“Fui o primeiro na TV. Inventei uma nova escola de palhaços”. George Savalla Gomes
George Savalla Gomes nasceu em Rio
Bonito (RJ), em 18 de julho de 1915 e faleceu em São Gonçalo (RJ), 5 de abril
de 2006, mas tornou-se reconhecido pelo nome artístico de palhaço Carequinha, consagrando-se
um dos mais notórios palhaços brasileiros. Carequinha nasceu em uma família
circense, na cidade de Rio Bonito, interior do estado do Rio de Janeiro. Seus
pais eram os trapezistas Elisa Savalla e Lázaro Gomes. George literalmente
nasceu no Circo, pois sua mãe grávida estava fazendo performance de trapézio
quando entrou em trabalho de parto em pleno picadeiro. Deu início à sua
carreira como palhaço Carequinha aos cinco anos de idade, no circo de sua
família, quando este estava em apresentação em Carangola, cidade do interior do
estado de Minas Gerais. Aos 12 anos era palhaço oficial do Circo Ocidental,
pertencente ao seu padrasto. Em 1938, estreou como cantor na Rádio Mayrink
Veiga, no Programa Picolino da rádio carioca, fundada em 21 de janeiro
de 1926. Em busca de outros públicos, para o processo de trabalho e comunicação social, Carequinha
levou seu show para fora dos picadeiros, apresentando-se em aniversários e
clubes, além de representar o Brasil quatro vezes no exterior. Ele venceu um
concurso de palhaço na Itália mais moderno do mundo, representando o Brasil no 1º
Festival Internacional de Clowns. E foi o primeiro palhaço com a
inauguração da televisão brasileira, começando na TV Tupi em 1951, ano seguinte
à inauguração da emissora, a primeira do país. Lá, realizou o Circo Bombril, permanecendo com apresentações durante 16 anos.
Historicamente nos anos posteriores
à chamada Revolução de 1930, alternaram-se as funções e a própria estrutura do Estado
brasileiro. As formas de desenvolvimentos do poder público revelaram a
acentuação dos seus conteúdos burgueses, em confronto com os elementos sociais,
culturais e políticos de tipo oligárquico vigentes nas décadas anteriores a
1930. Esta mudança política cria condições para o desenvolvimento do Estado
burguês, como um sistema que engloba instituições políticas e econômicas, bem
como padrões e valores sociais e culturais de tipo propriamente burguês.
Enquanto manifestação e agente social e político das estruturas internas e
externas, a Revolução implicou na derrota do Estado oligárquico. Isto significa
que o poder público passou a funcionar mais adequadamente, segundo as
exigências e as possibilidades estruturais estabelecidas pelo sistema
brasileiro do capitalismo. A evolução da legislação trabalhista e os
governantes passaram a reformular as condições sociais de funcionamento do mercado de
fatores de produção ou de forças produtivas, no sentido marxista, bem como as
relações internas de produção, e as relações entre a economia interna e o
mercado internacional. A partir da radicalização política da década de 1930, com a chamada invenção do trabalhismo, foram estabelecidos, de modo formal,
sob a responsabilidade do Estado, as condições e os limites básicos de
funcionamento do mercado de trabalho.
Em
poucas palavras, o conjunto das atividades estatais, no período 1930-45,
segundo Ianni (1979) assinalam a agoniado Estado de tipo oligárquico e o
desenvolvimento do Estado propriamente burguês, com a adoção de uma série de
medidas econômicas e inovações institucionais que assinalaram uma nova fase nas
relações entre o Estado e o sistema político-econômico, conforme eles apareciam
no seu horizonte político, por injunção de interesses e pressões econômicos,
políticos, sociais e militares. Antes de 1930 o sistema político e econômico já
se defrontava com problemas estruturais e conjunturais típicos de uma economia
dependente, isto é, economia primária exportadora. Note-se que na década de 1920-1930
o café perfaz mais de 80% do valor global das exportações brasileiras. O que
nos dá uma ideia econômica da importância relativa da cafeicultura na criação
de capacidade para importar. Além disso, a política econômica externa, de tipo
liberal, significava a maciça e sistemática exportação do excedente econômico
nacional. Tanto através da comercialização do café, controlada pelos centros
dominantes dos Estados Unidos, Inglaterra, França, Alemanha e outros, como por
meio da importação de manufaturados e artigos de consumo da classe dominante,
boa parte do produto nacional encaminhava-se para o comércio exterior. Isto é,
o governo atuava no sentido de proteger e incentivar as atividades produtivas
ligadas ao setor externo, que era essencial à sustentação do sistema
político-econômico vigente.
Ipso facto, a chamada Revolução de 1930 representa uma ruptura política, e também, econômica, social e cultural com o Estado oligárquico vigente nas décadas anteriores. Há, portanto, em Getúlio Vargas, a condenação explícita do liberalismo econômico. E, ainda, o reconhecimento de que a situação vigente nos começos da década de trinta exigia a reorganização pela força bruta da política dos mercados de capital e força de trabalho, de modo a contornarem-se as inconveniências da política econômica liberal. Este é o contexto político em que o grupo reunido em torno de Getúlio Vargas (1882-1954) deu o golpe de Estado de 10 de novembro de 1937 e instalou a ditadura até 1945, sob a denominação de Estado Novo. Em consequência, liquidaram-se as poucas e frágeis instituições democráticas, a despeito de exclusivamente urbanas. Ao mesmo tempo, acelerou-se o processo de destruição dos remanescentes do Estado oligárquico. Os setores burgueses mais fortes, apoiados na força militar e em aliança com os setores da classe média, passaram a controlar o poder político e a opinar sobre as decisões de política econômica. Pouco a pouco, as classes sociais de mentalidade e interesses caracteristicamente urbanos impuseram-se por sobre a mentalidade e os interesses enraizados na economia primária exportadora. Para os partidos políticos e movimentos sociais que haviam lutado por instituições democráticas, a vitória sobre as oligarquias havia malogrado. Passava-se do regime oligárquico à ditadura burguesa, depois de um entreato de grande fermentação política e cultural.
Em conseqüência da incipiente industrialização havida nas décadas anteriores, do crescimento do setor terciário e da própria urbanização, surgiram novos grupos sociais, particularmente os primeiros núcleos proletários e os princípios com os quais a burguesia industrial buscava inferir sua hegemonia sócio-política e, per se, além de expandir-se a classe média em torno dos truques da burocracia estatal e o patrimonialismo dos coronéis donos do poder. Foi nesse ambiente urbano mais complexo e parcialmente independente da cultura agrária que surgiram, na década dos anos 1920, vários movimentos políticos e artísticos novos: fundou-se o Partido Comunista do Brasil, em 1922; surgiram as primeiras manifestações do tenentismo, o qual exprimia os interesses, os ideais e as ambições políticas de alguns setores do Exército; fundou-se um partido político de inspiração fascista, com a Legião do Cruzeiro do Sul, em 1922; e realizou-se a Semana de Arte Moderna, em São Paulo, também em 1922, quando se manifestaram alguns jovens artistas de avant-garde, responsáveis por introduzir no cenário cultural, artístico etc., técnicas, ideias e conceitos novos, avançados. Essas são algumas das principais expressões artísticas e culturais de uma sociedade urbana em franca transformação. Nesse contexto histórico, em que se revelam as pré-condições das rupturas políticas e econômicas que assinalam a Revolução de 1930, a Depressão Econômica Mundial de 1929-1933, desempenha um papel decisivo. É o Estado oligárquico per se em que se rompem internamente, pela impossibilidade de acomodarem-se as tensões sociais e conciliarem-se os tipos sociais contrários liberados pela dimensão da crise política e econômica nacional e internacional.
Em 29 de outubro de 1945 o ditador Getúlio Vargas foi deposto, em um Golpe de Estado organizado por forças políticas civis e militares. Em seguida, iniciou-se um programa de desmantelamento de quase tudo que estivesse identificado com a ditadura do Estado Novo e a figura de Getúlio Vargas. A própria estrutura do Estado passou a ser reformulada, devido à decisão dos novos governantes de “redemocratizar” o país. A vitória das “nações aliadas” sobre o nazifascismo alimentou ideologicamente a conversão do poder político ditatorial para uma “democracia representativa”. No cenário político brasileiro surgiram partidos e lideranças liberais, conservadores, socialistas, comunistas e outros. Em síntese, a Constituição ditatorial de 1937 foi substituída pela Constituição democrática de 1946, elaborada por uma Assembleia Constituinte. Os partidos políticos estavam representados da seguinte forma: Partido Social Democrático (PSD), com 173 representantes; União Democrática Nacional (UDN), com 85 representantes; Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), com 23 representantes; Partido Comunista do Brasil (PCB), com 15 representantes; Partido Republicano (PR), com 1 representantes; Partido Social Progressista (PSP), com 7 representantes; Partido Democrata Cristão (PDC), com 2 representantes; Esquerda Democrática (ED), com 2 representantes e Partido Libertador (PL), com 1 representante. Em síntese, nessa ocasião haviam-se conjugado condições favoráveis: a) à realização de mais uma fase no processo de ruptura com os laços tradicionais de dominação externa; b) à realização de mais uma etapa no desenvolvimento econômico do Brasil. Em nome de princípios liberais, criaram-se novas condições favoráveis á entrada e saída de capital estrangeiro. Ao mesmo tempo eliminaram-se os órgãos estatais vinculados ao intervencionismo. Sob o pretexto de que findara a guerra e em nome de uma espécie de “neoliberalismo”. Em pouco tempo desmontou-se a nascente tecnoestrutura que se criara nos anos anteriores. Em nome da “democracia representativa” abandonaram-se as diretrizes e as práticas ligadas à política econômica de orientação nacionalista.
A Constituição de 1946 e as normas políticas e econômicas adotadas pelos governantes instauraram a hegemonia dos princípios da “livre iniciativa” e da “igualdade de oportunidades para nacionais e estrangeiros”. Tanto assim que a Comissão Mista Brasileiro-Americana, criada em 1948, tomou o cuidado de ressaltar o liberalismo da Constituição, em contraposição ao “princípio nacionalista”, que havia vigorado nos anos 1930-45. Em pouco tempo, aos partidos e lideranças populistas e de esquerda passaram a combater os rumos que se davam aos assuntos de política econômica. Alguns, prontamente compreenderam que junto com o “liberalismo econômico” havia uma política de associação entre grupos econômicos brasileiros e estrangeiros. Compreenderam que se abandonava a política destinada a fortalecer o capitalismo de tipo nacional, em favor da política de associação e interdependência. Assim, com o governo Dutra abandonava-se a convicção de que era possível realizar um capitalismo relativamente autônomo no Brasil. A maneira pela qual o poder político foi levado a reorientar e reduzir as suas relações com a economia do país, segundo Ianni (1979), implicava na modificação do sentido e conteúdo da política econômica estatal. Em pouco tempo os governantes adotaram objetivos e diretrizes que conferiram outra significação à atividade do poder público. Ao recusar o nacionalismo econômico, como princípio básico de política econômica, recusava-se também a possibilidade de um capitalismo de tipo nacional. Ao recusarem-se as diretrizes e técnicas específicas da política econômica nacionalista, adotavam-se diretrizes e técnicas que iriam reforçar a interdependência e redefinir as condições de dependência internacional.
Em
nome do liberalismo econômico e da democracia representativa, o poder público
foi colocado numa posição menos ativa que aquela na qual encontrava-se nos anos
de guerra. O Conselho Nacional de
Economia, criado pela Constituição de 1946 (Art. 205), somente foi
regulamentado por lei, para efeito de funcionamento efetivo, em 1949. Esse
atraso pode ser tomado como sintoma do desinteresse dos governantes por um
órgão que teria sido útil para a realização de estudos e a formulação de
diretrizes sobre os problemas de política econômica governamental. Devido a
esses compromissos conservadores e ideológicos, mas também práticos, e em nome
da reação antiditatorial e antiintervencionista, a política econômica
governamental dos anos 1945-50 serviu principalmente aos interesses mais
imediatos da empresa privada, nacional e estrangeira. Portanto, a ruptura política
ocorrida nos anos 1945-46 permitiu que fosse adotada uma política econômica
inspirada nas teses do grupo liderado ou representado pelo economista Eugênio
Gudin (1886-1986). Em consequência, o pensamento representado pelo industrial e
economista Roberto C. Simonsen (1889-1948) foi colocado em segundo plano.
Assim, a controvérsia sobre as relações entre Estado, Economia e
Planejamento – iniciada nos anos da guerra mundial – teve tanto
desdobramentos teóricos como práticos. Não por acaso, o compromisso fundamental
com a “livre iniciativa”, e contra a modalidade anterior de intervencionismo
estatal na economia, aparece em quase todas as principais atuações e diretrizes
do governo Gaspar Dutra. Dizemos intencionalmente “modalidade anterior de
intervencionismo estatal” porque nos anos 1946-50 o poder público, leia-se o Estado nacional, continuou a
desempenhar papéis decisivos na economia
do país. Ocorre que a direção dessa atividade se havia alterado, alterando-se,
em consequência, os instrumentos e os conteúdos ideológicos. A omissão do
poder, quando houve, ela pode ter sido uma omissão deliberada, com sentido.
Ao iniciar-se o segundo período governamental de Getúlio Vargas (1951-54), o poder público e maioria do Congresso Nacional ainda estava comprometidos ideológica e praticamente, com uma política econômica antiintervencionista e internacionalizante. Não era uma política de desenvolvimento econômico, diz Ianni (1979), a que fora praticada na época do governo Dutra; era uma política destinada principalmente a garantir as condições de funcionamento e prosperidade do setor privado, nacional e estrangeiro. Os recuos e reorientações a que tinham sido obrigados o governo e o congresso Nacional não haviam alterado a linha de estilo “neoliberal” dominante. Em 1950-51, a Guerra da Coréia provocou alterações importantes na composição e volume das importações brasileiras, devido às preocupações similares aquelas provocadas pela 2ª guerra mundial. Esse foi o contexto mais geral, no qual o governo Vargas se defrontava com alguns dilemas econômico-financeiros importantes. Ele precisava enfrentar, de alguma forma, problemas da governabilidade tais como; a inflação, o desequilíbrio na balança de pagamentos, a necessidade de importar máquinas e equipamentos, a insuficiência de energia elétrica e transportes, a insuficiência de oferta de gêneros alimentícios para as populações dos centros urbanos em rápida expansão etc. Claro está que nesses anos já se haviam evidenciado os principais pontos de estrangulamento na economia brasileira, tendo-se em conta as possibilidades reais e as tendências possíveis de desenvolvimento. Contudo, ao difundir-se e aprofundar-se o debate técnico e político sobre as condições e as tendências possíveis do desenvolvimento econômico do Brasil, começavam a configurar-se as diferentes estratégias políticas propostas pelas várias correntes de opinião pública. De qualquer forma, a diferenciação do sistema político e econômico tornara mais complexos e agudos os antagonismos. Em consequência, nestes anos criaram-se novas condições para a aceleração do desenvolvimento industrial.
Atração circense, que estreou com nome de Circo na TV, tinha como mestre de cerimônia Walter Stuart (1922-1999), que também se encarregava da produção do programa. Luís Galon ficou encarregado da direção de TV. Stuart herdou o lado artístico da família, uma vez que seu pai e sua mãe, o francês Albert Canales e a espanhola Conceição Tereza eram atores de uma companhia circense chamada Oni, fundada em 1920. Nascido em Birigui, onde a companhia dos pais estava instalada, viveu sua infância e juventude num ambiente de circo, tendo viajado por todo o Brasil, sem deixar de frequentar colégios. Ainda criança, mudou-se para Buenos Aires onde viveu por sete anos e aprendeu a falar francês e espanhol com os irmãos Henrique e Conchita. Aos seis anos, começou a trabalhar como acrobata, sem perder de vista outras funções na trupe como bilheteiro, palhaço, faxineiro e ajudante de mágico. Em 1941, casou-se com Mouralina Stuart, com quem tivera três filhos, dentre eles Adriano Stuart, nascido em Quatá, que seguiria os passos profissionais do pai. Em 1950, Albert e Conceição vendem o circo, firmando residência fixa em São Paulo e toda a família é contratada pela recém-inaugurada TV Tupi São Paulo passados os testes. Inicialmente, Walter é contratado como diretor de estúdio com seu irmão Henrique, entretanto, com a ajuda do diretor artístico, o jovem Cassiano Gabus Mendes, ganha o aval para criar e apresentar um programa semanal chamado Circo Bom Bril, que contava com a apresentação de vários artistas circenses num estúdio especial montado pela emissora. Se consagra entre os primeiros e grandes comediantes da televisão, ao trazer o circo para o vídeo, inaugurando humor no veículo de comunicação.
Durante
as décadas de 1950 e 1960, roteiriza, dirige e atua em seriados de sucesso na
emissora como As Aventuras de Berloque Holmes (1953), 48 Horas com
Bibinha (1953), Seu Tintoreto (1956), Seu Genaro (1957) e Doce
Lar Teperman (1959); o inesquecível programa chamado A Bola do Dia
(1955), um diário bem-humorado que durou exatos dez anos no ar; e os diversos
teleteatros da TV de Vanguarda, TV de Comédia e do Grande Teatro
Tupi. Rapidamente, conquista as telonas, estreando em 1953 com filmes: O
Mártir do Calvário e acumulando grandes sucessos como Uma Certa Lucrécia
(1957), Crime no Sacopã (1963), A Super Fêmea (1973) e A Noite
dos Duros (1978), entre outros, sendo que este último roteirizado e dirigido por seu próprio filho. Sua
primeira novela fora A Ponte de Waterloo (1967), de autoria do amigo
Geraldo Vietri (1927-1996). Lá, fez novelas de sucesso, representadas pelas revolucionárias Beto
Rockfeller (1968) e Signo da Esperança (1972). Em 1969, saiu da Tupi
temporariamente para fazer Seu Único Pecado na Rede Record e voltaria a
fazer isso em 1972 quando convidado por Bráulio Pedroso para atuar em O Bofe,
na Rede Globo. A TV Tupi São Paulo, assim como boa parte da Rede Associada de
rádio, jornal e televisão, chegou ao fim em 1980. Entristecido pela queda da
emissora que o notabilizou, Walter Stuart fez O Espantalho (1977) na
Record; Plumas & Paetês (1980) e Humor Livre (1984) na Globo;
Braço de Ferro (1983) na Band; Acorrentada (1983) e A Praça É
Nossa (1987), seu último trabalho no Sistema Brasileiro de Televisão (SBT).
Neste ínterim, as pantomimas ficavam por conta da dupla Fuzarca, Torresmo e Positivo. Na TV Tupi do Rio de Janeiro, David Cohen chamou George Savalla Gomes, o palhaço Carequinha que ficava com a atração principal do infantil. Passou a se chamar Circo Bombril com a entrada do patrocínio comercial. Assim, São Paulo e Rio de Janeiro tinham suas versões independentes do programa infantil. Os bordões do palhaço Carequinha tornaram-se reconhecidos do público infantil: “Aiaiai, carrapato não tem pai”, “Tá certo ou não tá, garotada?”. Carequinha usava sua empatia junto ao público infantil para passar boas mensagens de higiene, comportamento, segurança, entre outras. Logo ingressou na trupe o comediante Zumbi, com quem protagonizava o mais puro pastelão, e o trapalhão anãozinho Meio Quilo. Oscar Polidoro atuava como mestre de cerimônias do Circo, que se apresentava apitando e batendo seu chicote. Em setembro de 1956 foi a vez da TV Itacolomi das Minas Gerais ganhar o seu Circo Bombril. Carequinha e sua turma viajavam para Belo Horizonte para apresentar o programa que na emissora tinha a direção de Floriano Andrade. Carequinha ficou apenas um ano em Minas Gerais, sendo exibido aos sábados às 19h30, mas o infantil permaneceu sob o comando do Palhaço Moleza, interpretado por Antônio Cerezo. Carequinha também apresentou versões do Circo Bombril em outros estados. Na TV Paraná, ficou durante o conturbado ano de governo militar cearense, em 1965, com a produção de Ulisses Triana, sob o título de Cirquinho do Canal 6 e depois Circo do Carequinha; na TV Piratini de Porto Alegre ficou dois anos; e na TV Rádio Clube do Recife, exibiu o programa durante um ano. Terminando o contrato com a empresa Bombril, o Circo teve outro patrocinador passando a se chamar Circo Ping-Pong.
A
história da Bombril começou a ser escrita no verão de 1948, a partir de um
sentimento vivo na alma de nosso fundador: a paixão pelo novo. As panelas de
ferro estavam cedendo seu lugar às panelas de alumínio, mais modernas, leves e
rápidas de aquecer, porém, as donas de casa se queixavam de limpá-las com
esponjas comuns. Elas desejavam usar algo que pudesse ser fácil de arear e de
dar brilho, deixando-as sempre novas e bonitas. O lançamento desse produto
representou uma revolução para as donas de casa em geral. Bombril polia panelas
e também limpava vidros, louças, azulejos e ferragens, tanto que ganhou o
conceito de “1001 utilidades” na cultura brasileira. Naquele ano, foram
vendidas 48 mil unidades de Bombril. Em 1976, a Bombril muda sua linha de
produção do bairro do Brooklin, em São Paulo, para a moderna fábrica em São
Bernardo do Campo, cidade próxima à capital. Essa unidade existe é considerada
a” grande casa da Bombril”. Em 1984, é a vez da inauguração da Bombril Nordeste,
em Recife (PE), e a razão social muda para Bombril S/A. A empresa passa a ter
ações negociadas na Bolsa de Valores. Em 1987, mais uma inauguração, agora da
Bombril Minas, em Sete Lagoas (MG). Com o tempo histórico e social, a marca foi crescendo e se
desenvolvendo até se tornar o que é.A Companhia com 71 anos de atividade e
atuação no segmento da indústria de higiene e limpeza, fabricando produtos de
consumo doméstico e industrial. É detentora de marcas consagradas, como Limpol,
Mon Bijou, Sapólio Radium, Kalipto, Pinho Bril e Bom Bril.
Carequinha gravou 26 discos com músicas muito populares entre as crianças. Sua primeira gravação ocorreu em 1957, com a marcha de Miguel Gustavo “Fanzoca do rádio”, que fez bastante sucesso. Ele teve êxito com a criançada com a música: “O bom menino” que de forma afirmativa cantarolava: “o bom menino não faz xixi na cama, o bom menino não faz malcriação...”, assim como através das músicas: “A marcha do carrapato”, “Parabéns, parabéns” e canções de roda tradicionais como “Escravos de Jó”, “Ciranda cirandinha”, “Carneirinho carneirão” e “O cravo brigou com a Rosa”. Nos anos 1980, apresentou um programa infantil na TV Manchete, até sair para que entrasse o programa da Xuxa, que começou naquela emissora sua carreira artística. Ele se apresentou para vários presidentes brasileiros, entre os quais Getúlio Vargas e Juscelino Kubistchek, além de ser condecorado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Foi o reduto de talentos e ícone da chamada Era do Rádio, o principal veículo de comunicação social de massa entre 1930 e o início da década de 1960.Teve o radialista César Ladeira (1910-1969) como diretor artístico a partir de 1933. Foi líder de audiência nos anos 1930, até o surgimento da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, onde estrearam Carmen Miranda e sua irmã Aurora. Na conturbada década de 1930, na esfera política, a Mayrink emplacou programas que marcaram a história social do rádio: Canção do dia, com Lamartine Babo; Trem da alegria, com Lamartine Babo, Yara Salles e Heber de Bôscoli; Picolino, com Barbosa Junior; Horas do outro mundo, com Renato Murce, e o Programa Casé, com Ademar Casé, e outros.
Iniciou sua carreira em 1931, como locutor da Rádio Record de São Paulo, para onde fora convidado, quando era estudante de Direito, a fazer um teste e, em vez de ler anúncios, proferiu um discurso contra o ditador Getúlio Vargas - o que agradou, junto a sua voz, a direção da emissora. No entanto, ficou reconhecido como “A voz da Revolução Constitucionalista”, que ocorreu em 1932, e veio a se tornar um dos ícones da Era de Ouro do rádio no Brasil e dos mais famosos locutores do país. Ladeira foi o criador de nomes artísticos com os quais alguns cantores passaram a ser identificados para o público consumidor: “Rei da Voz” para Francisco Alves, “A Pequena Notável” para Carmen Miranda, “O Cantor que Dispensa Adjetivos” para Carlos Galhardo, “O Caboclinho Querido” para Sílvio Caldas e “A Garota Grau Dez” para Emilinha Borba. Em 1933, foi contratado pela Mayrink Veiga, como locutor e diretor artístico. Mudando-se para o Rio de Janeiro iniciou um estilo comercial, copiado dos locutores argentinos que para diferenciar na pronúncia os “erres” dos “agás” aspirados, carregavam nos primeiros. Atuou no cinema estreando, em 1935, no cinema no filme “Alô, Alô, Brasil”. O célebre humorístico PRK-30 (cf. Perdigão, 2003), criado e apresentado por Lauro Borges e Castro Barbosa, estreou na Mayrink Veiga em 1944, onde ficou por dois anos e retornou à emissora em 1955. Foi protagonista do filme Sob a Luz do Meu Bairro, de 1946, dirigido por Moacyr Fenelon. Quatro anos depois, o programa voltou para a Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Quem fez história na emissora foi Chico Anysio apresentado por Haroldo Barbosa, realizou grandes sucessos de programas cômicos. Em 1948, assinou contrato com a Rádio Nacional, onde apresentou durante dez anos “Seu criado, obrigado”, ao lado de Daisy Lúcidi, entre programas de sucesso. Dois anos antes de sua morte, em 1967, passou a atuar em programas humorísticos na extinta TV Tupi do Rio de Janeiro. Foi casado com a atriz Renata Fronzi. Seus filhos, Cesar Fronzi Ladeira e Renato Fronzi Ladeira, foram os criadores da banda de rock A Bolha e, mais tarde, do grupo Herva Doce.
Em 1963, o canal 2 do Rio de Janeiro foi comprado pela TV Excelsior. A Mayrink era a concessionária do canal, mas os planos de montar a TV não saíram do papel. Em 1961, a Rádio Mayrink Veiga, que tinha como diretor do departamento político e jornalístico Hiram Athaydes Aquino, participou da chamada Cadeia da Legalidade, uma mobilização civil e militar em 1961, para garantir a posse de João Goulart como Presidente do Brasil, derrubando o veto dos ministros das Forças Armadas à sucessão legal do presidente Jânio Quadros, que tinha renunciado, ao vice-presidente Goulart. Ela foi liderada pelo governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, aliado ao comandante do III Exército, general José Machado Lopes. A crise da renúncia de Jânio Quadros e o veto à sucessão para Goulart figuram entre as crises da República Populista que precederam o golpe de Estado de 1° de abril de 1964, junto a 1954 (fim de Getúlio Vargas) e 1955 (sucessão para Juscelino Kubitschek, garantida pelo Movimento de 11 de Novembro). A crise política de 1961 é antecedente de 1964 e mesmo chamada de seu ensaio geral. A crise política resultou na negociação do parlamentarismo como novo sistema de governo do país. Na comunicação representou uma rede de rádios organizada por Leonel Brizola para defender a posse de João Goulart, da campanha pelas Reformas de Base, que serviram como justificativas para o presidente-militar Humberto de Alencar Castelo Branco fechá-la em julho de 1965 por meio do Mandado de Segurança n° 16.135. Cesar Ladeira morreu de hemorragia cerebral, aos 58 anos, no Rio de Janeiro. Foi sepultado no Cemitério de São João Batista. Carequinha estava radicado em São Gonçalo há mais de 60 anos. Ele foi pai de quatro filhos, quatro netos e quatro bisnetos. A tradição de família finda com ele. Infelizmente, ninguém quis mais seguir a bela carreira de palhaço.
Bibliografia
geral consultada.
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