“É fazendo que se aprende a fazer aquilo que se deve aprender a fazer”. Aristóteles
David
Cronenmberg é um dos principais criadores do gênero body horror, com
seus filmes “explorando a transformação corporal visceral, doenças infecciosas
e o entrelaçamento do psicológico, físico e tecnológico”. Cronenberg é mais
reconhecido por explorar esses temas por meio de filmes de terror de ficção
científica como Shivers (1975), Scanners (1981), Videodrome (1983)
e The Fly (1986), embora também tenha dirigido dramas, thrillers
psicológicos e filmes de gângster. Os filmes de Cronenberg polarizaram os
críticos e o público; ele recebeu elogios da crítica e gerou polêmica por suas
representações de sangue e violência. O Village Voice, por exemplo, o
chamou de “o diretor narrativo mais audacioso e desafiador do mundo de língua
inglesa”. Seus filmes ganharam vários prêmios, incluindo o Prêmio Especial do
Júri para Crash no Festival de Cinema de Cannes de 1996, um prêmio único que é
distinto do Prêmio do Júri, pois não é concedido anualmente, mas apenas a
pedido do júri oficial, que neste caso concedeu o prêmio “por originalidade,
ousadia e audácia”. Entre os anos 2000 e 2020, Cronenberg colaborou em vários
filmes com o talentoso Viggo Mortensen, incluindo “Uma História de Violência”
(2005), “Senhores do Crime” (2007), “Um Método Perigoso” (2011) e “Crimes do
Futuro” (2022). Sete de seus filmes foram selecionados para competir pela Palma
de Ouro, o recente “Os Sudários” (2024), exibido no Festival de Cinema de
Cannes de 2024. Também reconhecido como The Shrouds, é um filme de drama
e terror dirigido por David Cronenberg, com Diane Kruger, Vincent Cassel, Guy
Pearce e Sandrine Holt no elenco. A trama social aborda o luto e a perda,
explorando temas como voyeurismo e necrofilia através de uma tecnologia
abstratamente inovadora, mas sobretudo visionária que permite aos enlutados
verem e interagirem com os seus entes queridos falecidos.
O filme estreou em 19 de maio de 2024 no 77º Festival de Cinema de Cannes, e foi selecionado para competir pela Palma de Ouro em sua seção de competição principal, onde Fargeat ganhou o prêmio de Melhor Roteiro. Foi lançado nos cinemas do Reino Unido e dos Estados Unidos pela Mubi em 20 de setembro de 2024 e da França pela Metropolitan Filmexport em 6 de novembro de 2024. Nas bilheterias, o filme arrecadou US$ 79,1 milhões com um orçamento de produção de US$ 17,5 milhões e se tornou o filme de maior bilheteria da Mubi. Recebeu críticas positivas e vários elogios, incluindo Melhor Maquiagem e Penteados e uma indicação para Melhor Filme no 97º Oscar. A atuação de Moore lhe rendeu um Globo de Ouro, Critics` Choice Award e Screen Actors Guild Award, e uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz. No seu 50º aniversário, Elisabeth Sparkle, uma outrora celebrada, agora decadente estrela de cinema de Hollywood, é despedida sem cerimônias do programa de aeróbica que apresentava há anos, com o produtor Harvey a dizer que sua idade avançada é o motivo. Enquanto se conduzia para casa, Elisabeth se distrai com um outdoor de si mesma a ser retirado, resultando num grave acidente. Num check-up no hospital, um jovem enfermeiro oferece-lhe um pen USB com o título The Substance, que explica que há um soro que gera uma versão “mais jovem, mais bonita e mais perfeita” de si mesma. Após hesitação, Elisabeth encomenda o soro e injeta o ativador de uso único, o que resulta no surgimento da versão mais jovem, através de uma fenda nas costas dela.
O
soro estabelece uma relação simbiótica entre os dois corpos: Elisabeth
tem de transferir a sua consciência entre os corpos a cada sete dias, com o
corpo inativo a permanecer inconsciente. A outra versão também necessita de
injeções diárias de “fluido estabilizador”, extraído do corpo original através
de uma punção lombar, para prevenir a deterioração. A outra versão, que se
nomeia a si própria, Sue, é rapidamente contratada por Harvey para substituir
Elisabeth. O novo programa de televisão de Sue lança-a para a fama, sendo
eventualmente escolhida para apresentar o grande programa de Ano Novo da
emissora. Como Sue, a atriz desfruta de uma vida confiante e hedonista,
enquanto, vivendo como Elisabeth, se torna numa reclusa insegura. Após uma
noite de sexo, Sue extrai mais fluido estabilizador de Elisabeth para prolongar
as atividades sexuais. Na manhã seguinte, Elisabeth acorda para descobrir que o
seu dedo indicador envelheceu rapidamente. O fornecedor adverte que permanecer
como a Sue por mais de sete dias provoca um envelhecimento rápido e
irreversível do corpo original, e que Elisabeth deve seguir o horário de trocas
para evitar que isso volte a acontecer. Apesar de partilharem uma única
consciência, ambas as personalidades começam a ver-se como indivíduos separados
e rapidamente começam a odiar-se. “Elisabeth” torna-se ciumenta da beleza
e sucesso de Sue, e ressente as frequentes negligências da segunda em
relação ao horário de trocas; “Sue” fica horrorizada com a autocomiseração de Elisabeth e os seus episódios de compulsão alimentar. Após um
episódio autodestrutivo como Elisabeth, uma Sue perturbada recusa-se a trocar
de volta, permanentemente no corpo jovem.
Três meses depois, no dia da transmissão de Ano Novo, Sue descobre que o corpo de Elisabeth está completamente esgotado de fluido estabilizador. O fornecedor informa-a de que a única maneira de reabastecer o fluido é trocando novamente para o seu corpo original. Quando trocam, Elisabeth descobre-se horrivelmente transformada, estando careca, corcunda e deformada. Desesperada para parar o abuso de Sue do fluido estabilizador, que continua a degradar o seu corpo, Elisabeth adquire um soro projetado para eliminar Sue. No entanto, ainda desejando admiração, Elisabeth hesita antes de injetar a seringa de eliminação completa, procedendo a ressuscitar Sue, perturbando o equilíbrio simbiótico e deixando ambas totalmente conscientes. Ao perceber a intenção de Elisabeth ao ver a seringa quase vazia, Sue entra num estado de fúria e mata brutalmente Elisabeth, repetidamente esmagando-lhe a cara contra um espelho, pisando-a e pontapedeando-a antes de partir para apresentar o especial de Ano Novo. Sem Elisabeth, o corpo de Sue começa a deteriorar-se, com três dentes, uma unha e uma orelha direita a caírem. Em pânico, Sue corre para e tenta criar uma nova versão de si própria com o soro ativador que resta, algo expressamente proibido pelo fornecedor. Isto cria inadvertidamente o “Monstro Elisasue”, um híbrido grotesco das formas que inclui o rosto de Elisabeth nas costas. Elisasue veste-se e vai para a transmissão ao vivo com uma máscara improvisada de Elisabeth Sparkle. Quando a criatura sobe ao palco e começa a falar ao público, a máscara cai.
A audiência horrorizada entra em caos violento; um homem decapita Elisasue, e seu corpo começa a se pulverizar e encharcar a plateia com sangue. O que resta de Elisasue escapa do estúdio e colapsa numa massa de vísceras. O rosto original emerge, rasteja à negligenciada estrela na Calçada da Fama de Hollywood, olha para as estrelas, sorri e derrete. Restos ensanguentados são limpos por máquina no dia seguinte. O filme acompanha uma celebridade em declínio que decide usar uma droga do mercado negro, uma substância replicadora de células que cria temporariamente a versão mais jovem e melhor de si mesma, causando efeitos inesperados. Metodologicamente o escritor Antoine Lilti (2018) os apresenta na encruzilhada da sociedade da corte e da vida intelectual, ao mesmo tempo e espaço em que enfatiza seu papel fundamental no início da Revolução Francesa. Por exemplo, o salão Choiseul em Chanteloup é objeto, no Le Monde des Salons, de um estudo aprofundado de Lilti. Este é descrito como um “nó onde se cruzam os fluxos de informação do tribunal, do mundo literário, dos cafés e dos jornalistas” (Éric Saunier) 10e um pool de oponentes e oposições. Além disso, Lilti quer contradizer uma visão excessivamente idealizada, isto é, às vezes tingida de nostalgia – de salões onde estes são considerados apenas pelo seu aspecto filosófico e intelectual. Ele enfatiza as dimensões mundanas e triviais (jogos, refeições, shows 13): Roger Chartier explica que Antoine Lilti, os salões “não são tanto lugares para exercícios filosóficos, mas oportunidades para compartilhar os prazeres e jogos do mundanismo”. Seu livro Le Monde des Salons (2005) foi traduzido para o inglês por Lydia Cochrane em 2015, sob o título: “O Mundo dos Salões: Sociabilidade e Mundanismo na Paris do século XVIII”, na imprensa da Oxford Universidade.
Ainda ligada ao ideário do Iluminismo e à clássica Revolução Francesa, Lilti estudou, em Public Figures (2014), o nascimento e a relação de poder histórico do conceito moderno de celebridade que tem como primícias no século XVIII. Neste livro, o historiador se propõe a estudar “as figuras públicas que desde a década de 1750 até cerca de 1850 marcaram a opinião europeia e americana”. Analisa as celebridades de J.-J Rousseau transportado pelo sucesso de La Nouvelle Héloïse, de Voltaire (Lilti retorna à sua “coroação” na Comédie-Française em março de 1778) do comediante Janot. Lilti explica que alguns autores contemporâneos à Voltaire e Janot lamentaram que um filósofo e um ator de boulevard pudessem ter uma celebridade equivalente. Assim, a fama é vista “como uma força que 'nivela', que apaga as distinções legítimas entre esferas de atividade”. Uma ligação com sua obra sobre o mundo dos salões seria a da distinção entre as noções de público e privado, e do comentário à obra do teórico Jürgen Habermas sobre esses conceitos. Na Introdução do livro, Antoine Lilti propõe diferenciar entre glória, reputação e celebridade. As duas primeiras são as características do tradicional latim fama. Enquanto o terceiro é mais moderno. Ele detalha que a glória se refere aos heróis antigos e à comemoração dos gloriosos mortos e que a reputação é “em grande parte independente” da celebridade. Para descrever a celebridade, Lilti cita uma velha fórmula: “uma pessoa famosa é conhecida por pessoas que não têm motivos para opinar sobre ela”. A celebridade diz respeito ao público variado, contemporâneo à pessoa. E costuma estar ávido por detalhes sobre a extensa história da vida privada dessas celebridades e busca construir um vínculo afetivo com elas. Lilti se propõe a compreender a notoriedade do ator François-Joseph Talma (1763-1826) com esta chave de leitura. Mas também as figuras David Garrick e Sarah Siddons na Inglaterra, ou mesmo Miss Clairon na França.
Para
que possamos melhor especificar a questão tópica as quais derivam os grupos particularmente dedicados às ideias e ao conhecimento, isto é, a
clericatura, denominam todas as coisas: pessoas, objetos, sensações,
sentimentos e a intelligentsia, faremos uma
distinção sobre a posição da classe intelectual e as duas
culturas nas sociedades arcaicas, nas quais há, fora de dúvia e com frequência, uma
extraordinária acumulação de savoir-faire e de conhecimentos sobre a vida
vegetal e animal, os homens possuem por vezes um saber escondido ás mulheres, e
essas, um saber desconhecido dos homens: os anciãos são, em geral, portadores
da experiência e da sabedoria e há, entre os feiticeiros ou xamãs, um
conhecimento visionário que é fonte, segundo Morin (1972), de terapias e de
atos mágicos. São comuns ao conjunto da sociedade, por um lado, um rico
pensamento cosmogônico e cosmológico, expresso sob a forma de mitos e, por
outro lado, uma sabedoria de vida concentrada em máximas e provérbios. Nas
sociedades teocráticas da Antiguidade, comparativamente, os saberes
cosmológicos, mágico, mitológico e religioso foram concentrados nos espíritos, na casta de Sacerdotes/Magos. As verdades supremas, de caráter
esotérico, não podiam ser divulgadas e o acesso exigia iniciação longa, na Idade Média ocidental a instrução é privilégio dos clérigos.
A
sentinela é a pessoa que tem a função de vigiar os outros e estar atento a
qualquer perigo ou ameaça, real ou imaginária. Por este motivo, é um termo técnico
que se utiliza primordialmente na esfera de influência militar. A estratégia
militar exige um complexo sistema de organização. Um elemento fundamental é a
segurança das tropas que formam um corpo militar. Neste contexto de segurança,
a sentinela cumpre com uma missão específica: vigiar e advertir qualquer tipo
de perigo que seja possível. O indivíduo que realiza esta função é normalmente
uma figura ideal do soldado que durante um tempo determinado se coloca em
posição estratégica para ter amplo campo de visão. Na segunda metade do século
XVIII: o soldado se tornou algo que se fabrica; de uma massa informe, de um
corpo inapto, fez a máquina de que se precisa; corrigiram-se aos poucos as
posturas: lentamente uma coação calculada percorre cada parte per se do corpo,
assenhoreia-se dele, dobra o conjunto, torna-o perpetuamente disponível, e se
prolonga, em silêncio, no automatismo dos hábitos (cf. Foucault, 2014); em
resumo, foi “expulso o camponês” e lhe foi dada a “fisiognomia de soldado”. O
rosto seduz de forma mais segura e ainda mais sutil do que as palavras. O rosto
é objeto de um trabalho pessoal, indispensável à conversão e ao comércio entre
os homens. Manuais de retórica, de fisiognomonia, livros de civilidade e
artes de conversação lembram incansavelmente da passagem do século XVI ao XVIII
que o rosto está no centro das percepções de si, da sensibilidade ao
outro, dos rituais da sociedade civil, das formas do político.
Trata-se de um privilégio antigo que reveste, porém, uma nova tonalidade a partir do início daquele século. Todos esses textos dizem e repetem que o rosto fala. Ou, mais precisamente, que pelo rosto é o indivíduo que se exprime. Um laço se esboça e depois é traçado, mais nitidamente entre sujeito, linguagem e rosto, um laço crucial para a elucidação moderna. As percepções do rosto são lentamente deslocadas, as sensibilidades à expressão se desenvolvem progressivamente. É um dos traços físicos essenciais do avanço do individualismo nas mentalidades. Um “individualismo de costumes” que Philippe Ariès atribui a um processo social geral de privatização que vai transformar profundamente a identidade individual entre estes últimos séculos e reconfigurar de maneira paradoxal as relações entre comportamentos públicos e privados: o que vai, por um lado, afirmar a proeminência do indivíduo e incitar a expressão pessoal. O indivíduo é, em diante, indissociável da expressão singular de seu rosto, com uma tradução corporal de seu eu íntimo. Mas, por outro lado, esse mesmo movimento que o incita a se exprimir leva-o ao mesmo tempo a se apagar, a mascarar o seu rosto, a encobrir sua expressão. As sentinelas ficam situadas em pontos específicos no exterior dos quartéis e costumam proteger-se das inclemências do tempo e espaço no interior de uma guarita. Este soldado deve permanecer uniformizado e armado. Deve-se ressaltar a importância do papel da sentinela sob a ótica militar, pois cumpre também disciplinarmente uma função social comunicativa, prêt-à-porter através de sua presença e por estar sempre pronto para defender o quartel de qualquer eventualidade.
Se
a sentinela não cumprisse com essa função de prontidão certamente o recinto militar ficaria
desprotegido e suscetível a ataques. Fora do campo militar é possível também
empregar o conceito sentinela em um sentido figurado. Isso acontece com as
várias passagens da Bíblia e que “aparecem como sinônimo de guarda”. Por
exemplo, os querubins são descritos como guardiões da árvore da vida e o Arcanjo
Miguel tem a incumbência de cuidar do corpo de Moisés. A figura do profeta
Ezequiel também cumpre essa função como sentinela do “seu povo”, o nome
Ezequiel significa em hebraico “Deus é minha fortaleza”. Desta maneira, a ideia
de sentinela na Bíblia tem o papel de guardião em um sentido simbólico
de expiação. Os recrutas são habituados a manter a cabeça ereta e alta; a se
manter direito sem curvar as costas, a fazer avançar o ventre, a salientar o
peito, e esconder o dorso; e a fim de que se habituem essa posição lhes será
dada apoiando-os contra um muro, de maneira que os calcanhares, a batata da
perna, os ombros e a cintura encostem-se a ele, assim como as costas das mãos,
virando os braços para fora, se afastá-los do corpo, ser-lhes-á igualmente
ensinado a nunca fixar os olhos na terra, mas a olhar com ousadia aqueles
diante de quem eles passam, a ficar imóveis esperando o comando, sem mexer a
cabeça, as mãos nem os pés, enfim, marchar com passo firme, com o joelho e a
perna esticados, a ponta baixa e para fora.
Houve na história durante a Época Clássica, uma descoberta da
representação do corpo como objeto de alvo e poder, ao corpo que se manipula,
modelam-se, treina-se, que obedece, responde, torna-se hábil ou cujas forças se
multiplicam. O grande livro do homem-máquina foi escrito simultaneamente em
dois registros: no anátomo-metafísico, cujas primeiras páginas haviam sido
escritas por René Descartes e que os médicos, os filósofos continuaram; o
outro, técnico-político, constituído por um conjunto de regulamentos militares,
escolares, hospitalares e por processos empíricos e refletidos para controlar
ou corrigir as operações do corpo.
Dois
registros bem distintos, pois se tratava ora de submissão e utilização, ora de
funcionamento e de explicação: corpo útil, corpo inteligível. E, portanto, de
um ao outro, pontos de cruzamento. “O homem-máquina” de La Mettrie é ao mesmo
tempo uma redução materialista da alma e, além disso, uma teoria geral do
adestramento, no centro dos quais reina a noção de “docilidade” que une corpo
ao corpo analisável o corpo manipulável. Ipso facto, é dócil, afirma
Foucault, “um corpo que pode ser utilizado, que pode ser transformado e
aperfeiçoado”. O que há de novo? Não é a
primeira vez, certamente, não sendo a última, que o corpo é objeto de
investimentos tão imperiosos e urgentes; nas sociedades onde o corpo está preso
no interior de poderes apertados, que lhe impõem limitações, proibições ou
obrigações. Muitas coisas são novas nessas técnicas. A escala, em primeiro
lugar: não se trata de cuidar do corpo, em massa, como se fosse uma unidade
indissociável, mas de trabalhá-lo detalhadamente; de exercer sobre ele uma
coerção sem folga, de mantê-lo ao mesmo nível da mecânica – movimentos, gestos,
atitude, rapidez: poder infinitesimal sobre o corpo ativo. O objeto, em seguida
do controle: não, ou não mais os elementos significativos do comportamento ou a
linguagem do corpo; mas a economia, a eficácia dos movimentos, sua organização
interna; a coação se faz mais sobre as forças que sobre os sinais; a única
cerimônia que realmente importa é a do exercício. A modalidade, implica coerção
ininterrupta, constante, que vela sobre os processos da atividade mais que
sobre seu resultado e se exerce de acordo com uma codificação que esquadrinha
formalmente ao máximo o tempo, o espaço, os movimentos.
Esses
métodos que permitem o controle minucioso das operações do corpo, que realizam
a sujeição constante de suas forças e lhes impõem uma relação de
docilidade-utilidade, são o que podemos chamar as “disciplinas”. Muitos
processos disciplinares existam há muito tempo: nos conventos, nos exércitos,
nas oficinas também. Mas as disciplinas se tornaram no decorrer do século XVII
e XVIII fórmulas gerais de dominação. Diferentes da escravidão, não se
fundamentam numa relação de apropriação dos corpos. Diferentemente da domesticidade,
quando nos vemos diante do imediato, que é uma forma de relação social de
dominação constante, global, maciça, não analítica, ilimitada e estabelecida
sob a forma da vontade singular do patrão, da questão de seu “capricho”.
Diferentes da vassalidade que é uma relação de submissão altamente codificada,
mas longínqua e que se realiza menos sobre as operações do corpo que sobre os
produtos trabalho e as marcas rituais da obediência. Diferentes ainda do
ascetismo e das “disciplinas” de tipo monástico, que têm por função realizar
renúncias mais do que aumentos de utilidade e que, implicam obediência à
outrem, têm como fim principal um aumento do domínio de cada um sobre seu
próprio corpo. O momento histórico das disciplinas é o momento de representação
nas sociedades em que nasce uma arte de utilidade de uso do corpo humano, que
visa não exclusivamente o aumento de suas habilidades, nem tampouco aprofundar
sua sujeição, mas a formação de uma relação que no mesmo mecanismo o torna
tanto mais obediente quanto é mais útil, e inversamente.
Forma-se
uma política das coerções que são um trabalho sobre o corpo, uma manipulação
calculada de seus elementos, de seus gestos, de seus comportamentos. O corpo
humano entra numa maquinaria de poder que o esquadrinha, o desarticula, o
recompõe. Sem temor a erro assim se coloca o problema abstrato das relações
desses procedimentos com o discurso. Mas eles não têm a fixidez repetitiva dos
ritos, dos costumes ou dos reflexos, como ocorre via de regra com cidades da
dimensão de Fortaleza – saberes que não mais ou ainda se articulam em
discursos. Sua mobilidade se ajusta incessantemente a uma diversidade de
objetivos e “golpes”, mas sem que dependam de uma elucidação verbal. Mas são de
fato autônomas a este respeito? Táticas no discurso pode ser o ponto de referência
formal de táticas sem discurso. Como também essas maneiras de pensar investidas
em maneiras de fazer constituem um caso estranho – e maciço – das relações que
tais práticas mantêm com teorias. Em Foucault, o drama se desenrola, como
sempre, entre duas forças, cuja relação a astúcia do tempo inverte. Essas
táticas vão se afinando e estendendo sem precisar recorrer a uma ideologia.
Mediante um lugar celular do mesmo tipo para todos, elas aperfeiçoam a
visibilidade e o reticulado desse espaço para transformá-lo num instrumento
capaz de disciplinar, vigiando, e de tratar não importa que grupo humano.
Trata-se de detalhes tecnológicos, processos ínfimos e decisivos. Acabam
vencendo a inércia por assim dizer da concewpção de teoria e social: por eles se impõem a universalização da pena uniforme, a
prisão, que inverte, a partir de dentro, as instituições revolucionárias e
instala em toda parte o “penitenciário” ocupando o lugar da justiça penal que os
distingue.
Esta
notável técnica de interpretação historiográfica destaca ao mesmo tempo duas
questões que não se devem, no entanto, confundir: de um lado, o papel decisivo
dos procedimentos e dispositivos tecnológicos na organização de uma sociedade;
de outro lado, o desenvolvimento excepcional de uma categoria particular desse
dispositivo: a) como explicar o desenvolvimento privilegiado da série
particular que é constituída pelos dispositivos panópticos? E, b) qual o
estatuto de muitas séries que, prosseguido em seus silenciosos itinerários, não
deram lugar a uma configuração discursiva nem a uma sistematização tecnológica?
Poderiam ser consideradas como uma imensa reserva constituindo os esboços ou
traços de desenvolvimentos diferentes. Outros dispositivos tecnológicos, e seus
jogos relativamente duradouros à ideologia, foram já esquadrinhados por estudos
recentes que sublinham também, embora em perspectivas diferentes, o seu caráter
dominante. Mas parecem prevalecer durante um tempo mais ou menos longo, depois
cair na massa estratificada dos procedimentos, enquanto vão dando
lugar a outros através da representação do papel de informar um determinado
sistema.
A Substância (The Substance), tem como representação social um filme de 2024, a especificidade do gênero terror corporal, escrito e dirigido por Coralie Fargeat, uma diretora de cinema e roteirista francesa. Foi indicado ao Oscar 2025 por produzir, dirigir e roteirizar o filme de terror corporal A Substância, estrelado por Demi Moore, Margaret Qualley e Dennis Quaid. Em 2024, ela dirigiu The Substance (2024), um filme satírico de terror corporal estrelado por Demi Moore e Margaret Qualley que lhe rendeu o Prêmio do Festival de Cinema de Cannes de Melhor Roteiro e indicações ao Oscar 2025 de Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Roteiro Original e ao Globo de Ouro de Melhor Filme de Comédia ou Musical, Melhor Roteiro e Melhor Direção. A obra também recebeu nomeações ao Oscar de Melhor Atriz para Demi Moore e ao de Melhor Maquiagem e Cabelo; e ao Globo de Ouro de Melhor Atriz de Comédia ou Musical e Melhor Atriz Coadjuvante para Demi Moore e Margaret Qualley, respectivamente. Anteriormente Coralie ganhou reconhecimento com seu longa-metragem de estreia Revenge, em 2017, pelo qual recebeu prêmios dentre vários Festivais de Cinema Independentes. Suas obras são reconhecidas pelo alto teor de poder simbólico e por equilibrarem pari passu violência e humor. Fargeat lista David Cronenmberg, John Carpenter, David Lynch, Paul Verhoeven e Michael Haneke como cineastas que influenciaram o seu trabalho, assim como o estilo de vários outros diretores de cinema sul-coreanos. David Cronenmberg, nascido em 15 de março de 1943, sem temor a erro, é um extraordinário diretor de cinema, roteirista, produtor e ator canadense.
Um
filme independente ou filme indie, sociologicamente é um tipo de
produção de cinema, resultando em um filme que é produzido com pouca ou nenhuma
interferência de um grande estúdio de cinema. Além de ser produzido e
distribuído por empresas de entretenimento independentes, os filmes
independentes também são produzidos e/ou distribuídos por subsidiárias de
grandes estúdios de cinema. Filmes independentes são, por vezes, distinguíveis
por seu conteúdo e estilo, e pela maneira em que a visão artística pessoal dos
cineastas é mostrada. Normalmente, mas não sempre, do ponto de vista
merceológico, os filmes são realizados com orçamentos consideravelmente mais
baixos do que outros filmes. Em geral, a comercialização de filmes
independentes é caracterizada por lançamentos limitados, em poucas salas de
cinema, mas também podem ter grandes campanhas de marketing e terem um grande
lançamento. Filmes independentes são, muitas vezes, em particular, exibidos em
festivais antes do lançamento nos cinemas. A tese é a seguinte: uma produção
independente pode rivalizar com a produção tradicional cinematográfica
se tem o financiamento e a distribuição necessária para isso. Há um prêmio
anual, o Independent Spirit Awards, onde premiações são oferecidas aos
melhores filmes independentes e aos profissionais neles envolvidos. O filme
independente mais caro já criado foi The Phantom of the Opera, um filme
de 2004 dirigido por Joel Schumacher, que no final teve seus direitos comprados
pela Warner Bros. Pictures.
Os Prêmios Independent Spirit, às vezes traduzido como Prêmio Espírito Independente (Film Independent Spirit Awards), abreviado também como Spirit Awards e originalmente reconhecido como Friends of Independents Awards são concedidos anualmente desde 1984 a cineastas independentes. Os vencedores eram tipicamente premiados com “pirâmides de vidro acrílico” contendo cordas suspensas representando os “pequenos orçamentos de filmes independentes”. Desde 2006, os vencedores recebem um troféu de metal que representa um pássaro com asas abertas pousado sobre um pilar, que contém os cadarços do projeto anterior trançados envolto de si. Em 1986, o evento foi renomeado para Independent Spirit Awards. Chamada de Film Independent Spirit Awards, a premiação é organizada pela Film Independent, organização de artes sem fins lucrativos que também produz o Festival de Cinema de Los Angeles e cuja missão é defender a independência criativa na narrativa visual e apoiar uma comunidade de artistas que incorporam diversidade, inovação e singularidade de visão. No mês de novembro, seus membros votam para determinar os vencedores dos prêmios, os quais são entregues no ano posterior. Reconhecidos por sua credibilidade, tornou-se um termômetro para o Oscar quando se refere a filmes independentes na corrida. A cerimônia de premiação é realizada dentro de uma tenda na praia de Santa Mônica, Califórnia, geralmente no dia anteriormente do Oscar, desde 1999 no sábado próximo passado, e transmitida ao vivo pela rede de televisão Independent Film Channel, assim como pela Hollywood Suíte para o Canadá e pela A&E à América Latina.
O
Independent Film Channel (IFC) é um canal a cabo norte-americano de
propriedade da AMC Networks. Lançado em 1994 como Independent
Film Channel, um spin-off do antigo canal irmão Bravo, o IFC operava
originalmente como um serviço sem comerciais, dedicado à exibição de filmes
independentes sem interrupção. A partir do final da década dos anos 2000, o
canal gradualmente migrou sua programação de filmes independentes para
comédia, terror e programas de televisão e filmes cult. O IFC tornou-se
um serviço com suporte de anúncios em 2010 e aposentou oficialmente seu nome
completo em 2014. A AMC Networks opera uma subsidiária conhecida como IFC Films,
o desdobramento cinematográfico do canal que opera o IFC Center. Em setembro de
2018, estimou-se que aproximadamente 75.295.000 domicílios norte-americanos
(63% dos domicílios com televisão) recebiam IFC. Em dezembro de 2023, esse
número cairia para 56.185.000 domicílios. O canal estreou em 1º de setembro de
1994, sob a propriedade da Rainbow Media, uma subsidiária da Cablevision
Systems Corporation. A IFC surgiu como um spin-off do então canal irmão
Bravo, que se concentrava em uma variedade maior de programação,
incluindo shows relacionados às artes plásticas.
Em
2000, a IFC lançou uma divisão cinematográfica. Em 2005, a IFC expandiu-se para
o seu primeiro empreendimento não televisivo e abriu o IFC Center, um cinema
para filmes independentes na cidade de Nova Iorque. Em 2008, a IFC lançou o seu
Media Lab Studios, uma secção do seu website na qual os utilizadores podem
participar em concursos de cinema patrocinados pela IFC, e podem ver filmes de
outros. Em 2008, a Rainbow Media adquiriu a rede rival da IFC, o Sundance
Channel, a Robert Redford e a Showtime Networks. No final da década, a IFC
começou a expandir sua programação para além de filmes independentes,
produzindo séries originais e adquirindo séries de televisão cult. Em março de
2010, a IFC revelou um novo slogan, “Sempre ligado. Um pouco desligado”,
refletindo o novo foco do canal na programação de comédia. Em 8 de dezembro, a
IFC começou a exibir comerciais em sua programação, um movimento que gerou
polêmica entre seus telespectadores e também começaria a censurar sua
programação. A IFC eventualmente reverteu suas práticas de censura e começou a
transmitir sua programação sem cortes; alardeando publicamente esse fato em
2012 ao lançar anúncios com exibições de blocos consecutivos de filmes como a
série de filmes Sexta-feira 13, destacando “a nudez e o sangue coagulado”. Em
1º de julho de 2011, a Rainbow Media foi desmembrada da Cablevision empresa
separada, que foi renomeada para AMC Networks, empresa americana de
entretenimento com sede no 11 Penn Plaza, Nova Iorque, que possui e opera os
canais a cabo AMC, IFC, We TV e Sundance TV.
Em primeiro lugar é preciso compreendermos algumas questões em torno da hospitalidade que, por sinal antecedem, outrossim, a relação técnica, e, portanto, política da administração singular do espaço. Vamos então retomar a velha discussão de Philippe Ariès que repensada na pena de Norbert Elias (1897-1990) e Michel Foucault (1926-1984), no caso das práticas que produzem efeitos de poder político, transcendem o modo habitual antevisto por Gaston Bachelard (1884-1962) quando materializa a poética do espaço (1961). Historicamente o quarto de dormir tornou-se uma das áreas mais privadas e íntimas da vida humana. Isto é, a família nuclear, base de tudo, continua a ser o único enclave legítimo, socialmente sancionado para esta prática e muitas outras funções humanas. Suas paredes visíveis e invisíveis vedam os aspectos mais privados, íntimos, irrepreensivelmente “animais” da existência humana, à vista de outras pessoas. Na sociedade medieval, essa função não fora assim privatizada e separada do resto da vida social. Era normal receber visitantes em quartos com camas, e as camas tinham valor de prestígio relacionado com sua opulência. Era comum que muitas pessoas passassem a noite no mesmo quarto: na classe alta, o senhor com seus serviçais; a dona da casa com sua dama ou damas de companhia; em outras classes homens e mulheres no mesmo quarto, e não raro, hóspedes que passam a noite. Os que dormiam vestidos despiam-se.
A
Regra de São Benedito (Regula Benedicti), escrita por Bento de Núrsia no
século VI, é um conjunto de preceitos destinados a regular a vivência de uma
comunidade monástica cristã, regida por um abade. Escrita numa altura em que
pululavam, por toda a Cristandade, inúmeras regras, começou a ter sucesso
sobretudo a partir do século VIII, quando os Carolíngios ordenaram que fosse a
única regra monástica autorizada nos seus territórios - e a partir daí, esse
preceito estendeu-se ao resto da Europa, sobretudo com o advento da reforma
gregoriana. Foi também adotada, com igual sucesso, pelas comunidades Regrantes
femininas. Pode-se dizer que a regra tem sido um guia, ao longo histórico da
sua existência, para as comunidades da Cristandade Católica e, desde a Reforma
Protestante, aplicável às tradições Anglicana e Protestante. O espírito da
Regra resume-se em dois pontos: o lema da Ordem de São Bento (Pax), que
nasceria séculos mais tarde, como resultado da agremiação de mosteiros que
partilhavam a mesma regra; e ainda o tradicional ora et labora (“reza e trabalha”),
súmula da vida que cada monge deve levar. A Regra de São Bento já era seguida
nos séculos X e XI por todos os monges do Ocidente. A regra na vida era
adaptada e possuía certa diversidade dada às condições modelares de cada
abadia, mas se fixava nos princípios e formas da vida religiosa. A fonte dos
acontecimentos da vida de São Bento são os Diálogos de São Gregório Magno,
redigidos em 593, baseados em fatos narrados por monges que o conheceram.
A
nudez no banho é realmente necessária no dia-a-dia para manter a higiene
humana, em vista que os banhos podem ser individuais ou coletivos, os banhos
podem ser praticados em espaços públicos ou privados, sendo naturais ou em
construções humanas. A Civilização do Vale do Indo praticava banhos coletivos
“como forma de purificar suas almas”. Em países escandinavos, é popular “o uso
de saunas”. No Japão, Sentō e Onsen são “locais de banhos coletivos”. O banho
em rios, lagos e praias são os espaços públicos mais comuns, atualmente, o
banho de rio é pouco praticado, sendo mais comum em lagos ou em praias quando
reservados para isso. Espaços abertos como fontes de praças raramente são
utilizados. Em representações artísticas, o banho é um tema recorrente utilizado
por pintores para representar a beleza da nudez feminina, como se percebe em
obras dos mais variados nomes da pintura clássica. Inspiration (1915), o
primeiro filme norte-americano não pornográfico que apresentou cenas de nudez.
A representação da nudez em filmes norte-americanos sempre foi controversa.
Vários filmes da Era Silenciosa de Hollywood simbolizavam a nudez da forma e não sexual.
De
modo geral as pessoas dormiam nuas na sociedade leiga e, nas ordens monásticas,
inteiramente vestidas ou vestidas de acordo com o rigor em torno das regras
sociais. A regra de são Benedito – datando pelos menos o século VI – exigia que
os membros da ordem dormissem com suas vestimentas e até mesmo conservassem o
cinto. No século XII, quando a ordem se tornou mais próspera e poderosa, e
menos severas as restrições ascéticas, os monges de Cluny tiveram permissão
para dormir sem roupas. Os cistercianos, à época em que lutavam por reformas,
voltaram à velha regra beneditina. Em duzentos anos (909-1109), Cluny teve
apenas seis abades, sendo quatro deles canonizados: Odão, Odilo, Máiolo e Hugo
de Cluny. Roupas de dormir especiais nunca são mencionadas nas regras
monásticas e ainda menos nos documentos, poemas épicos, ou ilustrações deixadas
pela sociedade secular. Isto se aplicava também às mulheres. No mínimo, era
incomum ir para a cama com a roupa de uso diário. Isto despertava a suspeita de
que a pessoa pudesse ter algum defeito corporal – por que outra razão o corpo
devia ser ocultado? – e de fato isto usualmente acontecia. No Roman de la
Violette, a criada, surpresa, pergunta à patroa por que ela vai dormir de
camisa e esta última explica que “é por causa de uma marca que tem no corpo”.
Esta despreocupação com o corpo nu, naturalmente e o que demonstra no sentido midiático quanto à fronteira da
vergonha, é vista com clareza nas maneiras no que se refere ao banho.
A
atriz e nadadora Annette Kellerman aparece nua em cena do filme: A Daughter
of the Gods (1916). Em resposta às objeções de vários grupos conservadores,
as cenas de nudez foram proibidas de filmes produzidos pelos grandes estúdios
em 1934 pelo Código das Produções da Motion Picture Association of America
(MPAA) nos Estados Unidos da América - reconhecido popularmente pelo nome de
Código Hayes. Tal Código dizia que os filmes só poderiam ser exibidos nos
cinemas norte-americanos após receberem um selo de aprovação de um júri formado
por membros da MPAA. A forte censura conservadora regeria até o ano de 1964,
quando o filme The Pawnbroker - que demonstrava os seios completamente
nus de uma mulher - recebeu aprovação do júri da MPAA. Anteriormente a esse
filme, apenas alguns documentários e filmes estrangeiros demonstravam cenas de
nudez “sem serem perseguidos pela censura do Código das Produções”. Em 1959, o
filme The Immoral Mr. Teas se tornou o primeiro filme da chamada
“indústria erótica” a ser exibido em cinemas, pois, antes disso, os filmes ditos pornográficos eram exibidos em bordéis como forma de estimular os clientes. Com
a instituição voluntária do sistema de classificação por faixa etária pela MPAA
em 1968, a nudez finalmente pôde ser legitimamente incluída num filme comercial
de sucesso. Desde então, vários filmes começaram a praticar a nudez como urge em níveis variados; no entanto, a nudez frontal ainda é mais
presente, no cinema europeu que norte-americano, onde a violência é aceita na
mídia do que a nudez, ao contrário da Europa.
Segundo
o papa Gregório I (590-604), São Bento foi filho de uma família nobre romana da
região de Nórcia, uma comuna italiana da região da Úmbria, província de
Perugia, com cerca de 4. 695 habitantes, próximo à cidade italiana de Espoleto
onde realizou seus primeiros estudos. Foi enviado a Roma para estudar retórica
e filosofia, mas, tendo-se decepcionado com a decadência moral da cidade,
abandona logo a capital e retira-se para Enfide em 500. Ajudado por um abade
chamado Romano, instalou-se em uma gruta de difícil acesso, a fim de viver como
eremita. Depois de três anos nesse lugar, dedicando-se à oração e ao
sacrifício, foi descoberto por alguns pastores, que divulgaram a fama de
santidade. A partir de então, foi visitado constantemente por pessoas que buscavam
conselhos e direção espiritual. Foi eleito abade de um mosteiro em Vicovaro, no
centro da península Itálica. Por causa do regime de vida exigente, os monges
tentaram envenená-lo, mas, no momento em que dava a bênção sobre o alimento,
saiu da taça que continha o vinho envenenado uma serpente e o cálice que se fez
em pedaços. Com isso, São Bento resolve deixar a comunidade e retornando à vida
solitária, vivendo consigo: “habitare secum”, uma expressão em latim como significado “habitar consigo mesmo” ou “viver consigo”. É um conceito psicologicamente
que remete à ideia, introspecção, autoconhecimento e encontro com a própria
interioridade.
Em 503, recebeu discípulos e fundou doze pequenos mosteiros. Em 529, por causa da inveja do sacerdote Florêncio, tem de se mudar para Monte Cassino, onde fundou o mosteiro que viria a ser o fundamento histórico-teológico da expansão da Ordem Beneditina. É neste episódio que Florêncio lhe enviou de presente um pão envenenado, mas Bento deu o pão a um corvo que todos os dias vinha comer de suas mãos e ordenou à ave que o levasse para longe, onde não pudesse ser encontrado. Durante a saída de Bento para Monte Cassino, Florêncio, sentindo-se vitorioso, saiu ao terraço de sua casa para ver a partida do monge. Entretanto, “o terraço ruiu e Florêncio morreu”. Um dos seus adoráveis discípulos de Bento, Mauro, foi pedir ao mestre que retornasse, pois o inimigo havia morrido, mas Bento chorou pela morte de seu inimigo e também pela alegria de seu discípulo, “a quem impôs uma penitência por regozijar-se pela morte do sacerdote”. Em 534, começou a escrever a Regula Monasteriorum. Morre em 21 de março de 547, tendo antes anunciado a alguns monges que iria morrer e seis dias antes mandado abrir sua sepultura. Sua irmã gêmea Escolástica havia falecido em 10 de fevereiro do mesmo ano. As representações sociais ou se quisermos, abstratamente, no âmbito da teologia de São Bento geralmente demonstram, junto com o santo, o “livro da Regra dos Mosteiros, um cálice quebrado e um corvo com um pão na boca, em memória ao pão envenenado que recebeu do sacerdote invejoso”.
São
Bento de Núrsia (480-547) é irmão gêmeo de Santa Escolástica (480-542). Ela
preceituava a pobreza, a virgindade, a obediência, a oração e o trabalho, bem
como a obrigação de hospedar peregrinos e viajantes em seus mosteiros, dar
assistência aos pobres e promover o ensino. Por este motivo, ao lado dos seus
mosteiros, havia sempre uma escola,
razão pela qual ainda, a ordem tornou-se um dos centros culturais da Idade
Média, com suas bibliotecas reunindo o que restara das obras e ensinamentos da
Antiguidade. Embora a fundação da ordem seja anterior a ele, considera-se que
terá verdadeiramente tomado impulso a partir da reunião de vários mosteiros que
professavam a regra por ele escrita, isso muito antes de sua morte. Mais tarde,
os monges dessa ordem passaram a ser reconhecidos como beneditinos. A ordem
está espalhada por quase todo o mundo, com mosteiros masculinos e femininos de
monges e monjas de clausura. Seguindo o seu exemplo e inspiração, diversos
fundadores de ordens religiosas tem baseado as normas e regras de seus
mosteriros na regra deixada por Bento, cujo princípio é Ora et Labora, o que
quer dizer Reza e Trabalha. Santa Escolástica é uma santa católica, nascida no
Reino Ostrogótico e gêmea de São Bento de Núrsia, pai do monaquismo.
Escolástica buscava a santidade consagrada a Deus antes de seu
irmão.
Em
épocas posteriores, segundo a análise histórica e pontual de Norbert Elias (2011: 160), causou surpresa saber que os
cavaleiros medievais eram atendidos no banho por mulheres; do mesmo modo, eram
elas que lhes lavavam à cama a bebida de despedida da noite. Parece ter sido
prática comum, pelo menos nas cidades, despir-se em casa antes de ir para a
casa de banhos. – “É muito frequente”, diz um observador, “ver o pai, nada mais
usando que calções, acompanhado da esposa e dos filhos nus, correr pelas ruas,
de sua casa para os banhos... Quantas vezes vi mocinhas de dez, doze, quatorze,
dezesseis e dezoito anos inteiramente nuas, exceto por uma curta bata, muitas
vezes rasgada, e com trajo de banho esmulambado, na frente e atrás! Com isto
aberto aos pés e com as mãos decorosamente às costas, correndo de suas casas no
meio-dia pelas longas ruas em direção aos banhos. E quantos corpo nus de
rapazes de dez, doze, quatorze e dezesseis anos correndo ao lado delas”. Esta
despreocupação desaparece lentamente no século XVI e mais rapidamente nos
séculos XVII, XVIII e XIX, no início nas classes altas e muito mais devagar nas
baixas. Até então, todo o estilo de vida, com a maior intimidade dos
indivíduos, tornava a vista do corpo nu, pelo menos no lugar apropriado,
incomparavelmente mais comum do que nos primeiros estágios da Era Moderna. –
“Chegamos à conclusão surpreendente”, disse alguém com referência à Alemanha,
“que... a vista da nudez total era regra diária até o século XVI. Todos se
despiam inteiramente à noite antes de ir dormir e da mesma maneira nenhuma
roupa era usada nos banhos a vapor”. E isto por certo não se aplicava apenas à
Alemanha.
As
pessoas adotavam uma atitude menos inibida – ou poderíamos dizer, mais infantil
– com relação ao corpo e a muitas de suas funções. Os costumes ligados ao ator
de ir dormir, porém, mostram menos isso do que os hábitos de banho. Contudo,
uma camisola especial começou a ser adotada lentamente, mais ou menos na
ocasião em que acontecia o mesmo com o garfo e o lenço. Tal como outros
“implementos de civilização”, espalhou-se de forma bem gradual pela Europa. E,
como eles, era símbolo de uma mudança decisiva que ocorria nessa época nos
seres humanos. Aumentava a sensibilidade com tudo aquilo que entrava em contato
com o corpo. A vergonha passou a
acompanhar formas de comportamento que antes haviam estado livres desse sentimento.
A moda no período de 1795-1820 em países europeus e com influência europeia viu
o triunfo final da nudez ou dos estilos informais sobre os brocados, rendas,
perucas e pó de arroz do início do século XVIII. Após a Revolução Francesa,
ninguém queria parecer um membro da aristocracia francesa, e as pessoas
começaram a usar roupas mais como uma forma de expressão individual do
verdadeiro eu do que como uma mera indicação de seu status social. Como
resultado, as mudanças que ocorreram na moda na virada do século XIX deram a
oportunidade de apresentar novas identidades públicas que também forneceram
percepções sobre seu eu privado. Katherine Aaslestad (1961-2021) indica como “a
moda, incorporando novos valores sociais, emergiu como um local-chave de
confronto entre tradição e mudança”. Para o vestido feminino, o dia-a-dia da
saia e do estilo da jaqueta eram práticos e diplomáticos, lembrando a mulher da
classe média trabalhadora. A moda feminina seguia os ideais clássicos, e os
espartilhos apertados foram temporariamente abandonados em favor da figura esguia de cintura alta. Essa figura foi enfatizada por ser
capaz deixar o corpo nu visível por baixo da roupa.
Seios
visíveis faziam parte desse visual clássico, e alguns os caracterizaram na moda
como exclusivamente estéticos e sexuais. Na Grã-Bretanha, a era da Regência na
Inglaterra cobriu os anos em que o rei George III foi considerado incapaz para
governar e seu filho, o príncipe de Gales, governou a Inglaterra como príncipe
regente antes de sua ascensão como rei George IV. Mas a definição mais ampla do
período, caracterizado por tendências na moda, arquitetura, cultura e política,
começa com a Revolução Francesa de 1789 e termina com a ascensão da Rainha
Vitória ao poder, iniciando a chamada Era Vitoriana e terminando o período da
Regência. Os nomes de pessoas populares que viveram época são famosos ainda em
nossos dias atuais: Napoleão I Bonaparte e Josefina, Madame Récamier, Jane
Austen, Percy Bysshe Shelley, Lord Byron, Beau Brummell, Lady Emma Hamilton,
Rainha Luísa da Prússia (1776-1810) seu marido e mais. Beau Brummell
(1778-1840), introduziu calças longas, um arquétipo masculino, alfaiataria de
linho imaculado sem adornos nos ideais da moda masculina.
Na
Alemanha, historicamente as cidade-Estado republicanas abandonaram suas roupas
tradicionais, modestas e práticas e começaram a seguir as tendências da moda
francesa e inglesa de vestidos de manga curta e jaquetas Spencer. As tendências
da moda americana emulavam os vestidos franceses, mas de uma maneira atenuada
com xales e túnicas para lidar com a transparência de chemise. No entanto, na
Espanha, membros da aristocracia, bem como cidadãos da classe baixa, se uniram
e se rebelaram contra os ideais e a moda do iluminismo francês, vestindo-se
como majas e majos para conter seu “orgulho espanhol”. No final do século
XVIII, estava ocorrendo uma grande mudança na moda que eram além das mudanças
no mero estilo e indumentária, mas também para mudanças nos ideais filosóficos
e sociais. Antes dessa época, historicamente a questão do estilo, da identidade
e das tradições do Ancien Régime impediam a conceituação extraordinária hegeliana
de “Eu”. Em vez disso, a identidade era considerada maleável; sujeito a
alterações dependendo das roupas que a pessoa vestia. No entanto, na década de
1780, o novo estilo “natural” permitiu que o Eu interior transcendesse suas
roupas.
O processo psicológico já descrito na Bíblia – “percebendo que estavam nus, ficaram envergonhados” – isto é, um avanço da fronteira da vergonha, um movimento em direção a mais comedimento – repete-se aqui, como aconteceu tantas vezes no curso da história. Desaparece a despreocupação em mostrar-se nu, como também em satisfazer necessidades corporais na frente dos outros. Tornando-se menos comum na vida social esse espetáculo, adquire uma nova importância a descrição do corpo nu na arte. Mais do que até então, torna-se uma imagem onírica um emblema de desejos irrealizados. Para usarmos a palavra de Friedrich Schiller (cf. Maia, 2021), torna-se “sentimental”, em comparação com a “ingenuidade” de fases históricas anteriores. Na sociedade da corte na França, onde levantar-se e ir dormir, pelo menos no caso dos grandes senhores e senhoras, estão incorporados solidamente à vida social, isto é, a camisola, como todas as formas de vestuário que aparecem na vida comunitária do homem, assume funções representativas à medida que se desenvolve. Isto muda quando, com a ascensão das classes subalternas, levantar-se e deitar-se tornam-se coisas íntimas na vida social da família nuclear. Desde a infância José Datrino era possuidor de comportamento atípico.
Que
os rostos dos atores sociais célebres sejam frequentemente reproduzidos pode
parecer algo anódino. Na verdade, trata-se de um fenômeno novo que traduzia o
lugar que o teatro assumia na vida urbana do século XVIII, que se inscrevia
também em uma transformação socialmente mais ampla da cultura visual. Com
frequência imagina-se que a celebridade moderna esteja ligada à reprodução
maciça das imagens, caraterística do século XX. As novas tecnologias de
produção e de reprodução da figura humana, a partir da fotografia, e sobretudo
com o cinema e a televisão, teriam transformado a história da celebridade, para
fazer a visibilidade à forma dominante da notoriedade. É incontestável que
essas tecnologias tenham transformado de maneira considerável o universo
midiático, bom como nossa relação com a imagem. Os retratos das estrelas estão,
disponíveis profusamente, quer dizer fixos ou móveis, em close ou com
teleobjetiva. No entanto, uma transformação da cultura visual já acontecera ao
longo do século XVIII, fundada em inovações técnicas, como a gravura em couro a
buril e a água-forte, que permitiam tiragens bastante importantes, outrora
inacessíveis para a gravura em madeira, e imagens mais fiéis. A mutação era
sobre social e cultural. Nos grandes centros urbanos, os retratos eram cada vez
mais visíveis, em todas as formas de suporte – dos retratos pintados, expostos
nos salões da Academia, as figuras de porcelana que se tornaram na moda,
passado pelas inúmeras gravuras vendidas nas bancas dos comerciantes.
Mas
a celebridade não se reduz à visibilidade e à presença de imagens: ela
se alimenta, na mesma medida, de narrativas, de discursos, de textos, como
demonstra o jornalismo de fofoca. Também no âmbito do impresso, as mutações
foram decisivas do século XVIII. O público alfabetizado conheceu um
crescimento, e a relação com o livro, com a leitura, transformou-se largamente.
Atividade erudita nos séculos precedentes, a leitura muda doravante de
estatuto, conforme demonstrado pelo sucesso dos romances, dos impressos
baratos, e, sobretudo, dos jornais, que se multiplicam, a partir do século
XVII, por toda a Europa. Os jornais literários e as gazetas políticas,
sobretudo, chamaram a atenção dos historiadores. Os primeiros asseguram a
comunicação intelectual entre meios eruditos, ao lado das correspondências
pessoais, que haviam estruturado, a primeira República das Letras. Os
segundos inauguraram uma nova era de informação política, que não circula mais
unicamente sob a forma de correspondências manuscritas ou rumores orais, mas
por meio de organismos de imprensa. Para os teóricos do espaço público, foi por
meios dos jornais, e nos lugares de sociabilidade reservados à sua leitura
coletiva e ao seu comentário, que o uso público da razão se forjou no século
das Luzes. Quando Kant, em O Que é o Iluminismo? descreve a Auflarklärung como um
processo de emancipação individual e coletivo permitido pelo uso que cada um
faz da razão “diante do público que lê” (cf. Lilti, 2018), refere-se aos
leitores de jornais.
E
foi, em um deles, nomeadamente Berlinische Monatsshcrift, que esse texto
famoso apareceu em 1784, no quadro de um debate sobre as questões do casamento
religioso. Alguns anos mais tarde, Hegel poderá chegar a escrever que a leitura
do jornal da manhã tornou-se “a prece do homem moderno”. Entretanto, ao lado dos
homens eruditos e políticos que relatam as notícias diplomáticas e políticas,
recenseiam as novidades científicas e literárias ou acolhem debates
intelectuais, existem, no século XVIII, outros jornais, cada vez mais
numerosos, muitos deles mais interessados na atualidade da alta sociedade e na
cultural, no sentido amplo. Eles oferecem a seus leitores as notícias dos
espetáculos e dos lançamentos literários, dos principais acontecimentos
literários e políticos, mas também os faits divers mais notórios e, cada
vez mais, anedotas sobre a vida, pública e privada, das pessoas célebres. Por
mais que esses periódicos tenham chamado menos a atenção dos historiadores,
eles contribuíram de maneira decisiva para moldar a consciência das camadas médias
urbanas de que elas constituíram um público. A atualidade era alimentada tanto
por faits divers e escândalos quanto por tratados e batalhas. O conjunto dessas
transformações marca a entrada em uma nova era midiática, que,
espirituosamente, um historiador propôs chamar de Print 2.0, para indicar que
se trata de uma verdadeira guinada na história do impresso, de seus usos e de
seus efeitos. A comunicação mediatizada, que difunde textos e imagens para um
público indefinido, ilimitado, torna-se condição ordinária da
comunicação e concorre com as formas tradicionais fundadas na oralidade, na
copresença e na reciprocidade.
As próprias condições da celebridade são profundamente transformadas por ela: as cadeias da reputação estendem-se, e ser confrontado com o nome ou a imagem de pessoas que jamais se encontrará em carne e osso torna-se cada vez mais frequente. A notoriedade de alguns indivíduos muito conhecidos emancipa-se dos círculos tradicionais em que circulava o reconhecimento (a corte, os salões, os espectadores de teatro, as academias e as redes eruditas) e, projeta no espaço público um conjunto de representações – de discursos e de imagens – destinadas a um público indefinido e anônimo de leitores e de consumidores, de curiosos e de admiradores. Essa circulação potencialmente ilimitada e incontrolável de representações da sociedade os constitui como figuras públicas. Mas a questão sociologicamente é: onde se viam retratos de pessoas vivas, antes do século XVIII? Nas moedas em que figurava o rosto do soberano; nos palácios, em que os cortesãos podiam admirar os retratos do rei; nos palacetes aristocráticos em que os donos da casa se faziam voluntariamente retratar ao lado a galeria de seus ancestrais. Tratava-se, antes de tudo, de uma representação de poder, político ou social. O retrato do rei era, um simulacro do poder, eficácia própria para representar e de ser, de algum modo, o próprio poder, em sua força e em seu prestígio, o mesmo podendo ser dito da força de sentido irradiada dos retratos aristocráticos.
Seria
possível objetar que havia, no século XVII, retratos de alguns escritores, como
Corneille ou Molière. Inversamente, pode-se lembrar que não existe nenhum
retrato, em vida, de Rabelais. O reinado de Luís XIV já marcara uma clara
ascensão do retrato, com a criação da Academia de pintura e de escultura, na
qual os retratistas eram admitidos, e o sucesso de Pierre Mignard e, depois, de
Hyacinthe Rigaud. No entanto, os retratos permaneceriam essencialmente ligados
ao universo da corte e da alta nobreza, na qual tinham uma função política e
sentimental. Dificilmente deixava-se que fossem copiados. Até o início do
século XVIII, a existência de retratos sinalizava o acesso de algumas raras
figuras culturais a um estatuto social excepcional, sobretudo no quadro de
instituições a acadêmicas. Eles circulavam unicamente em espaços restritos e
estavam quase sempre integrados em uma relação interpessoal. Possuir o retrato
de alguém era uma honra calcada na dignidade do modelo, mas também na exibição
de um laço direto, familiar ou de amizade. Quando Samuel Sorbière, que admirava
Thomas Hobbes e muito contribuiu para a difusão de sua obra na Europa, quis
obter seu retrato, teve que lhe pedir autorização pessoalmente para mandar
copiar um retrato já existente, que pertencia a Thomas de Martel: “Peço-lhe do
modo mais sério do mundo, certo de que examinareis com benevolência meu pedido
e desconsiderará obrigatoriamente minha ousadia”. Em 1658, escreve-lhe que seu
maior prazer é poder falar dele e de sua obra com seus amigos e contemplar “o
retrato na minha coleção”. O retrato substitui o amigo ausente, inscreve-se em
um regime de familiaridade, de afeição e de admiração. Sua presença honra
Sorbière, pois demonstra que ele mantém laços diretos de amizade com o modelo.
Em 1661, Hobbes aceita posar no ateliê de Samuel Cooper para seu grande amigo
John Aubrey, afim de agradecer-lhe por tê-lo permitido cair nas graças de
Charles II.
Bibliografia
Geral Consultada.
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