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quinta-feira, 7 de agosto de 2025

Um Antigo Dilema Feminino: Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre.

                                                          O objetivo de toda vida é a morte”. Sigmund Freud

      

        Na Antiguidade, o sopro e o que suportava, o som, a voz, a palavra, o nome continha a vida, seja em protótipo, em essência ou em potência (mítica). No tronco judaico-cristão das religiões monoteístas patriarcais diz-se que “Deus soprou no barro para gerar o (ser no) homem”.  Dar um nome aos seres vivos ou não, emitir o som do nome, isto é, poder um nome, imitar as vozes dos animais, mimetizá-los, fazer do nome onomatopeia, apresentar-lhes na língua, dar-lhes uma palavra que lhes chame, etc., fazer soar pela emissão do sopro vocal, significava possuir: ter o que é deles, a carne, a voz, i.e., ser-lhes o proprietário. Assim, diz também que ao dar nomes aos animais, o homem ancestral, tomou deles a posse, tomou deles algo, deu-lhes a representação, o espírito. Nos contos míticos, emitir um som significa chamar pelo ser que atente a tal som. O gênio materializado da lâmpada de Aladin em um conjunto histórico representativo de manuscritos de textos esotéricos das Mil e Uma Noites (1985) aparecia quando Aladino esfregava a lâmpada maravilhosa, emitindo um ruído ou som que era do “gênio encarcerado”. Em política, diz-se do espírito das leis, na Constituição. E o Espírito das Leis vem de Montesquieu, no qual com este livro ele descreve o sistema de repartição dos Estados. Afinal, a grande obra de Montesquieu se chama L´ Esprit des Lois, e é na análise da noção, ou das noções de Lei que encontramos a resposta para os problemas que formulamos da política à sociologia. Montesquieu introduz o conceito de Lei no início de sua obra fundamental, para escapar a uma discussão viciada que dentro da tradição jurídica, ficaria limitada a discutir as instituições e as leis quanto à legitimidade de sua origem, sua adequabilidade à ordem natural e a perfeição de seus fins.

Uma discussão fadada a confundir, nas leis, concepções de natureza política, moral e religiosa. Definindo lei como “relações necessárias que derivam da natureza das coisas”, ele estabelece uma mediação complexa com as ciências empíricas rompendo com a tradicional submissão histórica da política à teologia, em termos de análise comparativa, que é possível uniformidade, constâncias na variação social dos comportamentos e formas de organizar os homens, assim como é possível encontra-las nas relações estabelecidas comumente entre os corpos físicos. Também a origem das leis que regem os costumes e as instituições são relações eminentemente sociais, que derivam da natureza das coisas, e que, ipso facto, sustentam as bases da tipologia analítica na interpretação do fato à política e à sociologia para Montesquieu. Para o que nos interessa, é o conceito de Lei, que Montesquieu traz a política para fora do campo da teologia e da crônica, e a insere num campo próprio teórico. Estabelece uma regra de imanência que incorpora a teoria política ao campo das ciências: as instituições políticas são regidas por leis que derivam das relações políticas. As leis que regem as instituições políticas são relações próprias entre as diversas classes em que se divide a população existente, as formas de organização econômica, as formas de distribuição do poder etc. Mas o objeto de pensamento de Montesquieu não são as leis que regem as relações entre os homens em geral, mas as leis positivas, isto é, as leis e instituições criadas pelos homens para reger as relações determinadas entre os homens. Ele observa que, ao contrário dos outros seres, os homens inevitavelmene têm a capacidade cognitiva de se furtar às leis da razão que deveriam reger suas relações, e, além disso, adotam leis escritas e costumes destinados a reger os comportamentos humanos. E têm também a capacidade de se furtar igualmente às leis e instituições. 

O objetivo de Montesquieu é o Espírito das Leis, isto é, as relações entre as leis e inclusivamente as “diversas coisas”, como por exemplo, o clima, “moldando” suas crenças e valores, as dimensões do Estado, a organização do comércio, as relações entre as classes etc. Montesquieu tenta explicar as leis e instituições humanas, sua permanência e modificações, a partir de leis da ciência política. Os pensadores políticos que precedem Montesquieu e Jean-Jacques Rousseau, que o sucede, são teóricos do Contrato Social ou do Pacto Social, estão fundamentalmente preocupados com a natureza do poder político, e tendem a reduzir a questão da estabilidade do poder à sua natureza. Ao romper com o estado de natureza, onde a ameaça de guerra de “todos contra todos” põe em risco a sobrevivência da humanidade, o pacto que institui o Estado de sociedade deve ser tal que garanta a estabilidade contra o risco de anarquia ou de despotismo. O que deve ser investigado não é, portanto, a existência de instituições propriamente políticas, mas sim a maneira como elas funcionam. Assim ele vai considerar duas dimensões do funcionamento político das instituições: a natureza e o princípio de governo. Sua natureza diz respeito a quem detém o poder: na Monarquia, um só governa, através de leis fixas e instituições; na República, governa o povo no todo ou em parte (Repúblicas aristocráticas); no Despotismo, governa a vontade de um só. As análises sobre as “leis relativas à natureza do governo” deixam claro que se trata de relações entre as instâncias de poder e a forma como se distribui, entre os diferentes grupos e classes da população de uma nação ou de um Estado propriamente dito.             

No que toca mais precisamente a um dos lados da educação, melhor dizendo, à disciplina, não se há de permitir ao adolescente abandonar-se a seu próprio bel-prazer; ele deve obedecer para aprender a mandar. A obediência é o começo de toda a sabedoria; pois, por ela, a vontade que ainda não conhece o verdadeiro, o objetivo, e não faz deles o seu fim, pelo que ainda não é verdadeiramente autônoma e livre, mas, antes, uma vontade despreparada, faz que em si vigore a vontade racional que lhe vem de fora, e que pouco a pouco esta se torne a sua vontade. O capricho deve ser quebrado pela disciplina; por ela deve ser aniquilado esse gérmen do mal. No começo, a passagem de sua vida ideal à sociedade civil pode parecer ao jovem como uma dolorosa passagem à vida de filisteu. Até então preocupado apenas com objetos universais, e trabalhando só para si mesmo, o jovem que se torna homem deve, na vida prática, ser ativo para os outros e ocupar-se com singularidades, pois concretamente se se deve agir, tem-se de avançar em direção ao singular. Nessa conservadora produção do mundo consiste exatamente no trabalho do homem. Podemos dizer que o homem só produz o que já existe. Sendo necessário que um progresso individual seja efetuado. Mas progredir só ocorre nas massas, e só se faz notar em uma grande soma de coisas produzidas. É a característica preservada e atribuída ao ente cuja existência é não necessária, mas, ao mesmo tempo, não impossível - isto é, a sua realidade não pode ser demonstrada nem negada em termos abstratos definitivos.

Dizer que são contingentes as proposições, e que não contém um entendimento necessariamente verdadeiras nem necessariamente falsas é uma boutade. Há quatro classes de proposições, em torno da formação do pensamento abstrato, algumas das quais se sobrepõem: proposições necessariamente verdadeiras ou tautologias, que devem ser verdadeiras, não importam quais são ou poderiam ser as circunstâncias. O que se entende por proposição necessária é per se “necessariamente verdadeira”. Proposições necessariamente falsas ou contradições, que devem ser falsas, não importam quais são ou poderiam ser socialmente as suas circunstâncias. Proposições contingentes, que não são necessariamente verdadeiras nem necessariamente falsas. Proposições possíveis, que são verdadeiras ou poderiam ter sido verdadeiras em certas circunstâncias. Enfim, do ponto de vista da probabilidade de ocorrência de todas as proposições necessariamente verdadeiras e todas as proposições contingentes também são proposições possíveis. Na verdade, a razão influencia pouco a decisão de uma mulher em gerar um filho. Provavelmente menos doque a rejeição psicológica da criança. Além do inconsciente, que pesa fortemente sobre ambas, é preciso confessar que a maioria dos pais não sabe por que gera uma criança, e que suas motivações são infinitamente mais obscuras e confusas do que as referidas na sondagem. De resto, o individualismo e a busca da plenitude pessoal predispõem as futuras mães a se fazerem perguntas que elas não se faziam no passado. Uma vez que a maternidade não é mais o único modo de afirmação da mulher, o desejo de filhos pode entrar em conflito com outros imperativos.

E, de fato, a decisão decorre mais amplamente do afetivo e do normativo do que a consideração racional das vantagens e dos inconvenientes. Se frequentemente a influência da afetividade é lembrada, pouco se fala das não menos importantes pressões da família, dos amigos e da sociedade que pesam sobre cada um de nós. Uma mulher e, provavelmente em menor grau um homem, ou um casal sem filhos provoca questionamentos. Em compensação, aquela que permanece infecunda tem poucas chances de escapar dos suspiros dos pais – os quais ela impediu de serem avós, da incompreensão das amigas – que gostam que se faça o que elas fazem, e da hostilidade da sociedade e do Estado, enquanto práticas que produzem efeitos de poder, por definição natalistas, que possuem meios de punir você por não ter feito a lição de casa. É preciso, pois, uma vontade a toda prova e um caráter inflexível para não ligar para todas as pressões sociais, e sobretudo para certa estigmatização. A sociedade estabelece os meios de categorizar as pessoas e o total de atributos considerados como comuns e naturais para os membros de cada uma dessas categorias: os ambientes sociais estabelecem as categorias de pessoas que têm probabilidade de serem neles encontradas. As rotinas disciplinares de relação social em ambientes estabelecidos nos permitem um relacionamento com outras pessoas previstas sem atenção ou reflexão particular.  Então, quando um estranho nos é apresentado, os primeiros aspectos nos permitem prever a sua categoria e os seus atributos, a sua identidade social – para usar um termo melhor que status social, já que nele se incluem atributos como honestidade, da mesma forma que atributos estruturais, como ocupação, ou melhor dizendo, trabalho. Os gregos, que tinham bastante conhecimento de recursos visuais, na teoria ou na práxis, criaram o termo estigma para se referirem a sinais corporais com os quais se procurava evidenciar alguma coisa de extraordinário ou mau sobre o status moral de quem os apresentava. Os sinais eram feitos com cortes ou fogo no corpo e avisavam que o portador era escravo, um criminoso ou traidor, ou seja, uma pessoa marcada, ritualmente poluída, que devia de alguma forma ser evitada, especialmente em lugares públicos.

  

O filme Never Rarely Sometimes Always, tem como representação social um drama de 2020 escrito e dirigido por Eliza Hittman, uma roteirista, diretora de cinema e produtora americana da cidade de Nova York. Ela ganhou vários prêmios por seu filme Nunca Raramente Às Vezes Sempre, que incluem o Prêmio do Círculo de Críticos de Cinema de Nova York e o Prêmio da Sociedade Nacional de Críticos de Cinema - ambos de melhor roteiro. Hittman nasceu e foi criada em Flatbush, Brooklyn. Ela estudou na Edward R. Murrow High School, no Brooklyn, onde era fã de teatro. Ela se formou na Indiana University Bloomington em 2001 com um bacharelado em teatro e drama, mas depois passou a estudar arte e cinema, e em 2010 recebeu seu mestrado pela School of Film/Video do California Institute of the Arts. Hittman é judia. Entre o Bacharelado e o Mestrado, Hittman encenou peças em Nova York. Ela não via futuro ou carreira no teatro. Essa transição para o cinema foi o que a levou ao Instituto de Artes da Califórnia. Enquanto estava no Instituto de Artes da Califórnia, ela conheceu seu parceiro Scott Cummings. Eles têm um filho em comum, nascido por volta de 2014. Hittman é reconhecida por fazer filmes que abordam a “sexualidade adolescente e as dificuldades femininas”. Seu primeiro longa-metragem, “It Felt Like Love” (2013), tem como enredo a sexualização de uma jovem adolescente e como ela navega em um mundo de homens predadores. Seu segundo filme, “Beach Rats” (2017), é uma história social que destaca a ideia de masculinidade em jovens homens e seus interesses sexuais.

Seu filme mais recente, “Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre” (2020), é uma etnografia adolescente em sua viagem da Pensilvânia para Nova York com seu primo em busca de um abortoÉ estrelado por Sidney Flanigan, Talia Ryder, Théodore Pellerin, Ryan Eggold e Sharon Van Etten. Teve sua estreia mundial no Festival de Cinema de Sundance em 24 de janeiro de 2020. Também foi selecionado para competir pelo Urso de Ouro (Goldener Bär), é o prêmio de maior prestígio do Festival de Berlim e um dos mais importantes prêmios de cinema do mundo globalizado. É entregue desde o ano de 1951 para a melhor obra do ano pelo júri internacional. Desde 2007 também é entregue para a melhor curta-metragem do ano. A estatueta foi criada pela artista Renée Sintenis, nascida como Renate Alice Sintenis; em Glatz, em 20 de março de 1888 e falecida em Berlim, em 22 de abril de 1965, foi uma escultora alemã, enquadrada no expressionismo. Criou especialmente pequenas esculturas de animais, nus femininos e figuras dos desportos. Dafne, Bürgergärten, Lübeck. O filme foi selecionado na seção de competição principal do 70º Festival Internacional de Cinema de Berlim, onde ganhou o Grande Prêmio do Júri do Urso de Prata. O filme foi lançado nos Estados Unidos da América em 13 de março de 2020, pela Focus Features, uma divisão de cinema da NBC e Universal Studios, que agem como produtor e o distribuidor de seus próprios filmes e distribuidor para filmes estrangeiros. A película recebeu ampla aclamação da crítica, com elogios à atuação de Flanigan e à direção e roteiro de Hittman. Descendente de huguenotes franceses que buscaram liberdade religiosa na Prússia dois séculos antes, Renée Sintenis nasceu na Silésia em 1888, o primeiro ano do reinado do Kaiser Guilherme II.  

Filha de um advogado de grande sucesso, ela cresceu em um ambiente de segurança e prosperidade na pitoresca cidade de Neuruppin, no Mark Brandenburg, um distrito da Prússia renomado pela beleza de seus lagos e florestas e por sua contribuição às artes. Foi também o local de nascimento do romancista Theodor Fontane (1819-1898) e do arquiteto Karl Friedrich Schinkel (1781-1841). Desde cedo, Sintenis amava a presença de animais, muitos dos quais eram seus animais de estimação no amplo quintal de sua família. Ela revelou talento artístico ainda jovem, desenhando constantemente, e teve seu primeiro contato com um estudo sistemático de arte na Academia de Stuttgart, de 1902 a 1905. Seu pai desaprovava suas inclinações artísticas, insistindo que ela se preparasse para uma carreira de secretária. Porém, após ceder temporariamente aos seus desejos, trabalhando brevemente em seu escritório de advocacia, ela finalmente rompeu com a família para retomar seus estudos de arte. De 1908 a 1912, matriculou-se na Kunst-gewerbeschule (Escola de Artes Aplicadas) de Berlim, onde estudou desenho e pintura com o renomado Leo von König (1871-1944) e membro da Secessão de Berlim. Ao mesmo tempo, Sintenis também estudou escultura com Wilhelm Haverkamp (1864-1929) e conheceu o escultor Georg Kolbe, para quem também trabalhou como modelo.  

Autumn Callahan, de 17 anos, suspeita que está grávida e vai a um centro de crise de gravidez. No centro, ela faz um teste de farmácia que confirma que está grávida. Dizem que ela está com 10 semanas de gravidez, recebem literatura sobre adoção e mostram um vídeo antiaborto. Depois de descobrir que não pode fazer um aborto na Pensilvânia sem o consentimento dos pais, ela tenta induzir um aborto espontâneo engolindo pílulas e dando um soco no estômago. Quando esses métodos falham, ela conta à prima, Skylar, que está grávida. Skylar rouba dinheiro do supermercado onde trabalham e as duas compram passagens de ônibus para Nova York. No ônibus, elas conhecem Jasper, um jovem persistentemente interessado em Skylar, mesmo que ela tente ignorá-lo. Em uma clínica da Planned Parenthood no Brooklyn, Autumn descobre que o centro de crise da gravidez mentiu sobre o tempo de gravidez e que, na verdade, ela está com 18 semanas de gravidez. É uma organização social sem fins lucrativos que fornece cuidados de saúde reprodutiva nos Estados Unidos e no mundo. A entidade tem suas raízes no Brooklyn, Nova Iorque, onde Margaret Sanger abriu a primeira clínica de controle de natalidade em 1916. Sanger fundou a Liga Americana de Controle de Natalidade em 1921, que mudou seu nome para Paternidade Planejada em 1942.

A geração Y, também chamada “geração do milênio”, “geração da internet”, ou “milênicos”, do inglês: Millennials, é um conceito em sociologia que se refere à corte dos nascidos após o início da década de 1980 até, aproximadamente, o final do século. Especificamente, o instituto de pesquisa Pew Research Center classifica como geração Y os nascidos entre os anos 1981 e 1996, e outros como os nascidos entre os anos de 1982 e 2004. A escritora norte-americana Kathleen Shaputis descreveu os Millennials como “geração boomerang”, ou “geração Peter Pan”, porque foi percebido neles uma tendência a “demorar alguns ritos de passagem para a idade adulta por períodos mais longos do que as gerações anteriores”. Essa referência é comparada também para os membros desta geração, que tendem a viver com seus pais por períodos de tempo mais longos do que gerações anteriores. Essa geração (cf. Mannheim, 1993) desenvolveu-se com avanços tecnológicos e prosperidade, facilidade material, e efetivamente, em ambiente altamente urbanizado, imediatamente após a instauração do domínio da virtualidade como sistema de interação social e midiática (cf. Durkheim, 2020), e em parte, das relações de trabalho.  Se a geração X foi concebida na transição para o “novo mundo tecnológico”, a geração Y foi a primeira verdadeiramente nascida neste meio, mesmo que incipiente. É importante notar que não existe geração Y no campo, se a natureza da renda da família e da cidade estão relacionadas a um histórico de trabalhos braçais e tradicionais, rurais, ou tradicionais manufatureiras. Há uma diferença significativa entre as modalidades de prosperidade econômica e níveis de interação material mundiais, quando comparadas as duas gerações (X e Y). Na primeira, a quantidade de elementos lúdicos (cf. Mendonça, 2013), de brinquedos, artefatos e eletrodomésticos ou qualquer nível de produto na cadeia social é muito menor que na segunda, e em contrapartida, mais duradouro e predisposto à manutenção ao invés do descarte e a questão “atualização” (update). A dinâmica da “manutenção” e “reciclagem econômicas” foram dramaticamente alteradas na virada do milênio, encabeçadas por potências econômicas como o Japão, os chamados Tigres Asiáticos e política como Estados Unidos da América, onde os ciclos de descarte fazem parte da produção local.  

A geração Y foi desta forma superexposta a novo nível de informação, afastada dos trabalhos braçais e sobrecarregada de prêmios e facilidades materiais em troca de pouco, ou nenhum esforço físico. Em parte, este processo social ocorreu devido a uma aparente compensação inegável a partir dos pais, originários da geração X, possivelmente tentando compensar a lacuna material pelo qual podem ter passado, se comparadas às prosperidades econômicas da geração X com a da Y. Possivelmente tentando viver um nível de materialismo econômico através de seus filhos e netos. Eles cresceram vivendo em ação, estimulados por atividades técnico-científicas, fazendo por gosto tarefas múltiplas. Acostumados a conseguirem o que querem, talvez, sem esforço ou prazos consideráveis, não se sujeitam às tarefas subalternas de início de carreira e desejam salários ambiciosos cedo, em geral com a suposição de que conhecimento e currículo técnico tornam desnecessários outros atributos profissionais. É comum que os jovens dessa geração troquem de emprego com frequência em busca de oportunidades que ofereçam mais desafios e crescimento profissional, ou em função de uma evasão de cérebros e de dificuldades típicas de inúmeras novas carreiras. A discrepância na percepção sobre o trabalho e carreira é evidente em fóruns na internet – rede mundial de computadores. Observa-se o confronto de gerações e o discurso divergente, criticando a postura da geração Y como “sem interesse” e diversos outros adjetivos.         

A geração do milênio tem a expectativa de obter informação e entretenimento disponíveis em qualquer lugar e em qualquer altura. Afirma-se mesmo que eles têm que sentir que controlam o ambiente em que estão inseridos, tendendo a obter informação de forma fácil e rápida e ainda que estarem aptos a ter vidas menos estruturadas. Enquanto grupo social crescente, tem se tornado o público-alvo das ofertas de novos serviços e na difusão de tecnologias, muitas vezes em função da velocidade e revenda de produtos praticamente idênticos, através do imaginário da necessidade absoluta de atualização de software e/ou hardware, como ícone de condição de inserção social e econômica. As empresas desses segmentos visam a atender essa nova geração de consumidores, que constitui um público exigente, atualizado e ávido por inovações. Aparente e às vezes preocupados com o ambiente das cidades e as causas sociais, têm um ponto de vista diferente das gerações anteriores, que viveram épocas de guerras e grande desemprego. Mas se engana quem pensa que a geração Y é um “mar de rosas”. Nascidos de pós-utopias e modificação de visões políticas e existenciais, a chamada Geração Y cresceu em meio a um crescente individualismo, egoísmo e extremada competição. Não são jovens que, comparativamente, têm a mesma consciência política das gerações da contracultura. E também, como as informações aparecem numa progressão geométrica e circulam a uma velocidade e tempo jamais vistos, o conhecimento tende a ser encarado com superficialidade. A geração Y desenvolveu-se num contexto macroeconômico pós-guerra fria, onde as dicotomias extremas foram em parte dissolvidas, ipso facto com simbologia principal a queda do Muro de Berlim e os partidos políticos multiplicaram-se e assimilaram características dos outros, tornando a percepção desta geração, com relação a que posicionamento tomar, mais complexa e sem base que a da geração X. 

A dinâmica sociopolítica e econômica e a efemeridade dos elementos sociais produziram ideologias instáveis e flexíveis, de forma que o partidarismo e o estímulo do liberalismo ao consumo, abriram fendas pouco nítidas a esta geração. Pós-utopias referem-se a reflexões e abordagens que surgem no esgotamento do conceito sociológico tradicional de utopia, especialmente no contexto da modernidade tardia e da pós-modernidade. Elas não negam a importância da utopia como projeção de um futuro desejado, mas questionam a viabilidade e os riscos de sistemas sociais perfeitos e fechados. Enquanto as utopias clássicas buscavam construir sociedades perfeitas e imutáveis, as pós-utopias reconhecem a complexidade e a contingência da realidade, enfatizando a importância da mudança e da experimentação. As pós-utopias valorizam a experiência humana em sua totalidade, com suas contradições e imperfeições, em vez de buscar uma realização abstrata de ideais. Em vez de modelos acabados, as pós-utopias enfatizam processos de transformação social contínuos, que reconhecem a importância da ação coletiva e da participação ativa dos indivíduos. As pós-utopias também alertam para os perigos de dogmatismo e totalitarismo que podem surgir em projetos utópicos excessivamente idealizados. Movimentos sociais que buscam transformar as cidades no presente, em vez de apenas projetar um futuro idealizado. O reconhecimento de que tudo é mutável e que as utopias podem ter consequências indesejadas. Uma abordagem que reconhece as fronteiras entre humanos e outros seres, buscando um cosmopolitismo sem fronteiras. As pós-utopias são uma forma de pensar sobre o futuro que reconhece os limites e os riscos das utopias clássicas, enfatizando a importância da ação social, da transformação contínua e da atenção à complexidade da experiência humana.

 

A multiplicidade de ciências e teorias relativas ao nível social, tem dado origem a distintas interpretações como se escreve ou produz a história. São distintas e heterogêneas a histórias do capitalismo que aparecem nas análises de Ricardo, Karl Marx, Alexis de Tocqueville, Émile Durkheim, Max Weber, John Maynard Keynes, Talcott Parsons, Eric Hobsbawm, para ficarmos nestes exemplos. Não só na sociologia, mas no conjunto das ciências socais, encontram-se as mais diversas explicações sobre como e por que se dá a mudança social, evolução, progresso social, desenvolvimento, modernização, a crise, a recessão econômica, o golpe de classe, a reforma, a revolução social. Para explicar as transformações sociais, em sentido amplo, o sociólogo, antropólogo, economista, politólogo, psicólogo, historiador e outros têm buscado causas, condições, tendências, fatores, indicadores, variáveis, e assim por diante. Ao analisar as condições de formação, funcionamento, reprodução, generalização, mudança e crise do capitalismo globalizado, os cientistas sociais têm proposto explicações que nem sempre se excluem. Em certos casos, umas implicam outras, ou as englobam. Em primeiro lugar, uma interpretação que se generalizou, desde os arquétipos da Revolução Industrial, estabelece que o progresso econômico é o resultado da “criatividade empresarial”. Isto é, toda mudança, inovação ou modernização substantiva tende a consumar a capacidade de criação e liderança de empresários inventivos ou mesmo lúdicos, capazes de articular e dinamizar os fatores da produção preexistentes e novos. Essa interpretação tem os principais enunciados nos escritos de economistas clássicos, seus discípulos e continuadores no século XIX e XX.

            Analogamente se referem enquanto um conjunto de práticas e saberes sociais a unidades de geração que desenvolvem perspectivas, reações e posições políticas e afetivas diferentes em relação a um mesmo mercado. O nascimento em um contexto social idêntico, mas em um período específico, faz surgirem diversidades nas ações dos sujeitos. Outra característica é a adoção ou criação de estilos de vida distintos pelos indivíduos, mesmo vivendo em um mesmo nível social. A unidade geracional constitui uma adesão mais concreta em relação àquela estabelecida pela conexão geracional. Mas a forma como grupos sociais da mesma “conexão geracional” lida com os fatos históricos vividos, por sua geração, fará surgir distintas unidades geracionais no âmbito da mesma conexão geracional no conjunto da sociedade. O sociólogo Karl Mannheim (1893-1947) não esconde sua preferência pela abordagem histórico-romântica alemã. E destaca que este é um exemplo bastante claro de como a forma de se colocar uma questão pode variar de país para país, como de uma época para outra. Logicamente a globalização representa um dos processos de aprofundamento da divisão internacional do trabalho, da integração econômica, social e política, em seus extremos que teria sido impulsionado pela redução dos meios de comunicação no final do século XX e início do século XXI. Embora vários estudiosos situem a origem da globalização em tempos modernos, Marx analisou a sua extraordinária história econômica no capítulo sobre a gênese do industrial capitalista relacionado com os chamados descobrimentos do Novo Mundo pelos europeus.

            Mannheim entende que ao adotar o ponto de vista de uma classe ou grupo, seja ideológico ou utópico, o indivíduo não estará apto a uma compreensão total da realidade, pois tais pontos de vista sempre limitam a sua compreensão em relação aos pontos de vista “adversários”. O pensamento de Mannheim foi criticado sob alegação de, através do historicismo, conduzir ao relativismo. Mannheim negou essa crítica, afirmando que o relativismo só existe dentro de uma concepção absolutista das ideologias ou de qualquer forma de pensamento. Aliás, foi o próprio Mannheim que, em Ideologia e Utopia disse textualmente que o relativismo seria uma forma errônea de compreender a realidade social, se deseja-se uma compreensão científica, sugerindo o relacionismo como uma forma ampliada de compreender as realidades parciais (ideologias e utopias) em inter-relação constante. Outras investigações importantes de Mannheim compreendem estudos sobre as relações entre pensamento e ação. Sua contribuição para a teoria do planejamento e para a caracterização das sociedades de massa tem especial destaque. O sociólogo Kurt Heinrich Wolff (1912-2003), que foi aluno de Mannhein em Frankfurt e foi Presidente do Comitê de Investigação da Sociologia do Conhecimento do International Sociological Association e Presidente da Sociedade Internacional para a Sociologia do Conhecimento, de influência extraordinária na propagação da Sociologia por ter traduzido a obra de Karl Mannheim nos Estados Unidos da América.

   

   A trivialização do conhecimento não faz produto do conhecimento apenas um produto determinado, faz também dele um produto qualquer. Mas as ideias podem tornar-se ideológicas na medida em que sua estrutura socialmente obedece às estruturas socioprofissionais, sua produção integra-se entre os outros processos de produção e a cultura torna-se cognoscível a partir das categorias econômicas do capital e do mercado. Mas nem a informação, nem a teoria, nem o pensamento abstrato, nem a cultura são produtos triviais, ainda que mais não seja pelo fato socialmente de serem, ao mesmo tempo, produtos/produtores e, mesmo comportando hologramaticamente a dimensão socioeconômica, não poderiam ser reduzidas a isso. A redução trivializante não teme exercer-se como sujeito sobre o conhecimento científico. Este nível abstrato como qualquer outro é apropriado pelo pensamento, como a religião e através da ciência, com suas relações de força e monopólios, suas lutas e suas estratégias, seus interesses e seus ganhos. Mas, por seu lado, os estudos de etnografias dos laboratórios, estes que parecem ter dinamismo social, demonstram-nos como se estabelecem essas mediações complexas dos pesquisadores, em função de posições, ou status, lutas e a utilização de alguns truques diabólicos pelo reconhecimento per se, pelo prestígio ou pela glória, com as negociações necessárias ao estabelecimento de uma prova, os ritos de passagem na pesquisa e na universidade. A motivação primeira do cientista é a notoriedade. Mas não se pode reduzir o interesse científico ao interesse econômico, a vontade de pesquisar ao desejo de prestígio, de conhecimento à sede de poder, em alguns casos terrenos sim.

A sociologia não pode ser considerada uma concepção que exclui o indivíduo ou que, no máximo, o tolera. É uma concepção humanista, mas que deve implicá-lo e explicitá-lo. Sobre a aquisição do conhecimento pesa um formidável determinismo. Ele nos impõe o que se precisa conhecer, como se deve conhecer, o que não se pode conhecer. Comanda, proíbe, traça os rumos, estabelece os limites, ergue cercas de arame farpado e conduz-nos ao ponto onde devemos ir. E também que conjunto prodigioso de determinações sociais, culturais e históricas é necessário para o nascimento da menor ideia, da menor teoria. Não bastaria limitarmo-nos a essas determinações que pesam do exterior sobre o conhecimento. É necessário considerar, também, os determinismos intrínsecos ao conhecimento, que são, segundo Edgar Morin, muito mais implacáveis. Em primeiro lugar, princípios iniciais, comandam esquemas e modelos explicativos, os quais impõem uma visão de mundo e das coisas que se governam/e controlam de modo imperativo e proibitivo a lógica dos discursos, pensamentos, teorias. Ao organizar os paradigmas e modelos explicativos associa-se o determinismo organizado dos sistemas de convicção e de crença que, quando reinam em uma sociedade, impõem a todos a força imperativa do sagrado, a força normalizadora do dogma, a força proibitiva do tabu. As doutrinas e ideologias dominantes nas sociedades dispõem também da força imperativa e coercitiva que evidencia aos convictos e o temor inibitório aos desalmados.

O capitalismo moderno, especificamente ocidental, foi desenvolvido nas associações urbanas, especificamente ocidentais, também, e administradas de modo relativamente racional. Desenvolveu-se nos séculos XVI a XVIII primariamente dentro das associações políticas estamentais holandesas e inglesas, caracterizadas pelo predomínio do poder e dos interesses aquisitivos burgueses, enquanto que as imitações secundárias, fiscal ou utilitariamente condicionadas, nos Estados puramente patrimoniais ou influenciados por tendências feudal-estamentais do continente europeu, bem como as indústrias monopólicas dos Stuart, não se encontraram em continuidade real com o desenvolvimento capitalista autônomo que mais tarde se iniciou. Essa acumulação de capital foi extremamente importante, pois foi a partir dela que a burguesia pôde investir em pesquisas para desenvolver a criação das máquinas e, assim, aperfeiçoar o processo de produção e financiar a construção das indústrias têxteis. Isso apesar de algumas medidas isoladas referentes à política agrária e industrial, em virtude de sua orientação por modelos ingleses, holandeses ou, mais tarde, franceses, terem criado condições preparativas muito importantes para o nascimento desse capitalismo, em particular.

Entendemos conceitualmente o carisma, segundo a sociologia compreensiva de Max Weber (2012), uma qualidade pessoal considerada extracotidiana, na origem, magicamente condicionada, no caso tanto dos profetas quanto dos sábios curandeiros ou jurídicos, chefes de caçadores e heróis de guerra, e em virtude da qual se atribuem somente a uma pessoa poderes ou qualidades sobrenaturais, sobre-humanos, ou, pelo menos, extracotidiano específicos ou se a tomam como enviada por Deus, como exemplar, e, portanto, “líder”. O modo objetivamente “correto” como essa qualidade teria de ser avaliada, a partir de algum ponto de vista ético, estético ou outro qualquer, não tem importância alguma para nosso conceito: o que importa é como ela é avaliada pelos carismaticamente dominados – os “adeptos”. Sobre a validade do carisma decide o livre reconhecimento deste pelos dominados, consolidado em virtude de provas – originariamente, em virtude de milagres – e oriundo da entrega à revelação, da veneração de heróis ou da confiança no líder. Mas essa não é a razão da legitimidade; pois constitui um dever das pessoas chamadas a reconhecer essa qualidade, em virtude de vocação e provas. Psicologicamente, esse “reconhecimento” é uma entrega crente e inteiramente pessoal nascida do entusiasmo ou da miséria e esperança. A dominação carismática, como representação de algo extracotidiano, opõe-se estritamente tanto à dominação racional legal, especificamente burocrática, quanto à tradicional, especificamente, a patriarcal e patrimonial ou estamental. Ambas são formas de dominação cotidianas – a carismática (genuína) é especificamente o contrário.

A partir do século XVIII, começa a ideia da infância propriamente dita, sua melhor expressão sendo representada no livro do filósofo Jean-Jacques Rousseau, Emílio, ou da Educação. Não que antes não houvesse preocupação com as crianças e sua educação – os confessores de um lado, os livros do filósofo humanista, Erasmo de Roterdã, de outro lado, provam essa preocupação. Porém, somente com J.-J. Rousseau há diferenciação dos sexos e responsabilidades sociais, a primeira e mais importante sendo o casamento e a paternidade; preparação da menina também para o casamento e a maternidade, instrução para que seja firme e modesta, submissa, mas orientadora do marido em tudo quanto se refira à sensibilidade. Elabora-se a imagem romântica da família idílica, refúgio seguro contra um mundo hostil ou depravado. Prepara-se a fidelidade feminina: obediência ao pai e lealdade absoluta ao marido. Começa-se a morrer de amor. Exemplo: o romance A Condessa Clèves, a heroína morta de amor, sem sucumbir à tentação da traição. Os romances do amor impossível: Eurico, o Presbítero, de Alexandre Herculano, e a obra-prima do gênero, o Werther, de Goethe. A preservação do casamento mesmo quando a natureza foi traída pela sociedade que não permitiu, a tempo, o encontro dos que deviam naturalmente se amar, fazendo os amorosos, destinados naturalmente um ao outro; renunciarem ao amor, transferi-lo para o que possam, sem sexo, fazer em comum e aceitar a morte como solução: As Afinidades Eletivas, de Goethe.  E o desmoronamento in partibus infidelium do belo edifício burguês, sendo afirmado e negado: À Procura do Tempo Perdido, de Marcel Proust.

A partir deste fundamento, compreendemos que ordem, desordem e organização são elementos essenciais para o entendimento da questão da complexidade, pois se desintegram e se desorganizam ao mesmo tempo. Nesse entendimento, constata-se que o sentido da realidade se dá por meio da relação do todo com as partes e vice e versa em uma análise integradora em que não é pertinente examinar o fenômeno a partir de uma única matriz de racionalidade. A desordem torna-se indispensável para a organização social da vida humana, pois a sociedade é dependente de acontecimentos/fatos que possam modificar a ordem já estabelecida para gerar novos meios de organização entre os sujeitos. Há um imprinting cultural, matriz que estrutura o conformismo, e há uma normalização que o impõe. O imprinting é um termo que Konrad Lorentz propôs para dar conta da marca incontornável pelas primeiras experiências do jovem animal, como o passarinho que, ao sair do ovo, segue como se fosse sua mãe, o primeiro ser vivo ao seu alcance. Há um imprinting cultural que marcam os humanos, desde o nascimento, com o selo da cultura, primeiro familiar e depois da escola, prosseguindo na universidade ou na profissão. À orgulhosa pretensão dos intelectuais e cientistas, o conformismo cognitivo não é de modo algum uma subcultura que afeta principalmente as camadas subalternas da sociedade. Os subcultivados sofrem um imprinting e uma normalização atenuados e há per se mais opiniões pessoais diante do balcão de café do que num coquetel literário.

Embora contrariados em contradição com seu desenvolvimento liberal intelectual que permite a expressão de desvios e de ideias e formas escandalosas, o imprinting e a normalização crescem paralelamente com a aquisição real da cultura. O imprinting cultural determina à desatenção seletiva, que nos faz desconsiderar tudo aquilo que não concorde com as nossas crenças, e o recalque eliminatório, que nos faz recusar toda informação inadequada às nossas convicções, ou toda objeção vinda de fonte técnica considerada ruim. A normalização manifesta-se de maneira repressiva ou intimidatória. Cala os que teriam a tentação de duvidar ou de contestar. A normalização, portanto, com seus subaspectos de conformismo, exerce uma prevenção contra o desvio e elimina-o, se ele se manifesta. Mantém, impõe a norma do que é importante, válido, inadmissível, verdadeiro, errôneo, imbecil, perverso. Indica os limites a não ultrapassar. As palavras que não devem proferir. Os conceitos a desdenhar, as teorias a desprezar. O imprinting assimila a perpetuação dos modos de conhecimento e verdades estabelecidas. Obedece a processos de tribunais: uma cultura produz modos de conhecimento entre os homens dessa própria cultura. Através do seu modo de conhecimento, reproduzem a legitimidade que produz esse conhecimento. As crenças que se impõem são fortalecidas pela fé que as suscitaram. Então, se reproduzem não somente os conhecimentos, mas as estruturas e os modos reguladores que determinam a invariância desses conhecimentos.  

As aptidões individuais organizadoras do nosso cérebro humano necessitam de condições socioculturais para se atualizarem, as quais necessitam das aptidões do espírito humano para se organizarem individual e socialmente. A cultura está nos espíritos, vive nos espíritos, os quais estão na cultura, vivem na cultura. Meu espírito conhece através da minha cultura, vivem na cultura. Meu espírito conhece através da minha cultura, mas, em certo sentido, a minha cultura conhece através do meu espírito. Assim, portanto, as instâncias produtoras do conhecimento se coproduzem umas às outras; há uma unidade recursiva complexa estabelecida entre produtores e produtos do conhecimento, ao mesmo na redlação social de tempo/espaço em que há relação hologramática entre cada uma das instâncias, cada uma contendo as outras e, nesse sentido, cada uma contendo “o todo enquanto todo”. Falar em complexidade é sociologicamente falar em relação social de interação simultaneamente complementar, concorrente, antagônica, recursiva e hologramática entre essas instâncias cogeradoras do reconhecimento humano. Mas não é apenas essa complexidade sob condições determinada que permitem compreender a possível autonomia relativa do espírito – as faculdades intelectuais - e evidentemente no sentido técnico do cérebro individual.

Mas é somente assim mesmo que o espírito individual pode autonomizar-se em relação à sua determinação biológica. Recorrendo às suas fontes e recursos socioculturais. E em relação à sua determinação cultural utilizando a sua aptidão bioantropológicas para organizar o conhecimento. O espírito individual pode alcançar a sua autonomia jogando com a dupla dependência que, ao mesmo tempo, o constrange, limita e alimenta. Pode jogar, pois há margem, entre hiatos, aberturas, defasagens. Entre o bioantropológico e o sociocultural, o ser individual e a sociedade. Assim, a possibilidade de autonomia do espírito individual está inscrita no princípio de seu conhecimento. E isso em nível de seu conhecimento cotidiano, quanto em nível de pensamento filosófico ou científico. A cultura fornece ao pensamento as suas condições sociais e materiais de formação, de concepção, de conceptualização. Portanto, ela impregna, socialmente, modela, politicamente, e eventualmente governa os conhecimentos individuais. A cultura e, somente pela via da cultura, a sociedade está no interior do conhecimento. Tese: O conhecimento está na cultura e a cultura está na representação do conhecimento. Um ato cognitivo per se é um elemento do complexo cultural coletivo que se atualiza em um ato cognitivo individual. As nossas percepções sociológicas do real (análise) ou mesmo concepções estão sob um determinado controle, não apenas de constantes fisiológicas e também psicológicas, mas níveis de variáveis culturais e históricas.

 A percepção da esfera social é submetida a novas categorizações, tanto quanto as formas de conceptualizações, taxinomias, que influenciarão o reconhecimento e a identificação das cores, das formas, dos objetos. O conhecimento intelectual organiza-se em função técnica de paradigmas que selecionam, hierarquizam, rejeitam as ideias sociais e as informações técnicas, bem como em função de significações mitológicas e de projeções imaginárias. Assim se opera a “construção social da realidade”, ou antes, a “co-construção social da realidade”, visto que a realidade se constrói também a partir de dispositivos cerebrais, em que o real (imagem) se consubstancializa e se dissocia do irreal (fantasia), a weltanschauung, que se concretiza em verdade, em erro, na mentira. Para conceber a sociologia do conhecimento, é necessário, conceber não só o enraizamento do conhecimento na sociedade e a interação social do conhecimento na sociedade. Mas no anel recursivo no qual o conhecimento é produto/produtor sociocultural que comporta uma dimensão própria cognitiva. Os homens de uma cultura, pelo seu modo de conhecimento, produzem a cultura que produz seu reconhecimento.

A cultura gera os conhecimentos que regeneram a cultura. Ao considerar-se a que ponto o conhecimento é produzido por uma cultura, dependente de uma cultura, integrado a uma cultura, pode-se ter a impressão de que nada seria capaz de poder libertá-lo. Mas isso seria, sobretudo, ignorar as potencialidades de autonomia relativa, no interior de todas aquelas culturas, dos espíritos individuais. Os indivíduos não são todos, e nem sempre, mesmo nas condições culturais mais fechadas, máquinas triviais obedecendo impecavelmente à ordem social e às injunções culturais. Isso seria ignorar que toda cultura está vitalmente aberta ao mundo exterior, per se mundializada, de onde retira conhecimentos objetivos e que conhecimentos e ideias migram entre as culturas. Seria ignorar que aquisição de uma informação, a descoberta de um saber, a invenção de uma ideia, podem modificar e transformar uma sociedade, mudar o curso da história. Assim, o conhecimento está ligado, por todos os lados, à estrutura da cultura, à organização social, à práxis histórica. Sempre por toda parte, o conhecimento científico transita pelos espíritos individuais, que dispõem de autonomia potencial, a qual pode em certas condições sociais e políticas atualizarem-se e tornar-se um pensamento pessoal crítico.

Nada, à primeira vista, parece tão fácil como determinar o papel da divisão do trabalho. Acaso seus esforços não são reconhecidos por todos? Por aumentar ao mesmo tempo social a força produtiva e a habilidade do trabalho, ela é condição necessária do desenvolvimento intelectual e material das sociedades; é a fonte da civilização. Por outro lado, como se presta de bom grado à civilização um valor absoluto, sequer se pensa em procurar outra função para a divisão do trabalho. Que ela tenha mesmo esse resultado, é o que não se pode pensar em discutir. Mas se ela não tivesse nenhum outro e não servisse a outra coisa, não se teria razão alguma para lhe atribuir um caráter moral. De fato, os serviços que ela presta assim são quase completamente estranhos à vida moral, ou, pelo menos, têm com ela apenas relações muito indiretas e distantes. Embora seja corrente responder às diatribes de J.-J. Rousseau (cf. Souza Filho, 2015) com diatribes em sentido inverso, não está em absoluto provado que a civilização seja uma coisa moral. Para solucionar a questão, não se pode referir a análises de conceitos, que são necessariamente subjetivos; seria necessário, conhecer um fato capaz de servir para medir o nível de moralidade média e observar em seguida como ele varia, à medida que a civilização progride. Falta-nos essa unidade de medida, mas possuímos uma para a imoralidade coletiva. Se aliás, analisarmos esse complexo mal-definido a que chamamos civilização, descobrimos que os elementos de que é composto são desprovidos de qualquer caráter moral. Este é o suposto de análise que sustentamos no presente ensaio.  

A Federação de Paternidade Planejada da América (PPFA), é composta por 159 afiliados médicos e não médicos, que operam mais de 650 clínicas de saúde nos Estados Unidos. A organização social fornece diretamente uma variedade de serviços de saúde reprodutiva e educação sexual, contribui para a pesquisa em tecnologia reprodutiva e defende a proteção e expansão dos direitos reprodutivos. A entidade é o maior provedor de serviços de saúde reprodutiva, incluindo o aborto, nos Estados Unidos. Por ano, a Federação de Paternidade Planejada da América faz cerca de 324 mil abortos. Sua receita anual combinada é de US$ 1,3 bilhão, incluindo aproximadamente US$ 530 milhões em fundos governamentais, como reembolsos da Medicaid. É um programa de saúde social dos Estados Unidos para famílias e indivíduos de baixa renda e recursos limitados. A Associação Americana de Seguros de Saúde descreve o Medicaid como “um programa do governo para pessoas de todas as idades com recursos insuficientes para ajudá-los a pagar por um seguro de saúde”. Para receber o Medicaid é necessário que a pessoa seja um cidadão norte-americano ou um cidadão com visto permanente de residência, e inclui os adultos de baixa renda, seus filhos e pessoas com alguma deficiência. Contudo, apenas o fato de ser pobre não é o fator determinante para ter acesso ao Medicaid. Ao longo de sua história, a PPFA e suas clínicas receberam apoio, controvérsias, protestos e ataques. Encontro de ativistas da Planned Parenthood com a Senadora Kamala Harris em 2017. Outro fato, compilado pelo site Protecting Black Lifes, é que a maioria das clínicas dessa instituição estão localizadas em bairros de maioria negra e/ou hispânica.

Embora ainda consiga fazer um aborto, precisa ir a uma clínica em Manhattan na manhã seguinte para realizá-lo. Autumn e Skylar passam uma noite desconfortável na cidade pelos itinerários de metrô e jogando videogame. Na manhã seguinte, na clínica, Autumn descobre que um aborto no segundo trimestre é um procedimento de dois dias e que pagar por ele consumirá a maior parte de seus recursos. A conselheira também faz uma série de perguntas sobre seus parceiros sexuais, revelando que “os parceiros de Autumn foram física e sexualmente abusivos”. Sem dinheiro, Skylar percebe que as duas não têm como voltar para casa. Enquanto Autumn pede a Skylar para não ligar para nenhuma das mães, Skylar procura Jasper, que as leva para jogar boliche e cantar no karaokê. No final da noite, Skylar pede dinheiro emprestado a Jasper para comprar as passagens de ônibus, e ele concorda. Skylar sai com Jasper para encontrar um caixa eletrônico, e Autumn depois vai procurá-las. Ela as encontra se beijando. Percebendo que Skylar só está fazendo isso pelo empréstimo, Autumn discretamente pega a mão de Skylar para confortá-la. De manhã, Autumn vai à sua consulta e faz o aborto. Autumn e Skylar vão a um restaurante, onde Skylar lhe faz perguntas sobre o procedimento, às quais responde secamente. As duas pegam um ônibus de volta para a Pensilvânia.

Historicamente, os quakers instalaram uma política de tolerância religiosa após a fundação da colônia de Penn, a Pennsylvania, o qual beneficiou outros grupos religiosos que já viviam na região tais como luteranos da Nova Suécia, e que também atraiu grupos religiosos europeus, tais como os Amish e os Menonitas. Outros grupos também se instalaram, tais como os Moravianos, que fundaram a cidade de Bethlehem, e os presbiterianos, que se instalaram na fronteira. Esta diversidade religiosa era rara durante os séculos XVIII e XIX. Posteriormente, imigrantes de vários países católicos europeus começaram a instalar-se em grandes números na Pensilvânia após o começo da industrialização do estado. Além disso, o estado possui uma das maiores comunidades judaicas do país, com aproximadamente 440 mil judeus. Nas últimas duas décadas, a maior parte dos imigrantes que se instalaram no estado foram budistas, hindus, muçulmanos e sikhs. Mais de 85% da população da Pensilvânia vive em cidades, e mais de 80% da população do estado vive em regiões metropolitanas. As maiores cidades da Pensilvânia são organizadas em ordem decrescente, a saber: Filadélfia, Pittsburgh, Allentown, Erie, Reading, Scranton, Bethlehem e Harrisburg. Embora não sejam legalmente estruturadas como cidades, os distritos (boroughs) de Bethel Park, Monroeville, Norristown, Plum e State College possuem populações significantes.

O Produto Interno Bruto da Pensilvânia foi de 553 bilhões de dólares em 2010, o sexto maior do país. A renda per capita do estado, por sua vez, foi de 34 619 dólares, o 26º maior do país. Se a Pensilvânia fosse um país independente, teria o 17º maior PIB do mundo. A taxa de desemprego da Pensilvânia é de 5,5%. A Pensilvânia é a casa de muitas equipes de esportes profissionais de grandes ligas nacionais; no beisebol o Philadelphia Phillies e o Pittsburgh Pirates da MLB, no basquetebol o Philadelphia 76ers da NBA, no futebol americano o Pittsburgh Steelers e o Philadelphia Eagles da NFL, no hóquei no gelo o Philadelphia Flyers e o Pittsburgh Penguins da NHL e no futebol o Philadelphia Union da MLS. Entre eles, essas equipes acumularam 7 Campeonatos da World Series (Pirates 5, Phillies 2), 3 Campeonatos da NFL da era pré-Super Bowl (Eagles), 7 Campeonatos do Super Bowl (Steelers 6, Eagles 1), 2 campeonatos da NBA (76ers) e 7 Copas Stanley (Penguins 5, Flyers 2). A primeira World Series entre o Boston Pilgrims (atual Boston Red Sox) e o Pittsburgh Pirates foi disputada em Pittsburgh em 1903. Desde 1959, a Little League World Series é realizada todos os verões em South Williamsport, perto de onde a Little League Baseball foi fundada. Williamsport. O futebol também está ganhando popularidade no estado da Pensilvânia. Com a adição da Philadelphia Union na MLS, o estado agora possui três equipes elegíveis para competir anualmente na U.S. Open Cup. As outras duas equipes são a Philadelphia Union II e o Pittsburgh Riverhounds.

Bibliografia Geral Consultada.

REICH, Wilhelm, La Función del Orgasmo. Buenos Aires: Ediciones Paidós, 1974; Idem, O Combate Sexual da Juventude. 2ª edição. Lisboa: Editor Antídoto, 1978; [Anônimo] Las Mil y Una Noches. Textos Íntegros. Tomo I. Barcelona, 1985; CHAUÍ, Marilena de Souza, Repressão Sexual: Essa Nossa (Des)conhecida. São Paulo: Editora Brasiliense, 1987; MANNHEIM, Karl, “El Problema de las Generaciones”. In: Revista Española de Investigaciones Sociológicas, n° 62, pp. 193-242; 1993; ALBERONI, Francesco, Innamoramento e Amore. Roma: Editora ‏Garzanti, 1995; VIGARRELLO, Georges, Storia della Violenza Sessuale. Venezia: Marsílio Editore, 2001; ABBOTTI, Elizabeth, Storia della Castitá. Delle Vestali a Elisabetta I, da Leonardo da Vinci a Magic Jonhson. Milano: Mondadori Editore, 2008; PEREIRA, Luciano, Depressão: Mobilização e Sofrimento Social. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Filosofia. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Departamento de Filosofia. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2010; BADINTER, Elisabeth, O Conflito: A Mulher e a Mãe. Rio de Janeiro: Editor Record, 2011; WEBER, Max, Economia e Sociedade: Fundamentos da Sociologia Compreensiva. 4ª edição. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2012; DE LA BÉDOYÈRE, Guy, Os Romanos para Leigos. Rio de Janeiro: Editor alta Books, 2013; BORGES, Bento Souza, Juventude, Trabalho e Educação Superior: A Geração Y em Análise. Tese de Doutorado. Programa de Pós-graduação em Educação. Uberlandia: Universidade Federal de Uberlandia, 2014; ROSS, Janell, “How Planned Parenthood actually uses its federal funding”. In: The Washington Post, 2015; SOUZA FILHO, Homero Santos, Educação e Desnaturação no Emílio de Rousseau. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Filosofia. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2015; COSTA, Sarah Moralejo, Fanworks de Fanworks: A Rede de Reprodução de Fãs. Tese de Doutorado em Comunicação. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2018; MASCARENHAS, Alan Mangabeira, “You Wanna a Piece of Me”: A Estética do Fã na Peregrinação ao Corpo Monumento da Diva Pop em Las Vegas. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2019; SENA, Lina, “Education USA/Unifor: 15 Anos Conectando Alunos ao Mundo Acadêmico Internacional”. In: https://unifor.br/-/educationusa/24/03/2025; entre outros.  

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