Páginas

sexta-feira, 12 de abril de 2024

A Árvore da Autenticidade - Devassamento, Cinema & História Africana.

    Os homens efetivamente precisam de mitos, mas não para comandar”. Norbert Elias 

     

O filme “A Árvore da Autenticidade” (L`Arbre de l`Authenticité) tem como representação social um longa-metragem belga-congolesa de 2025, com direção de Sammy Baloji e duração de 87 minutos. Baloji nasceu em Lubumbashi em 29 de dezembro de 1978. Formou-se em Literatura e Ciências Humanas na Universidade de Lubumbashi. É a capital e a maior cidade da província do Alto Catanga, na República Democrática do Congo. Localiza-se no Sudeste do país, perto da fronteira com a Zâmbia. Tem cerca de 1,13 milhão de habitantes. Foi fundada em 1910 por belgas, sendo designada de Elisabethville até 1966. Foi a capital do Estado do Catanga durante a época em que a província declarou a Independência. A cidade fica a 1000 metros do nível do mar, entre os rios Cafué e Zambeze, na fronteira com a Zâmbia. Também se localiza ali um divisor de águas da África Austral, sendo que o Rio Kafubu corre para o Norte (Lago Mweru), enquanto os rios já citados correm para o Sul do continente. Os outros rios que correm na cidade são respectivamente: Rio Kampemba, Rio Karavya, Rio Lubumbashi, Rio Lwano, Rio Navyundu e Rio Rwashi. O solo é rico em minérios (cobre e cobalto). Localiza-se perto da fronteira com a Zâmbia e liga-se a várias cidades da Zâmbia. Após seus estudos, começou a trabalhar como cartunista. Depois, especializou-se em videoarte e fotografia. Ele fez grande parte de seu trabalho em sua própria província de Katanga. Universidade de Lubumbashi é uma universidade pública da República Democrática do Congo, localizada em Lubumbashi na província de Alto Catanga. É uma das maiores universidades quinxassa-congolesas. 

O campus-sede está localizado na parte Norte da cidade, a oeste do aeroporto, na zona de Kassapa. Os acadêmicos são chamados de kasapards, um nome “sarcástico derivado dos arredores das residências universitárias, que abrigam uma grande prisão e um campo militar, assim relacionado aos périplos da vida universitária. A universidade foi criada em 1955, denominada inicialmente como Universidade Oficial do Congo e Ruanda-Urundi, sob a tutela da Universidade Livre de Bruxelas (Bélgica). Foi inaugurada somente em 1956. Em 1960, foi renomeada como Universidade de Estado de Élisabethville, sob a supervisão da Universidade de Lieja, tornando-se então uma das universidades oficiais do Congo em 1963. Em 1971, após a consolidação das universidades e institutos superiores na Universidade Nacional do Zaire, a instituição passou a ser a Universidade Nacional do Congo/Campus de Elisabethville e, em 1972, durante a zairização, isto é, Authenticité ou zairização foi uma ideologia estatal oficial do regime de Mobutu que se originou na década de 1960 e início da década de 1970, no que foi a primeira República do Congo-Léopoldville, rebatizada mais tarde de Zaire. A campanha foi um esforço para livrar o país dos vestígios remanescentes do colonialismo e da contínua influência da cultura ocidental e para criar uma identidade nacional mais centralizada e singular. A Universidade de Lubumbashi foi recriada em 1981 pela portaria-lei n˚25/81 relativa de estabelecimentos de ensino público autônomos. Nas manifestações sociais e políticas de maio de 1990 e também ocorido nos “distúrbios” nacionais de setembro e outubro de 1991, o governo reprimiu violentamente os protestos estudantis na universidade, matando vários estudantes e destruindo partes de sua infraestrutura.

Em segundo lugar, o termo conflito étnico identifica qualquer conflito que tenha em sua essência o choque brutal de pessoas com origens religiosas, raciais, culturais ou geográficas. O enfrentamento violento está sempre presente e por vezes as ações são tão extremizadas que violam as determinações do Código de Guerra. É o caso do genocídio, que leva a morte milhares ou milhões de pessoas, sem distinção entre civis e militares, homens, mulheres ou crianças. Em alguns casos, especialmente no Oriente Médio, o termo conflito religioso é usado no lugar de conflito étnico porque os motivos religiosos são bem mais destacados em relação aos demais. E, por fim, o continente africano que é marcado por uma série de conflitos étnicos. A maioria dos problemas sociais, políticos e culturais africanos está ligada a fatores desse tipo social, o que é uma consequência da exploração imperialista que as (mal) ditas potências capitalistas desenvolveram no continente negro. A obra do sociólogo profissionalmente não é a do homem público, assevera Émile Durkheim do ponto de vista relacional da divisão do trabalho social. O que a experiência do passado demonstra, antes de mais nada, é que os marcos do grupo profissional devem guardar sempre uma relação com os marcos da vida econômica; foi por ter faltado com essa condição que o regime corporativo desapareceu. Portanto, já que o mercado, de municipal que era, tornou-se nacional e internacional, a corporação deve adquirir a mesma extensão. Em vez de ser limitada aos artesãos de uma cidade, ela deve ampliar-se, de maneira a compreender todo os membros da profissão, dispersos em toda a extensão do território, porque, qualquer que seja a região em que se encontram, quer no campo, todos são solidários uns com os outros e participam da vida comum.               

Nessa vida da sociedade comum é sob certos aspectos independentemente de qualquer determinação territorial, tem que ser criado um órgão apropriado, que a exprima e regularize seu funcionamento. Por causa de suas múltiplas dimensões, tal órgão estaria necessariamente em contato relacional com o órgão central da vida coletiva, pois os acontecimentos importantes o bastante para envolverem toda uma categoria de empresas industriais num país tem necessariamente repercussões bastante gerais, que o Estado não pode sentir, o que o leva a intervir. Não foi sem fundamento que o poder real tendeu indistintamente a não deixar fora de sua ação a grande indústria. Era impossível que ele se desinteressasse por uma forma de atividade que por sua natureza, é capaz de afetar o conjunto da sociedade. Essa organização unitária para o conjunto de um mesmo país não exclui, de modo algum, a formação de similar órgãos secundários, que compreendam os trabalhadores similares em função de uma mesma região ou localidade, e cujo papel seria especializar ainda mais a regulamentação profissional segundo as necessidades locais ou regionais. A vida econômica poderia ser regulada e determinada, sem nada perder de sua diversidade social e política no âmbito das sociedades globalizadas. O regime corporativo in statu nascendi seria protegido contra essa propensão ao imobilismo, que foi frequente e justamente criticada no passado, porque é um defeito que resultava do caráter estreitamente comunal da corporação.

A história social da África é reconhecida no Ocidente por manuscritos que datam da Antiguidade Clássica. No entanto, vários povos deixaram testemunhos etnográficos ainda mais antigos das suas civilizações. Para, além disso, terem sido encontrados os mais antigos fósseis de hominídeos, com cerca de cinco milhões de anos, permitindo considerá-la o “berço da humanidade”, do ponto de vista de sua evolução social com a descoberta de Charles Darwin, de que “o homem detém o centro da espécie”, do ponto de vista histórico de Karl Marx, em que “os homens fazem a história, mas não como eles querem” e, claro, com a descoberta de Sigmund Freud em que “o homem não detém o centro de sua individualidade”. O Egito foi provavelmente o primeiro Estado a constituírem-se na África há aproximadamente de 5000 anos, mas outros reinos ou cidades-Estados se foram sucedendo neste continente, ao longo dos séculos. Podem referir-se os Estados de Kush e Meroé, no Nordeste de África, o primeiro Estado nacional do Zimbabwe e o reino do Congo que, historicamente, mas só aparentemente floresceram como sociedade bem estrutruradas entre os séculos X e XV. Isto é, a África seria essencialmene para a identidade dos egípcios, o berço da humanidade. Com o enfraquecimento das Metrópoles europeias, desenvolveu-se na África um nacionalismo caracterizado pelo anti-imperialismo e pela busca de soberania política e econômica.

O século XIX marcou o devassamento da África pela civilização da Europa industrializada, acarretando profundas modificações nas populações locais. A África sempre sofreu o impacto ambiental e demográfico das transformações políticas mundiais. Em primeiro lugar “Afri” era o nome de vários povos que se fixaram perto de Cartago no Norte de África. O seu nome é geralmente relacionado com os fenícios como “Afar”, que significa “poeira”, embora uma teoria de 1981 tenha afirmado que o nome também deriva de uma palavra de berbere, “ifri”, palavra que significa “caverna”, em referência à gruta onde residiam. No tempo dos povos romanos, Cartago passou a ser a capital da Província de África, que incluiu também a parte costeira da moderna Líbia. Os romanos utilizaram o sufixo “-ca” denotando a noção etimológica de “país ou território”.  A história social da África é conhecida no Ocidente por manuscritos que datam da Antiguidade Clássica. Vários povos deixaram testemunhos etnográficos mais antigos das suas civilizações. A Disputa pela África representou a invasão, conquista e colonização da maior parte da África por sete potências da Europa Ocidental impulsionadas pela Segunda Revolução Industrial durante o final do século XIX e início do século XX na era do Novo Imperialismo: Bélgica, França, Alemanha, Reino Unido, Itália, Portugal e Espanha. Em 1870, 10% do continente estava sob controle europeu.

Em 1914, esse número subiu para quase 90%; os únicos estados que mantiveram a soberania foram Libéria, Etiópia, Egba, Aussa, Senusiyya, Mbunda, o Estado Dervixe, o Sultanato de Darfur, e os reinos Ovambo, a maioria dos quais foram posteriormente conquistados. A Conferência de Berlim de 1884 regulamentou a colonização e o comércio europeus na África e é vista como emblemática da “corrida”. No último quarto do século XIX, houve rivalidades políticas consideráveis entre os impérios europeus, o que impulsionou a colonização. Os últimos anos do século XIX testemunharam uma transição do “imperialismo informal” - influência militar e domínio económico - para o governo direto. Com o declínio dos impérios coloniais europeus na sequência das duas guerras mundiais, a maioria das colônias africanas conquistou a independência durante a Guerra Fria (1947-1991) e decidiu manter as suas fronteiras coloniais na conferência da Organização da Unidade Africana de 1964 devido aos receios de guerras civis e instabilidade regional, colocando ênfase no pan-africanismo. Em 1841, empresários da Europa estabeleceram pequenos postos comerciais geograficamente ao longo das costas da África, mas raramente se mudavam para o interior, tradicionalmente preferindo ficar perto do mar devido à influência colonialista. Eles negociavam principalmente com os moradores locais. Grandes partes do continente eram quase inabitáveis para os europeus devido às suas altas taxas de mortalidade por doenças tropicais, como a malária.

Em meados do século XIX, exploradores europeus mapearam grande parte da África Oriental e da África Central. Ainda na década de 1870, os europeus controlavam cerca de 10% do continente africano, com todos os seus territórios localizados perto das costas. As propriedades mais importantes eram Angola e Moçambique, mantidas por Portugal; a Colônia do Cabo, mantida pelo Reino Unido; e a Argélia, mantida pela França. Em 1914, apenas a Etiópia e a Libéria permaneceram fora do controle europeu, com a primeira eventualmente sendo ocupada pela Itália em 1936, enquanto a última tinha fortes conexões com seu colonizador histórico, os Estados Unidos da América. Os avanços tecnológicos facilitaram a expansão europeia no exterior. A industrialização trouxe rápidos avanços nos transportes e nas comunicações, especialmente nas formas de navios a vapor, ferrovias e telégrafos. Os avanços médicos também desempenharam um papel importante, especialmente os medicamentos para doenças tropicais, que ajudaram a controlar seus efeitos adversos. O desenvolvimento do quinina, um tratamento eficaz para a malária, tornou vastas extensões dos trópicos mais acessíveis aos europeus. A África Subsaariana, uma das últimas regiões do mundo praticamente intocadas pelo “imperialismo informal”, era atraente para empreendedores. Numa época em que a balança comercial britânica apresentava um déficit crescente, com mercados continentais em retração e cada vez mais protecionistas durante a Longa Depressão (1873-1896), a África ofereceu à Grã-Bretanha, Alemanha, França e outros países um mercado aberto que lhes proporcionaria um superávit comercial: um mercado que comprava mais da potência colonial do que vendia em geral. O capital excedente era frequentemente investido de forma lucrativa no exterior, onde materiais e concorrência limitada com matérias-primas abundantes tornavam possível um prêmio maior.

 Outro incentivo econômico ao imperialismo surgiu da demanda por matérias-primas, especialmente marfim, borracha, óleo de palma, cacau, diamantes, chá e estanho. Além disso, a Grã-Bretanha queria o controle de áreas das costas sul e leste da África para portos de escala na rota para a Ásia e seu império na Índia. Mas, excluindo a área que se tornou a União da África do Sul em 1910, as nações europeias investiram quantias relativamente limitadas de capital na África. Lobistas coloniais pró-imperialistas, como o Alldeutscher Verband (1891-1939), Francesco Crispi (1818-1901) e Jules Ferry (1832-1893), argumentaram que mercados externos protegidos na África resolveriam os problemas de preços baixos e superprodução causados pelo encolhimento dos mercados continentais. John A. Hobson argumentou na obra Imperialismo que esse encolhimento dos mercados continentais foi um fator-chave do período global do “Novo Imperialismo”. William Easterly, economista norte-americano, discorda da ligação entre capitalismo e imperialismo, argumentando que o colonialismo é usado principalmente para promover o desenvolvimento liderado pelo Estado em vez do desenvolvimento corporativo. Ele disse que “o imperialismo não está tão claramente ligado ao capitalismo e aos mercados livres (...) historicamente tem uma ligação mais estreita entre colonialismo/imperialismo e abordagens de desenvolvimento lideradas pelo Estado”. Embora a África tropical não fosse uma grande zona de investimento, outras regiões ultramarinas eram. O vasto interior comparativamente entre o Egito e a África Austral, rica em ouro e diamantes, tinha valor estratégico politicamente para garantir o fluxo do de matéria-prima de comércio exterior. A Grã-Bretanha estava sob pressão política para construir mercados lucrativos na Índia, Malásia, Austrália e Nova Zelândia.

Assim, queria garantir a principal via navegável entre o Oriente e o Ocidente – o Canal de Suez, concluído em 1869. No entanto, uma teoria de que a Grã-Bretanha procurou anexar a África Oriental a partir de 1880, devido a preocupações geoestratégicas relacionadas ao Egito, especialmente o Canal de Suez, foi contestada por historiadores como John Darwin (1997) e Jonas F. Gjersø (2015). A disputa por território africano também refletiu a preocupação com a aquisição de bases militares e navais, para fins estratégicos e para o exercício do poder. As marinhas em crescimento e os novos navios movidos a vapor exigiam estações de abastecimento de carvão e portos para manutenção. Bases de defesa também eram necessárias para a proteção de rotas marítimas e linhas de comunicação, particularmente de hidrovias internacionais caras e vitais, como o Canal de Suez. As colônias eram vistas como ativos nas negociações de equilíbrio de poder, úteis como itens de troca em momentos de barganha internacional. Colônias com grandes populações nativas também eram uma fonte de poder militar; a Grã-Bretanha e a França utilizaram estratégia de grande número de soldados indianos britânicos e norte-africanos, respectivamente, em muitas de suas guerras coloniais e o fariam nas Guerras Mundiais subsequentes. Na Era do Nacionalismo, havia pressão para que uma nação adquirisse um império como símbolo de status; a ideia de “grandeza” tornou-se associada ao “Fardo do Homem Branco”, (The White Man`s Burden) um poema escrito pelo poeta inglês Rudyard Kipling. Foi publicado originalmente na revista popular McClure`s em 1898, com o subtítulo The United States and the Philippine Islands, ou senso de dever, subjacente às estratégias de muitas nações.

No início da década de 1880, Pierre Savorgnan de Brazza (1852-1905) estava explorando a região ao longo do rio Congo para a França, ao mesmo tempo que Henry Morton Stanley (1841-1904) a explorou em nome do Comitê de Estudos do Alto Congo, apoiado por Leopoldo II (1835-1909) da Bélgica, que a teria como seu Estado Livre do Congo pessoal. Leopoldo esperava recrutar Pierre Savorgnan de Brazza, mas recorreu a Henry Morton Stanley quando o primeiro foi recrutado pelo governo francês. A França ocupou a Tunísia em maio de 1881, o que pode ter convencido a Itália a se juntar à Dupla Aliança Germano-Austríaca em 1882, formando assim a gênese e desenvolvimento da Tríplice Aliança. No mesmo ano, a Grã-Bretanha ocupou o Egito, um estado autônomo devendo fidelidade nominal ao Império Otomano, que governava o Sudão e partes do Chade, Eritreia e Somália. Em 1884, a Alemanha declarou que a Togolândia, os Camarões e o Sudoeste da África estavam sob sua proteção; e a França ocupou a Guiné. Historicamente a África Ocidental Francesa foi fundada em 1895 e a África Equatorial Francesa em 1910. Na Somalilândia Francesa, uma colônia russa de curta duração no forte egípcio de Sagallo foi brevemente proclamada pelos cossacos de Terek em 1889. A Alemanha, dividida em pequenos Estados, não era inicialmente uma potência colonial. Em 1862, Otto von Bismarck (1815-1898) tornou-se, não por acaso, Ministro-Presidente do Reino da Prússia e, por meio de uma série de guerras com a Áustria em 1866 e a França em 1870, conseguiu unificar toda a Alemanha sob o domínio prussiano. O Império Alemão foi formalmente proclamado em 18 de janeiro de 1871. A princípio, não era absrda a ideia em torno de Bismarck de que “não gostava de colônias”, mas cedeu à pressão popular e da própria elite política alemã na década de 1880.

Ipso facto, ele patrocinou a Conferência de Berlim de 1884–85, que estabeleceu as regras de controle efetivo dos territórios africanos e reduziu o risco de conflito entre potências coloniais. Bismarck aliando-se ao capital econômico, usou empresas privadas para estabelecer pequenas operações coloniais na África e no Pacífico. O pangermanismo tornou-se ligado aos novos impulsos imperialistas da jovem nação. No início da década de 1880, o Deutscher Kolonialverein foi criado e publicou o Kolonialzeitung. Este lobby colonial também foi retransmitido pelo nacionalista Alldeutscher Verband, representando organização alemã de extrema-direita criada em 1891 que promovia o pangermanismo e o imperialismo. Seu primeiro presidente foi Ernst Hasse (1846-1908), sucedido por Heinrich Class (1868-1953) em 1908. O industrial Emil Kirdorf (1847-1938) também foi um dos membros fundadores, foi um industrial alemão, um dos primeiros empregadores importantes nos setores industriais do Ruhr. Entretanto, a Weltpolitik (política mundial) foi a política externa adotada pelo Kaiser Wilhelm II em 1890, com a intenção de transformar a Alemanha em uma potência global por meio de “diplomacia agressiva” e do desenvolvimento de uma grande marinha. A Alemanha se tornou a terceira maior potência colonial da África, a localização da maior parte de seus 2,6 milhões de km² de território colonial e 14 milhões de súditos coloniais em 1914. As possessões africanas eram o Sudoeste da África, Togolândia, Camarões e Tanganica. A Alemanha tentou isolar a França em 1905 com a Primeira Crise Marroquina, também reconhecida como Crise de Tânger, foi um confronto internacional ocorrido entre 1905 e 1906, envolvendo a França e a Alemanha em relação ao controle do Marrocos. Isto levou à Conferência de Algeciras de 1905, na qual a influência da França sobre Marrocos foi compensada pela troca de outros territórios, e depois à Crise de Agadir em 1911. Após lutar ao lado politicamente da França durante a Guerra da Crimeia (1853-1856), o Reino da Sardenha buscou unificar a península Itálica, com sodalidade do apoio francês. Após uma guerra com a Áustria em 1859, a Sardenha, sob a liderança de Vítor Emanuel II (1820-1878) e Giuseppe Garibaldi (1807-1882), conseguiu unificar a maior parte da península em 1861, estabelecendo o Reino da Itália. Após a unificação, a Itália procurou expandir seu território e se tornar uma potência, tomando posse de partes da Eritreia em 1870 e 1882.

Em 1889-90, ocupou território no lado Sul do Chifre da África, formando o que se tornaria a Somalilândia Italiana. Na desordem que se seguiu à morte do Imperador Yohannes IV em 1889, o General Oreste Baratieri (1841-1901) ocupou as Terras Altas da Etiópia ao longo da costa da Eritreia, e a Itália proclamou o estabelecimento de uma nova colônia da Eritreia, com sua capital transferida de Massawa para Asmara. Quando as relações entre a Itália e a Etiópia se deterioraram, a Primeira Guerra Ítalo-Etíope (1895-1896) estourou em 1895; as tropas italianas foram derrotadas, pois os etíopes tinham superioridade numérica, melhor organização e apoio da Rússia e da França. Em 1911, a Itália se envolveu em uma guerra com o Império Otomano, na qual adquiriu a Tripolitânia e a Cirenaica, que juntas formaram o que ficou reconhecido como Líbia Italiana. Em 1919, Enrico Corradini (1865-1931) desenvolveu o conceito de Nacionalismo Proletário, que deveria legitimar o imperialismo da Itália por uma dose de socialismo com nacionalismo: Devemos começar por reconhecer o fato social de que existem nações proletárias, bem como classes proletárias; isto é, existem nações cujas condições de vida estão sujeitas... ao modo de vida de outras nações, tal como as classes. Uma vez compreendido isto, o nacionalismo deve insistir firmemente nesta verdade: a Itália é, material e moralmente, uma nação proletária. A Segunda Guerra Ítalo-Abissínia (1935-1936), ordenada pelo fascista Benito Mussolini, foi a última guerra colonial.

 Na esfera política, isto é, destinada a colonizar um país, em oposição às guerras de libertação nacional, ocupando a Etiópia que permaneceu o último território africano independente, além da Libéria. A Etiópia italiana foi ocupada por forças fascistas italianas na 2ª Guerra Mundial (1939-1945) como parte da África Oriental Italiana, embora grande parte do interior montanhoso tenha permanecido fora do controle italiano devido à resistência dos Arbegnoch, foram combatentes da resistência etíope contra a ocupação italiana durante a guerra mundial, de 1936 a 1941. Eles eram chamados de “patriotas” em amárico, mas os italianos os chamavam pejorativamente de “shifta”. A resistência social e política organizada destes povoados era mais forte nas respectivas províncias rurais de Shewa, Gondar e Gojjam, mas contava com apoio em toda a Etiópia ocupada, incluindo pequenos grupos em Addis Ababa e outras cidades. Estima-se que nestes dois anos de 1937/1938 havia cerca de 25.000 combatentes ativos.

A ocupação é um exemplo da política expansionista que caracterizou as potências do Eixo em oposição à Partilha da África. Para, além disso, terem sido encontrados os mais antigos fósseis de hominídeos, comparativamente, com cerca de cinco milhões de anos, permitindo considerá-la o “berço da humanidade”, do ponto de vista de sua evolução com a descoberta de Charles Darwin (1809-1882), de que o homem detém o centro da espécie, do ponto de vista histórico de Karl Marx (1818-1883), em que os homens fazem a história, mas não como eles querem e, claro, psicológico, com a descoberta de Sigmund Freud (1856-1939) em que o homem não detém o centro de sua individualidade. O Egito foi provavelmente o primeiro Estado a constituírem-se na África há cerca de 5000 anos, mas outros reinos ou cidades-estados se foram sucedendo neste continente, ao longo dos séculos. Podem referir-se os Estados de Kush e Meroé, ainda no Nordeste de África, o primeiro Estado nacional do Zimbabwe e o reino do Congo que, historicamente, mas só aparentemente floresceram como sociedade entre os séculos X e XV. África seria para os egípcios, o berço da humanidade. Com o enfraquecimento das Metrópoles europeias, desenvolveu-se na África um nacionalismo caracterizado pelo anti-imperialismo e pela busca de soberania política e econômica. O século XIX marcou o devassamento da África pela civilização da Europa industrializada, acarretando profundas modificações nas populações locais. A África sempre sofreu o impacto ambiental e demográfico das transformações políticas mundiais

Em primeiro lugar “Afri” representava o nome de vários povos que se fixaram perto de Cartago no Norte de África. O seu nome é geralmente relacionado com os fenícios como “afar”, que significa “poeira”, embora uma teoria de 1981 tenha afirmado que o nome deriva da palavra de berbere, “ifri”, palavra que significa “caverna”, em referência à gruta onde residiam. Com os romanos, Cartago passou a ser a capital da Província de África, que incluiu também a parte costeira da moderna Líbia. Os romanos utilizaram o sufixo “-ca” denotando a noção etimológica de “país ou território”. O reino muçulmano de “Ifriqiya”, atualmente reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) como Tunísia, também preservou o nome. Outras etimologias têm sido apontadas como originárias para a antiga denominação “África”. No século I, por exemplo, o historiador judeu Flavius Josephus (Ant. 1.15) afirmou ter sido nomeado para “Epher”, neto de Abraão, segundo o Génesis (25:4), cujos descendentes, em sua interpretação, tinha invadido a Líbia. “Aprica”, palavra latina que significa: “ensolarados”, mencionada por Isidoro de Sevilha, século VI, no manuscrito Etymologiae. Ou ainda, Aphrike, palavra grega que significa: “sem frio”. Esta foi proposta pelo historiador Leo Áfricanus (1488-1554), que sugeriu a palavra grega “Aphrike”, significando “frio e horror”, combinado com o prefixo privativo “-um”, indicando assim “um terreno livre de frio e de horror”. Massey, em 1881, afirmou que o nome deriva do egípcio “af-rui-ka”, que significa “para virar em direção a abertura do Ka” e que remete fisiologicamente para o útero ou berço.

No século XIX, a África foi totalmente dividida entre os países imperialistas que buscavam suas matérias-primas e as zonas de influência no continente. A divisão do território foi realizada pela força bruta da política, sem levar em conta as diferenças étnicas em cada região, deixando, muitas vezes, grupos rivais, ou, pelo menos, de práticas culturais distintas vivendo em um mesmo território. As consequências desse processo não cessaram, marcando os grandes problemas de instabilidade social e política no continente. No caso africano, podemos citar o genocídio de Ruanda, no qual milhares de tutsis foram mortos por hutus; os conflitos no Chifre da África, ocasionando em devastação da região; e os conflitos na Nigéria, onde tem ocorrido de forma intermitente diversos confrontos político-ideológicos entre grupos religiosos e o governo do país. Não queremos perder de vista que Stephen Bantu Biko (1946-1977) fora um extraordinário ativista antiapartheid da África do Sul pelo desempenho das lutas pela democracia nas décadas de 1960 e 1970. Tal como posteriormente veio à lume Nelson Mandela líder estudantil, fundou o “Movimento da Consciência Negra” (“Black Consciousness Movement”), que capacitava e mobilizava grande parte da população negra urbana. Desde sua morte sob a custódia da polícia, ele foi chamado de mártir de um movimento antiapartheid. Enquanto vivia, através de seus escritos e ativismo tentou arregimentar as pessoas negras, e era famoso por seu slogan “black is beautiful”, que o próprio descreveu como: - “você está bem como você é, comece a olhar para si mesmo como um ser humano”. Mesmo que Biko nunca tenha sido um membro do Congresso Nacional Africano (ANC), foi incluído no panteão dos heróis de luta, indo tão longe como à utilização de sua imagem para cartazes de campanha nas primeiras eleições não raciais da África do Sul em 1994. Nelson Mandela disse a respeito de Biko: - “Eles tiveram que matá-lo para prolongar a vida do [regime] apartheid”.

Nelson Mandela, por exemplo, nasceu em família de nobreza tribal, numa pequena aldeia do interior aonde possivelmente viria a ocupar cargo de chefia, abandonou este destino aos 23 anos ao seguir para a capital Johanesburgo e iniciar atuação política. Nelson Mandela iniciou sua militância política antes mesmo de terminar a faculdade de Direito, ao se unir ao Congresso Nacional Africano (CNA) - organização que tinha como principal objetivo combater a segregação racial no país. Após divergências com a cúpula da entidade, Mandela e o embate ficariam ainda mais duros após 1948, quando chegou ao poder o Partido Nacional, que oficializou o regime apartheid. Depois do massacre de Sharpeville em 1960, passou a defender a “resistência armada” e coordenar uma grande campanha de sabotagem contra alvos militares e do governo. Acabou preso, sob a forjada e mentirosa acusação de traição e terrorismo. Mas o tiro saiu pela culatra, pois a estratégia da farsa política de sua prisão tornou-se o prisioneiro mais famoso do século XX, ipso facto o político mais galardoado em vida, sendo responsável pela refundação de seu país - uma sociedade multiétnica.

A démarche do extraordinário Nelson Mandela, para o que nos interessa foi descrita jornalisticamente com exemplaridade por Richard Stengel (2010), Editor-chefe da revista Time, na entrevista que cobriu os três anos que antecederam a primeira eleição democrática no país, o início das lutas sociais e políticas pela liberdade e os terríveis 27 anos em que esteve preso, incluindo seu casamento aos 80 anos, descritos também no livro Os Caminhos de Mandela. Lições de Vida, Amor e Coragem (2010). De outra parte, no filme: “Invictus”, o ator-cineasta Clint Eastwood (EUA, 2009), trata com paixão da inspiradora história social e política como Nelson Mandela uniu forças materiais e psicofísicas com o capitão da equipe de rúgbi da África do Sul, François Pienaar, jogador de Rugby sul-africano para ajudar a unificar a nação. Recém-eleito, o presidente Mandela sabe que seu país permanece dividido racial e economicamente após o fim do regime de segregação apartheid. Acreditando ser capaz de unificar politicamente as etnias com da linguagem universal do esporte, Mandela apoia o quase desacreditado time da África do Sul na Copa de Rúgbi de 1995, que faz uma incrível campanha até as finais. Apesar das duas décadas e meia de democracia, o tempo ainda é curto para que as mudanças sociais de mais de 50 anos de opressão e segregação tenham sido curadas.

É possível observar nas cidades e nas ruas o que o sociólogo e professor emérito da Universidade de Witwatersrand, Roger Southall, cita como “consequências sociais e geográficas do apartheid”. No lado social, a desigualdade entre negros e brancos ainda é muito grande. Com dados de 2015, 1% da população branca era considerada pobre, ganhando menos do que 992 rands, a moeda local, por mês. Entre os pretos, 64,2% ganhavam menos do que esse valor. Já no lado geográfico, não houve uma redistribuição da população que vivia nos guetos, chamados de townships, grandes regiões onde somente a população preta vivia. Essa não distribuição ainda causa desigualdade social com grandes conglomerados de casas e habitações sem estruturas básicas, e as regiões não recebendo os investimentos necessários. De acordo com o Relatório de Dados Comparativos sobre Pobreza Subjetiva na África do Sul, de 2015, realizado pelo Statistics South África, 80,4% das pessoas pobres no país são pretas, enquanto 8,8% são pardas, 8,3% brancas e 2,5% são indianas/asiáticas. Desta experiência, em sua singularidade, ao lado de Raymond Williams e Richard Hoggart (cf. Cunha, 2014), nasceram as raízes teóricas dos “estudos culturais” quando faz profunda imersão sobre a natureza da pedagogia com mediações complexas sobre a educação, possibilitar a transcendência dos padrões representados pela elite social e política.

A transição de uma escola pública frequentada por filhos do operariado para uma grammar school era um sinal de mudança, porque significaria, desde logo, que Hoggart iria frequentar, um dia, uma universidade. O futuro financiamento através de uma bolsa da LEA permitiria que Hoggart (cf. Cunha, 2014) viesse a integrar o Departamento de Inglês na Universidade de Leeds, tornando-se aluno de Bonamy Dobrée, amigo pessoal do poeta inglês Thomas S. Eliot (1888-1965). Depois de servir como conscrito na II Guerra Mundial (1939-1945), no Norte de África e em Itália, onde ensinou os soldados que aguardavam pela desmobilização, Hoggart juntou-se ao Departamento de Extramural Studies da Universidade de Hull, onde permaneceu até 1959, trabalhando como “tutor de educação para adultos”. O declínio cultural na classe trabalhadora do pós-guerra diagnosticado e criticado na sua obra coloca-o no quadro de pensamento teórico da tradição em torno do tema nevrálgico “Cultura e Sociedade”, cartografada por Raymond Williams que desta parceria multidisciplinar elaborou o mapa dessa tradição, de 1780 a 1950, de Edmund Burke a George Orwell, segundo o qual a ideia moderna de cultura surgiu no pensamento inglês com a Revolução Industrial, e sendo, portanto, classe, cultura, indústria, democracia e arte coordenadas que são inseparáveis. Segundo Patrick Brantlinger, Hoggart encontra-se, no quadro da tradição “cultura & sociedade”, na temporalidade empirista britânica etnográfica, onde se incluem Henry Mayhew, Charles Dickens, Benjamin Disraeli, Elizabeth Gaskell e Friedrich Engels.

Edward Thompson desejava estabelecer uma rede de interação social profissional entre aprendizes e mestres, e sua subversione contra a ordem social, transformando as metodologias desenvolvidas nas escolas de tradição como o principal meio de aprendizado. Assim, ele destacava o talento individual (teoria) e a vivência da pessoa (prática) como um como um dos elementos essenciais na elaboração de uma didática disciplinar para a formação da consciência. O historiador mantém seu ponto de vista teórico centrado na formação da classe trabalhadora, argumentando que a démarche coletiva desta fração da classe trabalhadora não é empreendida apenas no sentido econômico, mas principalmente na edificação de suas vivências históricas. Thompson lecionou na Universidade de Warwich, de 1965 a 1971. Mas durante a década de 1970  ministrou aulas e conferências temáticas para as Universidades norte-americanas especificamente de Pittsburg, Rutgers, Brown, e Dartmoth College. Na década de 1980 ele se engajou no movimento pacifista antinuclear. Em 1988 retomou a carreira acadêmica, assumindo o magistério no Queen`s University de Kingston, no Canadá.

Mas retorna à Londres, para lecionar na Universidade de Manchester. Entre 1989 e 1990 ele atuou na Universidade de Rutgers, Universidade Estadual de Nova Jérsei, a maior instituição de ensino superior de Nova Jérsei, Estados Unidos da América. É também a oitava universidade fundada nos Estados Unidos da América, tendo originalmente recebido o nome de Queen`s College em 1766. Thompson morreu aos 69 anos, no dia 28 de agosto de 1993, na cidade inglesa de Worcester, localizada no condado de Worcestershire, localizada na região de Midlands Ocidental. Uma grande atração na história social da religião da cidade e do próprio país é a Catedral de Worcester. oficialmente denominada The Cathedral Church of Christ and the Blessed Virgin Mary, é uma catedral anglicana; situa-se no alto de uma das margens do rio Severn e foi fundada em 680. Para refletir acerca das contribuições de Edward Thompson para a pesquisa no campo da formação abstrata de professores implica explicitar as principais categorias exploradas pelo que se referem essencialmente as noções per se de experiência, cultura e classe social. Comecemos então pelo emprego conceitual de classe, e, portanto, no fazer-se, enquanto consciência histórica da classe trabalhadora inglesa. Por “classe”, afirma E. P. Thompson, em seu prefácio da trilogia: A Formação da Classe Operária Inglesa (1987; 204 pags; 1987; 347 pags; 1987; 440 pags) e que analiticamente, isto é do ponto de vista da teoria “entendo um fenômeno histórico, que unifica uma série de acontecimentos sociais díspares e aparentemente desconectados, tanto na matéria-prima da experiência como na consciência”.

Mas ressalta que é um fenômeno histórico e social. Distanciando-se no marxismo estruturalista de Louis Althusser (cf. Thompson, 1981), o que nos dispensa comentários, pois não compreende a classe como uma “estrutura”, nem mesmo como uma “categoria”, mas como algo que ocorre efetivamente (e cuja ocorrência pode ser demonstrada) nas relações humanas. Ademais, a noção de classe, se já não é um truísmo, desde o pensamento clássico e Marx e Engels, carrega consigo a noção de relação histórica. Como qualquer outra relação, é algo fluido que escapa à análise ao tentarmos imobilizá-la num dado momento e dissecar a estrutura. A primeira crítica veemente ao conceito é a seguinte: - A mais “rede sociológica” não consegue nos oferecer um exemplar puro de classe, como tampouco um do amor ou da submissão. Seu argumento sobre a classe é empírico, de tradição inglesa, pois “a relação precisa estar sempre encarnada em pessoas e contextos reais”. Além disso, não podemos ter duas classes distintas, cada qual com um ser independente, colocando-as em relação recíproca.  A classe acontece quando alguns homens, como resultado de experiências comuns (cf. Thompson, 1979; 1998), herdadas ou partilhadas, sentem e articulam a identidade de interesses, contra outros homens cujos interesses diferem, e geralmente se opõem dos seus. A experiência de classe é determinada, em grande medida, pelas relações de produção em que os homens nasceram – ou entraram involuntariamente. É neste sentido que para a pedagogia marxista de E. P. Thompson a consciência de classe representa a forma como essas experiências são tratadas em termos culturais, sendo vistas como “encarnadas em tradições, sistema de valores, ideias e formas institucionais”.

 Se a experiência aparece como determinada, o mesmo não ocorre com a consciência de classe. E neste sentido a particularidade é a seguinte. Podemos entender uma lógica nas reações de grupos profissionais semelhante que vivem experiências parecidas, mas não podemos predicar nenhuma lei. A consciência de classe surge da mesma forma em tempos e lugares diferentes, mas nunca exatamente da mesma forma. Além disso, existe uma tentação generalizada em se supor que “a classe é uma coisa”. Não era esse o significado utilizado por Marx, em seus manuscritos históricos, ou de análise de conjuntura política, mas o erro deturpa muitos textos aparentemente marxistas contemporâneos. Fora do nível empírico de análise, “ela”, a classe operária, é tomada como tendo existência real, capaz de ser definida quase matematicamente – uma quantidade de homens que se encontra numa certa proporção com os meios de produção. Esta “classe dirigente” ou dominante estava, ela própria, muito dividida em suas frações de classe social, e de fato só conseguiu maior coesão nesses mesmos anos porque certos antagonismos de classe, em oposição assimétrica e contraditoriamente, no sentido estrutural do termo, realmente se dissolveram ou se tornaram insignificantes frente a uma classe operária que estava se originando de forma insurgente no plano das nações europeia de forte participação do contingente operário.

Uma vez isso assumido torna-se possível deduzir a consciência de classe que “ela” deveria ter (mas raramente tem), se estivesse adequadamente consciente de sua própria posição e interesses reais. Evidentemente, a questão é como o indivíduo veio a ocupar esse “papel social”, na falta de melhor expressão, e como a organização social específica (com seus direitos de propriedade e estrutura de autoridade) aí chegou. Essas são questões históricas. Se determos a história num determinado ponto, não há classes, mas simplesmente uma multidão de indivíduos com um amontoado de experiências. Mas ao examinarmos esses homens num período adequado de mudanças sociais, observaremos padrões em suas relações, suas ideias e instituições. A classe social é definida pelos homens enquanto vivem sua própria história e, ao final, esta é sua única definição. Thompson observa que entre os anos 1780 e 1832 os trabalhadores ingleses em sua maioria vieram a sentir uma “identidade de interesses entre si”, e contra seus dirigentes e empregadores. A presença com extraordinária participação operária em 1832, foi o fator histórico e sociológico determinante como nível concreto estrutural e de classe mais significativo da vida política britânica.  Na fabulosa trilogia histórica e social de E. P. Thompson, “Árvore da liberdade” (I); “Maldição de adão” (II) e sobre “A força dos trabalhadores” (III), assim está histórica e conceitual a sua forma de exposição.   

Na Parte I, Thompson faz o resgate das tradições populares vigentes no século XVIII que influenciaram a fundamental agitação jacobina dos anos 1790. Na Parte II, as experiências de grupos de trabalhadores durante a Revolução Industrial, enfatizando o caráter da nova disciplina industrial do trabalho e da posição, a esse respeito, da Igreja Metodista. Na Parte III, recolhe aspectos da história social e da emergência do “radicalismo plebeu”, levando-a através do luddismo à época heroica no final das guerras napoleônicas. Finalmente, Edward Thompson apresenta na exposição, last but not least, alguns aspectos da teoria política e da consciência de classe nos anos 1820 e 1830 que alterou “as atitudes subpolíticas do povo, afetou os alinhamentos de classe e iniciou tradições que se prolongam até o século atual”. O que é válido para divisão manufatureira do trabalho na oficina vale também para a divisão do trabalho na sociedade. Enquanto artesanato e manufatura constituem a base geral da produção social, a subsunção do produtor a um ramo exclusivo da produção, a supressão da diversidade original de suas ocupações é um momento necessário do desenvolvimento. Sobre essa base, cada ramo particular da produção encontra a configuração técnica e social que lhe corresponde, aperfeiçoando-a lentamente e, num certo grau de maturidade, cristaliza-a rapidamente. Além dos matérias de trabalho do comércio, a única coisa que provoca modificações hic et nunc é a variação gradual do processo e do meio de trabalho.

Uma vez alcançada a forma adequada à experiência, também ela se ossifica, como o comprova sua transmissão, muitas vezes milenar, de uma geração a outra. O princípio da “grande indústria”, na expressão de Marx, a saber, o de dissolver cada processo de produção em seus elementos constitutivos, e, antes de tudo, fazê-lo sem nenhuma consideração para com a mão humana, criou a mais moderna ciência da tecnologia. As formas variegadas, aparentemente desconexas e ossificadas do processo social de produção se dissolveram, de acordo com o efeito econômico útil almejado, nas aplicações conscientemente planificadas e sistematicamente particularizadas das ciências naturais. Em contraposição com os anos radicais que a precederam e os anos cartistas que a sucederam, a década de 1820 parece estranhamente calma, como diz Thompson, “um planalto mansamente próspero de paz social”. Mas, muitos anos depois, um verdadeiro londrino advertiu Mayhew: - as pessoas imaginam que, quando tudo está quieto, está se estagnando. O propagandismo continua apesar disso. É quando tudo está quieto que a semente cresce, os republicanos e socialistas levam à frente suas doutrinas”. Esses anos calmos formam a luta de Richard Carlile (1790-1843) pela liberdade de imprensa; da força sindical e revogação das Leis de Associação; do crescimento do livre pensamento; da experiência cooperativa e concepção de teoria owenista da organização.

Segundo o Relatório do Programa de Desenvolvimento da Organização das Nações Unidas de 2018, 55,5% da população sul-africana vive estatisticamente abaixo da linha de pobreza de renda, que é um valor estipulado por cada país. No Brasil, comparativamente esse índice é de 8,7%. Cada nação define um valor abstrato que seria o mínimo para a subsistência de um cidadão para que ele possa comprar alimentos e itens de necessidade básica. Portanto, esses valores variam de país para país e não seguem a linha de pobreza, que calcula a média de US$ 1,90 por dia, para que se viva com o mínimo. O valor utilizado pela África do Sul em 2018 foi de 1.183 rands recebidos por pessoa por mês para essas despesas, o que na cotação de hoje seria equivalente a aproximadamente R$ 321. Desde a primeira eleição, o Congresso Nacional Africano se mantém no poder. Depois de vários governantes diferentes, o país enfrentou casos recentes de corrupção no governo de Jacob Zuma, que renunciou ao devido aos escândalos, dando lugar a Cyril Ramaphosa, seu vice-presidente. Apesar da grande preocupação com o uso do dinheiro público para esquemas de corrupção, boa parte da sociedade sul-africana ainda vive materialmente em condições extremas de pobreza e necessidades sociais. Isso faria dela um problema menos importante, do que as necessidades básicas de vida sejam supridas, afirma o professor Lawrence Hamilton.

Após os escândalos de corrupção revelados durante o governo de Jacob Zuma, refere-se ao período em que Jacob Zuma foi presidente da África do Sul, de 2009 a 2018. Seu sucessor, Cyril Ramaphosa, tomou medidas para combater a corrupção e o ex-presidente foi a julgamento, mas naquele momento sem uma definição. Mesmo com os problemas de corrupção durante o governo, a iniciativa de combate e a corrupção presente também em outros partidos faz quem acompanha o cenário acreditar na manutenção do poder. - “Há um tipo diferente de líder no ANC agora. E acho que, entre as pessoas as pessoas que estavam em cima do muro um ano e meio atrás, pensando que poderiam votar para o EFF ou o DA, pelo menos metade vai votar para o ANC”, avalia o professor Lawrence. O EFF, criado por Julius Malema, é um partido de extrema-esquerda formado por dissidentes do ANC. partido Lutadores pela Liberdade Econômica (EFF), na África do Sul, foi fundado por Julius Malema. A Aliança Democrática (DA), é um partido liberal conservador, sendo o segundo mais forte do país em número de cadeiras no congresso. O ANC conta com 249 cadeiras no congresso, enquanto o DA com 89 representantes e o EFF mantém 25 parlamentares, num total de 400 lugares. Segundo a Agência da Organização das Nações Unidas para os Refugiados (UNHCR), recentemente, ocorrida em 2017 a África do Sul teve mais de 280 mil pedidos de asilo ou de refúgio. A questão social dos refugiados é uma das preocupações do país, pelo número de pessoas que entram legalmente e ilegalmente e pela xenofobia, desconfiança, temor ou antipatia por pessoas estranhas ao meio que as ajuíza que essas pessoas sofrem de parte dos sul-africanos. Países vizinhos e do continente, como Nigéria, República Democrática do Congo e Zimbábue, vivem crises que obrigam-nos a deixar suas nações, e acabam procurando uma das referências no continente, que é a África do Sul.

No nível de análise econômica vem de um período de estagnação econômica e sofre ainda com os problemas sociais, além de não ser mais a maior economia do continente, posto tem ocupado pela Nigéria, que mesmo em crise ainda se mantém em primeiro lugar. O Produto Interno Bruto (PIB) nigeriano é de 375,8 bilhões de dólares contra 349,4 bilhões do sul-africano. O professor Southall fala em união da sociedade, do governo e de sindicatos para trabalhar e superar os grandes problemas enfrentados. - “Nós temos de resolver a questão da dívida, temos de conseguir energia nas casas das pessoas, ser capazes de alimentar as fábricas. Se não fizermos isso, se continuarmos como estamos, muito em breve estaremos nas mãos do FMI ou dos chineses. Estamos falando sobre tentar salvar empregos agora, mas é preciso aceitar que a Eskom está levando o país a uma crise econômica absoluta. A questão da corrupção tem de ser resolvida”. A Eskom é a companhia de energia sul-africana e vem realizando seguidos blecautes em todo o país para poupar energia, chamados de load sheddings, mas hospitais, residências, escolas e indústrias sofrem com os cortes, que em algumas épocas do ano chegam a ser diários e durar várias horas. A causa dos cortes vem da falta de fontes de energia e do mau uso delas, além de uma crise administrativa.  Brandon de Jager também acredita que a questão energética é um dos primeiros e mais importantes passos a serem dados na esfera política se o país quiser se colocar em outro patamar de desenvolvimento e crescimento, pois, sem isso não há competitividade contra outros mercados. - “Durante o blecaute energético os fabricantes têm duas opções. Desligar ou continuar a produção. Caso um fabricante opte por continuar a produção, precisará utilizar um gerador, que é muito mais caro e altera a estrutura de custos. Do ponto de vista da exportação, os fabricantes são menos competitivos”. A questão nevrálgica economicamente falando, é que precisam ter o básico e as empresas prosperar para estimular especificamente o crescimento econômico e político.

Na síntese durkheimiana representada sobre o lugar de análise das corporações deve-se até supor que esteja destinada a se tornar a base, ou uma das bases essenciais de nossa organização política. Ela começa por ser exterior ao sistema social, tenderá a se empenhar de forma cada vez mais profunda nele, à medida que a vida econômica se desenvolve. Ela foi outrora a divisão elementar da organização comunal. Agora que a comuna, de organismo autônomo que era outrora, veio se perder no Estado, como o mercado municipal no mercado nacional, acaso não é legítimo pensar que a corporação também deveria sofrer uma transformação correspondente e tornar-se a divisão elementar do Estado, a unidade política fundamental? A sociedade, em vez de continuar sendo o que ainda é hoje, um agregado de distritos territoriais justapostos, tornar-se-ia um vasto sistema de corporações nacionais. Mas essas divisões geográficas são, em sua maioria, artificiais e já não despertam em nós sentimentos profundos. O espírito provinciano desapareceu irremediavelmente: o chamado patriotismo de paróquia tornou-se um arcaísmo que não se pode restaurar à vontade. Para o sociólogo uma nação só se pode manter se, entre o Estado e os particulares, se intercalar toda uma série de grupos secundários bastante próximos dos indivíduos para atraí-los fortemente em sua esfera de ação e arrastá-los, assim, na torrente geral da vida social. Isso não quer dizer, porém, que a corporação seja uma espécie de panaceia capaz de servir a tudo. Será necessário que, em cada profissão, um corpo de regras se constitua, fixando a quantidade de trabalho proporcional ao tempo e jornada, a justa remuneração dos diferentes funcionários, seu dever para com os demais e para com a comunidade, etc. pois, não menos que atualmente, em presença de uma tábula rasa.  A vida social deriva inexoravelmente da dupla fonte: similitude das consciências e a divisão do trabalho.

O indivíduo é socializado no primeiro caso, porque, não tendo individualidade própria, confunde-se como seus semelhantes, no seio de um mesmo tipo coletivo; no segundo, porque, tendo uma fisionomia e uma atividade pessoais que o distinguem dos outros, depende deles na mesma medida em que se distingue e, por conseguinte, da sociedade que resulta de sua união. Esta divisão dá origem às regras jurídicas que determinam as relações das funções divididas, mas cuja violação acarreta apenas medidas reparadoras sem caráter expiatório. De todos os elementos técnicos e sociais da civilização, a ciência nada mais é que a consciência levada a seu mais alto ponto de clareza. Nunca é demais repetir que para que as sociedades possam viver nas condições de existência que lhes são dadas, é necessário que o campo da consciência se estenda e se esclareça. Quanto mais obscura uma consciência, mais é refratária à mudança social, porque não vê depressa o que é necessário mudar. Nem em que sentido é preciso mudar. Uma consciência esclarecida sabe preparar de antemão a maneira de se adaptar a essa mudança risível. Eis porque é necessário que a inteligência guiada disciplinarmente pela ciência adquira uma importância maior no curso da vida coletiva. Tais sentimentos são capazes de inspirar não apenas esses sacrifícios cotidianos, mas também atos de renúncia completa e de abnegação exclusiva. A sociedade aprende a ver os membros que a compõem como cooperadores que ela não pode dispensar e para com os quais tem deveres. A cooperação também tem sua moralidade intrínseca. Há apenas motivos para crer, que, em nossas sociedades, essa moralidade ainda não tem todo o desenvolvimento que lhes seria necessário. Daí resulta as correntes da vida social, que correspondem dois tipos de estrutura não menos diferentes. Dessas correntes, devemos prestar melhor atenção a que tem sua origem nas similitudes sociais ocorre quando um grupo é capaz de criar e reproduzir para si e para os outros a princípio só e sem rival.

Eles não se relacionam aos sistemas perpetuadores de confiança, mas são designações referentes aos comportamentos dos outros; quer dizer, o indivíduo envolvido não é requisitado a demonstrar aquela “fé” religiosa que a confiança envolve em seus significados. A principal definição de “confiança” no Oxford English Dictionary é descrita como “crença ou crédito em alguma qualidade ou atributo de uma pessoa ou coisa, ou a verdade de uma afirmação”, e esta definição proporciona um ponto de partida útil. “Crença” e “crédito” estão claramente ligados de alguma forma à “fé”, da qual, seguindo Simmel, mas embora reconhecendo que a fé e confiança são intimamente aliadas, Niklas Luhmann faz uma distinção entre as duas que é a base de sua obra sobre o tema. A confiança, diz ele, deve ser compreendida especificamente em relação ao risco, um termo que passa a existir apenas no período moderno. A noção se originou com a compreensão de que resultados inesperados podem ser uma consequência de nossas próprias atividades ou decisões, ao invés de exprimirem significados ocultos de natureza ou intenções inefáveis da Deidade. Mas “risco”, substitui em grande parte o que antes era pensado como fortuna (fortuna ou destino) e torna-se separado das cosmologias. A confiança pressupõe, segundo Giddens, consciência das circunstâncias de risco, o que não ocorre com a crença. Tanto a confiança como a crença se referem a expectativas que podem ser frustradas ou desencorajadas. A crença, como Niklas Luhmann a emprega, se refere a atitude mais ou menos certa de que as coisas similares permanecerão estáveis.

Historicamente o conflito foi uma sequência direta da Primeira Guerra dos Bôeres, dentro do contexto social da disputa entre o povo bôer e os britânicos pelo controle de partes do Sul da África. A recém criada República Sul-Africana sofria com a falta de pessoal qualificado e seu potencial industrial era pequeno. No período entre os dois conflitos com o Reino Unido, foi descoberto ouro na área de Witwatersrand. O governo sul-africano, relutantemente, aceitou novamente a chegada de imigrantes (chamados de uitlander) vindos da Europa, principalmente da Inglaterra, que começaram a chegar em peso no final do século XIX à região de Transvaal. Os Bôeres, observando a vinda de imigrantes ingleses em escala cada vez maior, começaram a temer que logo seriam sobrepujados em número, gerando tensões étnicas, que logo se manifestaram em atos de violência. Enquanto isso, o governo britânico continuou sua expansão territorial pelo Sul da África instigada por homens como Cecil Rhodes. A partir de 1895, imigrantes britânicos exigiram direitos iguais com relação aos bôeres, o que levaria a revoltas de Joanesburgo como lembra a Jameson Raid. O governo de Transvaal enviou soldados para reprimir essas manifestações e rebeliões. Com as tensões na África do Sul crescendo, negociações começaram para tentar encontrar algum meio termo. As autoridades bôeres tentavam, de todas as formas, limitar ao máximo o poder político e acesso aos benefícios econômicos por parte dos novos imigrantes (uitlander), a maioria de origem inglesa.

Enquanto isso, o governo britânico em Londres ainda mantinha suas ambições de recontrolar a região toda, pretendendo tornar Transvaal e o Estado Livre de Orange em uma confederação sob seu controle direto. Como a esmagadora maioria dos imigrantes que chegavam a África do Sul eram de origem britânica, os bôeres temiam que dar direitos políticos a eles resultaria na perda do controle sobre seu próprio país. Negociações começaram então em Bloemfontein e, em 1899, Secretário de Estado britânico para as colônias, Joseph Chamberlain, exigiu total direito a voto e a representação política por parte dos imigrantes britânicos na região de Transvaal. Tais negociações falharam e então o presidente da República Sul-Africana, Paul Kruger, mandou um ultimato ao governo inglês, a 9 de outubro de 1899, exigindo a retirada de todas as suas tropas das regiões próximas a fronteira do seu país. Londres rejeitou o ultimato, resultando, dois dias depois, numa declaração de guerra por parte da República Sul-Africana e do Estado Livre de Orange. A Segunda Guerra Bôer (ou dos bôeres), travada entre 11 de outubro de 1899 e 31 de maio de 1902, foi um poderoso conflito armado lutado entre o Império Britânico e as duas nações Bôer, a saber: a República Sul-Africana, ou República de Transvaal e o Estado Livre de Orange, sobre o domínio da África do Sul. Ficou reconhecida também simplesmente como Guerra Boer ou Guerra Anglo-Boer. No começo do conflito, os bôeres tomaram a iniciativa e tiveram alguns sucessos, porém os britânicos reagiram, mandando reforços, e infligiram grande derrotas as duas nações sul-africanas. Os bôeres iniciaram então uma ampla e violenta campanha de guerrilha que durou dois anos.

Os britânicos responderam brutalmente e adotaram represália, queimando fazendas, destruindo casas e mandando milhares de civis para campos de concentração. A guerra foi extremamente brutal com enorme impacto na região. Os bôeres se renderam e um tratado foi firmado entre as partes envolvidas. O Estado Livre de Orange foi fundado em meados do século XIX pelos bôeres que haviam emigrado da Colônia do Cabo após a Grande Marcha ocorrida a partir de 1835. Os bôeres tinham criado duas repúblicas independentes. A primeira, o Transvaal, obteve a sua independência pelos britânicos, em 1852 pelo Tratado de Sand River. A segunda, o Estado Livre de Orange, foi reconhecido em 1854 pela convenção de Bloemfontein, capital do novo estado, saída dos refugiados britânicos para manter sua autoridade jurídica e política sobre os territórios constituídos desde 1847. O termo Orange era em homenagem à família real dos Orange-Nassau dos Países Baixos, metrópole de origem da maioria dos pioneiros bôeres. Na sua fundação, o Estado Livre de Orange continha aproximadamente 13 000 habitantes naturais de origem bôer. De modo homogêneo seus habitantes se organizaram rapidamente na constituição de sua república. Segundo eles, o direito de voto tinha sido reconhecido a todos os habitantes brancos de sexo masculino com idade mínima de 18 anos. Eles então elegeram um conselho do povo e um presidente. Diferentemente do Transvaal, a parceria do Estado Livre de Orange entretinha relações político-ideológicas privilegiadas marcadamente em seu ersatz com a Colônia do Cabo. Engajados ao lado do Transvaal contra os britânicos durante a Guerra dos bôeres, de 1899 a 1902, os britânicos proclamaram sua anexação de 1900 após a tomada de Bloemfontein.

O acontecimento não foi, entretanto, aceito formalmente pelas autoridades bôeres que saíram do Tratado de Vereeniging. Quando se trata da questão de confiança, o indivíduo considera conscientemente as alternativas para seguir um curso específico de ação. Alguém que compra um carro usado, ao invés de um novo, “arrisca-se a adquirir uma dor de cabeça”. Ele ou ela deposita confiança na pessoa do vendedor ou na reputação da firma para tentar evitar que isto ocorra. Deste modo, um indivíduo que não considera alternativas está numa situação de crença, enquanto alguém que reconhece essas alternativas e tenta calcular os riscos assim reconhecidos, engaja-se em confiança. Numa situação de crença, uma pessoa reage ao despontamento culpando outros, em circunstâncias de confiança ela ou ele deve assumir parcialmente a responsabilidade e pode “se arrepender de ter depositado confiança em alguém ou algo”. A distinção entre confiança e crença depende das condições estruturais e a possibilidade de frustração ser influenciada pelo próprio comportamento prévio da pessoa e, portanto, de uma discriminação correlata “entre risco e perigo”. Isto é, Luhmann alega a possibilidade de separar risco e perigo deve derivar de características sociais da modernidade. Ela surge, essencialmente, de uma compreensão do fato de que a maioria das contingências que afetam a atividade humana são humanamente criadas, “e não meramente dadas por Deus ou pela natureza”. A abordagem sociológica é importante e dirige nossa atenção para várias discriminações conceituais que deve ser feita na compreensão da confiança.    

O que indica isto em termos de confiança pessoal? A resposta a esta questão segundo Giddens, é fundamental para a transformação da intimidade no século XX. A confiança em pessoas não é enfocada por conexões personalizadas no interior da comunidade local e das redes de parentesco. A confiança pessoal torna-se um projeto, a ser “trabalhado” pelas partes envolvidas, e requer a abertura do indivíduo para o outro. Onde ela não pode ser controlada por códigos normativos fixos, a confiança tem que ser ganha, e o meio de fazê-lo consiste em abertura e cordialidade demonstráveis. Nossa preocupação peculiar com “relacionamentos”, no sentido em que a palavra é agora tomada, é expressiva deste fenômeno. Relacionamentos são laços baseados em confiança, onde a confiança não é pré-datada, em termos de doação, mas trabalhada, e onde o trabalho envolvido significa um processo mútuo de autorrevelação. A confiança pessoal, tem que ser estabelecida através do processo de autoquestionamento: a descoberta de si torna-se um projeto diretamente envolvido com a reflexividade na modernidade sociológica. Para Christopher Lasch: - conforme o mundo vai assumindo um aspecto cada vez mais ameaçador, a vida torna-se busca de bem-estar através de exercícios, dietas, drogas, regimes espirituais típicos, autoajuda psíquica e psiquiatria.

Recorrentes em seu trabalho são a exploração etnográfica, a arquitetura e o urbanismo, como a exploração do homem e do meio ambiente na paisagem urbana congolesa. Quando o artista era mais jovem, ele e sua família viviam em meio à crescente pobreza que se seguiu ao fim do controle belga sobre a província de Katanga. Seu pai, Célestin Baloji, perdeu o emprego e a casa como resultado disso. Em um dia de 1998, quando Baloji estava saindo da escola, ele ganhou uma câmera de seu cunhado. Mais tarde, em 2003, ele ganhou uma câmera Canon de sua tia. Após obter sua primeira câmera, Baloji foi treinado pelo fotógrafo Simon Mukundayi. O artista também foi cofundador da bienal de Lubumbashi com Gulda el Magambo Bin Ali em 2008, com a intenção de tornar a arte mais acessível na área, já que havia poucos recursos para ela. No coração da floresta tropical do Congo, os restos de um centro de pesquisa dedicado à agricultura tropical revelam o peso da história, do legado e da memória. O Congo Belga foi, a partir de 15 de novembro de 1908, o território administrado pelo Reino da Bélgica na África. Nessa data, o Estado Livre do Congo deixou de ser uma possessão pessoal de Leopoldo II (1835-1909), que a ela renunciou formalmente, sob a pressão legalista internacional que se seguiu à revelação dos regimes coloniais mais infames! O Congo foi então anexado como colônia da Bélgica, passando a ser reconhecido como Congo Belga.

No século XIX, chegou a existir na área da cidade uma localidade de nome Lubumbashi, de existência efêmera. No início do século XX, quando a colonização belga já planejava se estabelecer na área (1907), a localidade de Lubumbashi já não mais existia. Em 1909 foi elaborado o plano urbano para Lubumbashi: um quadrilátero de 20 km², coberto por florestas, que foi limpo e nivelado em trabalho braçal. Em 1910 a nova cidade foi fundada pelos belgas com o nome de “Elisabethville”, em honra à rainha Isabel da Baviera, esposa do rei Alberto I. Sua localização era privilegiada, pois se encontrava próxima a mina “Etoile du Congo”, e dos fornos da Union Miniére du Haut-Katanga, uma empresa de capitais anglo-belgas. Em 1916 a empresa semiprivada Comité Special du Katanga começou a operar o trabalho nas minas de Lubumbashi. Na década de 1920 a cidade chegou a ser uma das maiores exploradoras de cobre do mundo. Era a segunda cidade mais importante do Congo Belga, depois da capital, Leopoldville. Em 1911 foram criadas duas escolas: o Institut Marie-José e o Collège Saint-François de Sales. Em 1928 é feita a abertura da rota de comunicação nacional Elisabethville-Matadi, via Port-Francqui, combinando linhas ferroviárias e navegação fluvial. No início do século XX houve uma grande migração de europeus para a cidade, a maioria deles belgas, judeus, italianos e britânicos. O centro da cidade era reservado aos europeus, enquanto que a maioria da população congolesa na periferia, em uma localidade chamada Cité Indigene. Boa parte destas pessoas que moravam nesta localidade também eram imigrantes, porém, eram procedentes da Rodésia do Norte e da Ruanda, dois territórios com histórias distintas, embora ambos tenham sido colônias europeias.

Mas que outrossim eram colônias belga. Com o aumento da população, mais três Cités Indigenes foram criadas: Kenia, Katuba e Ruashi. Em 1941 houve uma greve de mineiros, dado que o governo belga, em nome do “esforço de guerra”, praticava “condições desumanas no serviço das minas”.  Em 25 de junho de 1941 obtém o status da cidade, recebendo seu primeiro brasão em 20 de dezembro de 1954. Muitos grevistas foram mortos. Em 1944 houve outra revolta, com o motim da força pública em Luluaburg. Em 1955 foi inaugurada a Universidade de Elisabethville, hoje Universidade de Lubumbashi. Após a Independência da República Democrática do Congo, houve a separação do Estado de Catanga, sob a liderança de Moïse Tshombe (1919-1969) com sua capital em Lubumbashi. A questão da Crise do Congo, como foi chamada, foi uma história política bastante conturbada, com uma guerra civil para a retomada do território pelas autoridades do governo central, além da contribuição belga para a separação de Catanga. Em 1963 Catanga voltou a fazer parte da República Democrática do Congo, que depois se transformaria em Zaire. Em 1967 Mobutu Sese Seko (1930-1997) nacionaliza a Union Miniére du Haut-Katanga, transformando-a na companhia Gécamines. Durante os distúrbios sociais e políticos no Zaire em 1991, Mobutu Sese Seko (1930-1997) ordenou uma resposta violenta aos protestos na cidade, enviando a Divisão Especial Presidencial maquiavelicamente reprimir os tumultos na Universidade de Lubumbashi, operação que desgraçadamente resultou na morte de dezenas de estudantes. Nos combates contra a ditadura, Laurent-Désiré Kabila captura Lubumbashi em 1997, onde se declarou presidente do país quando Mobutu saiu de Quinxassa.

Bibliografia Geral Consultada.

FETTER, Bruce (1976), The Creation of Elisabethville, 1910-1940. Stanford: Editor Hoover Institution Press, 1976; KEMP, Tom, La Revolución Industrial en la Europa del Siglo XIX. Barcelona: Libros de Confrontación, 1976; BOUDON, Raymond, Effets Pervers et Ordre Social. Paris: Presses Universitaires de France, 1977; BARRAT-BROWN, Michel, A Economia Política do Imperialismo. Rio de Janeiro: Zahar Editor, 1978; LINTON, Ralph, Cultura y Personalidad. México: Fondo de Cultura Económica, 1992; GEERTZ, Clifford, Interpretación de las Culturas. Barcelona: Ediciones Gedisa, 1993; HISGAIL, Fani (Org.), Biografia. Sintoma da Cultura. São Paulo: Hacker Editor, 1997; DIBWE DIA MWEMBU, Donatien, Histoire des Conditions de Vie des Travailleurs de l’Union Minière du Haut-Katanga et Gécamines, 1910-1999. Lubumbashi: Editor Presses Universitaires de Lubumbashi, 2001; GINOT, Isabelle; MICHEL, Marcelle, La Danse au XXe Trilogia Siècle. Paris: Éditions Larousse, 2008; STENGEL, Richard, Os Caminhos de Mandela. Porto Alegre: Editor Globo, 2010; DURKHEIM, Émile, Da Divisão do Trabalho Social. 4ª edição. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2010; FONSECA, Danilo Ferreira, Etnicidade e Luta de Classes na África Contemporânea: Ruanda (1959 1994) e África do Sul (1948-1994). Tese de Doutorado em História. Programa de Estudos Pós-Graduados em História. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2013; CUNHA, Diogo Silva da, “Usos e Abusos da Cultura. Richard Hoggart e a Cultura Vivida da Classe Trabalhadora”. In: Varia. Vol.9 nº16, 2014; FERREIRA, Glória; COTRIM, Cecilia (Org.), Escritos de Artistas. Anos 60/70. Rio de Janeiro: Zahar Editor, 2014; ESTEVES, Ana Camila de Souza, Da África para o Mundo: Os Dilemas da Produção e da Difusão dos Cinemas Africanos para Audiências Globais a Partir da entrada da Netflix na Nigéria. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas. Faculdade de Comunicação. Salvador: Universidade Federal da Bahia, 2022; WEISS, Rachel et al, Émile Durkheim, O Individualismo e os Intelectuais. São Paulo: Edusp, 2024; SOUZA JORGE, Pablo Diego Silva de, História e Cultura Africana e Afro-Brasileira:  Proposta de Elaboração de um Repositório Temático Digital de Exposições Museais. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-graduação em Educação e Docência. Faculdade de Educação. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2024; entre outros. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário