“Esse termo esconde as motivações dessas ocorrências e suas modalidades”. Sérgio Adorno
O
termo “confiança” aflora com muita frequência na linguagem cotidiana. A questão
para Anthony Giddens é: como estas mudanças afetaram as relações de intimidade
pessoal e sexual? Pois estas não são apenas simples extensões da organização da
comunidade ou do parentesco. A amizade, por exemplo, desde Georg Simmel ou
Friedrich Nietzsche, foi pouco estudada pelos sociólogos, mesmo se
considerarmos a intuição de Alain Touraine a respeito, mas ela proporciona uma
pista importante para fatores de amplo alcance que influenciam a vida pessoal.
Temos de compreender o caráter da amizade em contextos pré-modernos
precisamente em associação com a comunidade local e o parentesco. A confiança
nos amigos era frequentemente de importância central. Nas culturas
tradicionais, com a exceção parcial de algumas vizinhanças citadinas em Estados
agrários, havia uma divisão bem clara entre membros reconhecidos como “os de
dentro e os de fora ou estranhos”. As amplas arenas de interação não hostil com
outros anônimos, característica da atividade social moderna, não existia.
Nestas circunstâncias sociais, a amizade era institucionalizada e vista como
meio de criar alianças mais ou menos duradouras com outros contragrupos
potencialmente hostis. Amizades institucionalizadas eram formas de camaradagem,
assim como mormente ocorrem nas reconhecidas “fraternidades de sangue”, social
ou dentre “companheiros de armas”. Institucionalizada ou não, a amizade era
baseada em valores de sinceridade e honra.
A sinceridade é uma virtude valorizada em circunstâncias onde as divisórias entre “amigo” e “inimigo” eram geralmente distintas e tensas. A vasta extensão de sistemas sociais abstratos associada à modernidade transforma a natureza da amizade. Não por acaso o sociólogo inglês percebe que a amizade é com frequência um modo de reencaixe, mas ela não está diretamente envolvida nos próprios sistemas abstratos, que superam explicitamente a dependência ligada a laços pessoais. O oposto de “amigo”, discursivamente, já não é mais “inimigo”, nem mesmo “estranho”; ao invés disto é “conhecido”, “colega”, ou “alguém que não conheço”. Acompanhando esta transição, a honra é substituída pela lealdade que não tem outro apoio a não ser o afeto pessoal, e a sinceridade substituída pelo que podemos chamar de autenticidade: a exigência de que o outro seja aberto e bem intencionado. Embora estas conexões sociais possam envolver “intimidade emocional”, isto não é uma condição da manutenção da confiança pessoal. Laços pessoais institucionalizados e códigos de sinceridade e honra informais ou informalizados fornecem estruturas de confiança. É bastante errôneo, contudo, realçar a impessoalidade dos sistemas abstratos contra as intimidades da vida pessoal como a maior parte das explicações sociológicas correntes tendem a fazer. A vida pessoal e os laços sociais que ela envolve estão profundamente entrelaçados com os sistemas abstratos de mais longo alcance como ocorre com o partido político.
Alguns
sentidos do termo, embora partilhem amplas afinidades eletivas com outras
utilidades de usos, são de implicação relativamente desimportante. Quer dizer,
alguém que diz: “confio que você esteja bem”, normalmente quer dizer algo mais
com esta fórmula de polidez do que “espero que você esteja com boa saúde” –
embora mesmo aqui “confio” tenha uma conotação algo mais forte que “espero”,
implicando algo mais próximo a “espero não ter motivos para duvidar”. A atitude
de crença ou crédito que entra em confiança em alguns contextos mais
significativos já se encontra aqui. Quando alguém diz: “confio em que X se
comportará desta maneira”, esta implicação social é mais evidente, e não além
do nível do “conhecimento indutivo fraco”. É reconhecido que se conta com X
para produzir o comportamento em questão, dadas as circunstâncias normais. Eles
não se relacionam aos sistemas perpetuadores de confiança, são designações
referentes aos comportamentos; o indivíduo envolvido não é requisitado aquela “fé” religiosa que a confiança envolve em seus
significados.
A
principal definição de “confiança” no Oxford English Dictionary é
descrita como “crença ou crédito em alguma qualidade ou atributo de uma pessoa
ou coisa, ou a verdade de uma afirmação”, e esta definição proporciona um ponto
de partida útil. “Crença” e “crédito” estão claramente ligados de alguma forma
à “fé”, da qual, seguindo Simmel, mas embora reconhecendo que a fé e confiança
são intimamente aliadas, Niklas Luhmann faz uma distinção entre as duas que é a
base de sua obra sobre o tema. A confiança, diz ele, deve ser compreendida
especificamente em relação ao risco, um termo que passa a existir apenas no
período moderno. A noção se originou com a compreensão de que resultados
inesperados podem ser uma consequência de nossas próprias atividades ou
decisões, ao invés de exprimirem significados ocultos de natureza ou intenções
inefáveis da Deidade. Mas “risco”, substitui em grande parte o que antes era
pensado como fortuna (fortuna ou destino) e torna-se separado das cosmologias.
A confiança pressupõe, segundo Giddens, consciência das circunstâncias de
risco, o que não ocorre com a crença. Tanto a confiança como a crença se
referem a expectativas que podem ser frustradas ou desencorajadas. A crença,
como Niklas Luhmann a emprega, se refere a atitude mais ou menos certa de que
as coisas similares permanecerão estáveis.
Ipso facto, com
mais de 44 milhões de habitantes, ou estatisticamente 22% da população
brasileira, São Paulo representa o estado mais populoso do Brasil, a terceira
unidade política mais populosa da América Latina, sendo superado pela Colômbia
e o restante da federação brasileira e a subdivisão nacional mais populosa do
continente americano. A população paulista é uma das mais diversificadas do
território nacional e descende de portugueses, colonizadores do Brasil e
instalaram os primeiros assentamentos europeus na região. De povos ameríndios
nativos, povos africanos, e principalmente de italianos, que começaram a
emigrar para o país no fim do processo civilizatório do século XIX, e de
migrantes de outras regiões do país. Grandes correntes imigratórias de árabes,
alemães, espanhóis, japoneses e chineses, tiveram presença significativa na
composição étnica da população glocal.
A área que hoje corresponde ao território paulista já era habitada etnologicamente
por povos indígenas desde aproximadamente 12000 a. C.
O
fato, porém, é que uma representação coletiva dessa identificação tem de
existir fora dos indivíduos, para que eles com ela se identifiquem e a assumam
tão plausivelmente, que os mais os aceitem numa mesma qualidade coparticipada.
Numa primeira instância, essa função é o reconhecimento de peculiaridades
próprias que tanto diferencia e o opõe aos que não possuem como o assemelha e
associa aos que portam igual peculiaridade. Quando se diz: nossos negros, a
referência é a cor da pele; quando se fala de mestiços, aponta-se
secundariamente para isso. Mas o relevante é que uns e outros são brasileiros,
qualidade geral que transcende suas peculiaridades. O surgimento de uma etnia
brasileira, inclusiva, que possa envolver e acolher a gente variada que aqui se
juntou, passa tanto pela anulação das identificações étnicas de índios,
africanos e europeus, como pela indiferenciação
entre as várias formas de mestiçagem, como os mulatos (negros com brancos),
caboclos (brancos com índios), ou curibocas (negros com índios). Só por esse
caminho, todos eles chegam a ser uma gente só, que se reconhece como igual em
alguma coisa tão substancial que anula suas diferenças e os opõe a toas as
outras gentes. Dentro do novo agrupamento, cada membro, como pessoa, permanece
inconfundível, mas passa a incluir sua pertença a certa identidade coletiva.
O Complexo Penitenciário do Carandiru, que se notabilizou recentemente
por sua superlotação, má administração e pelos massacres violentos que ali
ocorreram, foi - por ocasião de sua inauguração - considerado um
presídio-modelo, tendo sido projetado para atender às novas exigências do
Código Penal republicano de 1890, de acordo com as melhores recomendações do
Direito Positivo. O projeto do presídio que venceu a licitação foi inspirado no
Centre Pénitentiaire de Fresnes, na
França, no modelo dito “espinha de peixe” que ainda existe - em funcionamento
até hoje - nos arredores de Paris e recebeu o título de “LaboraviFidenter”. Foi
elaborado pelo engenheiro-arquiteto Giordano Petry, tendo, no decorrer de sua
execução, sofrido algumas adequações feitas por Ramos de Azevedo, razão pela
qual esse último costuma ser citado, incorretamente, como sendo seu autor. O
caso do chamado “Massacre do Carandiru” ficou conhecido internacionalmente “como
o maior massacre do sistema penitenciário brasileiro”.
Por
envolver um grande número de réus e de vítimas, o julgamento do Massacre do Carandiru foi desmembrado em
quatro etapas, de acordo com o que ocorreu em cada um dos quatro andares do Pavilhão 9 da Casa de Detenção. A
linguística estrutural introduz e ressalta a importância do eixo sincrônico
para o estudo da língua, o que significa dizer que a significação das palavras
depende do sistema da língua e que a dimensão diacrônica ou histórica não é
suficiente para tal estudo. Contudo, é claro a coincidência de desmembramento
de corpos no Massacre de Carandiru
associado à dimensão histórico-estrutural como identificação da perspectiva
autoritária na sociedade brasileira. Na primeira etapa, em abril, 23 policiais
militares foram condenados pela morte de 13 detentos, ocorrida no segundo
pavimento. Carandiru é um bairro da zona norte da cidade de São Paulo. Recebeu
este nome, pois o córrego Carandiru banhava a histórica Fazenda de Sant`Ana “que
originou a maioria dos bairros da zona nordeste paulistana”. Parte do bairro
situa-se no distrito de Vila Guilherme e parte no distrito de Santana. O
Carandiru é nacionalmente conhecido por ter abrigado a Casa de Detenção de São
Paulo, conhecida popularmente como o “Carandiru”, atual Parque da Juventude. Em
2 de outubro de 1992 uma briga entre presos da Casa de Detenção de São Paulo -
o Carandiru - deu início a um tumulto
no Pavilhão 9, que culminou com a invasão da Polícia Militar e o fuzilamento de
111 detentos numa operação de “crime de guerra”.
Há
exatos dez anos, entre os dias 12 e 20 de maio de 2006, pelo menos 564 pessoas
foram mortas no estado de São Paulo, segundo levantamento da Universidade de
Harvard, a maioria em situações que indicam a participação de policiais. A
maior parte dos casos asseguram pesquisadores, fazia parte de uma ação de
vingança dos agentes de segurança do Estado contra os chamados ataques da
facção Primeiro Comando da Capital
(PCC), que se concentraram nos dois primeiros dias do período. A chacina
daquele ano ficou conhecida como Crimes de Maio, a maior do século 21 e talvez
a maior da história do país - para efeito de comparação, em toda a última
ditadura civil-militar, que durou 21 anos, 434 pessoas foram mortas pelo
Estado. Uma década depois do massacre de 2006, apenas um agente público foi
responsabilizado pelas mortes. Condenado, ele responde a recurso em liberdade e
continua atuando como policial militar. O gritante número de assassinatos e o
desinteresse da Justiça em punir os responsáveis deu origem ao movimento Mães de Maio, formado principalmente por
familiares das vítimas do massacre. Mais do que justiça para os próprios filhos,
construíram, uma démarche de atuação e luta por justiça, um movimento social dinâmico,
com o “social irradiado”, de combate aos crimes letais do Estado ocorridos no
âmbito democrático, transformando-se em referência para famílias preocupadas
com a marcha fúnebre que vitima milhares de pessoas durante muitos anos no
Brasil.
Assim
como no Brasil, nos Estados Unidos da América (EUA) a superlotação e a disputa
de gangues, além da dificuldade de ressocialização, estão entre os principais
problemas do sistema penitenciário. A população encarcerada é de cerca de 2,3
milhões nos Estados Unidos. País com o maior número de presos no mundo - são
753 para cada 100 mil habitantes. O Brasil é o quarto colocado na lista dos
países com mais detentos. Assim como no Brasil, comparativamente nos EUA a
superlotação e a disputa de gangues, além da dificuldade de ressocialização,
estão entre os principais problemas do sistema penitenciário. - “Meu olhar é
estrangeiro, mas nos dois episódios [no Amazonas e em Roraima] vimos como ponto
comum a luta entre as gangues para controle interno e externo sobre o mercado
de drogas”, disse o juiz federal norte-americano Peter Messitte, em entrevista
à Agência Brasil. - “Aqui nos Estado
Unidos, as gangues nas prisões se dividem também pela raça e etnia”. Segundo dados
estatísticos do Federal Bureau of
Prisions (“Agência Federal de Prisões”), a maioria dos detentos do país é
formada por pessoas brancas (69%), 12% são negros e 12,5% são os chamados “hispânicos”. Os Estados Unidos têm mais de 6 mil
presídios, entre federais, estaduais e locais, além de centros de detenção
militares para adolescentes e imigrantes, sendo que boa parte dos presídios
estaduais é administrada por empresas privadas. Débora
Maria da Silva, fundadora do grupo Mães de Maio, perdeu o filho nos ataques de
maio de 2006 em São Paulo. Olívia Soulaba/Movimento Mães de Maio.
No
dia 11 de maio de 2006 a Secretaria de Administração Penitenciária do estado de
São Paulo havia decidido transferir 765 presos para a penitenciária 2 de Presidente
Venceslau, unidade de segurança máxima no interior paulista. As transferências ocorreram
após a técnica de escutas telefônicas
no presídio terem revelado que facções planejavam rebeliões para o Dia das Mães. Entre os presos a serem
transferidos estava Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder da
organização criminosa Primeiro Comando da
Capital (PCC). No dia 12 de maio de 2006, véspera do final de semana do Dia das Mães, presídios de São Paulo
passaram a registrar dezenas de rebeliões. Em represália às medidas, o PCC
articulou rebeliões em 74 penitenciárias do complexo prisional do estado. Na
madrugada de sexta-feira, dia 12, agentes penitenciários, policiais, viaturas,
delegacias de polícia, cadeias e prédios públicos passaram a ser alvo de ataques da organização criminosa em todo
o estado. As facções criminosas que agem nos presídios como gangues ou cartéis,
em verdade, nada mais fazem do que se aproveitar do abandono e esvaziamento do poder
do Estado.
Em
primeiro lugar, segundo a pesquisa qualitativa “São Paulo sob Achaque:
Corrupção, Crime Organizado e Violência Institucional em maio de 2006”,
elaborado pela Clínica de Direitos
Humanos da Faculdade de Direito de Harvard e pela Justiça Global, a
corrupção no sistema carcerário e nas investigações policiais e o descaso com a
execução penal no estado de São Paulo também contribuíram para os ataques. De
acordo com a análise social, a denúncia, baseada em gravações, de que um
investigador de polícia aparece como principal participante do sequestro e
extorsão, em 2005, do enteado do suposto líder do PCC, o Marcola, foi um
estopim para os ataques. Para libertarem o enteado de Marcola, os sequestradores
pediram valores em torno de R$ 300 mil. Horas antes do ataque, dia 12 de maio
de 2006, Marcola esteve no Departamento
de Investigações Sobre Crime Organizado (DEIC) e havia falado sobre o
sequestro. As teorias sociais aproximam a categoria “banditismo social” como
proposto por Eric Hobsbawm à ausência e/ou ineficiência da burocracia
administrativa do Estado, onde se inferem políticas públicas, analisando as
formações históricas onde conviveram os bandidos reais ou imaginários que
estudou. No Brasil, a maior organização criminosa é o “Primeiro Comando da
Capital” (PCC), que atua no estado de São Paulo. O Estado brasileiro é forte
para derrubar governos legítimos, através do “golpe de Estado legal”, na
expressão de Michael Löwy, eleitos democraticamente, através das técnicas de
golpe de Estado, mas intencionalmente fraco, para investir em sistemas
prisionais modernos, eficazes, articulados em torno do sistema em rede
econômico e privatista.
Vale
notar que o final do século XX também marca outra notável mudança em muitos
países latino-americanos: a transição de ditaduras para a democracia, os casos
mais conhecidos historicamente sendo os do Brasil, Argentina, Uruguai e Chile.
No entanto, paradoxalmente, a mudança democratizante não teve qualquer impacto
progressivo na aplicação da lei penal. A militarização do sistema penal contribuiu
para assegurar que o despotismo latino-americano sobrevivesse à
redemocratização. Na América Latina, “modernizadores” das prisões
rotineiramente enfrentam resistências em todos os níveis políticos, desde a
falta de recursos estatais ou de controle sobre práticas locais até uma
tradição autoritária culturalmente enraizada, que não só permeia as relações
entre elites e classes subalternas, mas se reproduz nessas últimas em uma
aparentemente interminável cadeia de comportamentos abusivos e despóticos.
Em
segundo lugar, num contexto histórico, político e social de globalização de
mercados, de crescentes intercâmbios políticos e ativismo internacional, tornam-se
ainda mais importante explorar os contextos políticos e culturais em que são formados
os sistemas de justiça em diferentes países e regiões. Há pouca evidência de
qualquer iniciativa internacional no campo da reforma prisional com impacto
real e significativo na América Latina, contrastando com a agenda internacional
de direitos humanos/terapia profissional, encontram particular ressonância na
América Latina: a militarização da justiça criminal e, praticamente o oposto da
dita reabilitação, a securitização do
ambiente prisional. Nesses aspectos, a América Latina é e sempre foi líder
mundial. No que se refere à militarização da justiça criminal, sua liderança se
reforça no contexto imperialista norte-americano da “guerra às drogas”,
declarada em 1971, nos Estados Unidos da América, pelo ex-presidente Richard
Nixon, se espraiando por todo o continente latino-americano. Focalizando
intensamente nos países produtores e distribuidores latino-americanos de
cocaína e maconha, a “guerra às drogas” tem desenvolvido um expressivo impacto social
negativo nos sistemas penais da
região.
Pavilhão 9 após massacre de presos.
A Central Intelligence Agency (CIA) é literalmente
a temerosa agência de inteligência responsável por investigar e fornecer
informações de segurança nacional. Seus senadores também se engajam em
atividades políticas secretas, a pedido do presidente dos Estados Unidos, e
suas responsabilidades alteraram-se significativamente em 2004. A lei
preventiva da “Reforma da Inteligência e Terrorismo”, de 2004, criou o cargo de
Diretor de Inteligência Nacional
(DNI), que assumiu alguns do governo e IC-gama de funções. O DNI gerencia o IC
e, portanto, do ciclo de inteligência. As funções que se mudaram para o DNI
incluíram a preparação de estimativas de parecer consolidadas do IC 16
agências, e a preparação de briefings
para o presidente do Estado norte-americano. O grande silêncio das coisas
muda-se no seu contrário através da mídia. Ontem “constituído em segredo”,
observa Michel de Certeau, “agora o real tagarela. Só se veem por todo o lado
notícias, informações, estatísticas e sondagens”.
Jamais
houve uma história que tivesse falado ou demonstrado tanto. Jamais, com efeito,
os ministros dos deuses os fizeram falar de uma maneira tão contínua, tão
pormenorizada e tão injuntiva como o fazem hoje os produtores de revelações e
regras em nome da atualidade. Os relatos do-que-está-acontecendo constitui a
nossa ortodoxia. Os debates de números são as nossas guerras teológicas. Os
combatentes não carregam mais as armas de ideias ofensivas ou defensivas.
Avançam camuflados em fatos, em dados e acontecimentos. Apresentam-se como os
mensageiros de um “real”. Sua atitude assume a cor do terreno econômico e
social. Quando avançam, o próprio terreno parece que também avança. Mas, de
fato, eles o fabricam, simulam-no, usam-no como máscara, e atribuem a si o
crédito dele, criam assim o que se diagnostica como a lei. Contudo, grande
parte da chamada “população” carcerária latino-americana é formada por “presos
provisórios”. Mas referenciar à população lembrava Marx, “é uma abstração se
desprezarmos, por exemplo, as classes sociais de que se compõem as sociedades”.
Por
seu lado, essas classes são uma palavra oca se ignorarmos os elementos em que
repousam: o trabalho assalariado, o capital, etc. Estes supõem a troca, a divisão
do trabalho, os preços etc. Mas o capital, sem o trabalho assalariado, sem o
valor, sem o dinheiro, sem o preço etc., não é nada. Assim, se começássemos
pela população teríamos uma visão caótica do todo, e através de uma
determinação mais precisa, através de uma análise, chegaríamos a conceitos cada
vez mais simples. Do concreto figurado passaríamos a abstrações cada vez mais
delicadas até atingirmos as determinações mais simples. É necessário caminhar
em sentido contrário e finalmente de novo à população, desta vez, não mais a
representação caótica de um todo. Mas uma rica totalidade de determinações abstratas
e de relações numerosas. Este método de análise é concreto por ser a síntese de
múltiplas determinações, unidade da diversidade, e de síntese, enquanto um
resultado, e não um ponto de partida per
se. Apesar de ser o verdadeiro ponto de partida da observação (empírica) imediatamente
e da representação que conduzem à reprodução do concreto analiticamente pela
via do pensamento.
No
Brasil, ao final de 2012, 41% dos 548.003 indivíduos em instituições penais
eram presos provisórios. Também nesse ponto índices similares podem ser
encontrados comparativamente em outros países latino-americanos: Peru (54%);
Equador (64%); Honduras (62%); Colômbia (35%); El Salvador (29%). Na Argentina,
Brasil e Guatemala, é anormal tantos presos esperarem vários anos até serem
julgados. As altas taxas de prisões provisórias indicam que princípios
inscritos nas declarações internacionais de direitos humanos e constituições
democráticas, especialmente “a presunção de inocência”, não são respeitados.
Conforme tais normas, qualquer indivíduo acusado de um crime há de ter o
direito de ser visto e tratado como inocente durante o processo: efeitos da
condenação só podem repercutir sobre a pessoa após ser esta condenada em uma
decisão definitiva regularmente imposta (uma decisão imposta em conformidade
com o devido processo legal e não mais sujeita a qualquer recurso). A presunção
de inocência implica o fato de que quaisquer prisões provisórias sejam medidas
excepcionais somente imponíveis nas raras ocasiões em que se demonstrem
necessárias para assegurar o normal desenvolvimento do processo. No entanto,
como indicam as altas taxas acima mencionadas, o encarceramento antes de uma
condenação definitiva tornou-se a regra e não a exceção em muitas partes da
América Latina.
Estes
relatos etnográficos têm o duplo e estranho poder de mudar o ver num crer, e de
fabricar real com aparências. Dupla inversão. De um lado, a modernidade, outrora nascida de uma
vontade observadora que lutava contra a credulidade e se fundava num contrato
entre a vista e o real, transforma agora essa relação e deixa ver precisamente
o que se deve crer. A ficção define o campo, o estatuto e os objetos da visão.
Assim funcionam os “mass media”, a publicidade ou a representação política.
Hoje, a ficção pretende presentificar o real, falar em nome dos fatos e,
portanto, fazer assumir como referencial a semelhança que produz. Essa
reviravolta do terreno onde se desenvolvem as crenças resulta de uma mutação
nos paradigmas do saber: a invisibilidade do real, postulado antigo, cedeu o
lugar à sua visibilidade. A cena sociocultural da modernidade remete a um mito. Define o referente social por sua
visibilidade, e, portanto, por sua representatividade científica ou política;
articula-se em cima deste novo postulado (crer real e visível) a possibilidade
de nossos saberes, de nossas observações empíricas, de nossas provas e nossas
práticas sociais. Nesta nova cena, campo indefinidamente extensível das
investigações óticas e de uma pulsão escópica, subsiste ainda a estranha coalizão
entre o crer e a questão do real, do visto, do observado ou do mostrado.
As estratégias
são ações que, graças ao postulado de um lugar de poder, elaboram lugares
teóricos, capazes de articular um conjunto de lugares físicos onde as forças se
distribuem. Elas combinam esses três tipos de lugar e visam dominá-los uns
pelos outros. Privilegiam, portanto, as relações espaciais. Ao menos procuram
elas reduzir a esses tipos as relações temporais pela atribuição analítica de
um lugar próprio a cada elemento particular e pela organização combinatória dos
movimentos específicos a unidades ou a conjuntos de unidades. Violência,
democracia e direitos humanos são temas-chave dos pesquisadores do NEV, o Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da
Universidade de São Paulo - USP. Ativo desde 1987, o núcleo acaba de ser, mais
uma vez, designado como Centro
Colaborador da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), organismo de
saúde pública vinculada à Organização
Mundial da Saúde (OMS). Os centros integram uma rede colaborativa
internacional para a realização de atividades técnicas e suporte aos programas
da OMS. O NEV assume mais uma vez o compromisso, com foco na prevenção da
violência, principalmente entre jovens. Enfim, o modelo para isso foi antes o
militar que o científico. As táticas
são procedimentos que valem pela pertinência que dão ao tempo – às
circunstâncias que o instante preciso de uma intervenção transforma em situação
favorável, à rapidez de movimentos que mudam a organização do espaço, ás
relações entre momentos sucessivos de um golpe, como na política, aos
cruzamentos possíveis de durações e ritmos heterogêneos. As estratégias apontam
para a resistência que o estabelecimento de um lugar oferece ao gasto do tempo;
as táticas apontam para uma hábil utilização do tempo, das ocasiões de um
poder. Os métodos praticados pela arte da guerra cotidiana jamais se apresentam
sob uma forma nítida, nem por isso - last
but not least - menos certo que apostas feitas no lugar ou no tempo
distinguem as maneiras estruturantes de sentir, pensar e agir.
Bibliografia
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Argumento. Revista de História do Tempo Presente. Florianópolis: vol. 08, nº 19, pp. 04-33,
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Dissertação de Mestrado. Programa de
Pós-Graduação em Comunicação. Departamento em Processo Comunicacionais. São
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Tempo e Argumento. Florianópolis, vol. 8, nº 19, pp. 04‐33, set./dez. 2016; DIAS, Camila Nunes, “Pacificação em São Paulo, Caos no Brasil. Tendências e Debate”. In: Folha de S. Paulo, 17 de janeiro de 2017; entre outros.
“No somos suficientemente inteligentes para saber que és la inteligencia”. Hans Magnus Enzensberger
A
cultura da Grécia Antiga é a base sobre a qual se eleva acultura da civilização
ocidental. Como sabemos, exerceu poderosa influência sobre os romanos, que se
encarregaram de repassá-la a diversas partes da Europa. A civilização grega
antiga teve influência na linguagem, na política, no sistema educacional, na
filosofia, na ciência, na tecnologia, na arte e na arquitetura moderna,
particularmente durante a renascença da Europa ocidental e de resto durante os
diversos reviverem neoclássicos dos séculos XVIII e XIX. Conceitos sociológicos
como cidadania e democracia são gregos, ou pelo menos de pleno desenvolvimento
nos manuscritos dos gregos. Os historiadores e escritores políticos cujos
trabalhos sobreviveram ao tempo eram, em sua maioria, atenienses ou pró-atenienses
e todos conservadores. Por isso se conhece melhor a história de Atenas do que a
história das outras cidades. Esses homens concentraram seus
trabalhos em aspectos políticos, militares e diplomáticos, ignorando o que veio
a se conhecer modernamente por áreas de conhecimento em história econômica e
social. O homem é criação propiciada pelo processo real de transformação da
realidade e por uma formação ideal exagerada da imaginação que faz
a essência do homem criadora.
A possibilidade real, a ocasião
apriorística desse modo de comportamento que chamamos amor, fará surgir, se for
o caso, e levará à consciência, como um sentimento obscuro e geral, inicial de
sua própria realidade, antes mesmo que a ele se some a incitação por um objeto
determinado para levá-lo a seu efeito acabado.
A existência desse impulso sem objeto, por assim dizer incessantemente
fechado em si, acento premonitório do amor, puro produto do interior e, no
entanto, já acento de amor, é a prova mais decisiva em favor da essência
central puramente interior do fenômeno amor, muitas vezes dissimulado sob um
modo de representação pouco claro, segundo o qual o amor seria uma espécie de
surpresa ou de violência vindas do exterior, tendo su símbolo mais pertinente
no “filtro do amor”, em vez de uma maneira de ser, de uma modalidade e de uma
orientação que a vida como tal toma por si mesma – como se o amor viesse de seu
objeto, quando, na realidade, vai em direção a ele. De fato, o amor é o
sentimento que, fora dos sentimentos religiosos, se liga mais estreita e mais
incondicionalmente a seu objeto. À acuidade com a qual ele brota do sujeito
corresponde a acuidade igual com que ele se dirige para o objeto. É que nenhuma
instância vem se interpor. Se venero alguém. É pela qualidade de venerabilidade
que, em sua realidade, permanece ligada à imagem pelo tempo quanto eu o venerar, passível de adoração, contemplação e respeito.
Por
mais insuficiente, por mais preso a um estreito simbolismo humano que esteja o conceito de objetivo e de meios em presença
da misteriosa realização da vida, devemos qualificar essa emoção sexual de meio
de que a vida se serve para a manutenção da espécie, confiando aqui a
consecução desse objetivo não mais a um mecanismo (no sentido lato) mas a
mediações psíquicas. Enfim, a pulsão, dirigida a princípio, tanto no sentido
genérico quanto no sentido hedonista, ao outro sexo enquanto tal, parece ter
diferenciado cada vez mais seu objeto, à medida que seus suportes se
diferenciavam, até singularizá-lo. Claro, sabemos que a pulsão não se torna
amor pelo simples fato de sua individualização; esta última pode ser
refinadamente hedonista, ou instinto vital-teleológico para o parceiro apto a
procriar os melhores filhos. Mas,
indubitavelmente, ela cria uma disposição formativa e, por assim dizer, um
marco para essa exclusividade que constitui a essência do amor, mesmo quando
seu sujeito se volta para uma pluralidade de objetos. Não duvidamos em absoluto
que no seio do que se chama “atração dos sexos” constitui-se o primeiro factum,
ou, se quiserem, a prefiguração do amor. A vida historicamente se metamorfoseia nessa
produção social, traz sua corrente à altura dessa onda cuja crista vital, de desenvolvimento, sobressai acima dela. Se considerarmos o
processo da vida como um dispositivo de meios a serviço desse objetivo e se
levarmos em conta seu significado efetivo para a propagação da espécie, então
este também é um dos meios que a vida se dá para si e a partir de si.
Do
mesmo modo, no homem que temo, o caráter terrível e o motivo que o provocou
estão intimamente ligados; mesmo o homem que odeio não é, na maioria dos casos
separado em minha representação da causa desse ódio – é esta uma das diferenças
entre amor e ódio que desmente a assimilação que comumente se faz deles. Mas o
específico do amor é excluir do amor existente a qualidade mediadora de seu
objeto, sempre relativamente geral, que provocou o amor por ele. Ele permanece
como intenção direta e centralmente dirigida para esse objeto, e revela a sua
natureza verdadeira e incomparável nos casos em que sobrevive ao
desaparecimento indubitável do que foi sua razão de nascer. Essa constelação,
que engloba inúmeros graus, desde a frivolidade até a mais alta intensidade, é
vivida segundo o mesmo modelo, seja em relação a uma mulher ou a um objeto, a
uma ideia ou a um amigo, à pátria ou a uma divindade. Isso deve ser solidamente
estabelecido em primeiro lugar, se quisermos elucidar em sua estrutura seu
significado mais restrito, o que se eleva no terreno da sexualidade. A
ligeireza com que a opinião corrente alia instinto sexual a amor lança talvez
uma das pontes mais enganadoras na paisagem psicológica exageradamente rica em
construções desse gênero. Quando, ademais, ela penetra no domínio da psicologia
que se dá por científica, temos com demasiada frequência a impressão de que
esta última caiu nas mãos de açougueiros. Por outro lado, o que é óbvio, não
podemos afastar pura e simplesmente essa relação.
Para que a espécie humana pudesse
sobreviver, a psique precisou ser socializada e dar sentido a um mundo
aparentemente sem-sentido natural-biológico. Ao criar as significações,
institui-se a sociedade que é a origem de si mesma. Não se poderia pensar a
humanidade fora do mundo de significações, ou a subjetividade, a partir do
termo “para si”, das representações das instituições sociais. O “para si” é
inferido a partir das instancias, interdependentes, em que todas existem, mas
nenhuma se mantém sem a outra, numa completa relação de atividade e
reciprocidade representando a totalidade do sujeito. Enfim, Cornelius Castoriadis
admite que é impossível fazer filosofia sem uma ontologia, segundo o
aristotelismo, parte da filosofia que tem por objeto o estudo das propriedades
mais gerais do ser apartada da infinidade de determinações que, ao qualificá-lo
particularmente, ocultam sua natureza plena e integral. isto é, sem uma
interrogação sobre o ser, mas, ao contrário do que possa pensar aquele para
quem ontologia soa como “palavra proibida”, sua reflexão é inteiramente
articulada à questão política. Não sendo, pois, uma idealização, mas um
pensamento radical sobre a possibilidade de uma sociedade na qual os homens
tenham consciência de seu poder. Por sua vez, o imaginário radical enquanto
imaginário social aparece como corrente do coletivo anônimo, traduzindo-se na
sociedade e no que para o social-histórico é posição, criação e fazer ser. Duas
dimensões não incomunicáveis nem estáticas, embora a dimensão psíquica, tenha participação oculta na formação do que é próprio na
criação.
Em
H. M. Enzensberger, a inteligência é vista como uma ferramenta crucial para a
compreensão do mundo e para a resolução de problemas, incluindo a própria
existência. A inteligência não é apenas uma capacidade cognitiva, mas também
uma força vital que permeia a organização dos sistemas, incluindo os seres
vivos, e que permite a adaptação e a sobrevivência. A literatura de
Enzensberger, em particular, destaca a inteligência em ação, utilizando-a para
analisar e criticar a sociedade, a cultura e a política. A inteligência,
segundo Enzensberger é essencial para a sobrevivência. A capacidade de
encontrar soluções e adaptar-se a novas situações é fundamental para a
existência de qualquer sistema, seja ele vivo ou não. Uma força organizadora,
pois, atua na organização e na manutenção da ordem em sistemas complexos,
incluindo o próprio corpo humano e a sociedade. Presente em todas as formas de
vida, pois, a inteligência não é exclusiva da espécie humana, mas é uma
característica presente em todos os seres vivos, manifestando-se de diferentes
formas. A inteligência é um elemento central na obra de Enzensberger,
especialmente na sua poesia, onde é usada para analisar e criticar o
mundo. A inteligência não é estática, mas sim um processo contínuo de
aprendizado e adaptação, capaz de se renovar e evoluir. A obra de Enzensberger,
especialmente “Destinatário: Desconhecido”, demonstra, realmente, como a
inteligência pode ser usada para lidar com a complexidade do mundo, intrincada
teia de interconexões e interdependências que caracterizam os sistemas sociais,
naturais e tecnológicos e, portanto, para
questionar as estruturas de poder e de conhecimento existentes.
Hans
Magnus Enzensberger nasceu em 1929, em Kaufbeuren, Suábia, Alemanha quando
vivenciou ainda adolescente a 2ª guerra mundial, pois em 1945, aos 16 anos, foi
recrutado para as chamadas tropas Volkssturm (milícia popular alemã),
convocadas nos últimos dias de guerra pela Wehrmacht. Antes da chegada da Era Autoritária ao poder, o termo Wehrmacht era usado em sentido geral para
descrever as forças armadas de qualquer nação. Por exemplo, o termo “Britische
Wehrmacht” referia-se às forças armadas britânicas. Mas é um termo alemão que
significa “Força de Defesa”, e que pode ser entendido como meios/poder de
resistência, referiu-se ao conjunto das forças armadas da Alemanha durante o
Terceiro Reich entre 1935 e 1945 e englobava o Exército (“Heer”), Marinha de
Guerra (“Kriegsmarine”), Força Aérea (“Luftwaffe”) e tropas das Waffen-SS, que
apesar de não serem da Wehrmacht, eram frequentemente dispostas junto às suas
tropas. Substituiu a anterior Reichswehr, criada em 1921, após a derrota
alemã na 1ª grande guerra. Em 1955, as novas forças armadas alemãs foram
reorganizadas sob o nome de Bundeswehr. Durante os dez anos de sua
existência, aproximadamente 18 milhões de combatentes serviram na Wehrmacht.
Cerca de 3,5 milhões morreram em combate na 2ª guerra mundial, sendo 88% na
frente russa.
Após
a morte do presidente Paul von Hindenburg (1847-1934) em 2 de agosto de 1934,
todos os oficias e soldados das forças armadas da Alemanha fizeram um juramento
de lealdade à tirania. Em 1935, a Alemanha começou a desprezar
deliberadamente as restrições do Tratado de Versalhes, e o alistamento foi
reintroduzido em 16 de março de 1935. A lei de alistamento traria o novo nome Wehrmacht,
cujo símbolo seria uma “versão estilizada da Cruz de Ferro”. A existência da Wehrmacht,
termo alemão que significa força de defesa, foi oficialmente anunciada em 15 de
outubro de 1935. Acredita-se que o número de soldados que nela serviram durante
sua existência de 1935 a 1945 seja de aproximadamente 18,2 milhões. Discípulo de Adorno e Horkheimer alguns de
seus trabalhos de caráter político mais conhecido referem-se à sua concepção
teorética sobre a chamada “indústria cultural” (cf. Enzensberg, 1966).
Especialmente profética é a consciência do poder da mídia.
Movido por uma intransigência política que o leva a negar o discurso triunfante
do “capitalismo tardio”, um dos conceitos mais mencionados ao se discutir seu
approach é à noção Weltekel, ou “nojo do mundo”.
Sua
raiva parece dirigir-se primordialmente contra a tendência contemporânea à
passividade política enquanto “mito do progresso” (cf. Catarino, 1988). Segundo
Hans Magnus Enzensberger, o término de ideologias hegemônicas fez eclodir
guerras civis que, em meados dos anos 1990, atingiam a marca de pelo menos
quarentas casos de grande gravidade em âmbito global (cf. Enzensberger, 1976;
1985; 1995). Do ponto de vista globalidade Enzensberger admite que as utopias
fossem, sem exceção, “plantas europeias” para a edificação de sociedades
utópicas, em que não mais Adão mandava, mas o Novo Homem. As tentativas
terminaram em ressaca, vide o “Anno Mirabilis” de 1989 que como representação
da queda, ou colapso do Muro de Berlim um símbolo não só da chada Guerra Fria,
e em grande parte do contemporâneo mundo ocidental também foi muito “quente”, mas também a divisão
política internacional da Europa depois de 1945. Em meados de 1942, a Wehrmacht
- as forças armadas terroristas nazistas - e as tropas do Eixo democrático já ocupavam boa parte da
Europa continental, do Norte da África e quase um quarto do território
soviético. Contudo, após falharem em conquistar Moscou e serem derrotados em
Stalingrado, as forças nazistas retrocederam.
A entrada dos Estados
Unidos da América na guerra ao lado dos Aliados forçou a Alemanha a ficar na defensiva,
acumulando uma série de derrotas a partir de 1943. Nos últimos dias do
conflito, durante a Batalha de Berlim em 1945, Hitler se casou com Eva Braun sua
amante de longa data, Eva Braun. No dia 30 de abril de 1945, os dois cometeram
suicídio para evitar serem capturados pelo exército vermelho. Seus corpos foram
queimados e enterrados. Uma semana mais tarde a Alemanha se rendeu formalmente.
Sob a liderança de Adolf Hitler, com uma ideologia racialmente motivada, o
regime nazista perpetrou um dos maiores genocídios da história da humanidade,
matando pelo menos 6 milhões de judeus e milhares de outras pessoas que Hitler
e seus seguidores consideravam como Untermenschen (sub-humanos) e
socialmente indesejáveis. Os nazistas também foram responsáveis pela morte de
mais de 19,3 milhões de civis e prisioneiros de guerra. Além disso, no total,
29 milhões de soldados e civis morreram como resultado do conflito na Europa
durante a II Guerra Mundial (1939-1945). O número de fatalidades neste
conflito foi sem precedentes e ainda é uma das guerras mais mortais da
história. Como
um dos mentores do movimento estudantil na Alemanha, H. M. Enzensberger manteve sua
condição interessada de escritor e analista político, postura que se perpetuou mais tarde,
quando criticou o ideário individual (sonho) e coletivo (rito, mito, símbolo) já desgastado da esquerda, segundo seu biógrafo Jörg
Lau (1999), nascido em 1964, editor no semanário alemão Die Zeit.
As suas áreas temáticas são o Islão, o liberalismo, a
integração e a religião. Publicou vários ensaios, o mais recente dos quais – Leitkultur – sobre o novo patriotismo e
a cultura de esquerda resultantes do fato de a Alemanha se ter tornado um país
de imigração. Imediatamente após a guerra, “ganhou a vida” comercializando no
mercado paralelo. Contudo, estudou Literatura e Filosofia nas universidades de
Erlangen, Freiburg, Hamburgo e na Sorbonne, onde se doutorou em 1955. Trabalhou
como Redator na rádio de Stuttgart e exerceu a docência até 1957, com o volume
de poesias Verteidigung der Wölfe. Em
1963, com 33 anos de idade, foi um dos autores mais jovens a receber o
prestigioso Prêmio Georg Büchner. Entre 1965 criou a revista Kursbuch e em 1975 foi membro do Grupo 47, e desde 1985 como Editor da
série literária Die Andere Bibliothek.O
Prêmio Georg Büchner é o mais importante prêmio literário da literatura alemã.
Seu nome homenageia o escritor e dramaturgo alemão Georg Büchner (1813-1837). O
prêmio foi fundado em 1923, na época da República de Weimar, pela câmara de
deputados do Estado Popular de Hesse (extinto em 1946, hoje: Hesse) para
decorar artistas ligados com Hessen. Entre 1933 e 1944 o prêmio foi substituído
por um prêmio da cidade alemã Darmstadt. Desde 1951 o Georg-Büchner-Preis é concedido
anualmente pela Deutsche Akademie für Sprache und Dichtung. A doação de
3.000 marcos alemães em 1951 subiu até 2004 para 40.000 Euros, sendo assim um
dos mais dotados prêmios literários da Alemanha.
Como é sabido, viajar para países distantes, continentais, era incomum entre
seus conterrâneos, mas o escritor, um viajante incansável, viveu na França,
México, Estados Unidos da América, Itália, Noruega, Cuba, União Soviética e,
desde 1979, mora em Munique. Foi considerado um rebelde por seus poemas agressivos
e seus textos em prosa. Em 2008 obteve o Prêmio Príncipe de Astúrias de Comunicación y Humanidades. A
psiquiatria nos ensina que uma fase depressiva facilmente reverte para um
quadro de mania e vice-versa. Algo nos faz supor que tal reviravolta repentina
pode ser observada não só em pacientes individuais como também em grandes
coletividades. Nos anos 1970 e 1980 a depressão parecia preponderante. Por toda
parte ensaiavam-se roteiros de decadência. A “Guerra Fria”, com seus bloqueios
e conflitos envolvendo nações-fantoche, havia causado a paralisia da política
internacional. Esboçaram-se catástrofes ambientais de todo tipo ideal. O Clube de Roma profetizou o esgotamento
de todos os recursos finitos a curtíssimo prazo. Tornou-se muito conhecido a
partir de 1972, ano da publicação do relatório intitulado: “Os Limites do
Crescimento”, elaborado por uma equipe do MIT - MassachusettsInstitute of
Technology, contratada pelo Clube de
Roma e chefiada por Dana Meadows. O relatório, que ficaria conhecido como “Relatório
do Clube de Roma” ou “Relatório Meadows”, tratava de problemas cruciais no
âmbito da sociedade pós-industrial.
Estava em curso o futuro da humanidade tais como energia, poluição, saneamento, saúde, ambiente, tecnologia e crescimento populacional, foi publicado e vendeu mais de 30 milhões de cópias em 30 idiomas, tornando-se o livro sobre ambiente mais vendido da história social e política. Fase um do Projeto sobre o Previsão da Humanidade tomou forma definitiva nas reuniões realizadas no verão de 1970, em Berna (Suíça), e Cambridge, Massachusetts (Estados Unidos da América). Em duas semanas na conferência em Cambridge, o professor
Jay Forrester do Instituto de Tecnologia
de Massachusetts (MIT) apresentou o modelo global que permitiu a
identificação clara de muitos componentes da problemática e sugeriu uma técnica
para analisar o comportamento e as relações mais importantes desses componentes.
Esta apresentação levou à fase um no fabuloso MIT, onde o trabalho pioneiro do prof. Forrester
e outros no campo disciplinar da dinâmica de sistemas criou um corpo de conhecimentos
excepcionalmente adequado para o desenvolvimento da pesquisa científica. Utilizando modelos matemáticos, o MIT
chegou à conclusão de que o planeta Terra não suportaria o crescimento devido à pressão gerada sobre os recursos naturais e energéticos e
ao aumento da poluição, tendo em conta o fulminante avanço científico e tecnológico.
A
Terra é o terceiro planeta mais próximo do Sol, o mais denso e o quinto maior
dos oito planetas do Sistema Solar. É também o maior dos quatro planetas
telúricos. É por vezes designada como Mundo ou Planeta Azul. Lar de milhões de
espécies de seres vivos, incluindo os seres humanos, a Terra é o único corpo
celeste onde é reconhecida a existência de vida. O planeta formou-se há 4,56
bilhões de anos, e a vida surgiu na sua superfície depois de um bilhão de anos.
Desde então, a biosfera terrestre alterou de forma significativa a atmosfera e
fatores abióticos do planeta, permitindo a proliferação de organismos
aeróbicos, como a formação da camada de ozônio, que em conjunto com seu campo
magnético, bloqueia radiação solar prejudicial, permitindo a vida no planeta. A
sua superfície exterior é dividida em segmentos rígidos, chamados placas
tectônicas, que migram sobre a superfície terrestre ao longo de milhões de
anos. Aproximadamente 71% da superfície é coberta por oceanos de água salgada,
com o restante consistindo de continentes e ilhas, contendo lagos e corpos de
água que contribuem para a hidrosfera. Os polos geográficos da Terra
encontram-se majoritariamente cobertos por mantos de gelo ou por banquisas. Uma
bomba-relógio é a designação sociológica de um artefato denominado bomba
que é acionada para detonação através de um período de tempo, geralmente
calculado por um relógio.
A
utilização dessa técnica, permite que o artefato seja abandonado ou alojado em
um local, sem a presença humana. Possui diversos propósitos, como fraude em
seguros, terrorismo, assassinato e como arma de guerra. A palavra também é
usada metaforicamente. - Esse problema é uma bomba-relógio significa algo que
algo deve ser feito para sua realização, antes que exploda. A carga explosiva é
o componente principal de qualquer bomba, e faz-se a maior parte do tamanho e
do peso da mesma. É o elemento nocivo da bomba juntamente com quaisquer
fragmentos ou estilhaços que a deflagração pode produzir com o seu recipiente
ou objetos vizinhos. A carga explosiva é detonada por um detonador. Trata-se um
mecanismo de uso de tempo. Uma bomba-relógio pode ser fabricada
profissionalmente, separadamente ou como parte do dispositivo, ou pode ser
improvisado a partir de um timer caseiro, como um despertador, relógio de
pulso, timer de cozinha digital ou manual, computador ou notebook. Ipso facto,
existem vários métodos e processos de trabalho através do qual o ponto de
ignição pode ser ajustado. Muitas vezes, é utilizado um relógio que pode ser ajustado
e é construída na bomba.
Em
outros modelos como as bombas que foram usados no atentado terrorista de
Dresden é um detonador química usado. Quando a bomba atinge o solo quebrando
uma cápsula de vidro com acetona. A acetona, dissolve-se lentamente numa
partição de plástico para uma quantidade de ácido. Este ácido reage com uma
substância química diferente, e conduz a explosão da bomba. Dependendo da
concentração de acetona na cápsula, o tempo de ignição pode ser definido para
mais ou para menos. Os principais tipos de bomba-relógio são: bomba de ação
retardada, bombas lançadas por aeronaves com um atraso para aumentar o dano,
dispositivo explosivo improvisado, bombas caseiras com um atraso para permitir
que a pessoa engajada que dispõe a bomba possa escapar e não ser percebida e, bombas
profissionais ou bélicas, onde tem sua utilidade de uso em atividades
pragmáticas. O interior da Terra permanece ativo e relativamente sólido, um
núcleo externo líquido que gera um campo magnético, e um núcleo interno sólido,
composto, sobretudo por ferro. A Terra interage com objetos em movimento
no espaço, em particular com o Sol e a Lua. A Terra orbita o Sol uma vez por
cada 366,26 rotações sobre o seu próprio eixo, o que equivale a 365,26 dias
solares ou representa um (01) ano sideral.
O
eixo de rotação da Terra possui uma inclinação de 23,4° em relação à
perpendicular ao seu plano orbital, reproduzindo variações sazonais na
superfície do planeta, com período igual a um ano tropical, ou, 365,24 dias
solares. A Lua é o único satélite natural reconhecido da Terra. O atual modelo
consensual para a formação da Lua é representado pela hipótese do grande impacto. É uma
hipótese astronômica que postula a formação da Lua através do impacto de um
planeta com aproximadamente o tamanho de Marte, reconhecido como Theia, com a
Terra. Ela é responsável pelas marés, estabiliza a inclinação axial da Terra e
abranda gradualmente a rotação do planeta. A Lua pode ter afetado
dramaticamente o desenvolvimento da vida ao moderar o clima do planeta.
Evidências paleontológicas e simulações de computador demonstram que a
inclinação axial do planeta é estabilizada pelas interações cíclicas de maré
com a Lua. Albert Einstein concluiu seu doutorado em Física, em 1905 e remeteu
para a Revista Anais de Física, em Leipzig, 30 folhas com 4 artigos,
entre eles a formulação inicial da sua famosa Teoria da Relatividade,
que revelaram ao mundo ocidental uma nova visão do Universo.
Ele
propôs uma formula para a equivalência entre massa e energia a célebre equação
E = mc², pela qual a energia (E) de uma quantidade de matéria, com massa (m), é
igual ao produto da massa pelo quadrado da velocidade da luz, representada por
(c). Seus estudos e questionamentos supõem o princípio da teoria atômica e da
energia nuclear. Após a publicação dos artigos seu talento é reconhecido
socialmente. Com 30 anos, tornou-se professor de Física na Universidade de
Zurique. No ano seguinte leciona na Universidade de Praga do Império
Austro-Húngaro. Em 1912 ocupou a cadeira de Física, da Escola Politécnica
Federal da Suíça. Em 1913, foi nomeado institucionalmente Privatdozent, um título
universitário próprio das universidades de língua alemã na Europa. Serve para designar
professores que receberam uma habilitação (livre-docência), além de reconhecimento
formal de uma aptidão e autorização para exercê-la, mas que não receberam a
cátedra de ensino ou de pesquisa. Por esta razão, lembrava Max Weber, o Privatdozent não recebe
nenhuma remuneração por parte do governo. Porém, esta é uma passagem
obrigatória antes de obter a cátedra para a Universidade de Berlim, Diretor do
Instituto Kaiser Wilhelm de Física e Membro da Academia de Ciências da
Prússia.
Em 25 de novembro de 1915, ele
subiu ao palco da Academia de Ciências da Prússia e declarou ter concluído sua
exaustiva pesquisa de uma década em busca de um entendimento novo e mais
profundo da gravidade. A Teoria da Relatividade Geral, afirmou Einstein, estava
concluída. A nova radical visão das interações entre espaço, tempo, matéria, a
energia e a gravidade foi um feito reconhecido como uma das maiores conquistas
intelectuais da humanidade. Em 1919, Einstein tornou-se reconhecido em todo o
mundo, depois que sua teoria foi comprovada em experiência realizada durante um
eclipse solar. Em 1921, o cientista Albert Einstein foi agraciado com o Prêmio
Nobel de Física por suas contribuições abstratas à Física Teórica e,
especialmente por sua descoberta da Lei do Efeito Fotoelétrico. No dia 10 de
novembro de 1922, durante a cerimônia de entrega do Nobel de Física, Einstein
estava no Japão e infelizmente não pode recebê-lo pessoalmente. Foi
representado, na cerimônia de consagração entrega do prêmio, pelo embaixador
alemão na Suécia.
A
sociedade pós-industrial formada por três esferas distintas e simultaneamente, a social, politica
e cultural, sociologicamente, onde o axial principal é a tecnologia tem como
principal atividade o processamento de informação com base nas telecomunicações
e computação e tem como princípios o valor e o conhecimento em contraponto com o
valor sobre o trabalho da era industrial. A centralidade do conhecimento teórico
assim como as inovações tecnológicas e expansão do setor dos serviços do
trabalho torna o trabalho intelectual (concepção) mais frequente e importante
que a simples execução de tarefas no âmbito da divisão internacional do
trabalho e concomitantemente da chamada sociedade civil mundial. Estas transformações
profundas na organização trabalho e mundialização da cultura originam mudanças
estruturais também profundas na cultura, politica e economia política de uma dada
sociedade reconhecida como pós-industrial. Falava-se
no “inverno nuclear”. Estados de espírito apocalípticos espalhavam-se além das
telas cinematográficas da indústria cultural hollywoodiana e em geral da TV. É evidente que as sociedades ocidentais haviam ficado afoitas com sua
decadência no período pós-colonial. Bem antes da virada do milênio já se
anunciava o quadro de mania.
Segundo o site
do ClubedeRoma (cf. Meadows,
1972), seus membros são personalidades oriundas de diferentes comunidades, como
a científica, acadêmica, política, empresarial, financeira, religiosa, cultural.
Seu presidente honorário é o diplomata espanhol Ricardo Díez-Hochleitner. Em
outubro de 2010, o Clube tinha dois presidentes, Dr. o Ashok Khosla, da Índia,
e o Dr. Eberhard von Koerber, da Alemanha, e dois vice-presidentes, o Professor
Heitor Gurgulino de Souza, do Brasil, e o Dr. Anders Wijkman, da Suécia. O
trabalho do Clube de Roma é apoiado
por um pequeno secretariado, instalado em Winterthur, no cantão de Zurique,
Suíça, chefiado por Ian Johnson, do Reino Unido. O clube contava com membros efetivos, honorários
e associados, de diferentes países. Os membros honorários são: Jacques Delors (França),
Belisario Betancur (Colômbia), César Gaviria (Colômbia), Fernando Henrique
Cardoso, Hélio Jaguaribe, Cândido Mendes
de Almeida (Brasil), Mikhail Gorbachev, da Rússia, Vaclav Havel (República
Tcheca), Enrique Iglesias (Uruguai), o rei Juan Carlos I (Espanha), a rainha Beatriz (Países Baixos),
para ficarmos nestes exemplos.
Enzensberger
compreendeu que o processo econômico de industrialização traz consigo as
últimas premissas, portanto, as tecnológicas, sem as quais não se pode induzir
industrialmente a consciência através
dos meios sociais de comunicação. A tecnologia do rádio, do cinema e da
televisão foi estabelecida só em fins do século XIX, isto é, um momento em que
a eletrotécnica há muito fora introduzida na produção industrial de bens de
consumo. Dínamo e motor elétrico precederam amplificadores e câmera
cinematográfica. Esse atraso histórico corresponde à evolução econômica.
Contudo as premissas técnicas da “indústria da consciência” não precisam ser
ainda conquistadas, elas já estão dadas, e definitivamente. De outro lado, suas
condições políticas e econômicas até hoje só se deram plenamente nos países
mais poderosos em competição no mundo. Mas sua concretização é iminente em toda
parte. Trata-se de um processo irreversível. Consequentemente, qualquer crítica
à indústria da consciência que pretenda a sua eliminação, é impotente e
obscura. Ela se baseia na sugestão suicida de retroceder na industrialização,
liquidando-a. O fato de que tal autoliquidação seja possível à nossa
civilização por meios técnicos torna as propostas de seus críticos reacionários
uma ironia macabra. Não foi assim que imaginaram essa reivindicação; deveriam
desaparecer apenas os “tempos modernos”, o “homem-massa” e a televisão. Mas os
seus críticos pretendiam ficar a salvo. De qualquer forma, os efeitos da
indústria da consciência foram descritos, em detalhes, e por vezes com grande
argúcia. Em
relação aos países capitalistas, a crítica ocupou-se especialmente dos massmedia
e da publicidade. Com excessiva facilidade, conservadores e mesmo analistas marxistas
concordaram em censurar o caráter comercial dessas atividades. Essas acusações
não atingem o cerne da questão.
Sem falar que dificilmente seria mais imoral
lucrar com a multiplicação de notícias ou de sinfonias do que com pneus, ou
seja, uma crítica desse tipo ignora exatamente o que distingue historicamente a
consciência de todas as demais, a saber: que o desenvolvimento
das mídias eletrônicas, indústria da consciência tornou-se o marca-passo do
desenvolvimento socioeconômico da sociedade global. Nos seus ramos mais
evoluídos ela nem trabalha mais com mercadorias; livros e jornais, quadros e
fitas gravadas são apenas seus substratos materiais, que se volatizam sempre
mais com a crescente maturidade técnica, desempenhando papel econômico
destacado somente em seus ramos mais antiquados, como as tradicionais editoras.
O rádio, não pode mais ser comparado a uma fábrica de fósforos. Seu produto é
totalmente imaterial. Não se produzem
nem se divulgam entre as pessoas bens, mas “opiniões, juízos e preconceitos,
conteúdos de consciência os mais variados”. Quanto mais recuam os seus suportes
materiais, quanto mais são fornecidos de forma abstrata e pura, tanto menos a
indústria viverá da sua venda de mercadorias.
Portanto,
a exploração material precisa
abrigar-se atrás do imaterial e
conseguir por novos meios a adesão dos dominados. A acumulação de poder
político segue-se à de riquezas. Já não se penhora apenas força de trabalho,
mas a capacidade de julgar e de decidir-se. Não se elimina a exploração, mas a consciência da exploração. Começa-se com
a eliminação de alternativas a nível industrial, de um lado através de
proibições, censura e monopólio estatal sobre todos os meios de produção da indústria
da consciência, de outro lado através de “autocontrole” e da pressão através
da realidade econômica. Em lugar do depauperamento material, a que se referia
Marx, aparece um processo imaterial, que se manifesta mais claramente na
redução das possibilidades políticas do indivíduo: uma massa de joões-ninguém políticos, à revelia dos
quais se decide até mesmo o “suicídio coletivo”, como tem ocorrido
particularmente nos Estados Unidos, defronta-se com uma quantidade
cada vez menor de políticos todo-poderosos. Que esse Estado seja aceito e
voluntariamente suportado pela maioria, é hoje a mais importante façanha que
tem como escopo a aura da indústria da consciência. A
ambiguidade que existe nessa situação, de que a “indústria da consciência”
precisa sempre oferecer aos seus consumidores aquilo que depois lhes quer
roubar, repete-se e aguça-se quando se pensa em seus produtores: os intelectuais. Estes não dispõem do aparato
industrial, mas o aparato industrial é que dispõe deles; mas também essa
relação não é unívoca. Muitas vezes acusou-se a indústria da consciência de
promover a liquidação de “valores culturais”. O fenômeno demonstra em que
medida ela depende das verdadeiras minorias produtivas. Na medida em que ela
rejeita seu trabalho por considerá-lo incompatível com sua missão política, ela
se vê dependendo dos serviços de intelectuais oportunistas e da adaptação do
antigo, que está apodrecendo sob as suas mãos. Os mandantes da “indústria da
consciência”, não importa quem sejam, não podem lhe comunicar suas energias
primárias. Devem-nas àquelas minorias a cuja eliminação ela se destina, melhor
dizendo: seus autores, a quem desprezam como figuras secundárias ou petrificam
como estrelas, e cuja exploração possibilitará a exploração dos consumidores. O
que vale para os clientes da indústria vale mais ainda para seus produtores;
são eles há um tempo seus parceiros e seus adversários.
Ocupada com a multiplicação da consciência, ela multiplica suas próprias contradições e alimenta a diferença entre o que lhe foi encomendado e aquilo que realmente consegue executar. É
neste sentido que, para Enzensberger, toda crítica analítica à indústria da
consciência é inútil ou perigosa se não reconhecer essa ambiguidade. Quanta
insensatez se faz neste sentido, já se deduz do fato político de que a maioria
dos que a analisam nem refletem sobre sua própria posição; como se a crítica
cultural não fosse ela mesma parte daquilo que está criticando, como se
houvesse possibilidade de se manifestar sem servir-se da indústria da
consciência, ou melhor, sem que a indústria da consciência dela se servisse. Todo
o pensamento não dialético perdeu aqui seu direito e não há retorno possível.
Perdido também estaria quem, por má vontade contra os aparatos industriais, se
recolhesse a uma suposta exclusividade, pois os padrões industriais há muito
invadiram as reuniões dos conventículos. É preciso distinguir como na
esfera política, entre ser incorruptível e ser derrotista.
Não se trata de
rejeitar cegamente a chamada indústria da consciência, mas de adentrar no seu perigoso
jogo. Para isso são precisos novos conhecimentos, uma vigilância preparada para
qualquer forma de pressão. O poeta, romancista, crítico cultural e ensaísta alemão Hans Magnus
Enzensberger, estivera no Instituto Goethe de São Paulo para um público de 200 pessoas. O tema programado para o debate era outro. Enzensberger deveria falar sobre seu livro: Guerra Civil, editado pela Editora Companhia das Letras. Mas optou por recuperar aspectos de seu ensaio: Mediocridade e Loucura. A classe média, disse Hans Magnus Enzensberger, é a vanguarda da mediocridade. Ela absorveu em seu “purê imaginário” a chamada alta cultura burguesa e a baixa cultura proletária. Nos dias de hoje tanto os burgueses e operários não têm projetos de vida alternativos. Eles imitam a classe média. Os primeiros compram carros mais caros e erguem palacetes em Miami. Os últimos se desdobram para pagar as prestações da geladeira. Mas o horizonte de ambos é sempre o mesmo. Todos
almejam aquela minúscula e boçal felicidade que aparece, por exemplo, no rosto
de cada motorista exibindo seu celular pelas ruas de São Paulo. Como escreve
Enzensberger, “essa sociedade é medíocre. Medíocre são os seus donos do poder e
suas obras artísticas, seus representantes e seu gosto, suas alegrias, sua
opinião, sua arquitetura, seus meios de comunicação, seus vícios, sofrimentos,
costumes”.
O tema da guerra civil analisado magistralmente por Marx, acabou
vindo à tona através das intervenções dos dois ilustres convidados presentes, o
crítico literário Roberto Schwarz e o historiador Nicolau Sevcenko, que
afirmavam com razão que nossos “mosqueteiros intelectuais” defendiam a
atualização da sociedade com o modo de vida da Europa, a modernização do País,
sua integração na ordem internacional e a elevação do nível intelectual da
população. Os caminhos propostos para alcançar tais horizontes eram variados,
demarcados pela ideia de liberalização das iniciativas (ou a individualização
das referências) que deveriam acontecer no ambiente social da concorrência pela
via liberal e pela ampliação da participação política. Enfim, a seleção das fontes
secundárias de nossos homens de ciência é compreensível através do princípio da
utilidade das teorias sociais para lidar com as especificidades da sociedade
brasileira. O racismo das teorias científicas europeias do período tinha origem
aristocrática, e se enquadrava perfeitamente no contexto social do Império do
Brasil. Nossa elite social e política branca burguesa racista, urbana e per se ilustrada aceitava as teorias que
justificavam seus privilégios e, nos intelectuais engajados acadêmicos
ou não que se consideravam progressistas e republicanos, essa aceitação
implicava um aparente contrassenso. Na verdade, o liberalismo brasileiro se
caracterizou por uma cisão entre princípios liberais e democráticos. As elites do Segundo Reinado estabeleceram o poder onde o
liberalismo conviveu com a manutenção das desigualdades políticas.
Bibliografia geral consultada.
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