parte certas observações esporádicas quase nada existe para corroborá-la na tradição pré-moderna do pensamento político ou no vasto corpo das modernas teorias do trabalho. Ao contrário do que ocorreu nos tempos modernos, a instituição da escravidão na antiguidade não foi uma forma de obter mão-de-obra barata nem instrumento de exploração para fins de extração do excedente, mas sim a tentativa de excluir o labor das condições de realização e prazer da vida humana. Aristóteles, que sustentou tão explicitamente a sua teoria para depois, com a proximidade do fim da vida no leito de morte, alforriar seus escravos, talvez não fosse tão incoerente como tendem inúmeros pensadores modernos quando se afastam do extraordinário pensador dialético.
Não é surpreendente que a distinção entre labor e trabalho tenha sido ignorada na antiguidade clássica. A diferenciação entre a casa privada e a esfera pública política, entre o doméstico que era um escravo e o chefe da casa que era um cidadão, entre as atividades que deviam ser escondidas na privatividade do lar e aquelas que eram dignas de vir a público apagaram e predeterminaram todas as outras distinções, até estar somente um critério: é na privatividade ou em público que se gasta a maior parte do tempo e do esforço? A ocupação é motivada por “cura privati negotii” ou “cura rei publicae”, para cuidar de negócios privados ou para atender às coisas públicas? Com o advento da teoria política os filósofos aboliram até mesmo estas distinções que, ao menos, haviam estabelecido uma diferença entre as atividades, e opuseram a contemplação a todo e qualquer tipo de atividade. Com eles, até mesmo a ocupação política foi rebaixada à posição de necessidade; e esta, daí por diante, passou a ser o denominador comum de todas as manifestações da vida activa. Nem podemos esperar o auxílio do pensamento político cristão, que aceitou a distinção elaborada pelos filósofos e refinou-a; e, como a religião destina-se à multidão, enquanto a filosofia é somente para alguns poucos, deu-lhe validade geral, obrigatória para todos os homens.
É surpreendente que a Era Moderna, tendo invertido as tradições, tanto a posição tradicional da ação como da contemplação como a tradicional hierarquia dentro da própria vita activa, tendo glorificado o trabalho (labor) como fonte de todos os valores, e tendo promovido o animal laborans à posição pelo animal rationale – e não tenha produzido uma teoria que distinguisse entre o animal laborans e o homo faber, entre o “labor do nosso corpo e o trabalho de nossas mãos”. Ao invés disso, encontramos primeiro a distinção entre trabalho produtivo e improdutivo; um pouco mais tarde, a diferenciação entre trabalho qualificado e não-qualificado; e finalmente, sobrepondo-se ambas por ser aparentemente de importância mais fundamental, a divisão de todas as atividades em trabalho manual e intelectual. Das três, porém, somente a distinção entre trabalho produtivo e improdutivo vai ao fundo da questão; e não foi por acaso, segundo Arendt, qua os dois grandes teoristas do assunto, Adam Smith e Karl Marx, basearam nela toda a estrutura do seu argumento. O próprio motivo da promoção do albor como trabalho na Era Moderna foi a sua produtividade; e a noção aparentemente blasfema de Marx de que o trabalho (e não Deus) criou o homem, ou de que o trabalho (e não a razão) distingue o homem analogamente dos outros animais, era apenas a formulação mais radicalmente e coerente de algo, ao que parece, com que toda a Era Moderna concordava. Parece que foi David Hume, e não Marx, o primeiro a insistir em que o trabalho distingue pelo pensamento o homem do animal. Como o trabalho não desempenha qualquer papel importante na filosofia do ceticismo de David Hume, este fato não tem interesse apenas histórico; para ele, essa característica não tornava a vida mais produtiva, mas mais árdua e mais dolorosa que a vida animal.
Contudo, é interessante, neste contexto, notar com que cuidado Hume, dois séculos antes, insistia repetidamente que nem o pensamento nem o raciocínio distingue o homem do animal, e que a conduta dos animais demonstra que estes possuem as mesmas dificuldades. O ceticismo de Hume é a ideia de que o conhecimento dos fatos do mundo não pode ser justificado, pois depende de inferências causais e raciocínios indutivos que não podem ser justificados pela razão ou experiência. O filósofo escocês é reconhecido por levar o ceticismo ao extremo da interpretação, suspendendo as certezas mesmo diante do que parecia ser simplesmente experimental. Ele considerava que o ceticismo era uma ferramenta para distinguir o que é passível de conhecimento do que deve ser abandonado. Neste sentido de iniciativa, todas as atividades humanas possuem um elemento de ação e, portanto, de natalidade. Além disso, como a ação é a atividade de constituir a categoria central do pensamento político, em contraposição ao pensamento metafísico. A condição humana compreende algo mais que as condições nas quais a vida foi dada historicamente ao homem no processo de constituição da sociedade. Os homens são seres condicionados: tudo aquilo com o qual eles entram em contato torna-se imediatamente uma condição de sua existência. O mundo no qual transcorre a vita activa consiste em coisas produzidas pelas atividades; mas, constantemente, as coisas que devem sua existência aos homens também condicionam os seus autores humanos.
Além das condições nas quais a vida é dada ao homme na Terra e, até certo ponto, a partir delas, os homens constantemente criam as suas próprias condições que, a despeito de sua variabilidade e sua origem humana, possuem a mesma força condicionante das coisas naturais. O que quer que toque a vida humana ou entre em duradoura relação com ela, assume imediatamente o caráter de condição da existência humana. É por isto que os homens, independentemente do que façam, são sempre seres condicionados. Tudo o que espontaneamente adentra o mundo humano, ou para ele é trazido pelo esforço, torna-se parte da condição humana. O impacto da realidade do mundo sobre a existência humana é sentido e recebido como força condicionante. A objetividade do mundo – o seu caráter de coisa ou objeto – e a condição humana complementam-se uma à outra; por ser uma existência condicionada, a existência humana seria impossível sem as coisas; e estas seriam um amontoado de artigos incoerentes, um não-mundo, se esses artigos não fossem condicionantes da existência humana. Para evitar erros magníficos de interpretação do real: a condição humana não é o mesmo que a natureza humana, e a soma total das atividades e capacidades humanas que correspondem à condição humana.
Pois
nem como o pensamento e a razão, e nem mesmo a mais meticulosa enumeração de
todas as ações, constituem elas características essenciais da existência humana
no sentido de que, sem elas, essa existência deixaria de ser humana. A mudança
mais radical da condição humana que podemos imaginar seria uma emigração dos
homens da Terra para algum outro planeta. Tal evento, já não inteiramente
impossível, implicaria em que o homem teria que viver sob condições, feitas por
ele mesmo, inteiramente diferentes daquelas que a Terra lhe oferece. O labor, o
trabalho, a ação e, na verdade, até mesmo o pensamento como o conhecemos
deixariam de ter sentido em tal eventualidade. Não obstante, até mesmo esses
hipotéticos viajores terrenos ainda seriam humanos; mas a única afirmativa que
poderíamos fazer quanto à sua “natureza” é que são ainda seres condicionados,
embora sua condição seja agora, em grande parte, produzida por eles mesmos. O
problema da natureza humana, a quaestio mihi factus sum de Agostinho,
parece insolúvel, tanto em seu sentido psicológico como em seu sentido
filosófico geral. É altamente improvável que nós, que podemos conhecer,
determinar e definir a essência natural de todas as coisas que nos rodeiam e
que não somos, venhamos a ser capazes de fazer o mesmo a nosso próprio
respeito: seria como pular sobre nossa própria sombra. Além disso, não nos
autoriza a presumir que o homem tenha uma natureza ou essência no mesmo sentido
em que as outras coisas analogamente as têm.
Em
outras palavras, se temos uma natureza ou essência, então certamente, só um
deus pode conhece-la e defini-la; e a condição prévia é que ela possa falar de
um “quem” como se fosse um “que”. O problema é que as formas de cognição humana
aplicáveis as coisas dotadas de qualidades naturais – inclusive nós mesmos, na
medida limitada em que somos exemplares da espécie de vida orgânica mais
altamente desenvolvida – de nada nos valem quando levantamos a hipótese: e quem
somos nós? É por isto que as tentativas de definir a natureza humana levam
quase invariavelmente à construção de alguma deidade, isto é, ao deus dos
filósofos que, desde Platão, não passa, a uma análise mais profunda, de uma
espécie de ideia platônica do homem. Naturalmente, desmascarar tais conceitos
filosóficos da divindade como conceitualizações das capacidades e qualidades
humanas não chega a ser uma demonstração da não-existência de Deus, e nem mesmo
constitui argumento nesse sentido; mas o fato de que as tentativas de definir a
natureza do homem levam tão facilmente a uma ideia de que nos parece
definitivamente “sobre-humanos” e é, portanto, identificada com a divindade,
pode lançar suspeitas sobre o próprio conceito sociológico de “natureza
humana”. A moderna ciência natural deve os seus maiores triunfos ao fato de
termos olhado e tratado a natureza terena de um ponto de vista verdadeiramente
universal, isto é, de um ponto de vista arquimediano escolhido, voluntária e
explicitamente fora da Terra. A expressão vita activa é perpassada e sobrecarregada
de tradição. É tão velha quanto a nossa tradição de pensamento político, mas
não mais velha que ela. E essa tradição, longe de abranger e conceitualizar
todas as experiências ocidentais, é produto de uma
constelação histórica específica: o julgamento de Sócrates e o conflito
irremediável entre o filósofo e a polis.
Foi
amigo do célebre escritor francês Gustave Flaubert, a quem se referia como mestre.
Prosador importante, Flaubert marcou a literatura francesa pela profundidade de
suas análises psicológicas, pelo seu senso compreensivo de realidade, pela sua
lucidez sobre o comportamento social, e pela força de seu estilo em grandes
romances, tais como Madame Bovary (1857), A Educação Sentimental
(1869), Salammbô (1862), mais os seus contos, nomeadamente os Trois
contes (1877). É uma comuna no departamento de Sena Marítimo, na região da
Normandia, no Norte da França, é um país europeu que faz fronteira com Espanha,
Andorra, Itália, Suíça, Alemanha, Luxemburgo e Bélgica. Tem como capital a
cidade de Paris. Possui cinco territórios ultramarinos, que ficam nas Américas
do Sul e Central, na África e no Oceano Índico. O clima francês é do tipo
temperado oceânico, enquanto o seu relevo varia das planícies, ao Norte e Noroeste,
até as cadeias montanhosas, ao Sul e a Leste. A vegetação é marcada pela
floresta temperada e pelas formações mediterrâneas. Conta atualmente com mais
de 65 milhões de habitantes, sendo Paris a sua cidade mais populosa. É uma das
maiores economias globalizadas do mundo, além de se destacar pela densa rede de
infraestrutura, sobretudo de transportes urbanos, que percorre o país. O
turismo possui enorme peso na Ecopolítica da economia francesa, uma vez que
esse é um dos países mais visitados do mundo ocidental, dispondo
de atrativos que vão desde os museus e monumentos históricos até as paisagens
naturais mediterrâneas, do litoral Norte e também alpinas.
A França é também um importante centro cultural mundial, com enorme produção literária, cinematográfica e musical, além de uma grande variedade histórica de museus, teatros e casas de show. Sua gastronomia é mundialmente reconhecida e um de seus principais patrimônios. O filme foi selecionado para competir pelo Leão de Ouro no 73º Festival Internacional de Cinema de Veneza onde ganhou o Prêmio da Federação Internacional de Críticos de Cinema, uma organização que reúne críticos de cinema de todo o mundo, com o objetivo de promover a arte cinematográfica e incentivar o cinema novo e jovem. Foi fundada em 1930 em Bruxelas. Neste caso de Melhor Filme na competição. Foi premiado com o Prêmio Louis Delluc de Melhor Filme em 2016. O filme é descrito como “a delicada história de uma vida de emoções francas e decepções lancinantes”, que apresenta o romance solidamente estruturado “numa série de flashbacks brilhantes e flashforwards sombrios”. Usando uma câmera portátil, Brizé enquadra “a heroína, interpretada por uma magnífica Judith Chemla em formato 4:3, também reconhecido como 1.33:1, aprisionando-a numa existência atormentada”. Nascida em 6 de julho de 1983 em Val-de-Marne, é uma atriz e autora francesa.
É filha de pai violinista e mãe advogada, que se separou quando ela ainda era jovem. Judith Chemla cresceu em Gentilly, nos subúrbios de Paris. Começou a tocar violino aos 7 anos e tocou até aos 14. Descobriu o teatro no liceu, sob a orientação de Emmanuel Demarcy-Mota. Ela frequentou aulas com Bruno Wacrenier no conservatório do 5º arrondissement, com aulas com Cécile Grandin no conservatório departamental de Bourg-la-Reine – Sceaux. Ela então ingressou no Conservatório Nacional, onde conheceu Muriel Mayett, que a convidou para a Comédie-Française. Foi residente da Comédie-Française de 2007 a 2009. Ao mesmo tempo, iniciou uma carreira cinematográfica e colaborou com diretores importantes, incluindo James Huth, Pierre Schöller, Jean-Michel Ribes, Bertrand Tavernier, Pierre Salvadori, Thierry Jousse, Noémie Lvovsky, André Téchiné, Stéphane Brizé, Éric Toledano e Olivier Nakache, Mia Hansen-Løve, Olivier Dahan, Yvan Attal. Em 2010, escreveu Tue-Tête, uma peça ambientada num “mundo poético e burlesco, pura emanação da imaginação arborescente de uma atriz livre e boémia”. O 10 de abril de 2020, ela interpreta textos de poesia e canta, a cappella, a Ave Maria de Schubert na Catedral de Notre-Dame de Paris, anteriormente abandonada desde o trágico incêndio, durante uma celebração excepcional por ocasião da Sexta-feira Santa.
Quer
dizer, depois de haver eliminado muitas das experiências de um passado anterior
que eram irrelevantes para suas finalidades políticas, prosseguiu até o fim na
obra de Marx, de modo altamente seletivo. A própria expressão que, na filosofia
medieval, é a tradução consagrada do bios politikos de Aristóteles, já
ocorre em Agostinho onde, como vita negotiosa ou actuosa, reflete anda o
seu significado original: uma vida dedicada aos assuntos públicos e políticos.
Aristóteles distinguia três modos de vida (bios) que os homens podiam
escolher livremente, isto é, em inteira independência das necessidades da vida
e das relações delas decorrentes. Esta condição prévia de liberdade eliminava
qualquer modo de vida dedicado basicamente à sobrevivência do indivíduo – não
apenas o labor, que era o modo de vida do escravo, coagido pela necessidade de
permanecer vivo e pela tirania do senhor, mas também a vida de trabalho dos
artesãos livres e a vida aquisitiva do mercador. Excluía todos aqueles que,
involuntária ou voluntariamente, permanente ou temporariamente, já não podiam
dispor em liberdade dos seus movimentos e ações. Os três modos de vida
restantes têm em comum o fato de se ocuparem do “belo”, de coisas que não eram necessárias e nem
meramente úteis: a vida voltada para os prazeres do corpo, na qual o belo é
consumido como tal como é dado; a vida dedicada aos assuntos da polis, na qual
a excelência produz belos feitos; e a vida do filósofo, dedicada à investigação
e à contemplação das coisas eternas, cuja beleza perene não pode ser causada
pela interferência produtiva do homem nem alterada através do consumo
humano.
Com o desaparecimento da antiga cidade-estado, Agostinho foi, aparentemente o último a conhecer, pelo menos o que outrora significava ser um cidadão, a expressão vita activa perdeu o seu significado especificamente político e passou a denotar todo tipo de engajamento ativo nas coisas deste mundo. Convém lembrar que isto não queria dizer que o trabalho e o labor houvessem galgado posição mais elevada na hierarquia das atividades humanas e fossem agora tão dignos quanto a vida política. De fato, o posto era verdadeiro: a ação passara a ser vista como uma das necessidades da vida terrena, de sorte que a contemplação (o bios theoretikos), ou vida contemplativa, era o único modo de vida realmente livre. Contudo, a enorme superioridade da contemplação sobre qualquer outro tipo de atividade, inclusive a ação, não é de origem cristã. Encontramo-la na filosofia política de Platão, onde toda a reorganização utópica da vida na polis é não apenas dirigida pelo superior discernimento do filósofo, mas não tem outra finalidade senão tornar possível o modo de vida filosófico. O próprio enunciado aristotélico dos diferentes modos de vida, em cuja ordem a vida de prazer tem papel secundário, inspira-se claramente no ideal da contemplação (Theoria). À antiga liberdade em relação às necessidades da vida e à compulsão alheia, os filósofos acrescentaram a liberdade e a cessação de toda atividade política (skole), de sorte que a posterior pretensão dos cristãos – des erem livres de envolvimento em assuntos mundanos, livres de todas as coisas terrenas – foi precedida pela apolita filosófica da última fase da Antiguidade, e dela se originou. Havia sido exigido por alguns poucos agora era visto como direito de todos.
A expressão vita activa, compreendendo todas as atividades humanas e definida do ponto de vista da absoluta quietude da contemplação, corresponde, portanto, mais à askolia grega (“ocupação”, “desassossego”) com a qual Aristóteles designava toda atividade, que ao bios politikos dos gregos. Quer dizer, desde Aristóteles a distinção ente quietude e ocupação, entre uma abstenção quase estática do movimento físico externo e de qualquer tipo de atividade, é mais decisiva que a distinção entre os modos de vida político e teórica, porque pode vir a ocorrer em qualquer um dos três modos de vida. É como a diferença entre a guerra e a paz, também todo tipo de atividade, até mesmo o processo de mero pensamento, deve culminar na absoluta quietude da contemplação. Todo movimento, os movimentos do corpo e da alma, bem como o discurso e o raciocínio devem cessar diante da verdade. Esta, seja a antiga verdade do Ser ou a verdade cristã do Deus vivo, só pode revelar-se em meio a completa quietude. Tradicionalmente, na história, e até o início da chamada Era Moderna, a expressão jamais perdeu sua conotação negativa de “in-quietude”, nec-otium, askolia. E permaneceu ligada à distinção grega, ainda mais fundamental, entre as coisas que são por si o que são e as coisas que devem ao homem a sua existência, entre as coisas que são physei e as coisas que são nomo.
Isto
é, o primado da contemplação sobre a atividade baseia-se na convicção de que
nenhum trabalho de mãos humanas pode igualar-se em beleza e verdade o Kosmos
físico, que revolve em torno de si mesmo, em imutável eternidade, sem qualquer
interferência ou assistência externa, seja humana ou divina. Esta eternidade só
se revela a olhos mortais quando todos os movimentos e atividades humanas estão
em completo repouso. Comparadas a este aspecto da quietude, todas as diferenças
e manifestações no âmbito da vida activa desaparecem. Do ponto de vista da
contemplação, filosoficamente falando, não importa o que perturba a necessária
quietude; o que importa na vida realmente é que ela seja perturbada. Tradicionalmente a vita activa deriva
o seu significado da vida contemplativa; sua mui limitada dignidade deve-se ao
fato de que serve `as necessidades e carências da contemplação num corpo vivo. O
cristianismo, com sua crença num mundo cujas alegrias se pronunciam nos
deleites da contemplação, conferiu a sanção religiosa ao rebaixamento da vita
activa à sua posição subalterna. Mas a determinação dessa mesma hierarquia
coincidiu com a descoberta da contemplação (Theoria) como faculdade
humana, acentuadamente diversa do pensamento e do raciocínio, que ocorreu na presentemente
em seu tempo na escola socrática e que, desde então, vem orientando o
pensamento metafísico e político de toda a nossa tradição.
Obviamente, são mais profundas que o momento histórico que motivou o conflito entre a polis e o filósofo, e com isso levou também, quase por acaso, à descoberta da contemplação como modo de vida do filósofo. Essas razões devem residir num aspecto inteiramente diferente da condição humana, cuja diversidade não é esgotada pelas várias manifestações da vita activa e, provavelmente, não seria esgotada mesmo que se lhe incluíssemos o pensamento e o movimento do raciocínio. Se o uso da expressão vita activa, está em manifesto conflito com a tradição, é que Hannah Arendt duvida não da validade da experiência que existe por trás dessa distinção, mas da forma de manutenção da ordem hierárquica que acompanha desde o início. Ela afirma que o enorme valor da contemplação na hierarquia tradicional obscureceu as diferenças e manifestações cognitivas e intelectuais no âmbito da própria vita activa e que, a despeito da realidade das aparências, esta condição não foi essencialmente alterada pelo moderno rompimento com a tradição nem pela eventual inversão na ordem hierárquica articulada em torno de Karl Marx e Friedrich Nietzsche. Nas décadas de 1950 e 1960, metade dos doutorados nos Estados Unidos da América vinha das quinze universidades mais prestigiosas, para as quais, em consequência, acorriam os jovens mais capazes. Num mundo democrático e populista, os cientistas eram uma elite, concentrada em alguns relativamente poucos centros subsidiados. Na verdade, à medida que aumentava a especialização, cada vez mais sobre cada vez menos, mesmo os cientistas precisavam de mais publicações para explicar uns aos outros o que se passava fora de seus respectivos campos.
O
fato social de que o século XX dependeu da ciência dificilmente precisa de
prova. Em suma, a tecnologia com base na
ciência já se achava no âmago do mundo burguês do século XIX, embora as pessoas
de espírito prático não soubessem exatamente o que fazer socialmente com os
triunfos da teoria científica, a não ser, nos casos adequados, transformá-las
em ideologias: como o século XVIII fizera com Isaac Newton e o final do século
XIX com Charles Darwin. Apesar disso, vastas áreas da vida social e humana
continuaram sendo governadas, em sua maioria, apenas pelo rigor metódico e pela
experiência, experimentação, habilidade, bom-senso treinado e, na melhor das
hipóteses, difusão sistemática de conhecimento sobre as melhores práticas e
técnicas preexistentes. Foi visivelmente o que aconteceu com a agricultura,
construção civil e medicina, e na verdade com uma vasta gama de atividades que
proporcionavam aos seres humanos suas necessidade e luxos. Num determinado
momento, no último terço do século, isso começou a mudar. Na Era dos Impérios,
começaram a tornar-se visíveis não apenas os contornos da moderna tecnologia,
só é preciso pensar nos automóveis, aviação, rádio e cinema, mas os
empreendimentos da moderna teoria científica: relatividade, o quantum, e a
genética. Além disso, via-se agora que as mais esotéricas e revolucionárias
descobertas da ciência tinham potencialmente tecnológico imediato, da
telegrafia sem fio ao uso médico dos raios X, ambos baseados em descobertas da
década de 1890. Apesar disso, embora a grande ciência do Breve Século XX já
fosse visível e de certa forma concebida em 1914, e embora a alta tecnologia
posterior já estivesse nela, a grande ciência, ainda não era uma
coisa sem a vida diária em toda parte do globo seria inconcebível.
Bibliografia
Geral Consultada.
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