“A inteligência é o único meio que possuímos para dominar os nossos instintos”. Sigmund Freud
A
polêmica em torno da questão geracional em Friedrich Engels, originalmente no
ensaio: A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado (1991), indica
primícias sobre a produção e reprodução da vida imediata. Mas essa produção e
reprodução são de dois tipos, intrínsecos e reveladores: de um lado, a produção
de meios de existência, de produtos alimentícios, habitação, e instrumentos
necessários para tudo isso; de outro lado, a produção do homem mesmo, como realização
da espécie. Isto quer dizer o seguinte: a ordem social em que vivem os homens
de determinada época ou determinado país está condicionada por essas duas
espécies de produção: pelo grau de desenvolvimento do trabalho, de um lado, e
da família, de outro. E ainda: quanto mais desenvolvido é o trabalho,
mais restrita é a quantidade de seus produtos e, por consequência, a riqueza da
sociedade; com maior força se manifesta a influência dominante dos laços de
parentesco sobre o regime social. Ipso facto, no marco dessa estrutura
da sociedade baseada nos laços de parentesco, do ângulo da concepção
materialista a produtividade do trabalho aumenta sem cessar, e, com ela
desenvolvem-se a propriedade privada e as trocas, as diferenças de riqueza, a
possibilidade de empregar força de trabalho alheia, e com isso a base dos
antagonismos de classe: os novos elementos sociais, que, no transcurso das
gerações , procuram adaptar a velha estrutura da sociedade às novas condições,
até que, por fim, a incompatibilidade entre estas e aquela leva a uma revolução
completa.
A sociedade antiga, baseada nas
uniões gentílicas, segundo Engels, “vai pelos ares”, em consequência do choque
das classes sociais recém-formadas; dá lugar a uma nova sociedade organizada em
Estado, cujas unidades inferiores já não são gentílicas e sim unidades
territoriais, uma sociedade em que o regime familiar está completamente
submetido às relações de propriedade e na qual têm livre curso as contradições
de classe e a luta de classes, que constituem o conteúdo de toda a história escrita,
até nossos dias. Neste sentido, o grande mérito de Lewis H. Morgan, é o de ter
descoberto e restabelecido em seus traços essenciais esse fundamento
pré-histórico da nossa história escrita. O de ter encontrado, nas uniões
gentílicas dos índios norte-americanos, a chave para decifrar importantíssimos
enigmas, ainda não resolvidos, da história antiga da Grécia, Roma e Alemanha.
Sua obra, assegura, não foi trabalho de um dia. Como pesquisador levou cerca de
quarenta anos elaborando seus dados, até conseguir dominar inteiramente o
assunto. E seu esforço intelectual não foi em vão, pois seu livro é um dos
poucos nesta matéria de nossos dias que fazem época. No prefácio à 4ª edição de
1891, Engels faz uma breve exposição do desenvolvimento da história da família,
desde Bachofen até Morgan, principalmente porque a escola pré-histórica
inglesa, que tem um acentuado matiz chauvinista, silenciava revolução produzida
pelos descobrimentos de Morgan nas velhas noções de história primitivas, embora
não sinta o menor escrúpulo em apropriar-se dos resultados obtidos por ele. Até
o início da década de sessenta, não se poderia sequer pensar em uma história da
família. As ciências históricas ainda se achavam, nesse domínio, sob a
influência dos Cinco Livros de Moisés. A forma patriarcal da família, não somente
era admitida, como a mais antiga, como também se identificava, excetuando a poligamia,
com a família burguesa, como se a família não tivesse tido evolução alguma
através da história.
As unidades de geração
desenvolvem perspectivas, reações e posições políticas e afetivas diferentes em
relação a um mesmo dado problema. O nascimento em um contexto social idêntico,
mas em um período específico, faz surgirem diversidades nas ações dos sujeitos.
Outra característica é a adoção ou criação de estilos de vida distintos pelos
indivíduos, mesmo vivendo em um mesmo âmbito social. Em outras palavras: a
unidade geracional constitui uma adesão mais concreta em relação àquela
estabelecida pela conexão geracional. Mas a forma como os grupos de uma mesma
conexão geracional lida com os fatos históricos vividos, por sua geração,
fará surgir distintas unidades geracionais no âmbito da mesma conexão
geracional no conjunto da sociedade. Na verdade, inicialmente, a classe médica
em geral acaba por marginalizar as ideias de Freud; seu único confidente
durante esta época é o médico Wilhelm Fliess. Depois que o pai de Freud falece,
em outubro de 1896, segundo as cartas recebidas por Fliess, Freud, naquele
período, dedica-se a anotar e analisar seus próprios sonhos, remetendo-os à sua
própria infância e, no processo, determinando as raízes de suas próprias
neuroses. Tais anotações tornam-se a fonte etnográfica para a obra “A
Interpretação dos Sonhos”. Durante o curso desta autoanálise, Freud chega à
conclusão de que seus próprios problemas eram devidos a uma atração por sua mãe
e a uma hostilidade em relação a seu pai. É o que constitui o famoso “complexo
de Édipo”, que se torna o “coração”, por assim dizer, na concepção da teoria de
Freud sobre a origem da neurose em todos os seus pacientes investigados. Nos
primeiros anos do século XX, são publicadas suas obras em que contém suas teses
principais: A Interpretação dos Sonhos (2017) e A Psicopatologia da
Vida Cotidiana. Freud já não mantinha mais contato profissional nem com o
médico e fisiologista Josef Breuer, nem com Wilhelm Fliess, médico alemão,
especializado em cirurgia e otorrinolaringologia, mas que foi um protagonista
importante da pré-história da psicanálise. No início, as tiragens das obras psicológicas
não animavam Freud, mas logo médicos de vários lugares: Eugen Bleuler, Carl
Jung, Karl Abrahams, Ernest Jones, Sandor Ferenczi, demonstram respaldo científico
às suas ideias gerais e passam a compor o extraordinário Movimento Psicanalítico.
Desnecessário dizer que Freud e seus
seguidores auxiliaram a divulgar a psicanálise para todo o mundo ocidental.
Atualmente, somos muitos que ouvimos falar da psicanálise e de conceitos oriundos
de suas concepções e teorias. Conceitos como: neurose, histeria, ou complexo
Édipo. Apesar de muitos desses conceitos fazerem parte de nosso dia-a-dia, eles
levaram décadas para serem reconhecidos pela sociedade de classes e das entidades
científicas. Seu fundador, o psicólogo Sigmund Freud e seus seguidores tiveram
um grande empenho em organizar e divulgar os seus estudos e pesquisas. Eles
passaram por muitas dificuldades para que ela fosse considerada como um campo
de estudo e acadêmico das ciências humanas e para que fosse aplicada no
dia-a-dia das pessoas. O progresso da psicanálise curiosamente foi auxiliado
com a eclosão da 1ª grande guerra (1914-1918). A guerra emergente entre nações
europeias e sua carnificina, além de ter retardado o movimento da psicanálise,
trouxe um grande sofrimento pessoal para o seu nobre fundador. A guerra
reforçou o seu pessimismo com relação à ideia de natureza humana. Ela
contribuiu para a sua certeza de que o comportamento humano tinha um fundamento
irracional. A psicanálise e suas teorias começaram, entretanto, antes da trágica
corrida armamentista. E nunca o mundo testemunhara uma carnificina tão
monstruosa. Quando a poeira baixou dos escombros, em 1918, a civilização ficou
chocada com os números do conflito: foram quase 20 milhões de mortos e outros
20 milhões de feridos. Estamos submetidos, embora não identificados, à
linguagem ordinária, como na nave dos insensatos, estamos embarcados, sem
possibilidade de fuga ou de totalização social.
Sobre a questão tópica do
“inconsciente e a consciência – a realidade”, Freud (2017; 637 e ss.) afirma o
seguinte. Se prestarmos bem atenção, as discussões psicológicas das seções
precedentes não nos sugeriram a hipótese de que existem dois sistemas
próximos à extremidade motora do aparelho, e sim dois processos ou modos
de fluxo de excitação. Isso é indiferente para nós, afirma, pois devemos
estar sempre preparados a abandonar nossas representações auxiliares quando nos
acreditamos em condições de substituí-las por alguma outra coisa que esteja
mais próxima da realidade conhecida. Tentemos agora retificar algumas intuições
que puderam se formar de maneira equivocada enquanto tínhamos em vista os dois
sistemas, no sentido mais imediato e mais bruto, como dois lugares no interior
do aparelho psíquico, intuições que deixaram seu sedimento nas expressões
“recalcar” e “irromper”. Quando afirmamos, portanto, que um pensamento
inconsciente se esforça para obter tradução ao pré-consciente para então
irromper na consci~encia, não queremos dizer que se deva formar um segundo
pensamento situado em um novo lugar, uma transcrição, por assim dizer, ao lado da qual o original continua existindo; e
também quanto á irrupção na cosnciência, queremos separar cuidadosamente dela
qualquer ideia de mudança de lugar. Quando afirmamos que um pensamento
pré-consciente é recalcado e então tomado pelo inconsciente, tais imagens
emprestadas do círculo de representações da luta por um terreno, poderiam nos
seduzir a levantar a hipótese de um arranjo é realmente dissolvido num lugar
psíquico e substituído por um novo arranjo noutro lugar. Substituímos essas
imagens por aquilo que parece corresponder melhor ao estado real das coisas, a
saber, que um investimento de energia é colocado em certo arranjo ou retirado
dele, de modo que a formação psíquica cai sob o domínio de uma instância ou é
subtraída dela. Mais uma vez, substituímos um modo tópico de representação por
um dinâmico; não é a formação psíquica que nos parece como algo móvel, e sim
sua inervação.
Melhor dizendo, para Freud (2017), se
até aqui praticamos psicologia por conta própria; está na hora de prestara
atenção às teorias que dominam a psicologia e examinar sua relação com as
nossas hipóteses. A questão do inconsciente na psicologia é menos uma
questão psicológica do que a questão da psicologia. Enquanto a
psicologia despachou essa questão com a definição de que o “psíquico” é
precisamente o “consciente” e que os “processos psíquicos inconscientes” são um
contrassenso evidente, o aproveitamento psicológico das observações que um
médico podia obter a propósito de estados psíquicos anormais foi impossível. O
médico e o filósofo apenas entram em acordo quando ambos reconhecem que
processos psíquicos inconscientes são “a expressão adequada e bem justificada
para um fato estabelecido”. O médico não pode fazer outra coisa senão rejeitar
com um dar de ombros a afirmação de que “a consciência é o caráter imprescindível
do psíquico”, e talvez, se seu respeito pelas afirmações dos filósofos ainda
for grande o bastante, supor que não tratam do mesmo objeto e não praticam a
mesma ciência. Pois apenas uma única observação participante, e decerto compreensiva da vida psíquica
de um neurótico, ou uma única análise de um sonho deve lhe impor a convicção
inabalável de que os processos de pensamento mais complexos e mais corretos,
aos quais, no entanto, não se recusará o nome de processos psíquicos, podem
ocorrer sem excitar a consciência da pessoa.
O médico certamente não recebe
notícia desses processos inconscientes antes que tenham exercido sobre a
cosnciência um efeito passível de comunicação ou observação. Mas esse efeito
sobre a cosnciência pode mostrar um caráter psíquico inteiramente divergente do
processo inconsciente, de modo que é impossível à percepção interna reconhecer
um como substituto do outro. O médico precisa se resguardar o direito de
avançar do efeito sobre a consciência até o processo psíquico inconsciente
mediante um processo de inferência; por essa via, fica sabendo que o
efeito sobre a consciência á apenas uma ação psíquica remota do processo inconsciente
e que este último não se tornou consciente como tal e, além disso, que ele
existiu e agiu sem se revelar de algum modo à consciência. O abandono da
superestimação concedida à faculdade da consciência torna-se pressuposto
indispensável para qualquer compreensão correta do desenvolvimento do psíquico.
Conforme a expressão de Lipps, o inconsciente deve ser tomado como base
universal da vida psíquica. O inconsciente é o círculo maior que abrange em si
o círculo menor da cosnciência; tudo o que é consciente tem um estágio prévio
inconsciente, enquanto o inconsciente pode permanecer nesse estágio e ainda
assim reclamar o valor pleno de uma produção psíquica. O inconsciente é o
psíquico propriamente real, tão desconhecido para nós segundo sua natureza interna
quanto o real do mundo externo; ele nos é dado pelos dados da consciência de
maneira igualmente tão incompleta quanto o mundo externo pelas informações de
nossos órgãos sensoriais. A própria produção intelectual resulta das mesmas
forças psíquicas que realizam todas as produções desse tipo durante o dia.
Provavelmente também da produção intelectual e artística. Das comunicações de
alguns homens altamente produtivos, como Goethe e Helmholtz, ficamos sabendo
que o essencial e o novo de suas criações lhes foi dado sob a forma de lampejos
e chegou à sua percepção quase surpreendente em outros casos em que existia um
empenho de todas as forças intelectuais. É um privilégio da atividade
consciente, do qual muito se abusa, permitir que ela possa nos ocultar todas as
outras atividades onde quer que ela tome parte.
O filme Fuja (Run) foi
dirigido por Aneesh Chaganty, com uma produção da Lions Gate Entertainment
Corporation ou Lionsgate, uma produtora independente de cinema e
televisão surgida em Vancouver em 3 de julho de 1997, e atualmente sediada em
Santa Mônica. Foi divulgado ao grande público consumidor em 2020 nos Estados
Unidos da América. Escrito em parceria com Sev Ohanian, o longa-metragem trata
novamente de uma relação social entre pais e filhos, mas que tem como escopo a
doença. É um filme que aborda conceitos psicológicos centrados na perda. A
trama apresenta Diane Sherman (Sarah Paulson) dando luz à um bebê que nasceu
prematuramente e com vários problemas ligados à questão da saúde: arritmia,
asma, paralisia e diabetes. Dezessete anos depois, vemos Diane levando uma vida
extremamente organizada, mas aparentemente feliz, com sua filha, Chloe (Kiera
Allen), que executa sua rotina diária em sua cadeira de rodas. Isso inclui
medicamentos e fisioterapia, mas também horas de aulas em casa,
ministradas por Diane. A mãe também prepara refeições saudáveis com os vegetais
que cultiva na horta em seu próprio jardim. Tudo é cuidadosamente controlado.
Chloe é claramente uma jovem inteligente, como evidenciado pelos muitos
projetos de engenharia complexos em que ela trabalha em seu quarto, e ela
parece ter um futuro brilhante pela frente.
Na trama social de Fuja, a
personagem Chloe vivida por Kiera Allen, sofre clinicamente por causa de suas
doenças. A jovem usa cadeira de rodas e toma um coquetel de pílulas que sua mãe
lhe dá todos os dias. No entanto, Chloe começa a desconfiar de uma
misteriosa pílula verde, chamada Trigoxina que a faz pesquisar por telefone e
pelo computador o medicamento. Quando ela dá início à investigação, descobre
que foi enganada durante a sua vida e que os remédios não estão lhe curando,
mas ao contrário: tornando-a uma pessoa doente, manifestada pela mudança de um
conjunto de sintomas perceptíveis. A personagem toma um remédio para o coração
que ela descobre que deveriam ser pílulas vermelhas e não verdes que sua mãe
tem administrado diariamente. O que ela achava ser, a Trigoxina, clinicamente é
uma “droga que trata doenças cardíacas graves, incluindo fibrilação atrial,
vibração ou insuficiência cardíaca”, mas é uma pílula vermelha, e não verde. Quando
ela pergunta ao farmacêutico para que serve a pílula verde, descobre que é uma
droga usada como relaxante muscular em cães que pode causar paralisia das
pernas se ingerida por humanos. Do ponto de vista da representação
cinematográfica tanto a Trigoxina quanto a pílula verde são fictícios, mas, comparativamente
são baseados na medicina real. A Trigoxina, que seria a pílula vermelha, é
semelhante em nome à droga da vida real chamada Digoxina. De acordo com
a Mayo Clinic, a droga tem um efeito semelhante à Trigoxina, pois é
usada para melhorar a força e a eficiência do coração e controlar a frequência
e o ritmo dos batimentos cardíacos, o que leva a uma melhor circulação
sanguínea. No filme, a Trigoxina também é um medicamento para o coração. Ao indagar
o farmacêutico, Chloe, descobre que está tomando um remédio para cães. Fora da
interpretação fílmica, analogamente, existe Trigoxina como uma pílula verde também
no mundo veterinário. Na vida real, sociologicamente, a droga mais próxima
usada para isso é a lidocaína, usada em humanos e cães como uma espécie de
anestésico local para queimaduras e cortes. Ambos os remédios da repugnante filmografia Fuja,
portanto, são fictícios, mas a capacidade de e apenas inspirados em medicamentos de fato reais.
Conceptualmente droga representa
historicamente “toda e qualquer substância, natural ou sintética que,
introduzida no organismo modifica suas funções”. As drogas naturais são obtidas
e extraídas tecnicamente através de determinadas plantas, de animais e de
alguns minerais. Temos como exemplo: a cafeína do café, a nicotina presente no
tabaco, o ópio presente na papoula e o Tetrahidrocanabiol da cannabis. As
drogas sintéticas são fabricadas em laboratório, exigindo para isso técnicas
especiais. O termo “droga” presta-se a várias interpretações sociais e conteúdos
de sentido distintos. Para o senso comum urbano é uma substância proibida, de
uso ilegal e nocivo ao indivíduo, modificando-lhe as funções, as sensações, o
humor e o comportamento. As drogas estão classificadas em três formas de
categorias sociais: a) as estimulantes, b) os depressores e, c) os
“perturbadores das atividades mentais”. O termo droga envolve os analgésicos,
estimulantes, alucinógenos, tranquilizantes e barbitúricos, além do álcool e
substâncias voláteis. As psicotrópicas são as drogas que tem tropismo e afetam
o sistema nervoso central, modificando as atividades psíquicas e o
comportamento. Essas drogas podem ser absorvidas de várias formas no corpo: por
injeção, por inalação, via oral, injeção intravenosa ou aplicada via retal
(supositório). O crack é uma droga, geralmente fumada, “feita a partir
da mistura de pasta de cocaína com bicarbonato de sódio”. É claramente a forma
“impura de cocaína” e não um subproduto social que se comercializa. O nome
deriva do verbo to crack, que significa “quebrar”, devido aos pequenos
estalos produzidos nos cristais (“as pedras”) ao serem queimados, como “se
quebrassem”.
Na sociologia, admitimos o ponto de
vista da análise abstrata, segundo o qual nem todos os especialistas concordam
em admitir que as comunidades vegetais apresentam propriedades sociais. De
fato, há requisitos da vida social entre os animais que são inconcebíveis em
sua analogia no mundo vegetal. Reações ou relações baseadas na capacidade de
locomoção, na plasticidade assegurada pelo sistema nervoso, na interdependência
dinâmica produzida pela divisão social do trabalho, em tendências mais ou menos
conscientes de comportamento, etc., não comportam condições de manifestação nas
comunidades de plantas, por maior que seja o grau de sociabilidade inerente aos
seus padrões de organização interna. Isso não impede que se reconheça que
alguns tipos de relações comunitárias das plantas possuem valor social definido
no amplo e diversificado mercado mundial de consumo de drogas. As dificuldades
são de ordem descritiva. Raramente se assume um estado de espírito que lhe
permita considerar a vida social, independentemente dos padrões mais complexos,
que ela alcança a análise comparada entre os animais e os dos homens. Os índios
Tupinambá obrigou-o a alargar seu conhecimento das sociedades ditas primitivas,
para poder entender, descrever e explicar as estruturas e os dinamismos da
sociedade tribal. Descobriu assim, que nenhum sociólogo é capaz de realizar seu
ofício antes de percorrer as fases de uma de investigação completa, na
qual transmite do levantamento dos dados à sua crítica e à análise e, em
seguida, ao tratamento interpretativo propriamente dito. Os que repudiam o
estudo de comunidade ou o estudo de caso com obstinação, ignoram esse lado pedagógico
do treinamento pela pesquisa empírica sistemática.
Nas
comunidades de plantas de organização simples, os comensais são iguais; nas
comunidades de plantas de organização complexa, os comensais são desiguais e
concorrem, com suas necessidades diferentes, para uma utilização mais complexa
de possibilidades do habitat comum. Do ponto de vista dinâmico, a sociabilidade
das plantas é um produto direto da competição, que regula a distribuição dos
indivíduos no espeço e o padrão daí resultante da relação deles entre si. No
entanto, as variações no grau de sociabilidade podem afetar as condições gerais
de interação das plantas. O aumento da sociabilidade, por exemplo, é útil às
plantas em competição com outras espécies. A função social do meio não chega a
sofrer uma diferenciação nítida; aparece como uma condição, às vezes mal
perceptível, da interação dos organismos através da utilização dos recursos do habitat. É útil ter-se em mente que o sistema de
notações dos botânicos não coincide com os dos sociólogos, pois as aglomerações
vegetais não possuem, do ponto de vista sociológico, as propriedades
específicas da associação propriamente dita. A polêmica, neste plano terreno e
abstrato, relaciona-se com os modos de interpretação que correspondam a esses atributos
sociais. Alguns biólogos, comparativamente com psicólogos e sociólogos pensam, ao contrário, que as
propriedades sociais das comunidades de animais, independentemente do grau
técnico em que constituam produtos de mecanismos e de processos extra-sociais,
possuem bastante objetividade social para serem considerados apenas isoladamente.
Historicamente o primeiro estudo significativo da família começa em 1861, com o Direito Materno de Johann Jakob Bachofen, onde o autor formula as seguintes teses: 1 – primitivamente, os seres humanos viveram em promiscuidade sexualmente, impropriamente chamada de heterismo por Bachofen; 2 – estas relações excluíam toda possibilidade de estabelecer, com certeza, a paternidade, pelo que a filiação apenas podia ser contada por linha feminina, segundo o direito materno, e isso se deu em todos os povos antigos; 3 – em consequência desse fato, as mulheres, como mães, como únicos progenitores conhecidos da jovem geração, gozavam de grande apreço e respeito, chegando, de acordo com Bachofen, ao domínio feminino absoluto (ginecocracia); 4 – a passagem para a monogamia, em que a mulher pertence a um só homem, incidia na transgressão de uma lei religiosa muto antiga (isto é, do direito imemorial que os outros homens tinham sobre aquela mulher), transgressão que devia ser castigada, ou cuja tolerância se compensava com a posse da mulher por outros, durante determinado período. A passagem do “heterismo” à monogamia e do direito materno ao paterno, segundo Bachofen, processa-se particularmente entre os gregos, em consequência do desenvolvimento das concepções filosóficas e religiosas, da introdução de novas divindades, representativas de ideias novas, no grupo dos deuses tradicionais, que eram encarnação das velhas ideias; pouco a pouco naturalmente os velhos deuses vão sendo relegados ao segundo plano pelos novos deuses. Para Bachofen, dessa maneira, não ocorreu com a representação do desenvolvimento das condições reais da existência dos homens, mas a apropriação religiosa dessas condições imaginárias no cérebro deles, o que determinou as transformações históricas na situação social recíproca do homem e da mulher. Desse ponto de vista, Bachofen interpreta a Oréstia de Ésquilo como um quadro dramático da luta entre o direito materno agonizante e o direito paterno, na época das epopeias, que nasceu e conseguiu vitória sobre o primeiro.
Na narrativa fora levada por sua
paixão por Egisto, seu amante, Clitemnestra mata seu
marido Agamenon, quando este regressava da guerra de Tróia; mas Orestes, filho
dela e de Agamenon, vinga o pai, matando a mãe. Isso faz com que eles e veja
perseguido pelas Erínias, seres demoníacos que protegem o direito materno, de
acordo com o qual o matricídio é o mais grave e imperdoável de todos os crimes.
Apolo, no entanto, que, por intermédio de seu oráculo, havia incitado Orestes a
matar sua mãe, e Palas Atena, que intervém como juiz, aqui representando o novo
direito paterno, protegem Orestes. Atena ouve ambas as partes. Todo o litígio está
resumido na discussão de Orestes com as Erínias. Orestes diz que Clitemnestra
cometeu um duplo crime ao matar quem era seu marido e pai de seu filho.
Por que as Erínias o perseguiam, por que o visavam, em especial, se ela, a
morta, tinha sido muito mais culpada? A resposta é surpreendente: - Ela não
estava unida por vínculos de sangue ao homem que assassinou”. O
assassinato de uma pessoa com a qual não houvesse vinculação de sangue, mesmo
que fosse o marido da assassina, era falta que não podia ser expiada – e não
concernia, absolutamente, às Erínias. A missão era a de punir o homicídio entre
consanguíneos, e o pior e mais imperdoável dos crimes segundo o direito
materno: a matricídio. O direito paterno vence o materno. O descobrimento da
primitiva gens de direito materno, como etapa anterior à gens de direito
paterno dos povos civilizados, tem, para a história primitiva, a mesma
importância que a teoria da evolução de Darwin para a biologia e a teoria da mais-valia,
enunciada por Marx, para a economia política. Essa descoberta permitiu a Morgan
esboçar, pela primeira vez, uma história da família, onde pelo menos as fases
clássicas da sua evolução, em linhas gerais, são provisoriamente estabelecidas,
iniciando-se uma nova era no estudo da pré-história.
Metodologicamente
a palavra família está sendo compreendida como um agrupamento social
humano formado por duas ou mais pessoas, com herança biológica, legal, afetiva
ou ancestral e que, viveram ou convivem na mesma casa. Os núcleos familiares
foram baseados em um modelo europeu urbano, burguês, cristão, constituído
basicamente por pai, mãe e filhos, sendo que, cada um deles desempenhava uma função
como contexto da divisão social do trabalho em casa. À medida em que a
sociedade foi se desenvolvendo, novos arranjos foram se formando, causando
grande impacto social nas configurações familiares. A frequência natural da voz
humana é determinada pelo comprimento das cordas vocais. As mulheres que têm as
pregas mais curtas possuem voz mais aguda, ao passo que comparativamente os
homens com pregas mais longas possuem voz mais grave. É por esse mesmo motivo genético
que as vozes das crianças são mais agudas do que as dos adultos. A mudança de
voz costuma ocorrer na puberdade que é provocada pela modificação das pregas
que de mais finas mudam para uma espessura mais grossa. Este fato é
especialmente relevante nos indivíduos do sexo masculino. O comprimento e a
espessura das cordas vocais determinam, tanto para o sexo masculino, como para
o sexo feminino, a extensão vocal e o registro de alcance das notas produzidas
vocalmente. Contudo, a laringe e as pregas vocais não são os únicos órgãos
responsáveis pelo processo da fonação. Os lábios, a
língua, os dentes, o véu palatino e a boca corroboram também claramente para a formação
dos sons. As duas pregas vocais representam um tecido musculoso,
situadas no interior da laringe.
Quando
ocorre um movimento de expulsão do ar por elas as fazem vibrar produzindo o som
pelo qual nos comunicamos. As pregas são fibras elásticas que se distendem ou
se relaxam pela ação dos músculos da laringe modulando e modificando e
permitindo todos os sons que produzimos enquanto falamos ou cantamos. Todo o ar
inspirado e expirado passa pela laringe e as pregas, estando relaxadas, não
produzem qualquer som, pois o ar passa entre elas sem vibrar. Quando falamos ou
cantamos, o cérebro envia mensagens pelos nervos até os músculos que controlam
as cordas vocais que fazem a aproximação das cordas de modo que fique apenas um
espaço estreito entre elas. Quando o diafragma e os músculos do tórax empurram
o ar para fora dos pulmões, este movimento interno produz a vibração das cordas
vocais e consequentemente o som. O controle da altura do som se faz
aumentando-se ou diminuindo-se a tensão das cordas vocais com a fala. A
realidade é “tudo o que existe”. Em sentido mais livre, o termo inclui tudo o
que é, seja ou não perceptível, acessível ou entendido pela filosofia, ciência,
arte ou qualquer outro sistema de análise. O real é tido como aquilo que existe
fora ou dentro da mente. A ilusão quando existente é real e verdadeira em si
mesma.
Ela
não nega sua natureza. Ela diz sim a si mesma. A realidade interna ao ser, seu
mundo das ideias, imaginário, idealizado no sentido de tornar-se ideia, e ser
ideia, pode - ou não - ser existente e real também no mundo externo. O que não
nega a realidade da sua existência enquanto ente imaginário, idealizado. Quanto
ao externo - o fato de poder ser percebido só pela mente - torna-se sinônimo de
interpretação da realidade, de uma aproximação com a verdade. A relação íntima
entre realidade e verdade, o modo em como a mente apreende a realidade, está no
cerne da questão da imagem como representação sensível do objeto e da ideia do
objeto como interpretação ideal, mental. Portanto, ter uma mente tranquila em
meio à agitação e aos estímulos que estamos expostos na modernidade
contemporânea não é uma atividade que pode parecer um luxo. Marx só pôde se
tornar Marx fundando uma teoria abstrata da história e uma filosofia da
distinção histórica entre ideologia e ciência e que em última análise essa
fundação se tenha consumado na dissipação do que se chama “mito religioso da
leitura”. Mas é possível afirmar que na
cultura da história humana o presente corre o risco de aparecer um dia como que
assinalado pela provação mais dramática e mais laboriosa possível. A descoberta
e o aprendizado do sentido dos atos mais “simples” da existência: ver, escutar,
falar, ler. Não é à psicologia que devemos estes conceitos perturbadores, mas a
homens como Marx, Nietzsche e Freud. Depois de Freud é que começamos a
suspeitar do quer-dizer o escutar, e, portanto o falar (e o calar) e o
que quer-dizer do falar e do escutar revela, sob a inocência do falar e
do escutar, a profundidade de uma fala inteiramente diversa, a fala do
inconsciente.
Freud
refere-se aos aspectos que compõem um estado instintivo humano e que
acaba por se tornar inibido em prol da convivência na formação de uma
comunidade. A inibição destes aspectos sociológicos que são instintivos,
consiste numa privação de características que são inatas aos homens. Ipso
facto, esta própria privação, acaba por consistir em determinados
descontentamentos. Conhecer a verdade é vê-la com os “olhos da alma”, ou, com
os “olhos da inteligência” no sentido técnico-científico acadêmico. Assim como
o Sol dá sua luz aos olhos e às coisas para que haja “mundo visível”, assim
também a ideia suprema, a ideia de todas as ideias, o Bem (isto é, a perfeição
em si mesma) dá à alma e às ideias sua bondade (sua perfeição) para que haja
“mundo inteligível”. Assim como os olhos e as coisas participam da luz, assim
também a alma e as ideias participam da bondade (ou perfeição) e é por isso que
a alma pode conhecer as ideias. E assim como a visão é passividade e atividade
do olho, assim também o conhecimento é passividade e atividade da alma: passividade,
porque a alma precisa receber a ação das ideias para poder contemplá-las; atividade,
porque essa recepção comunicativa e contemplação constituem a própria natureza
da alma. Assim como na treva não há visibilidade, assim também comop ocorre no caso na ignorância
não há verdade. A e a são para a alma o que a cegueira é para os
olhos e a escuridão é para as coisas: são privações de visão e privação real de
conhecimento.
A
realidade significa o ajuste que fazemos entre a imagem e a ideia da
coisa, entre verdade e verossimilhança. O problema da realidade é matéria
presente em todas as ciências e, com particular importância, nas ciências que
têm como objeto de pensamento o próprio homem: a antropologia e quase todas as
disciplinas que nela estão implicadas: a filosofia, a psicologia, a semiologia
e muitas outras, além das técnicas e das artes visuais. Na interpretação ou
representação do real, enquanto verdade subjetiva ou crença, a realidade está
sujeita ao campo das escolhas, isto é, determinado, por ser um fato social,
ato ou uma possibilidade, algo adquirido a partir dos sentidos e do
conhecimento adquirido. Dessa forma, a constituição das coisas e as nossas
relações dependem de um intrincado contexto, que ao longo da existência cria a lente
entre a aprendizagem e o desejo: o que vamos aceitar como real na vida
social? A realidade é construída mentalmente pelo sujeito consciente; ela não é
dada pronta para ser descoberta. Entendemos
que à fala pertence aquilo sobre o que se fala. A fala dá indicações sobre algo
e isso numa determinada perspectiva condicionada socialmente. A fala retira o
que ela diz como essa fala daquilo sobre que fala como tal. Na fala, enquanto processo social de
comunicação, isso é o que se torna acessível à co-presença dos outros, na maior
parte das vezes, através da verbalização da língua. O que no apelo da consciência constitui o
referido da fala, ou seja, o interpelado? Manifestamente a presença. O que
é indiscutível quanto indeterminado.
Mesmo
que o apelo tivesse uma meta tão vaga, na interpretação, ele ainda seria
para a presença um motivo de prestar atenção nas relações de convívio a si
mesma. Pertence à presença, no entanto, de modo essencial, que, com a
abertura de seu mundo, ela está aberta para si mesma, de tal modo que ela
sempre já se compreende. O apelo alcança a presença nesse movimento de sempre
já se ter compreendido na cotidianidade mediana das ocupações. O impessoalmente
si mesmo na relação com os outros é também alcançado pelo apelo da consciência.
Além da própria historiografia, o conhecimento a história tem sido uma tarefa
ímpar de todas as ciências sociais. A sociologia, a economia política, a
ciência política, a antropologia, a psicologia, trabalham com questões
políticas, econômicas, sociais, culturais, religiosas, militares, demográficas
e outras, que correspondem a ações, relações, processo e estruturas tomados em
algum nível da historicidade. Mesmo as correntes de pensamento orientadas no
sentido de formalizar as interpretações, em temos de indução quantitativa ou
construção de modelos, mesmo nesses casos onde a pesquisa produz alguma
explicação nova, reavalia ou reafirma explicações vigentes, sobre os modos e os
tempos da história. Também há aqueles que formalizam e fetichizam as categorias
dialéticas de pensamento, perdendo de vista o fluxo real das ações, relações,
processos e estruturas que expressam movimentos e as modificações das gentes,
grupos, classes e nações. Uns e outros constroem mitos. Em todos os casos, no
entanto, a história aparece de alguma forma, como história real ou invenção,
drama ou epopeia, elegia ou profecia. A multiplicidade de ciências e teorias
relativas ao nível social, em sentido lato, tem originado distintas
interpretações abstratas de como se escreve ou produz a
história. São distintas e heterogêneas as
histórias do capitalismo que emergem nas análises de Ricardo, Marx,
Tocqueville, Durkheim, Weber, Keynes, Parsons, Hobsbawm e outros.
Não só na sociologia, mas no conjunto das ciências socais, encontram-se as diversas explicações sobre como e por que ocorre a mudança social, a evolução, o progresso, o desenvolvimento, a modernização, a crise, a recessão, o golpe de classe, a reforma, a revolução. Para explicar as transformações sociais, em sentido amplo, o sociólogo, antropólogo, economista, politólogo, psicólogo, historiador e outros, têm buscado causas, condições, tendências, fatores, indicadores, variáveis, e assim por diante. Ao analisar as condições de formação, funcionamento, reprodução, generalização, mudança social e crise do capitalismo globalizado, os cientistas sociais têm proposto explicações que nem sempre se excluem. Em certos casos, umas implicam outras, ou as englobam. Em primeiro lugar, uma interpretação que se generalizou bastante, desde os arquétipos comparados da Revolução Industrial, estabelece que o progresso econômico é o resultado da “criatividade empresarial”. Isto é, toda mudança, inovação ou modernização econômica substantiva tende a consumar a capacidade de criação e liderança de empresários imaginosos, inventivos ou mesmo lúdicos, capazes de articular e dinamizar os fatores da produção preexistentes e novos. Essa interpretação tem os seus principais enunciados nos escritos de economistas clássicos, seus discípulos e continuadores no século XIX e XX. Os valores relacionados aos self-made man ao tycoon, ao capitão de indústria, ao pioneiro, à identidade entre propriedade privada, livre empresa e sociedade aberta, ligam-se à tese segundo a qual a criatividade representa a base do progresso capitalista.
A
partir deste fundamento, compreendemos que ordem, desordem e organização
são elementos essenciais para o entendimento da complexidade, pois se
desintegram e se desorganizam ao mesmo tempo. Nesse entendimento, constata-se
que o sentido da realidade se dá por meio da relação do todo com as partes e
vice e versa em uma análise integradora em que não é pertinente examinar o
fenômeno a partir de uma única matriz de racionalidade. A desordem torna-se
indispensável para a organização social da vida humana, pois a sociedade é
dependente de acontecimentos/fatos que possam modificar a ordem já estabelecida
para gerar novos meios de organização entre os sujeitos. Há um imprinting
cultural, matriz que estrutura o conformismo, e há uma normalização que o
impõe. O imprinting é um termo que Konrad Lorentz propôs para dar conta
da marca incontornável pelas primeiras experiências do jovem animal, como o
passarinho que, ao sair do ovo, segue como se fosse sua mãe, o primeiro ser
vivo ao seu alcance. Há um imprinting cultural que marcam os humanos,
desde o nascimento, com o selo da cultura, primeiro familiar e depois da
escola, prosseguindo na universidade ou na profissão. Contrariamente à
orgulhosa pretensão dos intelectuais e cientistas, o conformismo cognitivo não
é de modo algum uma marca de subcultura no sentido deperciativo que afeta principalmente as camadas
subalternas da sociedade organizada em geral. Os subcultivados sofrem um imprinting e uma
normalização atenuados e há mais opiniões pessoais diante do balcão de café do
que na recepção de um coquetel literário.
Embora
contrariados em contradição com seu desenvolvimento liberal intelectual que
permite a expressão de desvios e de ideias e formas escandalosas, o imprinting
e a normalização crescem paralelamente com a aquisição real da cultura. O imprinting
cultural determina à desatenção seletiva, que nos faz desconsiderar tudo
aquilo que não concorde com as nossas crenças, e o recalque eliminatório, que
nos faz recusar toda informação inadequada às nossas convicções, ou toda
objeção vinda de fonte técnica considerada ruim. A normalização manifesta-se de
maneira repressiva ou intimidatória. Cala os que teriam a tentação de duvidar
ou de contestar. A normalização, portanto, com seus subaspectos de
conformismo, exerce uma prevenção contra o desvio e elimina-o, se ele se
manifesta. Mantém, impõe a norma do que é importante, válido, inadmissível,
verdadeiro, errôneo, imbecil, perverso. Indica os limites a não ultrapassar. As
palavras que não devem proferir. Os conceitos a desdenhar, as teorias a
desprezar. O imprinting assimila a perpetuação dos modos de conhecimento
e verdades estabelecidas. Obedece a processos de tribunais: uma cultura produz
modos de conhecimento entre os homens dessa própria cultura. Através do seu
modo de conhecimento, reproduzem a legitimidade que produz esse conhecimento.
As crenças que se impõem socialmente, são fortalecidas pela fé que as
suscitaram. Então, se reproduzem não somente os conhecimentos, mas as estruturas
e os modos reguladores que determinam a invariância desses
conhecimentos.
É isto exatamente o que ocorre. A prova, no entanto, ocorre com as anulações de concursos quando não surge o candidato certo. Mas o inegavelmente ridículo é quando operam um Parecer Técnico contrário. Sustentando que a carreira do pesquisador não apresenta o desempenho (fálico) estimulado, ultrapassado pela quase “meia verdade”, caraterizada pelo conceito de estigma especificamente propalado por um cientista político estudioso das relações concretas de poder nas instituições. Mas isso não deve mascarar ou anular a originalidade complexa da comunidade/sociedade constituída pela trupe de cientistas, nem as ideias fixas, as obsessões intelectuais, themata, autônomas e dissociadas da estrutura social, que animam ou dispensam a busca específica da verdade objetiva da qual Foucault, com razão, apoiando-se na exterioridade visível que Magritte nomeia seus quadros infere dizendo: “Ceci n`est pas um pipe” (2016), para impor respeito à denominação. Nesse espaço quebrado e à deriva, que exige respeito, estranhas relações se tecem, intrusões se produzem, bruscas invasões destrutoras, quedas de imagens em meios às palavras, fulgores verbais que atravessam os desenhos e fazem-no voar em pedaços. Pacientemente, Paul Klee constrói um espaço sem nome nem geometria, entrecruzando a cadeia dos signos e a trama das figuras. Magritte, quanto a ele, mina em segredo um espaço que parece manter na disposição tradicional. Mas ele o cava com palavras: e a velha pirâmide da perspectiva está carcomida em seu secreto mórbido está a ponto de ruir, a sair de si própria e isolar-se. A arte da conversa, segundo Foucault (2016: 49), “é a gravitação autônoma das coisas que fizeram suas próprias palavras na indiferença dos homens, impondo-a a eles, sem mesmo que eles o saibam, em sua tagarelice cotidiana”.
As
pessoas com “transtorno de personalidade limítrofe” muitas vezes se envolvem na
idealização e desvalorização de outros, alternando entre uma alta consideração
positiva ou uma grande decepção. Automutilação e comportamento suicida são
comuns, como ocorre no filme. Ela se recorda dos fatos e narra de forma crua,
no sentido de ir direto ao ponto e sem muitos devaneios, o que viveu e o
relacionamento que tinha com as outras garotas, com problemas até mais graves
do que ela. Susanna parece ser a mais sã entre todas, apesar de ter várias
crises sérias de identidade, com dificuldades de compreensão da sua autoimagem.
O livro deu origem ao filme estrelado por Winona Ryder, Angelina Jolie,
Brittany Murphy, Whoopi Godlberg, entre outros. Angelina Jolie garantiu o Oscar
de Melhor Atriz Coadjuvante por interpretar Lisa, uma das meninas que faziam
parte do grupo de Susanna, a mais afetada entre elas. No filme, é explorado
muito mais as personagens do que no livro em si, onde temos muito mais aspectos
de observação participante e discursiva da autora estando na condição da sua
doença. Os sintomas mais característicos são uma marcante sensibilidade a
rejeição, pensar sobre e sentir medo de um possível abandono. Acima de tudo, as
características incluem uma sensibilidade especialmente intensa nas relações
com outras pessoas, dificuldades regulares em torno de emoções e impulsividade.
Outros sintomas podem incluir sentimento de insegurança quanto a identidade e
valores pessoais, pensamentos paranoicos quando estressado e dissociação grave.
Sentem emoções com mais facilidade, maior profundidade e por mais tempo. As
emoções podem ressurgir repetidamente e persistir por longos períodos de tempo.
Consequentemente, pode demorar mais do que o normal para uma pessoa neste
processo social voltar a um estado emocional estável após uma experiência
emocional intensa. Comportamento impulsivo é : abuso de
substâncias e alcoolismo, transtorno alimentar, sexo de risco ou indiscriminado
com múltiplos parceiros, gastar dinheiro e dirigir imprudentemente.
Comportamento
impulsivo estudada por Emile Durkheim pode incluir abandonar empregos e relacionamentos,
fugir e se automutilar o que é comum e pode ocorrer com ou sem intenção
suicida. As razões apresentadas para a automutilação não suicida diferem das
razões para tentativas de suicídio. As razões para a automutilação não suicida
incluem expressar raiva, autopunição, voltar ao normal geralmente em resposta a
dissociação, e distrair-se da dor emocional ou de circunstâncias difíceis. Em
contraste com isso, as tentativas de suicídio tipicamente refletem uma crença,
religiosa ou política, de que as vidas das outras pessoas vão melhorar depois
do suicídio. Ambas automutilações, suicidas e não suicidas, são uma resposta ao
sentirem emoções negativas. Abuso sexual, em particular, pode ser um gatilho
para comportamento suicida em adolescentes com tais sintomas. A Síndrome de
Münchhausen é caracterizada pela reprodução de sintomas físicos pelo sujeito,
de forma intencional, para que receba tratamentos médicos. O Manual
Diagnóstico e Estatístico de Doenças Mentais, classifica a síndrome de
Münchhausen no grupo de Transtornos Factícios e especifica a predominância de
sintomas físicos. Para isso, estabelece os seguintes critérios de diagnóstico: a)
produção ou simulação intencional de sintomas e sinais predominantemente
físicos; b) o papel de doente é o que socialmente motiva o comportamento; c)
ausência de incentivos externos para o comportamento como ganho econômico, fuga
de responsabilidade legal ou melhora do quadro de bem-estar físico. O
diagnóstico da Síndrome de Münchhausen é complexo e exige atenção a detalhes
para além dos critérios diagnósticos. É imprescindível que se conheça o
histórico médico do paciente, onde podem ser encontrados dados como o número e
os lugares de internação nos últimos anos, além dos motivos de saída do
hospital, uma vez que grande parte dos pacientes nessa condição social abandona o
recinto contra orientação médica.
O
termo síndrome de Münchhausen foi utilizado pela primeira vez por Asher em
1951, onde descrevia pacientes que contavam consistentemente histórias falsas,
com sintomatologia dramática e recorrente e, como consequência eram submetidos
à investigação diagnóstica e tratamentos desnecessários. Em 1977, esta síndrome
foi introduzida na pediatria quando Meadow, por meio do relato de dois casos,
usou o termo Síndrome de Münchhausen por Procuração (by proxy) para
demonstrar situações em que um dos pais, geralmente a mãe, simulava sinais e
sintomas na criança, levando-a repetidas internações e exposição a exames e
tratamentos perigosos e desnecessários, com o objetivo de chamar atenção para
si. Prestar atenção a frequência de alguns sinais pode ser significativo, tais
como: incompatibilidade das histórias individuais narradas pelos pacientes; a
possibilidade de conhecimento de uso da terminologia médica; comportamentos
autodestrutivos; presença dos sintomas sem a doença de base; dificuldade de
responder aos tratamentos adequados para o quadro físico; exacerbação dos
sintomas quando o paciente sabe que está sendo observado. O homem das paixões,
o homem espontâneo e impulsivo progressivamente apagou-se por trás do homem sem
paixão. Mas no mais profundo desse homem sem paixão se abriga o homem sensível
e expressivo, como expressão de si e do elo entre os homens nas circunstâncias
da vida. A possibilidade da causalidade tipicamente humana, a do homo faber,
repousa precisamente no fato de que o homem, o ser dotado de razão, é capaz de
conter em si, por modo de representação, o ser de efeitos possíveis que sejam
distintos deles. Ipso facto é que o que fazemos ou reproduzimos é nosso,
pois “a posse cria o amor da posse”, desde Georg Simmel, porque se somos
responsáveis pelos atos que consumamos e possuidores legítimos dessa
capacidade, é porque esses efeitos não eram inicialmente senão como causas,
somos nós que existimos neles em seu ser de efeitos.
Historicamente
os dramas de William Shakespeare, as comédias de Jean-Baptiste Poquelin, reconhecido
como Molière, produz ainda uma série de comédias e tragédias, bem ao gosto do
rei, são elas: Psiché, O Burguês Fidalgo (1670), As Amantes
Magníficas e As Mulheres Sábias (1672), retomando ao teatro de
conteúdo social, fazendo grande sucesso, e as sinfonias de Beethoven, é, sem
dúvida, um dos mais importantes compositores de Sinfonia de toda a história da
música. Autor de algumas das obras mais famosas que existem, contudo, não são
apenas de Shakespeare, Molière e Beethoven mesmos, a tal ponto que podemos nos
perguntar senão são a melhor parte e como auge formação da personalidade deles.
Contudo, institucionalizada, é obrigada a ingerir os medicamentos sem ao menos
saber para que servem, o que causa intensa angústia. Em sessão com os pais e o
psiquiatra do hospital, conflitos familiares emergem, bem como o diagnóstico do
transtorno, do qual a paciente não sabia e não lhe foi explicado, sendo este
quadro mantenedor da angústia existente. Em certo momento, na narrativa um
rapaz com o qual se relacionou afetivamente vai visitá-la e surge a
oportunidade de fugir do hospital, a qual é refutada pela garota, consciente,
que prefere ficar no local devido aos laços de amizade conquistados. A questão
do tempo está bastante abalada na personagem, que verbaliza sentir que o tempo
vai pra frente ao mesmo tempo em que volta para trás. Fazendo-a sentir-se
totalmente sem controle do tempo, o que também contribui para que o quadro da
doença se instale, uma vez que a temporalidade é a essência da cura e a questão
do tempo para a paciente está totalmente distorcida da realidade. Pode-se
compreender na concepção fenomenológico-existencial, que a jovem
Suzanna, possui características de uma “estadia-limite”, categorizada por
delinear a identidade de uma forma de ser, experimentar com significados e
responder-no-mundo transtornado e grave. É um modo de ser que
está no limite das emoções, misturando-se às demais pessoas do mundo, ditas
normais.
Bibliografia
geral consultada.
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