“A minha
religião é a natureza. É ela que desperta os sentimentos de admiração”. Oliver
Sacks
Debra Granik nasceu em Cambridge,
nos Estados Unidos da América, em 6 de fevereiro de 1963. É uma produtora e
diretora de filmes independentes norte-americanos. Ganhou uma série de prêmios
no Festival de Sundance, que historicamente tem início em agosto de 1978, como
Utah U.S. Film Festival. Em 1985, o Sundance Institute, fundado anteriormente
pelo renomado ator e diretor Robert Redford com o intuito de ajudar novos
cineastas, incorpora o festival a seus programas, dirigindo o evento para as
produções independentes. O festival acontece todos os anos, no mês de janeiro,
em Park City, Utah. É o maior festival de cinema independente dos Estados
Unidos, incluindo no caso de Granik com o Melhor Curta Metragem em 1998 por Snake
Feed, seu primeiro filme, realizado enquanto estudante na Universidade de
Nova York, o Prêmio de Direção Dramática em 2004 por seu primeiro
longa-metragem Down to the Bone e o Prêmio do Júri em 2010, por Winter`s
Bone, também indicado para o Oscar de Melhor Filme. Como contraponto ao
chamado “cinema de estúdio”, o termo “cinema independente” surgiu nos Estados
Unidos da América (EUA), a fim de expressar certas liberdades estilísticas
dentro de um determinado contexto histórico, apresentando-se como oposição ao
cinema que dominava o mercado – o considerado mainstream, conceito que expressa
uma tendência ou moda principal e dominante. Em inglês, “main” tem como
significado principal enquanto “stream” tem como significado a representação de
um fluxo ou corrente.
Por
esse motivo, na língua inglesa, mainstream pode corresponder, ou conter a
orientação de significado “ao fluxo principal de água de um rio com efluentes”.
Em português, mainstream designa um grupo, estilo ou movimento com
características dominantes. Este conceito está relacionado com o mundo das
artes, principalmente com a música e literatura. Um grupo musical mainstream
agrada e apresenta um conteúdo que é usual, familiar e disponível à maioria e
que é comercializado com algum ou muito sucesso. O oposto de mainstream
é o conceito de underground, termo inglês que pode ser traduzido como
subterrâneo, subsolo e clandestino. Como o próprio nome indica, o conceito de underground
implica algo que não é disponibilizado para um grande número de pessoas, e não
tem grande reconhecimento per se globalizado. Por exemplo, um grupo musical que
é underground e alcança a fama, pode passar a ser considerado mainstream.
Um conteúdo mainstream é considerado comercial e obtém uma grande divulgação
por parte dos meios de trabalho e comunicação massivos. Emerge no mercado cinematográfico um cinema de caráter experimental caracterizado pela
liberdade autoral dos diretores e motivado pela frustração de
oportunidades e com um sistema que priorizava produções compostas de certa
uniformidade de conteúdo e estilo.
Surge originalmente com a precursora do New American Cinema, Maya Deren, nascida Eleanora Derenkovskaya, a 29 de abril de 1917, o ano da Revolução Russa, em Kiev, na Ucrânia, filha de Marie Fiedler, que havia estudado música, e de Solomon Derenkovsky, psiquiatra, começou por receber a educação reservada aos privilegiados cultos. Mas em 1922, com as revoltas antissemitas, “causar estragos, destruir violentamente” (pogroms) provocadas pelas forças contrarrevolucionárias do Exército Branco, um movimento pró-czarista e anticomunista, a família judia é forçada a fugir da União Soviética. Estabelecem-se com o irmão do pai em Siracusa, Nova Iorque, onde Solomon Derenkovsky (1917-1961) integra o corpo clínico do Hospital Psiquiátrico local e, pouco tempo depois, a família é oficialmente autorizada a encurtar o nome para Deren. Em 1928 os Deren tornam-se cidadãos norte-americanos. Em 1930, os pais se separaram, Deren é enviada, em regime de internato, para a Escola Internacional de Genebra, na Suíça, onde estuda francês, alemão e russo. Em 1933 retorna aos Estados Unidos da América e inicia os seus estudos superiores na Universidade de Siracusa, onde frequenta jornalismo e Ciência Política, tornando-se ativista da organização trotskista Liga da Juventude Socialista (YPSL), na qual conhece Gregory Bardacke (1913-1991), com quem viria a casar em 1935, aos 18 anos. Datam desta época os seus primeiros interesses no plano prático como eletivo pelo cinema. Em 1935 transfere-se para a Universidade de Nova Iorque, onde ela e o marido se tornam ativos em causas de engajamento socialistas. Terminado o curso e separada de Gregory Bardacke, embora a lentidão burocrática do divórcio só fosse decretada em 1939, inicia o Mestrado em Literatura inglesa e poesia simbolista na Escola Nova de Pesquisas Sociais, que completa em 1939 no Colégio Smith.
Em 1941 torna-se assistente pessoal da coreógrafa Katherine Dunham, pioneira da dança negra e autora, em 1936, de um estudo antropológico sobre o Haiti. O trabalho com Dunham inspira Deren a escrever um ensaio: Religious Possession in Dancing. A Companhia de Dança Katherine Dunham fixa-se em Los Angeles alguns meses, para poder ipso facto trabalhar em Hollywood. Deren conhece Alexander Hackenschmied, um famoso fotógrafo e operador de câmara de origem checa, que em 1942 se tornaria o seu segundo marido, e que por sugestão da própria Deren, que achava Hackenschmied “demasiado judeu”, encurta o seu nome para Alexander Hammid. André Breton, Marcel Duchamp, Oscar Fischinger, John Cage e Anaïs Nin tornam-se parte do círculo social de Greenwich Village e a influência começa a fazer-se no trabalho de realizadores Willard Maas, Kenneth Anger, Stan Brakhage, Sidney Peterson, James Broughton, Gregory J. Markopoulos e Curtis Harrington. Aproveita a pequena herança familiar de seu pai para comprar em segunda-mão uma câmara Bolex de 16mm, que ela e Hammid usaram para realizar o primeiro filme, Meshes of the Afternoon (1943), que preparou o terreno para os filmes norte-americanos de vanguarda dos anos 1940 e 1950 e seria reconhecido como um marco incontornável do cinema experimental. Deren regressa a Nova Iorque em 1943 e passa a assinar com um novo nome: Maya, que representa na mitologia o “nome da mãe de Buda”, como uma antiga palavra para água e a palavra que designa o “véu da ilusão” na mitologia Hindu.
No decurso dos anos imediatos Deren dá continuidade a criação de obras inovadoras em 16mm, nomeadamente At Land (1944) e Study in Choreography for Camera (1945). Em 1946 aluga o Teatro de Provincetown, no centro de Nova Iorque, para mostrar Meshes of the Afternoon, At Land e Study in Choreography for Camera num evento intitulado Three Abandoned Films que durou a experimentação por vários dias. Esta ação audaciosa inspiraria outros realizadores a fazerem a auto-distribuição do seu trabalho. Nesse mesmo ano ganha um Fellowship da Fundação Guggenheim pelo “Trabalho Criativo no Domínio Cinematográfico”, tendo sido o primeiro realizador a ganhar o prestigiado prêmio. As suas fotografias e ensaios, incluindo An Anagram of Ideas on Art, Form and Film começam a surgir na imprensa underground. Inicia também o planejamento de um filme sobre “transe e ritual”, envolvendo a coreografia da dança, os jogos infantis e os filmes etnográficos realizados por Gregory Bateson e Margaret Mead sobre o transe no Bali. Em 1947 é-lhe atribuído o “Grande Prêmio Internacional para Filmes de 16mm - Classe Experimental” no Festival de Cannes, por Meshes of the Afternoon.
É a primeira vez que o prêmio é concedido aos Estados Unidos da América e a realizadora mulher. Nesse mesmo ano divorcia-se de Alexander Hammid. O
prêmio da Fundação Guggenheim permitiu a Deren financiar uma viagem ao Haiti,
para prosseguir as suas pesquisas sobre o Vodu haitiano, interesse que lhe terá
sido despertado pelo estudo de Dunham sobre a dança do Haiti. Entre 1947 e
1955, Deren passa aproximadamente 21 meses no Haiti, filmando rituais e danças
Vodu, mas também participando praticamente neles, a ponto de adotar ou eleger a
religião Vodu e de ser iniciada como sacerdotisa. O material que daí resultou -
várias horas coletivamente referenciadas como Haitian Film Footage -
ficou por terminar a partir desse material, Teiji Ito e Cherel Winett
Ito montaram e produziram um filme em 1981, passados vinte anos depois da
morte de Deren, estando atualmente depositado na Colecção Maya Deren da
Universidade de Boston. Sob a tutela do mitologista Joseph Campbell, Deren
escreveu um estudo etnográfico, detalhado e sem precedentes, sobre a religião
Vodu, intitulado Divine Horsemen: The Living Gods of Haiti (1953),
considerado fonte incontornável sobre o assunto. O seu último filme, The
Very Eye of Night (1955), teve estreia em Port-au-Prince, no Haiti. Devido
a uma disputa comercial e financeira com o produtor, o filme só foi mostrado em
Nova Iorque em 1959. Em 1960 Deren casa com Teiji Ito, músico japonês mais
novo 18 anos e que a acompanhara ao Haiti dos anos 1950. Compôs as
bandas-sonoras para seus filmes, incluindo The Very Eye of Night.
Decorre
desta incursão nos anos 1960, que conectou as vanguardas modernas europeias à new
wave norte-americana que surgiu após a 2ª guerra mundial (1939-1945). Com
tecnologias mais acessíveis, de caráter experimental, o filme Meshes of an
Afternoon (1943), rompe com conceitos clássicos de montagem, ritmo e som,
elevando o espectador a um efeito psicológico de transe que possibilitava que o
cinema fosse uma experiência sensorial. Comparativamente, se na França, Jean-Luc
Goddard e François Truffaut acoplaram a crítica à cinematografia na nouvelle
vague, nos Estados Unidos, John Cassavetes faz uso de toda sua experiência
como ator, incorporando-a em duas produções como diretor. Com seu primeiro
filme, de baixíssimo orçamento, Shadows (1959), o diretor destaca-se
como primeiro filme-símbolo do cinema independente americano. Este cinema passa
a ser dividido em duas vertentes: a primeira, chamada de Filmes B, ou
“exploitation movies”, apresenta duas fases, tendo a ocorrida entre o final dos
anos 1950 até a década de 1960, caracterizada por filmes ditos “independentes
com temas tabu”, exibidos por contra própria da parte de diretores e produtores
em feiras, parques e cinemas desvinculados dos principais estúdios. A segunda
que começa na década de 1960 e tem suas produções caracterizadas pela premissa
de subversão às regras que regiam as condutas das produções anteriores. Sem
imposições em tono do bom gosto ou controle da censura, filmes indômitos e
chocantes proliferam-se, como é o caso representativos das obras dos cineastas
Edward Wood e George Romero. A outra vertente é a dos Filmes
Cult, caracterizados por serem realizações concebidas de forma mais
intelectualizadas, exibidas em casas de arte das metrópoles culturais do país.
Nesse contexto destacam-se diretores como John Nicholas Cassavetes e Martin
Scorsese.
Portland é uma cidade no noroeste dos Estados Unidos da América, perto da confluência dos rios Willamette e Columbia, no estado do Óregon. Fundada em 1845, foi incorporada em 8 de fevereiro de 1851. É considerada uma das dez cidades mais ecológicas do mundo, principalmente pelo sistema do governo de carros movidos a bateria elétrica que reduzem uma grande porcentagem de emissão de gás carbônico na atmosfera. Em 2012, o jornal britânico The Guardian incluiu Portland na lista dos cinco melhores lugares do mundo para se viver, ao lado do Santa Cruz de Tenerife, em Espanha; o distrito de Cihangir, em Istambul; a costa norte de Maui, na Hawaii, e Sankt Pauli, na Hamburgo. A cidade é reconhecida pelo grande número de cervejarias e alambiques, e sua adoração por café. O clima é ideal para o crescimento de rosas e, por mais de um século. É conhecida como A Cidade das Rosas, possuindo roseirais. Entrou no Guinness dos Recordes como o “menor parque do mundo, de apenas 0,28 metros quadrados”. A paisagem urbana de Portland deriva muito de seu caráter das muitas pontes que atravessam o rio Willamette, muitos dos quais são marcos históricos, ipso facto foi apelidado de Bridgetown por muitas décadas como resultado. Três das pontes mais usadas do centro da cidade têm mais de 100 anos: a Ponte Hawthorne (1910), a Ponte de Aço (1912) e a Ponte Broadway (1913). A mais nova de Portland no centro da cidade, Tilikum Crossing, inaugurada em 2015 é a primeira ponte a abranger o Willamette em Portland desde a inauguração da ponte Fremont, de dois andares, em 1973.
Outras pontes que atravessam o rio Willamette no centro da cidade incluem a Ponte Burnside, a Ponte da Ilha Ross, ambas construídas em 1926, e a Ponte Marquam de dois andares, construída em 1966. Outras pontes fora do centro da cidade incluem a Ponte Sellwood, construída em 2016, ao sul; e a St. Johns Bridge, uma ponte suspensa gótica construída em 1931, ao norte. A ponte do memorial de Glenn L. Jackson e a ponte de um estado a outro fornecem o acesso de Portland através do rio de Columbia no estado de Washington. O rio Willamette, que flui para o norte através do centro da cidade, serve como a fronteira natural entre o leste e o oeste de Portland. O lado oeste, mais denso e desenvolvido anteriormente, se estende até o colo de West Hills, enquanto o lado leste mais plano se espalha por aproximadamente 180 quarteirões até encontrar o subúrbio de Gresham. A primeira escola do Oregon foi inaugurada em 1834, por Jason Lee, um missionário metodista. Esta escola era voltada para a educação de crianças indígenas da região. Após a criação do Território de Oregon, o governo do recém-criado território ordenou que cada municipalidade cedesse 518 hectares de terra para apenas a qualquer uso relacionado com educação. No ano seguinte, o governo do território aprovou a criação de um sistema estadual de escolas públicas. A primeira escola pública do Oregon foi inaugurada em 1851. A primeira biblioteca do Oregon foi inaugurada em 1834. Atualmente, o Oregon possui cerca de 125 bibliotecas públicas, que movimentam uma média de 12,2 livros por habitante. A primeira instituição de educação foi a Instituição de Oregon - atual Universidade de Willamette - fundada em 1842 em Salem.
Esta instituição não somente é a mais antiga do estado, bem como de toda a região oeste dos Estados Unidos. O Oregon possui 57 instituições de educação superior, dos quais 26 são públicas e 31 são privados. A Universidade de Oregon é a maior instituição de educação de nível superior do Estado. Salem é uma cidade norte de Massachusetts, acima de Boston. É “célebre” pelos julgamentos de bruxas de 1692, quando vários habitantes foram executados por praticarem bruxaria. Historicamente em 1891, as cidades de Portland, Albina e East Portland foram consolidadas, criando padrões inconsistentes de nomes e endereços de ruas. O “grande renumerador” de 2 de setembro de 1931 normalizou os padrões de nomenclatura das ruas, dividiu Portland em cinco quadrantes oficiais e alterou o número de casas de 20 por bloco para 100 por bloco. As cinco seções de endereçamento de Portland desenvolveram identidades distintas, com diferenças culturais moderadas e talvez rivalidades amistosas entre seus residentes. O distrito de Pearl, no noroeste de Portland, que era amplamente ocupado por armazéns, indústrias leves e ferroviários no início a meados do século XX, agora abriga galerias de arte, restaurantes e lojas de comércio varejo, e é um dos bairros mais ricos da cidade. Áreas mais a oeste do Distrito de Pearl incluem bairros conhecidos como Uptown e Nob Hill, bem como o Alphabet District, uma importante rua comercial repleta de boutiques de roupas e outras lojas de luxo, misturadas a cafés e restaurantes. Will, vivido por um intenso Ben Foster, é um veterano da Guerra do Iraque que sofre de stress pós-traumático e decidiu se ausentar da “sociedade organizada”. Para isso, criou uma estrutura complexa de vida na densa mata do parque florestal em Portland, Oregon.
No começo da década de 1950,
conselheiros militares norte-americanos foram enviados para a então Indochina
Francesa. O envolvimento político dos Estados Unidos da América nos conflitos
da região aumentou nos anos 1960, com o número de tropas estacionadas no Vietnã
triplicando de tamanho em 1961 e de novo em 1962. Após o Incidente do Golfo de Tonquim,
em 1964, quando um contratorpedeiro americano foi supostamente atacado por
embarcações norte-vietnamitas, o Congresso dos Estados Unidos aprovou uma
resolução que deu autorização ao presidente americano para aumentar a presença
militar do país no Vietnã e escalar o conflito. Unidades de combate americanas
começaram a chegar em peso no país em 1965. A guerra rapidamente se expandiu,
atingindo o Laos e o Camboja, que passaram a ser intensamente bombardeados pela
força aérea dos Estados Unidos a partir de 1968, o mesmo ano que os comunistas
lançaram a grande Ofensiva do Tet. Esta ofensiva falhou no seu objetivo de
derrubar o governo sul-vietnamita e iniciar uma revolução socialista por lá,
mas é considerado o ponto de virada da guerra, já que a população americana
passou a questionar se uma vitória militar seria possível, com o inimigo capaz
de lançar grandes ataques mesmo após anos de derramamento de sangue. Havia uma disparidade entre a imprensa e governo, com os dados
apresentados geralmente contrastando.
Incidente do Golfo de Tonquim foram
dois incidentes separados por dois dias envolvendo as forças navais dos Estados
Unidos e possivelmente da República Democrática do Vietname nas águas do Golfo
de Tonquim, costa vietnamita, em agosto de 1964. Este incidente induziu e
ajudou o congresso a votar a declaração de guerra formal para iniciar ações
militares contra os Norte-vietnamitas e marca o começo do envolvimento dos
Estados Unidos na Guerra do Vietname. O incidente, que teve repercussão
mundial, dado o fato de que os Estados Unidos, apesar do apoio político,
financeiro e de treinamento militar que dava ao Vietname do Sul, então em
guerra com o norte comunista, ainda não se encontrava em hostilidades abertas
diretas com os comunistas do norte, acabou sendo o pretexto para que o
Congresso dos Estados Unidos assinasse um ato, a Resolução do Golfo de Tonquim,
dando autorização legal ao presidente Lyndon Johnson (1908-1973) para entrar na
guerra. O governo de Hanói fez diversas declarações oficiais de que houve
apenas um ataque, e que este foi ocasionado pelo fato de vasos de guerra
estrangeiros terem adentrado suas águas territoriais. O incidente provocou o
bombardeio de bases norte-vietnamitas por caças de dois porta-aviões ao largo
da costa, destruindo depósitos de combustível e maquinaria para a construção de
torpedos, marcando o primeiro ataque aéreo dos Estados Unidos às instalações
militares no território norte-vietnamita. Em 2005, documentos secretos da Agência
de Segurança Nacional (NSA) vieram a público (cf. Harding, 2014) indicando o
que as torpedeiras norte-vietnamitas nos ataques de 4 de agosto nunca
foi confirmada.
Nos Estados Unidos e Ocidente do final dos anos 1960, começou um sentimento de oposição à guerra imperialista como parte de um grande movimento de contracultura. A guerra mudou a dinâmica das relações entre os blocos Leste e Oeste, também alterando as divisões norte-sul do mundo. A partir de 1969, os Estados Unidos começaram o processo de “vietnamização”, que visava melhorar a capacidade militar do Vietnã do Sul de lutar a guerra por si só, sem apoio externo. Os norte-americanos esperavam assim poder reduzir sua participação no conflito sem ter que comprometer o objetivo estratégico máximo de impedir a expansão do comunismo na região, transferindo a responsabilidade de lutar para os próprios sul-vietnamitas. Assim, no começo dos anos 1970, os Estados Unidos começaram a retirar suas tropas do Vietnã. O que se seguiu, em janeiro de 1973, foi a assinatura do Acordos de Paz de Paris, porém isso não significou o fim das hostilidades. Envolvimento militar norte-americano direto na Guerra do Vietnã foi encerrado formalmente em 15 de agosto de 1973. Não demorou muito tempo e na primavera de 1975, os Norte-vietnamitas iniciaram uma grande ofensiva para anexar o Sul de uma vez por todas. Em abril de 1975, Saigon foi conquistada pelos comunistas, e o fim da guerra, com o Norte e o Sul do Vietnã unificados no ano seguinte. O custo em vidas da guerra foi extremamente alto.
O total de vietnamitas mortos,
civis ou militares, varia de 966. 000 a 3,8 milhões. Entre 240. 000 e 300. 000
cambojanos, e 20 000 a 62 000 laocianos perderam a vida também. Já os
americanos estimam suas perdas em 58 000 soldados mortos, mais de 300 mil
feridos e 1 626 ainda desaparecidos em 1975. Para os Estados Unidos da América,
a Guerra do Vietnã resultou numa das maiores confrontações armadas em que o
país já se viu envolvido, e sua derrota provocou a “Síndrome do Vietnã” em seus
cidadãos e sua sociedade, causando profundos reflexos na sua cultura, na
indústria cinematográfica e grande mudança na sua política exterior, até a
eleição de Ronald Reagan, em 1980. A
impopularidade de Carter e as más relações com os líderes democratas
encorajaram um desafio intrapartidário do senador Ted Kennedy, irmão mais novo
do ex-presidente John F. Kennedy. Carter derrotou Kennedy na maioria das
primárias democratas, mas Kennedy permaneceu na disputa até que Carter foi
oficialmente nomeado na Convenção Nacional Democrata de 1980. As primárias
republicanas foram disputadas entre Reagan, que já havia servido como
governador da Califórnia, o ex-congressista George H. W. Bush do Texas, o
congressista John B. Anderson de Illinois, e vários outros candidatos. Os
oponentes de Reagan haviam desistido, e a Convenção Nacional Republicana de
1980 indicou a chapa composta por Reagan e Bush. Anderson entrou na disputa
como candidato e convenceu o ex-governador de Wisconsin Patrick Lucey, um
democrata, a servir como seu companheiro de chapa.
Ronald
Reagan (1911-2004) fez campanha por maiores gastos com defesa, implementação de
políticas econômicas do lado da oferta e um orçamento equilibrado. Sua campanha
foi auxiliada pela insatisfação democrata com Carter, a crise dos reféns no Irã
e uma piora da economia doméstica, marcada por alto desemprego e inflação.
Carter atacou Reagan como um perigoso extremista de direita e advertiu que
Reagan cortaria o Medicare e a Previdência Social. Venceu o processo eleitoral
obtendo uma vitória esmagadora, obtendo uma grande maioria dos votos eleitorais
e 50,7% do voto considerado popular. Recebeu mais votos eleitorais já obtido
por um candidato presidencial não titular. Nas eleições simultâneas para
o Congresso, os republicanos conquistaram o controle do Senado dos Estados
Unidos pela primeira vez desde 1955. Carter obteve 41% dos votos, mas venceu
apenas seis estados e o Distrito de Colúmbia. Anderson obteve 6,6% dos votos
populares e teve o melhor desempenho entre os eleitores republicanos liberais
insatisfeitos com Reagan, então com 69 anos, foi a pessoa mais velha a ser
eleita para um primeiro mandato até Joe Biden ser eleito presidente em 2020 aos
77 anos. Em torno de quarenta anos, esta havia sido a última vez que um
presidente em exercício foi derrotado por um desafiante mais velho; fato que
perdurou até a eleição de 2020, quando Joe Biden derrotou o presidente
republicano Donald Trump.
A
sociologia, não confunde a prática dos rituais com seu sentido. De fato, há
requisitos da vida social entre estabelecidos através das relações entre os
animais que são inconcebíveis em sua analogia no mundo vegetal. Reações ou
relações baseadas na capacidade de locomoção, na plasticidade assegurada pelo
sistema nervoso, na interdependência dinâmica produzida pela divisão do
trabalho, em tendências mais ou menos conscientes de comportamento, etc., não
comportam condições de manifestação nas comunidades de plantas, por maior que
seja o grau de sociabilidade inerente aos seus padrões de organização interna.
Isso não impede que se reconheça que alguns tipos de relações comunitárias das
plantas possuem valor social definido no amplo e diversificado mercado mundial
de consumo de drogas. As dificuldades são de ordem descritiva. Raramente se
assume um estado de espírito que lhe permita considerar a vida social,
independentemente dos padrões mais complexos, que ela alcança a análise
comparada entre os animais e os dos homens. Nenhum sociólogo é capaz de
realizar seu ofício antes de percorrer as fases da de investigação completa, na
qual transmite do levantamento dos dados à sua crítica e à análise e, em
seguida, ao tratamento interpretativo propriamente dito. Os que repudiam o
estudo de comunidade ou o estudo de caso com obstinação, ignoram esse lado
pedagógico do treinamento pela pesquisa empírica sistemática.
Nas
comunidades de plantas de organização simples – mutatis mutandis - os
comensais são iguais. Nas comunidades de plantas de organização complexa, os
comensais são desiguais e concorrem, com suas necessidades diferentes, para uma
utilização mais complexa de possibilidades do habitat comum. Do ponto de vista
dinâmico, a sociabilidade das plantas é um produto direto da competição, que
regula a distribuição dos indivíduos no espaço e o padrão daí resultante da
relação deles entre si. No entanto, as variações no grau de sociabilidade podem
afetar as condições gerais de interação das plantas. O aumento da
sociabilidade, por exemplo, é útil às plantas em competição com outras
espécies. A função social do meio não chega a sofrer uma diferenciação nítida;
aparece como uma condição, às vezes mal perceptível, da interação dos
organismos através da utilização dos recursos do habitat. É útil ter-se em mente que o sistema de
notações dos botânicos não coincide com os dos sociólogos, pois as aglomerações
vegetais não possuem, do ponto de vista sociológico, as propriedades
específicas da associação propriamente dita. A polêmica, neste plano terreno e
abstrato, relaciona-se com os modos de interpretação que correspondam a esses
atributos sociais. Biólogos, psicólogos e sociólogos pensam, de forma
distinta, que as propriedades sociais das comunidades de animais,
independentemente do grau técnico em que constituam produtos de mecanismos extra-sociais, possuem bastante objetividade científico-social para
serem considerados isoladamente.
A
divisão do trabalho (cf. Durkheim, 2010) não é específica do nível de
análise econômico: podemos observar sua influência crescente nas regiões mais
distintas da sociedade. As funções políticas, administrativas, judiciárias
especializam-se cada vez mais. O mesmo ocorre com as funções artísticas e
científicas no âmbito das universidades. As especulações filosóficas da
biologia nos demonstraram, na divisão do trabalho, um fato social de uma tal
generalidade que os economistas, que foram os primeiros a mencioná-lo, não
haviam podido suspeitar. Não é mais uma instituição social que tem sua fonte na
inteligência e na vontade dos homens. Mas um fenômeno de biologia geral, cujas
condições, ao que parece, precisam ser buscadas nas propriedades essenciais da
disciplina organizada. A divisão do trabalho social passa a aparecer apenas
como uma forma particular desse processo geral, e as sociedades, conformando-se
a essa lei, parecem ceder a uma corrente de pensamento que nasceu bem antes
delas e que arrasta no mesmo sentido todo o mundo vivo. Semelhante fato não pode, evidentemente, produzir-se
sem afetar profundamente nossa constituição moral, pois o desenvolvimento do
homem se fará em dois sentidos de todo diferentes. Não é necessário demonstrar
a gravidade desse problema; qualquer que seja o juízo sobre a divisão do
trabalho, sabe-se que ela é e se torna cada vez mais uma das bases fundamentais
da ordem social tanto quanto política.
Sociologicamente
todo estado forte da consciência é uma fonte de vida, é um fato essencial de
nossa vitalidade geral. Por conseguinte, tudo o que tende a enfraquece-lo nos
diminui e nos deprime; resulta daí, seguindo os passos de Émile Durkheim, uma
impressão de confusão e de mal-estar análoga a que sentimos quando uma função
importante é suspensa ou retardada. É inevitável, pois, que reajamos energicamente
contra a causa que nos ameaça com tal diminuição, que nos esforcemos por
afastá-la, a fim de mantermos a integridade de nossa consciência. No
primeiro plano das causas que produzem esse resultado, devemos colocar a
representação de um estado contrário. Uma representação não é, com efeito, uma
simples imagem da realidade, uma sombra inerte projetada em nós pelas coisas,
mas uma força que ergue a seu redor um turbilhão de fenômenos orgânicos e
psíquicos. Não somente a corrente nervosa que acompanha a ideação se
irradia nos centros corticais do ponto em que se originou e passa de
um plexo a outro, mas ressoa nos centros motores, onde determina movimentos,
nos centros sensoriais, onde desperta imagens, excita por vezes começos de
ilusões e pode afetar as funções vegetativas; esse ressoar é mais considerável quanto mais intensa for a representação, quanto mais
desenvolvido for esse elemento emocional.
Assim,
a representação de um sentimento contrário ao nosso age em nós no mesmo sentido
e das mesma maneira que o sentimento que ela substitui; é como se ele mesmo
tivesse entrado em nossa consciência. Ela tem, de fato, as mesmas afinidades,
embora menos vivas; ela tende a despertar as mesmas ideias, os mesmos
movimentos, das mesmas emoções. Ela opõe, pois, uma resistência ao jogo de
nosso sentimento pessoal e, por conseguinte, o debilita, atraindo numa mesma
direção contrária toda uma parte de nossa energia. É como se uma força estranha
se houvesse introduzido em nós, de modo a desconcertar o livre funcionamento de
nossa vida psíquica. Eis porque uma convicção oposta à nossa não pode se
manifestar em nossa presença sem nos perturbar: é que, ao mesmo tempo, ela
penetra em nós e, encontrando-se em antagonismo com tudo o que em nós encontra,
determina verdadeiras desordens. Sem dúvida, enquanto o conflito só se
manifesta entre ideias abstratas, nada há de muito doloroso, pois nada há de
mito profundo. A região dessas ideias é, ao mesmo tempo, a mais elevada e a
mais superficial da consciência, e as mudanças que nela sobrevêm, não tendo
repercussões extensas, afetam-nos apenas debilmente. No entanto, quando se tata
de uma crença que nos é cara, não permitimos e não podemos permitir que seja
impunemente ofendida.
Toda
ofensa dirigida contra ela suscita uma reação emocional, mais ou menos
violenta, que se volta contra o ofensor. Nós nos arrebatamos, nos indignamos
contra ele, ficamos com raiva e os sentimentos assim provocados não podem
deixar de ser traduzidos por atos; fugimos dele, mantemo-lo à distância,
banimo-lo de nossa companhia etc. Sem dúvida, não pretendemos que toda nossa
convicção forte seja necessariamente intolerante; a observação corrente basta
para demonstrar o contrário. Mas isso porque as causas externas neutralizam,
então, aquelas cujos efeitos acabamos de analisar. Por exemplo, pode haver
entre os adversários uma simpatia geral que contenha seu antagonismo e o
atenue. Mas é preciso que essa simpatia seja mais forte do que esse
antagonismo, de outro modo não sobrevive a ele. Ou, então, as duas partes em
presença renunciam à luta, quando fica claro que esta é incapaz de levar ao que
quer que seja, e se contentam com manter suas respectivas situações, toleram-se
mutuamente, não podendo autodestruir-se. A tolerância recíproca que por vezes
encerra guerras religiosas costuma ser dessa natureza. Em todos os casos, se o
conflito dos sentimentos não engendra suas consequências naturais, não é porque
não as contenha, é porque é impedido de produzi-las. Todas essas emoções
violentas constituem, na realidade, uma convocação de forças suplementares que
vêm restituir ao sentimento atacado a energia que a contradição lhe retira.
Foi
dito, algumas vezes, que a cólera era inútil, por ser tão-só uma paixão
destrutiva, mas isso é vê-la apenas sob um de seus aspectos. De fato, ela
consiste numa sobreexcitação de forças latentes e disponíveis que vêm ajudar nosso
sentimento pessoal a encarar os perigos, reforçando-as. No estado de paz, se
assim podemos falar, esse sentimento não se encontra suficientemente armado
para a luta e poderia, portanto, sucumbir, se reservas passionais não entrassem
em ação no momento necessário; a cólera nada mais é que uma mobilização dessas
reservas. Pode até acontecer que, se o socorro assim evocado supera as
necessidades, a discussão tenha por efeito fortalecer-nos ainda mais em nossas
convicções, longe de nos abalar. Sabe-se que grau de energia pode alcançar uma
crença, ou um sentimento, pelo simples fato de serem sentidos por uma
comunidade de homens em relação uns com os outros, as causas desse fenômeno são
bem conhecidas. Do mesmo modo que estados de consciência contrários se enfraquecem
reciprocamente, estados de consciência idênticos, intercambiando-se, fortalecem
uns aos outros. Enquanto os primeiros se subtraem, os segundos se adicionam. Se
alguém exprime diante de nós uma ideia que já era nossa, a representação que
fazemos dela vem se somar à nossa própria ideia, superpor-se a ela,
confundir-se com ela, comunica-lhe o que ela própria tem de vitalidade;
dessa fusão apressa-se uma nova ideia que absorve as precedentes e, em
consequência, é mais viva do que antes cada uma delas considerada isoladamente.
Eis por que, nas assembleias numerosas, uma emoção pode adquirir tamanha
violência: é que a vivacidade com a qual ela se produz em cada consciência
ressoa em todas as demais. Basta que não sejamos um terreno demasiado
refratário para que, penetrando do exterior com a força que traz de suas
origens, imponha-se a nós.
A intuição como forma de representação do conhecimento consiste na capacidade de conhecer algo sem de fato ainda entender seu funcionamento. Está fundamentada na noção inicial que temos sobre algo, noção esta que nasce da experiência sensorial e/ou de uma análise superficial das características que compõe determinado elemento. Tomando como base a noção inicial, conseguimos entender de forma pouco esclarecida do que se trata determinado elemento e já nos dispomos a emitir juízos acerca do mesmo. Todas estas concepções do homem, que se expressam de diversas formas, em sua relação com a natureza, nasceram a partir da análise que seus sentidos o proporcionaram fazer. Mas há algo a mais nisto. Não bastariam ele olhar para a pedra e sentir seu peso para concluir todas estas coisas. Teria o homem que pensar por associação, por comparação. Entre tais habilidades ou competências determinadas importa destacar a relação social contígua entre o ser capaz de pensar e o ser capaz de aprender. Teria o homem que se basear em suas outras experiências, tanto pessoais quanto sociais para entender tais coisas.
Têm-se
nas reflexões anteriores, um exemplo desta forma básica de entender o mundo que
nos cerca. O pensamento forma-se por associação. O conhecimento que se constrói
através de memórias de experiências passadas e logo comparações com
experiências presentes. O raciocínio intuitivo da forma como foi apresentado,
revela-nos uma superficialidade na forma de compreender o mundo. Retomando ao
exemplo do homem: o mesmo não saberia explicar o porquê de nenhuma de suas
conclusões, visto que ele se baseou somente em suas antigas experiências. Os
fatos usados para formar a conclusão, não são compreendidos pelo homem, ele
apenas sabe que são tal como são e aceita isso como natural. Além dessas
substâncias e de outras, que estão em menor quantidade, o ar, por exemplo,
também apresenta gotículas de água, poeira, e sobretudo partículas de vírus,
bactérias e outro micro-organismos. Não entende ele, no plano abstrato da
teoria “como” e nem o “por que” daqueles fatos sociais do dia a dia se
apresentarem daquela maneira. Tudo que ele sabe, foi captado pelos seus
sentidos, guardado na memória e utilizado automaticamente em seu
dia-a-dia como forma de entender o mundo que lhe é anterior e encontra-se
ao seu redor.
O
símbolo não sendo já de natureza linguística deixa de se desenvolver numa só
dimensão. As motivações que ordenam os símbolos não apenas já não formam longas
cadeias de razões, mas nem sequer cadeias. A explicação linear do tipo de
dedução lógica ou narrativa introspectiva já não basta para o estudo das
motivações simbólicas. A classificação dos grandes símbolos da imaginação em
categorias motivacionais distintas apresenta, com efeito, pelo próprio fato da
não linearidade e do semantismo das imagens, grandes dificuldades.
Metodologicamente, se se parte dos objetos bem definidos pelos quadros da
lógica dos utensílios, como faziam as clássicas “chaves dos sonhos”, segundo as
estruturas antropológicas do imaginário, cai-se rapidamente, pela massificação
das motivações, numa inextricável confusão. Parecem-nos mais sérias as
tentativas para repartir os símbolos segundo os grandes centros de interesse de
um pensamento, certamente perceptivo, mas ainda completamente impregnado de
atitudes assimiladoras nas quais os acontecimentos perceptivos não passam de
pretextos para os devaneios imaginários. Tais são as classificações profundas de analistas das motivações do simbolismo religioso e imaginação em geral literária.
No
prolongamento dos esquemas explicativos, arquétipos e simples símbolos modernos
podem-se considerar o mito. Lembramos, todavia, que não estamos tomando este
termo na concepção restrita que lhe dão os etnólogos, que fazem dele apenas o
reverso representativo de um ato ritual. Entendemos por mito, “um sistema
dinâmico de símbolos, arquétipos e esquemas, sistema dinâmico que, sob o
impulso de um esquema, tende a compor-se na narrativa”. O mito é já um esboço
de racionalização, dado que utiliza o fio do discurso, no qual os símbolos se
resolvem em palavras e os arquétipos em ideias. O mito explicita um esquema ou
um grupo de esquemas. Do mesmo modo que o arquétipo promovia a ideia e que o
símbolo engendrava o nome, podemos dizer que o mito promove a doutrina
religiosa, o sistema filosófico ou, como bem observou Bréhier, a narrativa
histórica e lendária. O método de convergência evidencia o mesmo isomorfismo na
constelação e no mito. Enfim, para sermos breves, este isomorfismo dos
esquemas, arquétipos e símbolos no seio dos sistemas míticos ou de constelações
estáticas pode levar-nos a verificar a existência de protocolos normativos das
representações imaginárias, bem definidos e estáveis, agrupados nos esquemas originais e que antropologicamente a literatura refere-se
como estruturas sociais.
Um
homem (Ben Foster) ex-veterano de guerra norte-americano vive com a filha de 13
anos (Thomasin McKenzie), felizes e indetectados pelas autoridades durante anos
em uma vasta reserva florestal na fronteira de Portland, nos Estados Unidos da América.
A região é considerada do ponto de vista técnico-metodológico como uma das dez
cidades mais ecológicas do mundo, principalmente pelo sistema do governo de
carros movidos a bateria elétrica que reduzem uma grande porcentagem de emissão
de gás carbônico na atmosfera. Foi classificada a cidade mais verde dos Estados
Unidos da América, e a segunda mais verde do mundo global. Em tese são cidades
sustentáveis, projetadas com respeito ao meio ambiente, atuação econômica
viável e socialmente justa. Elas também são conhecidas como cidades
inteligentes na busca pela eficiência dos serviços de maneira sustentável. A
estratégia do veterano tem como escopo se manter o mais longe possível da
civilização. Quando as autoridades os descobrem, com o trabalho rotineiro de
segurança da floresta, pai e filha partem em fuga, em busca de um novo esconderijo.
Não se passa impunemente por um campo de batalha contemporâneo. Mesmo quem
volta ileso pode sofrer consequências psicológicas ou físicas. Um em cada
quatro casos de veteranos de guerra norte-americanos desde a guerra da Secessão,
foi uma guerra civil travada nos Estados Unidos de 1861 a 1865, entre a União e
os Confederados. Sua causa principal foi a longa controvérsia sobre a
escravização dos negros. O conflito eclodiu em abril de 1861, quando as forças sociais
e políticas separatistas atacaram o Fort Sumter, na Carolina do Sul, pouco
depois de Abraham Lincoln (1808-1865) ter tomado posse como Presidente dos
Estados Unidos. Os legalistas da União no Norte, que também incluíam alguns Estados
geograficamente ocidentais e do sul, proclamaram apoio à Constituição,
enfrentaram os secessionistas dos Estados Confederados do Sul, que defendiam os
direitos dos estados em manter a escravidão, sofre de estresse pós-traumático,
com medos e lembranças de perigo que enfrentaram. A inteligência é o único meio que possuímos
para dominar os nossos instintos. Mas como isto é possível?
O
etnocentrismo é a visão preconceituosa e unilateralmente formada sobre outros
povos, culturas, religiões e etnias. Esse conceito refere-se, portanto, ao
hábito de julgar inferior uma cultura diferente da sua própria cultura,
considerando absurdo tudo que dela deriva e considerando a sua aparentemente
como a única correta. É uma ignorância obscura, pois significa estado de quem
se encontra na escuridão, de quem vive na ignorância. Na filosofia, o método
socrático permanece um pouco, por toda parte, nas escolas, o modelo da
pedagogia liberal – senão libertária – e, nesse sentido, é capital que Jacotot
tenha invertido as coisas. Ele o fez, mostrando que o ponto crucial do que
denomina “embrutecimento” não é a sujeição de uma vontade a outra; que o
problema, justamente, não é o de abolir toda relação de autoridade, de forma a
não deixar senão uma relação de inteligência à inteligência. Pois é exatamente
quando só existe relação de inteligência a inteligência que a desigualdade das
inteligências e a necessidade de que uma inteligência seja guiada por uma
inteligência melhor se demonstra. A emancipação dos indivíduos deve ser pensada
em um “esquema inverso”, no qual a vontade não seja deixada de lado, para que
se estabeleça a “pura” relação entre inteligências, se reconheça como tal, se
declare como tal, isso é, se declare ignorante. O que é um mestre ignorante? É
um mestre que não transmite seu saber e também não é o “guia” que leva o aluno
“ao bom caminho”, que é puramente vontade, que diz à vontade que se encontra a
sua frente para buscar seu caminho e, para exercer sua inteligência, na busca
desse caminho.
Michel Foucault é claro quando indica o século XVIII como o início de uma época de repressão própria das sociedades chamadas burguesas, e da qual talvez ainda não estivéssemos completamente liberados. Mas entende que denominar o sexo seria, a partir desse momento, mais difícil e custoso. Como se, para dominá-lo no plano real, tivesse sido necessário, primeiro, reduzi-lo ao nível da linguagem, controlar sua livre circulação no discurso, bani-lo das coisas ditas e extinguir as palavras que o tornam presente de maneira sensível. Dir-se-ia mesmo que essas interdições temiam chamá-lo pelo nome. Sem mesmo ter que de fato poder dizê-lo, o pudor moderno obteria que não falasse dele, exclusivamente por intermédio de proibições que se completam mutuamente: mutismos que, de tanto calar-se, impõe o silêncio: censura. Ora, considerando-se esses três últimos séculos em suas contínuas transformações, as coisas aparecem bem mais diferentes: em torno e a propósito do sexo há uma verdadeira explosão discursiva. Novas regras de decência, sem dúvida alguma, filtraram as palavras: polícia dos enunciados. Controle também das enunciações: definiu-se de maneira muito mais estrita onde e quando não era possível falar dele; em que situações, entre quais locutores, e em que relações sociais; estabeleceram-se, assim, regiões, senão de silêncio absoluto, pelo menos de tato e descrição: entre pais e filhos, ou educadores e alunos, patrões e serviçais. É quase certo ter havido uma economia restritiva. Ela se integra nessa política da língua e da palavra – espontânea e deliberada que acompanhou as redistribuições sociais da época clássica.
Em
compensação, no nível dos discursos e de seus domínios, o fenômeno é quase
inverso. Sobre o sexo, os discursos – discursos específicos, diferentes tanto
pela forma como pelo objeto – não cessaram de proliferar: uma fermentação
discursiva que se acelerou a partir do século XVIII. Mas o essencial, afirma
Foucault, é a multiplicação dos discursos sobre o sexo no próprio campo do
exercício do poder: incitação institucional a falar do sexo e a falar dele cada
vê mais; obstinação das instâncias do poder a ouvir e a fazê-lo falar ele
próprio sob a forma de articulação explícita e do detalhe infinitamente
acumulado. Mas, pode-se muito bem policiar a língua, a extensão da confissão e
da confissão da carne não para de crescer. Pois a Contrarreforma se dedica, em todos
os países católicos a acelerar o ritmo da confissão anual. Porque tenta impor
regras meticulosas de exame de si mesmo. Mas, sobretudo, porque atribui cada
vez mais importância, na penitência – em detrimento, talvez, de alguns outros
pecados – a todas as insinuações da carne: pensamentos, desejos, imaginações
voluptuosas, deleites, movimentos simultâneos da alma e do corpo, tudo isso
deve entrar em detalhe, no jogo da confissão e da direção espiritual. O sexo
segundo a pastoral, não deve ser mencionado sem prudência; mas na
constituição de seus aspectos, correlações, seus efeitos, seguidos finas ramificações: sombra num devaneio, imagem expulsa com
demasiada lentidão, cumplicidade mal afastada entre a mecânica do corpo e complacência do espírito: deve ser dito, isto é importante.
Aliás, crença é diferente de conhecimento e de ignorância. O seu objeto não é o ser e também não é o não-ser. Não há crença nem sobre o ser nem sobre o não-ser. Ela é menos eficiente, e, portanto, mais obscura que o conhecimento, porém mais luminosa que a ignorância. Ela ocupa, então, o meio-termo entre o conhecimento e a ignorância. O seu objeto está entre o ser e o não-ser. A identificação do objeto da crença é realizada pelo método socrático chamado elêntico. Pergunta-se aos amantes de espetáculos, se entre as numerosas coisas belas, haverá uma que não venha a mostrar-se feia, ou entre as justas, uma que não venha a parecer injusta. A resposta fornecida por Glauco, que ocupa na argumentação o lugar dos amantes de espetáculos, é que cada uma delas ora aparece bela ora feia, ora justa ora injusta, ora santa ora ímpia (479 a - b). Essas numerosas coisas que ora são ora não-são, ora mostram-se ser ora não-ser; essas coisas que rolam entre o ser e o não-ser devem ser colocadas como objetos da crença do ponto de vista da análise teórica abstrata, seja em Filosofia, seja em Sociologia. A crença é uma faculdade intermediária relacional ao conhecimento e a ignorância. Aqueles que veem essas numerosas coisas justas, mas não o justo em si tem crença. Mas não conhecimento e, crer não é o mesmo que conhecer: está baseado naquilo que ora é ora não-é. O filósofo ama o ser e não se deixa enganar pelos sentidos, enquanto que os chamados filodóxos são aqueles que amam a opinião, ou se deixam envolver pelos sentidos - têm, portanto, uma crença.
Um
discurso obediente e atento deve, portanto, seguir, segundo todos os seus
desvios, a linha de junção do corpo e da alma: ele revela, sob a superfície dos
pecados, a nervura ininterrupta da carne. Sob a capa de uma linguagem que se
tem o cuidado de depurar de modo a não o mencionar diretamente, o sexo é
açambarcado e como que encurralado por um discurso que pretende não lhe
permitir obscuridade nem sossego. Este projeto de uma “colocação do sexo em
discurso” formara-se há muito tempo, numa tradição ascética e monástica. O
século XVII fez dele uma regra para todos. Dir-se-á que, de fato, só poderia se
aplicar a uma elite mínima; a massa dos fiéis que só frequentavam a confissão
raras vezes por ano escapava as prescrições tão complexas. Sem dúvida o importante
é que esta obrigação será fixada, pelo menos como ponto ideal para todo bom
cristão. Coloca-se um imperativo: não somente confessar os atos contrários à
lei, mas procurar fazer de seu desejo, de todo o seu desejo, um discurso. Esta
é a tese inexorável de Foucault. Se for possível, nada deve escapar a tal
formulação, mesmo que as palavras empregadas devam ser cuidadosamente
neutralizadas. A pastoral cristã inscreveu, como dever fundamental, a tarefa de
fazer passar tudo o que se relaciona com o sexo pelo crivo interminável da
palavra. A interdição das palavras, a decência das expressões, todas as
censuras do vocabulário poderiam ser apenas dispositivos secundários com
relação a essa grande sujeição: maneiras de torná-la moralmente aceitável e
tecnicamente útil.
O conceito de potencialidade
geralmente se refere a qualquer possibilidade que uma coisa possa ter.
Aristóteles não considerou todas as possibilidades iguais e enfatizou a
importância daquelas que se tornam reais por vontade própria quando as condições
são adequadas e nada as impede. A atualidade, em contraste com a
potencialidade, é o movimento, mudança ou atividade que representa um exercício
ou a realização de uma possibilidade, quando uma possibilidade se torna real no
sentido mais pleno. Esses conceitos, em formas modificadas, permaneceram muito
importantes na Idade Média, influenciando o desenvolvimento da teologia
medieval de várias maneiras. Ademais nos tempos modernos, enquanto a
compreensão da natureza, e, de acordo com algumas interpretações, da divindade,
implícita na dicotomia, perdeu importância, a terminologia encontrou novos
usos, desenvolvendo-se indiretamente a partir dos pensadores antigos. Isso é
mais óbvio em palavras como energia e dinâmica que palavras usadas pela
primeira vez na física moderna pelo cientista e filósofo alemão Gottfried
Wilhelm Leibniz. Outro exemplo pode ser representado pelo conceito biológico
controverso de uma enteléquia.
Em
metafísica, dinamismo representa um nome geral para um grupo de visões filosóficas
sobre a natureza. Por mais diferentes que possam ser em outros aspectos, todas
essas opiniões concordam em fazer a matéria consistir essencialmente em
unidades, substâncias ou forças simples e indivisíveis. O dinamismo às vezes é
usado para designar sistemas que admitem não apenas matéria e extensão, mas
também determinações, tendências e forças intrínsecas e essenciais à matéria. O
dinamismo é a metafísica de Leibniz que reconcilia a teoria das substâncias
hilomórficas com o atomismo mecanicista por meio de uma harmonia
pré-estabelecida, e que mais tarde foi desenvolvida por Wolff como uma
cosmologia metafísica. A tese principal de Leibniz segue como consequência de
sua mônada: “a natureza de toda substância carrega uma expressão geral de todo
o universo”. Por meio do debate abstrato que Leibniz contrapõe a tendência
inerente ao racionalismo cartesiano e espinozista em direção a uma
interpretação isolacionista da independência ontológica da substância. Ipso
facto, o relato sobre a força substancial visa fornecer o fundamento
metafísico completo para uma ciência da dinâmica. Leibniz insiste que a força
primitiva pertence apenas a causas completamente gerais. Como princípio
estritamente metafísico, é objeto de apreensão puramente racional. Não está
diretamente ligado às leis reais da interação corporal no reino fenomenal. Por
outro lado, a força derivada pertence diretamente a essa interação
observável. Sua análise leva à formulação sistemática das leis fundamentais da
dinâmica corporal. São leis de ação reconhecidas não apenas pela razão,
mas são também comprovadas pela evidência dos sentidos.
As pressões a que fomos expostos durante milênios deixaram um legado mental e emocional. Alguns ainda afirmam que ele está presente em nós de alguma forma, o que explicaria momentos de sensações que acabaram se confirmando. A questão é que esse instinto animal mais sensorial dos animais domésticos provavelmente também está ligado ao instinto de sobrevivência primitivo, onde esse tipo de mecanismo era usado para alertar de algum perigo iminente. Os animais ainda são muito ligados ao seu instinto primitivo e natural, que é algo geral e inato ao ser vivo, representando um tipo de inteligência no seu grau mais primitivo. Ele guia o homem e os animais que possuem um grau mais elevado em sua trajetória pela vida, nas suas ações, visando justamente a preservação do ser, que acaba acarretando em comportamentos especiais, como andar em bando ou sozinho, e na alimentação e convivência com seu habitat. Nos animais domésticos, o instinto é rastro que a evolução definitivamente não apagou.
Antropologicamente
a humanidade sempre atravessa estágios em que: a) opressão da individualidade é
o ponto de passagem obrigatório de seu livre desabrochar superior, em que a
pura exterioridade das condições de vida se torna a escola da interioridade, b)
em que a violência simbólica da modelagem produz uma acumulação de energia,
destinada, em seguida, a gerar toda a especificidade pessoal. Do alto desse
ideal abstrato é que, c) a individualidade plenamente desenvolvida, tais
períodos parecerão, é claro, grosseiros e indignos. Mas, para dizer a verdade,
além de semear os germes positivos do progresso humano vindouro, já é em si uma
manifestação do espírito exercendo uma dominação organizadora sobre a
matéria-prima das impressões flutuantes, uma aplicação das personalidades
especificamente humanas, procurando-as fixar suas normas de vida - do modo mais
brutal, exterior ou, mesmo, estúpido que seja -, em vez de recebê-las das
simples forças da natureza física externa ao homem. A horda, uma estrutura social e militar
histórica encontrada na estepe eurasiática “não protege mais a moça e rompe
suas relações com ela, porque nenhuma contrapartida foi obtida por sua
pessoa”.
Os
indivíduos vivem em relações sociais de cooperação, mas também de oposição,
portanto, os conflitos são parte mesma da constituição da sociedade. É neste
sentido que formam momentos de crise, um intervalo entre dois momentos de
harmonia, vistos numa função positiva de superação das divergências. Fundamenta
uma episteme em torno da ideia de movimento, da relação, da pluralidade, da
inexorabilidade do conhecimento, de seu caráter construtivista, cuja dimensão
central realça o fugidio, o fragmento e o imprevisto. Por isso, seu panteísmo
estético, ancorado sob formas decerto paradoxais de interpretação real, como
episteme, no qual se entende que cada ponto, cada fragmento superficial e,
portanto, fugaz é passível de significado estético absoluto, de compreender o
sentido total, os traços significativos, do fragmento à totalidade. O
significado sociológico do “conflito”, em princípio, nunca foi contestado.
Conflito é admitido por causar ou modificar grupos de interesse, unificações,
organizações. Os fatores de dissociação entre pessoas e grupos, como ódio,
inveja, necessidade, desejo, são as causas tanto sociais quanto psíquicas da
condenação, que irrompe em função deles. Conflito é destinado a
resolver dualismos divergentes, a obter um tipo de unidade social através da aniquilação de uma das partes em litígio.
A
imagem está associada a conhecimentos pretéritos adquiridos e concernentes ao
objeto que ela de fato representa. Ela não apreende nada além daquilo que nós
podemos extrair da realidade durante o trabalho de percepção. A imagem não se
relaciona com o mundo em si, ela só depende do processo de como podemos
descobrir algo sobre ela. Portanto, se existe uma possibilidade de se observar
o objeto através da imaginação, mesmo assim essa possibilidade ainda não nos
permite apreender nada de novo em relação ao objeto. A imagem, ato da
consciência imaginante, é um elemento, identificado como o primeiro e
incomunicável, como produto de uma atividade consciente atravessada de um
extremo ao outro por uma corrente de “vontade criadora”. Trata-se, de dar-lhe à
sua própria consciência um conteúdo de sentido imaginante, próximo da analogia
weberiana da interpretação do estatuto da ciência que recria para si os objetos
afetivos espontaneamente ao seu redor: ela é criativa. Daí a importância social e afetiva de se
compreender no campo da imagem, de sua produção, recepção, influência, de sua
relação com o sonho, o devaneio, a criação e a ficção, a substituição das
mediações pelos meios de comunicação, posto que contenha em si uma
possibilidade de violência, a partir da constituição do novo regime de ficção
que hoje afeta, contamina e penetra a vida social. Fora dos maniqueísmos de todo tipo de
observação, nem sempre temos a sensação de sermos colonizados, sem saber
precisamente por quem. Não é facilmente identificável e, a partir daí é normal
questionar-se sobre o papel da cultura ou da ideia que fazemos dela.
O
descobrimento da primitiva gens do direito materno, como etapa anterior à gens
de direito paterno dos povos civilizados, tem, para a história primitiva, a
mesma importância que a teoria da evolução de Darwin para a biologia e a teoria
da mais-valia, enunciada por Marx, para a economia política. Essa descoberta
permitiu a Morgan esboçar, pela primeira vez, uma história da família, onde
pelo menos as fases clássicas da sua evolução são provisoriamente
estabelecidas, tanto quanto permitem o resgate dos dados estatísticos. Em torno
da gens de direito materno, por exemplo, gravita, toda essa reveladora
concepção de ciência. Desde seu descobrimento, sabe-se em que a direção
encaminhar as pesquisas e o que precisamente estudar. Como e de que modo devem
ser classificados os seus principais resultados. Reconstituindo a história da
família, chega, de acordo com a maioria de seus colegas, à conclusão de que
existiu uma época primitiva em que imperava, no seio da tribo, o comércio
sexual promíscuo, de modo que cada mulher pertencia igualmente a todos os
homens e cada homem a todas as mulheres. No século XIX havia feito menção a
esse estado, evolutivo primitivo, mas apenas de modo geral; JJ Bachofen foi o
primeiro etnólogo - este é um dos seus maiores méritos – que o levou a sério e
procurou seus vestígios nas tradições históricas e religiosas. Ipso facto
a definição de híbrido em biologia pode referir-se à genética ou à taxonomia.
No
contexto da genética, o termo híbrido tem vários significados, todos referentes
à descendência geracional por reprodução sexual. Em geral, o híbrido é sinônimo
de heterozigoto, constituindo o indivíduo no qual os alelos de um ou mais genes
são diferentes qualquer prole resultante do cruzamento de dois indivíduos
homozigotos, indivíduo no qual os alelos de um ou mais genes são idênticos
diferentes. A hibridação representa a
junção de patrimônios genéticos diferentes a partir do cruzamento de indivíduos
de populações diferentes. Esse fato pode ocorrer devido à existência de uma
zona híbrida, através da migração ou dispersão de indivíduos ou pela inserção
de espécies exóticas. A zona híbrida indica na natureza uma sobreposição de
populações diferentes com uma ou mais características herdáveis diferentes que
possuem capacidade de produzir proles viáveis e pelo menos parcialmente
férteis. Este contato social reprodutivo proporciona aproximação genética
entres as espécies como causa da diminuição do isolamento. E devido à heterose
podem resultar em uma criação de indivíduos superiores em muitas
características. Porém isso só ocorre quando existe uma certa proximidade
evolutiva entre os indivíduos, pois, quando há uma diferença genética muito
grande, pode ocorrer a esterilidade ou inviabilidade da prole podendo até
prejudicar as populações.
A
casa inteira, lembra Durand (1997), é mais do que para se viver, é um
vivente. A casa redobra, sobredetermina a personalidade daquele que a habita. A
casa constitui entre o microcosmo do corpo humano e o cosmo, um microcosmo
secundário, um meio termo cuja configuração iconográfica é, por isso mesmo,
muito importante no diagnóstico psicológico e psicossocial. Pode-se dizer:
Dize-me que casa imaginas e dir-te-ei quem és. E as confidências sobre o
habitat são mais fáceis de fazer do que sobre o corpo ou sobre um elemento
objetivamente pessoal. Os poetas, os psicanalistas, a tradição católica ou a
sabedoria dos dogon fazem coro para reconhecer no simbolismo da casa um duplicado
microcosmo do corpo material e do corpo mental. A própria organização dos
compartimentos ou da choupana: canto onde se dorme, lugar onde se prepara a
refeição, sala de jantar, quarto de dormir, dormitório, sala de estar, celeiro,
casa da fruta, granja, sótão, todos estes elementos orgânicos trazem
equivalentes anatômicos mais do que fantasias arquiteturais. A atmosfera
psicológica só em segundo lugar é determinada pelos odores do jardim, os
horizontes da paisagem. Os cheiros da casa que constituem a intimidade: vapores da cozinha, perfumes de alcova, bafios de corredores,
perfumes de benjoim ou de patchouli dos armários maternos. A intimidade vital
de microcosmo vai redobrar-se e sobredeterminar-se como se quiser para
viver.
O mundo da objetividade é polivalente para a projeção imaginária. A importância microscópica concedida à moradia indica já a primazia dada na constelação da intimidade às imagens do lugar praticado feliz. É um centro que pode muito bem situar-se no cimo de uma montanha, mas que na sua essência comporta sempre um antro, uma abóbada, uma caverna. Embora a noção de centro integre rapidamente elementos masculinos, é importante sublinhar as suas infraestruturas obstétricas e ginecológicas: o centro é umbigo, omphalos, do mundo. E mesmo as montanhas sagradas têm direito, como Gerizim e o tão justamente chamado Tabor, ao atributo de “umbigo da Terra”. É por essas razões uterinas que o que antes de tudo sacraliza um lugar é o seu fechamento: ilhas de simbolismo amniótico ou então floresta cujo horizonte se fecha por si mesmo. A floresta é centro de intimidade como o pode ser a casa, a gruta ou a catedral. A paisagem silvestre fechada é constitutiva do lugar sagrado. Todo lugar sagrado começa pelo “bosque sagrado”. O lugar sagrado é uma cosmicização maior que o microcosmo da morada, do arquétipo da intimidade feminóide. O espaço circular é o do jardim, do fruto, do voo ou do ventre, e desloca o acento simbólico para as volúpias secretas da intimidade.
Historicamente a noção de Antigo
Regime nasce com a revolução social que se pretendia ruptura com um passado
inacabado. A França de 1789 é uma ilustração desse sistema, com certo número de
características específicas, cuja importância será reconhecida no vir-a-ser do
processo revolucionário. O tradicionalismo, o atraso no emprego das técnicas
rurais, em relação à Inglaterra, reforçam a imagem de um campo resistente em
muitos aspectos. O campesinato europeu ainda estava sujeito ao sistema de
senhoriato, embora em graus diversos. A aristocracia nobiliárquica, considerada
em grupo detinha parte importante do território, talvez cerca de 30%, ao passo
que o clero, outra ordem privilegiada, possuía provavelmente de 6% a 10% do
território. No total, mais de um terço do solo francês estava nas mãos dos
privilegiados. A terra, era onerada com impostos feudais e senhoriais,
lembrando a concentração de propriedade do senhor sobre as parcelas de
terra que os camponeses possuíam: esses encargos eram variados e complexos, e
constituíam o que os juristas chamavam em seu jargão de “complexo feudal”.
Existia uma enorme quantidade de taxas, exigíveis oral anualmente, ora
ocasionalmente, ou em direito ou em produto. O senhor tinha ainda um direito de
justiça sobre os camponeses que viviam alojados dentro de suas terras. Era
clássico, comparar e opor o sistema agrário francês ao sistema agrário inglês, no
qual a erradicação profunda dos vestígios do feudalismo conduzira a uma agricultura
tipicamente capitalista.
O mundo da objetividade é polivalente para a projeção imaginária. A importância microscópica concedida à moradia indica já a primazia dada na constelação da intimidade às imagens do lugar praticado feliz. É um centro que pode muito bem situar-se no cimo de uma montanha, mas que na sua essência comporta sempre um antro, uma abóbada, uma caverna. Embora a noção de centro integre rapidamente elementos masculinos, é importante sublinhar as suas infraestruturas obstétricas e ginecológicas: o centro é umbigo, omphalos, do mundo. E mesmo as montanhas sagradas têm direito, como Gerizim e o tão justamente chamado Tabor, ao atributo de “umbigo da Terra”. É por essas razões uterinas que o que antes de tudo sacraliza um lugar é o seu fechamento: ilhas de simbolismo amniótico ou então floresta cujo horizonte se fecha por si mesmo. A floresta é centro de intimidade como o pode ser a casa, a gruta ou a catedral. A paisagem silvestre fechada é constitutiva do lugar sagrado. Todo lugar sagrado começa pelo “bosque sagrado”. O lugar sagrado é uma cosmicização maior que o microcosmo da morada, do arquétipo da intimidade feminóide. O espaço circular é o do jardim, do fruto, do voo ou do ventre, e desloca o acento simbólico para as volúpias secretas da intimidade.
Inversamente, podemos comparar o que
acontece na França com os modelos propostos pela Europa central e oriental,
onde a aristocracia, proprietária da maior parte do solo, apoia-se cada vez
mais no século XVIII nas corveias dos servos ligados a terra. A versão francesa do feudalismo, a meio caminho
entre os dois sistemas, era talvez cada vez menos suportável, na medida em que
se encontrava moribunda, no último estágio de seu declínio. O campesinato
francês, proprietário de 40% do território nacional e diversificado, tinha
condições de travar sua revolução, seguindo uma estratégia própria que se
confunde apenas em parte com a da burguesia, diante de uma nobreza menos
onipresente social e economicamente do que na Europa oriental. Inversamente, se
compararmos a sociedade francesa com as mais modernas de então, cujo modelo é a
Inglaterra, compreenderemos a importância da aposta das lutas revolucionárias.
No centro desse sistema político do Antigo Regime encontra-se a monarquia de
direito divino: o rei, no momento de sua coroação, é ungido com óleo da Santa
Ampola; ele é um rei taumaturgo, que toca os que sofrem de “escrófulas”
(abcesso tuberculoso). Figura do pai, personagem sagrada, o rei é o símbolo
vivo de um sistema em que o catolicismo é uma religião de Estado e que mal
começa a retroceder nos últimos anos do Antigo Regime (1787), após a
promulgação do Édito de Tolerância concedido aos protestantes.
Até
meados do século XX, a maioria dos estudos sobre aprendizagem questionava que
as funções da memória seriam localizadas em regiões cerebrais específicas,
alguns chegando a duvidar de que a memória seria uma função distinta da
atenção, da linguagem e da percepção. Acreditava-se que o armazenamento da
memória seria distribuído por todo o cérebro. A partir de 1861, há evidências
que lesões restritas à parte posterior do lobo frontal, no lado esquerdo do
cérebro, chamada de área de Broca, causavam um defeito específico na função da
linguagem. Após essa localização da função da linguagem, os neurocientistas
tornaram a voltar-se para a hipótese de se localizar a memória. Hoje é possível
afirmar que a memória não possui um único lócus. Diferentes estruturas
cerebrais estão envolvidas na aquisição, armazenamento e evocação das diversas
informações adquiridas por aprendizagem. Existem acontecimentos nas nossas
vidas que não esquecemos jamais. Entretanto, nem tudo que nos acontece fica
gravado na nossa memória para sempre. É importante lembrar que a consolidação
da memória ocorre no momento seguinte ao acontecimento. Qualquer fator social que
haja pode fortalecer ou enfraquecer a lembrança, qualquer que ela seja. Para a comunicação
dominante, veiculada pelos meios eletrônicos de massa, como jornais, rádios,
televisão, redes sociais, etc., “tudo é opinião”, mas algumas opiniões são
falsas e outras nem sempre são corretas.
As ditaduras podem ser civis: cesarismo, bonapartismo, fascismo ou militares. As ditaduras civis podem ser apoiadas por um movimento popular ou um partido político, em geral o único partido existente nesse sistema político que são casos únicos no Ocidente da Alemanha nazista, ou fascista na Itália. Algumas classificações, mais problemáticas, introduzem critérios apenas quantitativos para definir os regimes ditatoriais. Ditaduras seriam aquelas formas de governo onde a taxa de violência ou uso da repressão política é alta. Isso conduz a algumas dificuldades analíticas já que democracias consolidadas podem, excepcionalmente, lançar mão da força policial contra cidadãos particulares ou movimentos sociais globais. Os Estados Unidos se imiscuíram na Guerra de Resistência contra a América, um conflito armado no Vietnã, Laos e Camboja de 1° de novembro de 1955 até a queda de Saigon em 30 de abril de 1975. Foi a segunda Guerra do Vietnã do Norte e o governo de coalisão.
O exército norte-vietnamita era apoiado pela União Soviética, China e outros aliados comunistas, enquanto os sul-vietnamitas eram apoiados pelos Estados Unidos da América (EUA), Coreia do Sul, Austrália, Tailândia, e outras nações imperialistas e anticomunistas pelo corredor da história de povos em guerra do mundo ocidental. Neste cenário, o conflito no Vietnã é descrito “como uma guerra por procuração no auge da Guerra Fria”. Nomes são o conflito. Guerra do Vietnã é o mais usado como “ideologia de guerra”. Também chamado de Segunda Guerra da Indochina e Conflito do Vietnã. Houve vários conflitos na Indochina, este particular é reconhecido pelos principais protagonistas para distingui-lo dos outros. Em vietnamita, a guerra é geralmente conhecida como Kháng chiến chống Mỹ (Guerra de resistência contra a América). É também chamado de Chiến tranh Việt Nam (A Guerra do Vietnã). As principais organizações militares envolvidas na guerra foram, de um lado, o Exército da República do Vietnã (ARVN) e as Forças Armadas dos Estados Unidos da América, e, por outro lado, o Exército Popular do Vietnã (PAVN), mais comumente chamado de Exército do Vietnã do Norte, e a Frente Nacional para a Libertação do Vietnã do Sul (FNL) reconhecido como Viet Cong, uma força estratégica de guerra de guerrilha comunista.
Do
ponto de vista institucional, as ditaduras se caracterizam pela supremacia do
poder executivo, pela irrelevância do poder legislativo e pela submissão do
poder judiciário. Nas ditaduras, os direitos civis, isto é, os direitos
individuais, tais como ir e vir, a liberdade de associação, a liberdade de
expressão, de opinião e de contestação do governo, a liberdade de informação
são severamente controlados pelos detentores do poder estatal; e os direitos
políticos, direito à participação, direito de voto, direito a disputar eleições
livres veem-se claramente comprometidos. Daí se afirmar que a ditadura é uma
forma de governo que não respeita o Estado de direito. Em algumas
classificações a ditadura representa um regime de exceção, sendo a regra a
democracia liberal. A confusão ocorre de forma proposital onde a política é
considerada apenas como partido político e os políticos em sua dura cerviz. Neste
ponto cumpre enfatizar a relação que a ciência política possui com as mais
variadas áreas de conhecimento e uso de poder através das ciências sociais,
dentre elas a economia, a história, a psicologia. A ciência política tem como
escopo, o poder, um conceito básico, que se estabelece através da
representação da sociedade política, ou Estado, que é uma sociedade como as
demais.
O
poder de persuadir os indivíduos das opiniões corretas está ligado à capacidade
da persuasiva dominante de se apoiar em todo um vasto sistema educativo, em
toda uma organização de formação cultural corrompida que é proporcionado ao
amplo público consumidor. Mas eficazmente do que o conjunto das escolas,
analisadas posteriormente e por assim dizer, tardiamente por estudiosos, em
relação à “indústria cultural” serve à multidão de produtos culturais
simplificados, vulgarizados, amontoados acriticamente. Os professores se
convencem de que estão “ajudando” seus alunos a avançar pouco a pouco na
assimilação da cultura. Os alunos, massificados, lisonjeados com a
semi-cultura, satisfazem-se com o que lhes está sendo veiculado, e são
induzidos a preservar o que lhes parece ser o seu saber, o seu patrimônio
cultural, local, reagindo contra objeções dos inúmeros questionadores, quase
sempre insatisfeitos, ou contra as investidas insensatas de uma crítica
radical. A cultura é sempre contraditória, por isso devemos idealizá-la. No
século XX, com a esmagadora predominância de critérios imediatistas e
utilitários, esses valores críticos da cultura sofrem um brutal esvaziamento.
As comunidades vão deixando de ter a capacidade de reconhecê-los, mesmo se por
acaso com eles se defrontarem.
Bibliografia
geral consultada.
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