sábado, 12 de julho de 2025

Nebraska – Trivialização & Sociedade Dramática Norte-americana.

   Se quiseres poder suportar a vida, fica pronto para aceitar a morte”. Sigmund Freud 

O amor é uma das grandes categorias sociais que dá forma ao existente, mas isso é dissimulado tanto por certas realidades psíquicas como in fieri por certos modos de representações teóricas. Não há dúvida que o efeito amoroso desloca e falsifica inúmeras vezes a imagem objetivamente reconhecível de seu objeto de pensamento é decerto geralmente reconhecido, segundo Simmel (1993), como “formativo”, de uma maneira que não pode visivelmente parecer coordenada com as outras forças espirituais que dão forma. Trata-se, portanto, aqui, de uma imagem já existente que se encontra modificada em sua determinação qualitativa, sem que se tenha abandonado seu nível de existência teórica, nem criado um produto de uma nova categoria socialmente. Essas modificações que o amor já presente traz à exatidão objetiva da representação nada têm a ver com a criação inicial que produz analogamente o ser amado como tal. Na verdade, todas essas categorias são coordenadas, por sua significação social, quaisquer que sejam o momento ou as circunstâncias em que atuam. E o amor é uma delas, na medida em que cria seu objeto como produto totalmente original. Conforme a ordem cronológica, é preciso, antes de mais nada, que o ser exista e seja conhecido, antes de ser amado. Mas, então, esse algo que acontece não tem lugar com esse ser existente que permaneceria não modificado, foi, ao contrário, no sujeito que a categoria fundamental se tornou criadora.

Do mesmo modo que Eu, enquanto amante, sou diferente do quer era antes – pois não é determinado “aspecto” meu, determinada energia que ama em mim, mas meu ser inteiro, o que não precisa significar uma transformação visivelmente de todas as minhas outras manifestações -, também o amado enquanto tal, é um outro, nascendo de outro a priori que não o ser conhecido ou temido, indiferente ou venerado. Por que o amor está, antes de mais anda, absolutamente intricado em seu objeto, e não simplesmente associado a ele: o objeto do amor em toda a sua significação categorial não existe antes do amor, mas apenas por intermédio dele. O que faz aparecer de maneira bem clara que o amor – e, no sentido lato, todo o comportamento do amante enquanto tal – é algo absolutamente unitário, que não pode se compor a partir de elementos preexistentes. Totalmente inúteis parecem, pois, as tentativas de considerar o amor como um produto secundário, no sentido de que seria motivado como resultante de outros fatores psíquicos primários. Ele pertence a um estágio da natureza humana para que possamos situá-lo no mesmo plano cronológico e genético da respiração ou da alimentação, ou mesmo do instinto sexual. Não podemos safar-nos do embaraço, em virtude de seu significado atemporal, o amor permanece sem dúvida à primeira – ou última - ordem dos valores e das ideias, mas sua realização da série longa e complexa na evolução contínua da vida. 

Não podemos nos satisfazer com essa estranheza recíproca de seus significados ou de suas reações. Na prática o problema de seu dualismo é aí, reconhecido e nitidamente expresso, mas não resolvido; determo-nos nessa conclusão seria duvidar de sua solubilidade. Daí a analogia que em Hegel existe de forma coincidente entre a história da filosofia e a história do desenvolvimento do pensamento, mas este desenvolvimento é necessário, como força irresistível que se manifesta lentamente através dos filósofos, que são instrumentos de sua manifestação. Assim, preocupa-se apenas em definir os sistemas, sem discutir as peculiaridades e opiniões dos diferentes filósofos. Na determinação do sistema, o que o preocupa é a categoria fundamental que determina o todo complexo do sistema, e o assinalamento das diferentes etapas, bem como as vinculasses destas etapas que conduzem à síntese do espírito absoluto. Para compreender o sistema é necessário começar pela representação, que ainda não sendo totalmente exata permite, no entender de sua obra a seleção de afirmações e preenchimento do sistema abstrato de interpretação do método dialético, para poder alcançar a transformação da representação numa noção clara e exata. Assim, temos a passagem da representação abstrata, para o conceito claro e concreto através do acúmulo de determinações. Aquilo que na interpretação dialética separa e distingue perenemente a identidade e a diferença, sujeito e objeto, finito e infinito, é a alma vivente de todas as coisas, a Ideia Absoluta que é a força geradora, a vida e o espírito eterno.    

                   

                  

O espírito manifesta aqui sua independência da própria corporalidade, em poder desenvolver-se antes que nela torne. Com frequência, crianças têm demonstrado um desenvolvimento espiritual que vai muito mais rápido que sua formação corporal. Esse foi o caso histórico, e sobretudo social, em talentos artísticos indiscutíveis, em particular no gênio especifico da música. Também em relação ao fácil apreender de variados conhecimentos, especialmente na disciplina matemática; e tal precocidade tem-se mostrado não raramente também em relação a um raciocínio de entendimento, e mesmo sobre objetos éticos e religiosos. O processo de desenvolvimento do indivíduo humano natural decompõe-se então em uma série de processos, cuja diversidade se baseia sobre a relação do indivíduo para com o gênero, e funda a diferença da criança, do homem e do ancião. Essas diferenças são as apresentações das diferenças do conceito. A idade historicamene da infância é o sentido do tempo da harmonia natural, da paz do sujeito consigo mesmo e com o mundo ao qual habita. Nunca é demais repetir, que um começo tão sem-oposição quanto a velhice é um fim sem-oposição quanto à velhice. As oposições que surgem ficam sem interesse mais profundo. A criança vive na inocência, sem sofrimento durável; no amor aos seus pais, e no sentimento de ser amado por eles.

O amor é uma dinâmica que se gera, para Simmel (1993), a partir de uma autossuficiência interna, sem dúvida trazida, por seu objeto exterior, do estado latente ao estado atual, mas que não pode ser provocada por ele; a alma o possui enquanto realidade última, ou não o possui, e nós não podemos remontar, para além dele, a um dos movens exterior ou interior que, de certa forma, seria mais que sua causa ocasional. É esta a razão mais profunda que torna o procedimento de exigi-lo, a qualquer título legítimo que seja totalmente desprovido de sentido. Sequer sua atualização dependa sempre de um objeto, e se aquilo que chamamos de desejo ou necessidade de amor – esse impulso surdo e sem objeto, em particular na juventude, em direção a qualquer coisa a ser amada – já não é amor, que por enquanto só se move em si mesmo, digamos um amor em roda livre. Seguramente, a pulsão em direção a um comportamento esclarecido poderá ser considerada como o aspecto afetivo do próprio comportamento, ele próprio já iniciado; o fato de nos sentirmos “levados” a uma ação significa que a ação já começou anteriormente e que seu acabamento não é outra coisa que o desenvolvimento ulterior dessas primeiras inervações. Onde, apesar do impulso sentido, não passamos à ação, isso se dá seja porque a energia não basta, de pronto, para ir além desses primeiros elos da ação, seja porque ela é contrariada por forças opostas, antes mesmo que esses primeiros elos já anunciados à consciência tenham podido se prolongar num ato visível. A possibilidade realmente, a ocasião apriorística desse modo de comportamento originados pela presença humana na vida que chamamos amor, fará surgir se for o caso, elevado à consciência, na oposição dialética, como um sentimento obscuro e geral, um estágio inicial de sua própria realidade, antes mesmo que a ele se some a incitação por um objeto determinado para levá-lo a seu efeito acabado.

A existência desse impulso sem objeto, por assim dizer incessantemente fechado em si, acento premonitório do amor, puro produto do interior e, no entanto, já acento de amor, é a prova mais decisiva em favor da essência central puramente interior do fenômeno amor, muitas vezes dissimulado sob um modo de representação pouco claro, segundo o qual o amor seria uma espécie de surpresa ou de violência vindas do exterior, tendo su símbolo mais pertinente no “filtro do amor”, em vez de uma maneira de ser, de uma modalidade e de uma orientação que a vida como tal toma por si mesma – como se o amor viesse de seu objeto, quando, na realidade, vai em direção a ele. De fato, o amor é o sentimento que, fora dos sentimentos invariáveis religiosos, se liga mais estreita e mais incondicionalmente a seu objeto. À acuidade com a qual ele brota do sujeito nas relações sociais corresponde a acuidade igual com que ele se dirige para o objeto. O que é decisivo aqui é que nenhuma instância de caráter geral vem de fato se interpor. Se venero alguém. É pela mediação da qualidade de certo modo geral de venerabilidade que, em sua realidade particular, permanece ligada à imagem desse por tanto tempo quanto eu o venerar. Do mesmo modo, no homem que temo, o caráter terrível e o motivo que o provocou estão intimamente ligados; mesmo o homem que odeio não é, na maioria dos casos separado em minha representação da causa desse ódio – é esta uma das diferenças entre amor e ódio que desmente a assimilação que comumente se faz deles.

Mas o específico do amor é excluir do amor existente a qualidade mediadora de seu objeto, sempre relativamente geral, que provocou o amor por ele. Ele permanece como intenção direta e centralmente humanamente dirigida para esse objeto, e revela a sua natureza verdadeira e incomparável nos casos em que sobrevive ao desaparecimento indubitavelmente do que foi sua razão de nascer. Essa constelação, que engloba inúmeros graus, desde a frivolidade até a mais alta intensidade, é vivida segundo o mesmo modelo, seja em relação a uma mulher ou a um objeto, a uma ideia ou a um amigo, à pátria ou a uma divindade. Isso deve ser solidamente estabelecido em primeiro lugar, se quisermos elucidar em sua estrutura seu significado mais restrito, o que se eleva no terreno da sexualidade. A ligeireza com que a opinião corrente alia instinto sexual a amor lança talvez uma das pontes mais enganadoras na paisagem psicológica exageradamente rica em construções desse gênero. Quando, ademais, ela penetra no domínio da psicologia que se dá por científica, temos com demasiada frequência a impressão de que esta última caiu nas mãos de açougueiros. Por outro lado, o que é óbvio, não podemos afastar pura e simplesmente essa relação. Nossa emoção sexual, afirma Simmel, desenrola-se em dois níveis de significação filosófica. Por trás do arrebatamento e do desejo, da realização e do prazer sentidos, diretamente subjetivos, delineia-se, consequência disso tudo, por fim a reprodução da espécie. Pela propagação do plasma germinal a vida corre atravessando estágios ou por eles de ponta a ponta. 

Por mais insuficiente, por mais preso a um estreito simbolismo humano que esteja o conceito de objetivo e de meios em presença da misteriosa realização da vida, devemos qualificar essa emoção sexual de meio de que a vida se serve para a manutenção da espécie, confiando aqui a consecução desse objetivo não mais a um mecanismo (no sentido lato do termo) mas a mediações psíquicas. Enfim, a pulsão, dirigida a princípio, tanto no sentido genérico quanto no sentido hedonista, ao outro sexo enquanto tal, parece ter diferenciado cada vez mais seu objeto, à medida que seus suportes se diferenciavam, até singularizá-lo. Claro está, que a pulsão não se torna amor pelo simples fato social de sua individualização; esta última pode ser refinadamente hedonista, ou instinto vital-teleológico para o parceiro apto a procriar os melhores filhos.  Mas, indubitavelmente, ela cria uma disposição formativa e, por assim dizer, um marco para essa exclusividade que constitui a essência do amor, mesmo quando seu sujeito se volta para uma pluralidade de objetos. Não duvidamos em absoluto que no seio do que se chama “atração dos sexos” constitui-se o primeiro factum, ou, se quiserem, a prefiguração do amor. A vida se metamorfoseia também nessa produção, traz sua corrente à altura dessa onda, cuja crista, porém, sobressai livremente acima dela. Se considerarmos o processo social de conhecimento e construção social da vida absolutamente como um dispositivo de meios a serviço desse objetivo - a vida – e se levarmos em conta o significado simplesmente efetivo do amor para a propagação da espécie, então este também é um dos meios que a vida se dá para si e a partir de si. A noção de causa é, na origem, o caso do litígio, depois a ocorrência em que surge um acontecimento. A coisa, de mesma origem, é a questão a tratar. A palavra “ordem” exprime primeiro a fórmula do comando e o resultado ordenado.                        

O termo “cosmos” designa, primeiro, a organização de um exército, depois da constituição de um Estado, antes de tornar-se a constituição do mundo. A geometria nasceu das necessidades de agrimensura e de irrigação das civilizações agrárias; a aritmética, das necessidades de cálculo das civilizações urbanas. As Leis físicas são uma projeção das Leis jurídicas sobre o Universo. A ideia de um Deus legislador do Universo, em Descartes, desenvolve-se quarenta anos depois da teoria do soberano Jean Bodin. A Ordem e as Leis da Natureza foram sugeridas à física por Deus, pelo Rei e pelo Estado. Mais recentemente, a energia, conceito-chave da física moderna e de trabalho no momento da primeira revolução industrial. É certo que todos os conceitos científicos extraídos da experiência social se emanciparam e transformaram. Nem por isso se separam totalmente: força, trabalho, energia, ordem, desordem conservam o seu cordão umbilical com a vida comum.  As sociedades científicas multiplicaram-se, depois, no século XIX, a ciência instalou-se na universidade, criando aí os seus departamentos e laboratórios. Em torno de 1840, o termo Scientist aparece na Inglaterra, e a ciência profissionaliza-se. No século XX, ela se implantará sucessivamente no coração das empresas industriais e no âmbito de desenvolvimento social no Aparelho de Estado.

Nebraska é um Road Film norte-americano de comédia dramática de 2013 dirigido por Alexander Payne, escrito por Bob Nelson, e estrelado por Bruce Dern, Will Forte, June Squibb, Stacy Keach e Bob Odenkirk. Lançado em preto & branco, a história social segue um idoso residente de Montana e seu filho enquanto tentava reivindicar um prêmio de sorteio de um milhão de dólares em uma longa viagem a Nebraska. Um Road Movie é um gênero de filme em que os personagens principais “saem de casa em uma viagem, normalmente alterando a perspectiva de suas vidas cotidianas”. Os Road Movies geralmente retratam viagens no interior, com os filmes explorando o tema da alienação e examinando as tensões e questões da identidade cultural de uma nação ou período histórico; tudo isso geralmente está enredado em um clima de ameaça real ou potencial, ilegalidade e violência, um “ar distintamente existencial” e é povoado por personagens inquietos, “frustrados e frequentemente desesperados”. O cenário inclui não apenas os limites próximos do carro enquanto ele se move em rodovias e estradas, mas também cabines em restaurantes e quartos em motéis de beira de estrada, o que ajuda a criar intimidade e tensão entre os personagens socialmente. Os Road Movies tendem a se concentrar no tema da masculinidade, com o homem frequentemente passando por algum tipo de crise, algum tipo de rebelião, cultura automobilística e autodescoberta. O tema central dos Road Movies tem como representação e significado sociológico a questão nevrálgica e comportamental da “rebelião contra as normas sociais conservadoras”.

Nebraska ou Nebrasca é um dos 50 estados dos Estados Unidos. Está situado nas grandes planícies norte-americanas, na região central do país. Limita-se ao Norte com Dakota do Sul, a Leste com Iowa e Missouri, com Kansas ao Sul, com Colorado a Sudoeste e Wyoming a Oeste. Os alemães são o maior grupo étnico do estado, compondo 38,6% da população do Nebraska. Com um pouco mais de 200 mil km², é o 16º maior estado norte-americano em área do país. O produto interno bruto de Nebraska é de 68 bilhões de dólares, e a renda per capita é de 31 339 dólares. A economia do estado é baseada na agropecuária, sendo um dos maiores produtores de milho, trigo e sorgo do país, possuindo grandes rebanhos bovinos e uma relativamente forte indústria alimentícia. A região foi explorada por franceses e espanhóis, no século XVII, que se dedicavam ao comércio de peles. Tornou-se território em 1854 e, em 1867, tornou-se o 37º estado a entrar à União. Nebraska é o único estado, ao contrário dos outros, onde cujo Poder Legislativo é unicameral. Sua legislatura pode vetar decisões do governador com 3/5 da legislatura, enquanto na maioria dos outros estados são necessários 2/3.

O nome Nebraska é derivado de uma língua arcaica Otoe Ñí Brásge, que tem como significado “águas planas”, em referência ao Rio Platte, um rio largo e raso que passa pelo estado. O censo nacional de 2000 estimou a população de Nebraska em 1 711 263 habitantes, um crescimento de 8,4% em relação à população do estado em 1990, de 1 578 385 habitantes. Uma estimativa realizada em 2005 estima a população em 1 758 787 habitantes, um crescimento de 11,4% em relação à população em 1990, de 2,8%, em relação a 2000, e de 0,6% em relação à população estimada em 2004. O crescimento populacional natural de Nebraska entre 2000 e 2005 foi de 52 104 habitantes, ou seja, estatisticamente 132 394 nascimentos menos 80 290 óbitos que resulta do crescimento populacional causado pela imigração foi de 22 199 habitantes, enquanto que a migração interestadual resultou na perda de 26 206 habitantes. Entre 2000 e 2005, a população de Nebraska cresceu em 47 522 habitantes, e entre 2004 e 2005, em 11 083 habitantes.

Composição racializada da população de Nebraska: 86,1% – brancos (82,1% brancos não-hispânicos); 4,5% – afro-americanos; 1,8% – asiáticos; 1% – nativos norte-americanos; 0,1% Nativos havaianos e outros ilhéus do Pacífico; 1,4% – duas ou mais raças; 9,2% dos residentes de Nebraska são de origem hispânica de qualquer raça. Os cinco maiores grupos étnicos de Nebraska são alemães (que formam 38,6% da população do estado) irlandeses (12,4%), ingleses (9,6%), suecos (4,9%) e tchecos (4,9%). Percentagem da população estatística de Nebraska por afiliação religiosa representa: Cristianismo – 90%; Protestantes – 61%; Igreja Luterana – 16%; Igreja Metodista – 11%; Igreja Batista – 9%; Igreja Presbiteriana – 4%. Outras afiliações protestantes – 21%; Igreja Católica Romana – 28%. Outras afiliações cristãs – 1%. Outras religiões – 1%; Não-religiosos – 9%. As principais cidades (2010) com base estatística no censo são de 530 cidades e vilarejos que foram identificadas em Nebraska.

O filme foi indicado à Palma de Ouro (Grande Prêmio) no Festival de Cinema de Cannes de 2013, onde Dern ganhou o prêmio de Melhor Ator. Também foi indicado a seis Oscars, incluindo Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator para Dern, Melhor Atriz Coadjuvante para Squibb, Melhor Roteiro Original e Melhor Fotografia. O filme foi aclamado pela crítica e se tornou um sucesso comercial, arrecadando US$ 27,7 milhões nas bilheterias com um orçamento de US$ 13,5 milhões. Foi o último filme a ser lançado pela Paramount Vantage, já que a Paramount Pictures fechou o selo após seu lançamento.  Era uma produtora cinematográfica da Paramount Pictures que, por sua vez, tem a Paramount Global como controladora, encarregada de produzir, comprar, distribuir e comercializar filmes, geralmente aqueles considerados com um toque mais “Art House” do que os filmes produzidos e distribuídos analogamente por sua própria controladora. Anteriormente, a Paramount Vantage operava como a divisão de filmes especiais da Paramount Pictures, de propriedade da Viacom agora Paramount Global.

 Billings é a cidade mais populosa do estado norte-americano de Montana, no condado de Yellowstone, do qual é sede. Foi fundada em 1877 e incorporada em 1882. Seu nome é uma homenagem a Frederick H. Billings (1823-1890) foi um advogado, financista e político. Ele é conhecido por seu trabalho jurídico em reivindicações de terras durante os primeiros anos da Independência da Califórnia e por sua presidência da Northern Pacific Railway, de 1879 a 1881. Natural de Royalton, Vermont, Billings formou-se na Universidade de Vermont em 1844, tornou-se advogado e mudou-se para a Califórnia durante a Corrida do Ouro de 1848. Participou da criação de um importante escritório de advocacia que lidava com casos de títulos de propriedade, uma questão importante porque a Califórnia estava sob a jurisdição de vários governos. Billings também participou de vários empreendimentos comerciais bem-sucedidos e tornou-se milionário aos 30 anos. No início da Guerra Civil Americana, trabalhou arduamente para impedir a secessão da Califórnia. Após retornar a Vermont em meados da década de 1860, Billings continuou a exercer a advocacia e a participar de empreendimentos comerciais. Ele atuou nos conselhos de administração de diversas corporações e foi um grande investidor na Ferrovia do Pacífico Norte. Billings recebeu crédito por resgatar a Ferrovia Nacional após o Pânico de 1873 e serviu como seu presidente de 1879 a 1881. Ele renunciou à presidência após uma aquisição hostil, mas permaneceu no conselho de administração e acompanhou a construção da ferrovia até sua conclusão em 1883.

Billings participou da política como republicano. Candidatou-se a governador de Vermont em 1872 e quase conquistou a indicação do partido. Também foi delegado às Convenções Nacionais Republicanas de 1880 e 1884, onde apoiou George F. Edmunds para presidente. Billings doou milhões de dólares para diversas causas e organizações, incluindo escolas, faculdades, bibliotecas e igrejas. Após sofrer um derrame em 1889, a saúde de Billings piorou e ele morreu em sua casa em Woodstock, Vermont, em 23 de setembro de 1890. Seu corpo foi enterrado no Cemitério River Street, em Woodstock. Montana, um idoso chamado Woody Grant está preso por andar na rodovia interestadual. Woody é pego por seu filho, David, que descobre que ele estava indo a pé até Lincoln, Nebraska, para receber um prêmio de um milhão de dólares em um sorteio que ele acredita ter ganho. Apesar da insistência de sua família que é um “golpe postal”, Woody insiste em ir até Lincoln para receber o dinheiro e comprar uma nova caminhonete e um compressor de ar. David planeja levá-lo até lá só para passar um tempo com ele e dar um descanso à sua mãe, Kate. O outro filho de Woody, Ross, não acha que David lhe deva nada, porque, como pai, Woody era compreendido na sociedade como “um alcoólatra negligente”. David tira uma semana de folga no trabalho e começa a dirigir para Nebraska na companhia de Woody. Enquanto está em Rapid City, Dakota do Sul, Woody se embriaga e bate a cabeça ao voltar sozinho para o quarto do motel.

Isso faz com que Woody precise ser internado em um hospital durante a noite. David descobre que eles passarão pela cidade natal de Woody, Hawthorne, no Condado de Madison, Nebraska, e convence Woody a parar e ver seu irmão, Ray. Em um bar, conhece o ex-sócio de Woody, Ed Pegram, que roubou o compressor de ar de Woody há décadas. Woody menciona tolamente ter ganho o dinheiro e, no dia seguinte, a notícia da vitória dele se espalhou pela cidade como um incêndio. No dia seguinte, Kate chega de ônibus em Hawthorne, e Ross chega de carro logo depois. O jornal de Hawthorne faz uma matéria sobre Woody passando pela cidade e sua dona, Peg Nagy, diz a um David chocado que sua natureza cautelosa e alcoolismo vêm de ter sido abatido sobrea Coreia. Naquela noite, Ed encurrala David no banheiro masculino sobre um dinheiro que ele emprestou a Woody anos atrás, ameaçando ação legal se ele não pagasse. O resto da família de Woody também vem visitá-lo, e muitos dos membros da família fecham o dinheiro que eles acreditam que Woody deve de David e Ross. Uma briga começa terminando abruptamente quando Kate chama os pais por suas próprias dívidas não pagas e por usar Woody como mecânico livre por décadas. David, Kate, Ross e Woody visitam a fazenda de infância de Woody, que agora está totalmente abandonada. Woody relembra sua infância, incluindo testemunhar a morte de seu irmão por escarlatina, uma doença infecciosa e contagiosa, causada pela bactéria Streptococcus pyogenes, na nomenclatura de estreptococo do grupo A, que geralmente se manifesta após uma infecção na garganta, como é a inflamação amigdalite ou faringite, e é acompanhada por uma erupção cutânea característica. Passam de carro por uma casa que Kate identifica como sendo de Ed, então, David e Ross pegam de volta o compressor de ar de Woody.

Kate logo percebe que a casa na verdade pertence a outro casal, e David e Ross precisam devolver o compressor às pressas. De volta ao bar, Ed tenta cantar Woody, revelando que Woody traiu Kate antes do nascimento de David. Ao saírem, são atacados pelos filhos de Ray, Cole e Bart, que roubaram a carta do sorteio de Woody. Mais tarde, eles contaram a David que a jogaram fora depois de descobrir que era um golpe. Enquanto procuram, David e Woody descobrem Ed lendo uma carta em voz alta no bar, o que humilha Woody. Depois que Woody pega a carta de volta e sai, David dá um soco no rosto de Ed. Woody, tonto devido ao ferimento na cabeça, tem que se sentar, e David diz a ele que eles não vão continuar para Lincoln. Woody diz a David que ele quer tanto dinheiro porque quer deixar algo para seus filhos depois que ele morrer. David leva Woody para o hospital nas proximidades de Norfolk. No meio da noite, Woody sai abruptamente e começa a andar, então David cede e leva Woody o resto do caminho para Lincoln. Em Lincoln, Woody é informado de que não ganhou esperada premiação, e os dois voltam para o Billings. No entanto, David troca seu automóvel Subaru Outback por uma caminhonete, e também acaba comprando um novo compressor de ar. Enquanto dirige de volta por Hawthorne, David se esconde embaixo do painel e deixa Woody assumir o volante de sua caminhonete para todos verem, incluindo Ed, que tem o rosto machucado. Woody acena adeus para todos e dirige para fora da cidade, para no meio da estrada e troca de assento com David, que os leva o resto do caminho de volta para casa. 

 Enquanto evoluímos em About Schmidt, Alexander Payne recebeu o roteiro de Bob Nelson de Albert Bergere Ron Yerxa, pedindo-lhe que recomende um diretor. Ele pediu para dirigi-lo mesmo, mas não queria dar sequência a um filme de viagem (Sideways), no qual ele estava em pré-produção com outro. Ele decidiu esperar até depois de terminar The Descendants para começar a trabalhar no filme. Este foi o primeiro filme de Payne no qual ele não esteve diretamente envolvido no processo de escrita, e ele reescreveu apenas algumas coisas antes do início das filmagens. Após ler o roteiro pela primeira vez, Payne pensou em Bruce Dern para o papel de Woody Grant. Quando o elenco do filme começou, Payne se encontrou com mais de 50 atores. Como a Paramount Europa uma grande estrela, Gene Hackman, Robert De Niro, Robert Duvall, Jack Nicholson e Robert Forster foram pré-selecionados para o papel. Hackman e Nicholson se aposentaram da atuação, e Duvall e De Niro recusaram o papel. Payne eventualmente acabou Dern novamente. Payne escolheu Dern porque, como ele disse: - Bem, ele está na idade certa agora e pode ser ingênuo e teimoso ao mesmo tempo.

Na realidade afirma que ele é um ator legal. E, contextualmente, não vejo uma grande atuação de Bruce Dern na tela grande há alguns anos e estou curioso para ver o que ele pode fazer. Ele também é um cara muito legal. O papel de David Grant era desejado por vários atores notáveis de Hollywood. Bryan Cranston leu para o papel, mas Payne ou atualmente uma má opção. Outros candidatos considerados incluídos Paul Rudd, Casey Affleck e Matthew Modine, que falou publicamente sobre ser considerado. Payne mais tarde selecionado Will Forte, apesar dos rumores de que um ator de alto perfil era desejado. Ele declarou: - Fisicamente, eu acreditava que Will Forte poderia ser filho de Bruce Dern e June Squibb (que interpreta a esposa sofredora de Woody, Kate). E então eu simplesmente acreditei nele como um cara que eu conheceria em Omaha ou em Billings. Ele tem uma qualidade muito, muito crível. E eu também acho que, para o personagem de David, ele é capaz de comunicar uma certa qualidade de olhar arregalado em relação à vida e também aos danos – como se ele tivesse sido ferido de alguma forma, em algum lugar.  O elenco e o lugar foi filmado com câmeras digitais Arri Alexa e lentes anamórficas Panavision C-Series.

A iluminação do filme foi projetada para acomodar a exibição em preto & branco e foi convertida de colorida para preto & branco na pós-produção porque Payne disse que queria produzir um “visual icônico e arquetípico”. De acordo como diretor de fotografia Phedon Papa Michael, a escolha foi usar “o poder poético do preto & branco em combinação com essas paisagens e, claro, as paisagens estão desempenhando um grande papel nesta história”. A escolha do preto & branco foi realizada contra a vontade da distribuidora Paramount Vantage, embora um master colorido do filme também tenha sido produzido em um esforço para satisfazer as preocupações; Payne disse que espera que ninguém nunca o veja. Apesar disso, a rede Epix anunciou em agosto de 2014 que mostraria a versão colorida como uma “exibição por tempo limitado”. Nebraska começou a filmar em locações no estado homônimo em novembro de 2012. As filmagens foram vendidas para Billings, Montana; Buffalo, Wyoming; e Rapid City, Dakota do Sul, e encerradas em dezembro, após 35 dias de filmagem. As comunidades de Nebraska onde as filmagens incluem Allen, Battle Creek, Elgin, Hooper, Lincoln, Lyons, Madison, Norfolk, Osmond, Pierce, Plainview, Stantone Tilden. A estreia foi em Norfolk em 25 de novembro de 2013. Uma trilha sonora do filme Nebraska foi composta pelo membro do Tin Hat, Mark Orton. A trilha sonora inclui performances de membros do Tin Hat, marcando a primeira vez que os originais se reuniram desde 2005. Um álbum da trilha sonora foi lançado pela Milan Records em 19 de novembro de 2013.

 Nenhum site agregador de críticas Rotten Tomatoes, o filme tem uma taxa de aprovação de 90% com base em 252 avaliações, com uma classificação média de 8,00/10. O consenso crítico do site diz: - “Elegante em sua simplicidade e poético em sua mensagem, Nebraska adiciona outro capítulo emocionante e ressonante à notável filmografia de Alexander Payne”. No Metacritic, o filme tem uma pontuação média ponderada de 86 em 100, com base em 46 críticas, diminuindo “aclamação universal”. Em sua crítica após o Festival de Cinema de Cannes, Robbie Collin, fazer The Daily Telegraph, deu ao filme quatro estrelas de cinco, descrevendo-o como “uma elegia agridoce para a família norte-americana extensa, filmada originalmente em um preto & branco nítido que combina perfeitamente com a preocupação do filme com tempos passados”. Ele também disse que o filme foi “um retorno retumbante à forma para Payne”. Peter Bradshaw, fazer The Guardian, que Payne havia “retornado a uma linguagem cinematográfica mais natural e pessoal” e elogiou a atuação de Dern. Joe Morgenstern, do The Wall Street Journal, comentou que “o retrato de Bruce Dern do velho bêbado é uma maravilha, bem como o ápice da carreira daquele ator singular”.

Escrevendo para o site de Roger Ebert, Christy Lemire comentou: “As imagens finais belíssimas do filme têm uma pungência que pode deixar um nó na garganta”. Nebraska recebeu vários prêmios e restrições desde seu lançamento. O American Film Institute o incluído em seus Dez Melhores Filmes do Ano. O elenco ganhou o prêmio de Melhor Elenco da Sociedade de Críticos de Cinema de Boston, enquanto Squibb ganhou o de Melhor Atriz Coadjuvante. Nebraska recebeu cinco prazos ao Globo de Ouro. Também recebi seis restrições do Independent Spirit Awards. Dern e Forte ganharam Melhor Ator e Melhor Ator Coadjuvante, respectivamente, no National Board of Review. Nebraska reuniu três períodos ao Satélite Award e ganhou o de Melhor Elenco e Melhor Atriz Coadjuvante para Squibb, um vigoroso defensor do controle de qualidade e padrões de alta pureza na indústria farmacêutica no seu tempo, a ponto de auto-publicar uma alternativa à Farmacopeia dos Estados Unidos da América depois de não convencer a American Medical Association a incorporar padrões de maior pureza. O filme recebeu duas restrições do Screen Actors Guild Awards. A Paramount lançou o filme sob o selo Vantage, mas o logotipo não é usado no filme, nem em trailers ou comerciais de TV. No entanto, o logotipo impresso é visto no final dos comerciais de TV e no pôster. No próprio filme, a versão de 1954 do logotipo da Paramount é usada.

As ideias movem-se, mudam de lugar, ganham força na história, apesar das formidáveis determinações internas e externas globais. O conhecimento transforma-se, progride, regride. Crenças e teorias renascem; outras, antigas, morrem. A primeira condição de uma dialógica cultural é a pluralidade e diversidade de pontos de vista. Essa diversidade cultural é potencial e está em toda parte. Toda sociedade comporta indivíduos genética, intelectual, psicológica e afetivamente muito diverso, apto, portanto, a outros pontos de vista cognitivamente muito variados. São, justamente, essas diversidades de pontos de vista culturais e políticos que inibem e a normalização reprime. Do mesmo modo, as condições sociais ou acontecimentos aptos a enfraquecerem o imprinting, segundo o pensamento sociológico de Morin (2008), e a normalização permitirão às diferenças individuais exprimirem-se no domínio cognitivo. Essas condições aparecem nas sociedades que permitem o encontro, a comunicação e o debate de ideias. A dialógica cultural supõe o comércio, constituído de trocas múltiplas de informações, ideias, opiniões, teorias; o comércio das ideias é tanto mais estimulado quanto mais se realizar com ideias comparativamente de outras culturas do passado. O intercâmbio das ideias produz o enfraquecimento dos dogmatismos e intolerâncias religiosas, o que resulta no próprio crescimento. Comporta a competição, a concorrência, o antagonismo, o conflito, moral e político, entre ideias, concepções e visões de mundo.

A trivialização do conhecimento não faz produto do conhecimento apenas um produto determinado, faz também dele um produto qualquer. Mas as ideias podem tornar-se ideológicas na medida em que sua estrutura socialmente obedece às estruturas socioprofissionais, sua produção integra-se entre os outros processos de produção e a cultura torna-se cognoscível a partir das categorias econômicas do capital e do mercado. Mas nem a informação, nem a teoria, nem o pensamento abstrato, nem a cultura são produtos triviais, ainda que mais não seja pelo fato social de serem, ao mesmo tempo, tanto produtos quanto produtores e, mesmo comportando hologramaticamente a dimensão socioeconômica, não poderiam ser reduzidas a isso. A redução trivializante não teme exercer-se como sujeito sobre o conhecimento científico. Este nível abstrato como qualquer outro é apropriado pelo pensamento, como a religião e através da ciência, com suas relações de força e monopólios, suas lutas e suas estratégias de recusa, seus interesses e seus ganhos. Mas, por seu lado, os estudos de etnografias dos laboratórios, estes que parecem ter dinamismo, demonstram-nos como se estabelecem essas mediações dos pesquisadores, em função de posições, ou status, as lutas e a utilização de alguns truques diabólicos pelo reconhecimento per se, pelo prestígio ou pela glória, com as negociações necessárias ao estabelecimento de uma prova, os ritos de passagem na pesquisa e na universidade. A motivação primeira do cientista é a notoriedade. Mas não se pode reduzir o interesse científico ao interesse econômico, a vontade de pesquisar ao desejo de prestígio, a sede de conhecimento à sede de poder, em alguns casos claramente terrenos sim. A sociologia não pode ser considerada uma concepção que exclui o indivíduo ou que, no máximo, o tolera. É concepção humanista, mas deve implicá-lo e explicitá-lo soberanamente.

                             

Sobre a aquisição do conhecimento pesa um formidável determinismo. Ele nos impõe o que se precisa conhecer, como se deve conhecer, o que não se pode conhecer. Comanda, proíbe, traça os rumos, estabelece os limites, ergue cercas hic et nunc de arame farpado e conduz-nos ao ponto onde devemos ir. E também que conjunto prodigioso de determinações sociais, culturais e históricas é necessário para o nascimento da menor ideia, da menor teoria. Não bastaria limitarmo-nos a essas determinações que pesam do exterior sobre o conhecimento. É necessário considerar, também, os determinismos intrínsecos ao conhecimento, que são, segundo Edgar Morin, muito mais implacáveis. Em primeiro lugar, princípios iniciais, comandam esquemas e modelos explicativos, os quais impõem uma visão de mundo e das coisas que se governam/e controlam de modo imperativo e proibitivo a lógica dos discursos, pensamentos, teorias. Ao organizar os paradigmas e modelos explicativos associa-se o determinismo organizado dos sistemas de convicção e de crença que, quando reinam em uma sociedade, impõem a todos a força imperativa do sagrado, a força normalizadora do dogma, a força proibitiva do tabu. As doutrinas nas sociedades dispõem da força imperativa e coercitiva que evidencia aos convictos e o temor inibitório aos desalmados.

A partir deste fundamento, compreendemos que ordem, desordem e organização são elementos essenciais para o entendimento da questão da complexidade, pois se desintegram e se desorganizam ao mesmo tempo. Nesse entendimento, constata-se que o sentido da realidade se dá por meio da relação do todo com as partes e vice e versa em uma análise integradora em que não é pertinente examinar o fenômeno a partir de uma única matriz de racionalidade. A desordem torna-se indispensável para a organização social da vida humana, pois a sociedade é dependente de acontecimentos/fatos que possam modificar a ordem já estabelecida para gerar novos meios de organização entre os sujeitos. Há um imprinting cultural, matriz que estrutura o conformismo social, e há uma normalização que o impõe do ponto de vista as relações políticas e sociais. O imprinting é um termo que Konrad Lorentz propôs para dar conta da marca incontornável pelas primeiras experiências do jovem animal, como o passarinho que, ao sair do ovo, segue como se fosse sua mãe, o primeiro ser vivo ao seu alcance. Há um imprinting cultural que nos marcam, desde o nascimento, com o selo da cultura, primeiro familiar e depois da escola, prosseguindo na universidade ou na profissão. Contrariamente à orgulhosa pretensão dos intelectuais e cientistas, o conformismo cognitivo não é de modo algum uma marca de subcultura que afeta principalmente as camadas subalternas da sociedade. Os subcultivados sofrem um imprinting e uma normalização atenuados e há mais opiniões pessoais diante do balcão de café do que num coquetel literário.

Embora contrariados em contradição com seu desenvolvimento liberal intelectual que permite a expressão de desvios e de ideias e formas escandalosas, o imprinting e a normalização crescem paralelamente com a aquisição real da cultura. O imprinting cultural determina à desatenção seletiva, que nos faz desconsiderar tudo aquilo que não concorde com as nossas crenças, e o recalque eliminatório, que nos faz recusar toda informação inadequada às nossas convicções, ou toda objeção vinda de fonte técnica considerada ruim ou desqualificada. A normalização manifesta-se de maneira repressiva ou intimidatória. Cala os que teriam a tentação de duvidar ou de contestar. A normalização, portanto, com seus subaspectos de conformismo, exerce uma prevenção contra o desvio e elimina-o, se ele se manifesta. Mantém, impõe a norma do que é importante, válido, inadmissível, verdadeiro, errôneo, imbecil, perverso. Indica os limites a não ultrapassar respeitando a paixão pelo objeto. As palavras que não devem proferir. Os conceitos a desdenhar, as teorias a desprezar. O imprinting assimila a perpetuação dos modos de conhecimento e verdades estabelecidas. Obedece a processos de tribunais: uma cultura produz modos de conhecimento entre os homens dessa própria cultura. Através do seu modo de conhecimento, reproduzem a legitimidade que produz esse conhecimento. As crenças que se impõem são fortalecidas pela fé e a validade que as suscitaram. Não só conhecimentos, mas as estruturas de poder-saber e os modos reguladores que determinam a invariância desses conhecimentos.                    

Bibliografia Geral Consultada.     

MARCUSE, Herbert, Eros e Civilização. Uma Interpretação Filosófica do Pensamento de Freud. 8ª edição. São Paulo: Editora Guanabara Koogan, 1966; SIMMEL, Georg, Filosofia do Amor. São Paulo: Editora Martins Fontes, 1993; HEGEL, Friedrich, Fenomenologia do Espírito. 4ª edição. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 2007; MÁDOZ, Inmaculada Cuquerella, La Superación del Nihilismo en la Obra de Albert Camus: La Vida como Obra Trágica. Tese de Doutorado. Valência: Editor Universität de Valência, 2007; ALLEGRO, Luís Guilherme Vieira, A Reabilitação dos Afetos: Uma Incursão no Pensamento Complexo de Edgar Morin. Dissertação de Mestrado. Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2007; MORIN, Edgar, O Método 4 – As Ideias. 4ª edição. Porto Alegre: Editora Sulina, 2008; ALTHUSSER, Louis, Freud e Lacan. Marx e Freud. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 2009; CARVALHO, Marçal Luis Ribeiro, A Questão Punitiva na Pós-modernidade: Desafios Contemporâneos à Luz da Ética da Alteridade. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Ciências Criminais. Porto Alegre: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2010; GONÇALVES, Telma Amaral, Falando de Amor: Discursos Sobre o Amor e Práticas Amorosas na Contemporaneidade. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Belém: Universidade Federal do Pará, 2011; MOTA, Rodrigo, “Simmel e a Confiança”. Pelotas (RS): Revista Novos Rumos Sociológicos. Volume 5, nº 7. Jan/Jul/2017; SALLES, Rodrigo Jorge, Longevidade e Temporalidades: Um Estudo Psicodinâmico com Idosos Longevos. Tese de Doutorado. Instituto de Psicologia. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2018; MORTADA, Samir Pérez, “Tempo e Resistência: Ecléa e o Método em Psicologia Social”. In: Psicol. USP 33 • 2022; STORI, Jessica, “A Vida em Risco e a Vida como Obra de Arte no Projeto Intelectual de Simone Weil”. In: Revista O Público e o Privado. Fortaleza, Volume 22, n° 46, pp. 167–184, 2024; AUGUSTO, Vanessa Maria Gondim; PEIXOTO, Isadora Lima; MARTINS, José Clerton de Oliveira, “Não basta somar anos à vida, mas somar vida aos anos: o envelhecimento e a finitude nas narrativas de idosos”. In: Contribuciones a las Ciencias Sociales, 18 (7) 2025; entre outros.

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