“Com os amigos ao lado, até a jornada mais longa se torna curta”. Filme 4L (2019)
4L
(em espanhol: 4 latas) tem como representação social um filme de comédia
espanhol de 2019, dirigido por Gerardo Olivares, nascido em 1964 é um cineasta
e roteirista espanhol. É casado, tem dois filhos e mora em Madri. Foi o
primeiro espanhol a ganhar o Golden Spike no prestigiado festival de
cinema Seminci, em Valladolid, por seu filme “14 quilómetros”. Recebeu o Prêmio
Cinema pela Paz de 2019 na categoria Justiça por seu filme “Duas
Catalunhas” e escrito por Olivares e María Jesús
Petrement. O enredo gira em torno de Tocho (Hovik Keuchkerian), que
é um alcoólatra rude e mal-educado; Jean Pierre (Jean Reno), que já foi
mulherengo, mas amadureceu; e Ely (Susana Abaitua). Todos estão viajando da
Espanha para o pai de Ely, Joseba (Enrique San Francisco), que mora em Tombuctu,
Mali, e está em seu leito de morte. É uma cidade no centro do Mali, capital da
região de mesmo nome. Apesar de não demonstrar o esplendor da sua época áurea,
no século XIV, e estar a ser engolida pela areia do deserto do Saara, ainda tem
uma importância histórica e social tão grande, como depósito de saber, que foi
inscrita pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura, em 1988, na lista do Patrimônio Mundial. Na trama cinematográfica
eles decidiram viajar para lá usando o velho Renault do pai de Ely, carro que
eles costumavam usar para fazer viagens. O filme 4L não tem frases
icônicas reconhecidas em filmes famosos. Mas explora
temas como amizade, aventura e a busca por liberdade.
No início da trama, Tocho, um
cidadão rude e alcoólatra de Bilbao, Espanha, recebe uma carta informando que
Joseba, uma velha amiga, está morrendo em Tombuctu. Profundamente tocado e
nostálgico, Tocho viaja de ônibus para a França, onde convoca outro velho
amigo, Jean Pierre, dono de um vinhedo, para acompanhá-lo em uma viagem para se
despedir de sua amada Joseba. Jean Pierre concorda, um tanto hesitante, e os
dois homens visitam Ely, filha de Joseba, com quem se separavam, para
convidá-la a se juntar a eles. Para espanto deles, Ely revela que o velho
Renault de 1982, que os três amigos dirigiram pelo Deserto do Saara foi
cuidadosamente preservado em sua garagem. Ela aceita a oferta, se eles
dirigirem o Renault da Espanha a Tombuctou novamente. Com boas lembranças de
suas aventuras de juventude, Jean Pierre e Tocho concordam em recriar a jornada
com Ely a reboque. Mas os homens e o carro estão mais velhos agora, e os tempos
mudaram. O que antes era uma viagem de liberdade se torna “uma jornada repleta
de colapsos e momentos estereotipados de quase morte no deserto”. Um caroneiro
malinês, Mamadou, faz amizade com Ely, mas morre de sede ao sair para buscar
ajuda quando o 4L quebra. Há um encontro no meio do Tanezrouft com um
traficante francês que guarda rancor de Jean Pierre, que “roubou um de seus
caminhões há muitos anos”. Chegando a Timbuctou, os três viajantes encontram
Joseba doente e seu parceiro malinês, e a cena final deixa os quatro
personagens principais prometendo restaurar um barco fluvial no Níger (na
realidade, a cerca de 20 km de Tombuctu) de propriedade de Joseba.
O filme “4x4”, também reconhecido como “4L”, não tem um parceiro malinês. O filme narra a história de um homem que, após roubar um carro, fica preso dentro dele, e a narrativa se concentra em seus esforços para escapar e sobreviver. Não há menção a um cachorro ou animal de estimação no enredo do filme. O filme “4x4” é um thriller psicológico que explora temas de isolamento e luta pela sobrevivência. O protagonista, interpretado por Peter Lanzani, precisa usar sua inteligência e recursos para lidar com a situação perigosa em que se encontra. Embora o filme não tenha um parceiro canino, ele explora a relação entre o homem e a máquina, e a luta pela sobrevivência em um ambiente hostil. O Mali ou Máli, oficialmente República do Mali, em bambara, Mali ka Fasojamana tem como representação social um país africano sem saída para o mar na África Ocidental. O Mali é o sétimo maior país da África. Limita-se com sete países, a Norte pela Argélia, a Leste pelo Níger, a Oeste pela Mauritânia e Senegal e ao Sul pela Costa do Marfim, Guiné e Burquina Fasso. O Mali tem uma área de 1 240 000 km² e a sua população em cerca de 24,5 milhões de habitantes. A capital do país é Bamaco. Formado por Oito regiões. o Mali tem fronteiras ao Norte, no meio ao Deserto do Saara, enquanto a região Sul, onde vive a maioria de seus habitantes, está próximo aos rios Níger e Senegal. Alguns dos recursos naturais no Mali são o ouro, o urânio e o sal.
O atual território do Mali foi sede de três impérios da África Ocidental, que controlava o comércio transaariano: o Império do Gana, o Império do Mali (que deu o nome de Mali ao país), e o Império Songai. No final do século XIX, o Mali ficou sob o controle da França, tornando-se parte do Sudão Francês. Em 1960, conquistou a Independência, juntamente com o Senegal, tornando-se a Federação Mali. Um ano mais tarde, a Federação do Mali se dividiu em dois países: Mali e Senegal. Depois de um tempo em que havia apenas um partido político, um golpe de Estado em 1991 levou à escritura de uma nova Constituição e à criação do Mali como uma nação democrática, com um sistema pluripartidário. Quase a metade de sua população vive abaixo da linha de pobreza, com menos de 1 dólar por dia. Mali deriva do nome do Império do Mali. O nome significa “o lugar onde o rei mora” e carrega uma conotação expressiva de força. O escritor guineense Djibril Tamsir Niane (1932-1921) sugere, em sua obra Sundiata: An Epic of Old Mali (1965), que não é impossível que Mali tenha sido o nome dado a uma das capitais dos imperadores. O viajante marroquino do século XIV, Ibn Battuta, relatou que a capital do Império do Mali se chamava Mali.
Uma tradição Mandinka narra que o lendário primeiro imperador Sundiata Keita se transformou em um hipopótamo após sua morte no rio Sankaranie, sendo possível encontrar aldeias na área deste rio denominadas “velho Mali”, possuindo Mali em seus nomes. Um estudo de provérbios do Mali observou que, no antigo Mali, havia uma aldeia chamada Malikoma, que significa “Novo Mali”, e que Mali poderia ter sido anteriormente o nome de uma cidade. Outra teoria sugere que Mali é uma pronúncia Fulani do nome do povo Mande. É sugerido que uma mudança de som levou à alteração. O território do atual Mali foi sede de grandes impérios da África Ocidental, que controlavam o comércio de sal, ouro, matérias prima, além de prata e bronze. Estes reinos careciam tanto de fronteiras geopolíticas quanto de identidades étnicas. Um destes grandes impérios foi o Império do Gana, fundada pelos soninquês, que falavam mandê. O reino se expandiu por toda África Ocidental desde o século VIII até 1078, quando foi conquistado pelos almorávidas. O Império do Mali se formou na parte superior do Rio Níger e chegou à sua força máxima em meados do século XIV.
Sob o reinado do Império do Mali, as antigas
cidades de Djené e Tombuctu foram importantes centros de comércio e de
aprendizagem islâmica. O reino entrou em declínio e, posteriormente, foi
resultado de conflitos internos, e até ser substituído pelo Império Songai. O
povo Songai é originário do noroeste da atual Nigéria, cujo império tinha sido
há muito tempo uma potência na África Ocidental sob o controle do Império de
Mali. No final do século XIV, o Império Songai ganhou a independência do
Império do Mali gradualmente, abrangendo a extremidade oriental deste império.
Sua queda foi resultado de uma invasão berbere em 1591, marcando o fim do papel
regional da encruzilhada comercial. Após o estabelecimento de rotas marítimas
pelas potências europeias, a rotas comerciais transaarianas perderam sua
importância. Na Era Colonial, Mali ficou sob o controle francês no fim do
século XIX. Em 1905, toda a sua área estava sob controle da França, fazendo
parte do Sudão Francês. No início de 1959, o Mali e o Senegal se uniram,
formando a Federação do Mali, que conquistou a sua independência em 20 de
agosto de 1960. A retirada da federação senegalesa permitiu que a ex-República
sudanesa formasse a nação independente do Mali em 22 de setembro de 1960.
Modibo Keita (1915-1977), que foi primeiro-ministro da Federação do Mali até
sua dissolução, foi eleito o primeiro presidente. Keita estabeleceu o
unipartidarismo, adotando, por sua vez, uma orientação africana independente e
socialista de fortes laços com a União das Repúblicas Socialistas Soviética e realizou uma grande
nacionalização dos recursos econômicos.
Em
1968, como resultado de um crescente declínio econômico, o mandato de Keita foi
derrubado por um golpe militar liderado por Moussa Traoré (1936-2020). O regime
militar subsequente, de Traoré como presidente, teve a função de fazer reformas
econômicas. Apesar disso, seus esforços foram frustrados pela instabilidade
política e uma devastadora seca climática que ocorreu entre 1968 e 1974. O
regime Traoré enfrentou distúrbios estudantis que começaram no final dos anos 1970,
como também ocorreram três tentativas de golpe de Estado. No entanto, as
divergências foram suprimidas até o final da década de 1980. O governo
continuou a tentar implantar reformas econômicas, mas sua popularidade entre a
população diminuiu cada vez mais. Em resposta à crescente demanda por uma
democracia pluripartidária, Traoré consistiu em uma liberalização política
limitada, mas negou a marcar o início de um pleno sistema democrático. Em 1990,
começaram a surgir novos movimentos de oposição coerentes, mas estes processos
foram interrompidos pelo aumento da violência étnica no Norte, devido ao
retorno de muitos tuaregues ao país. Novos protestos contra o governo ocorreram
em 1991 levaram a mais um golpe de Estado, seguido de um governo de transição e
a realização da nova Constituição. Em 1992, Alpha Oumar Konaré venceu as
primeiras eleições presidenciais democráticas. Após sua reeleição em 1997, o
presidente Konaré impulsionou reformas político-econômicas e lutou em combater
a corrupção.
Em
2002, foi substituído por Amadou Toumani Touré, general que liderou um outro
golpe de Estado contra os militares e impôs a democracia. O Mali vinha sendo um
dos países mais estáveis de África no âmbito político e social. Entretanto, em
21 de março de 2012, um golpe militar derrubou o governo do presidente Touré.
Em 2013, Ibrahim Boubacar Keïta venceu as eleições presidenciais daquele ano e
assumiu a presidência até 18 de agosto de 2020, quando um outro golpe militar
derrubou o governo de Keïta. Em setembro de 2020, a junta militar elegeu o
presidente interino Bah N`daw no lugar de Keïta e governou o país até o dia 24
de maio de 2021, quando as tropas lideradas pelo chefe Assimi Goita derrubaram
o governo de Bah e assumiram o poder de Mali até os dias atuais. Em 16 de maio
de 2023, os governos militares de Mali, Burquina Fasso e Níger formam a aliança
de defesa denominada Aliança de Estados do Sahel (AES), cujo objetivo é
fortalecer as defesas dos três países em combate aos jihadistas ligados à
Al-Qaeda e o Estado Islâmico. Em 29 de janeiro de 2024, o Mali saiu da CEDEAO, ou
Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental, uma organização regional
que reúne 15 países da África Ocidental com o objetivo de promover a integração
econômica e a cooperação política e social. Foi fundada em 1975 pelo Tratado de
Lagos, junto com Burquina Fasso e Níger, devido a acusação dos três países de “trair
seus próprios fundadores” após o grupo aplicar sanções econômicas contra eles.
A população do Mali abrange vários
grupos étnicos subsaarianos. Os bambaras são de longe estatisticamente o
maior grupo étnico único, constituindo 36,5% da população. Coletivamente, os
bambaras, soninquês, cassonquês e mandingas (também chamados mandinca), todos
parte do grupo mais amplo mandês, constituem 50% da população do Mali. Outros
grupos significativos são os fulas (17%), voltaic (12%), songais (6%) e
tuaregues e mouros (10%). No Mali, assim como no Níger, os mouros também são reconhecidos
como árabes de Azawagh, em homenagem à região de Azawagh no Saara. Eles falam
principalmente o árabe Hassani, que é uma das variedades regionais do árabe. No
extremo Norte, há uma divisão entre as populações nômades tuaregues
descendentes de berberes e os bellas ou tamaxeques, de
pele mais escura, devido à expansão histórica da escravidão na região. Estima-se
que 800 mil pessoas no Mali são descendentes de escravos. E a escravidão no
Mali persistiu por séculos. A população árabe manteve escravos até o século 20,
quando a escravidão foi suprimida pelas autoridades francesas em meados do
século 20. Ainda persistem certas relações de servidão hereditária, e de
acordo com algumas estimativas, ainda cerca de 200 mil malianos ainda são
escravizados. Alguns descendentes de europeus/africanos muçulmanos de
origem espanhola, francesa, irlandesa, italiana e portuguesa vivem no Mali,
onde são reconhecidos como o povo arma, com 0,4% da população do país.
A Constituição maliana prevê a Independência jurídica, mas o Poder Executivo exerce influência sobre o
Judiciário sob o seu poder de nomear juízes e supervisionar tanto as funções
judiciais como a sua aplicação em lei. Os tribunais do Mali de maior hierarquia
são o Tribunal Supremo, que tem competências judiciais e administrativas, e um
Tribunal Constitucional independente que proporciona controle jurisdicional de
atos legislativos e serve como um árbitro eleitoral. Existem vários tribunais
menores, ainda que os chefes de aldeia e anciãos são responsáveis por resolver
os conflitos sobre a aldeia local. A orientação política externa do Mali
tornou-se cada vez mais pragmática e pró-ocidental ao longo do tempo. Como um
país democrático a partir de 2002, as relações do Mali com o Ocidente em geral
e com os Estados Unidos da América em particular, melhoraram
significativamente. O Mali tem uma relação diplomática de longa data com a
França, a antiga metrópole colonial. O país era ativo em organizações
regionais, como a União Africana, até à sua suspensão durante o golpe de 2012.
Mali apoia a resolução de conflitos regionais, como na Costa do Marfim, Libéria
e Serra Leoa, o que é descrito como um dos principais objetivos da política
externa do Mali. O governo maliano se sente ameaçado pelos conflitos em Estados
fronteiriços, e as relações com os vizinhos são muitas vezes desconfortáveis. A
insegurança ao longo das fronteiras do norte, incluindo o banditismo e o
terrorismo, permanecem como questões preocupantes nas relações regionais. As
forças militares do Mali consistem em um exército, que inclui as forças
terrestres e a força aérea, estando sob o controle do Ministério da Defesa e
dos Veteranos do Mali. O país é membro da Organização das Nações Unidas (ONU).
Friedrich Hegel que parte da análise
da consciência comum, não podia situar como princípio primeiro uma dúvida
universal que só é própria da reflexão filosófica. Por isso mesmo ele segue o
caminho aberto pela consciência e a história detalhada de sua formação. Ou
seja, a Fenomenologia vem a ser uma história concreta da consciência,
sua saída da caverna e sua ascensão à Ciência. Daí a analogia que em Hegel
existe de forma coincidente entre a história da filosofia e a história do desenvolvimento
do pensamento, mas este desenvolvimento é necessário, como força socialmente
irresistível que se manifesta lentamente através dos filósofos, que são
instrumentos de sua manifestação. Assim, preocupa-se apenas em definir os
sistemas, sem discutir as peculiaridades e opiniões dos diferentes filósofos.
Na determinação do sistema, o que o preocupa é a categoria fundamental que
determina o todo complexo do sistema, e o assinalamento das diferentes etapas,
bem como as vinculasses destas etapas que conduzem à síntese do espírito
absoluto. Para compreender o sistema é necessário começar pela representação,
que ainda não sendo totalmente exata permite, no entender de sua obra a seleção
de afirmações e preenchimento do sistema abstrato de interpretação do método
dialético, para poder alcançar a transformação da representação numa noção
clara e exata.
Assim, temos a passagem da representação abstrata, para o conceito claro e concreto através do acúmulo de determinações. Aquilo que por movimento dialético separa e distingue perenemente a identidade e a diferença, sujeito e objeto, finito e infinito, é a alma vivente de todas as coisas, a Ideia Absoluta que é a força geradora, a vida e o espírito eterno. Mas a Ideia Absoluta seria uma existência abstrata se a noção de que procede não fosse mais que uma unidade abstrata, e não o que é em realidade, isto é, a noção que, por um giro negativo sobre si mesma, revestiu-se novamente de forma subjetiva. Metodologicamente a determinação mais simples e primeira que o espírito pode estabelecer é o Eu, isto é, a faculdade de poder abstrair todas as coisas, até sua própria vida. Chama-se idealidade precisamente esta supressão da exterioridade. Entretanto, o espírito não se detém na apropriação, transformação e dissolução da matéria em sua universalidade, mas, enquanto consciência religiosa, por sua faculdade representativa, penetra e se eleva através da aparência dos seres até esse poder divino, uno, infinito, que conjunta e anima interiormente todas as coisas, enquanto pensamento filosófico, como princípio universal, a ideia eterna que as engendra e nelas se manifesta. Isto quer dizer que o espírito finito se encontra inicialmente numa união imediata com a natureza, a seguir em oposição com esta e finalmente em identidade com esta, porque suprimiu a oposição e voltou a si mesmo e, consequentemente, o espírito finito é a ideia, mas ideia que girou sobre si mesma e que existe por si em sua própria realidade.
A
Ideia absoluta que para realizar-se colocou como oposta a si, à natureza,
produz-se através dela como espírito, que através da supressão de sua
exterioridade entre inicialmente em relação simples com a natureza, e, depois,
ao encontrar a si mesma nela, torna-se consciência de si, espírito que conhece
a si mesmo, suprimindo assim a distinção entre sujeito e objeto, chegando assim
à Ideia a ser por si e em si, tornando-se unidade perfeita de suas diferenças,
sua absoluta verdade. Com o surgimento do espírito através da natureza abre-se
a história da humanidade e a história humana é o processo que medeia entre isto
e a realização do espírito consciente de si. A filosofia hegeliana centra sua
atenção sobre esse processo e as contribuições mais expressivas de Hegel
ocorrem precisamente nesta esfera, do espírito. Melhor dizendo, para Hegel, à
existência na consciência, no espírito chama-se saber, conceito
pensante. O espírito é também isto: trazer à existência, isto é, à consciência.
Como consciência em geral tenho eu um objeto; uma vez que eu existo e ele está
na minha frente. Mas enquanto o Eu é reflexivamente o objeto de pensar, é o espírito
precisamente isto: produzir-se, sair fora de si, saber o que ele é. Nisto
consiste a grande diferença: o homem sabe o que ele é. Logo, em primeiro lugar,
ele é real. Sem isto, a razão, a liberdade não são nada. O homem é razão. O
homem, a criança, o culto e o inculto, é razão. E a possibilidade para ser
razão, existe em cada um, é dada a cada um.
A
razão não ajuda em nada a criança, o inculto. É somente uma possibilidade,
embora não seja uma possibilidade vazia, mas possibilidade real e que se move
em si. Assim, por exemplo, dizemos que o homem é racional, e distinguimos muito
bem o homem que nasceu somente e aquele cuja razão educada está diante de nós.
Isto pode ser expresso também assim: o que é em si, tem que se converter em
objeto para o homem, chegar à consciência; assim chega para ele e para si
mesmo. A história para Hegel, é o desenvolvimento do Espírito no tempo, assim
como a Natureza é o desenvolvimento da ideia no espaço. Deste modo o homem se
duplica. Uma vez, ele é razão, é pensar, mas em si: outra, ele pensa, converte
este ser, seu em si, em objeto do pensar. Assim o próprio pensar é objeto, logo
objeto de si mesmo, então o homem é por si. A racionalidade produz o racional,
o pensar produz os pensamentos. O que o ser em si é se manifesta no ser por si.
Todo conhecer, todo aprender, toda visão, toda ciência, inclusive toda
atividade humana, não possui nenhum outro interesse além do aquilo que
filosoficamente é em si, no interior, podendo manifestar-se unicamente desde si
mesmo, produzir-se, transformar-se objetivamente. Nesta diferença se descobre
toda a diferença real na história do mundo. Os homens são todos racionais. O
formal desta racionalidade é que o homem seja livre. Esta é a sua natureza ser à essência do homem: a liberdade.
O
europeu sabe de si, afirma Hegel, é objeto de si mesmo. A determinação que ele
conhece é a liberdade. Ele se conhece a si mesmo como livre. O homem considera
a liberdade como sua substância. Se os homens falam mal de conhecer é porque
não sabem o que fazem. Conhecer-se, converter-se a si mesmo no objeto (do
conhecer próprio) e o fazem relativamente poucos. Mas o homem é livre somente
se sabe que o é. Pode-se também em geral falar mal do saber, como se quiser.
Mas somente este saber libera o homem. O conhecer-se é no espírito a
existência. Portanto isto é o segundo, esta é a única diferença da existência (Existenz)
a diferença do separável. O Eu é livre em si, mas também por si mesmo é livre e
eu sou livre somente enquanto existo como livre. A terceira determinação é que
o que existe em si, e o que existe por si são somente uma e mesma coisa. Isto
quer dizer precisamente evolução. O em si que já não fosse em si seria outra
coisa. Por conseguinte, haveria ali uma variação, mudança. Na mudança existe
algo que chega a ser outra coisa. Na evolução, em essência, podemos também sem
dúvida falar da mudança, mas esta mudança deve ser tal que o outro, o que
resulta, é ainda idêntico ao primeiro, de maneira que o simples, o ser em si
não seja negado.
Para Friedrich Hegel a evolução não somente faz aparecer o interior originário, exterioriza o concreto contido já no em si, e este concreto chega a ser por si através dela, impulsiona-se a si mesmo a este ser por si. O espírito abstrato assim adquire o poder concreto da realização. O concreto é em si diferente, mas logo só em si, pela aptidão, pela potência, pela possibilidade. O diferente está posto ainda em unidade, ainda não como diferente. É em si distinto e, contudo, simples. É em si mesmo contraditório. Posto que é através desta contradição impulsionado da aptidão, deste este interior à qualidade, à diversidade; logo cancela a unidade e com isto faz justiça às diferenças. Também a unidade das diferenças ainda não postas como diferentes é impulsionada para a dissolução de si mesma. O distinto (ou diferente) vem assim a ser atualmente, na existência. Porém do mesmo modo que se faz justiça à unidade, pois o diferente que é posto como tal é anulado novamente. Tem que regressar à unidade; porque a unidade do diferente consiste em que o diferente seja um. E somente por este movimento é a unidade verdadeiramente concreta. É algo concreto, algo distinto. Entretanto contido na unidade, no em si primitivo. O gérmen se desenvolve assim, não muda. Se o gérmen fosse mudado desgastado, triturado, não poderia de fato evoluir. Na alma, enquanto determinada como indivíduo, as diferenças estão enquanto mudanças que se dão no indivíduo, que é o sujeito uno que nelas persiste e, segundo Hegel, enquanto momentos do seu desenvolvimento.
Por
serem elas diferenças, à uma, físicas e espirituais, seria preciso, para
determinação ou descrição mais concreta, antecipar a noção do espírito
cultivado. As diferenças são: 1) curso natural das idades da vida, desde a
criança, desde a criança, o espírito envolvido em si mesmo – passando pela
oposição desenvolvida, a tensão de uma universalidade ela mesma ainda subjetiva
em contraste com a singularidade imediata, isto é, como o mundo presente, não
conforme a tais ideais, e a situação que se encontra, em seu ser-aí para esse
mundo, o indivíduo que, de outro lado, está ainda não-autônomo e em si mesmo
não está pronto, o jovem, para chegar à relação verdadeira, ao reconhecimento
da necessidade e racionalidade objetivas do mundo já presente, acabado; em sua
obra, que leva a cabo por si e para si, o indivíduo retira, por sua atividade,
uma confirmação e uma parte, mediante a qual ele é algo, tem uma presença
efetiva e um valor objetivo (homem); até a plena realização da unidade
com essa objetividade do conhecer: unidade que, enquanto real, vem dar na
inatividade da rotina que tira o interesse, enquanto ideal se liberta dos
interesses mesquinhos é das complicações do presente exterior (o ancião).
O
espírito manifesta aqui sua independência da própria corporalidade, em poder
desenvolver-se antes que nela torne. Com frequência, crianças têm demonstrado
um desenvolvimento que vai mais rápido que a formação
corporal. Esse foi o caso histórico, sobretudo em talentos artísticos
indiscutíveis, em particular nos gênios da música. Também em relação ao fácil
apreender de variados conhecimentos, especialmente na disciplina matemática; e
tal precocidade tem-se demonstrado não raramente também em relação a um
raciocínio de entendimento, e mesmo sobre objetos éticos e religiosos. O
processo de desenvolvimento do indivíduo humano naturalmente decompõe-se então
em uma série de processos, cuja diversidade se baseia sobre a relação do
indivíduo para com o gênero, e funda na história de formação a diferença
da criança, do homem e do ancião. Essas diferenças são as apresentações das
diferenças do conceito. A idade da infância é o tempo da harmonia natural, da
paz do sujeito consigo mesmo e com o mundo. Um começo tão sem-oposição quanto a
velhice é um fim sem-oposição. As oposições que surgem ficam sem interesse mais
profundo. A criança vive na inocência, sem sofrimento durável; no amor aos seus
pais, e no sentimento de ser amado por eles.
A prestigiada universidade corânica de
Sancoré, onde 50 mil sábios muçulmanos ajudaram a espalhar o Islão através da
África Ocidental, ainda funciona, embora com um número mais reduzido: 15 mil
estudantes. Tombuctu alberga, ainda, o famoso Instituto Ahmed Baba, com a sua
colecção de 20 mil manuscritos árabes antigos, que retratam mais de um milênio
de conhecimento científico islâmico e vários madraçais. A cidade tem três
mesquitas principais: Djingareiber, construída de barro em 1325, Sancoré e Sidi
Iáia. Tombuctu foi inscrita em 1990 na Lista do Património Mundial em perigo. A
Universidade, Mesquita ou Madraça de Sancoré (Sankore) é o mais antigo
dos três centros de ensino de Tombuctu, no Mali, África Ocidental. As três
mesquitas, Sancoré, Djinguereber e Sidi Iáia, compõem o centro de conhecimento
e estudos islâmicos reconhecido como Universidade de Tombuctu, um dos grandes
centros de produção de conhecimento do mundo islâmico desde o medieval. A
madraça é uma escola em árabe. Historicamente, a África Ocidental representou
o lar de vários estados e impérios poderosos que controlavam o domínio das
rotas comerciais, incluindo os Impérios Mali e Gao. Posicionada em uma extraordinária encruzilhada de comércio, tecnologia e subsistência entre o Norte da África e a África Subsaariana, a
região fornecia bens como ouro, marfim e siderurgia avançada.
Durante a exploração europeia, as economias locais foram incorporadas ao tráfico de escravos do Atlântico, o que expandiu os sistemas de escravidão existentes. Mesmo após o fim do tráfico de escravos no início do século XIX, as potências coloniais, especialmente a França e a Grã-Bretanha, impulsionaram a exploração e degradação da região por meio de relações coloniais. Por exemplo, auxiliamos exportando bens extrativos como cacau, café, madeira tropical e recursos minerais. Desde que conquistaram a independência, várias nações da África Ocidental, como a Costa do Marfim, Gana, Nigéria e Senegal, assumiram papéis ativos nas economias regionais e globais. A África Ocidental possui uma ecologia rica, com biodiversidade significativa em várias regiões. Seu clima é moldado pelo Saara seco ao Norte e Leste, produzindo os ventos Harmattan, um vento seco e carregado de poeira que sopra do deserto do Saara para a África Ocidental, especialmente durante a extraordinária estação seca. Ele é caracterizado por baixa umidade, temperaturas mais baixas e a presença de partículas de poeira e areia e pelo Oceano Atlântico ao Sul e Oeste, que traz monções sazonais. Essa mistura climática cria uma variedade de biomas, de florestas tropicais a terras áridas, que abrigam espécies como pangolins, rinocerontes e elefantes. O ambiente da África Ocidental enfrenta ameaças devido ao desmatamento, perda de biodiversidade, pesca predatória, poluição da mineração, uso de plásticos e mudanças climáticas.
A mesquita foi fundada em 989 pelo juiz do Tombuctu, Alcaide Acibe ibne Maomé ibne Omar. Construiu o pátio interno da mesquita com as mesmas dimensões da Caaba em Meca. Tempos depois, uma rica dama mandinga financiou a Universidade de Sancoré e ajudou a torná-la no principal centro de educação. A universidade prosperou e tornou-se sede muito significativa de aprendizado no mundo islâmico, sobretudo sob o mansa Muça I (1307–1332) e sob a dinastia de Ásquia (1493–1581). Foi nesse período que a universidade ganhou grande notoriedade por todo o mundo islâmico, atraindo intelectuais de toda a África e Oriente Médio para o Reino do Mali para estudar e produzir sobre a cultura e religião islâmica no centro. Tombuctu era o ponto de passagem de uma ampla rede de comércio que se estendia desde o Médio Oriente até o norte da África. Como um centro de peregrinação religiosa. Ao final do reinado de mansa Muça I, a mesquita de Sankoré foi transformada em uma madraça, com o maior acervo de livros e manuscritos da África desde a biblioteca de Alexandria, com um nível de aprendizado que superava o de muitas escolas islâmicas do mesmo período. A madraça era capaz de abrigar 25 mil estudantes e sua biblioteca um acervo entre 400 mil e 700 mil livros e manuscritos. É considerada in statu nascendi universidade do mundo, apesar de sua organização pedagógica não seguir modelos convencionais ao ocidente.
Metodicamente
as aulas se davam nos pátios, e cada estudante estava ligado a um imame, que os
orientava no estudo do corão e de disciplinas seculares, como geometria,
álgebra e astronomia. Os estudos eram divididos em níveis identificados por uma
cor de turbante diferente, sendo um primeiro introdutório, um segundo de
aprofundamento para que no terceiro, fosse produzido um estudo
próprio, preservando-se sempre uma cópia desse paper na
universidade. Aos estudantes que chegassem ao quarto nível, eram reservadas
funções administrativas e educacionais nas cidades e mesquitas da região. As
bibliotecas e acervos de manuscritos do complexo eram enormes, e a maior
biblioteca no continente africano desde a Biblioteca de Alexandria. No seu
apogeu, acredita-se que se tenha contido mais de setecentos mil manuscritos, e
mais de vinte e cinco mil estudantes. Em suas ruinas e nas parcelas da
construção que sobreviveram até os dias de hoje, mais de vinte mil manuscritos
foram preservados, mesmo com a negligência, constantes ataques e ações do tempo
deteriorando boa parte do acervo ao longo dos séculos.
A
Biblioteca de Alexandria foi uma das mais significativas e célebres bibliotecas
e um dos maiores centros de produção do conhecimento na Antiguidade.
Estabelecida durante o século III a.C. no complexo palaciano da cidade de
Alexandria, no Reino Ptolemaico do Antigo Egito, a Biblioteca fazia parte de
uma instituição de pesquisa chamada Mouseion. A ideia de sua criação pode ter
sido proposta por Demétrio de Faleros, um estadista ateniense exilado, ao
sátrapa do Egito e fundador da dinastia ptolemaica, Ptolemeu I Sóter, que, tal
como o seu antecessor, Alexandre Magno, buscava promover a difusão da cultura
helenística. Contudo, a Biblioteca provavelmente não foi construída até o
reinado de seu filho, Ptolemeu II Filadelfo. Ela adquiriu um grande número de
rolos de papiro, devido sobretudo às políticas agressivas e bem financiadas dos
reis ptolemaicos para a obtenção de textos. Não se sabe exatamente quantas
obras ela tinha em seu acervo, mas estima-se que ela chegou a abrigar entre
trinta mil e setecentos mil volumes literários, acadêmicos e religiosos. O
acervo da Biblioteca cresceu de tal maneira que, durante o reinado de Ptolemeu
III Evérgeta, uma filial sua foi criada no Serapeu de Alexandria. Além de
servir à demonstração de poder dos governantes ptolemaicos, a Biblioteca teve
um papel significativo na emergência de Alexandria como sucessora de Atenas
enquanto centro irradiador da cultura grega.
A
educação participa na vida e no crescimento da sociedade, tanto no seu destino
exterior como na sua estruturação interna e desenvolvimento espiritual; e, uma
vez que o desenvolvimento social depende da consciência dos valões que regem a
vida humana, a história da educação está essencialmente condicionada pela
transformação dos valões válidos para cada sociedade. À estabilidade das normas
válidas corresponde a solidez dos fundamentos da educação. Da dissolução e
destruição das normas advém a debilidade, a falta de segurança e até a
impossibilidade absoluta de qualquer ação educativa. Acontece isto quando a
tradição é violentamente destruída ou sofre decadência interna. Fora de dúvida,
a estabilidade não é o indício seguro de saúde, porque reina também nos estados
de rigidez senil, nos momentos finais de uma cultura: assim sucede na China
confucionista pré-revolucionária, nos últimos tempos históricos da Antiguidade,
nos derradeiros dias dos Judaísmo, uma religião monoteísta com raízes antigas,
centrada na crença em um único Deus e na observância de leis e tradições
transmitidas através da Torá e outros textos sagrados. É uma religião,
filosofia e modo de vida com uma rica história, práticas e costumes distintos,
em certos períodos da história da Igrejas, da arte e das escolas científicas.
Segundo Jaeger (2011), é “monstruosa a impressão gerada pela fixidez quase
intemporal da história do antigo Egito, através de milênios”; também entre
os Romanos a estabilidade das relações foi considerada o
valor mais alto e apenas se concedeu justificação limitada aos anseios e ideais
inovadores. Desnecessário dizer que o Helenismo ocupa uma posição
singular na história.
Termópilas
é um desfiladeiro localizado na Grécia Central que serviu de lugar praticado
para violenta batalha entre persas e espartanos. O conflito foi provocado pelo
anseio do persa Xerxes de dominar o território e o povo espartano, o que foi
negado pelo rei e general de Esparta de 491 a. C até a data de sua morte em 480
a.C. durante a batalha de Termópilas. Uma de suas ações mais importantes se deu
por ocasião da invasão da Grécia pelos persas, em 481 a.C. Defendendo o
desfiladeiro das Termópilas, que une a Tessália à Beócia, Leónidas e uma tropa
de aproximadamente 7000 homens, sendo que apenas 300 eram espartanos,
conseguiram repelir os ataques iniciais. Mas Xerxes I, rei da Pérsia, foi
auxiliado pelo pastor Efialtes que o conduziu por um caminho que contornava o
desfiladeiro, e pôde cercar o exército de Leónidas. Restavam apenas 300
espartanos e pouco mais de 1000 soldados tespienses e tebanos, que decidiram
resistir lutando até a morte. Em 462 a.C. Efialtes foi responsável pela reforma
do Areópago, controlado pela aristocracia, limitando o seu poder para julgar
apenas os casos de homicídio e os crimes religiosos. Antes do século V a. C., o
Areópago representava o conselho dos anciãos relativamente semelhante se
pensarmos comparativamente ao extraordinário Senado romano. A origem do nome
não é clara. Em grego antigo, πάγος pagos significa “grande pedaço de
rocha”. Areios poderia ter vindo de Ares ou do Erinyes, pois em seu pé foi
erguido templo dedicado às Erínias onde ‘eram considerados assassinos
costumavam encontrar abrigo para não enfrentar as consequências de seus atos
criminosos”.
Mais
tarde, o Romanos referido à colina rochosa como “Mars Hill”, após Marte, a
versão romana do deus grego da guerra. Perto do Areópago também foi construída
a basílica de Areopagitas Dionísio. Comparativamente sua composição era
restrita aos que pelo status ocuparam cargos públicos importantes, neste caso o
de Arconte. Em 594 a. C, o Areópago concordou em transferir suas funções para
Solon para reforma. Ele instituiu reformas democráticas, reconstituiu seus
membros e devolveu o controle à organização. Sob as reformas de Clístenes
promulgadas em 508/507 a. C, o Boule (βουλή) ou conselho, foi expandido
de 400 para 500 homens, e foi formado por 50 homens de cada um dos dez clãs ou phylai
(φυλαί). Em 462 a. C., Efialtes passou por reformas que privaram o Areópago de
quase todas as suas funções, exceto a de um tribunal de homicídio em favor de
Heliaia, o tribunal supremo da Atenas antiga. A opinião generalizada entre os
acadêmicos é de que a origem de seu nome é o verbo Ήλιάζεσθαι, que tem como
significado συναθροίζεσθαι, “congregar”. Esta medida formal foi considerada
impopular entre os aristocratas e levou ao seu assassinato em 461 a. C. Ipso
facto, a investigação metódica moderna abriu imensamente o horizonte da
história. A oikoumene dos Gregos e Romanos clássicos, que durante dois mil anos
coincidiu com os limites do mundo, foi rasgada em todos os sentidos do espaço e
perante o nosso olhar surgiram mundos espirituais até então insuspeitados.
Quando deixa de ser um povo particular e nos inscreve membros nos círculos
de povos, começa a aparição dos Gregos.
Foi
por essa razão ou racionalização que a esse grupo de povos Werner Jaeger
designou de helenocêntrico. É este o motivo porque, no decurso de nossa
história, voltamos constantemente à Grécia. Este retorno e esta espontânea
renovação de sua influência não significa que lhe tenhamos conferido, pela sua
grandeza espiritual, uma autoridade imutável, fixa e independente do nosso
destino. O fundamento de nosso regresso reside nas próprias necessidades
vitais, por mais variadas que elas sejam através da História. É claro que, para
nós e para cada um dos povos deste círculo, a Grécia e Roma aparecem como algo
de radicalmente estranho. Esta separação analítica funda-se em parte no sangue
e no sentimento, em parte na estrutura do espírito e das instituições, e ainda
na diferença da respectiva situação histórica; mas entre esta separação e a que
sentimos ante os povos orientais, distintos pela sua raça e pelo espírito, a
diferença é gigantesca. Não se trata inclusive de um sentimento apenas de
parentesco racial. É preciso distinguir a história nesse sentido quase
antropológico da história que se fundamenta na união espiritual viva e ativa e
na comunidade de um destino, quer seja o do próprio povo, quer um grupo de
povos estreitamente unidos. Só nesta particularidade histórica se tem uma
íntima compreensão e contato criador entre uns e outros.
Só
nela existe uma comunidade de ideais e de formas sociais e espirituais que se
desenvolvem e crescem independentes das múltiplas interrupções e mudanças
sociais e politicamente através das quais varia, mas também se cruza, choca,
desaparece, quando se renova uma família de diversos outros povoamentos no
âmbito na genealogia. A comunidade existe na totalidade dos povos ocidentais e
entre estes e a historicidade da Antiguidade clássica. Se considerarmos a
história nesse sentido profundo, no sentido de uma comunidade radical, não
poderemos supor-lhe como cenário o planeta inteiro e, por mais que alarguemos
os nossos horizontes geográficos, as fronteiras dessa história jamais poderão
ultrapassar a antiguidade daqueles que há vários milênios traçaram seu destino.
Não é possível dizer até quando a Humanidade continuará a crescer na unidade de
sentido que tal destino lhe assinala, pois o objetivo teórico e histórico de
Werner Jaeger é apresentar a formação do homem grego, a Paidéia, no seu caráter
particular e no seu desenvolvimento histórico. Não se trata de um conjunto de
ideias abstratas em sua generalidade, mas da própria história da Grécia concretamente do seu destino vital.
Contudo,
essa história vivida já teria desaparecido há longo tempo se o homem grego não
a tivesse criado na sua forma perene. A ideia de educação representava para ele
o sentido de todo o esforço humano. Era a justificação última da comunidade e
individualidade humana. Mesmo os imponentes monumentos da Grécia arcaica são
perfeitamente inteligíveis a esta luz, pois foram criados no mesmo espírito que
os gregos consideraram a totalidade de sua obra criadora em relação aos outros
povos da Antiguidade de que foram herdeiros. Augusto concebeu a missão do
Império Romano em função da ideia da cultura grega. Sem a concepção grega da
cultura não teria existido a Antiguidade como unidade histórica e mundo
ocidental. É indiscutível que foi o momento historicamente em que os gregos
situaram o problema da individualidade no cimo de seu desenvolvimento
filosófico que principiou a história da personalidade europeia. Roma e o
Cristianismo agiram sobre ela. E da inserção desses fatores brotou o o Eu individualizado. Mas não podemos entender de modo radical e preciso a
posição do espírito grego na história da formação dos homens, se tomarmos um
ponto de vista moderno. Vale mais partir, segundo Jaeger, da constituição
rácica do espírito grego.
A
vivacidade espontânea, a sutil mobilidade, a íntima liberdade que, embora
tenham parecido condições do rápido desabrochar daquele povo na inesgotável
riqueza de formas que nos surpreende e espanta ao contato com os escritores
gregos de todos os tempos, dos mais primitivos aos mais modernos, não tem as
suas raízes no cultivo da subjetividade, como atualmente acontece; pertencem à
sua natureza. Os gregos tiveram o sendo inato do que significa natureza. Sendo
o conceito elaborado por eles em primeira mão, tem indubitável origem na sua
constituição espiritual. Muito antes de o espírito grego ter delineado essa
ideia, eles já consideravam as coisas do mundo numa perspectiva tal que nenhuma
delas lhes aparecia como parte isolada do resto, mas sempre como um todo
ordenado em conexão viva, na e pela qual tudo ganhava posição e sentido. Esta
concepção é orgânica, porque nela todas as partes são consideradas membros de
um todo. Sua tendência é clara de apreensão das leis do real. O estilo e a
visão artística entre eles surgem, em primeiro lugar, pelo descobrimento como
talento estético. Assentam num instinto humano e na interpretação através de um
simples ato de visão, não na deliberada transferência de uma ideia para o reino
da criação artística.
A
idealização da arte, no entanto, só mais tarde aparece, no período clássico.
Até na oratória grega encontramos os mesmos princípios formais que vemos na
cultura ou na arquitetura. As formas literárias dos gregos surgem
organicamente, na sua multíplice variedade e elaborada estrutura, das formas
naturais e ingênuas pelas quais o homem exprime a sua vida, elevando-se daí à
esfera ideal da arte e do estilo. Também na oratória, a sua aptidão para dar
forma a um plano complexo e lucidamente articulado deriva simplesmente do
sentido espontâneo e madurecido das leis que governam o sentimento, o
pensamento e a linguagem, o lugar onde esta ideia reaparece mais tarde na
história, ela é uma herança dos gregos, e aparece sempre que o espírito humano
abandona a ideia de um adestramento em função de fins exteriores e reflete na
essência a própria educação. O fato de os gregos terem sentido esta tarefa como
algo grandioso e difícil e se terem consagrado a ela com ímpeto sem igual não
se explica nem pela sua visão artística nem pelo espírito. Desde as primeiras
notícias que se disseminam na história da filosofia e têm deles, encontramos o
homem no centro do seu pensamento. A forma humana dos seus deuses, o predomínio
evidente do problema da forma humana na sua escultura e na sua pintura, o
movimento consequente da filosofia desde o problema do cosmos até o problema do
homem, que culmina em Sócrates, Platão e Aristóteles; a sua poesia, cujo tema
inesgotável desde Homero até os últimos séculos é o homem e o seu duro destino
no sentido pleno da palavra. Finalmente, o Estado grego, cuja essência só pode
ser correspondida precisamente sob o ponto de vista da formação do homem
e da sua vida inteira: o grego é o antropoplástico. Tudo são raios de uma única
e mesma luz, expressões de um sentimento vital antropocêntrico que não pode ser
explicado nem derivado de nenhuma outra coisa e que penetra todas as formas do
espírito grego.
Assim,
impossível não admitir que, entre os povos, a língua de Homero é, naturalmente,
um problema em si. Mas adverte: trata-se de uma língua que ninguém nunca falou, Robert Knox (2014). É uma língua artificial, poética – como propõe o
estudioso alemão Witte, “a língua dos poemas homéricos é uma criação de versos
épicos”. Era também uma língua difícil. Para os gregos da Era Dourada,
isto é, o século V a. C., no qual inevitavelmente pensamos quando dizemos “os
gregos”, o idioma de Homero estava longe de ser claro e era repleto de
arcaísmos, no vocabulário, na sintaxe e na gramática, e incongruências:
palavras e formas extraídas de diferentes dialetos e estágios distintos da língua. Ninguém nem sonharia em empregar a linguagem de
Homero, à exceção dos bardos épicos, sacerdotes oraculares e parodistas
eruditos. Isso não significa que fosse um poeta reconhecido apenas de eruditos
e estudantes; os épicos homéricos eram familiares como as palavras do cotidiano
na boca dos gregos comuns.
Muitos estudiosos importantes e influentes trabalharam na mesma, notadamente Zenódoto de Éfeso, que buscou padronizar os textos dos poemas homéricos e produziu o registro mais antigo de que se tem notícia do uso da ordem alfabética como método de organização; Calímaco, que escreveu os Pínakes, provavelmente o primeiro catálogo de biblioteca do mundo; Apolônio de Rodes, que compôs o poema épico As Argonáuticas; Eratóstenes de Cirene, que calculou pela primeira vez a circunferência da Terra, com invulgar precisão; Aristófanes de Bizâncio, que inventou o sistema de diacríticos gregos e foi o primeiro a dividir textos poéticos em linhas; e Aristarco da Samotrácia, que produziu os textos definitivos dos poemas homéricos e extensos comentários sobre eles. Além deles, existem referências de que a comunidade da Biblioteca e do Mouseion de Alexandria teria também incluído temporariamente numerosas outras figuras que contribuíram duradouramente para o conhecimento, como Arquimedes e Euclides.
Apesar da crença hic et nunc de que a Biblioteca teria sido incendiada e destruída em seu auge, na realidade ela decaiu gradualmente ao longo dos séculos, começando com a repressão de intelectuais durante o reinado de Ptolemeu VIII Fiscão. Aristarco da Samotrácia renunciou ao posto de bibliotecário-chefe e exilou-se no Chipre, e outros estudiosos, incluindo Dionísio da Trácia e Apolodoro de Atenas, fugiram para outras cidades. A Biblioteca, ou parte de sua coleção, foi acidentalmente queimada por Júlio César em 48 a.C., mas não está claro o quanto realmente foi destruído, pois fontes indicam que ela sobreviveu ou foi reconstruída pouco depois. O geógrafo Estrabão menciona ter frequentado o Mouseion por volta de 20 a.C., e a prodigiosa produção acadêmica de Dídimo Calcêntero nesse período indica que ele teve acesso a pelo menos parte dos recursos da Biblioteca. Sob controle romano, a Biblioteca perdeu vitalidade devido à falta de financiamento e apoio, e a partir de 260 a.C. não se tem notícia de intelectuais filiados a ela. Entre 270 e 265 a.C. a cidade de Alexandria viu tumultos que destruíram o que restava da Biblioteca, caso ela ainda existisse, mas a biblioteca do Serapeu pode ter sobrevivido mais longamente, talvez até 391 a.C., quando o papa copta Teófilo I por inveja do gozo do outro instigou a vandalização e a demolição do Serapeu.
A
Biblioteca de Alexandria foi mais que um repositório de obras, e durante
séculos constituiu um notável polo de atividade intelectual criativa.
Sua influência pôde ser sentida em todo o mundo helenístico, fantástico não
apenas por meio da valorização do conhecimento escrito, que levou à criação de
outras bibliotecas nela inspiradas e à proliferação de manuscritos, mas também
por meio do trabalho de seus acadêmicos em numerosas áreas do
conhecimento. Teorias e modelos criados pela comunidade da Biblioteca continuaram
a influenciar as ciências, a literatura e a filosofia até pelo menos a
Renascença. Além disso, o legado da Biblioteca de Alexandria teve efeitos de
poder que se estendem contemporaneamente, e ela pode ser considerada um arquétipo da
biblioteca universal, do ideal de armazenamento do conhecimento, e da
fragilidade desse conhecimento. Juntos, a Biblioteca e o Mouseion contribuíram
para afastar a ciência de correntes de pensamento específicas e, sobretudo,
para demonstrar que a pesquisa acadêmica pode servir às questões práticas e às
necessidades das sociedades e governos.
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